Pseudo

De Dicionário de Poética e Pensamento

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Esta palavra em português aparece para indicar que algo é falso. Não é esse o seu sentido originário, presente na palavra grega de onde provém. Falso é o contrário de verdadeiro. Porém, a realidade não pode ser reduzida a essa dicotomia lógica. "De acordo com a experienciação grega, a-letheyein diz um movimento e processo de des-cobrir, no sentido de tirar as vendas, retirar as cobertas e os véus que escondem, envolvem e ocultam alguma coisa. O antônimo, pseydesthai, não diz simplesmente ser-falso. Traduzindo asssim, não se atinge o nível do sentido e da experienciação a que nos remete a passagem [de Aristóteles, citada antes, no ensaio]. Pseydesthai diz enganar alguém, pôr e colocar-lhe algo na frente do que ele acha que está vendo, de maneira que pareça como se fosse. A fala enganosa é capciosa, isto é, diz, antes do que se quer dizer, palavras que escondem o que se pretende. Assim, todo discurso tem a possibilidade tanto de des-cobrir e desvendar quanto de en-cobrir e vendar aquilo que diz e fala. Neste sentido é que se pode e deve traduzir pseydesthai por en-cobrir e velar. Mas todo discurso, que en-cobre, é enganoso por si mesmo, independente da intenção e da vontade de quem fala. Pois, com a intenção de des-velar e des-cobrir, ele vela e en-cobre" (1). É o dissimular, próprio da astúcia, que não mente, apenas não segue o caminho reto e aparentemente claro da verdade lógica. Diz de uma outra maneira o modo de mostrar-se e vigorar da realidade.


- Manuel Antônio de Castro


(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. O problema filosófico da Lógica em Aristóteles. In: __________. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 265.
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