Cômico

De Dicionário de Poética e Pensamento

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"Ele [Baudelaire] distingue a alegria do cômico. A alegria existe por ela mesma e tem manifestações diversas. A alegria é una. Já o riso é a expressão de um sentimento duplo ou contraditório. Dentro do cômico, distingue ainda o cômico absoluto e o cômico significativo. O absoluto é uma espécie una e exige a apreensão pela intuição. Ele entende o cômico absoluto relativamente à humanidade decaída. Tal cômico é o apanágio dos artistas superiores que têm neles a receptividade suficiente de toda ideia absoluta. Ainda acrescenta à caracterização do cômico absoluto o fato de que ele mesmo se ignora. O cômico significativo é de fácil compreensão para o povo, de linguagem clara e de fácil análise. Essas duas divisões de cômico têm subdivisões. Concluindo, diz que a ideia de superioridade se acha tanto no significativo como no absoluto e que é sobretudo no espectador que está o cômico. Exceção feita para aqueles que têm o poder de desenvolver neles o sentimento do cômico através do qual divertem os outros. Sinal da existência no ser humano da dualidade permanente, o poder de ser ao mesmo tempo ele-mesmo e um outro. Mesmo os que criam o cômico ignoram sua natureza" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O lúdico e o humano". In: ---------. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 49.

2

"Também Baudelaire tratou do problema do riso. Para ele o riso está intimamente ligado a uma queda antiga, a uma degradação física e moral. Atribui uma origem diabólica ao cômico, mas enquanto o diabólico expressa superioridade do homem. Por isso só o homem ri, o animal não se acha superior ao vegetal. Mas essa superioridade é essencialmente contraditória, " ...sinal de uma grandeza infinita e de uma miséria infinita, miséria infinita em relação ao ser absoluto do qual tem um conceito, grandeza infinita relativamente aos animais. É do choque perpétuo destes dois infinitos que surge o riso. O cômico, a faculdade de rir, está naquele que ri e não no objeto do riso (1)" "(2).


Referências:
(1) BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres completes. Texte établit et annoté par Y.-G. le Dantec. Édition révisé, complétée et présentée par Claude Pichois. Bibliothèque de la Plêiade, 1966, p. 982. (Obras completas). Texto estabelecido e anotado por Y.-G le Dantec. Edição revisada, completada e apresentada por Claude Pichois. Biblioteca da Plêiade, 1966, p. 982.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 48.
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