Vida

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Esperou sem pressa pela madrugada. A melhor [[luz]] de se [[viver]] era na madrugada, leve tão leve promessa de manhãzinha. Ela sabia disso, já passara inúmeras vezes por isso. Como para um pintor que escolhe a luz que lhe convém, Lóri preferia para a [[descobrimento|descoberta]] do que se chama viver essas horas tímidas do vago [[começo]] do [[dia]]" (1).
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: A [[palavra]] [[vida]] provém da [[raiz]] indo-européia: '''gwee''' ou '''gwee / o'''. Esta [[raiz]] significa essencialmente: [[duração]] da [[vida]]. Supõe, portanto, o [[agir]], a [[energia]] [[vital]] pela qual perdura, o que é inerente à sua [[essência]]. Diz também todo [[vivente]] e se opõe a [[morto]]. Designa, por outro lado, a [[vida]] [[humana]] como tal e, nela, expressa também o lado terno e [[afetivo]], que aparece na expressão: Você é minha [[vida]]. Isto extrapola qualquer [[biologia]]. Contudo, só compreendemos [[realmente]] o que a [[raiz]] quer [[dizer]] quando constatamos as [[palavras]] que dela se formaram. Em [[grego]], deu [[origem]] a três [[palavras]] para designar [[vida]]: a) ''[[bios]]'', de onde se formou o verbo ''bionai'' que significa: a maneira de [[viver]] e passar a [[vida]]; b) ''[[Gaia]]'', a nossa [[silenciosa]] [[mãe]] [[Terra]], [[fonte]] [[originária]] de toda a [[vida]]. A [[deusa]] ''[[Gaia]]''-[[Terra]], [[imagem-questão]], está ligada ao [[mito]], não será aqui tematizada (ver o verbete ''[[Gaia]])''; c) ''[[dzoé]]''. O que é a [[vida]]? É o que nos diz a [[palavra]] ''[[dzoé]]''.
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:Referências:
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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:(1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 31.
 
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:"Ela simplesmente sentira, de súbito, que [[pensar]] não lhe era natural. Depois chegara à conclusão de que ela não tinha um dia-a-dia mas sim uma vida-a-vida. E aquela vida que era sua nas madrugadas era sobrenatural com suas inúmeras [[lua|luas]] banhando-a de um prateado líquido tão terrível" (1).
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: De maneira alguma devemos [[pensar]] a ''[[dzoé]]'', a [[vida]] de todo ser vivo, no sentido classificatório de [[gênero]] e [[espécie]], de inferior e superior. Por exemplo, em [[relação]] à distinção do [[ser-humano]], segundo a [[sentença]] órfica grega: ''Dzoion logon echon'', [[animal]] [[racional]], ou seja, [[ser vivo]] dotado de [[razão]], numa [[tradução]] muito pobre. Não, ''[[dzoé]]'' não é [[animal]] nesse sentido genérico e [[lógico]]. ''[[Dzoé]]'' é [[vida]], ou seja, todo e qualquer [[ser vivente]]:
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:  "No modo [[grego]] de [[pensar]], o [[animal]] se determina a partir do ''dzoion'', do que surge, resguardando-se, portanto, de modo muito peculiar em si mesmo, pelo fato de não se exprimir" (1).
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:Referências:
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: O [[grego]] quando quer denominar qualquer [[ser vivente]] diz ''[[bios]]''.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Heráclito'''. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, 108.
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:(1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 32.
 
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== 3 ==
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:"Pedir? Como é que se pede? E o que se pede? Pede-se vida? Pede-se vida. Mas já não se está [[ter|tendo]] vida? Existe uma mais real. O que é [[real]]?" (1).
+
: "Ela simplesmente sentira, de súbito, que [[pensar]] não lhe era [[natureza|natural]]. Depois chegara à conclusão de que ela não tinha um dia-a-dia, mas sim uma [[vida]]-a-[[vida]]. E aquela [[vida]] que era sua nas madrugadas era [[sobrenatural]] com suas inúmeras luas banhando-a de um prateado líquido tão terrível" (1).
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:Referências:
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: Referência:
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: (1) LISPECTOR, Clarice. '''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''', 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 32.
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:(1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 56.
 
== 4 ==
== 4 ==
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:"O fim da vida é a morte, e no entanto o homem não vive pelo desígnio da morte, mas por ser um ser vivo, ele não pensa em vista de qualquer resultado que seja, mas por ser um "ser pensante, isto é, meditativo"" (1).
+
: "O fim da [[vida]] é a [[morte]] e, no entanto, o [[homem]] não vive pelo desígnio da [[morte]], mas por [[ser]] um [[ser]] [[vivo]], ele não pensa em vista de qualquer resultado que seja, mas por [[ser]] um '[[ser]] [[pensante]], isto é, [[meditativo]]'" (1).
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: Referência:
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: (1) ARENDT, Hannah. '''Homens em tempos sombrios'''. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 225.
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== 5 ==
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: "A [[vida]] só [[é]] [[vida]] enquanto [[fenômeno]], por isso toda [[fenomenologia]] da [[vida]] constitui-se no [[doar-se]] de uma [[intuição]] [[originário|originária]]. Toda [[intuição]] é o '[[entre]]' [[vigorando]]. Por conseguinte, tal [[intuição]] não resulta de um conteúdo reflexivo. Acontece na [[reflexão]], mas não como [[reflexão]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: '''Revista Tempo Brasileiro''', 164. Rio de Janeiro: jan.-mar. 2006, p. 11.
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== 6 ==
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: O grande desafio de cada um na [[vida]] é fazer dela uma [[arte]]. Isso só se consegue quando se faz igualmente da [[arte]] [[vida]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Quando dizemos que o [[sentido]] da [[vida]] se encontra na [[morte]], estranhamos porque tomamos a [[vida]] como o conjunto das [[vivências]] que a [[morte]] destrói. Eis o engano, pois a [[vida]] [[humana]] encontra seu [[sentido]] na [[morte]] na medida em que a [[vida]] é vista não como [[ciência]], mas como dinâmica de [[experienciações]] pelas quais manifestamos nossas [[possibilidades]]. O que nos é [[próprio]], nosso [[quinhão]], nosso [[destino]], encontra o seu [[limite]] na [[impossibilidade]] de todas as [[possibilidades]]: a [[morte]]. A [[experienciação]] de todo [[visível]] não se dá pelo [[visível]], mas como [[doação]] do [[invisível]]. A [[morte]] vai estar, portanto, ligada ao [[nada]], ao [[invisível]], mas jamais como [[fim]], como término, pois só experienciamos o [[limite]] a partir do [[ilimitado]], ou seja, nossa [[angústia]] de experienciarmos a [[vida]] como [[entre]]-[[limite]], [[visível]] e [[não-limite]], [[não-visível]]. No fundo de todo [[limiar]] está a [[Cura]], que, como [[penhor]], imantiza todas as nossas [[ações]] e lhes dá [[sentido]]. A [[Cura]] de [[ser]] [[feliz]], na verdade, como diz o [[mito]], nos lança no [[querer]] que é o [[querer]] [[viver]], logo, simultaneamente, [[querer]] [[morrer]]. Por isso [[viver]] sendo [[querer]] no [[querer]] [[viver]] como [[horizonte]] de [[sentido]] e [[verdade]], a [[vida]] como [[experienciação]] de [[morte]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: '''Ver também:'''
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: *''[[Moira]]''
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: *[[Ressurreição]]
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: Na verdade, não é a [[vontade]] que institui a [[vida]]. Só podemos ter e manifestar [[vontade]] porque já nos movemos na e a partir da [[vida]]. Mas o que entender por [[vida]]? Se nos movêssemos no plano e [[dimensão]] da [[metafísica]], a tarefa seria muito fácil. Há uma [[disciplina]] específica para [[estudar]], [[classificar]] e [[dizer]] o que [[é]] a [[vida]]: a [[biologia]]. Que a [[biologia]] tenha aportado no novo continente da [[genética]] não é mero acaso. O [[mito]] sempre falou de “''[[genos]]''”.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: '''Ver também:'''
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: * [[Morte]]
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: * [[Pensamento]]
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: "De imediato, é preciso entender-se [[vida]] no [[sentido]] limpo, cristalino e incisivo da formulação grega para a ''[[psyché]]'', [[movimento]] que, a partir de si mesmo, move a si mesmo" (1).
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: Referência:
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: (1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org.). '''Permanecer silêncio - Manuel Antônio de Castro e o humano como obra'''. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 100.
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== 10 ==
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: "[[Vida]] é, pois, atividade, [[acontecimento]] que se dá no [[presente]] contínuo de sua efetivação: [[vida]] é [[verbo]] realizando-se: falando, andando, ouvindo, amando, fazendo, morrendo. O [[tempo]] próprio da [[vida]] é o gerúndio. A [[tragédia]] é, nesta [[perspectiva]], a [[imitação]] da [[vida]] no que ela tem de mais central, no que a distingue: a [[ação]]" (1).
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: Referência:
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: (1) FRANCALANCI, Carla. "Antígona e as leis não escritas". Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro, '''Caminhos da ética''', 157, abr.-jun., 2004, p. 46.
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== 11 ==
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: "Esperou sem pressa pela madrugada. A melhor [[luz]] de se [[viver]] era na madrugada, leve tão leve promessa de manhãzinha. Ela sabia disso, já passara inúmeras vezes por isso. Como para um pintor que escolhe a luz que lhe convém, Lóri preferia para a [[descobrimento|descoberta]] do que se chama [[viver]] essas horas tímidas do vago [[começo]] do [[dia]]" (1).
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: Referência:
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: (1) LISPECTOR, Clarice. '''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''', 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 31.
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: '''Ver também:'''
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: * [[Noite]]
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== 12 ==
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: "A [[filosofia]] grega é uma [[experiência]] de [[Pensamento]]. Mas não é a única [[experiência]] grega de [[pensamento]]. Outra [[experiência]] grega de [[Pensamento]] é o [[Mito]] e a [[Mística]]. Uma outra, são os [[deuses]] e o [[extraordinário]]. Ainda uma outra é a [[Poesia]] e a [[Arte]]. Ainda outra é a ''[[Polis]]'' e a ''[[Politeia]]''. A última, por ser no fundo a primeira [[experiência]] [[grega]] de [[Pensamento]],  é [[Vida]] e a [[Morte]], ''[[Eros]]'' e ''[[Thanatos]]'' " (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 11.
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== 13 ==
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: "Por que se parte do ''[[on]]''? Este é ambíguo, porque tudo para nós é ambíguo, uma vez que somos [[finitos]], pois não há [[finito]] sem o [[não-finito]]. Se o [[finito]] nasce, cresce e morre, ele vigora no [[não-finito]], o que permanece no fluxo das [[mudanças]]. O [[vivente]] [[é]] o [[finito]] e [[mutável]]. A [[vida]] é o [[não-finito]] e não [[mutável]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 129.
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== 14 ==
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: "A triste [[verdade]] é que a [[vida]] do [[homem]] consiste de um complexo de fatores antagônicos inexoráveis: o [[dia]] e a [[noite]], o [[nascimento]] e a [[morte]], a [[felicidade]] e o [[sofrimento]], o [[bem]] e o [[mal]]. Não nos resta nem a [[certeza]] de que um dia um destes fatores vai prevalecer sobre o outro, que o [[bem]] vai se transformar em [[mal]], ou que a [[alegria]] há de derrotar a [[dor]]. A [[vida]] é uma batalha. Sempre foi e sempre será. E se tal não acontecesse ela chegaria ao [[fim]]" (1).
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: Referência:
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: (1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. '''O homem e seus símbolos'''. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 85.
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== 15 ==
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: "Quem diz que na [[vida]] tudo se escolhe? O que castiga, cumpre também" (1).
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: Referência:
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: (1) ROSA, João Guimarães. '''Grande Sertão: Veredas'''. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 13. e., 1979, p. 165.
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== 16 ==
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: "O  correr da [[vida]] embrulha tudo, a [[vida]] é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é [[coragem]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) ROSA, João Guimarães. '''Grande Sertão: Veredas'''. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 13. e., 1979, p. 241.
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== 17 ==
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: "Muitas vezes ficamos alegres, tristes, decepcionados e perplexos diante do que nos acontece na [[vida]]. A [[vida]] é um [[acontecer]] incessante para além das [[teorias]], dos [[sistemas]], das [[utopias]] idealizantes e dos [[sonhos]] [[simbólicos]] ou não. O [[acontecer]] é sempre [[misterioso]], conforme nos faz [[pensar]] o [[poeta]]-[[pensador]] João Guimarães Rosa, ao afirmar:
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: “Aquilo que não havia, acontecia” (1).
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: O [[vigorar]] do [[acontecer]] nos lança sempre à [[procura]] disto e daquilo e até, essencialmente, de nós mesmos" (2).
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: Referências:
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: (1) ROSA, João Guimarães. '''Primeiras estórias'''. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p.33.
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 +
: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 213.
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== 18 ==
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: "[[Entre]] o [[horizonte]] de [[origem]] e o [[horizonte]] de chegada é que se coloca a [[questão]] do [[sentido]]. [[Sentido]] é “isso”: o [[entre]] um de e um para. Sem o de e o para é impossível [[pensar]] o [[sentido]]. De imediato e de uma maneira muito [[evidente]] para todos, em qualquer [[momento]], [[época]] e [[cultura]], o [[entre]] acontece enquanto [[vivências]] e [[experienciações]] de [[vida]]. Mas [[dizer]] [[vivências]] e [[experienciações]] de [[vida]] quer [[dizer]] o mesmo que [[vivências]] e [[experienciações]] de [[morte]], pois umas não acontecem sem as outras. A [[medida]] do [[entre]] tanto é a [[vida]] quanto a [[morte]]. Na [[medida]] está o [[sentido]], no [[sentido]] está a [[medida]]" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.
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== 19 ==
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: "O desenvolvimento técnico ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias [[criações]] [[artísticas]]".
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: "No entanto, nem [[tudo]] é [[técnico]] e [[científico]] na [[vida]]. Diz Manoel de Barros no ''Livro sobre nada'':
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: ''A [[ciência]] pode [[classificar]] e [[nomear]] os órgãos de um
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: ''sabiá
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: ''mas não pode [[medir]] seus encantos.
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: ''A [[ciência]] não pode [[calcular]] quantos cavalos de força
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: ''existem
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: ''nos encantos de um sabiá'' (1)", (2).
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: Referências:
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 +
: (1) BARROS, Manoel. '''Livro sobre nada'''. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 53.
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 +
: (2) CASTRO, Manuel Antônio. "Apresentação". In: '''A construção poética do real'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 7.
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== 20 ==
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: "Somente por se [[compreender]] [[tudo]] a partir do [[viver]] é que se pode cair na tentação de determinar o [[real]], qualquer [[real]], como [[objetivo]] de [[vivência]] ou conteúdo vivido e, assim, edificar todo [[relacionamento]] com as [[coisas]], as [[pessoas]] e o [[mundo]] numa [[vivência]] e como [[vivência]]. [[Tudo]] se torna, então, vivido no movimento de [[viver]] de uma [[vivência]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega" (''Dzoion logon echon'').In: '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 131.
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== 21 ==
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: "Ora, mesmo que as muitas [[ciências]] da [[vida]] se construíssem sobre uma [[experiência]] [[radical]] da [[vida]], ainda assim tal [[experiência]] nunca poderia [[ser]] alcançada ou constituída por qualquer [[ciência]]. E por que não? - Porque toda [[ciência]] é uma [[ciência]] e a [[vida]] é sempre muito mais antiga do que qualquer [[ciência]]. Como toda [[ciência]], também as [[ciências]] da [[vida]] vêm depois e a reboque de uma determinada [[interpretação]] da [[vida]], que só se obtém com a [[experiência]] comunitária de um [[pensamento]] [[radical]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega" (''Dzoion logon echon'').In: '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 132.
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== 22 ==
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: [[Lei]] é a [[vida]] enquanto [[destino]]. Quando dizemos "[[é]]" já estamos nos movendo na [[Essência]]. Mas o que [[é]] a [[Essência]] para que possamos [[dizer]] o que é a [[Lei]], o que é a [[Vida]], o que é o [[Destino]]? A [[Essência]] da [[Lei]] é a [[Lei]] da [[Essência]]. Nem sempre nos damos conta de que desde que nascemos já estamos vivendo sob o [[poder]] da [[Lei]]. Porém, ela, nesse domínio e [[poder]], toma diferentes faces e [[dimensões]], daí a impressão falsa da [[liberdade]] de nossa [[vontade]] e de que a [[lei]] é algo externo ao que há de mais profundo em nós.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 23 ==
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: "[[Ser]] [[livre]] não é só [[fazer]] o que desejamos da [[vida]], mas [[escutar]] o que a [[Vida]], como [[dimensão]] que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como [[destino]], um [[sentido]] de missão a se [[realizar]]. A [[Vida]] Incessante, que não cessa de [[nascer]] e perecer, é maior do que a [[vida]] de cada [[homem]], pois outros [[seres]] viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o [[homem]] é o único [[entre]] todos os [[seres]] que recebeu o [[livre arbítrio]], o [[arbítrio]] só é [[livre]] na [[medida]] em que é a [[escuta]] do interlúdio que constitui o seu [[destino]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). '''O educar poético'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.
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== 24 ==
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: "Lutar contra o [[coração]] é difícil, pois se paga com a [[vida]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) HERÁCLITO. Fragmento  85. In: ''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p.  81.
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== 25 ==
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: "''[[Psykhé]]'', psiqué, que se perpetuou universalmente com o [[sentido]] de ''[[alma]]'' nas [[línguas]] cultas e em tantos compostos, provém do [[verbo]]  ''psykhein'', soprar, respirar, donde ''[[psique]]'', do ponto de vista [[etimológico]], significa respiração, ''sopro vital'', ''[[vida]]''" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) BRANDÃO, Junito de Souza. '''Mitologia Grega''', vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 144.
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== 26 ==
 +
: "[[Circe]] é a “‘[[deusa]] das [[deusas]]’, ‘a filha do sol’, cujo [[nome]] remete a ''kirkos'', e que os escólios identificam com o anel ou [[círculo]] da [[natureza]] poderosa que reúne [[vida]] e [[morte]], nascimento e destruição num [[eterno]] [[movimento]], ou com o [[movimento]] [[circular]] do [[universo]]” (Schuback: 1999, 166) (1). No verso 150, do mesmo [[canto]], assim [[Ulisses]] caracteriza [[Circe]]:
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 +
: ''[[Circe]], de tranças bem feitas, canora e terrível [[deidade]]''. (Homero: 1960, 183)"(2) (3).
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 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante (Org.). "As cordas serenas de Ulisses". In: '''Ensaios de filosofia'''. Petrópolis R/J: Vozes, 1999.
 +
 
 +
: (2) HOMERO. '''Odisseia'''. 3.e. Trad. Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Melhoramentos, 1960. 
 +
 
 +
: (3) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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 +
== 27 ==
 +
: O que [[é]] a [[vida]]? E o que a [[biologia]] – e a [[genética]] – dizem o que é a [[vida]] já se move no [[círculo]] vicioso dos [[conceitos]] [[metafísicos]]: não pode o [[conceito]] [[biológico]] dizer o que é a [[vida]] porque simplesmente a [[vida]] precede o [[conceito]] e a [[definição]]. Seria a mesma coisa ou [[procedimento]] pelo qual se quisesse [[dizer]] o que é a [[floresta]] abrindo uma [[clareira]], o mesmo que [[conceituar]] a [[definir]] o [[vazio]] através do tecido da [[rede]], o [[zero]] a partir do [[um]]. A [[clareira]] pressupõe a [[floresta]], a [[rede]] pressupõe o [[vazio]]; o mesmo que – [[metafisicamente]] – [[querer]] [[definir]] o [[ser]] partindo do [[ente]]: o [[ente]]-[[sendo]] pressupõe o [[ser]]-do-[[sendo]]. E a [[vida]] não é o [[ser]]? [[É]] e [[não-é]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 28 ==
 +
: "Pedir? Como é que se pede? E o que se pede? Pede-se [[vida]]? Pede-se [[vida]]. Mas já não se está [[ter|tendo]] [[vida]]? Existe uma mais [[real]]. O que é [[real]]?" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) LISPECTOR, Clarice. '''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''', 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 56.
 +
 
 +
== 29 ==
 +
: "Frequentemente, Sidarta e Vasudeva permaneciam sentados no tronco da árvore, junto da ribeira. Calados, [[escutavam]] o que lhes segredava a [[água]], a qual, para eles, não era apenas [[água]], senão a [[voz]] da [[vida]], a [[voz]] do que [[é]], a [[voz]] do [[eterno]] [[Devir]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
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 +
: (1) HESSE, Hermann. '''Sidarta'''. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 91.
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== 30 ==
 +
: "O [[mundo]] como o conhecemos - desde a menor [[partícula]] até o maior [[planeta]] -, é mantido em [[equilíbrio]] por uma [[lei]] baseada na [[natureza]] [[dualista]] equilibrada de [[todas]] as [[coisas]]. Sem o [[equilíbrio]] [[entre]] as duas [[forças]] [[opostas]] não haveria a [[criação]], isto é, não existiria o [[Universo]]. Por exemplo, as galáxias basicamente estão [[sujeitas]] a duas [[forças]] [[opostas]]: 1) as [[forças]] de expulsão - resultantes dos efeitos do ''Big Bang'', através das quais [[todas]] as galáxias movem-se para longe de nós - e 2) as [[forças]] gravitacionais, que puxam as galáxias umas contra as [[outras]]" (1).
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: Essas duas [[forças]] ou [[energias]] não [[constituem]] também o [[princípio]] [[vital]], [[fundado]] pelo [[masculino]] e pelo [[feminino]]? Penso que sim.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referência:
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: (1) GADALLA, Moustafa. "O mais religioso". In: ---. '''Cosmologia egípcia - o universo animado'''. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 87.
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== 31 ==
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: "... [[corpo]] é o [[acontecimento]] [[arcaico]] ou i-mediato da ou na [[vida]], o proto-fenômeno ou o [[fenômeno]] [[originário]] (“Urphänomen”, segundo uma expressão de Goethe, num outro [[contexto]] e, claro, com outra [[conotação]]), na verdade, o [[mesmo]] que [[vida]]" (1).
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: Referência:
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:  (1) FOGEL, Gilvan. "Notas sobre o corpo”. In: '''Arte: corpo, mundo e terra'''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 36.
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== 32 ==
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: "Se [[corpo]] é sempre já [[corpo]] [[humano]] ou [[corpo]] do [[homem]], de cara, isso quer [[dizer]]: quando [[corpo]] se dá, [[homem]] já se deu, já aconteceu. Se assim é, precisamos começar [[perguntando]] por [[homem]] – o que é o [[homem]]? Como se faz, como se dá sua [[humanidade]]? Assim sendo, sem uma mínima consideração / [[compreensão]] a respeito do [[homem]], não avançamos com o [[problema]] do [[corpo]]" (1).
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: Referência:
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 +
:  (1) FOGEL, Gilvan. "Notas sobre o corpo”. In: '''Arte: corpo, mundo e terra'''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 37.
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== 33 ==
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: "A [[vida]] é sem por quê. A [[vida]] simplesmente [[é]]. [[Viver]] [[é]] e [[amar]] [[é]]. Onde e quando houver [[vida]] o [[ser]] se dá? Mas já sabemos o que [[é]] [[ser]] para [[dizer]] que este se dá? [[Vida]] [[é]] [[ser]]. [[Ser]] [[é]] [[amar]]. [[Amar]] [[é]] [[doar]]. [[Doar]] [[é]] [[ser]]. O que [[é]] [[ser]]?" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 296.
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== 34 ==
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: ""Temos nossa [[origem]] na [[Vida]], vivemos a [[vida]] de [[viventes]] e voltamos para a [[Vida]]" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 241.
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== 35 ==
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: "É isso que queremos constatar ao [[afirmar]] que não somos nós que temos as [[questões]], mas são elas que nos têm. E nos têm pelo [[simples]] [[fato]] de que é a [[Vida]] que nos tem e não nós que a temos. Quando nascemos significa isso: [[receber]] uma [[vida]]. Cada um de nós recebe uma [[vida]] e, com ela, as [[possibilidades]]. [[Receber]] [[vida]]: [[receber]] [[possibilidades]]. Essas [[possibilidades]] não são [[algo]] já estabelecido, caso contrário não seriam [[possibilidades]]" (1).
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: Mas, [[enigmaticamente]], elas já constituem o nosso [[destino]], a nossa ''[[Moira]]''.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 243.
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== 36 ==
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: "A [[vida]] é o [[elemento]] de [[todos]] os [[viventes]]. É nesse [[elemento]] que nos tornamos um pequeno e frágil navio que só pode continuar navio vivo e em atividade caso se mova naquilo que lhe permite se [[mover]]: a [[água]], o [[mar]], a ''[[Vida]]''" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.
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== 37 ==
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: "[[Vida]] é [[unidade]], que é [[tempo]], que é o que normalmente denominamos [[memória]]. Seria [[impossível]] [[perguntar]] pela [[vida]] depois da [[morte]] se já não fôssemos [[memória]]. Sabemos que nossa [[vida]], no [[presente]], remete para um [[passado]] e para um [[futuro]]. Se não houvesse [[memória]] seria [[impossível]] haver [[lembrança]] do [[passado]] e a [[possibilidade]] de [[futuro]]. Só há [[lembrança]] do [[passado]] porque a [[memória]] não é só o [[passado]], mas a [[unidade]] que nos faz [[experienciar]] o [[tempo]] como [[unidade]] [[acontecendo]], como o [[ser]] [[estando]] [[sendo]]. Será muito limitado restringir a [[memória]] a um processo de [[consciência]], seja [[consciente]], seja [[inconsciente]]" (1).
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:  Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 248.
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== 38 ==
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: "[[Eu]] [[sou]] o [[caminho]], a [[verdade]] e a [[vida]]" (1). "Egw eími 'eh 'Odos kai 'eh [[Alehtheia]] kai 'eh [[Dzwéh]]", segundo o [[texto]] [[grego]] do Novo Testamento.
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: Notemos que o termo para [[verdade]] em [[grego]] é ''[[Alehtheia]]'' e para [[Vida]] é [[Dzwéh]]. Não se trata, portanto, de uma [[referência]] aos [[viventes]], [[bioi]], em [[grego]], mas nomeia a [[Vida]] como tal.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referência:
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: (1) Evangelho de João, cap. 14, versículo 6, p. 1293. '''Bíblia Sagrada'''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1989. Tradução do grego: Mateus Hoepers. Revisor Literário: Emmanuel Carneiro Leão.
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== 39 ==
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: E Cristo só lhe diz [[coisas]] estranhas. Aberto para o [[extraordinário]], mas ciente do seu [[aparente]] [[poder]], Pôncio Pilatos lhe diz que tem o [[poder]] de o inocentar ou condenar (Cristo lhe fora entregue pelos sacerdotes judeus). E escuta a contraditória [[resposta]] de que nenhum [[poder]] teria se não lhe fosse dado pelo alto. Perplexo, lhe [[pergunta]] em seguida, quem ele era. E nova perplexidade: - ''Eu sou o [[caminho]], a [[verdade]] e a [[vida]]''. O [[caminho]], é [[evidente]], é o [[percurso]] que se faz para [[realizar]] a [[vida]]. Todos os nossos [[empenhos]] se fazem tendo em vista o [[Penhor]]: a [[Vida]]. Mas que [[caminho]] então seguir? Só há um: a [[verdade]]. [[Caminho]], [[verdade]] e [[vida]] são [[um]] e o [[mesmo]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 40 ==
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: "O correr da [[vida]] embrulha [[tudo]], a [[vida]] é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da [[gente]] é [[coragem]]" (1).
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: Referência:
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 +
: ROSA, João Guimarães. '''Grande sertão: veredas''', 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 241.
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== 41 ==
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: "A [[vida]] inventa! A [[gente]] principia as [[coisas]], no não [[saber]] por que, e desde aí perde o [[poder]] de continuação - porque a [[vida]] é mutirão de [[todos]], por [[todos]] remexida e temperada" (1).
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: Referência:
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 +
: ROSA, João Guimarães. '''Grande sertão: veredas''', 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 348.
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== 42 ==
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: "O que somos e não somos tem de ser [[funcional]]. E é nessa [[perspectiva]] que a [[palavra cantada]], em geral, se faz presente em nossa [[vida]]. E é nessa [[perspectiva]] que ela é produzida: ela tem uma [[função]] [[estética]]. Serve, em meio ao [[trabalho]] rotineiro e cansativo do [[cotidiano]], para aliviar, lançando-nos numa [[descontração]] que nos dá a [[sensação]] de [[liberdade]] e [[realização]]. Isso é espraiar, amortecer o tom cinzento, cronologicamente repetitivo e [[vazio]] da [[vida]], para dar um pouco de [[sentimento]] e [[prazer]] às [[horas]] sem [[sentido]] de nossa [[vida]], para nos [[causar]] [[prazer]] e [[sensações]] agradáveis. São [[formas]] que, parece, oferecem a oportunidade de “[[aproveitar]] a [[vida]]”. Mas a [[vida]] não é o maior proveito, o [[próprio]] [[bem]] que está aquém e além de todos os [[bens]]?" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.
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== 43 ==
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: "O [[nada]] é [[fonte]] de [[tudo]] que [[é]], assim como o [[silêncio]] é a [[fonte]] de toda [[fala]]. Por isso mesmo o [[nada]] nos aparece como a [[morte]]. Porém, sem esta não há [[posição]] para o [[vivente]]. [[Nada]] é [[vida]]. [[Vida]] é [[morte]]. Todo [[mal]] e [[dor]] é da nossa [[condição de humanos]] [[finitos]]. Desse modo o maior [[mal]] e a maior [[dor]] é a [[distância]] do [[Nada]]. E o maior [[bem]] e [[plenitude]] é sua [[proximidade]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.
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== 44 ==
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: "Por que as [[palavras]] doces, divinas e encantadoras das [[Sereias]] podem levar à [[morte]]? Não há aí um [[paradoxo]]? Certamente. E esse é o [[vigor]] [[poético]] da [[palavra cantada]]: a sua [[ambiguidade]]. Mas todo [[viver]] não é ambíguo? Não estamos, a cada [[momento]] que vivemos, ao mesmo [[tempo]] morrendo? [[Viver]] não é o [[desdobrar]] da [[dobra]] de [[vida]] e [[morte]]? O [[perigo]] e a [[possibilidade]] da [[morte]] é uma experiência de [[vida]]. A [[ciência]] nos acena com a [[vida]] biológica e lá no seu final a [[morte]]. É um engano, é um embuste. [[Existencialmente]] morremos desde que nascemos. E isso é [[bom]], porque só morrendo é que podemos [[saber]] que vivemos, não a [[vida]] biológica, mas o que somos e não-somos. Essa é a nossa [[travessia poética]], o nosso [[destino]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 175.
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== 45 ==
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: "A [[vida]] é [[questão]] e não simples [[conceito]] porque a [[vida]] nos precede. É na ordem da [[vida]] que surgem os [[viventes]] e dela dependem inexoravelmente. Só no [[vigorar]] da [[vida]] é que há e pode haver [[viventes]], qualquer [[vivente]]. A [[vida]] se faz [[presente]] em cada [[vivente]]. Para ele é uma dádiva gratuita da [[vida]] e sempre depende dela" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 204.
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== 46 ==
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: "........................
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: '' A [[vida]] é a [[arte]] do [[encontro]]''
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: '' Embora haja tanto desencontro pela [[vida]]''.
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:  .......................................
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: Referência:
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: '''Samba da Bênção'''. Autor:  Vinicius de Moraes.
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== 47 ==
 +
: "À reunião de [[informações]] com [[conhecimentos]] sendo [[o que é]] se chama, sempre se chamou: [[sentido]] de [[vida]]. [[Ser]] [[sábio]] é dar [[sentido]] a nossas [[ações]]. Ao [[sentido]] do [[agir]] desde [[sempre]] se denominou [[ética]]. [[Ser]] [[sábio]] é [[ser]], onde se sabe o [[sentido de ser]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 84.
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== 48 ==
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: " ''Durante um [[momento]], nossas [[vidas]] navegam a favor ou contra a [[corrente]]. Porém, é a corrente a que decide nosso [[destino]] ''" (1).
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 +
: Esta fala inicia o filme e é dita pela personagem principal que dá nome ao filme: ''Sofie''. É um filme denso e muito rico de questões. Sobressai a questão do ''Genos'', centralizado numa família judia e seus costumes. Mostra que essencialmente o mais importante é o ser humano. Porém, a ligação de cada um com a família é uma das linhas mestras tratada. Sofie é uma personagem densa que, no final, em relação ao filho, consegue se libertar e deixa o filho seguir a sua vontade e seu destino. Porém, isso não aconteceu com ela.
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: Referência:
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: (1) Filme '''Sofie'''. Direção e Roteiro de Liv Ullmann, 1992.
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== 49 ==
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: a [[perfeição]] não me importa
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: eu prefiro me [[jogar]] de cabeça
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: na [[loucura]] que é a [[vida]]      (1)
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: Referência:
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 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 115.
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== 50 ==
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: eu preciso respeitar a minha [[mente]] e meu [[corpo]]
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: se quiser chegar ao fim da [[jornada]]
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: '' - [[vida]]''    (1)
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: Referência:
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 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 118.
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== 51 ==
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: menina boba
 +
: anjinha
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: diabinha
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: vai pensando
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: que não é [[você]] a milagreira
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: [[você]] é a [[mãe]]
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: a maga
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: a mestra da sua [[vida]]    (1)
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 +
: Referência:
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 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 190.
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== 52 ==
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 +
: agora que você se libertou
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: e a única obrigação que tem
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: é com os seus [[sonhos]] os de mais ninguém
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: o que vai [[fazer]]
 +
: da sua [[vida]]        (1)
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: Referência:
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 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 191.
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== 53 ==
 +
: "A [[natureza]] dá e tira a [[vida]], e esses dois [[aspectos]] opostos são completamente interdependentes: [[nada]] pode florir ou ser curado sem destruição. Por isso a [[tradição]] [[celta]] coloca [[animais]] ferozes e poderosos lado a lado com [[deusas]] delicadas e gentis" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) HOOD, Juliette. '''O livro celta da vida e da morte'''. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 24.
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== 54 ==
 +
: "As [[árvores]] são [[símbolos]] importantes na [[sabedoria]] [[celta]] - por exemplo, o [[deus]] Esus é, por [[tradição]], retratado cortando um salgueiro. Com raízes que penetram fundo na [[terra]] e galhos que crescem em direção ao [[céu]], o salgueiro proporciona uma ligação [[entre]] os [[mundos]] [[superior]] e [[inferior]]. As [[árvores]] que mudam de folhas anualmente evocam o [[ciclo]] [[infinito]] de [[nascimento]], [[morte]] e [[renascimento]], enquanto as [[árvores]] perenes refletem o aparente [[paradoxo]] de [[vida]] [[eterna]] depois da [[morte]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) HOOD, Juliette. '''O livro celta da vida e da morte'''. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 27.
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== 55 ==
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: "O [[poeta]] [[romano]] Lucano resume a [[atitude]] [[celta]] diante da [[morte]] quando afirma: "A [[morte]] é o meio de uma longa [[vida]]". Oferendas funerárias eram enterradas junto com o [[corpo]] para facilitar a [[passagem]]  do [[espírito]] pelo [[reino dos mortos]], até o [[Outro Mundo]]. Armas, muitos objetos [[pessoais]], como taças, trompas de caça e até carruagens, acompanhavam os guerreiros, ao passo que peças de joalheria e cerâmica eram os principais  bens sepultados com as [[mulheres]]. Alimentos e bebidas eram providenciados para sustentar a [[alma]] em sua jornada. Além dos objetos mais práticos, algumas sepulturas continham os ossos de [[animais]] domésticos, como cavalos e cães, e [[modelos]] de rodas, que simbolizavam os [[ciclos]] [[eternos]] de [[vida]] e [[morte]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) HOOD, Juliette. "Como Viver e como Morrer". In: '''O livro celta da vida e da morte'''. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 132.
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== 56 ==
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: Nas chamadas corretamente adversidades da [[vida]] nem sempre nos damos conta de que subjaz a todo [[viver]] algo mais [[profundo]]: nosso [[sentido]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 57 ==
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: "O [[tempo]] ([[Aión]]) é uma [[criança]], criando, jogando o [[jogo]] de pedras, [[vigência]] da [[criança]]" (1).
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: ''[[Aion]]'' é o [[tempo]] [[eterno]], que nunca começou e nunca termina, é a própria [[vida]] em seu [[acontecer]] inesgotável.
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: [[Manuel Antônio de Castro]].
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 +
: Referência:
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 +
: (1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: '''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73.
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== 58 ==
 +
: "No grito de [[dor]] de [[Édipo]], anuncia-se a [[proximidade]] da [[morte]] como [[plenitude]] de [[sentido]] da [[vida]]" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: '''Arte: corpo, mundo e terra'''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 34.
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== 59 ==
 +
: "Toda [[pergunta]] é [[querer]] ver [[claro]] a [[selva]] da [[vida]], pois sabemos que vivemos na espera da sua [[plenitude]]: a [[morte]]. A [[morte]] é o [[vazio]] onde se move e tece a [[teia]] da [[vida]]. A [[morte]] é o [[silêncio]] vivo do [[mistério]]. Vivemos nesse "E" de [[vida]] "E" [[morte]] como um [[entre]] [[sempre]] [[provisório]]" (1).
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "A imagem-questão", '''ensaio''' ainda não publicado.
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== 60 ==
 +
: "A [[vida]] não é [[real]]. [[Vida]] é fascínio, [[êxtase]], elevação. A [[realidade]] tem a respiração curta, anda rente às calçadas" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) MEDEIROS, Martha. "Silêncio em movimento", ''Crônica''. In: '''Ela''', publicação de '''O Globo''', 10-04-2022, p. 10.
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== 61 ==
 +
: "Na [[rede]] são os buracos que unem e reúnem as [[linhas]] e [[nós]] da [[rede]]. A [[rede]] é uma [[doação]] do [[vazio]], assim como a [[vida]] é uma [[doação]] da [[morte]]. A [[travessia]] da [[morte]] para a [[vida]] são as [[questões]]" (1).
-
:(1) Referência
+
: Referência:
-
:ARENDT, Hannah. ''Homens em tempos sombrios''. São Paulo: Cia. das Letras, 1987, p. 225.
+
-
== Ver também ==
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Cinco questões de Grande sertão: veredas". '''Ensaio não publicado'''.
-
*[[Noite]]
+
-
*[[Lua]]
+
-
*[[Real]]
+

Edição atual tal como 02h52min de 26 de Junho de 2022

1

A palavra vida provém da raiz indo-européia: gwee ou gwee / o. Esta raiz significa essencialmente: duração da vida. Supõe, portanto, o agir, a energia vital pela qual perdura, o que é inerente à sua essência. Diz também todo vivente e se opõe a morto. Designa, por outro lado, a vida humana como tal e, nela, expressa também o lado terno e afetivo, que aparece na expressão: Você é minha vida. Isto extrapola qualquer biologia. Contudo, só compreendemos realmente o que a raiz quer dizer quando constatamos as palavras que dela se formaram. Em grego, deu origem a três palavras para designar vida: a) bios, de onde se formou o verbo bionai que significa: a maneira de viver e passar a vida; b) Gaia, a nossa silenciosa mãe Terra, fonte originária de toda a vida. A deusa Gaia-Terra, imagem-questão, está ligada ao mito, não será aqui tematizada (ver o verbete Gaia); c) dzoé. O que é a vida? É o que nos diz a palavra dzoé.


- Manuel Antônio de Castro.

2

De maneira alguma devemos pensar a dzoé, a vida de todo ser vivo, no sentido classificatório de gênero e espécie, de inferior e superior. Por exemplo, em relação à distinção do ser-humano, segundo a sentença órfica grega: Dzoion logon echon, animal racional, ou seja, ser vivo dotado de razão, numa tradução muito pobre. Não, dzoé não é animal nesse sentido genérico e lógico. Dzoé é vida, ou seja, todo e qualquer ser vivente:
"No modo grego de pensar, o animal se determina a partir do dzoion, do que surge, resguardando-se, portanto, de modo muito peculiar em si mesmo, pelo fato de não se exprimir" (1).
O grego quando quer denominar qualquer ser vivente diz bios.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, 108.

3

"Ela simplesmente sentira, de súbito, que pensar não lhe era natural. Depois chegara à conclusão de que ela não tinha um dia-a-dia, mas sim uma vida-a-vida. E aquela vida que era sua nas madrugadas era sobrenatural com suas inúmeras luas banhando-a de um prateado líquido tão terrível" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 32.

4

"O fim da vida é a morte e, no entanto, o homem não vive pelo desígnio da morte, mas por ser um ser vivo, ele não pensa em vista de qualquer resultado que seja, mas por ser um 'ser pensante, isto é, meditativo'" (1).


Referência:
(1) ARENDT, Hannah. Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 225.

5

"A vidaé vida enquanto fenômeno, por isso toda fenomenologia da vida constitui-se no doar-se de uma intuição originária. Toda intuição é o 'entre' vigorando. Por conseguinte, tal intuição não resulta de um conteúdo reflexivo. Acontece na reflexão, mas não como reflexão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, 164. Rio de Janeiro: jan.-mar. 2006, p. 11.

6

O grande desafio de cada um na vida é fazer dela uma arte. Isso só se consegue quando se faz igualmente da arte vida.


- Manuel Antônio de Castro

7

Quando dizemos que o sentido da vida se encontra na morte, estranhamos porque tomamos a vida como o conjunto das vivências que a morte destrói. Eis o engano, pois a vida humana encontra seu sentido na morte na medida em que a vida é vista não como ciência, mas como dinâmica de experienciações pelas quais manifestamos nossas possibilidades. O que nos é próprio, nosso quinhão, nosso destino, encontra o seu limite na impossibilidade de todas as possibilidades: a morte. A experienciação de todo visível não se dá pelo visível, mas como doação do invisível. A morte vai estar, portanto, ligada ao nada, ao invisível, mas jamais como fim, como término, pois só experienciamos o limite a partir do ilimitado, ou seja, nossa angústia de experienciarmos a vida como entre-limite, visível e não-limite, não-visível. No fundo de todo limiar está a Cura, que, como penhor, imantiza todas as nossas ações e lhes dá sentido. A Cura de ser feliz, na verdade, como diz o mito, nos lança no querer que é o querer viver, logo, simultaneamente, querer morrer. Por isso viver sendo querer no querer viver como horizonte de sentido e verdade, a vida como experienciação de morte.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Moira
*Ressurreição

8

Na verdade, não é a vontade que institui a vida. Só podemos ter e manifestar vontade porque já nos movemos na e a partir da vida. Mas o que entender por vida? Se nos movêssemos no plano e dimensão da metafísica, a tarefa seria muito fácil. Há uma disciplina específica para estudar, classificar e dizer o que é a vida: a biologia. Que a biologia tenha aportado no novo continente da genética não é mero acaso. O mito sempre falou de “genos”.


- Manuel Antônio de Castro.
Ver também:
* Morte
* Pensamento

9

"De imediato, é preciso entender-se vida no sentido limpo, cristalino e incisivo da formulação grega para a psyché, movimento que, a partir de si mesmo, move a si mesmo" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antônio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 100.

10

"Vida é, pois, atividade, acontecimento que se dá no presente contínuo de sua efetivação: vida é verbo realizando-se: falando, andando, ouvindo, amando, fazendo, morrendo. O tempo próprio da vida é o gerúndio. A tragédia é, nesta perspectiva, a imitação da vida no que ela tem de mais central, no que a distingue: a ação" (1).


Referência:
(1) FRANCALANCI, Carla. "Antígona e as leis não escritas". Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro, Caminhos da ética, 157, abr.-jun., 2004, p. 46.

11

"Esperou sem pressa pela madrugada. A melhor luz de se viver era na madrugada, leve tão leve promessa de manhãzinha. Ela sabia disso, já passara inúmeras vezes por isso. Como para um pintor que escolhe a luz que lhe convém, Lóri preferia para a descoberta do que se chama viver essas horas tímidas do vago começo do dia" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 31.
Ver também:
* Noite

12

"A filosofia grega é uma experiência de Pensamento. Mas não é a única experiência grega de pensamento. Outra experiência grega de Pensamento é o Mito e a Mística. Uma outra, são os deuses e o extraordinário. Ainda uma outra é a Poesia e a Arte. Ainda outra é a Polis e a Politeia. A última, por ser no fundo a primeira experiência grega de Pensamento, é Vida e a Morte, Eros e Thanatos " (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 11.

13

"Por que se parte do on? Este é ambíguo, porque tudo para nós é ambíguo, uma vez que somos finitos, pois não há finito sem o não-finito. Se o finito nasce, cresce e morre, ele vigora no não-finito, o que permanece no fluxo das mudanças. O vivente é o finito e mutável. A vida é o não-finito e não mutável" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 129.

14

"A triste verdade é que a vida do homem consiste de um complexo de fatores antagônicos inexoráveis: o dia e a noite, o nascimento e a morte, a felicidade e o sofrimento, o bem e o mal. Não nos resta nem a certeza de que um dia um destes fatores vai prevalecer sobre o outro, que o bem vai se transformar em mal, ou que a alegria há de derrotar a dor. A vida é uma batalha. Sempre foi e sempre será. E se tal não acontecesse ela chegaria ao fim" (1).


Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 85.

15

"Quem diz que na vida tudo se escolhe? O que castiga, cumpre também" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 13. e., 1979, p. 165.

16

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 13. e., 1979, p. 241.

17

"Muitas vezes ficamos alegres, tristes, decepcionados e perplexos diante do que nos acontece na vida. A vida é um acontecer incessante para além das teorias, dos sistemas, das utopias idealizantes e dos sonhos simbólicos ou não. O acontecer é sempre misterioso, conforme nos faz pensar o poeta-pensador João Guimarães Rosa, ao afirmar:
“Aquilo que não havia, acontecia” (1).
O vigorar do acontecer nos lança sempre à procura disto e daquilo e até, essencialmente, de nós mesmos" (2).


Referências:
(1) ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p.33.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 213.

18

"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido. De imediato e de uma maneira muito evidente para todos, em qualquer momento, época e cultura, o entre acontece enquanto vivências e experienciações de vida. Mas dizer vivências e experienciações de vida quer dizer o mesmo que vivências e experienciações de morte, pois umas não acontecem sem as outras. A medida do entre tanto é a vida quanto a morte. Na medida está o sentido, no sentido está a medida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.

19

"O desenvolvimento técnico ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias criações artísticas".
"No entanto, nem tudo é técnico e científico na vida. Diz Manoel de Barros no Livro sobre nada:


A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
existem
nos encantos de um sabiá (1)", (2).


Referências:
(1) BARROS, Manoel. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 53.
(2) CASTRO, Manuel Antônio. "Apresentação". In: A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 7.

20

"Somente por se compreender tudo a partir do viver é que se pode cair na tentação de determinar o real, qualquer real, como objetivo de vivência ou conteúdo vivido e, assim, edificar todo relacionamento com as coisas, as pessoas e o mundo numa vivência e como vivência. Tudo se torna, então, vivido no movimento de viver de uma vivência" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega" (Dzoion logon echon).In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 131.

21

"Ora, mesmo que as muitas ciências da vida se construíssem sobre uma experiência radical da vida, ainda assim tal experiência nunca poderia ser alcançada ou constituída por qualquer ciência. E por que não? - Porque toda ciência é uma ciência e a vida é sempre muito mais antiga do que qualquer ciência. Como toda ciência, também as ciências da vida vêm depois e a reboque de uma determinada interpretação da vida, que só se obtém com a experiência comunitária de um pensamento radical" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega" (Dzoion logon echon).In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 132.

22

Lei é a vida enquanto destino. Quando dizemos "é" já estamos nos movendo na Essência. Mas o que é a Essência para que possamos dizer o que é a Lei, o que é a Vida, o que é o Destino? A Essência da Lei é a Lei da Essência. Nem sempre nos damos conta de que desde que nascemos já estamos vivendo sob o poder da Lei. Porém, ela, nesse domínio e poder, toma diferentes faces e dimensões, daí a impressão falsa da liberdade de nossa vontade e de que a lei é algo externo ao que há de mais profundo em nós.


- Manuel Antônio de Castro

23

"Ser livre não é só fazer o que desejamos da vida, mas escutar o que a Vida, como dimensão que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como destino, um sentido de missão a se realizar. A Vida Incessante, que não cessa de nascer e perecer, é maior do que a vida de cada homem, pois outros seres viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o homem é o único entre todos os seres que recebeu o livre arbítrio, o arbítrio só é livre na medida em que é a escuta do interlúdio que constitui o seu destino" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.

24

"Lutar contra o coração é difícil, pois se paga com a vida" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 85. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 81.

25

"Psykhé, psiqué, que se perpetuou universalmente com o sentido de alma nas línguas cultas e em tantos compostos, provém do verbo psykhein, soprar, respirar, donde psique, do ponto de vista etimológico, significa respiração, sopro vital, vida" (1).


Referência:
(1) BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 144.

26

"Circe é a “‘deusa das deusas’, ‘a filha do sol’, cujo nome remete a kirkos, e que os escólios identificam com o anel ou círculo da natureza poderosa que reúne vida e morte, nascimento e destruição num eterno movimento, ou com o movimento circular do universo” (Schuback: 1999, 166) (1). No verso 150, do mesmo canto, assim Ulisses caracteriza Circe:
Circe, de tranças bem feitas, canora e terrível deidade. (Homero: 1960, 183)"(2) (3).


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante (Org.). "As cordas serenas de Ulisses". In: Ensaios de filosofia. Petrópolis R/J: Vozes, 1999.
(2) HOMERO. Odisseia. 3.e. Trad. Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Melhoramentos, 1960.
(3) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

27

O que é a vida? E o que a biologia – e a genética – dizem o que é a vida já se move no círculo vicioso dos conceitos metafísicos: não pode o conceito biológico dizer o que é a vida porque simplesmente a vida precede o conceito e a definição. Seria a mesma coisa ou procedimento pelo qual se quisesse dizer o que é a floresta abrindo uma clareira, o mesmo que conceituar a definir o vazio através do tecido da rede, o zero a partir do um. A clareira pressupõe a floresta, a rede pressupõe o vazio; o mesmo que – metafisicamentequerer definir o ser partindo do ente: o ente-sendo pressupõe o ser-do-sendo. E a vida não é o ser? É e não-é.


- Manuel Antônio de Castro.

28

"Pedir? Como é que se pede? E o que se pede? Pede-se vida? Pede-se vida. Mas já não se está tendo vida? Existe uma mais real. O que é real?" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 56.

29

"Frequentemente, Sidarta e Vasudeva permaneciam sentados no tronco da árvore, junto da ribeira. Calados, escutavam o que lhes segredava a água, a qual, para eles, não era apenas água, senão a voz da vida, a voz do que é, a voz do eterno Devir" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 91.

30

"O mundo como o conhecemos - desde a menor partícula até o maior planeta -, é mantido em equilíbrio por uma lei baseada na natureza dualista equilibrada de todas as coisas. Sem o equilíbrio entre as duas forças opostas não haveria a criação, isto é, não existiria o Universo. Por exemplo, as galáxias basicamente estão sujeitas a duas forças opostas: 1) as forças de expulsão - resultantes dos efeitos do Big Bang, através das quais todas as galáxias movem-se para longe de nós - e 2) as forças gravitacionais, que puxam as galáxias umas contra as outras" (1).
Essas duas forças ou energias não constituem também o princípio vital, fundado pelo masculino e pelo feminino? Penso que sim.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "O mais religioso". In: ---. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 87.

31

"... corpo é o acontecimento arcaico ou i-mediato da ou na vida, o proto-fenômeno ou o fenômeno originário (“Urphänomen”, segundo uma expressão de Goethe, num outro contexto e, claro, com outra conotação), na verdade, o mesmo que vida" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Notas sobre o corpo”. In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 36.

32

"Se corpo é sempre já corpo humano ou corpo do homem, de cara, isso quer dizer: quando corpo se dá, homem já se deu, já aconteceu. Se assim é, precisamos começar perguntando por homem – o que é o homem? Como se faz, como se dá sua humanidade? Assim sendo, sem uma mínima consideração / compreensão a respeito do homem, não avançamos com o problema do corpo" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Notas sobre o corpo”. In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 37.

33

"A vida é sem por quê. A vida simplesmente é. Viver é e amar é. Onde e quando houver vida o ser se dá? Mas já sabemos o que é ser para dizer que este se dá? Vida é ser. Ser é amar. Amar é doar. Doar é ser. O que é ser?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 296.

34

""Temos nossa origem na Vida, vivemos a vida de viventes e voltamos para a Vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 241.

35

"É isso que queremos constatar ao afirmar que não somos nós que temos as questões, mas são elas que nos têm. E nos têm pelo simples fato de que é a Vida que nos tem e não nós que a temos. Quando nascemos significa isso: receber uma vida. Cada um de nós recebe uma vida e, com ela, as possibilidades. Receber vida: receber possibilidades. Essas possibilidades não são algo já estabelecido, caso contrário não seriam possibilidades" (1).
Mas, enigmaticamente, elas já constituem o nosso destino, a nossa Moira.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 243.

36

"A vida é o elemento de todos os viventes. É nesse elemento que nos tornamos um pequeno e frágil navio que só pode continuar navio vivo e em atividade caso se mova naquilo que lhe permite se mover: a água, o mar, a Vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.

37

"Vida é unidade, que é tempo, que é o que normalmente denominamos memória. Seria impossível perguntar pela vida depois da morte se já não fôssemos memória. Sabemos que nossa vida, no presente, remete para um passado e para um futuro. Se não houvesse memória seria impossível haver lembrança do passado e a possibilidade de futuro. Só há lembrança do passado porque a memória não é só o passado, mas a unidade que nos faz experienciar o tempo como unidade acontecendo, como o ser estando sendo. Será muito limitado restringir a memória a um processo de consciência, seja consciente, seja inconsciente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 248.

38

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (1). "Egw eími 'eh 'Odos kai 'eh Alehtheia kai 'eh Dzwéh", segundo o texto grego do Novo Testamento.
Notemos que o termo para verdade em grego é Alehtheia e para Vida é Dzwéh. Não se trata, portanto, de uma referência aos viventes, bioi, em grego, mas nomeia a Vida como tal.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) Evangelho de João, cap. 14, versículo 6, p. 1293. Bíblia Sagrada. Petrópolis/RJ: Vozes, 1989. Tradução do grego: Mateus Hoepers. Revisor Literário: Emmanuel Carneiro Leão.

39

E Cristo só lhe diz coisas estranhas. Aberto para o extraordinário, mas ciente do seu aparente poder, Pôncio Pilatos lhe diz que tem o poder de o inocentar ou condenar (Cristo lhe fora entregue pelos sacerdotes judeus). E escuta a contraditória resposta de que nenhum poder teria se não lhe fosse dado pelo alto. Perplexo, lhe pergunta em seguida, quem ele era. E nova perplexidade: - Eu sou o caminho, a verdade e a vida. O caminho, é evidente, é o percurso que se faz para realizar a vida. Todos os nossos empenhos se fazem tendo em vista o Penhor: a Vida. Mas que caminho então seguir? Só há um: a verdade. Caminho, verdade e vida são um e o mesmo.


- Manuel Antônio de Castro.

40

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem" (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 241.

41

"A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada" (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 348.

42

"O que somos e não somos tem de ser funcional. E é nessa perspectiva que a palavra cantada, em geral, se faz presente em nossa vida. E é nessa perspectiva que ela é produzida: ela tem uma função estética. Serve, em meio ao trabalho rotineiro e cansativo do cotidiano, para aliviar, lançando-nos numa descontração que nos dá a sensação de liberdade e realização. Isso é espraiar, amortecer o tom cinzento, cronologicamente repetitivo e vazio da vida, para dar um pouco de sentimento e prazer às horas sem sentido de nossa vida, para nos causar prazer e sensações agradáveis. São formas que, parece, oferecem a oportunidade de “aproveitar a vida”. Mas a vida não é o maior proveito, o próprio bem que está aquém e além de todos os bens?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.

43

"O nada é fonte de tudo que é, assim como o silêncio é a fonte de toda fala. Por isso mesmo o nada nos aparece como a morte. Porém, sem esta não há posição para o vivente. Nada é vida. Vida é morte. Todo mal e dor é da nossa condição de humanos finitos. Desse modo o maior mal e a maior dor é a distância do Nada. E o maior bem e plenitude é sua proximidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.

44

"Por que as palavras doces, divinas e encantadoras das Sereias podem levar à morte? Não há aí um paradoxo? Certamente. E esse é o vigor poético da palavra cantada: a sua ambiguidade. Mas todo viver não é ambíguo? Não estamos, a cada momento que vivemos, ao mesmo tempo morrendo? Viver não é o desdobrar da dobra de vida e morte? O perigo e a possibilidade da morte é uma experiência de vida. A ciência nos acena com a vida biológica e lá no seu final a morte. É um engano, é um embuste. Existencialmente morremos desde que nascemos. E isso é bom, porque só morrendo é que podemos saber que vivemos, não a vida biológica, mas o que somos e não-somos. Essa é a nossa travessia poética, o nosso destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 175.

45

"A vida é questão e não simples conceito porque a vida nos precede. É na ordem da vida que surgem os viventes e dela dependem inexoravelmente. Só no vigorar da vida é que há e pode haver viventes, qualquer vivente. A vida se faz presente em cada vivente. Para ele é uma dádiva gratuita da vida e sempre depende dela" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 204.

46

"........................
A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida.
.......................................


Referência:
Samba da Bênção. Autor: Vinicius de Moraes.

47

"À reunião de informações com conhecimentos sendo o que é se chama, sempre se chamou: sentido de vida. Ser sábio é dar sentido a nossas ações. Ao sentido do agir desde sempre se denominou ética. Ser sábio é ser, onde se sabe o sentido de ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 84.

48

" Durante um momento, nossas vidas navegam a favor ou contra a corrente. Porém, é a corrente a que decide nosso destino " (1).
Esta fala inicia o filme e é dita pela personagem principal que dá nome ao filme: Sofie. É um filme denso e muito rico de questões. Sobressai a questão do Genos, centralizado numa família judia e seus costumes. Mostra que essencialmente o mais importante é o ser humano. Porém, a ligação de cada um com a família é uma das linhas mestras tratada. Sofie é uma personagem densa que, no final, em relação ao filho, consegue se libertar e deixa o filho seguir a sua vontade e seu destino. Porém, isso não aconteceu com ela.


Referência:
(1) Filme Sofie. Direção e Roteiro de Liv Ullmann, 1992.

49

a perfeição não me importa
eu prefiro me jogar de cabeça
na loucura que é a vida (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 115.

50

eu preciso respeitar a minha mente e meu corpo
se quiser chegar ao fim da jornada
- vida (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 118.

51

menina boba
anjinha
diabinha
vai pensando
que não é você a milagreira
você é a mãe
a maga
a mestra da sua vida (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 190.

52

agora que você se libertou
e a única obrigação que tem
é com os seus sonhos os de mais ninguém
o que vai fazer
da sua vida (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 191.

53

"A natureza dá e tira a vida, e esses dois aspectos opostos são completamente interdependentes: nada pode florir ou ser curado sem destruição. Por isso a tradição celta coloca animais ferozes e poderosos lado a lado com deusas delicadas e gentis" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 24.

54

"As árvores são símbolos importantes na sabedoria celta - por exemplo, o deus Esus é, por tradição, retratado cortando um salgueiro. Com raízes que penetram fundo na terra e galhos que crescem em direção ao céu, o salgueiro proporciona uma ligação entre os mundos superior e inferior. As árvores que mudam de folhas anualmente evocam o ciclo infinito de nascimento, morte e renascimento, enquanto as árvores perenes refletem o aparente paradoxo de vida eterna depois da morte" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 27.

55

"O poeta romano Lucano resume a atitude celta diante da morte quando afirma: "A morte é o meio de uma longa vida". Oferendas funerárias eram enterradas junto com o corpo para facilitar a passagem do espírito pelo reino dos mortos, até o Outro Mundo. Armas, muitos objetos pessoais, como taças, trompas de caça e até carruagens, acompanhavam os guerreiros, ao passo que peças de joalheria e cerâmica eram os principais bens sepultados com as mulheres. Alimentos e bebidas eram providenciados para sustentar a alma em sua jornada. Além dos objetos mais práticos, algumas sepulturas continham os ossos de animais domésticos, como cavalos e cães, e modelos de rodas, que simbolizavam os ciclos eternos de vida e morte" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. "Como Viver e como Morrer". In: O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 132.

56

Nas chamadas corretamente adversidades da vida nem sempre nos damos conta de que subjaz a todo viver algo mais profundo: nosso sentido.


- Manuel Antônio de Castro.

57

"O tempo (Aión) é uma criança, criando, jogando o jogo de pedras, vigência da criança" (1).
Aion é o tempo eterno, que nunca começou e nunca termina, é a própria vida em seu acontecer inesgotável.


Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73.

58

"No grito de dor de Édipo, anuncia-se a proximidade da morte como plenitude de sentido da vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 34.

59

"Toda pergunta é querer ver claro a selva da vida, pois sabemos que vivemos na espera da sua plenitude: a morte. A morte é o vazio onde se move e tece a teia da vida. A morte é o silêncio vivo do mistério. Vivemos nesse "E" de vida "E" morte como um entre sempre provisório" (1).


CASTRO, Manuel Antônio de. "A imagem-questão", ensaio ainda não publicado.

60

"A vida não é real. Vida é fascínio, êxtase, elevação. A realidade tem a respiração curta, anda rente às calçadas" (1).


Referência:
(1) MEDEIROS, Martha. "Silêncio em movimento", Crônica. In: Ela, publicação de O Globo, 10-04-2022, p. 10.

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"Na rede são os buracos que unem e reúnem as linhas e nós da rede. A rede é uma doação do vazio, assim como a vida é uma doação da morte. A travessia da morte para a vida são as questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Cinco questões de Grande sertão: veredas". Ensaio não publicado.
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