Tempo
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | :O tempo | + | : O [[tempo]] é uma [[questão]]. E como [[questão]] não podemos viver fora do [[tempo]] nem sem [[tempo]]. Em si, ele, não como [[conceito]], mas como [[questão]], é o [[tempo]] [[poético]], o [[tempo]] do [[existir]], fazendo-se, ou seja, o [[acontecer]], isto é, o [[tempo]] em sua densidade máxima, porque é o [[tempo]] destinado a cada ser vivente. [[Tempo]] é [[Vida]] [[sendo]], destinando-se em cada vivente. É o [[tempo]] do [[ser]], em que SE dá o [[ser]] e, por isso, é inclassificável, só experienciável como [[tempo]] [[poético]], dando-se e presentificando-se, enfim, [[sendo]]. Por isso, o [[tempo]] é a quarta [[dimensão]] do [[espaço]], como afirmam os físicos. Porém, tal [[tempo]] não é o [[tempo]] tripartido (somente cronológico), porque o [[tempo]] tem também uma quarta [[dimensão]]: é a [[linguagem]] (1). Esta é o [[tempo]] [[poético]]. E pensá-lo é a [[Poética]]. Se o [[tempo]] é a quarta [[dimensão]] do [[espaço]] e a [[linguagem]] a quarta [[dimensão]] do tempo, a [[linguagem]] é o [[fundar]] de [[tempo]] e [[espaço]]. Esse [[fundar]] é o [[fundamentar]] o [[lugar]]. [[Lugar]] ou ''campo'' é [[mundo]]. A [[linguagem]] é [[mundo]] e [[sentido]], porque o [[mundo]] é a quarta [[dimensão]] da [[linguagem]]. Como o [[leitor]] percebe, torna-se imprescindível a [[leitura]] do [[ensaio]] de [[Heidegger]] abaixo indicado, onde apreendemos estas [[ideias]]. |
- | :- [[ | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
+ | : Referência: | ||
- | : | + | : (1) Cf. [[HEIDEGGER]], Martin. "Tempo e ser". In: ___. '''Os pensadores'''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, pp. 255-72. |
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== 2 == | == 2 == | ||
- | :O | + | : "O [[tempo]] é o maior tesouro de que um [[homem]] pode dispor; embora inconsumível, o [[tempo]] é o nosso melhor alimento; sem [[medida]] que o conheça, o [[tempo]] é, contudo, nosso [[bem]] de maior grandeza: não tem [[começo]], não tem [[fim]]; é um ponto exótico que não pode ser repartido, podendo, entretanto, prover igualmente a todo [[mundo]]; onipresente, o [[tempo]] está em [[tudo]]" (1). |
+ | : Todo capítulo 9 de '''Lavoura arcaica''' (1) trata do [[tempo]], de uma maneira ampla e profunda. Pensado a partir do [[viver]] / [[existir]] é o próprio [[viver]] em suas múltiplas faces tanto do cotidiano quanto do [[transcendente]]. É um [[pensar]] [[poético]] no [[tempo]], com o [[tempo]] e para o [[tempo]]. Para o [[leitor]] torna-se uma [[fonte]] [[necessária]] de consulta. | ||
+ | : No cap. 17 retoma a temática do [[tempo]]. O [[romance]] centrado nas [[questões]] humano-familiares, tendo a [[casa]] como [[imagem-questão]] central, retoma uma temática explicitamente ligada à mais antiga [[tradição]] ocidental: o ''[[genos]]'', linha central de três [[tragédias]] de [[Sófocles]] em torno da [[personagem-questão]] [[Édipo]], ou seja, do [[ser humano]], de todo [[ser humano]] em todos os [[tempos]]. | ||
- | : | + | : Esse [[tempo]] da [[obra de arte]] é a grande [[questão]] a ser pensada. Isso jamais pode ser feito somente através dos [[estilos]] de [[época]] e dos [[gêneros]] na sua formulação meramente [[formal]] e [[conceitual]], isto é, [[estilística]]. Os [[gêneros]] têm de ser pensados naquilo que eles implicam: o ''[[genos]]''. |
- | : | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
- | :(1) NASSAR, Raduan. ''Lavoura arcaica''. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 53 | + | : Referência: |
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+ | : (1) NASSAR, Raduan. '''Lavoura arcaica'''. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 53. | ||
== 3 == | == 3 == | ||
- | :"Vigente é o que dura - o que vige a partir e no âmbito do [[desencobrimento]]. Por isso, pertence ao [[vigorar]] à presença, não somente desencobrimento, mas também presente. Este presente imperante no vigorar é um caráter do tempo. Seu modo próprio de ser, | + | : "[[Vigente]] é o que dura - o que vige a partir e no âmbito do [[desencobrimento]]... Por isso, pertence ao [[vigorar]], à [[presença]], não somente [[desencobrimento]], mas também [[presente]]. Este [[presente]] imperante no [[vigorar]] é um caráter do [[tempo]]. Seu modo [[próprio]] de [[ser]], porém, jamais se deixa [[apreender]] através do [[conceito]] tradicional de [[tempo]]" (1). |
- | :Referência: | + | : Referência: |
- | :(1) HEIDEGGER, Martin. "O que quer dizer pensar?". In: ''Ensaios e | + | : (1) HEIDEGGER, Martin. "O que quer dizer pensar?". In: ----------. '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 123. |
- | :'''Ver também:''' | + | : '''Ver também:''' |
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+ | : *[[Contemporâneo]] | ||
+ | : *[[Contemporaneidade]] | ||
== 4 == | == 4 == | ||
- | : | + | : Disse Santo Agostinho: ''O que [[é]] o [[tempo]]? Se ninguém mo [[perguntar]] eu sei; se o quiser [[explicar]] a quem me fizer a [[pergunta]], já não sei'' (1). |
- | :O cristianismo opôs à visão do tempo cíclico da antiguidade greco-romana um tempo linear, sucessivo e irreversível, com um começo, um fim, da queda de Adão e Eva ao Juízo Final. Diante desse tempo histórico e mortal houve outro tempo sobrenatural, invulnerável diante da morte e da sucessão: a Eternidade. Por isso, o único episódio decisivo da história terrestre foi o da Redenção: o descenso de Cristo e o seu sacrifício representam a interseção entre a Eternidade e a temporalidade, o tempo recessivo e moral dos homens e o tempo do mais além, que não muda nem sucede, idêntico a si próprio sempre. A Idade Moderna começa com a crítica à Eternidade cristã e com a aparição de outro tempo. De um lado, o tempo finito do cristianismo, com um começo e um fim, se converte num tempo quase infinito da evolução natural e da história, aberto em direção | + | |
+ | : Isto porque vivemos no e somos [[tempo]], de tal maneira que ele sempre se nos dá ao mesmo tempo que se nos retrai, oculta. Desta tensão, surgem as diferentes [[experienciações]] do [[tempo]]: | ||
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+ | : "Cada [[época]] se identifica com uma cisão do [[tempo]], e na nossa a [[presença]] constante das [[utopias]] revolucionárias denuncia o lugar privilegiado que tem o [[futuro]] para nós. O [[passado]] não é melhor que o [[presente]]: a perfeição não está atrás de nós, e, sim, na frente, não é um [[paraíso]] abandonado, mas um território que devemos colonizar, uma [[cidade]] que precisa ser construída. | ||
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+ | : "O [[cristianismo]] opôs à [[visão]] do [[tempo]] cíclico da antiguidade greco-romana um [[tempo]] linear, sucessivo e irreversível, com um começo, um [[fim]], da queda de Adão e Eva ao Juízo Final. Diante desse [[tempo]] [[histórico]] e [[mortal]] houve outro [[tempo]] sobrenatural, invulnerável diante da [[morte]] e da sucessão: a [[Eternidade]]. Por isso, o único episódio decisivo da [[história]] terrestre foi o da [[Redenção]]: o descenso de Cristo e o seu [[sacrifício]] representam a interseção entre a [[Eternidade]] e a [[temporalidade]], o [[tempo]] recessivo e [[moral]] dos [[homens]] e o [[tempo]] do mais além, que não muda nem sucede, idêntico a si [[próprio]] sempre. A Idade [[Moderna]] começa com a [[crítica]] à [[Eternidade]] cristã e com a aparição de outro [[tempo]]. De um lado, o [[tempo]] [[finito]] do [[cristianismo]], com um [[começo]] e um [[fim]], se converte num [[tempo]] quase [[infinito]] da [[evolução]] [[natural]] e da [[história]], aberto em direção ao [[futuro]]. De outro lado, a [[modernidade]] desvaloriza a [[Eternidade]]: a perfeição se translada para o [[futuro]], não no outro [[mundo]], mas neste. Basta lembrar a [[imagem]] célebre de [[Hegel]]: a rosa da [[razão]] está crucificada no [[presente]]" (2). | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) AGOSTINHO, '''Confissões''', XI, 17. | ||
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+ | : (2) PAZ, Octávio. "Ruptura e convergência". In: '''A outra voz'''. São Paulo: Siciliano, 2001, pp. 36. | ||
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+ | : '''Ver também:''' | ||
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+ | : *[[Eviternidade]] | ||
+ | : *[[Milenarismo]] | ||
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+ | == 5 == | ||
+ | : "O [[tempo]] ([[Aión]]) é uma [[criança]], criando, jogando o [[jogo]] de pedras, [[vigência]] da [[criança]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: '''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73. | ||
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+ | == 6 == | ||
+ | : Nenhum [[conceito]] dá conta da [[questão]] [[tempo]]. Não foi sem [[sentido]] que os [[gregos]] mostraram o [[tempo]] como devorador dos seus filhos, ou seja, o [[tempo]] é a [[morte]] vigorando. Mas se há uma [[questão]] que perpassa toda a [[cultura]] e [[pensamento]] grego é [[tempo]]. Por isso, havia quatro [[palavras]] para [[dizer]] toda essa complexidade, cada uma com [[dimensões]] realmente [[essenciais]]: além de ''[[Kronos]]'', a que já fizemos [[referência]], onde se acentua o [[pôr]] e [[depor]], temos ainda: ''[[Aion]]'', ''[[Kairós]]'' e ''[[Horae]]''. ''[[Aion]]'' é o [[tempo]] [[eterno]], que nunca começou e nunca termina, é a própria [[vida]] em seu [[acontecer]] inesgotável. ''[[Kairos]]'' é o tempo oportuno, o [[tempo]] de [[plenitude]] (''[[telos]]'') a que algo chegou e vai eclodir, é todo [[nascimento]] no seu [[tempo]] de vir à [[luz]]. Já ''[[Horae]]'' diz o [[tempo]] circular de eclosão e de extinção, enfim, da [[mudança]], mas também [[permanência]]. Propriamente, em português, diríamos "estações". As quatro [[dimensões]] do [[tempo]] é que caracterizam o que podemos denominar [[existência]] [[humana]], não aquela que se opõe à [[essência]], pois o [[tempo]] será [[sempre]] [[essência]]. [[Heidegger]] para a [[distinguir]] do [[significado]] corrente que se opõe à [[essência]], denominou-a com o [[nome]] latino: ek-sistentia / [[ek-sistência]] / [[ec-sistência]]. E mais profundamente podemos [[dizer]] simplesmente que [[tempo]] é [[ser]]. Fica logo [[evidente]] que são estas diferentes [[dimensões]] do [[tempo]] a partir das quais vigoram tanto a [[identidade]] quanto a [[diferença]]. E estas se tornam a [[vigência]] e [[possibilidade]] da própria [[existência]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | == 7 == | ||
+ | : O [[vivente]] só vive e sabe que vive e pensa a [[vida]] porque sua [[vida]] como [[vivente]] já [[vigora]] na [[vida]] como [[tempo]] e este como [[unidade]] ou [[sentido]]. A [[sucessividade]] de nossa [[vida]] nunca nos aparece nem como um amontoado desconexo de momentos, nem como uma sequência linear e [[causal]] de [[vivências]]. Vivemos de surpresas inesperadas. Isso é o [[sentido]] não a [[explicação]] [[racional]] e muito menos o [[significado]]. O [[inesperado]] é a [[fonte]] produtora de tudo que se espera e não se espera. Portanto, a [[vida]] do [[vivente]] só é [[possível]] porque [[tempo]] é [[vida]], que é [[unidade]], que é o [[mesmo]], que é [[morte]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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+ | == 8 == | ||
+ | : ''Meu [[Deus]]! Como o [[tempo]] [[passa]]'' | ||
+ | : ''Dizemos de quando em quando'' | ||
+ | : ''Afinal o [[tempo]] fica'' | ||
+ | : ''A gente é que vai [[passando]]'' (1). | ||
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+ | : (1) "Fado menor". In: '''Fados''', filme dirigido por Carlos Saura. | ||
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+ | == 9 == | ||
+ | : "Não existem, propriamente falando, três [[tempos]]: o [[passado]], o [[presente]] e o [[futuro]], mas somente três [[presentes]]: o [[presente]] do [[passado]], o [[presente]] do [[presente]], o [[presente]] do [[futuro]]" (1). | ||
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+ | : Se bem observamos e pensarmos, vamos ter aqui a [[questão]] da [[memória]]. O que se dá é o [[esquecimento]] da [[memória]] nas mais diversas aproximações do que seja o [[tempo]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) AGOSTINHO. '''Confissões''', XI, 20. | ||
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+ | == 10 == | ||
+ | : No [[filme]] de Wim Wenders '''Tão perto, tão longe''', há uma grande [[tematização]] do [[tempo]]. Chama a atenção o contraste entre o que a [[cultura]] americana diz sobre o [[tempo]], bem no seu cerne capitalista: "[[Tempo]] é dinheiro". O diretor alemão, para constrastar com essa redução medíocre, afixa na parede de um [[Museu]] a seguinte frase: "Zeit ist Kunst", ou seja, "[[Tempo]] é [[arte]]". E criou também um [[personagem-questão]] para ser pensado o [[tempo]], cujo [[nome]] é "Ligeirinho". Num [[momento]] crucial do enredo do [[filme]] diz ele: | ||
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+ | : "O [[tempo]] é curto. Para a fuinha o [[tempo]] é traiçoeiro. Para o [[heroi]] o [[tempo]] é heroico. Para a prostituta o [[tempo]] é apenas outra peça. Se você for gentil, o [[tempo]] é gentil. Se você estiver com pressa, o [[tempo]] voa. O [[tempo]] é o servo se você for seu [[mestre]]. O [[tempo]] é seu [[deus]], se você for seu cão. Nós somos os [[criadores]] do [[tempo]], as vítimas do [[tempo]] e os assassinos do [[tempo]]. O [[tempo]] é valioso. Você é o relógio" (1). | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) WENDERS, Wim. '''Tão perto, tão longe'''. Sony Pictures Classics, 1993. Prêmio do Grande Júri, em Cannes. | ||
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+ | == 11 == | ||
+ | : "Enganados pelo [[poder]] atribuir medidas, medimos também o [[tempo]] e até o dividimos em [[passado]], [[presente]] e [[futuro]]. Quando assim medimos o [[tempo]], na verdade, não estamos medindo a ele, e sim a nós mesmos. Nós (e só nós!) é que passamos, mudamos. O [[tempo]] não passa nem permanece, não é [[mutável]] nem imutável. O [[tempo]] é o que jamais deixa de [[estar]] e [[ser]] [[vigorando]]. O [[tempo]] é o próprio [[vigorar]]. Assim sendo, [[viver]] é deixar-se tomar pelo [[vigorar]] do [[tempo]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 230. | ||
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+ | == 12 == | ||
+ | : "O [[espaço]] de [[tempo]] vulgarmente entendido no [[sentido]] de [[distância]] [[entre]] dois pontos do [[tempo]] é resultado do cálculo do [[tempo]]. É através dele que o [[tempo]], representado como linha ou [[parâmetro]] - [[tempo]] que assim é [[unidimensional]] -, é medido por [[números]]. O [[elemento]] dimensional do [[tempo]], assim pensado como a sucessão de sequência de ''agoras'' é tomado de empréstimo da [[representação]] do [[espaço]] tridimensional" (1) | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: -----------. '''Heidegger'''. Coleção '''Os Pensadores'''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 265. | ||
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+ | == 13 == | ||
+ | : Somos, com todos os outros [[seres]], irmãos no [[tempo]]. E não falamos do [[tempo]] de fora do [[tempo]], mas a partir sempre do [[tempo]], daí a [[musicalidade]] de cada [[língua]] e das canções fazerem [[sentido]] e falarem a todos os [[seres humanos]] de todas as [[culturas]] em suas [[diferenças]]. O [[tempo]] é [[musicalidade]] do [[silêncio]] manifestando tudo que [[é]] e [[não-é]]. O [[tempo]] como [[musicalidade]] da [[vida]] é [[sentido]], é [[linguagem]], é [[mundo]]. O [[tempo]] se dá no seu [[acontecer]] como um ciclo de dias e [[noites]]. O [[dia]] é o [[tempo]] se manifestando como [[pensar]], [[saber]] e [[verdade]]; já a [[noite]] é o [[tempo]] se ocultando como não-saber e [[não-verdade]]. Quem os preside é o [[ser]], o [[sol]], [[luz]] [[originária]] e [[energia]] irradiante que dá [[unidade]] à [[luminosidade]] do [[dia]] e à escuridão da [[noite]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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+ | == 14 == | ||
+ | : Quanto a [[tempo]], no [[pensamento]] grego, havia quatro [[palavras]] para [[pensar]] o [[tempo]]: | ||
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+ | : 1º. ''[[Kronos]]'', é o [[tempo]] do dis-correr, do [[discurso]], que trans-corre e é enumerável, daí a [[cronologia]], bem como a [[História]] concebida como [[Historiografia]], em que, propriamente, não se leva em conta o [[acontecer]] das demais [[experienciações]] do [[tempo]] [[entre]] os [[gregos]]. É o [[tempo]] adotado pela [[gramática]]; | ||
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+ | : 2º. ''[[Aion]]'', o [[tempo]] que perdura, é o [[princípio]], a [[origem]] [[originária]] de tudo que acontece na [[realidade]], [[eternidade]] sem início nem fim; | ||
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+ | : 3º. ''[[Kairos]]'', o [[tempo]] do amadurecimento e eclosão de tudo, o [[tempo oportuno]], o [[tempo]] do [[próprio]]; | ||
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+ | : 4.0. E, finalmente, as ''[[Horae]]'', as horas, estações ou fases da [[vida]], como: criança, jovem, adulto, idoso. E sobretudo [[vida]] e [[morte]], ou seja, ''[[eros]]'' e ''[[thanatos]]''. Porém, nada disto, que estamos pensando, podia [[acontecer]] para o [[grego]] sem uma outra [[palavra]] sinônimo de [[ser]]: ''[[physis]]''. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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+ | == 15 == | ||
+ | : Nosso [[tempo]] é um [[tempo]] acelerado. Parece uma [[vida]] com muitas [[vidas]], de muitas [[vivências]]. Mas aí entra a [[questão]] [[ontológica]] e esta diz respeito diretamente ao [[tempo]] da [[experienciação]]. O [[tempo]] da [[experienciação]] é o [[tempo]] da ''metábole'' ([[movimento]] [[essencial]]). Toda [[transformação]] precisa radicalmente de um [[tempo]] [[próprio]], o [[tempo]] de [[ser]] se manifestando e transformando, pelo qual se [[é]] mais do que uma [[forma]]: simplesmente se [[é]]. Neste, ''[[o que é]]'' se manifesta em ''[[o como é]]''. E ''[[o como é]]'' ou [[vivências]] se transformam não apenas n’''[[o como se conhece]]'', mas no ''[[sentido]] do que [[é]]'', pois [[ser]] é [[agir]] e [[agir]] se manifestando é o advir do [[sentido]], tanto ''d'[[o que é]]'', quanto ''d'[[o como se conhece]]'', isto é, transforma no [[ser humano]] a [[vivência]] em [[experienciação]], daí no [[ser humano]] não haver apenas [[vida]], mas o [[existir]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | == 16 == | ||
+ | : Ora, aí é que entra também o [[tempo]] da [[arte]]. Que [[tempo]] é esse? Confunde-se o [[tempo]] da [[arte]] com a [[arte]] dos [[tempos]], onde a [[conjuntura]] e a [[época]] determinariam o [[sentido]] das [[obras de arte]]. Diga-se logo que não são as [[épocas]] e suas [[conjunturas]] que determinam a [[memória]] e a [[história]], pois sem [[memória]] – [[unidade]] e [[sentido]] das [[diferenças]] – não há nem [[época]] nem [[conjunturas]] enquanto [[sentido]] do [[acontecer]] do [[tempo]], [[memória]] e [[história]], enfim, [[obra de arte]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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+ | == 17 == | ||
+ | : "O [[tempo]] [[não é]]. Dá-Se o [[tempo]]. O [[dar]] que dá [[tempo]] determina-se a partir da [[proximidade]] que recusa e retém. Ela garante o aberto do espaço-de-tempo e preserva o que, no [[passado]], permanece recusado, e, no [[futuro]], retido. Denominamos o [[dar]] que dá o [[tempo]] [[autêntico]], alcançar que ilumina e oculta. Na medida em que o próprio alcançar é um [[dar]], oculta-se, no [[tempo]] [[autêntico]], o [[dar]] de um [[dar]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: -----. '''Conferências e escritos filosóficos - Coleção Os pensadores'''. Trad., Introduções e Notas: Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 265. | ||
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+ | == 18 == | ||
+ | : "Quando se pergunta, o que há para além da [[morte]], nessa [[pergunta]] se esquece o [[essencial]]: todo [[além]] pressupõe um [[aquém]]. Seria mais importante [[pensar]] o [[além]] ou o [[aquém]]? Ou nenhum dos dois? Ou os dois e o meio, que é a [[travessia]], já que não pode haver [[travessia]] que não faça [[parte]] do [[aquém]] e do [[além]]? Essas três [[dimensões]] dadas pelos advérbios recebem um [[nome]] muito comum e usado: [[tempo]]. Nenhum [[conceito]] dá conta da [[questão]] [[tempo]]. Não foi sem [[sentido]] que os gregos mostraram o [[tempo]] como devorador dos seus filhos, ou seja, o [[tempo]] é a [[morte]] vigorando" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 247. | ||
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+ | == 19 == | ||
+ | : "Só por já estarmos e sermos no [[tempo]] e enquanto [[tempo]] é que podemos formular as [[perguntas]] em torno das três possíveis [[posições]]. Portanto, [[perguntar]] pelo que há para [[além]] da [[morte]] é [[perguntar]] pelo que o [[tempo]] [[é]] enquanto ex-iste, está [[sendo]]. O [[tempo]] só é [[tempo]] porque está e é ou será o inverso, isto é, [[ser]] e [[estar]] só são e estão porque são [[tempo]]? Não será mais [[lógico]], porque [[real]], [[dizer]] que não há a alternativa ou, e, sim, que um e outro são o [[mesmo]]? Qual a importância de se [[pensar]] o [[mesmo]], não como [[conceito]], mas como o [[elemento]] no qual [[tempo]] [[é]] e está sendo [[tempo]]? É que o [[mesmo]] dá [[unidade]] ao antes e ao depois e à [[travessia]]. Essa [[unidade]] é a [[realidade]] enquanto [[morte]], não mais como [[fim]], mas como simples [[possibilidade]] de [[ser]] e de [[consumar]] o [[próprio]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 247. | ||
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+ | == 20 == | ||
+ | : "Mas não somos nós, com nosso [[pensar]], que damos [[sentido]]. O [[sentido]] já nos é dado. Como? Como o [[tempo]] se dá em cada [[instante]]. Não poderíamos [[experienciar]] nenhum [[instante]] como [[tempo]] se este não fosse [[sentido]], ou seja, [[linguagem]]. A [[linguagem]] é o [[sentido]] do [[tempo]] na [[medida]] em que este é [[vida]], é [[memória]], é [[mar]], é [[ser]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 251. | ||
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+ | == 21 == | ||
+ | : "[[Tempo]] é [[movimento]] que nos restitui aos primórdios de nossa [[origem]], é [[ocidente]] que veloz voa ao ocaso do dia, para aguardar o louvor da aurora que anuncia estar próximo o [[país]] do [[oriente]]. [[Tempo]] é assim [[sempre]] e por toda [[parte]] a estranha [[viagem]] dos que habitam a [[existência]]: a [[espera]] do [[inesperado]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) BUZZI, Arcângelo R. '''Itinerário - a clínica do humano'''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 59. | ||
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+ | == 22 == | ||
+ | : "O [[tempo]] é escorregadio. '''Uma [[ilusão]] persistente''', afirmou um dia Albert Einstein, exasperado por não conseguir colocá-lo inteiro numa equação. Até hoje, os [[cientistas]] lutam com uma [[definição]] precisa. De todas as grandezas [[físicas]], o [[tempo]] é a mais difícil de [[definir]] e [[compreender]]. Vivemos, portanto, mergulhados numa [[entidade]] cuja [[natureza]] [[profunda]] ignoramos" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Confissões de um viajante temporal". In: ''Segundo Caderno'', '''O Globo''', 12-12-2020, p. 6. | ||
+ | |||
+ | == 23 == | ||
+ | : "O [[tempo]] é a [[dimensão]] [[fundamental]] de nossa [[existência]], mas está também no [[coração]] da [[física]], pois foi a [[incorporação]] do [[tempo]] no esquema [[conceitual]] da [[física]] galileana o ponto de [[partida]] da [[ciência]] [[ocidental]]. Por certo, este ponto de [[partida]] é um triunfo do [[pensamento]] [[humano]], mas está também na [[origem]] do [[problema]] que constitui o [[objeto]] deste livro. Sabe-se que Einstein afirmou muitas vezes que "o [[tempo]] é [[ilusão]]" " (1). | ||
+ | |||
+ | : Certamente, Einstein jamais pensou o [[tempo]] [[existencial]]. Este não é redutível ao [[poder]] da [[razão]] nem se pode tornar [[objeto]] da [[ciência]] por isso mesmo. | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) PRIGOGINE, Ilya. "Uma nova racionalidade". In: -------. '''O fim das certezas'''. São Paulo: Editora UNESP, 1996, p. 9. | ||
+ | |||
+ | == 24 == | ||
+ | : "Os [[deuses]] [[míticos]], entendidos na [[palavra]] [[poética]], instituem o seu [[próprio]] [[tempo]], o [[tempo]] [[poético]], onde se dá a abertura para a [[presentificação]]/[[doação]] do [[extraordinário]]. Lê-los e interpretá-los é, pois, [[traduzir]] em nossa [[língua]] a [[linguagem]] da [[questão]] que eles dizem" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 161. | ||
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+ | == 25 == | ||
+ | : "Tentemos caracterizar a atual [[globalização]] [[funcional]]: As [[transformações]] desencadeadas são tão [[profundas]] que até o próprio [[tempo]] se vê transfigurado em sua [[essência]]. De um lado, é pura e contínua [[mudança]], [[novidade]], [[evanescência]], [[obsolescência]]. Há uma [[absoluta]] fome de [[consumo]] dos [[produtos]] de última geração, do último [[modelo]]. [[Tudo]] envelhece rapidamente como se o [[tempo]] estivesse acelerado, nada resistindo a essa aceleração, nem as [[relações]] [[afetivas]] que passaram a ter a velocidade da [[internet]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista '''Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte'''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 22. | ||
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+ | == 26 == | ||
+ | : "... toda [[experiência]] [[radical]] de [[pensamento]] se embrenha pelas [[raízes]] da própria [[possibilidade]] de [[pensar]] as [[realizações]] do [[real]] no e pelo [[mistério]] da [[realidade]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Deus e o homem louco". In: Revista '''Tempo Brasileiro - Imagem da Ciência, 188''', jan.-mar., 2012, p. 145. | ||
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+ | == 27 == | ||
+ | : "No [[filme]] '''Todas as cores do amor''', centralizado no comportamento dos [[jovens]] de hoje, aparece uma [[imagem-questão]] extremamente preocupante, mas que diz muito: Cada [[relacionamento]] [[afetivo]] – e [[afeto]] não diz mera [[sensação]] [[estética]], mas [[ético]]-[[humana]] ou [[erótica]] - tinha aproximadamente a [[duração]] da [[memória]] de um peixe, em torno de um minuto. Para o peixe, a [[realidade]] a cada minuto aparece como uma [[realidade]] sempre [[nova]], como se a visse pela primeira vez. Com um pouco de exagero é isso o que está acontecendo com a [[memória]] das [[relações]] na [[época]] da [[globalização]] da [[internet]]: não há [[permanência]], tudo muda muito rapidamente e se esquece. Podemos [[experimentar]] isso com as [[informações]]. Elas se sucedem tão rapidamente que nada perdura, vivem a frescura da [[novidade]] e a sorte da sua rápida substituição pelas mais recentes. E a [[sensação]] é de que [[nada]] fica, [[tudo]] se esvai com o correr e [[fluir]] do [[tempo]]. É o [[tempo]] da [[globalização]] e das [[redes]], das fáceis [[relações]] e rápidas [[mudanças]] e [[substituições]]. E não são apenas as [[relações]] [[afetivas]] [[pessoais]] que são [[afetadas]], mas, sim, toda [[possibilidade]] de [[viver]] em [[comunidade]], pois não há laços que sustentem o que [[é]] [[comum]] e [[essencial]] para [[todos]]. [[Comunidade]] só é [[possível]] enquanto [[vigorar]] do [[universal concreto]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: '''Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte'''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 25. | ||
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+ | == 28 == | ||
+ | : "Sem [[memória]], a [[globalização]] tende ao [[viver]] sem [[memória]], na rapidez e brilho do [[instante]], num [[mundo]] de espetáculo incessante, numa [[sucessão]] feérica de [[imagens]]. Porém, jamais podemos [[esquecer]] algo que não pode [[ser]] esquecido e nos desafia por detrás e além-aquém de todo [[parecer]]: [[nada]] pode [[parecer]] sem [[aparecer]]. E o que sempre acontece no [[aparecer]] é o [[ser]], é a [[memória]]. Quem diz [[memória]] diz necessariamente [[tempo]]. Portanto, no [[tempo]] da [[globalização]] há também [[memória]]. E esta será sempre [[poética]]. O [[poético]] [[é]] o a [[ser]] [[pensado]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: '''Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte'''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 26. | ||
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+ | == 29 == | ||
+ | : O [[homem]] [[moderno]], opondo-se ao [[homem]] [[medieval]], que concebia a [[criação]] por um [[Deus]] [[Criador]], partindo do [[Nada]], criará a partir da [[imaginação]]. Contudo, para isto haverá uma profunda [[transformação]]. E a grande [[metáfora]] para indicar e conduzir esta [[mudança]] será o [[universo]] como um gigantesco [[relógio]]. Nesta, o [[Ser]] é substituído pelo [[Tempo]], mas agora um [[tempo]] que pode ser conhecido, medido e até efetuar intervenções. Conferir para isto o filme, fundamentado na obra de Fritjof Capra: ''[[O ponto de mutação]]''. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | == 30 == | ||
+ | : "A [[aparente]] [[cronologia]] e os três [[tempos]] distintos nada mais são do que a [[memória]] na [[tensão]] de [[lembrança]] E [[esquecimento]], ou seja, a [[memória]] é o [[entre]] enquanto [[tempo]] [[originário]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 34. | ||
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+ | == 31 == | ||
+ | : "Todo [[sofrimento]] pertencia ao [[tempo]], da mesma [[forma]] que todos os receios e tormentos com que as [[pessoas]] se afligem a si [[próprias]]. Todas e quaisquer dificuldades, tudo quanto houvesse de hostil no [[mundo]] sumir-se-ia, cairia derrotado, logo que o [[homem]] triunfasse sobre o [[tempo]], logrando arredá-lo pelo [[pensamento]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) HESSE, Hermann. ''Sidarta''. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90. | ||
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+ | == 32 == | ||
+ | : "Dize-me também se o [[rio]] te comunicou o [[misterioso]] [[fato]] de que o [[tempo]] não existe? - perguntou Sidarta certa feita. | ||
+ | : O rosto de Vasudeva iluminou-se num vasto sorriso. | ||
+ | : - Sim, Sidarta - respondeu. - Acho que te referes ao [[fato]] de que o [[rio]] se encontra ao mesmo [[tempo]] em [[toda]] [[parte]], na [[fonte]] tanto como na foz, nas cataratas e na balsa, nos estreitos, no [[mar]] e na serra, em [[toda]] [[parte]], ao [[mesmo]] [[tempo]]; de que para ele há apenas o [[presente]], mas nenhuma [[sombra]] de [[passado]] nem de [[futuro]]" (1). | ||
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+ | : (1) HESSE, Hermann. ''Sidarta''. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90. | ||
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+ | == 33 == | ||
+ | : "Uma vez que facilmente nos equivocamos, temos a impressão de que o [[tempo]] seja algo [[real]]. Não, Govinda, o [[tempo]] não é [[real]], como verifiquei em muitas ocasiões. E se o [[tempo]] não é [[real]], não passa tampouco de [[ilusão]] aquele lapso que nos parece estender-se [[entre]] o [[mundo]] e a [[eternidade]], [[entre]] o [[tormento]] e a bem-aventurança, [[entre]] o [[Bem]] e o [[Mal]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) HESSE, Hermann. ''Sidarta''. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 117. | ||
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+ | == 34 == | ||
+ | : "A [[linguagem]] fala. O que acontece com essa [[fala]]? Onde encontramos a [[fala]] da [[linguagem]]? Sobremaneira no que se diz. No dito, a [[fala]] se consuma, mas não acaba. No dito, a [[fala]] se resguarda. No dito, a [[fala]] recolhe e reúne tanto os modos em que ela perdura como o que pela [[fala]] perdura - seu [[perdurar]], seu [[vigorar]], sua [[essência]]. Contudo, na maior parte das vezes e com frequência, o dito nos vem ao encontro como uma [[fala]] que passou" (1). | ||
+ | |||
+ | : Não podemos esquecer que o [[vigorar]] da [[linguagem]] é o [[sentido]] e a [[verdade]] que orientam nossas [[ações]], nosso, enfim, [[agir]]. Daí o seu perdurar. E é nesse [[perdurar]] que o [[tempo]] [[é]] e acontece em seu [[desdobrar-se]] em [[épocas]]. A cada [[desdobramento]], a cada [[manifestação]] do [[vigorar]] do [[sentido]] e da [[verdade]] corresponde [[mundo]], de modo que o [[perdurar]] evidencia o [[vigorar]] do [[sentido]], da [[verdade]] e do [[mundo]] que se manifesta e é [[horizonte]] de nosso [[viver]], de nosso [[realizar-se]]. [[Mundo]] e [[sentido]] e [[verdade]] são para nós a [[realidade]]: [[vigorar]] da [[linguagem]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. '''A caminho da Linguagem'''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 11. | ||
+ | |||
+ | == 35 == | ||
+ | : "O [[espaço]] sendo [[espaço]] é o [[tempo]] [[acontecendo]]. Daí o [[tempo]] [[ser]] a quarta [[dimensão]] do [[espaço]]. As três outras [[dimensões]] do [[espaço]] são: [[comprimento]], [[largura]] e [[altura]]. Toda [[proposição]] é ao mesmo tempo uma [[proposição]] [[espacial]] – [[posição]] – e uma [[proposição]] [[temporal]] – ''pro''-, que diz o vir à frente, o [[acontecer]] do [[tempo]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". '''Ensaio''' não publicado. | ||
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+ | == 36 == | ||
+ | : "Só podemos [[perguntar]] porque já [[vigoramos]] no [[ser]], na [[memória]] do [[sentido do ser]]. É que o [[ser]], a [[memória]] ou [[sentido do ser]], é [[questão]]. É que a [[questão]] não é apenas [[saber]] e [[não-saber]], [[ser]] e [[não-ser]], ela é também a [[unidade]] de [[saber]] e [[ser]], de [[não-saber]] e [[não-ser]]. E só por ser [[unidade]] é que a [[questão]] pode [[advir]] à [[pergunta]]. [[Advir]] à [[pergunta]] [[é]] [[advir]] à [[linguagem]], a partir da [[memória]]. [[Memória]] é [[unidade]] e sendo [[unidade]] [[é]] [[linguagem]]. [[Linguagem]], enquanto [[unidade]], não é, em primeira [[instância]], [[fala]] ou [[elocução]]. Só se [[fala]] na e a [[partir]] da [[linguagem]]. Então podemos [[dizer]] que a quarta [[dimensão]] do [[tempo]] é a [[memória]], e esta é a [[unidade]] do [[tempo]] enquanto o [[tempo]] se faz [[linguagem]]. [[É]]. O [[tempo]] [[é]] já [[diz]], [[originariamente]], [[linguagem]], [[unidade]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". '''Ensaio''' ainda não publicado. | ||
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+ | == 37 == | ||
+ | : "Só podemos tentar achar uma [[resposta]] à [[pergunta]] que nos orienta e nos deixa, diante da [[morte]], sempre perplexos – o que há para além da [[morte]]? – se pensarmos o [[mesmo]]. Sem este nem é [[possível]] a [[pergunta]] sobre o [[tempo]]. Ou melhor, o [[tempo]] só pode [[ser]] antes e depois e [[viagem]] por já estar vigorando no [[mesmo]], que lhe dá [[unidade]]. O [[tempo]] é o [[mesmo]] que é a [[unidade]] das três marcações [[tradicionais]] do [[tempo]]: o [[passado]], o [[presente]] e o [[futuro]]. O [[além]] é o [[futuro]], assim como o [[passado]] é o que no [[presente]] não pode mais [[ser]] [[futuro]] nem [[presente]], pensa-se" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 248. | ||
+ | |||
+ | == 38 == | ||
+ | : "Ora, um [[princípio]] constitui algo [[inato]], pois é a [[partir]] de um [[princípio]] que [[necessariamente]] assume [[existência]] tudo aquilo que existe, ao passo que o [[princípio]] não provém de [[coisa]] alguma, pois, se começasse a [[ser]] partindo de qualquer outra [[fonte]], não seria [[princípio]]. Por outro lado, como não proveio de uma [[geração]], não se encontra [[sujeito]] à [[corrupção]] , pois é [[evidente]] que, uma vez o [[princípio]] anulado, jamais poderia gerar-se nele, porque ele é [[princípio]] e tudo provém [[necessariamente]] desse [[princípio]]. Podemos então concluir que o [[princípio]] do [[movimento]] é o que a si mesmo se move e por isso não pode ser anulado, nem pode [[ter]] começado a [[existir]], pois, de outra maneira, todo o [[universo]], todas as [[gerações]] parariam e jamais poderiam [[voltar]] a [[ser]] movidas a encontrar um ponto de [[partida]] para a [[existência]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) PLATÃO. '''Fedro'''. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, '''Les Belles Lettres''', 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d. | ||
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+ | == 39 == | ||
+ | : "A [[história]] não pode, portanto, ser vista só na sua [[dimensão]] [[horizontal]], porque não há [[horizontalidade]] sem [[verticalidade]]. O [[inverso]] também é [[verdadeiro]]. A [[sucessão]] [[linear]] ([[temporal]]) manifesta a [[espacialidade]] dos [[fatos]], enquanto inscrição do [[paradigma]] (''para-'': ''ao lado de''; ''-digma'': ''manifestação''). O [[paradigma]] permite-nos [[apreender]] [[espacialmente]] os [[diferentes]] [[fatos]] assinalados ''ordenadamente'' (''-tagma'') ''entre si'' (''syn-''), enquanto [[manifestação]] [[temporal]]. O [[espaço]] é a [[configuração]] [[temporal]]. Projetamo-nos [[temporalmente]] para nos percebermos [[espacialmente]]" (1). | ||
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+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ---. '''Tempos de Metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 190. | ||
+ | |||
+ | == 40 == | ||
+ | : "Porque, embora os [[mitos]] vivam hoje [[ausentes]], ainda assim temos [[sempre]] vivo o [[mítico]], que é um [[apelo]] para a [[Escuta]] do [[canto das Sereias]]. Cada um de [[nós]] já está desde [[sempre]] [[aberto]] para a [[fala]] da [[Escuta]], mas há um [[tempo]] [[próprio]], que os [[gregos]] denominavam ''[[kairós]]'', o [[tempo]] do [[ad-vento]], do [[momento]] [[oportuno]], que não se regula por datas nem por [[causas]] e consequências conhecidas cientificamente, muito menos por [[análises]] ou [[explicações]] [[técnicas]] ou [[críticas]]. É o [[advento]] do [[inesperado]], do [[extraordinário]], do [[mistério]], do [[acontecer poético]] da [[palavra cantada]], da [[fala]] do ''[[lógos]]''. Não é o [[desejo]] de algo [[consciente]] ou [[inconscientemente]] manifestado, mas um despertar para [[realizar]] a [[travessia]] do que somos" (1). | ||
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+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 175. | ||
+ | |||
+ | == 41 == | ||
+ | : "Podemos notar que, no [[infinitivo]], [[tempo]] e [[linguagem]] coincidem e são manifestações da ''[[poiesis]]'' da ''[[physis]]''/[[ser]]. É [[necessário]] começar a [[pensar]] a [[gramática]] do ponto de vista da [[linguagem]]/[[tempo]] e não o [[tempo]]/[[linguagem]] do ponto de vista da [[gramática]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''Linguagem: nosso maior bem'''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23. | ||
+ | |||
+ | == 42 == | ||
+ | : "Nosso projeto de [[ser]] acontece como [[tempo]] e [[linguagem]]. A [[vida]] vivida como [[experienciação]] de [[ser]] – [[sentido]] - é o [[tempo]] como [[linguagem]]. A [[linguagem]] é o [[tempo]] oportuno de [[manifestação]] do que somos. A esse [[tempo]] os [[gregos]] deram o [[nome]] de ''[[kairos]]'': é o [[tempo]] oportuno, o [[tempo]] do florescimento, da eclosão do que somos. Cada um tem o seu ''[[kairos]]''. Para [[ser]]. [[Ser]] é o único desafio [[verdadeiro]] de nossa [[vida]]. Então esse é o [[horizonte]] de nossas [[escolhas]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 85. | ||
+ | |||
+ | == 43 == | ||
+ | : "As [[obras de arte]] não são [[atemporais]]. O que é o [[tempo]] para que algo esteja ou possa estar fora dele? As [[obras de arte]] [[vigoram]] a partir do [[tempo]] [[ontológico]], [[originário]], e o manifestam em seu [[vigor]]. Ao afirmarem o [[tempo]] como [[questão]], vão de encontro aos postulados [[teóricos]], [[conceituais]], reducionistas e [[ideológicos]]. E para permanentemente afirmarem as [[questões]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 28. | ||
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+ | == 44 == | ||
+ | : "Viajar no [[tempo]], como qualquer [[viagem]] [[autêntica]], deve ser aventura e [[aprendizado]]. [[Amadurecer]] é ganhar [[independência]]. [[Envelhecer]] é perdê-la" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Confissões de um viajante temporal". In: '''Segundo Caderno''', '''O Globo''', 12-12-2020, p. 6. | ||
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+ | == 45 == | ||
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+ | : dentro de mim existem [[anos]] | ||
+ | : que não dormiram (1) | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 87. | ||
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+ | == 46 == | ||
+ | |||
+ | : na [[hora]] de [[brincar]] nós fugimos do [[tempo]] (1) | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 124. | ||
+ | |||
+ | == 47 == | ||
+ | : "O “[[lugar]]” como [[abertura]] já diz o que se dá enquanto [[sentido]] e [[verdade]]. É neste encaminhamento que apreendemos a [[realidade]] enquanto [[espaço]] e [[tempo]], ou seja, o [[sentido]] e sua [[verdade]] [[ética]]-[[erótica]], [[dimensões]] [[essenciais]] do [[sentido]]. [[Sentido]], [[verdade]] e [[mundo]], que são a [[linguagem]] atuando, [[fundam]] o [[espaço]] e o [[tempo]], que possibilitam [[diferentes]] [[posições]] e [[perspectivas]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões”. In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 20 . | ||
+ | |||
+ | == 48 == | ||
+ | : "O [[ano]] [[celta]] não tem começo nem fim. Ele segue o [[ritmo]] da [[natureza]] em seu [[ciclo]] contínuo. As marcações no calendário são apenas as [[mudanças]] mais [[evidentes]] na [[natureza]]. A cada nova [[estação]], ocorre uma [[festividade]] que [[celebra]] seu [[significado]] para a agricultura. Durante essas [[festividades]], as [[fronteiras]] [[entre]] os [[mundos]] [[material]] e [[sobrenatural]] desaparecem, e as [[entidades]] [[espirituais]] do [[Outro Mundo]] rompem o véu que as separa do [[reino]] dos [[vivos]]" (1). | ||
+ | |||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) HOOD, Juliette. '''O livro celta da vida e da morte'''. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 23. | ||
+ | |||
+ | == 49 == | ||
+ | : [[Realização]] é o vir a ser da [[realidade]] no seu manifestar-se em [[real]], ou seja, a [[totalidade]] dos [[entes]] (''ta onta''), dos [[fenômenos]]. Como tal, todo [[fenômeno]] é uma [[realização]] da [[realidade]] constituindo o [[real]]. Toda [[realização]] é oblíqua e dissimulada porque nela a [[realidade]] se dá e retrai, se manifesta e vela. Toda [[realização]] é uma [[doação]] do [[ser]]. Daí podermos falar de [[real]] e [[irreal]], de [[ideal]] e [[real]], porque este, em verdade, é a [[vigência]] do [[vigor]] da [[realidade]] pondo-se e depondo-se nas [[realizações]]. O [[Ser]] é [[doação]] enquanto [[tempo]], [[presença]], [[mundo]], [[sentido]] e [[realização]]. | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
+ | |||
+ | == 50 == | ||
+ | : O [[tempo]] não permanece nem muda, vigora, por isso é que mudando permanecemos, pois não há o [[mudar]] e o [[permanecer]] da [[vida]] sem o [[vigorar]] do [[tempo]]. | ||
+ | |||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | == 51 == | ||
+ | : "Ah, o [[tempo]]... [[Sempre]] o [[tempo]] causando [[esperas]]. [[Sempre]] o [[tempo]] fazendo [[parecer]] que as [[esperas]] jamais terão fim" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) ROSSI, Padre Marcelo. "Introdução". In: ---. '''Kairós'''. São Paulo: Editora Globo, 2013, p. 18. | ||
+ | |||
+ | == 52 == | ||
+ | : "Todos sabemos que “[[estórias]] de [[fadas]]” se passam num [[tempo]] não [[histórico]]. Não que sejam [[atemporais]], mas no [[tempo]] que é o [[próprio]] [[destino]]. Nesse [[sentido]], a [[poiesis]] é [[sempre]] a [[linguagem]] do [[destino]]. É no [[tempo]] do [[destino]] que se dá a nossa [[condição]], daí a sua ligação [[ontológica]] com o [[nada]]" (1). | ||
+ | |||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A condição humana e a essência do agir". '''Ensaio''' ainda não publicado. | ||
+ | |||
+ | == 53 == | ||
+ | : "O [[tempo]] [[sempre]] se constituiu como um [[desafio]]-[[enigma]] em praticamente todas as áreas do [[conhecimento]], em todas as [[épocas]]. Uma [[espécie]] de adaga apontada para a cabeça, sobretudo, daqueles que vislumbram apenas a [[existência]] do [[tempo]] de ''[[Chronos]]'', encarcerado às engrenagens de relógios, folhas de calendários ou de qualquer outro mecanismo de [[mediação]] [[temporal]] que se rende à triádica divisão - [[passado]], [[presente]], [[futuro]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. '''A Poética do Tempo'''. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, '''Coleção Pensamento Poético, 5''', 2013, p. 16. | ||
+ | |||
+ | == 54 == | ||
+ | : "Há muito que se tenta [[compreender]] o "[[enigma]] visível do [[tempo]]" pelas medidas de toda e qualquer ordem, seja com a observação da alternância do [[dia]] e da [[noite]], marcada pelo eixo de rotação da [[Terra]]; seja com a projeção das sombras em [[relação]] à [[posição]] do [[sol]], medidas com o relógio de [[sol]]; seja som a clepsidra ou relógio de água, seja com a ampulheta ou relógio de areia ou com os mecanismos mais avançados de que se tem notícia e, no entanto, o [[tempo]] permanece um [[enigma]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. '''A Poética do Tempo'''. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, '''Coleção Pensamento Poético, 5''', 2013, p. 18. | ||
+ | == 55 == | ||
+ | : "O que é, por conseguinte, o [[tempo]]? Se ninguém mo [[perguntar]], eu sei, se o quiser [[explicar]] a quem me fizer a [[pergunta]], já não sei" (1). | ||
- | |||
+ | : Referência: | ||
- | : | + | : (1) AGOSTINHO SANTO. '''Confissões'''. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. São Paulo: Cultural, 2004, p.322. |
- | : | + | == 56 == |
+ | : "Mas que [[tempo]], então, poderia [[ser]] esse que não se limita a cronômetros? A nós, parece-nos muito claro que se trata, por exemplo, do [[tempo]] da [[memória]], do [[tempo]] do [[esquecimento]], do [[tempo]] da [[finitude]], do [[tempo]] do tédio, do [[tempo]] do [[humano]], do [[tempo]] [[poético]], do [[tempo]] [[ontológico]], do [[tempo]] do autodiálogo. Todas, [[dimensões]] [[temporais]] que não se ajustam a [[medidas]] de nenhuma ordem" (1). | ||
- | : | + | : Referência: |
- | : | + | : (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. '''A Poética do Tempo'''. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, '''Coleção Pensamento Poético, 5''', 2013, p. 35. |
Edição de 21h55min de 17 de Abril de 2024
1
- O tempo é uma questão. E como questão não podemos viver fora do tempo nem sem tempo. Em si, ele, não como conceito, mas como questão, é o tempo poético, o tempo do existir, fazendo-se, ou seja, o acontecer, isto é, o tempo em sua densidade máxima, porque é o tempo destinado a cada ser vivente. Tempo é Vida sendo, destinando-se em cada vivente. É o tempo do ser, em que SE dá o ser e, por isso, é inclassificável, só experienciável como tempo poético, dando-se e presentificando-se, enfim, sendo. Por isso, o tempo é a quarta dimensão do espaço, como afirmam os físicos. Porém, tal tempo não é o tempo tripartido (somente cronológico), porque o tempo tem também uma quarta dimensão: é a linguagem (1). Esta é o tempo poético. E pensá-lo é a Poética. Se o tempo é a quarta dimensão do espaço e a linguagem a quarta dimensão do tempo, a linguagem é o fundar de tempo e espaço. Esse fundar é o fundamentar o lugar. Lugar ou campo é mundo. A linguagem é mundo e sentido, porque o mundo é a quarta dimensão da linguagem. Como o leitor percebe, torna-se imprescindível a leitura do ensaio de Heidegger abaixo indicado, onde apreendemos estas ideias.
- Referência:
- (1) Cf. HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: ___. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, pp. 255-72.
2
- "O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é, contudo, nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um ponto exótico que não pode ser repartido, podendo, entretanto, prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo" (1).
- Todo capítulo 9 de Lavoura arcaica (1) trata do tempo, de uma maneira ampla e profunda. Pensado a partir do viver / existir é o próprio viver em suas múltiplas faces tanto do cotidiano quanto do transcendente. É um pensar poético no tempo, com o tempo e para o tempo. Para o leitor torna-se uma fonte necessária de consulta.
- No cap. 17 retoma a temática do tempo. O romance centrado nas questões humano-familiares, tendo a casa como imagem-questão central, retoma uma temática explicitamente ligada à mais antiga tradição ocidental: o genos, linha central de três tragédias de Sófocles em torno da personagem-questão Édipo, ou seja, do ser humano, de todo ser humano em todos os tempos.
- Esse tempo da obra de arte é a grande questão a ser pensada. Isso jamais pode ser feito somente através dos estilos de época e dos gêneros na sua formulação meramente formal e conceitual, isto é, estilística. Os gêneros têm de ser pensados naquilo que eles implicam: o genos.
- Referência:
- (1) NASSAR, Raduan. Lavoura arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 53.
3
- "Vigente é o que dura - o que vige a partir e no âmbito do desencobrimento... Por isso, pertence ao vigorar, à presença, não somente desencobrimento, mas também presente. Este presente imperante no vigorar é um caráter do tempo. Seu modo próprio de ser, porém, jamais se deixa apreender através do conceito tradicional de tempo" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "O que quer dizer pensar?". In: ----------. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 123.
- Ver também:
4
- Disse Santo Agostinho: O que é o tempo? Se ninguém mo perguntar eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei (1).
- Isto porque vivemos no e somos tempo, de tal maneira que ele sempre se nos dá ao mesmo tempo que se nos retrai, oculta. Desta tensão, surgem as diferentes experienciações do tempo:
- "Cada época se identifica com uma cisão do tempo, e na nossa a presença constante das utopias revolucionárias denuncia o lugar privilegiado que tem o futuro para nós. O passado não é melhor que o presente: a perfeição não está atrás de nós, e, sim, na frente, não é um paraíso abandonado, mas um território que devemos colonizar, uma cidade que precisa ser construída.
- "O cristianismo opôs à visão do tempo cíclico da antiguidade greco-romana um tempo linear, sucessivo e irreversível, com um começo, um fim, da queda de Adão e Eva ao Juízo Final. Diante desse tempo histórico e mortal houve outro tempo sobrenatural, invulnerável diante da morte e da sucessão: a Eternidade. Por isso, o único episódio decisivo da história terrestre foi o da Redenção: o descenso de Cristo e o seu sacrifício representam a interseção entre a Eternidade e a temporalidade, o tempo recessivo e moral dos homens e o tempo do mais além, que não muda nem sucede, idêntico a si próprio sempre. A Idade Moderna começa com a crítica à Eternidade cristã e com a aparição de outro tempo. De um lado, o tempo finito do cristianismo, com um começo e um fim, se converte num tempo quase infinito da evolução natural e da história, aberto em direção ao futuro. De outro lado, a modernidade desvaloriza a Eternidade: a perfeição se translada para o futuro, não no outro mundo, mas neste. Basta lembrar a imagem célebre de Hegel: a rosa da razão está crucificada no presente" (2).
- Referência:
- (1) AGOSTINHO, Confissões, XI, 17.
- (2) PAZ, Octávio. "Ruptura e convergência". In: A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, pp. 36.
- Ver também:
5
- Referência:
- (1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73.
6
- Nenhum conceito dá conta da questão tempo. Não foi sem sentido que os gregos mostraram o tempo como devorador dos seus filhos, ou seja, o tempo é a morte vigorando. Mas se há uma questão que perpassa toda a cultura e pensamento grego é tempo. Por isso, havia quatro palavras para dizer toda essa complexidade, cada uma com dimensões realmente essenciais: além de Kronos, a que já fizemos referência, onde se acentua o pôr e depor, temos ainda: Aion, Kairós e Horae. Aion é o tempo eterno, que nunca começou e nunca termina, é a própria vida em seu acontecer inesgotável. Kairos é o tempo oportuno, o tempo de plenitude (telos) a que algo chegou e vai eclodir, é todo nascimento no seu tempo de vir à luz. Já Horae diz o tempo circular de eclosão e de extinção, enfim, da mudança, mas também permanência. Propriamente, em português, diríamos "estações". As quatro dimensões do tempo é que caracterizam o que podemos denominar existência humana, não aquela que se opõe à essência, pois o tempo será sempre essência. Heidegger para a distinguir do significado corrente que se opõe à essência, denominou-a com o nome latino: ek-sistentia / ek-sistência / ec-sistência. E mais profundamente podemos dizer simplesmente que tempo é ser. Fica logo evidente que são estas diferentes dimensões do tempo a partir das quais vigoram tanto a identidade quanto a diferença. E estas se tornam a vigência e possibilidade da própria existência.
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- O vivente só vive e sabe que vive e pensa a vida porque sua vida como vivente já vigora na vida como tempo e este como unidade ou sentido. A sucessividade de nossa vida nunca nos aparece nem como um amontoado desconexo de momentos, nem como uma sequência linear e causal de vivências. Vivemos de surpresas inesperadas. Isso é o sentido não a explicação racional e muito menos o significado. O inesperado é a fonte produtora de tudo que se espera e não se espera. Portanto, a vida do vivente só é possível porque tempo é vida, que é unidade, que é o mesmo, que é morte.
8
- Meu Deus! Como o tempo passa
- Dizemos de quando em quando
- Afinal o tempo fica
- A gente é que vai passando (1).
- (1) "Fado menor". In: Fados, filme dirigido por Carlos Saura.
9
- "Não existem, propriamente falando, três tempos: o passado, o presente e o futuro, mas somente três presentes: o presente do passado, o presente do presente, o presente do futuro" (1).
- Se bem observamos e pensarmos, vamos ter aqui a questão da memória. O que se dá é o esquecimento da memória nas mais diversas aproximações do que seja o tempo.
- Referência:
- (1) AGOSTINHO. Confissões, XI, 20.
10
- No filme de Wim Wenders Tão perto, tão longe, há uma grande tematização do tempo. Chama a atenção o contraste entre o que a cultura americana diz sobre o tempo, bem no seu cerne capitalista: "Tempo é dinheiro". O diretor alemão, para constrastar com essa redução medíocre, afixa na parede de um Museu a seguinte frase: "Zeit ist Kunst", ou seja, "Tempo é arte". E criou também um personagem-questão para ser pensado o tempo, cujo nome é "Ligeirinho". Num momento crucial do enredo do filme diz ele:
- "O tempo é curto. Para a fuinha o tempo é traiçoeiro. Para o heroi o tempo é heroico. Para a prostituta o tempo é apenas outra peça. Se você for gentil, o tempo é gentil. Se você estiver com pressa, o tempo voa. O tempo é o servo se você for seu mestre. O tempo é seu deus, se você for seu cão. Nós somos os criadores do tempo, as vítimas do tempo e os assassinos do tempo. O tempo é valioso. Você é o relógio" (1).
- Referência:
- (1) WENDERS, Wim. Tão perto, tão longe. Sony Pictures Classics, 1993. Prêmio do Grande Júri, em Cannes.
11
- "Enganados pelo poder atribuir medidas, medimos também o tempo e até o dividimos em passado, presente e futuro. Quando assim medimos o tempo, na verdade, não estamos medindo a ele, e sim a nós mesmos. Nós (e só nós!) é que passamos, mudamos. O tempo não passa nem permanece, não é mutável nem imutável. O tempo é o que jamais deixa de estar e ser vigorando. O tempo é o próprio vigorar. Assim sendo, viver é deixar-se tomar pelo vigorar do tempo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 230.
12
- "O espaço de tempo vulgarmente entendido no sentido de distância entre dois pontos do tempo é resultado do cálculo do tempo. É através dele que o tempo, representado como linha ou parâmetro - tempo que assim é unidimensional -, é medido por números. O elemento dimensional do tempo, assim pensado como a sucessão de sequência de agoras é tomado de empréstimo da representação do espaço tridimensional" (1)
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: -----------. Heidegger. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 265.
13
- Somos, com todos os outros seres, irmãos no tempo. E não falamos do tempo de fora do tempo, mas a partir sempre do tempo, daí a musicalidade de cada língua e das canções fazerem sentido e falarem a todos os seres humanos de todas as culturas em suas diferenças. O tempo é musicalidade do silêncio manifestando tudo que é e não-é. O tempo como musicalidade da vida é sentido, é linguagem, é mundo. O tempo se dá no seu acontecer como um ciclo de dias e noites. O dia é o tempo se manifestando como pensar, saber e verdade; já a noite é o tempo se ocultando como não-saber e não-verdade. Quem os preside é o ser, o sol, luz originária e energia irradiante que dá unidade à luminosidade do dia e à escuridão da noite.
14
- Quanto a tempo, no pensamento grego, havia quatro palavras para pensar o tempo:
- 1º. Kronos, é o tempo do dis-correr, do discurso, que trans-corre e é enumerável, daí a cronologia, bem como a História concebida como Historiografia, em que, propriamente, não se leva em conta o acontecer das demais experienciações do tempo entre os gregos. É o tempo adotado pela gramática;
- 2º. Aion, o tempo que perdura, é o princípio, a origem originária de tudo que acontece na realidade, eternidade sem início nem fim;
- 3º. Kairos, o tempo do amadurecimento e eclosão de tudo, o tempo oportuno, o tempo do próprio;
- 4.0. E, finalmente, as Horae, as horas, estações ou fases da vida, como: criança, jovem, adulto, idoso. E sobretudo vida e morte, ou seja, eros e thanatos. Porém, nada disto, que estamos pensando, podia acontecer para o grego sem uma outra palavra sinônimo de ser: physis.
15
- Nosso tempo é um tempo acelerado. Parece uma vida com muitas vidas, de muitas vivências. Mas aí entra a questão ontológica e esta diz respeito diretamente ao tempo da experienciação. O tempo da experienciação é o tempo da metábole (movimento essencial). Toda transformação precisa radicalmente de um tempo próprio, o tempo de ser se manifestando e transformando, pelo qual se é mais do que uma forma: simplesmente se é. Neste, o que é se manifesta em o como é. E o como é ou vivências se transformam não apenas n’o como se conhece, mas no sentido do que é, pois ser é agir e agir se manifestando é o advir do sentido, tanto d'o que é, quanto d'o como se conhece, isto é, transforma no ser humano a vivência em experienciação, daí no ser humano não haver apenas vida, mas o existir.
16
- Ora, aí é que entra também o tempo da arte. Que tempo é esse? Confunde-se o tempo da arte com a arte dos tempos, onde a conjuntura e a época determinariam o sentido das obras de arte. Diga-se logo que não são as épocas e suas conjunturas que determinam a memória e a história, pois sem memória – unidade e sentido das diferenças – não há nem época nem conjunturas enquanto sentido do acontecer do tempo, memória e história, enfim, obra de arte.
17
- "O tempo não é. Dá-Se o tempo. O dar que dá tempo determina-se a partir da proximidade que recusa e retém. Ela garante o aberto do espaço-de-tempo e preserva o que, no passado, permanece recusado, e, no futuro, retido. Denominamos o dar que dá o tempo autêntico, alcançar que ilumina e oculta. Na medida em que o próprio alcançar é um dar, oculta-se, no tempo autêntico, o dar de um dar" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: -----. Conferências e escritos filosóficos - Coleção Os pensadores. Trad., Introduções e Notas: Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 265.
18
- "Quando se pergunta, o que há para além da morte, nessa pergunta se esquece o essencial: todo além pressupõe um aquém. Seria mais importante pensar o além ou o aquém? Ou nenhum dos dois? Ou os dois e o meio, que é a travessia, já que não pode haver travessia que não faça parte do aquém e do além? Essas três dimensões dadas pelos advérbios recebem um nome muito comum e usado: tempo. Nenhum conceito dá conta da questão tempo. Não foi sem sentido que os gregos mostraram o tempo como devorador dos seus filhos, ou seja, o tempo é a morte vigorando" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 247.
19
- "Só por já estarmos e sermos no tempo e enquanto tempo é que podemos formular as perguntas em torno das três possíveis posições. Portanto, perguntar pelo que há para além da morte é perguntar pelo que o tempo é enquanto ex-iste, está sendo. O tempo só é tempo porque está e é ou será o inverso, isto é, ser e estar só são e estão porque são tempo? Não será mais lógico, porque real, dizer que não há a alternativa ou, e, sim, que um e outro são o mesmo? Qual a importância de se pensar o mesmo, não como conceito, mas como o elemento no qual tempo é e está sendo tempo? É que o mesmo dá unidade ao antes e ao depois e à travessia. Essa unidade é a realidade enquanto morte, não mais como fim, mas como simples possibilidade de ser e de consumar o próprio" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 247.
20
- "Mas não somos nós, com nosso pensar, que damos sentido. O sentido já nos é dado. Como? Como o tempo se dá em cada instante. Não poderíamos experienciar nenhum instante como tempo se este não fosse sentido, ou seja, linguagem. A linguagem é o sentido do tempo na medida em que este é vida, é memória, é mar, é ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 251.
21
- "Tempo é movimento que nos restitui aos primórdios de nossa origem, é ocidente que veloz voa ao ocaso do dia, para aguardar o louvor da aurora que anuncia estar próximo o país do oriente. Tempo é assim sempre e por toda parte a estranha viagem dos que habitam a existência: a espera do inesperado" (1).
- Referência:
- (1) BUZZI, Arcângelo R. Itinerário - a clínica do humano. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 59.
22
- "O tempo é escorregadio. Uma ilusão persistente, afirmou um dia Albert Einstein, exasperado por não conseguir colocá-lo inteiro numa equação. Até hoje, os cientistas lutam com uma definição precisa. De todas as grandezas físicas, o tempo é a mais difícil de definir e compreender. Vivemos, portanto, mergulhados numa entidade cuja natureza profunda ignoramos" (1).
- Referência:
- (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Confissões de um viajante temporal". In: Segundo Caderno, O Globo, 12-12-2020, p. 6.
23
- "O tempo é a dimensão fundamental de nossa existência, mas está também no coração da física, pois foi a incorporação do tempo no esquema conceitual da física galileana o ponto de partida da ciência ocidental. Por certo, este ponto de partida é um triunfo do pensamento humano, mas está também na origem do problema que constitui o objeto deste livro. Sabe-se que Einstein afirmou muitas vezes que "o tempo é ilusão" " (1).
- Certamente, Einstein jamais pensou o tempo existencial. Este não é redutível ao poder da razão nem se pode tornar objeto da ciência por isso mesmo.
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. "Uma nova racionalidade". In: -------. O fim das certezas. São Paulo: Editora UNESP, 1996, p. 9.
24
- "Os deuses míticos, entendidos na palavra poética, instituem o seu próprio tempo, o tempo poético, onde se dá a abertura para a presentificação/doação do extraordinário. Lê-los e interpretá-los é, pois, traduzir em nossa língua a linguagem da questão que eles dizem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 161.
25
- "Tentemos caracterizar a atual globalização funcional: As transformações desencadeadas são tão profundas que até o próprio tempo se vê transfigurado em sua essência. De um lado, é pura e contínua mudança, novidade, evanescência, obsolescência. Há uma absoluta fome de consumo dos produtos de última geração, do último modelo. Tudo envelhece rapidamente como se o tempo estivesse acelerado, nada resistindo a essa aceleração, nem as relações afetivas que passaram a ter a velocidade da internet" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 22.
26
- "... toda experiência radical de pensamento se embrenha pelas raízes da própria possibilidade de pensar as realizações do real no e pelo mistério da realidade" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Deus e o homem louco". In: Revista Tempo Brasileiro - Imagem da Ciência, 188, jan.-mar., 2012, p. 145.
27
- "No filme Todas as cores do amor, centralizado no comportamento dos jovens de hoje, aparece uma imagem-questão extremamente preocupante, mas que diz muito: Cada relacionamento afetivo – e afeto não diz mera sensação estética, mas ético-humana ou erótica - tinha aproximadamente a duração da memória de um peixe, em torno de um minuto. Para o peixe, a realidade a cada minuto aparece como uma realidade sempre nova, como se a visse pela primeira vez. Com um pouco de exagero é isso o que está acontecendo com a memória das relações na época da globalização da internet: não há permanência, tudo muda muito rapidamente e se esquece. Podemos experimentar isso com as informações. Elas se sucedem tão rapidamente que nada perdura, vivem a frescura da novidade e a sorte da sua rápida substituição pelas mais recentes. E a sensação é de que nada fica, tudo se esvai com o correr e fluir do tempo. É o tempo da globalização e das redes, das fáceis relações e rápidas mudanças e substituições. E não são apenas as relações afetivas pessoais que são afetadas, mas, sim, toda possibilidade de viver em comunidade, pois não há laços que sustentem o que é comum e essencial para todos. Comunidade só é possível enquanto vigorar do universal concreto" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 25.
28
- "Sem memória, a globalização tende ao viver sem memória, na rapidez e brilho do instante, num mundo de espetáculo incessante, numa sucessão feérica de imagens. Porém, jamais podemos esquecer algo que não pode ser esquecido e nos desafia por detrás e além-aquém de todo parecer: nada pode parecer sem aparecer. E o que sempre acontece no aparecer é o ser, é a memória. Quem diz memória diz necessariamente tempo. Portanto, no tempo da globalização há também memória. E esta será sempre poética. O poético é o a ser pensado" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 26.
29
- O homem moderno, opondo-se ao homem medieval, que concebia a criação por um Deus Criador, partindo do Nada, criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será o universo como um gigantesco relógio. Nesta, o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até efetuar intervenções. Conferir para isto o filme, fundamentado na obra de Fritjof Capra: O ponto de mutação.
30
- "A aparente cronologia e os três tempos distintos nada mais são do que a memória na tensão de lembrança E esquecimento, ou seja, a memória é o entre enquanto tempo originário" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 34.
31
- "Todo sofrimento pertencia ao tempo, da mesma forma que todos os receios e tormentos com que as pessoas se afligem a si próprias. Todas e quaisquer dificuldades, tudo quanto houvesse de hostil no mundo sumir-se-ia, cairia derrotado, logo que o homem triunfasse sobre o tempo, logrando arredá-lo pelo pensamento" (1).
- Referência:
- (1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90.
32
- "Dize-me também se o rio te comunicou o misterioso fato de que o tempo não existe? - perguntou Sidarta certa feita.
- O rosto de Vasudeva iluminou-se num vasto sorriso.
- - Sim, Sidarta - respondeu. - Acho que te referes ao fato de que o rio se encontra ao mesmo tempo em toda parte, na fonte tanto como na foz, nas cataratas e na balsa, nos estreitos, no mar e na serra, em toda parte, ao mesmo tempo; de que para ele há apenas o presente, mas nenhuma sombra de passado nem de futuro" (1).
- Referência:
- (1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90.
33
- "Uma vez que facilmente nos equivocamos, temos a impressão de que o tempo seja algo real. Não, Govinda, o tempo não é real, como verifiquei em muitas ocasiões. E se o tempo não é real, não passa tampouco de ilusão aquele lapso que nos parece estender-se entre o mundo e a eternidade, entre o tormento e a bem-aventurança, entre o Bem e o Mal" (1).
- Referência:
- (1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 117.
34
- "A linguagem fala. O que acontece com essa fala? Onde encontramos a fala da linguagem? Sobremaneira no que se diz. No dito, a fala se consuma, mas não acaba. No dito, a fala se resguarda. No dito, a fala recolhe e reúne tanto os modos em que ela perdura como o que pela fala perdura - seu perdurar, seu vigorar, sua essência. Contudo, na maior parte das vezes e com frequência, o dito nos vem ao encontro como uma fala que passou" (1).
- Não podemos esquecer que o vigorar da linguagem é o sentido e a verdade que orientam nossas ações, nosso, enfim, agir. Daí o seu perdurar. E é nesse perdurar que o tempo é e acontece em seu desdobrar-se em épocas. A cada desdobramento, a cada manifestação do vigorar do sentido e da verdade corresponde mundo, de modo que o perdurar evidencia o vigorar do sentido, da verdade e do mundo que se manifesta e é horizonte de nosso viver, de nosso realizar-se. Mundo e sentido e verdade são para nós a realidade: vigorar da linguagem.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 11.
35
- "O espaço sendo espaço é o tempo acontecendo. Daí o tempo ser a quarta dimensão do espaço. As três outras dimensões do espaço são: comprimento, largura e altura. Toda proposição é ao mesmo tempo uma proposição espacial – posição – e uma proposição temporal – pro-, que diz o vir à frente, o acontecer do tempo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio não publicado.
36
- "Só podemos perguntar porque já vigoramos no ser, na memória do sentido do ser. É que o ser, a memória ou sentido do ser, é questão. É que a questão não é apenas saber e não-saber, ser e não-ser, ela é também a unidade de saber e ser, de não-saber e não-ser. E só por ser unidade é que a questão pode advir à pergunta. Advir à pergunta é advir à linguagem, a partir da memória. Memória é unidade e sendo unidade é linguagem. Linguagem, enquanto unidade, não é, em primeira instância, fala ou elocução. Só se fala na e a partir da linguagem. Então podemos dizer que a quarta dimensão do tempo é a memória, e esta é a unidade do tempo enquanto o tempo se faz linguagem. É. O tempo é já diz, originariamente, linguagem, unidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio ainda não publicado.
37
- "Só podemos tentar achar uma resposta à pergunta que nos orienta e nos deixa, diante da morte, sempre perplexos – o que há para além da morte? – se pensarmos o mesmo. Sem este nem é possível a pergunta sobre o tempo. Ou melhor, o tempo só pode ser antes e depois e viagem por já estar vigorando no mesmo, que lhe dá unidade. O tempo é o mesmo que é a unidade das três marcações tradicionais do tempo: o passado, o presente e o futuro. O além é o futuro, assim como o passado é o que no presente não pode mais ser futuro nem presente, pensa-se" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 248.
38
- "Ora, um princípio constitui algo inato, pois é a partir de um princípio que necessariamente assume existência tudo aquilo que existe, ao passo que o princípio não provém de coisa alguma, pois, se começasse a ser partindo de qualquer outra fonte, não seria princípio. Por outro lado, como não proveio de uma geração, não se encontra sujeito à corrupção , pois é evidente que, uma vez o princípio anulado, jamais poderia gerar-se nele, porque ele é princípio e tudo provém necessariamente desse princípio. Podemos então concluir que o princípio do movimento é o que a si mesmo se move e por isso não pode ser anulado, nem pode ter começado a existir, pois, de outra maneira, todo o universo, todas as gerações parariam e jamais poderiam voltar a ser movidas a encontrar um ponto de partida para a existência" (1).
- Referência:
- (1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d.
39
- "A história não pode, portanto, ser vista só na sua dimensão horizontal, porque não há horizontalidade sem verticalidade. O inverso também é verdadeiro. A sucessão linear (temporal) manifesta a espacialidade dos fatos, enquanto inscrição do paradigma (para-: ao lado de; -digma: manifestação). O paradigma permite-nos apreender espacialmente os diferentes fatos assinalados ordenadamente (-tagma) entre si (syn-), enquanto manifestação temporal. O espaço é a configuração temporal. Projetamo-nos temporalmente para nos percebermos espacialmente" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 190.
40
- "Porque, embora os mitos vivam hoje ausentes, ainda assim temos sempre vivo o mítico, que é um apelo para a Escuta do canto das Sereias. Cada um de nós já está desde sempre aberto para a fala da Escuta, mas há um tempo próprio, que os gregos denominavam kairós, o tempo do ad-vento, do momento oportuno, que não se regula por datas nem por causas e consequências conhecidas cientificamente, muito menos por análises ou explicações técnicas ou críticas. É o advento do inesperado, do extraordinário, do mistério, do acontecer poético da palavra cantada, da fala do lógos. Não é o desejo de algo consciente ou inconscientemente manifestado, mas um despertar para realizar a travessia do que somos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 175.
41
- "Podemos notar que, no infinitivo, tempo e linguagem coincidem e são manifestações da poiesis da physis/ser. É necessário começar a pensar a gramática do ponto de vista da linguagem/tempo e não o tempo/linguagem do ponto de vista da gramática" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.
42
- "Nosso projeto de ser acontece como tempo e linguagem. A vida vivida como experienciação de ser – sentido - é o tempo como linguagem. A linguagem é o tempo oportuno de manifestação do que somos. A esse tempo os gregos deram o nome de kairos: é o tempo oportuno, o tempo do florescimento, da eclosão do que somos. Cada um tem o seu kairos. Para ser. Ser é o único desafio verdadeiro de nossa vida. Então esse é o horizonte de nossas escolhas" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 85.
43
- "As obras de arte não são atemporais. O que é o tempo para que algo esteja ou possa estar fora dele? As obras de arte vigoram a partir do tempo ontológico, originário, e o manifestam em seu vigor. Ao afirmarem o tempo como questão, vão de encontro aos postulados teóricos, conceituais, reducionistas e ideológicos. E para permanentemente afirmarem as questões" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 28.
44
- "Viajar no tempo, como qualquer viagem autêntica, deve ser aventura e aprendizado. Amadurecer é ganhar independência. Envelhecer é perdê-la" (1).
- Referência:
- (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Confissões de um viajante temporal". In: Segundo Caderno, O Globo, 12-12-2020, p. 6.
45
- dentro de mim existem anos
- que não dormiram (1)
- Referência:
- (1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 87.
46
- Referência:
- (1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 124.
47
- "O “lugar” como abertura já diz o que se dá enquanto sentido e verdade. É neste encaminhamento que apreendemos a realidade enquanto espaço e tempo, ou seja, o sentido e sua verdade ética-erótica, dimensões essenciais do sentido. Sentido, verdade e mundo, que são a linguagem atuando, fundam o espaço e o tempo, que possibilitam diferentes posições e perspectivas" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões”. In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 20 .
48
- "O ano celta não tem começo nem fim. Ele segue o ritmo da natureza em seu ciclo contínuo. As marcações no calendário são apenas as mudanças mais evidentes na natureza. A cada nova estação, ocorre uma festividade que celebra seu significado para a agricultura. Durante essas festividades, as fronteiras entre os mundos material e sobrenatural desaparecem, e as entidades espirituais do Outro Mundo rompem o véu que as separa do reino dos vivos" (1).
- Referência:
- (1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 23.
49
- Realização é o vir a ser da realidade no seu manifestar-se em real, ou seja, a totalidade dos entes (ta onta), dos fenômenos. Como tal, todo fenômeno é uma realização da realidade constituindo o real. Toda realização é oblíqua e dissimulada porque nela a realidade se dá e retrai, se manifesta e vela. Toda realização é uma doação do ser. Daí podermos falar de real e irreal, de ideal e real, porque este, em verdade, é a vigência do vigor da realidade pondo-se e depondo-se nas realizações. O Ser é doação enquanto tempo, presença, mundo, sentido e realização.
50
- O tempo não permanece nem muda, vigora, por isso é que mudando permanecemos, pois não há o mudar e o permanecer da vida sem o vigorar do tempo.
51
- "Ah, o tempo... Sempre o tempo causando esperas. Sempre o tempo fazendo parecer que as esperas jamais terão fim" (1).
- Referência:
- (1) ROSSI, Padre Marcelo. "Introdução". In: ---. Kairós. São Paulo: Editora Globo, 2013, p. 18.
52
- "Todos sabemos que “estórias de fadas” se passam num tempo não histórico. Não que sejam atemporais, mas no tempo que é o próprio destino. Nesse sentido, a poiesis é sempre a linguagem do destino. É no tempo do destino que se dá a nossa condição, daí a sua ligação ontológica com o nada" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A condição humana e a essência do agir". Ensaio ainda não publicado.
53
- "O tempo sempre se constituiu como um desafio-enigma em praticamente todas as áreas do conhecimento, em todas as épocas. Uma espécie de adaga apontada para a cabeça, sobretudo, daqueles que vislumbram apenas a existência do tempo de Chronos, encarcerado às engrenagens de relógios, folhas de calendários ou de qualquer outro mecanismo de mediação temporal que se rende à triádica divisão - passado, presente, futuro" (1).
- Referência:
- (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. A Poética do Tempo. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, Coleção Pensamento Poético, 5, 2013, p. 16.
54
- "Há muito que se tenta compreender o "enigma visível do tempo" pelas medidas de toda e qualquer ordem, seja com a observação da alternância do dia e da noite, marcada pelo eixo de rotação da Terra; seja com a projeção das sombras em relação à posição do sol, medidas com o relógio de sol; seja som a clepsidra ou relógio de água, seja com a ampulheta ou relógio de areia ou com os mecanismos mais avançados de que se tem notícia e, no entanto, o tempo permanece um enigma" (1).
- Referência:
- (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. A Poética do Tempo. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, Coleção Pensamento Poético, 5, 2013, p. 18.
55
- "O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei, se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei" (1).
- Referência:
- (1) AGOSTINHO SANTO. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. São Paulo: Cultural, 2004, p.322.
56
- "Mas que tempo, então, poderia ser esse que não se limita a cronômetros? A nós, parece-nos muito claro que se trata, por exemplo, do tempo da memória, do tempo do esquecimento, do tempo da finitude, do tempo do tédio, do tempo do humano, do tempo poético, do tempo ontológico, do tempo do autodiálogo. Todas, dimensões temporais que não se ajustam a medidas de nenhuma ordem" (1).
- Referência:
- (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. A Poética do Tempo. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, Coleção Pensamento Poético, 5, 2013, p. 35.