Contemporaneidade
De Dicionrio de Potica e Pensamento
1
- "Cada invenção tenta desesperadamente ser a alternativa. No entanto, em geral, para ser uma alternativa, sempre se observa uma carência do alter-, e uma sobra, mesmo que nem sempre considerada, do -nativa. Na tentativa do estabelecimento do novo, que toda a contemporaneidade, a seu modo, almeja, o empecilho é sempre a dificuldade na admissão do outro. A alternativa é sempre postulada desde uma atualização do próprio, desde uma atualitas, desde um tornar ato, desde um aperfeiçoamento dos modos de antemão previstos, racionalizados, calculados e prescritos. Assim, o novo raramente consegue realizar-se como o efetivamente novo. Realiza-se muito mais na dimensão abstrata que todo novo traz consigo, isto é, a novidade. O novo acaba se opondo, de modo falaz, ao velho, e este é relegado à memória ou, o que acaba sendo o mesmo, à história, ambas entificadas e assim entendidas como mero depósito, no qual se pode entrar e consultar quando necessário. O clamor pela novidade é equivalente ao seu descarte. A novidade tem uma vigência tão veloz quanto a necessidade de sua superação por outra" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 28-9.
- Ver também:
2
- "O entendimento do que foi e do que será se realiza, de qualquer modo, nas possibilidades e vicissitudes de uma contemporaneidade. Os critérios que determinam o movimento como a evolução de um ontem para um amanhã, eles também só podem ser formulados desde um hoje, e jamais desde um ontem ou desde um amanhã. A evolução é uma modalidade de avaliação prescritiva cunhada sempre desde a contemporaneidade. Na verdade, o problema, bem como a vigência das questões, são sempre contemporâneos. Seja por inércia, seja por vigor, o que persiste e insiste constitui conosco as nossas possibilidades e impossibilidades" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 35.
3
- "A história é precisamente a contemporaneidade vigendo como e com os acontecimentos memoráveis. Nesse sentido ela não se distingue de qualquer outra época histórica, na medida em que, em qualquer época, a pretensão do ser humano é constituir e constituir-se como memorável" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 106.
4
- "Vivemos na idade de ouro da mentira, no esplendor da falsidade, num tempo em que os demagogos explícitos, mesmo os mais rudimentares , ou sobretudo esses, são idolatrados e celebrados como profetas e salvadores. Fabricar, promover e disseminar notícias falsas virou uma profissão muito bem paga. Num tempo assim a intuição é mais importante do que nunca. Deveria ser uma disciplina escolar - ou melhor, uma indisciplina" (1).
- Referência:
- (1) AGUALUSA, José Eduardo. Crônica: EXERCÍCIOS DE INTUIÇÃO. In Segundo Caderno de O Globo, Sábado 27.7.2024, p. 6.