Contemporâneo

De Dicionário de Poética e Pensamento

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Contemporâneo é o que não cessa de vigorar. E o que não cessa de vigorar é: Tempo, Ser, Linguagem, Morte, Vida, Nada. Neste sentido, contemporâneo é uma questão e não uma determinada indicação ou época da historiografia ligada ao presente, tomado este cronologicamente somente. Todo contemporâneo é a vigência do passado como realização do futuro no presente. Desse modo, o contemporâneo abrange o tempo ontológico-dialético de passado e futuro. O contemporâneo é o diálogo da dialética das épocas em seu acontecer como passado e futuro.


-Manuel Antônio de Castro

2

"Algumas obras sempre foram contemporâneas de outras. Se é verdade que não somos contemporâneos de músicos como Bach, Mozart, Beethoven, não é menos verdade que suas obras são tão contemporâneas nossas quanto as de Stockhausen, Boulez, Berio, Guerra-Peixe, Villa-Lobos etc. Uma grande obra é potencialmente sempre contemporânea, isto é, é capaz de concorrer para o movimento da história qualquer que ele seja" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 106.


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3

"Contemporâneo é o que habita uma mesma temporalidade. Se compreendermos assim, a contemporaneidade será composta tanto pelo que se faz hoje, quanto pelo que se fez no passado e que, de um ou outro modo, ainda persiste e insiste em permanecer vigendo, conformando e confirmando esta mesma contemporaneidade" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 111.


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4

Arte é desafio humano de criação. Mas o que é criar? O que é ser humano? Por etapas: A concepção de criar ressente-se dos humanismos, frutos de uma metafísica do esquecimento do sentido do Ser. Por metafísica entenda-se aí fundamento. O Cristianismo, via Judaísmo, traduziu o Ser / Physis como fundamento e este como Deus, o Criador. Logo, Deus é o criador de entes e como fundamento tornou-se o ente absoluto, ou seja, o "Então". O que ficou aí esquecido é o sentido do Ser em seu mistério, irredutível à totalidade dos entes, a um "Então". Portanto, a criação não depende de um fundamento, tradicionalmente identificado com sujeito (em grego hypokeimenon e em latim subjectum). Então em arte, o ser humano, identificado ao sujeito, tornou-se o criador das obras de arte, que é uma contradição metafísica. Em verdade o ser humano não cria nada. Ele tem de enfrentar o grande desafio. Qual? De um lado, não nos criamos, de outro, já estamos projetados nas questões, que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa vontade. É então que entra aí o propriamente humano, ou seja, o artístico: responder ao desafio das questões. Cada obra de arte manifesta o humano porque cada uma é uma tentativa de resposta às questões. E nisso consiste a "criação" artística, ou seja, manifestação do humano. Mas nenhuma resposta dá conta e elimina a questão, porque somos o fundamento ou sujeito das respostas, não das questões. As questões são fundadas pelo Nada. Somos fundados pelo nada. Então criar é responder às questões originárias de modo original, porque cada situação, sempre diferente em seu acontecer, exige de nós novas respostas, ou seja, novas obras de arte, onde o humano se manifesta como destinado pelas questões do sentido do Ser, do Inesperado, no dizer de Heráclito (frag. 18). Cada obra de arte produz manifestação de mundo, o sentido do Ser que se destina no ser humano enquanto pensar. Eis aí a essência verbal da arte em suas épocas e, portanto, da necessidade do contemporâneo.


- Manuel Antônio de Castro


5

A grande escritora inglesa Virgínia Woolf escreveu um ensaio marcante sobre contemporâneo, muito oportuno, uma vez que o redigiu no início do século XX, época de grandes transformações, das vanguardas, que já foram "contemporâneas". Numa passagem diz: "A literatura, como os críticos vêm dizendo atualmente se conservou, resistiu, a muitas mudanças, e é somente uma visão curta e uma mente paroquial que irão exagerar a importância destes vendavais, mesmo se possam ajudar as pequenas embarcações que agora estão balançando no mar. A tormenta e o transbordamento estão na superfície; a continuidade e a calma, nas profundezas" (1).


- Manuel Antônio de Castro


- Referência bibliográfica:
(1) WOOLF, Virgínia. "Como atacar um contemporâneo". In: ----. O leitor comum. Rio de Janeiro: Graphia editorial, 2013, p. 111.

6

"O poeta é sempre nosso contemporâneo" (1).


Referência bibliográfica:
(1) WOOLF, Virgínia. "Como se deve ler um livro?". In: ----. O leitor comum. Rio de Janeiro: Graphia editorial, 2013, p. 130.


7

"... toda experiência radical de pensamento se embrenha pelas raízes da própria possibilidade de pensar as realizações do real no e pelo mistério da realidade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Deus e o homem louco". In: Revista Tempo Brasileiro- Imagem da Ciência, 188, jan.-mar., 2012, p. 145.
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