Arte

De Dicionário de Poética e Pensamento

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== 1 ==
 
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:Segundo Heidegger, pensar a arte se faz a partir da sua essência, isso significa compreender a arte a partir da sua definição: "o pôr-se-em-obra da [[verdade]]" (1). Nessa definição se dá a conexão entre [[obra]] e arte. Para pensar a arte é necessário pensar as obras e para pensar as obras é necessário pensar a arte. Por isso, pergunta: "o que é a verdade para que ela possa ou até mesmo tenha de acontecer como arte? Em que medida há arte em geral?" (2). Quando define a arte como ''ins-werk-setzen-der Wahreit'', há aí [[ambiguidade]]. Diz: "Mas esta determinação é conscientemente ambígua. Ela diz, por um lado: a arte é o estabelecimento da verdade que se institui na [[forma]]. Isso acontece na criação como [[produção]] (''hervor-bringen'') da desocultação do ente. Mas ao mesmo tempo, pôr-em-obra quer dizer: pôr em andamento e levar a [[acontecer]] o ser-obra. Tal acontece como salvaguarda. A arte é então: a [[salvaguarda]] criadora da verdade na obra. A arte é, pois, um [[devir]] e um acontecer da verdade" (3). Como podemos ver, há uma dupla definição da arte: na primeira destaca-se a verdade e a obra, mostrando a necessidade da obra como ser-produzido, como ente, já na segunda destaca-se o acontecer e o devir permanente (resultando na salvaguarda) da verdade.
 
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: Ver também [[Obra de arte]] e [[Obra]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 1 ==
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: Segundo Heidegger, [[pensar]] a [[arte]] se faz a partir da sua [[essência]], isso significa [[compreender]] a [[arte]] a partir da sua [[definição]]: "o pôr-se-em-obra da [[verdade]]" (1). Nessa [[definição]] se dá a conexão entre [[obra]] e [[arte]]. Para [[pensar]] a [[arte]] é necessário [[pensar]] as [[obras de arte]] e para [[pensar]] as [[obras]] é necessário pensar a [[arte]]. Por isso, pergunta: "o que é a [[verdade]] para que ela possa ou até mesmo tenha de [[acontecer]] como [[arte]]? Em que medida há [[arte]] em geral?" (2). Quando define a [[arte]] como ''ins-werk-setzen-der Wahreit'', há aí [[ambiguidade]]. Diz: "Mas esta determinação é conscientemente ambígua. Ela diz, por um lado: a [[arte]] é o estabelecimento da [[verdade]] que se institui na [[forma]]. Isso acontece na [[criação]] como [[produção]] (''hervor-bringen'') da desocultação do [[ente]]. Mas ao mesmo tempo, pôr-em-obra quer dizer: pôr em andamento e levar a [[acontecer]] o [[ser-obra]]. Tal acontece como [[salvaguarda]]. A [[arte]] é então: a salvaguarda criadora da [[verdade]] na [[obra]]. A [[arte]] [[é]], pois, um [[devir]] e um [[acontecer]] da [[verdade]]" (3). Como podemos ver, há uma dupla [[definição]] da [[arte]]: na primeira destaca-se a [[verdade]] e a [[obra]], mostrando a [[necessidade]] da [[obra]] como ser-produzido, como [[ente]], já na segunda destaca-se o [[acontecer]] e o [[devir]] permanente (resultando na salvaguarda) da [[verdade]].
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:Referências:
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Origem da obra da arte''. Trad. Maria da Conceição Costa. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 46.
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: Referências:
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:(2) Idem, p. 46.
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:(3) Idem, p. 57.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Origem da obra da arte'''. Trad. Maria da Conceição Costa. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 46.
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: (2) Idem, p. 46.
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: (3) Idem, p. 57.
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:'''Ver também:'''
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: '''Ver também:'''
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:*[[Velado]]
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: *[[Velado]]
== 2 ==
== 2 ==
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:"As coisas da arte são sempre resultado de ter estado a perigo, de ter ido até o fim em uma [[experiência]], até um ponto que ninguém consegue ultrapassar" (1). "Na arte, só podemos permanecer na força de quem 'pode' e, pelo fato de permanecermos aí, essa [[força]] cresce e sempre volta a nos ultrapassar" (2). Essa passagem diz respeito ao próprio [[enigma]] da [[interpretação]].
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: "As [[coisas]] da [[arte]] são sempre resultado de ter estado a [[perigo]], de ter ido até o fim em uma [[experiência]], até um ponto que ninguém consegue ultrapassar" (1).  
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: "Na [[arte]], só podemos permanecer na força de quem 'pode' e, pelo [[fato]] de permanecermos aí, essa [[força]] cresce e [[sempre]] volta a nos ultrapassar" (2).
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: Essa passagem diz respeito ao próprio [[enigma]] da [[interpretação]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Referências:
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: Referências:
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:(1) RILKE, Rainer Maria. ''Cartas sobre Cézanne''. Rio de Janeiro: 7Letras, 1996, p. 24.
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: (1) RILKE, Rainer Maria. '''Cartas sobre Cézanne'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 1996, p. 24.
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:(2) Idem, p. 28.
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: (2) Idem, p. 28.
== 3 ==
== 3 ==
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:Ernesto Grassi, citando Malreaux, diz: "A [[religião]] só podia ser isto quando deixou de ser crença: as suas [[representação|representações]] tiveram primeiro que passar por uma antecâmara" (1). Na realidade, trata-se aí da questão da fé e da arte. Quanto ao [[sagrado]], elas não discordam. Pois, perdendo a sua função religiosa, dentro de um mundo de fé, aparece o vigor da [[obra]] como arte. O que se perdeu na função religiosa foi um determinado mundo. E do vigor da obra o mundo como tal em disputa com a [[terra]] vem ainda mais forte. Porém, esse poder da obra foi encoberto ou pela leitura estética ou pela leitura formal dos estilos de [[época]]. Época aí é apenas algo historiográfico sem o vigor histórico da arte. A [[história]] da arte pelos estilos de época tem apenas um valor de acumulação de conhecimentos formais sem nenhum vigor ético e poético.
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: Ernesto Grassi, citando Malreaux, diz:
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: "A [[religião]] só podia ser isto quando deixou de ser crença: as suas [[representação|representações]] tiveram primeiro que passar por uma antecâmara" (1).
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Na realidade, trata-se aí da [[questão]] da [[fé]] e da [[arte]]. Quanto ao [[sagrado]], elas não discordam, pois, perdendo a sua [[função]] religiosa, dentro de um [[mundo]] de [[fé]], aparece o [[vigor]] da [[obra]] como [[arte]]. O que se perdeu na [[função]] religiosa foi um determinado [[mundo]]. E do [[vigor]] da [[obra]] o [[mundo]] como tal em [[disputa]] com a [[terra]] vem ainda mais forte. Porém, esse [[poder]] da [[obra]] foi encoberto ou pela [[leitura]] [[estética]] ou pela [[leitura]] formal dos [[estilos de época]]. [[Época]] aí é apenas algo historiográfico sem o [[vigorar]] histórico da [[arte]]. A [[história]] da [[arte]] pelos [[estilos de época]] tem apenas um [[valor]] acumulativo de [[conhecimentos]] formais sem nenhum [[vigor]] [[ético]] e [[poético]]. Os [[Estilos de época]] além  de não partirem do [[vigor]] e [[poder]] das [[obras de arte]], pois estão preocupados em classificar [[formas]] (a que reduzem os estilos), não pensam a [[referência]] [[entre]] o [[vigor]] e [[poder]] das [[obras de arte]] em [[referência]] ao  [[acontecer poético]], como se os [[seres humanos]] pudessem ser compreendidos sem sua [[essência]] [[temporal]]. Mais: como se pudesse haver [[épocas]] sem [[acontecer poético]]. Ou seja, os  [[Estilos de época]] não subsistem sem uma profunda [[reflexão]] sobre a [[História]], que jamais pode ser confundida com a mera [[historiografia]]. Para [[compreender]] melhor isto é necessária uma [[reflexão]] [[essencial]] sobre a [[referência]] [[ser humano]] e [[tempo]]. E ainda mais: [[pensar]] o [[social]] dentro deste [[horizonte]] também. Pode haver [[social]] sem [[tempo]]? Pode haver [[transformações]] sociais sem [[tempo]]? E sem um [[sentido]] da [[História]]?
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:Referência:
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) GRASSI, Ernesto. ''Arte e mito''. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 140.
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: Referência:
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: (1) GRASSI, Ernesto. '''Arte e mito'''. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 140.
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:Ernesto Grassi, no livro ''Arte e mito'' (1), faz um encaminhamento do entendimento de arte em que procura ligar Platão ao zen-budismo. Ele procura articular a arte com a arte do tiro ao alvo. É complementar à reflexão de [[Heidegger]], em que nos propõe a arte como disputa de mundo e terra, e acentua a paideia poética ou a obra como a [[escuta]] da fala do ''lógos''. As referências de Erneto Grassi a Platão são feitas a partir do diálogo ''Ãon'', de que faz uma longa citação, mas também poderia referir-se ao ''Fedro''. Teríamos três dimensões complementares na obra de arte:
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: Ernesto Grassi, no livro '''Arte e mito''' (1), faz um encaminhamento do entendimento de [[arte]] em que procura ligar [[Platão]] ao zen-budismo. Ele procura articular a [[arte]] com a [[arte]] do tiro ao alvo. É [[complementar]] à [[reflexão]] de [[Heidegger]], em que nos propõe a [[arte]] como [[disputa]] de [[mundo]] e [[terra]], e acentua a [[paideia]] [[poética]] ou a [[obra]] como a [[escuta]] da [[fala]] do ''[[logos]]''. As [[referências]] de Erneto Grassi a [[Platão]] são feitas a partir do [[diálogo]] '''Ãon''', de que faz uma longa citação, mas também poderia referir-se ao '''Fedro'''. Teríamos três [[dimensões]] complementares na [[obra de arte]]:
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:1º: manifestação de mundo.
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:2º: obra, diálogo e escuta como travessia poética.
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:3º: a questão do sagrado, da arte do tiro ao alvo.
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:O que vai unir essas três dimensões é a linguagem como tempo, mundo e memória.
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: 1º: [[manifestação]] de [[mundo]].
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: 2º: [[obra]], [[diálogo]] e [[escuta]] como [[travessia]] [[poética]].
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: 3º: a [[questão]] do [[sagrado]], da [[arte]] do tiro ao alvo.
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: O que vai unir essas três [[dimensões]] é a [[linguagem]] como [[tempo]], [[mundo]] e [[memória]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Referência:
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: Referência:
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:(1) GRASSI, Ernesto. ''Arte e mito''. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 102.
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: (1) GRASSI, Ernesto. '''Arte e mito'''. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 102.
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== 5 ==
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:A [[poíesis]] não é. Dá-se. No filme ''O herói'', o diretor em determinado momento trata do ''pólemos'' (em grego: disputa/guerra). Em geral, a [[disputa]] nunca é pensada como arte/''poíesis'', só como [[tékhne]]. Porém, ela desdobra a disputa em três diferentes forças ou energias que, para serem corpo, precisam estar unidas. São elas: a física, metaforizada na espada, que nos remete para todas as armas; a mental, o domínio de técnicas; e a terceira força que, na disputa, não pode sofrer interferências: a psíquico-erótica. Essa última desestabiliza as duas anteriores, porque nelas predomina a ''poíesis'', que é a dimensão mais radical da [[linguagem]]. O diretor dá dois modos de convivência com a ''poíesis''/linguagem: a [[música]] e a arte do diagrama. Só que, nesse caso, tal arte não consiste em pintar exatamente o diagrama, mas em manifestar as ambiguidades do [[entre]].  Em tais ambiguidades sempre se faz presente uma [[técnica]]. Aqui teríamos uma invenção de [[Hermes]]: a lira. Porém, ela é doada a Apolo, o deus da técnica. Nesta força comparece o ser-com, mas sempre a partir do entre. Mas isso ocorre porque em todas as forças e modos de realização da técnica pode-se fazer presente a ''poíesis'' ou não. Se acontece, é o que poderia se nomear inter-disciplinaridade poética.
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: No livro '''A origem da obra de arte''', Martin [[Heidegger]] declara a propósito da [[arte]]:  
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: “ ... as reflexões precedentes dizem respeito ao [[enigma]] da [[arte]], ao [[enigma]] que é a própria [[arte]]. Está longe a pretensão de resolver o [[enigma]]. Permanece a tarefa de [[ver]] o [[enigma]]†(1).
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Esta afirmação do [[pensador]] [[Heidegger]] se torna sobretudo importante, tanto para a [[crítica]], quanto para as diferentes [[leituras]] que se fazem da [[obra de arte]]. E, sobretudo, mostra o quanto é parcial e sem [[sentido]] o [[querer]] [[fazer]] [[leituras]] classificatórias partindo de [[estilos de época]] ou segundo algum [[modelo]] ou [[paradigma]]. Tais [[leituras]] terão o [[valor]] e alcance da [[teoria]] em que se baseiam. Elas jamais conseguirão anular o [[poder]] [[poético]] e [[originário]] da [[obra de arte]], que é a [[origem]] de novas e inovadoras [[leituras]], num processo inaugural a cada nova [[leitura]] e a cada [[época]]. Mais: o mesmo [[leitor]] em [[épocas]] diferentes fará já [[leituras]] diferentes, pois as [[questões]] em que se move a [[arte]] jamais terão uma [[resposta]] definitiva. Este é o [[poder]] [[poético]] encantador da [[arte]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 201.
== 6 ==
== 6 ==
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:"As artes, enquanto [[musas]], são as filhas da [[memória]]. Por isso, toda obra de arte opera o "entre" enquanto memória e tempo, linguagem e ''poíesis'', onde o operar não é da obra, mas da ''[[verdade]]'', ou seja, o "entre" enquanto desvelar-se e velar-se. Tal 'entre' é o originário de mundo" (1).
+
: "As [[artes]], enquanto [[musas]], são as filhas da [[memória]]. Por isso, toda [[obra de arte]] opera o "[[entre]]" enquanto [[memória]] e [[tempo]], [[linguagem]] e ''[[poíesis]]'', onde o [[operar]] não é da [[obra]], mas da ''[[verdade]]'', ou seja, o "[[entre]]" enquanto [[desvelar-se]] e [[velar-se]]. Tal '[[entre]]' é o [[originário]] de [[mundo]]" (1).
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: Referência:
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: (1)  CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". Rio de Janeiro: Revista '''Tempo Brasileiro''', 164, jan.-mar. 2006, p. 34.
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== 7 ==
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: Nossas [[explicações]] sobre as [[obras de arte]], seja em relação a cada [[obra]], seja na sua [[classificação]] histórica através das [[histórias]] da [[arte]], são excelentes meios para nos afastarem do que é a [[obra de arte]] em seu [[operar]] [[essencial]] e [[artístico]]. Se não são esses os meios e processos adequados, como proceder? É [[necessária]] a [[reunião]] do [[hétero-diálogo]] com o [[auto-diálogo]], ou seja, é [[necessário]] [[dialogar]] com a [[obra de arte]]. Mas todo [[dialogar]] pressupõe uma [[abertura]] de [[escuta]] e frequentação da [[obra]], onde se cultive a [[proximidade]] efetiva do [[afeto]], deixando-se tomar pela força [[poética]] da [[coragem]] do [[coração]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 8 ==
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: "Toda [[obra de arte]] é [[originária]]. Ela não é [[atemporal]]. Pelo contrário, é o [[tempo]] em sua densidade máxima, porque na [[obra de arte]] acontece poeticamente o [[tempo]] da [[memória]] (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A menina e a bicicleta". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.
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== 9 ==
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: "O ''[[sentido]]'' das [[obras de arte]] advém do [[ser]] e não do [[fundamento]] causal. Em [[arte]] não há [[causa]]. Toda [[obra de arte]] é sem porquê. Há sim, nas [[obras de arte]] a tensão de [[estar]], os procedimentos, e o [[ser]], o sentido e [[mundo]] que nelas se manifestam" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 29
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== 10 ==
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: "Pois [[Arte]] não é [[obra]], [[artista]] não é feitor de [[obras]]. A [[Arte]] é a [[experiência]] [[originária]] de um novo [[princípio]] que na [[viagem]] dos [[discursos]] pelo país dos [[homens]] vai desvelando o [[verbo]] histórico da [[realidade]]. O [[artista]] é o [[pensador]] do [[futuro]] que, no [[presente]], deixa o [[passado]] passar" (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: Revista '''Tempo Brasileiro''', 64, jan.-mar., 1981, p. 43.
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== 11 ==
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: [[Arte]] é desafio [[humano]] de [[criação]]. Mas o que é [[criar]]? O que é [[ser humano]]? Por etapas: A [[concepção]] de [[criar]] ressente-se dos [[humanismo]]s, frutos de uma [[metafísica]] do [[esquecimento]] do [[sentido do Ser]]. Por [[metafísica]] entenda-se aí [[fundamento]]. O [[Cristianismo]], via Judaísmo, traduziu o [[Ser]]/''[[Physis]]'' como [[fundamento]] e este como [[Deus]], o Criador. Logo, [[Deus]] é o [[criador]] de [[entes]] e como [[fundamento]] tornou-se o [[ente]] [[absoluto]], total. O que ficou aí esquecido é o [[sentido do Ser]] em seu [[mistério]], irredutível à totalidade dos [[entes]]. Portanto, a [[criação]] não depende de um [[fundamento]], tradicionalmente identificado com [[sujeito]] (em [[grego]] ''hypokeimenon'' e em [[latim]] ''subjectum''). Então em [[arte]], o [[ser humano]], identificado ao [[sujeito]], tornou-se o [[criador]] das [[obras de arte]], que é uma [[contradição]] metafísica. Em [[verdade]] o [[ser humano]] não cria nada. Ele tem de enfrentar o grande desafio. Qual? De um lado, não nos criamos, de outro, já estamos projetados nas [[questões]], que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa [[vontade]]. É então que entra aí o propriamente [[humano]], ou seja, o [[artístico]]: responder ao desafio das [[questões]]. Cada [[obra de arte]] manifesta o [[humano]] porque cada uma é uma tentativa de [[resposta]] às [[questões]]. E nisso consiste a "criação" [[artística]], ou seja, [[manifestação]] do [[humano]]. Mas nenhuma [[resposta]] dá conta e elimina a [[questão]], porque somos o [[fundamento]] ou [[sujeito]] das [[respostas]], não das [[questões]]. As [[questões]] são fundadas pelo [[Nada]]. Somos fundados pelo ''[[nada]]''. Então [[criar]] é [[responder]] às [[questões]] [[originárias]] de modo  [[original]], porque cada situação, sempre diferente em seu [[acontecer]], exige de nós novas [[respostas]], ou seja, novas [[obras de arte]], onde o [[humano]] se manifesta como destinado pelas [[questões]] do [[sentido do Ser]], do [[Inesperado]], no [[dizer]] de [[Heráclito]] (frag. 18). Cada [[obra de arte]] produz [[manifestação]] de [[mundo]], o [[sentido do Ser]] que se [[destina]] no [[ser humano]] enquanto [[pensar]]. Eis aí a [[essência]] [[verbal]] da [[arte]] em suas [[épocas]] e, portanto, da [[necessidade]] do [[contemporâneo]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 12 ==
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: “O [[virtual]] é a [[sofística]] da [[contemporaneidade]]. O maior [[desafio]] da [[arte]] no [[virtual]] está em resistir às  [[possibilidades]] de [[causar]] [[ilusão]], subtraindo-se a [[procurar]] o [[sentido]] profundo enquanto a regência de toda parafernália [[informática]]†(1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Apresentaçãoâ€. In: WEINBERG, Alexandre. '''O que é virtual?''' Teresópolis: Daimon Editora, 2009, p. 6.
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: "A [[arte]] sempre coloca como centro de [[decisão]] a [[questão]] da [[verdade]], pois opera a [[verdade]] da [[realidade]]. Ora, normalmente, temos um [[conceito]] de [[verdade]] muito [[limitado]] e imediatista em [[relação]] à [[realidade]]. E passamos a [[ler]] o [[mundo]] da [[arte]] como sendo [[ficcional]] e não [[real]], porque nele opera o [[imaginário]]. Acontece que o [[imaginário]] é o [[lugar]] da [[arte]], mas também o do [[ser humano]] e de toda [[realidade]]. E só por ser do [[homem]] é que também é da [[arte]]. Porém, é por força da [[ficção]] [[poética]] que o [[sonho]], a [[imaginação]] e a [[utopia]] operam. É por força da [[arte]] que o [[homem]] ultrapassa as meras [[circunstâncias]] e penetra na [[dinâmica]] de suas [[realizações]], sondando toda a sua [[complexidade]], das quais as grandes [[questões]] são o índice, na medida em que eclodem como [[mundo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 194.
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== 14 ==
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: "A [[moral]] tende ao [[estático]] e estabelecido, ao [[sistema]] auto-referenciado. É bem o contrário da [[ética]], onde o [[essencial]] é o [[poético]]. Não há [[ético]] sem [[poético]] e não há [[poético]] sem [[ético]]. E é isso que desde sempre se denominou [[obra de arte]], se pusermos em primeiro lugar o que a [[palavra]] “[[obra]]†diz, aliás, o mesmo que [[poético]] no [[grego]]: o que age, o que faz [[acontecer]], o que realiza. É [[necessário]] [[pensar]] a [[essência]] do [[agir]], [[horizonte]] onde nos aparece a [[condição humana]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O humano, o poético e a contracultura". In: www.travessiapoetica.Blogspot.com.
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== 15 ==
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: "Diante de uma [[obra de arte]] permanecemos mudos e perplexos até que ela começa a [[vigorar]] em nós, dando [[sentido]] ao [[tempo]], desde que tenhamos os ouvidos bem abertos para o que os falatórios não dizem e os [[olhos]] vejam o que ali não está, e já se deu a [[ver]] em [[tudo]] o que somos. Sem [[renunciar]] ao [[circunstancial]] e [[acolhimento]] da [[fala]] do [[silêncio]], as [[obras de arte]] não acontecem" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 258.
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== 16 ==
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: "A [[filosofia]] grega é uma [[experiência]] de [[Pensamento]]. Mas não é a única [[experiência]] [[grega]] de [[pensamento]]. Outra [[experiência]] [[grega]] de [[Pensamento]] é o [[Mito]] e a [[Mística]]. Uma outra, são os [[deuses]] e o [[extraordinário]]. Ainda uma outra é a [[Poesia]] e a [[Arte]]. Ainda outra é a ''[[Polis]]'' e a ''[[Politeia]]''. A última, por [[ser]] no fundo a primeira [[experiência]] [[grega]] de [[Pensamento]],  é [[Vida]] e [[Morte]], ''[[Eros]]'' e ''[[Thanatos]]'' " (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 11.
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== 17 ==
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: "Quando a [[arte]] é o [[originário]] da [[obra]], então, isto quer dizer que ela, em sua [[essência]], deixa nascer na [[obra]] a co-pertença essencial dos que criam e dos que desvelam. Mas o que é a própria [[arte]] para que nós, com razão, a nomeemos um [[originário]]? (1).
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: Referência:
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 +
: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 181.
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== 18 ==
 +
: "Portanto, a [[arte]] é: o criativo [[desvelo]] da [[verdade]] na [[obra]]. Então a [[arte]] é o tornar-se e o [[acontecer]] da [[verdade]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 181.
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== 19 ==
 +
: "A [[arte]] é o pôr-em-obra da [[verdade]]. Nesta frase se vela uma ambigüidade essencial, na medida em que a [[verdade]] é, ao mesmo tempo, o [[sujeito]] e o [[objeto]] do [[pôr]]. Porém, [[sujeito]] e [[objeto]] são aqui nomes inadequados" (1).
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 197.
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== 20 ==
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: "O [[vigor]] permanente da [[obra]] ([[verdade]]) como [[figura]] (a disputa de [[delimitação]] e [[vazio]]/[[nada]]) está aí para ser manifestado, operado. Mas tem que [[ser]] uma operação que deixe a [[obra]] [[ser]] [[obra]]. A esta operação que não impõe uma [[perspectiva]] nem uma [[vontade]] [[subjetiva]] nem [[objetiva]], é que [[Heidegger]] denomina ''Bewahrung''. Nós escolhemos uma [[palavra]] portuguesa aproximada, pois toda [[tradução]] é [[sempre]] um aproximar: [[desvelo]]. [[Desvelo]]: grande [[cuidado]], carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando [[ser]], aguardar o que é [[próprio]] e persiste, resguardar o deixar [[acontecer]]. Nela ressoa o [[cuidado]] e [[doação]] amorosa como ocorre, por exemplo, no [[desvelo]] da mãe para com o filho, o que pressupõe também no [[leitor]] o [[desvelo]] para com o que na [[obra]] ''Se dá, presenteia'' (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.
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== 21 ==
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: "[[Arte]], toda [[arte]], é [[corpo]] e [[terra]], e jamais [[símbolo]] de não se sabe bem o quê" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 18.
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== 22 ==
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: "Assim se refere Aristóteles: "...a [[arte]] leva à [[plenitude]] o que a [[matéria]] não é capaz de pôr em [[obra]]". Quando no seu fazer (''[[techne]]'') o [[artista]] deixa emergir essas [[possibilidades]] próprias do material, realiza do material [[dimensões]] que não são imediatamente dadas. Há, portanto, tensão [[entre]] a [[arte]] e a [[realidade]], e ser [[artista]] é [[morar]] no interior das tensões [[entre]] [[arte]] e [[realidade]], numa [[obra]]" (1).
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: Referência:
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: (1) LACOMBBE, Fábio Penna. "A psicanálise e a morte da arte". In: Revista '''Tempo Brasileiro - Endereços do projeto Humano''', 146, jul.-set., 2001, p. 135.
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== 23 ==
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: Ora, aí é que entra também o [[tempo]] da [[arte]]. Que [[tempo]] é esse? Confunde-se o [[tempo]] da [[arte]] com a [[arte]] dos [[tempos]], onde a [[conjuntura]] e a [[época]] determinariam o [[sentido]] das [[obras de arte]]. Diga-se logo que não são as [[épocas]] e suas [[conjunturas]] que determinam a [[memória]] e a [[história]], pois sem [[memória]] – [[unidade]] e [[sentido]] das [[diferenças]] – não há nem [[época]] nem [[conjunturas]] enquanto [[sentido]] do [[acontecer]] do [[tempo]], [[memória]] e [[história]], enfim, [[obra de arte]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 24 ==
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: "A [[dessacralização]] que domina hoje é devida a quê? Certamente muitos são os fatores. É no âmago dessa [[questão]] que a [[arte]] como [[questão]] se faz presente. Pode se falar em [[arte]] sem levar em consideração a [[questão]] do [[sagrado]]? Difícil. Porém, ela se faz presente de um modo muito simples e especial que se perdeu com o próprio distanciamento do [[sagrado]] acontecido na [[dinâmica]] dessas transformações [[históricas]]. Transformações essas que dizem respeito à própria [[dinâmica]] de o próprio [[sagrado]] se [[destinar]]. Mas ele, por mais que esteja esquecido, nunca se distancia e torna ausente como tal. Pelo contrário, sem sua [[presença]], sua [[proximidade]], tudo perderia o [[sentido]] e o próprio [[vigor]] de [[realização]] do [[real]]. E ele é próximo, tão próximo que até para sermos o que somos só podemos ser [[sendo]] essa [[proximidade]]. Porém, em tudo que fazemos temos a tendência, hoje e há muito tempo, de considerá-lo distante e inalcançável, como se ele fosse outro que não o [[vigor]] do que nos é [[próprio]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.
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== 25 ==
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: "Para e no [[sagrado]] é estranha e inadmissível a distinção de superior e inferior. E é então que ele se distancia cada vez mais, um distanciamento que consiste, em verdade, no seu [[esquecimento]] e perda de [[sentido]]. O [[esquecimento]] do [[ser]], do [[sentido]] do que somos, é o [[esquecimento]] do [[sagrado]]. Que é a [[arte]] hoje senão o testemunho pungente desse [[esquecimento]]? Assim se pensa. Mas não seria a [[verdadeira]] [[arte]] o testemunho vigoroso da [[presença]] constante do [[sagrado]], pois não é a [[essência]] da [[arte]] o [[sagrado]]? Quanta [[obra de arte]] vazia, tentando, inutilmente, preencher esse [[esquecimento]] pelo [[jogo]] fútil e mirabolante das [[formas]] técnicas. Mas ainda serão essas [[obras]] [[obras de arte]]? Não serão meros [[jogos]] formais que fazem a alegria e fortuna dos donos de galerias?" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.
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== 26 ==
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: "Quando a [[serenidade]] para com as [[coisas]] e a [[abertura]] ao [[mistério]] despertarem em nós, deveríamos alcançar um [[caminho]] que conduza a um novo solo. Neste solo a [[criação]] de [[obras]] [[imortais]] poderia lançar novas raízes" (1).
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: Referência:
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. '''Serenidade'''. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 27.
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== 27 ==
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: "Contudo, não há [[ente]] sem [[Ser]] nem [[conhecimento]] sem [[pensamento]] e nem [[língua]] sem [[linguagem]]. Porém, toda e qualquer [[obra de arte]] é originariamente um [[perguntar]]. Por isso os gregos perguntavam sempre: ''tì tò ón''? O [[entendimento]], enquanto [[pensamento]] e [[linguagem]], desta pergunta se torna decisivo para o encaminhamento da [[compreensão]] de nossa [[finitude]], de nossos [[limites]]. [[Limites]] de [[ser]] e [[conhecer]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). '''Além dos limites - ensaios para o século XXI'''. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
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== 28 ==
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: "Mas o que é isto – a [[arte]]? Noutras [[palavras]]: O que é isto – o [[humano]] do [[homem]]?" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.
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== 29 ==
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: “[[Arte]] [[é]] o pôr-se em [[obra]] da [[verdade]] enquanto [[sentido]], [[linguagem]] e [[mundo]]: [[essência]] da [[verdade]] e do [[ser humano]]†(').
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética" In: CASTRO, Manuel Antônio; FAGUNDES, Igor; FERRAZ, Antônio Máximo (Orgs.). '''O educar poético'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 40.
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== 30 ==
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: Conforme é tratado por Fritjof Capra no [[filme]] ''[[O ponto de mutação]]''/O [[caminho]] do [[pensamento]], vamos ter uma profunda [[transformação]] com o advento da [[Modernidade]], porque parte-se para uma outra [[concepção]] do [[universo]]. Este deixa de ser uma [[criação]] [[divina]], sujeita às suas [[leis]]. Há [[leis]], sim, mas de outra [[natureza]]. Como elas são [[enigmáticas]] trata-se de [[descobrir]] essas [[leis]] da [[natureza]], para dominá-la, submetê-la ao [[fazer]] do [[ser humano]], sua [[vontade]] e [[razão]]. Surge aí a [[ideia]] de [[possibilidade]] de [[intervenção]] do [[ser humano]], descobrindo cada [[lei]] que rege o [[universo]], a [[natureza]]. Não é que ele queira [[ser]] um [[criador]], embora esta [[ideia]] depois se torne a dominante na [[arte]], através da [[imaginação]], ainda concebida [[racionalmente]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 31 ==
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: O filme '''A paixão de Cristo''', (1), essa [[obra-prima]], se nos apresenta assim em [[tempos]] de indigência [[espiritual]] e [[consumismo]], de [[fundamentalismos]] e [[banalização]] da [[violência]], como um sinal manifestador do [[sentido]] do [[humano]] e do [[sagrado]], das contradições [[fundamentais]] do [[homem]], em sua [[liminaridade]], em todos os [[tempos]] e [[culturas]]. E não foi, é e será sempre isso a [[arte]]? Uma [[presença]] que reconduz os [[homens]] para as [[questões]] [[essenciais]] que o constituem e se tornam sua [[razão]] de [[viver]] e [[morrer]]?
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) Filme de Mel Gibson, 2004.
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== 32 ==
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: "''Diotima'' - ... sabes que a [[palavra]] ''[[poesia]]'' é de múltiplos [[significados]]. Geralmente chama-se ''[[poesia]]'' à [[causa]] que torna [[possível]] a [[passagem]] de qualquer [[coisa]] do [[não-ser]] ao [[ser]], de maneira que as [[criações]] de todas as [[artes]] são [[poesia]], e que os [[criadores]] são [[poetas]]!" (1).
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: Referência:
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: (1) PLATÃO. '''O Simpósio ou O do Amor'''. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 81.
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== 33 ==
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: A [[arte]], as [[artes]] jamais se tornam [[sistemas]], porque não dependem de [[relações]] e [[leis]] [[causais]]. Só nos [[sistemas]] se pode [[falar]] em [[causa]] e [[efeito]], ou seja, em [[funções]] e [[finalidades]]. Nas [[artes]] não há [[criador]] nem [[criação]] no [[sentido]] [[causal]]. Há [[desvelamento]] em tensão com [[velamento]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 34 ==
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: O [[radical]] da [[palavra]] [[distração]] provém do [[verbo]] latino ''trahere'', que quer dizer: puxar, ser atraído, arrastado. Que atração vigora na [[distração]] é o que nos diz o seu prefixo latino “dis-â€: através de, [[entre]]. Nesse [[sentido]], a [[distração]] não diz a desatenção, mas o se dispor para a [[escuta]] do [[inesperado]] do [[silêncio]] para o [[advento]] da entre-linha, a não-palavra. É nesse e só nesse [[sentido]] que toda [[arte]] é [[distração]] e jamais um mero e descartável [[prazer]] [[estético]]. [[Ler]] é sempre uma [[caminhada]]-[[viagem]] de espera de [[escuta]] silenciosa da não-palavra, que nos advém de uma [[distração]] como uma “inocente†e salvadora pescaria.
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: Referência:
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: (1) Cf. "A ação e a caminhada de vida". In: '''www.travessiapoetica.blogspot.com''', 2006. Blog de Manuel Antônio de Castro.
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== 35 ==
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: As [[obras de arte]], na sua [[finitude]], não têm [[formas]], têm e são [[presença]]. [[Presença]] é o agora de cada um [[vigorando]] enquanto  [[mundo]] dentro de uma [[comunidade]]. É o [[sentido]] que orienta nossas [[ações]] e [[empenhos]] no [[acontecer]] da [[realidade]] e o de [[viver]] a [[vida]] que cada um recebeu para [[realizar]]. O [[sentido]] surge quando nos perguntamos pelo [[penhor]] de [[tudo]] que fazemos e em tudo que fazemos. Qual é o [[penhor]] de nossos [[empenhos]]? Essa é a [[questão]] do [[sentido]].
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "A liberdade de criação e as Musas", '''ensaio''' não publicado.
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== 36 ==
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: Cada [[ente]], enquanto [[ser humano]], na sua [[diferença ontológica]], ocupa uma [[posição]] na [[realidade]] e ele recebeu [[possibilidades]] absolutamente positivas que fazem com que ele seja o que ele é e não [[outro]], ou seja, um [[próprio]]. São [[possibilidades]] tão [[dinâmicas]] que jamais chegamos a conquistá-las em toda a sua [[riqueza]]. Daí o desafio de nos conhecermos no que somos. Por isso, a [[racionalidade]] [[moderna]] não pode jamais [[reduzir]] o [[ser]] que cada um é ao determinado por um [[modelo]], mesmo de [[diferentes]] [[teorias]], [[sociais]] ou [[psicológicas]]. Pelo contrário, há a [[matriz]]/’’’matrix’’’ ([[ser]]) que nos torna inesgotáveis. E é dessa [[riqueza]] inesgotável que nos falam as [[obras de arte]]. E é por isso que para cada um o [[viver]] se torna uma tarefa [[poética]]. As [[obras de arte]] são como velas onde se concentra uma enorme [[energia]] que precisa ser acesa/lida para que a [[leitura]] as transforme em chamas que nos iluminam, mas iluminam no [[sentido]] de chegarmos a nos conhecermos e libertarmos.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 37 ==
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: "[[Ente]] é [[tudo]] que [[é]]. É que a ''[[physis]]'' ou [[natureza]] passou a ser denominada [[ser]]. Ora, aquele que fazia [[entes]] que a [[natureza]] não fazia denominava-se, em [[grego]], ''[[technités]]''. Com este termo denominavam os [[gregos]] tanto o [[artesão]] como os [[artistas]], claro, aí incluídos os [[poetas]]. É que ''[[techné]]'' não dizia de jeito nenhuma para o [[grego]] algum [[fazer]] dominado pela [[razão]]. Ela tinha sua [[relação]] mais direta com a ''[[emperia]]'', com a [[experiência]]. Portanto, em [[grego]], ''[[techné]]'' diz um [[conhecimento]] e os [[processos]] de [[execução]]. A [[palavra]] ''[[techné]]'' foi traduzida para o [[latim]] como ''ars, artis'', isto é: [[arte]]. Desta se formou nossa [[palavra]] [[artista]]" (1).
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: Referência:
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: (1) '''www.travessiapoetica.blogspot.com'''>2010/10/as-musas-e-essencia-da-criacao-html
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== 38 ==
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: "Não podemos encarar o [[literário]] apenas na redutora [[visão]] [[estilístico]]-[[estética]], onde o [[mito]], em sua [[essência]], perderá todo o seu [[verdadeiro]] [[significado]] como eixo de [[instauração]] da [[modernidade]]. A [[arte]], na [[realidade]], comparece na [[modernidade]], com toda a força que lhe é [[essencial]]. Mas enredada nas contradições e [[paradoxos]] da [[metamorfose]] da [[modernidade]], tem ela mesma um [[desenvolvimento]] complexo e [[paradoxal]]: ora se une às forças que impulsionam as [[diferentes]] linha de força, ora se opõe a elas e as questiona" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ---. '''Tempos de metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 64.
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== 39 ==
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: "Hoje, a [[realidade]] é concebida de maneiras [[diferentes]]: pelo [[sistema]] [[científico]], pelos [[sistemas]] [[religiosos]] e pelo [[tradicional]] [[senso comum]]. Apesar desses [[diferentes]] [[sistemas]] de [[realidade]] há também a [[presença]] incontrolável e gratuita do [[imaginário]], do [[extra-ordinário]] e da [[possibilidade]] do [[tempo]] [[poético]] em cada um: é quando a [[arte]] atua" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.
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== 40 ==
 +
: "Ao traduzirem para o [[latim]] o tratado de [[Aristóteles]] sobre as [[obras]] [[poéticas]]: ''Peri poietikés technés'', ocorreu o seguinte: esqueceram que o principal e decisivo, conforme [[Platão]] já o afirmara em ''O Banquete'', é a ''[[poiesis]]''. E optaram pela ''[[techné]]'', pelo [[conhecimento]], ao traduzirem-na como ''ars, artis'' ([[arte]]). Vejam a [[ironia]], o [[Ocidente]] estuda a [[arte]] num tratado de [[Poética]], como ''[[techné]]'' e não como ''[[poiesis]]''" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''Linguagem: nosso maior bem'''. ''Série Aulas Inaugurais''. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 28.
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== 41 ==
 +
: "E como foi resolvida a incompatibilidade [[entre]] o que diziam as [[obras]] [[mítico]]-[[poéticas]] e as [[obras]] [[religiosas]]? Claro que estas deveriam determinar aquelas, numa [[sociedade]] dominada pela [[religião]]. Além do [[suporte]] [[filosófico]]-[[teológico]], a sua [[exegese]] se baseou em um recurso usado até hoje para classificar, [[comentar]], [[interpretar]] e [[analisar]] as [[obras de arte]]: Estas, é claro, também diziam a [[verdade]] (e nem poderia ser de outra maneira, dada a excelência e [[profundidade]] do seu [[conteúdo]]). As [[obras]] [[mítico]]-[[poéticas]] foram reduzidas a [[símbolos]] e [[alegorias]]. [[Tudo]] o que elas diziam era [[simbólico]] e [[alegórico]]. Isso para os [[gregos]] e para o [[Helenismo]] era [[algo]] totalmente desconhecido. Essas [[palavras]] não aparecem no [[diálogo]] ''[[Ãon]]'' de [[Platão]].  As [[obras]] eram a própria [[manifestação]] da [[realidade]]. E essa era a sua [[verdade]]. Por isso, em [[grego]], [[verdade]] diz-se: ''[[a-letheia]]'', [[desvelamento]], [[des-encobrimento]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 126.
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== 42 ==
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: "Na medida em que a [[arte]] é um [[enigma]], ela se constitui fundamentalmente de [[questões]] e jamais pode [[ser]] abordada por meio de [[conceitos]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.
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== 43 ==
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: "A emergência do [[homem]] e o âmbito de sua atuação e de seu [[lugar]] dentro do [[real]] – e o [[enigma]] do seu [[destino]] – são as [[questões]] que perpassam todas as [[culturas]] em todos os [[tempos]] e suas [[obras de arte]]. Note-se que a [[arte]], na maioria das [[culturas]], sempre esteve ligada ao [[sagrado]] e que seria, por isso mesmo, estranha aos respectivos [[contextos]] qualquer ligação com processos econômico-comerciais. E do [[enigma]] que é o [[sagrado]] lhe advêm todas as grandes [[questões]]" (1).
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: Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.
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== 44 ==
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: "É importante que fiquem claras e duas [[coisas]]: A [[arte]] vive das [[questões]]. A [[ciência]] vive dos [[conceitos]] (mesmo que incertos na sua [[certeza]] [[matemática]]). Tanto as [[questões]] como os [[conceitos]] são importantes para o [[ser humano]], como são importantes o [[cientista]] e o [[poeta]].  O indesejável é a tentativa insistente em [[querer]] reduzir as [[questões]] da [[arte]] a [[conceitos]] (mesmo que incertos, porém matematicamente precisos). Mais indesejável ainda é que alguns [[críticos]] e uns quantos [[professores]] queiram reduzir a [[arte]] a [[conceitos]], fazendo o papel de [[falsos]] [[cientistas]]. Pois nada produzem de [[científico]] e reduzem a [[arte]] a [[conceitos]] [[abstratos]] inúteis, que a silenciam" (1).
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: Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.
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== 45 ==
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: "Qualquer [[conceito]] de [[arte]] só diz o que o [[conceito]] como [[conceito]] alcança e delimita, não o que a [[arte]] [[é]]. Quando perguntaram a santo Agostinho o que era o [[tempo]], respondeu: ''Se não me perguntarem sei, mas se quiser conceituá-lo, não sei''.
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:  O [[tempo]] é uma [[questão]].
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: Se não me perguntarem o que é a [[arte]], eu sei. Se quiser conceituá-la, não sei.
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: A [[arte]] é uma [[questão]]" (1).
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: Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.
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== 46 ==
 +
: "Quais são as [[questões]] da [[arte]]? As  [[questões]] da [[arte]] são igualmente as [[questões]] do [[mito]] e do [[pensamento]]. As [[questões]] da [[arte]] são as [[questões]] do [[real]] e do [[mito do homem]]" (1).
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: Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 22.
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== 47 ==
 +
: "Este [[itinerário]] de recuo até o [[mito]], para mais avançar na [[questão]] [[inaugural]] do [[esquecimento]] do [[sentido do Ser]], tem consequências importantes para o [[tema]] que nos interessa: as [[questões]] da [[arte]] em [[Heidegger]]:
 +
: 1º. Reúne [[mito]], [[poesia]] e [[pensamento]];
 +
: 2º. Redige nessa altura os principais [[ensaios]] em torno da [[arte]];
 +
: 3º. Centraliza-se nas [[questões]] [[essenciais]] para o [[pensamento]] e para a [[arte]]: [[Ser]], “[[coisa]]â€/''[[res]]'', [[linguagem]], [[verdade]], [[tempo]], [[memória]], [[destino]], [[poesia]], [[mundo]], [[Terra]], [[Céu]] etc.;
 +
: 4º. Relê em novas [[dimensões]], impulsionadas pelo [[mito]], a [[poesia]] e o [[pensamento]], a [[questão]] [[fundamental]] e permanente do [[sentido do Ser]] ou [[Real]]" (1).
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: Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.
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== 48 ==
 +
: "Na [[realidade]], as [[questões]] da [[arte]] em [[Heidegger]] não podem ser isoladas teoricamente para depois buscar a sua [[aplicação]]. Ele as pensa e repensa continuamente tanto nos [[ensaios]] sobre [[arte]] e de [[pensamento]] como nas [[leituras]] dos grandes [[poetas]]. Se o [[leitor]] não perceber isto, vai ser muito difícil [[saber]] em que [[dimensões]] se dão e acontecem as [[questões]] da [[arte]] em [[Heidegger]]" (1).
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: Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 35.
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== 49 ==
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: se quer [[ser]] [[criativo]]
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: [[você]] precisa [[aprender]]
 +
: a [[fazer]] [[coisas]] que não têm [[motivo]]
 +
: a [[arte]] não nasce
 +
: do [[trabalho]] sem intervalo
 +
: antes de [[tudo]] [[você]]
 +
: tem que sair lá fora e [[viver]]
 +
 
 +
: ''- logo a [[arte]] vem''    (1)
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
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 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 125.
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 +
== 50 ==
 +
: "O [[amor]] pela [[beleza]] levou os [[celtas]] a [[traduzir]] sua [[sabedoria]] em [[arte]]" (1).
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 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) HOOD, Juliette. '''O livro celta da vida e da morte'''. "O Limiar do Outro Mundo". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 64.
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 +
== 51 ==
 +
: [[Arte]] e [[vida]]:
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 +
: A [[arte]], toda [[arte]], é alimento para que cada um faça da sua [[vida]] uma [[obra de arte]]. Porém, há uma [[questão]], que é o maior desafio em nossas [[vidas]]. Qual? [[Fazer]] da [[arte]] [[vida]].
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 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 52 ==
 +
: Mas como [[pensar]] a [[arte]] sem [[pensar]] a [[Essência]] do [[agir]]? E qual é a [[Essência]] do [[agir]]? O [[agir]] da [[Essência]].
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 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 53 ==
 +
: " A [[questão]] da [[proximidade]] e da [[distância]] é o grande [[enigma]] da [[arte]], é o grande [[enigma]] da [[vida]].  Só o [[ser humano]] se sente [[próximo]] ou [[distante]].  Só o [[ser humano]] pode [[sentir]] [[solidão]] e se sente em [[solidão]] porque a [[distância]] é maior do que a [[proximidade]].  Seja como for, se não houvesse [[proximidade]] e [[distância]] não poderia haver [[solidão]].  E é pensando a [[proximidade]] e a [[distância]] que podemos [[pensar]] a [[verdade]] [[poética]] e a [[globalização]]" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. In: ---. "Verdade poética e globalização". '''Ensaio''' não publicado.
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== 54 ==
 +
: "A [[arte]] nos amadurece. Ela confia que podemos ir além do [[pensamento]] médio. Ela nos ajuda a vencer o [[medo]] das [[mudanças]]. Tira as rodinhas das nossas bicicletas, para que possamos avançar por nós [[mesmos]]" (1).
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: Referência:
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: (1) MEDEIROS, Martha. "Reconhecimento". Crônica in: '''Ela''', Revista publicada por '''O Globo''', 17-04-2022, p. 8.
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: "A [[arte]] é o [[meio]], o [[caminho]], a [[vereda]] que nos leva à [[procura]] do [[próprio]] de cada [[ser humano]]. Sim, é isso: são, portanto, as [[obras de arte]] - alimento para nos [[fazer]] [[pensar]] e nunca para nos doutrinar - que questionam o que é o [[humano]], o que é a [[realidade]] e o que é o [[destino]]. [[HUMANO]]-[[REAL]]-[[DESTINO]]: essas três [[questões]] são grandes [[enigmas]] da [[VIDA]] - essa também o é - e jamais podemos reduzi-las a [[conceitos]] herméticos, aprisionantes do [[acontecer]] incessante da [[ARTE]] e do [[SER]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. '''Viajar e existir em ''Primeiras Estórias'', de João Guimarães Rosa'''. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 95.
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: Tanto o [[vazio]] como o [[silêncio]] e o [[nada]] se fazem presentes/ausentes em todas as [[obras de arte]]. Poeticamente, à [[Matéria]] corresponde a [[Terra]] e à [[Forma]], o [[Mundo]].
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: A solução fácil da “[[matéria]] e da [[forma]]†nos torna insensíveis para o que tanto seja [[matéria]] como [[forma]], até porque em si não existem, pois dependem das [[teorias]] e das [[culturas]] que as definem. Quando se diz que [[Nietzsche]] defende uma [[complementaridade]] do dionisíaco e do apolíneo na [[tragédia]], não se sai ainda da dobradinha da “[[matéria]] e da [[forma]]â€, pois numa tal “[[complementaridade]]†o [[vazio]] e o [[silêncio]] e o [[nada]] estão simplesmente silenciados, reprimidos e esquecidos.
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: O sair da dobradinha [[matéria]]/[[forma]] e passar a considerar e a [[refletir]] a partir do [[vazio]]/[[figura]] abre [[possibilidades]] importantes e [[inaugurais]]. Mas aí não poderemos só [[trabalhar]] com [[conceitos]], mas dar-se-á uma [[dialética]] de [[conceitos]] e [[questões]].
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:Referência:
 
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:(1)  CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: ''Revista Tempo Brasileiro''. Rio de Janeiro: número 164, jan.-mar. 2006, p. 34.
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: - Manuel Antônio de Castro.

Edição atual tal como 02h33min de 5 de Setembro de 2022


Ver também Obra de arte e Obra.

1

Segundo Heidegger, pensar a arte se faz a partir da sua essência, isso significa compreender a arte a partir da sua definição: "o pôr-se-em-obra da verdade" (1). Nessa definição se dá a conexão entre obra e arte. Para pensar a arte é necessário pensar as obras de arte e para pensar as obras é necessário pensar a arte. Por isso, pergunta: "o que é a verdade para que ela possa ou até mesmo tenha de acontecer como arte? Em que medida há arte em geral?" (2). Quando define a arte como ins-werk-setzen-der Wahreit, há aí ambiguidade. Diz: "Mas esta determinação é conscientemente ambígua. Ela diz, por um lado: a arte é o estabelecimento da verdade que se institui na forma. Isso acontece na criação como produção (hervor-bringen) da desocultação do ente. Mas ao mesmo tempo, pôr-em-obra quer dizer: pôr em andamento e levar a acontecer o ser-obra. Tal acontece como salvaguarda. A arte é então: a salvaguarda criadora da verdade na obra. A arte é, pois, um devir e um acontecer da verdade" (3). Como podemos ver, há uma dupla definição da arte: na primeira destaca-se a verdade e a obra, mostrando a necessidade da obra como ser-produzido, como ente, já na segunda destaca-se o acontecer e o devir permanente (resultando na salvaguarda) da verdade.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Origem da obra da arte. Trad. Maria da Conceição Costa. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 46.
(2) Idem, p. 46.
(3) Idem, p. 57.
Ver também:
*Velado

2

"As coisas da arte são sempre resultado de ter estado a perigo, de ter ido até o fim em uma experiência, até um ponto que ninguém consegue ultrapassar" (1).
"Na arte, só podemos permanecer na força de quem 'pode' e, pelo fato de permanecermos aí, essa força cresce e sempre volta a nos ultrapassar" (2).
Essa passagem diz respeito ao próprio enigma da interpretação.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) RILKE, Rainer Maria. Cartas sobre Cézanne. Rio de Janeiro: 7Letras, 1996, p. 24.
(2) Idem, p. 28.

3

Ernesto Grassi, citando Malreaux, diz:
"A religião só podia ser isto quando deixou de ser crença: as suas representações tiveram primeiro que passar por uma antecâmara" (1).
Na realidade, trata-se aí da questão da fé e da arte. Quanto ao sagrado, elas não discordam, pois, perdendo a sua função religiosa, dentro de um mundo de fé, aparece o vigor da obra como arte. O que se perdeu na função religiosa foi um determinado mundo. E do vigor da obra o mundo como tal em disputa com a terra vem ainda mais forte. Porém, esse poder da obra foi encoberto ou pela leitura estética ou pela leitura formal dos estilos de época. Época aí é apenas algo historiográfico sem o vigorar histórico da arte. A história da arte pelos estilos de época tem apenas um valor acumulativo de conhecimentos formais sem nenhum vigor ético e poético. Os Estilos de época além de não partirem do vigor e poder das obras de arte, pois estão preocupados em classificar formas (a que reduzem os estilos), não pensam a referência entre o vigor e poder das obras de arte em referência ao acontecer poético, como se os seres humanos pudessem ser compreendidos sem sua essência temporal. Mais: como se pudesse haver épocas sem acontecer poético. Ou seja, os Estilos de época não subsistem sem uma profunda reflexão sobre a História, que jamais pode ser confundida com a mera historiografia. Para compreender melhor isto é necessária uma reflexão essencial sobre a referência ser humano e tempo. E ainda mais: pensar o social dentro deste horizonte também. Pode haver social sem tempo? Pode haver transformações sociais sem tempo? E sem um sentido da História?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) GRASSI, Ernesto. Arte e mito. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 140.

4

Ernesto Grassi, no livro Arte e mito (1), faz um encaminhamento do entendimento de arte em que procura ligar Platão ao zen-budismo. Ele procura articular a arte com a arte do tiro ao alvo. É complementar à reflexão de Heidegger, em que nos propõe a arte como disputa de mundo e terra, e acentua a paideia poética ou a obra como a escuta da fala do logos. As referências de Erneto Grassi a Platão são feitas a partir do diálogo Ãon, de que faz uma longa citação, mas também poderia referir-se ao Fedro. Teríamos três dimensões complementares na obra de arte:
1º: manifestação de mundo.
2º: obra, diálogo e escuta como travessia poética.
3º: a questão do sagrado, da arte do tiro ao alvo.
O que vai unir essas três dimensões é a linguagem como tempo, mundo e memória.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) GRASSI, Ernesto. Arte e mito. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 102.

5

No livro A origem da obra de arte, Martin Heidegger declara a propósito da arte:
“ ... as reflexões precedentes dizem respeito ao enigma da arte, ao enigma que é a própria arte. Está longe a pretensão de resolver o enigma. Permanece a tarefa de ver o enigma†(1).
Esta afirmação do pensador Heidegger se torna sobretudo importante, tanto para a crítica, quanto para as diferentes leituras que se fazem da obra de arte. E, sobretudo, mostra o quanto é parcial e sem sentido o querer fazer leituras classificatórias partindo de estilos de época ou segundo algum modelo ou paradigma. Tais leituras terão o valor e alcance da teoria em que se baseiam. Elas jamais conseguirão anular o poder poético e originário da obra de arte, que é a origem de novas e inovadoras leituras, num processo inaugural a cada nova leitura e a cada época. Mais: o mesmo leitor em épocas diferentes fará já leituras diferentes, pois as questões em que se move a arte jamais terão uma resposta definitiva. Este é o poder poético encantador da arte.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 201.

6

"As artes, enquanto musas, são as filhas da memória. Por isso, toda obra de arte opera o "entre" enquanto memória e tempo, linguagem e poíesis, onde o operar não é da obra, mas da verdade, ou seja, o "entre" enquanto desvelar-se e velar-se. Tal 'entre' é o originário de mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro, 164, jan.-mar. 2006, p. 34.

7

Nossas explicações sobre as obras de arte, seja em relação a cada obra, seja na sua classificação histórica através das histórias da arte, são excelentes meios para nos afastarem do que é a obra de arte em seu operar essencial e artístico. Se não são esses os meios e processos adequados, como proceder? É necessária a reunião do hétero-diálogo com o auto-diálogo, ou seja, é necessário dialogar com a obra de arte. Mas todo dialogar pressupõe uma abertura de escuta e frequentação da obra, onde se cultive a proximidade efetiva do afeto, deixando-se tomar pela força poética da coragem do coração.


- Manuel Antônio de Castro

8

"Toda obra de arte é originária. Ela não é atemporal. Pelo contrário, é o tempo em sua densidade máxima, porque na obra de arte acontece poeticamente o tempo da memória (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A menina e a bicicleta". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.

9

"O sentido das obras de arte advém do ser e não do fundamento causal. Em arte não há causa. Toda obra de arte é sem porquê. Há sim, nas obras de arte a tensão de estar, os procedimentos, e o ser, o sentido e mundo que nelas se manifestam" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 29

10

"Pois Arte não é obra, artista não é feitor de obras. A Arte é a experiência originária de um novo princípio que na viagem dos discursos pelo país dos homens vai desvelando o verbo histórico da realidade. O artista é o pensador do futuro que, no presente, deixa o passado passar" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro, 64, jan.-mar., 1981, p. 43.

11

Arte é desafio humano de criação. Mas o que é criar? O que é ser humano? Por etapas: A concepção de criar ressente-se dos humanismos, frutos de uma metafísica do esquecimento do sentido do Ser. Por metafísica entenda-se aí fundamento. O Cristianismo, via Judaísmo, traduziu o Ser/Physis como fundamento e este como Deus, o Criador. Logo, Deus é o criador de entes e como fundamento tornou-se o ente absoluto, total. O que ficou aí esquecido é o sentido do Ser em seu mistério, irredutível à totalidade dos entes. Portanto, a criação não depende de um fundamento, tradicionalmente identificado com sujeito (em grego hypokeimenon e em latim subjectum). Então em arte, o ser humano, identificado ao sujeito, tornou-se o criador das obras de arte, que é uma contradição metafísica. Em verdade o ser humano não cria nada. Ele tem de enfrentar o grande desafio. Qual? De um lado, não nos criamos, de outro, já estamos projetados nas questões, que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa vontade. É então que entra aí o propriamente humano, ou seja, o artístico: responder ao desafio das questões. Cada obra de arte manifesta o humano porque cada uma é uma tentativa de resposta às questões. E nisso consiste a "criação" artística, ou seja, manifestação do humano. Mas nenhuma resposta dá conta e elimina a questão, porque somos o fundamento ou sujeito das respostas, não das questões. As questões são fundadas pelo Nada. Somos fundados pelo nada. Então criar é responder às questões originárias de modo original, porque cada situação, sempre diferente em seu acontecer, exige de nós novas respostas, ou seja, novas obras de arte, onde o humano se manifesta como destinado pelas questões do sentido do Ser, do Inesperado, no dizer de Heráclito (frag. 18). Cada obra de arte produz manifestação de mundo, o sentido do Ser que se destina no ser humano enquanto pensar. Eis aí a essência verbal da arte em suas épocas e, portanto, da necessidade do contemporâneo.


- Manuel Antônio de Castro

12

“O virtual é a sofística da contemporaneidade. O maior desafio da arte no virtual está em resistir às possibilidades de causar ilusão, subtraindo-se a procurar o sentido profundo enquanto a regência de toda parafernália informática†(1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Apresentaçãoâ€. In: WEINBERG, Alexandre. O que é virtual? Teresópolis: Daimon Editora, 2009, p. 6.

13

"A arte sempre coloca como centro de decisão a questão da verdade, pois opera a verdade da realidade. Ora, normalmente, temos um conceito de verdade muito limitado e imediatista em relação à realidade. E passamos a ler o mundo da arte como sendo ficcional e não real, porque nele opera o imaginário. Acontece que o imaginário é o lugar da arte, mas também o do ser humano e de toda realidade. E só por ser do homem é que também é da arte. Porém, é por força da ficção poética que o sonho, a imaginação e a utopia operam. É por força da arte que o homem ultrapassa as meras circunstâncias e penetra na dinâmica de suas realizações, sondando toda a sua complexidade, das quais as grandes questões são o índice, na medida em que eclodem como mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 194.

14

"A moral tende ao estático e estabelecido, ao sistema auto-referenciado. É bem o contrário da ética, onde o essencial é o poético. Não há ético sem poético e não há poético sem ético. E é isso que desde sempre se denominou obra de arte, se pusermos em primeiro lugar o que a palavra “obra†diz, aliás, o mesmo que poético no grego: o que age, o que faz acontecer, o que realiza. É necessário pensar a essência do agir, horizonte onde nos aparece a condição humana" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O humano, o poético e a contracultura". In: www.travessiapoetica.Blogspot.com.

15

"Diante de uma obra de arte permanecemos mudos e perplexos até que ela começa a vigorar em nós, dando sentido ao tempo, desde que tenhamos os ouvidos bem abertos para o que os falatórios não dizem e os olhos vejam o que ali não está, e já se deu a ver em tudo o que somos. Sem renunciar ao circunstancial e acolhimento da fala do silêncio, as obras de arte não acontecem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 258.

16

"A filosofia grega é uma experiência de Pensamento. Mas não é a única experiência grega de pensamento. Outra experiência grega de Pensamento é o Mito e a Mística. Uma outra, são os deuses e o extraordinário. Ainda uma outra é a Poesia e a Arte. Ainda outra é a Polis e a Politeia. A última, por ser no fundo a primeira experiência grega de Pensamento, é Vida e Morte, Eros e Thanatos " (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 11.

17

"Quando a arte é o originário da obra, então, isto quer dizer que ela, em sua essência, deixa nascer na obra a co-pertença essencial dos que criam e dos que desvelam. Mas o que é a própria arte para que nós, com razão, a nomeemos um originário? (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 181.

18

"Portanto, a arte é: o criativo desvelo da verdade na obra. Então a arte é o tornar-se e o acontecer da verdade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 181.

19

"A arte é o pôr-em-obra da verdade. Nesta frase se vela uma ambigüidade essencial, na medida em que a verdade é, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto do pôr. Porém, sujeito e objeto são aqui nomes inadequados" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 197.

20

"O vigor permanente da obra (verdade) como figura (a disputa de delimitação e vazio/nada) está aí para ser manifestado, operado. Mas tem que ser uma operação que deixe a obra ser obra. A esta operação que não impõe uma perspectiva nem uma vontade subjetiva nem objetiva, é que Heidegger denomina Bewahrung. Nós escolhemos uma palavra portuguesa aproximada, pois toda tradução é sempre um aproximar: desvelo. Desvelo: grande cuidado, carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando ser, aguardar o que é próprio e persiste, resguardar o deixar acontecer. Nela ressoa o cuidado e doação amorosa como ocorre, por exemplo, no desvelo da mãe para com o filho, o que pressupõe também no leitor o desvelo para com o que na obra Se dá, presenteia (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.

21

"Arte, toda arte, é corpo e terra, e jamais símbolo de não se sabe bem o quê" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 18.

22

"Assim se refere Aristóteles: "...a arte leva à plenitude o que a matéria não é capaz de pôr em obra". Quando no seu fazer (techne) o artista deixa emergir essas possibilidades próprias do material, realiza do material dimensões que não são imediatamente dadas. Há, portanto, tensão entre a arte e a realidade, e ser artista é morar no interior das tensões entre arte e realidade, numa obra" (1).


Referência:
(1) LACOMBBE, Fábio Penna. "A psicanálise e a morte da arte". In: Revista Tempo Brasileiro - Endereços do projeto Humano, 146, jul.-set., 2001, p. 135.

23

Ora, aí é que entra também o tempo da arte. Que tempo é esse? Confunde-se o tempo da arte com a arte dos tempos, onde a conjuntura e a época determinariam o sentido das obras de arte. Diga-se logo que não são as épocas e suas conjunturas que determinam a memória e a história, pois sem memória – unidade e sentido das diferenças – não há nem época nem conjunturas enquanto sentido do acontecer do tempo, memória e história, enfim, obra de arte.


- Manuel Antônio de Castro

24

"A dessacralização que domina hoje é devida a quê? Certamente muitos são os fatores. É no âmago dessa questão que a arte como questão se faz presente. Pode se falar em arte sem levar em consideração a questão do sagrado? Difícil. Porém, ela se faz presente de um modo muito simples e especial que se perdeu com o próprio distanciamento do sagrado acontecido na dinâmica dessas transformações históricas. Transformações essas que dizem respeito à própria dinâmica de o próprio sagrado se destinar. Mas ele, por mais que esteja esquecido, nunca se distancia e torna ausente como tal. Pelo contrário, sem sua presença, sua proximidade, tudo perderia o sentido e o próprio vigor de realização do real. E ele é próximo, tão próximo que até para sermos o que somos só podemos ser sendo essa proximidade. Porém, em tudo que fazemos temos a tendência, hoje e há muito tempo, de considerá-lo distante e inalcançável, como se ele fosse outro que não o vigor do que nos é próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.

25

"Para e no sagrado é estranha e inadmissível a distinção de superior e inferior. E é então que ele se distancia cada vez mais, um distanciamento que consiste, em verdade, no seu esquecimento e perda de sentido. O esquecimento do ser, do sentido do que somos, é o esquecimento do sagrado. Que é a arte hoje senão o testemunho pungente desse esquecimento? Assim se pensa. Mas não seria a verdadeira arte o testemunho vigoroso da presença constante do sagrado, pois não é a essência da arte o sagrado? Quanta obra de arte vazia, tentando, inutilmente, preencher esse esquecimento pelo jogo fútil e mirabolante das formas técnicas. Mas ainda serão essas obras obras de arte? Não serão meros jogos formais que fazem a alegria e fortuna dos donos de galerias?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.

26

"Quando a serenidade para com as coisas e a abertura ao mistério despertarem em nós, deveríamos alcançar um caminho que conduza a um novo solo. Neste solo a criação de obras imortais poderia lançar novas raízes" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 27.

27

"Contudo, não há ente sem Ser nem conhecimento sem pensamento e nem língua sem linguagem. Porém, toda e qualquer obra de arte é originariamente um perguntar. Por isso os gregos perguntavam sempre: tì tò ón? O entendimento, enquanto pensamento e linguagem, desta pergunta se torna decisivo para o encaminhamento da compreensão de nossa finitude, de nossos limites. Limites de ser e conhecer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.

28

"Mas o que é isto – a arte? Noutras palavras: O que é isto – o humano do homem?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.

29

“Arte é o pôr-se em obra da verdade enquanto sentido, linguagem e mundo: essência da verdade e do ser humano†(').


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética" In: CASTRO, Manuel Antônio; FAGUNDES, Igor; FERRAZ, Antônio Máximo (Orgs.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 40.

30

Conforme é tratado por Fritjof Capra no filme O ponto de mutação/O caminho do pensamento, vamos ter uma profunda transformação com o advento da Modernidade, porque parte-se para uma outra concepção do universo. Este deixa de ser uma criação divina, sujeita às suas leis. Há leis, sim, mas de outra natureza. Como elas são enigmáticas trata-se de descobrir essas leis da natureza, para dominá-la, submetê-la ao fazer do ser humano, sua vontade e razão. Surge aí a ideia de possibilidade de intervenção do ser humano, descobrindo cada lei que rege o universo, a natureza. Não é que ele queira ser um criador, embora esta ideia depois se torne a dominante na arte, através da imaginação, ainda concebida racionalmente.


- Manuel Antônio de Castro.

31

O filme A paixão de Cristo, (1), essa obra-prima, se nos apresenta assim em tempos de indigência espiritual e consumismo, de fundamentalismos e banalização da violência, como um sinal manifestador do sentido do humano e do sagrado, das contradições fundamentais do homem, em sua liminaridade, em todos os tempos e culturas. E não foi, é e será sempre isso a arte? Uma presença que reconduz os homens para as questões essenciais que o constituem e se tornam sua razão de viver e morrer?


- Manuel Antônio de Castro.
(1) Filme de Mel Gibson, 2004.

32

"Diotima - ... sabes que a palavra poesia é de múltiplos significados. Geralmente chama-se poesia à causa que torna possível a passagem de qualquer coisa do não-ser ao ser, de maneira que as criações de todas as artes são poesia, e que os criadores são poetas!" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. O Simpósio ou O do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 81.

33

A arte, as artes jamais se tornam sistemas, porque não dependem de relações e leis causais. Só nos sistemas se pode falar em causa e efeito, ou seja, em funções e finalidades. Nas artes não há criador nem criação no sentido causal. Há desvelamento em tensão com velamento.


- Manuel Antônio de Castro.

34

O radical da palavra distração provém do verbo latino trahere, que quer dizer: puxar, ser atraído, arrastado. Que atração vigora na distração é o que nos diz o seu prefixo latino “dis-â€: através de, entre. Nesse sentido, a distração não diz a desatenção, mas o se dispor para a escuta do inesperado do silêncio para o advento da entre-linha, a não-palavra. É nesse e só nesse sentido que toda arte é distração e jamais um mero e descartável prazer estético. Ler é sempre uma caminhada-viagem de espera de escuta silenciosa da não-palavra, que nos advém de uma distração como uma “inocente†e salvadora pescaria.


Referência:
(1) Cf. "A ação e a caminhada de vida". In: www.travessiapoetica.blogspot.com, 2006. Blog de Manuel Antônio de Castro.

35

As obras de arte, na sua finitude, não têm formas, têm e são presença. Presença é o agora de cada um vigorando enquanto mundo dentro de uma comunidade. É o sentido que orienta nossas ações e empenhos no acontecer da realidade e o de viver a vida que cada um recebeu para realizar. O sentido surge quando nos perguntamos pelo penhor de tudo que fazemos e em tudo que fazemos. Qual é o penhor de nossos empenhos? Essa é a questão do sentido.


CASTRO, Manuel Antônio de. "A liberdade de criação e as Musas", ensaio não publicado.

36

Cada ente, enquanto ser humano, na sua diferença ontológica, ocupa uma posição na realidade e ele recebeu possibilidades absolutamente positivas que fazem com que ele seja o que ele é e não outro, ou seja, um próprio. São possibilidades tão dinâmicas que jamais chegamos a conquistá-las em toda a sua riqueza. Daí o desafio de nos conhecermos no que somos. Por isso, a racionalidade moderna não pode jamais reduzir o ser que cada um é ao determinado por um modelo, mesmo de diferentes teorias, sociais ou psicológicas. Pelo contrário, há a matriz/’’’matrix’’’ (ser) que nos torna inesgotáveis. E é dessa riqueza inesgotável que nos falam as obras de arte. E é por isso que para cada um o viver se torna uma tarefa poética. As obras de arte são como velas onde se concentra uma enorme energia que precisa ser acesa/lida para que a leitura as transforme em chamas que nos iluminam, mas iluminam no sentido de chegarmos a nos conhecermos e libertarmos.


- Manuel Antônio de Castro.

37

"Ente é tudo que é. É que a physis ou natureza passou a ser denominada ser. Ora, aquele que fazia entes que a natureza não fazia denominava-se, em grego, technités. Com este termo denominavam os gregos tanto o artesão como os artistas, claro, aí incluídos os poetas. É que techné não dizia de jeito nenhuma para o grego algum fazer dominado pela razão. Ela tinha sua relação mais direta com a emperia, com a experiência. Portanto, em grego, techné diz um conhecimento e os processos de execução. A palavra techné foi traduzida para o latim como ars, artis, isto é: arte. Desta se formou nossa palavra artista" (1).


Referência:
(1) www.travessiapoetica.blogspot.com>2010/10/as-musas-e-essencia-da-criacao-html

38

"Não podemos encarar o literário apenas na redutora visão estilístico-estética, onde o mito, em sua essência, perderá todo o seu verdadeiro significado como eixo de instauração da modernidade. A arte, na realidade, comparece na modernidade, com toda a força que lhe é essencial. Mas enredada nas contradições e paradoxos da metamorfose da modernidade, tem ela mesma um desenvolvimento complexo e paradoxal: ora se une às forças que impulsionam as diferentes linha de força, ora se opõe a elas e as questiona" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ---. Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 64.

39

"Hoje, a realidade é concebida de maneiras diferentes: pelo sistema científico, pelos sistemas religiosos e pelo tradicional senso comum. Apesar desses diferentes sistemas de realidade há também a presença incontrolável e gratuita do imaginário, do extra-ordinário e da possibilidade do tempo poético em cada um: é quando a arte atua" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.

40

"Ao traduzirem para o latim o tratado de Aristóteles sobre as obras poéticas: Peri poietikés technés, ocorreu o seguinte: esqueceram que o principal e decisivo, conforme Platão já o afirmara em O Banquete, é a poiesis. E optaram pela techné, pelo conhecimento, ao traduzirem-na como ars, artis (arte). Vejam a ironia, o Ocidente estuda a arte num tratado de Poética, como techné e não como poiesis" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 28.

41

"E como foi resolvida a incompatibilidade entre o que diziam as obras mítico-poéticas e as obras religiosas? Claro que estas deveriam determinar aquelas, numa sociedade dominada pela religião. Além do suporte filosófico-teológico, a sua exegese se baseou em um recurso usado até hoje para classificar, comentar, interpretar e analisar as obras de arte: Estas, é claro, também diziam a verdade (e nem poderia ser de outra maneira, dada a excelência e profundidade do seu conteúdo). As obras mítico-poéticas foram reduzidas a símbolos e alegorias. Tudo o que elas diziam era simbólico e alegórico. Isso para os gregos e para o Helenismo era algo totalmente desconhecido. Essas palavras não aparecem no diálogo Ãon de Platão. As obras eram a própria manifestação da realidade. E essa era a sua verdade. Por isso, em grego, verdade diz-se: a-letheia, desvelamento, des-encobrimento" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 126.

42

"Na medida em que a arte é um enigma, ela se constitui fundamentalmente de questões e jamais pode ser abordada por meio de conceitos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.

43

"A emergência do homem e o âmbito de sua atuação e de seu lugar dentro do real – e o enigma do seu destino – são as questões que perpassam todas as culturas em todos os tempos e suas obras de arte. Note-se que a arte, na maioria das culturas, sempre esteve ligada ao sagrado e que seria, por isso mesmo, estranha aos respectivos contextos qualquer ligação com processos econômico-comerciais. E do enigma que é o sagrado lhe advêm todas as grandes questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.

44

"É importante que fiquem claras e duas coisas: A arte vive das questões. A ciência vive dos conceitos (mesmo que incertos na sua certeza matemática). Tanto as questões como os conceitos são importantes para o ser humano, como são importantes o cientista e o poeta. O indesejável é a tentativa insistente em querer reduzir as questões da arte a conceitos (mesmo que incertos, porém matematicamente precisos). Mais indesejável ainda é que alguns críticos e uns quantos professores queiram reduzir a arte a conceitos, fazendo o papel de falsos cientistas. Pois nada produzem de científico e reduzem a arte a conceitos abstratos inúteis, que a silenciam" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.

45

"Qualquer conceito de arte só diz o que o conceito como conceito alcança e delimita, não o que a arte é. Quando perguntaram a santo Agostinho o que era o tempo, respondeu: Se não me perguntarem sei, mas se quiser conceituá-lo, não sei.
O tempo é uma questão.
Se não me perguntarem o que é a arte, eu sei. Se quiser conceituá-la, não sei.
A arte é uma questão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.

46

"Quais são as questões da arte? As questões da arte são igualmente as questões do mito e do pensamento. As questões da arte são as questões do real e do mito do homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 22.

47

"Este itinerário de recuo até o mito, para mais avançar na questão inaugural do esquecimento do sentido do Ser, tem consequências importantes para o tema que nos interessa: as questões da arte em Heidegger:
1º. Reúne mito, poesia e pensamento;
2º. Redige nessa altura os principais ensaios em torno da arte;
3º. Centraliza-se nas questões essenciais para o pensamento e para a arte: Ser, “coisaâ€/res, linguagem, verdade, tempo, memória, destino, poesia, mundo, Terra, Céu etc.;
4º. Relê em novas dimensões, impulsionadas pelo mito, a poesia e o pensamento, a questão fundamental e permanente do sentido do Ser ou Real" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.

48

"Na realidade, as questões da arte em Heidegger não podem ser isoladas teoricamente para depois buscar a sua aplicação. Ele as pensa e repensa continuamente tanto nos ensaios sobre arte e de pensamento como nas leituras dos grandes poetas. Se o leitor não perceber isto, vai ser muito difícil saber em que dimensões se dão e acontecem as questões da arte em Heidegger" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 35.

49

se quer ser criativo
você precisa aprender
a fazer coisas que não têm motivo
a arte não nasce
do trabalho sem intervalo
antes de tudo você
tem que sair lá fora e viver
- logo a arte vem (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 125.

50

"O amor pela beleza levou os celtas a traduzir sua sabedoria em arte" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. "O Limiar do Outro Mundo". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 64.

51

Arte e vida:
A arte, toda arte, é alimento para que cada um faça da sua vida uma obra de arte. Porém, há uma questão, que é o maior desafio em nossas vidas. Qual? Fazer da arte vida.


- Manuel Antônio de Castro

52

Mas como pensar a arte sem pensar a Essência do agir? E qual é a Essência do agir? O agir da Essência.


- Manuel Antônio de Castro

53

" A questão da proximidade e da distância é o grande enigma da arte, é o grande enigma da vida. Só o ser humano se sente próximo ou distante. Só o ser humano pode sentir solidão e se sente em solidão porque a distância é maior do que a proximidade. Seja como for, se não houvesse proximidade e distância não poderia haver solidão. E é pensando a proximidade e a distância que podemos pensar a verdade poética e a globalização" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. In: ---. "Verdade poética e globalização". Ensaio não publicado.

54

"A arte nos amadurece. Ela confia que podemos ir além do pensamento médio. Ela nos ajuda a vencer o medo das mudanças. Tira as rodinhas das nossas bicicletas, para que possamos avançar por nós mesmos" (1).


Referência:
(1) MEDEIROS, Martha. "Reconhecimento". Crônica in: Ela, Revista publicada por O Globo, 17-04-2022, p. 8.

55

"A arte é o meio, o caminho, a vereda que nos leva à procura do próprio de cada ser humano. Sim, é isso: são, portanto, as obras de arte - alimento para nos fazer pensar e nunca para nos doutrinar - que questionam o que é o humano, o que é a realidade e o que é o destino. HUMANO-REAL-DESTINO: essas três questões são grandes enigmas da VIDA - essa também o é - e jamais podemos reduzi-las a conceitos herméticos, aprisionantes do acontecer incessante da ARTE e do SER" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 95.

56

Tanto o vazio como o silêncio e o nada se fazem presentes/ausentes em todas as obras de arte. Poeticamente, à Matéria corresponde a Terra e à Forma, o Mundo.
A solução fácil da “matéria e da forma†nos torna insensíveis para o que tanto seja matéria como forma, até porque em si não existem, pois dependem das teorias e das culturas que as definem. Quando se diz que Nietzsche defende uma complementaridade do dionisíaco e do apolíneo na tragédia, não se sai ainda da dobradinha da “matéria e da formaâ€, pois numa tal “complementaridade†o vazio e o silêncio e o nada estão simplesmente silenciados, reprimidos e esquecidos.
O sair da dobradinha matéria/forma e passar a considerar e a refletir a partir do vazio/figura abre possibilidades importantes e inaugurais. Mas aí não poderemos só trabalhar com conceitos, mas dar-se-á uma dialética de conceitos e questões.


- Manuel Antônio de Castro.