Símbolo
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- Bibliografia.
- O leitor encontra aqui ensaios que questionam e pensam essencialmente o símbolo.
- HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010.
- HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar”. In: ---. Ensaios e conferências. Trad. Márcia Sá Cavalcente Schuback Petrópolis: Vozes,2002.
- FOGEL, Gilvan. “O desaprendizado do símbolo (a poética do ver imediato)". In: Permanência e atualidade da poética. Revista Tempo Brasileiro, 171, out.-dez., 2007.
- BACHELARD, Gaston. A psicanálise do fogo (PF). Trad. Maria Isabel Braga. Lisboa: Estúdios Cor, 1971.
- BACHELARD, Gaston. A poética do espaço (PE). Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos LEAL. Rio de Janeiro: Eldorado, s / d.
- DE FARIA, Maria Lúcia Guimarães. “Bachelard e a permanência da poética”. In: Permanência e atualidade da poética. Revista Tempo Brasileiro, 171, out.-dez., 2007.
- JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos, 10. e., especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d.
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- Eis aí um conceito nuclear, embora seja portador de uma ampla semântica. "Todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólicos. Elas têm aquilo que Edward Said chama de suas geografias imaginárias" (1). O simbólico não tem o vigor em si mesmo. Há, por exemplo, silêncio simbólico. Porém, não é o simbólico que fala, mas o vigor do silêncio.
- Referência:
- (1) HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP7A, 2001, p. 71.
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- Heidegger em A origem da obra de arte trata do símbolo, em que ocorre uma separação entre a coisa, o suporte e o que além disso ela "expressa": o símbolo. Ele se coloca contra essa separação, na medida em que não aceita a noção de "coisa" como "suporte". Nos ensaios "A coisa" e "Construir, habitar, pensar", desenvolve o que entende por "coisa". E no ensaio "Construir, habitar, pensar" retorna à questão do símbolo. Só podemos apreender e compreender os equívocos que o conceito de símbolo possui se aprofundarmos o que é "coisa" poética e originariamente. Heidegger nesse ensaio dá o exemplo de uma "ponte" como "coisa". E então diz:
- "Enquanto expressão, a ponte pode tornar-se, por exemplo, símbolo para tudo aquilo que mencionamos anteriormente. Se for autêntica, a ponte nunca é primeiro e apenas ponte e depois um símbolo. A ponte tampouco é, de antemão, um símbolo, no sentido de exprimir algo que, em sentido rigoroso, a ela não pertence. Tomada em sentido, a ponte nunca se mostra como expressão. A ponte é uma coisa e somente isso" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 133.
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- A questão do símbolo está fundamentalmente ligada à discussão do significado e do sentido convencional ou natural das palavras. A questão é que não se pode confundir sentido e significado. Tudo isso radica nos muitos significados que a palavra grega lógos foi sofrendo pela visão metafísica e racionalista. O mesmo se pode dizer da outra palavra fundamental: phýsis. A tradução por natureza pode desfigurar completamente o seu sentido poético e originário. Dessas duas palavras há duas visões básicas: a epistemológica e a ontológica. Segundo cada uma destas posições, o símbolo terá sentidos radicalmente diferentes. Para uma visão epistemológica e metafísica ver (1). Para uma visão ontológica, ver (2).
- Referências:
- (1) NEVES, Maria Helena de Moura. A vertente grega da gramática tradicional. São Paulo: Hucitec, 1987.
- (2) BEAUFRET, Jean. Dialogue avec Heidegger III. Paris: Minuit, 1974, especialmente o ensaio: "Du logos au langage".
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- "No grego symbolon (de symbálleo, juntar, fazer conjunto) era um cubo ou um osso que se repartia entre dois hóspedes, como sinal de um compromisso. Transmitindo-se aos descendentes de ambos, podiam estes conferir os seus 'símbolos' e ter assim a prova de antigos liames de hospitalidade" (1).
- Como ocorre muito com a criação poética e de pensamento, as palavras são engravidadas de sentidos originários. É o que ocorre com o uso da palavra símbolo por Platão em O Banquete. De maneira alguma aí a palavra símbolo significa algo que remete ou representa outra coisa ou realidade. Platão nesse contexto fala de complementaridade, de um "entre si", de que é constituído o ser humano. O "entre-si" remete, no caso, para a conjunção no homem e na mulher, do masculino e do feminino, eroticamente vistos. O símbolo como símbolo destaca sempre os constituintes e não o vigor e vigência ambígua do que como princípio pode constituir. Daí o sentido genérico de representação e representado.
- Referência:
- (1) SOUZA, José Cavalcante de. Nota de tradução. "O Banquete" In: Os Pensadores. Platão. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 24.
- Ver também:
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- "... o símbolo, como a alegoria, de que nos fala Walter Benjamin, não é apenas a face inquieta de uma operação linguística, mas, e aqui reside a sua força, é antes o processamento dialético da realidade, a apreensão global do movimento alternado das contradições. O símbolo não é somente uma instauração, porque é a força instauradora" (1).
- Referência:
- (1) PORTELLA, Eduardo. Limites ilimitados da teoria literária. In: PORTELLA, Eduardo e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991, p. 13.
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- "Ver pela primeira vez é ver des-habitualmente, ver imediatamente, ou seja, ver, ter presente e evidente sem a mediação, sem a intermediação do velho, do já visto e já sabido, porque já dado e já previamente constituído, ao qual é reduzido ou reconduzido - subsumido! - o novo, o inédito, que é também sempre singular. Enfim, ver pela primeira vez é não ter e não ver através da mediação do conceito, do símbolo. Conceito é símbolo. O saber representativo-conceptual - o conhecimento - é simbólico" (1).
- Referência:
- (1) FOGEL, Gilvan. "O desaprendizado do símbolo (A poética do ver imediato)". In: Revista Tempo Brasileiro, 171, Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 43.
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- "O papel dos símbolos religiosos é dar significação à vida do homem. Os índios pueblos acreditam que são filhos do Pai Sol, e esta crença dá a suas vidas uma perspectiva (e um objetivo) que ultrapassa a sua limitada existência; abre-lhes espaço para um maior desdobramento das suas personalidades e permite-lhes uma vida plena como seres humanos" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.
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- Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte de possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar. Há questionar quando se fazem e assumem perguntas essenciais, aquelas que só se podem fundar no sentido, uma vez que este se diferencia do significado, ou seja, o sentido reduzido a uma representação sígnica. Em vista disso todo sentido remete para uma significação, que não pode ser reduzida a uma representação sígnica e, sim, pode remeter para um símbolo, sobretudo religioso.
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- "O mito que se apoderou de São Paulo fez dele algo muito maior que um mero artesão.
- Um mito assim, no entanto, consiste de símbolos que não foram conscientemente inventados. Aconteceram. Não foi o homem Jesus que criou o mito do homem-deus: este já existia muitos séculos antes do seu nascimento. E ele mesmo foi dominado por esta ideia simbólica que, segundo São Marcos, o elevou para muito além da obscura vida de um carpinteiro de Nazaré" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.
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- "O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além de seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós. Muitos monumentos cretenses, por exemplo, trazem o desenho de um duplo enxó. Conhecemos o objeto, mas ignoramos suas implicações simbólicas" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A importância dos sonhos". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos, 10. e. especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 20.
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- "Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente utilizamos termos simbólicos como representação de um conceito que não podemos definir ou compreender integralmente. Esta é uma das razões por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens. Mas este uso consciente que fazemos de símbolos é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos, insconsciente e espontaneamente, na forma e sonhos" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A importância dos sonhos". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos, 10. e., especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 21.
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- "Por definição, um símbolo não é aquilo que representa, mas o que significa, o que sugere. Um símbolo mostra à mente uma realidade diferente de si próprio. As palavras transmitem informações, os símbolos evocam a compreensão" (1).
- Referência:
- (1) GADALLA, Moustafa. "Neteru, os Anjos de Deus". In: -----. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 64.
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- "E como foi resolvida a incompatibilidade entre o que diziam as obras mítico-poéticas e as obras religiosas? Claro que estas deveriam determinar aquelas, numa sociedade dominada pela religião. Além do suporte filosófico-teológico, a sua exegese se baseou em um recurso usado até hoje para classificar, comentar, interpretar e analisar as obras de arte: Estas, é claro, também diziam a verdade (e nem poderia ser de outra maneira, dada a excelência e profundidade do seu conteúdo). As obras mítico-poéticas foram reduzidas a símbolos e alegorias. Tudo o que elas diziam era simbólico e alegórico. Isso para os gregos e para o Helenismo era algo totalmente desconhecido. Essas palavras não aparecem no diálogo Íon de Platão. As obras eram a própria manifestação da realidade. E essa era a sua verdade. Por isso, em grego, verdade diz-se: a-letheia, desvelamento, des-encobrimento" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 126.
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- "O homem grego não via na tragédia de Sófocles Édipo Rei (e nas outras obras) nenhum símbolo e nenhuma alegoria. O que acontecia no palco era um espelho/reflexão do que poderia acontecer com ele. Daí a questão apontada por Aristóteles em sua Poética, a catarsis. As questões que as obras abordavam eram as suas questões, pois também não havia de maneira alguma o termo ficção. Isso foi uma invenção moderna, para diferenciar a realidade das obras poéticas e a realidade positivista estabelecida pela verdade científica. Para o homem grego em geral, para os grandes pensadores e grandes poetas, não havia a verdade qualificada ou atributiva. Verdade é simplesmente verdade" (1).
- Referência: