Destino
De Dicionário de Poética e Pensamento
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- | :" | + | : "O [[substantivo]] [[destino]] deriva do [[verbo]] [[destinar]] e se forma do [[radical]] [[latino]] ''sto'', com o [[sentido]] de apoio, suporte, o que ocupa [[posição]] e por isso mesmo está posto. Dentro desse âmbito, apresenta dois [[significados]] básicos: sucessão de [[fatos]] que constituem a [[vida]] do [[homem]] como resultante de [[processos]] independentes de sua [[vontade]]. Tem como [[sinônimos]]: [[sorte]], [[fado]], [[fortuna]], [[sina]]. E indica também algo [[futuro]], que deverá [[acontecer]] a alguém. Transparece nessas noções a [[ideia]] de [[fatalidade]], em que o [[passado]] determina o [[futuro]], anulando a [[vontade]] do [[homem]], porque se [[dicotomiza]] [[estar]] e [[ser]]" (1). |
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- | :(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. '''Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011''', p. 163. |
== 2 == | == 2 == | ||
- | : "Destino é o que no [[homem]] se destina, o que ele recebe sem ter decidido, assim como aquele a quem dirigimos uma carta é chamado de destinatário, quer tenha escolhido recebê-la ou não. O homem é o destinatário do destino. Destino é o que ele já recebeu para [[ser]], suas [[origens]], sem as quais ele não é. Não se pode pular a própria sombra: só se pode [[ser]] a partir das [[origens]], que em nós se dão para que sejamos" (1). | + | : "[[Destino]] é o que no [[homem]] se destina, o que ele recebe sem ter decidido, assim como aquele a quem dirigimos uma carta é chamado de [[destinatário]], quer tenha escolhido recebê-la ou não. O [[homem]] é o [[destinatário]] do [[destino]]. [[Destino]] é o que ele já recebeu para [[ser]], suas [[origens]], sem as quais ele [[não é]]. Não se pode pular a [[própria]] sombra: só se pode [[ser]] a partir das [[origens]], que em nós se dão para que sejamos" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: ''Convite ao pensar | + | : (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: '''Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014''', p. 134. |
== 3 == | == 3 == | ||
- | :"O grande [[paradoxo]] em Édipo é que quanto mais foge mais cumpre o destino. Então o destino, ligado ao [[genos]], à famÃlia, lhe traz o [[aprendizado]] de uma [[aprendizagem]]. Uma aprendizagem que o liberta para o que é pelo que não é nem pode por ele mesmo chegar a ser" (1). | + | : "O grande [[paradoxo]] em [[Édipo]] é que quanto mais foge mais cumpre o seu [[destino]]. Então o [[destino]], ligado ao [[genos]], à [[famÃlia]], lhe traz o [[aprendizado]] de uma [[aprendizagem]]. Uma [[aprendizagem]] que o liberta para o que [[é]] pelo que [[não é]] nem pode por ele mesmo chegar a [[ser]]" (1). |
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009''', p. 27. | ||
== 4 == | == 4 == | ||
- | :" | + | : "[[Ser]] [[livre]] não é só [[fazer]] o que desejamos da [[vida]], mas [[escutar]] o que a [[Vida]], como [[dimensão]] que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como [[destino]], um [[sentido]] de missão a se [[realizar]]. A [[Vida]] Incessante, que não cessa de [[nascer]] e perecer, é maior do que a [[vida]] de cada [[homem]], pois outros [[seres]] viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o [[homem]] é o único [[entre]] todos os [[seres]] que recebeu o [[livre arbÃtrio]], o [[arbÃtrio]] só é [[livre]] na [[medida]] em que é a [[escuta]] do interlúdio que constitui o seu [[destino]]" (1). |
- | :Referência: | + | : Referência: |
- | :(1) | + | : (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). '''O educar poético'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104. |
+ | == 5 == | ||
+ | : [[Sentido]] é a tarefa que nos cabe [[realizar]] como o [[motivo]] do [[existir]], do que desde [[sempre]] já somos. É nosso [[destino]]. Este é o deixar manifestar-se, eclodir, o [[sentido]] do que já somos. Nenhuma [[doutrina]], nenhum [[modelo]], nenhum [[sistema]] o pode dar. E não o pode dar porque o [[destino]] é nosso [[dote]], nossa ''[[moira]]'', é nossas [[possibilidades]], é nossa [[essência]] [[humana]]. [[Destino]] enquanto [[sentido]] é o [[humano]] de todo [[ser humano]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
+ | == 6 == | ||
+ | : "[[Destino]] são nossas [[possibilidades]] contÃnuas que nenhuma [[ação]], nenhuma [[escolha]], nenhuma [[realização]] chega a cumprir e dissolver, a eliminar. Toda [[realização]] é retomar no realizado o não-realizado. Eis a ventura e aventura de [[existir]], [[sempre]] nova, [[sempre]] [[inaugural]], [[sempre]] desafiante" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Ser e estarâ€. In:---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 30. | ||
- | : | + | == 7 == |
+ | : Há [[sempre]] em [[tudo]] três [[questões]] prévias para o [[aprender]] a [[pensar]]: o que é o [[ser humano]]? o que é a [[realidade]]? o que é o [[destino]]? E a [[palavra]] exata para se [[dimensionar]] o [[aprender]] a [[pensar]] é a [[questão]] do [[sentido]]. Por isso, o [[destino]] é a linha diretriz do [[horizonte]] das duas outras [[questões]] prévias. No [[destino]] está o [[sentido]] do que somos e não somos e, existindo, estamos a [[caminho]] de o [[realizar]] para chegar a sê-lo. [[Destino]] é o [[caminho]] a ser trilhado para [[manifestação]] do [[sentido]] que já nos foi dado. Se o [[destino]] é nosso [[próprio]], o [[sentido]] é o [[caminho]] [[necessário]] do que somos. Desse modo, é [[impossÃvel]] separar as três [[questões]]: o [[sentido]] da [[realidade]] é o [[humano]] se realizando em seu [[destino]]. Isso se torna para nós o [[real]] ou [[mundo]]. | ||
+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
- | == | + | == 8 == |
- | : | + | :"Durante um momento nossas [[vidas]] navegam a favor ou contra a corrente. Porém, é a corrente que decide nosso [[destino]]" (1). |
+ | : Referência: | ||
- | : | + | : (1) Fala da personagem ''Sofie'', no [[filme]] '''Sofie''', de Liv Ullmann. |
+ | == 9 == | ||
+ | :O que é [[Destino]]? É [[desvelar]] enquanto [[presença]] o que nos foi presenteado. Cada [[presença]]-[[destino]], enquanto [[questão]], é um [[desvelamento]] do que não cessa de se [[velar]] no [[destinar-se]] do [[sentido]] do [[Ser]], do [[Nada]]. Toda [[presença]] participa do [[desvelamento]] ou [[verdade]] na medida em que este é [[Destino]] do [[Ser]]. Por isso, [[toda]] [[presença]], enquanto [[desvelamento]] ou [[verdade]], [[vigora]] no [[diálogo]] e enquanto [[diálogo]], pois não há [[desvelamento]] sem [[velamento]] ou [[verdade]] sem [[não-verdade]]. A [[presença]]-[[destino]] é o [[Ser]] se Essencializando enquanto [[Linguagem]] e [[Verdade]]. Isso é ''[[poiesis]]'' enquanto [[sentido]] [[ético]], ou seja, o [[sentido]] do [[Ser]]. | ||
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+ | :- [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
+ | == 10 == | ||
+ | : "[[Hermenêutica]] tem a ver com [[Hermes]], o [[mensageiro]] do [[destino]]. [[Destino]] é para os [[homens]] de todos os [[tempos]] o envio do [[mistério]] de [[ser]] e [[realizar-se]] no [[tempo]]" (1). | ||
- | == | + | |
- | : | + | : Referência: |
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+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 6. | ||
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+ | == 11 == | ||
+ | : "Não tem cada um o seu [[código]] genético e dentro deste a sua [[história]], a sua [[travessia]]? A [[medida]] de nosso [[destino]], de nosso [[próprio]], de nossa [[identidade]], é o [[princÃpio]], ou seja, o [[vigorar]] da [[dobra]] de [[caos]] e [[cosmo]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : CASTRO, Manuel Antônio de. "Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos". In: TAVARES, Renata (org.). '''O que me move, de Pina Bausch''' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82. | ||
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+ | == 12 == | ||
+ | : "Quem diz que na [[vida]] [[tudo]] se escolhe? O que castiga, cumpre também" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) ROSA, João Guimarães. '''Grande Sertão: Veredas'''. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 13. e., 1979, p. 165. | ||
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+ | == 13 == | ||
+ | : "O [[mito]] é julgado e descartado a partir do ''[[logos]]'', reduzido à [[razão]]. E o [[mito]] [[sempre]] falou do [[ser humano]] como pertencente a um ''[[genos]]'' (de onde se forma a [[palavra]] [[moderna]] [[genética]]). Indicava uma [[famÃlia]], um [[gênero]] (formada também de ''[[genos]]''), uma [[etnia]]. Como [[famÃlia]] tinha algo em [[comum]], o ''[[genos]]'', mas cada um dentro desse ''[[genos]]'' recebia um [[quinhão]], a sua “cota†no ''[[genos]]'' da [[famÃlia]]. O [[nome]] para esse [[quinhão]] foi e é: ''[[Moira]]''. A [[tradução]] mais [[tradicional]] não é [[quinhão]], mas [[destino]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26. | ||
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+ | == 14 == | ||
+ | : "O [[destino]] do [[desencobrimento]] [[sempre]] rege o [[homem]] em [[todo]] o seu [[ser]], mas nunca é a [[fatalidade]] de uma coação. Pois o [[homem]] só se torna [[livre]] num envio, fazendo-se [[ouvinte]] e não escravo do [[destino]]. A [[essência]] da [[liberdade]] não pertence ''[[originariamente]]'' à [[vontade]] e nem tampouco se reduz à [[causalidade]] do [[querer]] [[humano]]. A [[liberdade]] rege o aberto, no [[sentido]] do aclarado, isto é, des-encoberto. A [[liberdade]] tem seu parentesco mais próximo e mais Ãntimo com o dar-se do [[desencobrimento]], ou seja, da [[verdade]]. Todo [[desencobrimento]] pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que [[liberta]] é o [[mistério]], um encoberto que [[sempre]] se encobre, mesmo quando se [[desencobre]]. [[Todo]] [[desencobrimento]] provém do que é [[livre]], dirige-se ao que é [[livre]] e [[conduz]] ao que é [[livre]]. A [[liberdade]] do [[livre]] não está na licença do [[arbitrário]] nem na [[submissão]] a [[simples]] [[leis]]. A [[liberdade]] é o que aclarando encobre e cobre, em cuja [[clareira]] tremula o véu que [[vela]] o [[vigor]] de [[toda]] [[verdade]] e faz aparecer o véu como o [[véu]] que [[vela]]. A [[liberdade]] é o [[reino]] do [[destino]] que põe o [[desencobrimento]] em seu [[próprio]] [[caminho]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27. | ||
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+ | == 15 == | ||
+ | : [[Lei]] é a [[vida]] enquanto [[destino]]. Quando dizemos "é" já estamos nos movendo na [[Essência]]. Mas o que [[é]] a [[Essência]] para que possamos [[dizer]] o que é a [[Lei]], o que é a [[Vida]], o que é o [[Destino]]? A [[Essência]] da [[Lei]] é a [[Lei]] da [[Essência]]. Nem sempre nos damos conta de que desde que nascemos já estamos vivendo sob o [[poder]] da [[Lei]]. Porém, ela, nesse domÃnio e [[poder]], toma diferentes faces e [[dimensões]], daà a impressão falsa da [[liberdade]] de nossa [[vontade]] e de que a [[lei]] é algo externo ao que há de mais profundo em nós. | ||
: - [[Manuel Antônio de Castro]] | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
+ | == 16 == | ||
+ | : Não se nota que, perante o [[destino]], o [[tempo]] deixa de ser uma [[divisão]] [[tricotômica]] [[entre]] [[passado]], [[presente]] e [[futuro]]. Em [[verdade]], o [[destino]] se configura em três [[questões]] que são uma e a [[mesma]]: [[vida]], [[morte]], [[tempo]]. [[Falar]] da [[lei]] da [[vida]], da [[morte]] ou do [[tempo]] é ainda se mover na [[questão]] [[radical]] da [[lei]] como [[destino]]. | ||
- | == | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
- | :" | + | |
+ | == 17 == | ||
+ | : "Jogar a [[questão]] e sua solução para a [[culpa]] é não [[querer]] se defrontar com outra [[dimensão]] em que se vive o [[viver]]: a [[vida]] da [[vida]] é um dote, um [[destino]]. [[Todo]] e qualquer [[destino]] já está inscrito no [[próprio]] [[destinar-se]] do [[ser]] como [[sentido]]. Receber a [[vida]] para [[morrer]] não é, repetimos [[sempre]], [[algo]] negativo, mas é a [[lei]] do [[destino]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser felizâ€. In: ------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 211. | ||
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+ | == 18 == | ||
+ | : "Neste [[sentido]], por nele [[agir]] para que possa [[agir]], a [[ação]] do [[entre]] é [[destino]]. Este entendido não como o previamente escrito que tornasse o [[homem]] um tÃtere, e, sim, como o envio do que nele [[se destina]]. O [[homem]] é o [[destinatário]] da [[liberdade]] que o [[destino]] lhe envia, aviando-o para a [[travessia]] da [[existência]]" (1). | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) | + | : (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). '''O educar poético'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104. |
- | == | + | == 19 == |
- | :O | + | : "O [[destino]] jamais foi personificado e, em consequência, [[Moira]] e ''Aisa'' não foram antropomorfizadas: pairam soberanas acima dos [[deuses]] e dos [[homens]], sem terem sido elevadas à [[categoria]] de [[divindades]] distintas. A [[Moira]], o [[destino]], em tese, é fixo, [[imutável]], não podendo ser alterado nem pelos [[próprios]] [[deuses]]" (1). |
- | : | + | : Referência: |
- | == | + | : (1) BRANDÃO, Junito de Souza. '''Mitologia Grega, vol. I'''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 141. |
- | : "[[ | + | |
+ | == 20 == | ||
+ | : "A pouco e pouco se desenvolveu a [[ideia]] de uma ''[[Moira]]'' [[universal]], senhora inconteste do [[destino]] de todos os [[homens]]. Essa ''[[Moira]]'', sobretudo após as [[epopeias]] homéricas, se projetou em três ''[[Moiras]]'', que poderÃamos chamar de ''[[Queres]]'': ''[[Moira]]'' determina; as ''[[Queres]]'', como sua projeção, fiam o [[tempo]] de [[vida]] que já foi prefixado e ''[[Tânatos]]'' (v.), a [[Morte]], comparece, não como ''agente'', mas como ''executora''. | ||
+ | : Essas três ''[[Queres]]'', Cloto, Láquesis e Ãtropos, possuem [[funções]] especÃficas, de acordo com a [[etimologia]] de cada uma delas: CLOTO, em grego ''Klotho'', do [[verbo]] ''klothein, fiar'', é a fiandeira por excelência. Segura o fuso e vai puxando o fio da [[vida]]; LAQUESIS, em grego ''Lakhesis'', do [[verbo]] ''lankhanein'', em sentido lato, ''sortear'', é a que enrola o fio da [[vida]] e sorteia o [[nome]] de quem vai perecer; ÃTROPOS, em grego ''Ãtropos'', de ''a'' (''a'', alfa privativo), ''não'', e do verbo ''trepein, voltar'', é a que ''não volta atrás'', a inflexÃvel. Sua [[função]] é cortar o fio da [[vida]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) BRANDÃO, Junito de Souza. '''Dicionário mÃtico-etimológico da Mitologia Grega, volume II, J-Z, 3.e'''. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000, p. 141. | ||
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+ | == 21 == | ||
+ | : Para [[compreender]] e [[apreender]] o que é o [[olhar]], o melhor [[caminho]] é [[pensar]] a [[diferença]] [[ontológica]] [[entre]] [[olhar]] e [[ver]]. Concretamente, um exemplo clássico pode nos fazer [[pensar]] essa [[diferença]]: quando [[Édipo]], o famoso [[personagem]] do [[mito]] de [[Édipo]], [[pensado]] por [[Sófocles]] em sua famosa [[obra]] ''Rei Édipo'', tinha [[olhos]] não penetrara e nem vira os [[caminhos]] de seu [[destino]]. É que o [[olho]] é [[funcional]], faz parte do nosso [[organismo]] que diz respeito ao [[olhar]], não necessariamente ao [[ver]], pois foi quando arrancou os [[olhos]] que passou a [[ver]] na [[luz]] da [[verdade]] os [[caminhos]] e [[descaminhos]] do seu [[destino]]. O [[olho]] diz respeito aos [[sentidos]], a [[visão]] diz respeito ao [[sentido]]. Não basta [[olhar]], é [[necessário]] [[ver]]. E é nesta distinção [[fundamental]] que os [[gregos]] [[pensaram]] a [[essência]] da ''[[aletheia]]'', [[desvelamento]] ou [[verdade]]. Por isso, este diz respeito à [[manifestação]] do [[sentido]] do [[destino]]. E é nesse [[horizonte]] que se diferencia [[radicalmente]] a [[verdade]] da [[obra de arte]] e a [[verdade]] [[funcional]] da [[lógica]], que [[fundamenta]] a [[ciência]] [[fundada]] na [[razão]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | == 22 == | ||
+ | : "E a grande [[questão]] do [[mito]] do [[Canto das Sereias]] é a [[questão]] do [[destino]] do [[homem]] em sua [[travessia]], é a grande [[questão]] para [[Ulisses]], que vive no [[limiar]] do [[sentido]] do [[agir]] dos [[deuses]] e no [[sentido]] do [[agir]] do [[homem]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 162. | ||
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+ | == 23 == | ||
+ | : "Pensa-se que [[destino]] é o que a [[razão]], fonte do livre [[agir]] do [[ser humano]], não podia determinar nem controlar. Pela [[visão]] racionalista, o [[destino]] se opõe à [[liberdade]] [[humana]]. No [[existir]] o [[ser humano]] deve-se [[dar]] ''livremente'' a sua ''[[essência]]'', o seu ''[[genos]]'' enquanto o seu quinhão. Nessa [[visão]] racionalista, a ''[[existência]]'' precede e determina a ''[[essência]]''. O [[existir]] enquanto o ''como é'' deve determinar livremente ''o que é''. O [[homem]] não tem um [[destino]], dá-se um [[destino]]. Esta foi a [[utopia]] moderna, esquecida dos ensinamentos de [[mito]] de [[Édipo]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26. | ||
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+ | == 24 == | ||
+ | : "Fora da [[tradição]] [[metafÃsica]], a [[questão]] do [[destino]] se coloca dentro da [[questão]] [[fundamental]] da [[Totalidade]] harmônica do [[Cosmos]], do [[Ser]]. Mas o que é o [[Ser]]? Não pode ser um [[conceito]] nem [[fundamento]], mas o que vigora como [[silêncio]], [[sentido]], [[linguagem]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163. | ||
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+ | == 25 == | ||
+ | : "O [[Destino]] em seu [[sentido]] [[cósmico]], [[mÃtico]] e [[poético]] está basicamente ligado a duas uniões de [[Zeus]], o novo soberano do [[Cosmos]], porém ultrapassa o [[próprio]] [[Zeus]], na medida em que tem uma [[origem]] dupla, e remete também para algo que precede o [[próprio]] [[Zeus]]. Na [[cultura]] [[grega]], o [[destino]] é representado pelas ''[[Môirai]]'', traduzidas para o [[latim]] como [[Parcas]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163. | ||
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+ | == 26 == | ||
+ | : "Como as [[Hôrai]], e não podia ser de outra maneira, as [[Môirai]] também são filhas de [[Zeus]] e [[Themis]]. Elas representam a [[Fatalidade]] sob o aspecto positivo de [[configuração]] e [[ordenação]] dos [[destinos]] dos [[mortais]], segundo um peso e [[medida]] [[divinos]]. As [[Môirai]] “a quem mais deu honra o [[sábio]] [[Zeus]]†(Teogonia, T. v. 900) (2), fixaram aos [[homens]] [[mortais]] os seus lotes de [[bem]] e de [[mal]]. Sob o [[aspecto]] [[negativo]], essas [[Môirai]] são filhas da [[Noite]] (T. vv. 217-9) e representam a sofrida [[experiência]] do restrito e inexorável lote de [[bem]] e de [[mal]] a que cada [[homem]] tem que se submeter como seu único [[destino]] (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246. | ||
+ | |||
+ | : (2) ''Teogonia''. São Paulo: Iluminuras, 1992. | ||
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+ | == 27 == | ||
+ | : "O [[indivÃduo]] vale e se define pelo seu ''[[génos]]'', de tal maneira que “todas as [[ações]], [[decisões]], falhas e êxitos do [[indivÃduo]] têm [[fonte]] não na [[individualidade]] dele, mas nessa [[natureza]] supra-individual que caracteriza o ''[[génos]]''â€(1). Entendido o [[agir]] de cada um nesse [[horizonte]], pode-se [[compreender]] o que significa propriamente o [[destino]] no [[pensamento mÃtico]]. Cada ''[[génos]]'' dá [[origem]] a uma [[linhagem]]. Por exemplo, a [[linhagem]] de ''[[Zeus]]''. Esta, por sua vez, se [[estrutura]] em grupos [[familiares]] menores, mas estes compartilham a [[natureza]] comum da [[linhagem]], enquanto [[origem]], ''[[génos]]'' (2). | ||
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+ | : Referências: | ||
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+ | : (1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ----. '''Teogonia'''. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 78 | ||
+ | |||
+ | : (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166. | ||
+ | |||
+ | == 28 == | ||
+ | : "O [[entre]] do [[diálogo]] é a [[possibilidade]] do [[diálogo]] como [[mundo]], como o [[sentido]] do [[eu]] e do [[tu]] que dialogam, mas também do que no [[diálogo]] se dialoga. Esse “[[entre]]†aparece na terceira estrofe do [[poema]] ''Autopsicografia'' (de Fernando Pessoa) como [[entre-ter]]. Este, porém, surge da força que previamente nos estabelece o [[caminho]], ao girarmos nas calhas de roda. Estas são uma [[imagem-questão]] do que chamamos de há muito e desde sempre: [[destino]]. Com ele advém o [[sentido]] [[profundo]] e ambÃguo de “girar a [[entreter]]â€. E aqui podemos “[[ler]]†o “[[entre-ter]]†num outro [[sentido]] mais [[profundo]]: no [[jogar]] do [[destino]] somos tidos e entre-tecidos no [[horizonte]] do “[[entre]]â€: o ''[[logos]]'' abismal de todas as [[identidades]]. O que no [[diálogo]] se entretece é o que somos como [[mundo]], não aquele em que já estamos lançados, mas o que no [[entretecer]] se tece como [[aprender]] e [[ensinar]], ou seja, como o que devemos [[tecer]] na [[teia]] da [[vida]], isto é, [[ser]] o que já desde sempre somos ([[destino]])" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 30. | ||
+ | |||
+ | == 29 == | ||
+ | : "Seu ''[[eu]]'' incorporara-se na [[unidade]]. Foi nessa hora que [[Sidarta]] cessou de lutar contra o [[Destino]]. Cessou de [[sofrer]]. No seu rosto florescia aquela [[serenidade]] do [[saber]], à qual já não se opunha nenhuma [[vontade]], que conhece a [[perfeição]], que está de acordo com o [[rio]] dos [[acontecimentos]] e o [[curso]] da [[vida]]: a [[serenidade]] que torna suas as [[penas]] e as ditas de todos, entregue à [[corrente]], pertencente à [[unidade]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) HESSE, Hermann. '''Sidarta'''. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 113. | ||
+ | |||
+ | == 30 == | ||
+ | : "O [[destino]] é a [[medida]] e [[fonte]] [[necessária]] de nossa [[liberdade]]. Só o [[poético]] realiza a [[essência]] do [[humano]]: [[libertação]]. Sem o [[poder]] do [[não-querer]], o [[destino]], não há a [[vontade]] de [[poder]] [[querer]] para o [[ser humano]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 270. | ||
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+ | == 31 == | ||
+ | : "Só na [[dobra]] [[vigorante]] em todo [[ato]], o [[sentido do ser]], como [[sentido]] da [[linguagem]], torna-se tanto mais [[poético]] quanto mais [[ético]]. Sendo o [[poético]]-[[ético]] o [[vigorar]] do [[ser]] ao [[dar-se]] como [[linguagem]]. | ||
+ | : Neste [[sentido]], estamos [[poeticamente]] [[sempre]] a [[caminho]] da [[linguagem]]. E, portanto, tal [[caminho]] será tanto mais [[ético]] quanto mais [[poético]]. [[Caminho]] diz o [[agir]] a partir do [[sentido]] da [[linguagem]] como [[sentido do ser]] e nele [[existir]]. [[Sentido]], em sua [[proveniência]], [[diz]] o [[caminho]] [[originário]] de onde se parte e aonde já desde sempre se vai chegar. Já desde [[sempre]] se chega porque no [[começo]] está o [[fim]], o [[consumar]]. O [[caminho]] enquanto [[sentido]] é o [[destino]], nosso [[destino]]. Enquanto [[caminho]] de [[necessidade]] e [[liberdade]], nosso [[destino]], isto é, para o que já desde sempre estamos destinados, é o [[apropriar-nos]] do que nos [[é]] [[próprio]]: o que somos" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276. | ||
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+ | == 32 == | ||
+ | : "Ah, porque aquela outra é a [[lei]], escondida e [[visÃvel]], mas não achável, do [[verdadeiro]] [[viver]]: que para cada [[pessoa]], sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em [[teatro]], para cada [[representador]] - sua [[parte]], que antes já foi [[inventada]], num [[papel]]..." (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : ROSA, João Guimarães. ''Grande sertão: veredas''. 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 366. | ||
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+ | == 33 == | ||
+ | : "Por isso, [[Édipo]], exilado e cego, acompanhado apenas por AntÃgona, sua filha, perde-se em Colona, no bosque [[sagrado]] das Eumênides. Lá poderá descansar na [[felicidade]] dos [[bons]]. Já atravessou os [[limites]] da "[[vida]] inconstante": perdeu o trono, a esposa, tudo. Os [[sofrimentos]] mostraram-lhe que a [[vontade]] [[consciente]] de nada vale contra os [[desÃgnios]] [[divinos]], a [[ordem]] [[cósmica]] que regula o [[mundo]] dos [[mortais]]" (1). | ||
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+ | : (1) ÉDIPO. In: ''Mitologia, volumes: 1, 2, 3''. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548. | ||
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+ | == 34 == | ||
+ | : "A nossa [[propriedade]] nos advém desde que somos o que já desde sempre somos. Nesse [[sentido]], o que nos é [[próprio]], o que já desde sempre somos, é o que se chama, em [[grego]], ''[[Moira]]'', nosso [[próprio]], nosso [[quinhão]] do [[ser]]. A [[tradução]] [[tradicional]] para o [[português]] é [[destino]]. Este, portanto, não depende de uma [[ação]] [[causal]], não é o resultado do [[agir]] do [[saber]] das [[intenções]] da [[consciência]]. Não é um [[eu]] da [[consciência]] e o resultado de [[ações]] [[causais]], por isso, o que cada um [[é]], o seu [[próprio]], independe do [[meio]] e das [[influências]] de ordem [[social]] ou [[psÃquica]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo''. Ensaio não publicado. | ||
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+ | == 35 == | ||
+ | : "Desse modo o [[esquecimento]] do [[ser]] se dá num [[caminho]] duplo e ambÃguo, na [[caminhada]] do [[Ocidente]]: esqueceu-se o [[vigorar]] do [[mÃtico]] e do [[pensamento]]. Nesse sentido, devemos ter sempre em [[mente]] que não devemos [[procurar]] [[Platão]], mas o que ele procurava. Nenhum [[mito]], nenhuma [[obra]] de [[pensamento]] dá conta do que já o [[pensador]] [[Heráclito]], no [[fragmento]] 16, propôs como [[questão]] para o [[pensar]]: | ||
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+ | : “''Face ao que nunca declina ninguém pode manter-se encoberto''â€. | ||
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+ | : Não há [[doutrina]] ou [[teoria]] ou [[conhecimento]] que dê conta do “que nunca declinaâ€. E jamais poderemos diante desse [[acontecer]] incessante e [[sempre]] [[inaugural]] manter-nos “encobertosâ€. Para nós não há outro [[destino]] senão [[procurar]] o que todos os grandes [[pensadores]] e [[poetas]] procuraram em [[tudo]] que pensaram e poetaram. Isso exige de nós o termos de nos defrontar com nosso [[destino]], com o que em nós, em cada um, acontece [[inauguralmente]]. É o [[mesmo]], é a [[unidade]] das [[diferenças]], pois, não podemos [[esquecer]], só há uma [[Lei]] e um [[Saber]], a [[unidade]] da [[memória]] que a todos reúne e dá [[sentido]]. Essa [[unidade]] é [[Zeus]], a [[Luz]] irradiante que congrega [[luminosidade]] e [[obscuridade]], [[noite]] e [[dia]], ''[[Eros]]'' e ''[[Thánatos]]''. Eis nossa ''[[moira]]''" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 170. | ||
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+ | == 37 == | ||
+ | : "Ora, a [[palavra]] ''[[mythos]]'' forma-se do [[verbo]] [[grego]] ''mytheomai'', que significa: abrir, [[manifestar]] pela [[palavra]]. Por isso, toda ''[[poiesis]]'' é radicalmente [[mÃtica]]. A [[questão]] fundamental do [[mito]] e da ''[[poÃesis]]'', da [[harmonia]] Cósmica e, nela, do [[humano]] do [[ser humano]], é o [[destino]] enquanto [[Ser]] e [[Não-ser]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 171. | ||
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+ | == 38 == | ||
+ | : "Diante do [[perigo]] [[mortal]], [[Ulisses]], no relato aos seus companheiros, começa acentuando dois aspectos interligados e fundamentais: o [[saber]], o tomar [[consciência]], e o [[destino]] que implica esse [[saber]]. De novo, não é um [[saber]] como qualquer outro [[saber]], é um [[saber]] que abre para o que o [[destino]] [[é]]. No [[destino]] dá-se a [[dobra]] de [[saber]] e [[ser]]. O [[vigorar]] desta [[dobra]] é a [[essência]] do [[agir]]. Nesta acontece o [[destino]] que nos foi destinado. É por isso que não é a [[vontade]] por meio da [[razão]] que age, mas o [[querer]] [[poder]] do [[destino]]. E aqui o [[destino]] é o [[próprio]] [[mito]] enquanto [[saber]]. [[Experienciar]] o [[destino]] é [[experienciar]] o [[mito]], e [[experienciar]] o [[mito]] é [[experienciar]] o [[saber]]. [[Saber]] é tomar [[consciência]] do [[destino]] e realizá-lo em nossas [[escolhas]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 172. | ||
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+ | == 39 == | ||
+ | : "O [[advento]] e a [[possibilidade]] da [[Escuta]] não é fruto de um [[desejo]] de [[Ulisses]], isto é, nosso. Podemos ou não apenas acolhê-la. É um [[poder]] impotente, porque o [[acolher]] não é uma [[questão]] de [[vontade]], mas de [[acolhimento]] do [[destino]]. Este é a [[via]] sinuosa de [[querer]] e [[não-querer]], melhor de [[querer]] [[não-querer]] e de [[não-querer]] [[querer]]. No [[destino]] não está em [[jogo]] algo que nos é [[exterior]], mas a [[realização]] do [[próprio]]. A [[via]] do [[impróprio]] nos faz sofrer porque nos lança no [[esquecimento]] do [[próprio]] e na [[aparência]] de [[ser]] o que não somos. Podemos mentir e nos enganar muito, mas não podemos fazer isso o [[tempo]] todo. Há sempre o ''[[kairós]]'', [[instante]] de [[verdade]] que a cada um, no mais [[Ãntimo]] de seu [[Ãntimo]], se revela e manifesta" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 176. | ||
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+ | == 40 == | ||
+ | : "[[Édipo]] é o próprio [[ser humano]] como [[questão]]. Ele não tem ascendência divina, não é um [[deus]]. No entanto, nele comparecem todas as [[questões]] [[essenciais]] em que todo [[ser humano]] se vê envolvido. Mas não é um [[ser humano]] [[abstrato]], uma [[essência]] que está não se sabe onde. Não. A concreticidade de sua [[realidade]] está no [[agir]] constante e ambÃguo pelo qual busca o [[sentido]] do que ele [[é]] em meio ao [[enigma]] do [[real]], do qual ele é participante indissolúvel. Quanto mais [[Édipo]] (todo [[ser humano]]) procura fugir do [[destino]] mais ele o realiza. Ele está [[sempre]] “[[entre]]†o [[agir]] da sua [[vontade]] e [[inteligência]], e o [[agir]] da [[vontade]] e [[saber]] da ''[[Moira]]'' ([[destino]]). Todo [[agir]] [[essencial]] do [[ser humano]] é ambÃguo. Ele é [[sempre]] um [[ser-do-entre]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 22. | ||
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+ | == 41 == | ||
+ | : "Tentando afirmar sua [[vontade]] e [[razão]] como “[[subjetividade]]†[[livre]], [[Édipo]], como todo [[ser humano]], tenta evitar o [[destino]]. Cada um vive dessa e nessa [[ambiguidade]]. É que queremos e não queremos o [[destino]], sabemos e não sabemos o [[destino]]. Por isso, o [[destino]] é uma [[questão]]. É que somos e não-somos. Nisso, esse “[[e]]†misterioso se torna o “[[lugar]]†que faz do [[homem]] um [[ser-do-entre]] (''[[Da-sein]]'')" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23. | ||
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+ | == 42 == | ||
+ | : " ''Durante um [[momento]], nossas [[vidas]] navegam a favor ou contra a [[corrente]]. Porém, é a corrente a que decide nosso [[destino]] ''" (1). | ||
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+ | : Esta [[fala]] inicia o [[filme]] e é dita pela [[personagem]] [[principal]] que dá [[nome]] ao [[filme]]: ''Sofie''. É um [[filme]] denso e muito rico de [[questões]]. Sobressai a questão do ''[[Genos]]'', centralizado numa [[famÃlia]] [[judia]] e seus [[costumes]]. Mostra que [[essencialmente]] o mais importante é o [[ser humano]]. Porém, a ligação de cada um com a [[famÃlia]] é uma das linhas mestras tratada. ''Sofie'' é uma [[personagem]] densa que, no final, em relação ao filho, consegue se [[libertar]] e deixa o filho seguir a sua [[vontade]] e seu [[destino]]. Porém, isso não aconteceu com ela. | ||
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+ | : (1) Filme '''Sofie'''. Direção e Roteiro de Liv Ullmann, 1992. | ||
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+ | == 43 == | ||
+ | : "Como podemos descobrir o que o [[destino]] nos reserva? Só consultando os [[druidas]], [[profetas]] ou [[poetas]]. Os [[druidas]] impressionaram os visitantes [[romanos]] com sua capacidade de [[prever]] o [[futuro]] observando o voo dos pássaros, as fases da [[Lua]] ou o movimento das estrelas. As [[mulheres]] também eram [[videntes]] e muitas vezes eram capazes de [[prever]] o resultado das batalhas e o [[destino]] dos [[heróis]]. E todo [[rei]] [[celta]] também tinha um [[poeta]] versado na [[arte]] de compor [[versos]] [[proféticos]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) HOOD, Juliette. '''O livro celta da vida e da morte'''. "Destino e conhecimento do futuro". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 83. | ||
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+ | == 44 == | ||
+ | : "[[Existir]] tanto como [[humano]] e quanto [[essência]] do [[humano]] é [[interpretar-se]] como [[o que é]], ou seja, no ter sido para chegar a [[ser]]. [[Consumação]] do seu [[sentido]] a pôr-se a [[caminho]] do [[pensar]]. [[Destino]], [[próprio]], [[apropriação]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 259. | ||
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+ | == 45 == | ||
+ | : [[Questionar]] é [[pensar]]. E [[pensar]] é o [[agir]] do [[ser]]. Somente somos agindo, porque somente temos nosso [[próprio]] na [[medida]] em que é uma [[doação]] do [[ser]]. A essa [[doação]] os [[gregos]] denominaram: [[moira]], [[destino]], [[próprio]], [[identidade]], singularidade, [[pessoa]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | == 46 == | ||
+ | : "Navegar pelo oceano desconhecido é lançar-se nas mãos do [[destino]]. O [[destino]], contudo, nunca é meramente [[neutro]] - [[sempre]] existe uma [[dimensão]] [[moral]]. A [[própria]] [[vida]] é uma [[busca]] e o [[buscador]] dedicado e consciente da [[verdade]] e do [[bem]] é recompensado da maneira apropriada no devido [[tempo]]" (1). | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) | + | : (1) HOOD, Juliette. "Como Viver e como Morrer". '''O livro celta da vida e da morte'''. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 69. |
Edição de 22h36min de 3 de Maio de 2024
1
- "O substantivo destino deriva do verbo destinar e se forma do radical latino sto, com o sentido de apoio, suporte, o que ocupa posição e por isso mesmo está posto. Dentro desse âmbito, apresenta dois significados básicos: sucessão de fatos que constituem a vida do homem como resultante de processos independentes de sua vontade. Tem como sinônimos: sorte, fado, fortuna, sina. E indica também algo futuro, que deverá acontecer a alguém. Transparece nessas noções a ideia de fatalidade, em que o passado determina o futuro, anulando a vontade do homem, porque se dicotomiza estar e ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163.
2
- "Destino é o que no homem se destina, o que ele recebe sem ter decidido, assim como aquele a quem dirigimos uma carta é chamado de destinatário, quer tenha escolhido recebê-la ou não. O homem é o destinatário do destino. Destino é o que ele já recebeu para ser, suas origens, sem as quais ele não é. Não se pode pular a própria sombra: só se pode ser a partir das origens, que em nós se dão para que sejamos" (1).
- Referência:
- (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 134.
3
- "O grande paradoxo em Édipo é que quanto mais foge mais cumpre o seu destino. Então o destino, ligado ao genos, à famÃlia, lhe traz o aprendizado de uma aprendizagem. Uma aprendizagem que o liberta para o que é pelo que não é nem pode por ele mesmo chegar a ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 27.
4
- "Ser livre não é só fazer o que desejamos da vida, mas escutar o que a Vida, como dimensão que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como destino, um sentido de missão a se realizar. A Vida Incessante, que não cessa de nascer e perecer, é maior do que a vida de cada homem, pois outros seres viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o homem é o único entre todos os seres que recebeu o livre arbÃtrio, o arbÃtrio só é livre na medida em que é a escuta do interlúdio que constitui o seu destino" (1).
- Referência:
- (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.
5
- Sentido é a tarefa que nos cabe realizar como o motivo do existir, do que desde sempre já somos. É nosso destino. Este é o deixar manifestar-se, eclodir, o sentido do que já somos. Nenhuma doutrina, nenhum modelo, nenhum sistema o pode dar. E não o pode dar porque o destino é nosso dote, nossa moira, é nossas possibilidades, é nossa essência humana. Destino enquanto sentido é o humano de todo ser humano.
6
- "Destino são nossas possibilidades contÃnuas que nenhuma ação, nenhuma escolha, nenhuma realização chega a cumprir e dissolver, a eliminar. Toda realização é retomar no realizado o não-realizado. Eis a ventura e aventura de existir, sempre nova, sempre inaugural, sempre desafiante" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Ser e estarâ€. In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 30.
7
- Há sempre em tudo três questões prévias para o aprender a pensar: o que é o ser humano? o que é a realidade? o que é o destino? E a palavra exata para se dimensionar o aprender a pensar é a questão do sentido. Por isso, o destino é a linha diretriz do horizonte das duas outras questões prévias. No destino está o sentido do que somos e não somos e, existindo, estamos a caminho de o realizar para chegar a sê-lo. Destino é o caminho a ser trilhado para manifestação do sentido que já nos foi dado. Se o destino é nosso próprio, o sentido é o caminho necessário do que somos. Desse modo, é impossÃvel separar as três questões: o sentido da realidade é o humano se realizando em seu destino. Isso se torna para nós o real ou mundo.
8
- "Durante um momento nossas vidas navegam a favor ou contra a corrente. Porém, é a corrente que decide nosso destino" (1).
- Referência:
- (1) Fala da personagem Sofie, no filme Sofie, de Liv Ullmann.
9
- O que é Destino? É desvelar enquanto presença o que nos foi presenteado. Cada presença-destino, enquanto questão, é um desvelamento do que não cessa de se velar no destinar-se do sentido do Ser, do Nada. Toda presença participa do desvelamento ou verdade na medida em que este é Destino do Ser. Por isso, toda presença, enquanto desvelamento ou verdade, vigora no diálogo e enquanto diálogo, pois não há desvelamento sem velamento ou verdade sem não-verdade. A presença-destino é o Ser se Essencializando enquanto Linguagem e Verdade. Isso é poiesis enquanto sentido ético, ou seja, o sentido do Ser.
10
- "Hermenêutica tem a ver com Hermes, o mensageiro do destino. Destino é para os homens de todos os tempos o envio do mistério de ser e realizar-se no tempo" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 6.
11
- "Não tem cada um o seu código genético e dentro deste a sua história, a sua travessia? A medida de nosso destino, de nosso próprio, de nossa identidade, é o princÃpio, ou seja, o vigorar da dobra de caos e cosmo" (1).
- Referência:
- CASTRO, Manuel Antônio de. "Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos". In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.
12
- Referência:
- (1) ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 13. e., 1979, p. 165.
13
- "O mito é julgado e descartado a partir do logos, reduzido à razão. E o mito sempre falou do ser humano como pertencente a um genos (de onde se forma a palavra moderna genética). Indicava uma famÃlia, um gênero (formada também de genos), uma etnia. Como famÃlia tinha algo em comum, o genos, mas cada um dentro desse genos recebia um quinhão, a sua “cota†no genos da famÃlia. O nome para esse quinhão foi e é: Moira. A tradução mais tradicional não é quinhão, mas destino" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.
14
- "O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais Ãntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.
15
- Lei é a vida enquanto destino. Quando dizemos "é" já estamos nos movendo na Essência. Mas o que é a Essência para que possamos dizer o que é a Lei, o que é a Vida, o que é o Destino? A Essência da Lei é a Lei da Essência. Nem sempre nos damos conta de que desde que nascemos já estamos vivendo sob o poder da Lei. Porém, ela, nesse domÃnio e poder, toma diferentes faces e dimensões, daà a impressão falsa da liberdade de nossa vontade e de que a lei é algo externo ao que há de mais profundo em nós.
16
- Não se nota que, perante o destino, o tempo deixa de ser uma divisão tricotômica entre passado, presente e futuro. Em verdade, o destino se configura em três questões que são uma e a mesma: vida, morte, tempo. Falar da lei da vida, da morte ou do tempo é ainda se mover na questão radical da lei como destino.
17
- "Jogar a questão e sua solução para a culpa é não querer se defrontar com outra dimensão em que se vive o viver: a vida da vida é um dote, um destino. Todo e qualquer destino já está inscrito no próprio destinar-se do ser como sentido. Receber a vida para morrer não é, repetimos sempre, algo negativo, mas é a lei do destino" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser felizâ€. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 211.
18
- "Neste sentido, por nele agir para que possa agir, a ação do entre é destino. Este entendido não como o previamente escrito que tornasse o homem um tÃtere, e, sim, como o envio do que nele se destina. O homem é o destinatário da liberdade que o destino lhe envia, aviando-o para a travessia da existência" (1).
- Referência:
- (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.
19
- "O destino jamais foi personificado e, em consequência, Moira e Aisa não foram antropomorfizadas: pairam soberanas acima dos deuses e dos homens, sem terem sido elevadas à categoria de divindades distintas. A Moira, o destino, em tese, é fixo, imutável, não podendo ser alterado nem pelos próprios deuses" (1).
- Referência:
- (1) BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 141.
20
- "A pouco e pouco se desenvolveu a ideia de uma Moira universal, senhora inconteste do destino de todos os homens. Essa Moira, sobretudo após as epopeias homéricas, se projetou em três Moiras, que poderÃamos chamar de Queres: Moira determina; as Queres, como sua projeção, fiam o tempo de vida que já foi prefixado e Tânatos (v.), a Morte, comparece, não como agente, mas como executora.
- Essas três Queres, Cloto, Láquesis e Ãtropos, possuem funções especÃficas, de acordo com a etimologia de cada uma delas: CLOTO, em grego Klotho, do verbo klothein, fiar, é a fiandeira por excelência. Segura o fuso e vai puxando o fio da vida; LAQUESIS, em grego Lakhesis, do verbo lankhanein, em sentido lato, sortear, é a que enrola o fio da vida e sorteia o nome de quem vai perecer; ÃTROPOS, em grego Ãtropos, de a (a, alfa privativo), não, e do verbo trepein, voltar, é a que não volta atrás, a inflexÃvel. Sua função é cortar o fio da vida" (1).
- Referência:
- (1) BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário mÃtico-etimológico da Mitologia Grega, volume II, J-Z, 3.e. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000, p. 141.
21
- Para compreender e apreender o que é o olhar, o melhor caminho é pensar a diferença ontológica entre olhar e ver. Concretamente, um exemplo clássico pode nos fazer pensar essa diferença: quando Édipo, o famoso personagem do mito de Édipo, pensado por Sófocles em sua famosa obra Rei Édipo, tinha olhos não penetrara e nem vira os caminhos de seu destino. É que o olho é funcional, faz parte do nosso organismo que diz respeito ao olhar, não necessariamente ao ver, pois foi quando arrancou os olhos que passou a ver na luz da verdade os caminhos e descaminhos do seu destino. O olho diz respeito aos sentidos, a visão diz respeito ao sentido. Não basta olhar, é necessário ver. E é nesta distinção fundamental que os gregos pensaram a essência da aletheia, desvelamento ou verdade. Por isso, este diz respeito à manifestação do sentido do destino. E é nesse horizonte que se diferencia radicalmente a verdade da obra de arte e a verdade funcional da lógica, que fundamenta a ciência fundada na razão.
22
- "E a grande questão do mito do Canto das Sereias é a questão do destino do homem em sua travessia, é a grande questão para Ulisses, que vive no limiar do sentido do agir dos deuses e no sentido do agir do homem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 162.
23
- "Pensa-se que destino é o que a razão, fonte do livre agir do ser humano, não podia determinar nem controlar. Pela visão racionalista, o destino se opõe à liberdade humana. No existir o ser humano deve-se dar livremente a sua essência, o seu genos enquanto o seu quinhão. Nessa visão racionalista, a existência precede e determina a essência. O existir enquanto o como é deve determinar livremente o que é. O homem não tem um destino, dá-se um destino. Esta foi a utopia moderna, esquecida dos ensinamentos de mito de Édipo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.
24
- "Fora da tradição metafÃsica, a questão do destino se coloca dentro da questão fundamental da Totalidade harmônica do Cosmos, do Ser. Mas o que é o Ser? Não pode ser um conceito nem fundamento, mas o que vigora como silêncio, sentido, linguagem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163.
25
- "O Destino em seu sentido cósmico, mÃtico e poético está basicamente ligado a duas uniões de Zeus, o novo soberano do Cosmos, porém ultrapassa o próprio Zeus, na medida em que tem uma origem dupla, e remete também para algo que precede o próprio Zeus. Na cultura grega, o destino é representado pelas Môirai, traduzidas para o latim como Parcas" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163.
26
- "Como as Hôrai, e não podia ser de outra maneira, as Môirai também são filhas de Zeus e Themis. Elas representam a Fatalidade sob o aspecto positivo de configuração e ordenação dos destinos dos mortais, segundo um peso e medida divinos. As Môirai “a quem mais deu honra o sábio Zeus†(Teogonia, T. v. 900) (2), fixaram aos homens mortais os seus lotes de bem e de mal. Sob o aspecto negativo, essas Môirai são filhas da Noite (T. vv. 217-9) e representam a sofrida experiência do restrito e inexorável lote de bem e de mal a que cada homem tem que se submeter como seu único destino (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.
- (2) Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992.
27
- "O indivÃduo vale e se define pelo seu génos, de tal maneira que “todas as ações, decisões, falhas e êxitos do indivÃduo têm fonte não na individualidade dele, mas nessa natureza supra-individual que caracteriza o génosâ€(1). Entendido o agir de cada um nesse horizonte, pode-se compreender o que significa propriamente o destino no pensamento mÃtico. Cada génos dá origem a uma linhagem. Por exemplo, a linhagem de Zeus. Esta, por sua vez, se estrutura em grupos familiares menores, mas estes compartilham a natureza comum da linhagem, enquanto origem, génos (2).
- Referências:
- (1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ----. Teogonia. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 78
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.
28
- "O entre do diálogo é a possibilidade do diálogo como mundo, como o sentido do eu e do tu que dialogam, mas também do que no diálogo se dialoga. Esse “entre†aparece na terceira estrofe do poema Autopsicografia (de Fernando Pessoa) como entre-ter. Este, porém, surge da força que previamente nos estabelece o caminho, ao girarmos nas calhas de roda. Estas são uma imagem-questão do que chamamos de há muito e desde sempre: destino. Com ele advém o sentido profundo e ambÃguo de “girar a entreterâ€. E aqui podemos “ler†o “entre-ter†num outro sentido mais profundo: no jogar do destino somos tidos e entre-tecidos no horizonte do “entreâ€: o logos abismal de todas as identidades. O que no diálogo se entretece é o que somos como mundo, não aquele em que já estamos lançados, mas o que no entretecer se tece como aprender e ensinar, ou seja, como o que devemos tecer na teia da vida, isto é, ser o que já desde sempre somos (destino)" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 30.
29
- "Seu eu incorporara-se na unidade. Foi nessa hora que Sidarta cessou de lutar contra o Destino. Cessou de sofrer. No seu rosto florescia aquela serenidade do saber, à qual já não se opunha nenhuma vontade, que conhece a perfeição, que está de acordo com o rio dos acontecimentos e o curso da vida: a serenidade que torna suas as penas e as ditas de todos, entregue à corrente, pertencente à unidade" (1).
- Referência:
- (1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 113.
30
- "O destino é a medida e fonte necessária de nossa liberdade. Só o poético realiza a essência do humano: libertação. Sem o poder do não-querer, o destino, não há a vontade de poder querer para o ser humano" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 270.
31
- "Só na dobra vigorante em todo ato, o sentido do ser, como sentido da linguagem, torna-se tanto mais poético quanto mais ético. Sendo o poético-ético o vigorar do ser ao dar-se como linguagem.
- Neste sentido, estamos poeticamente sempre a caminho da linguagem. E, portanto, tal caminho será tanto mais ético quanto mais poético. Caminho diz o agir a partir do sentido da linguagem como sentido do ser e nele existir. Sentido, em sua proveniência, diz o caminho originário de onde se parte e aonde já desde sempre se vai chegar. Já desde sempre se chega porque no começo está o fim, o consumar. O caminho enquanto sentido é o destino, nosso destino. Enquanto caminho de necessidade e liberdade, nosso destino, isto é, para o que já desde sempre estamos destinados, é o apropriar-nos do que nos é próprio: o que somos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
32
- "Ah, porque aquela outra é a lei, escondida e visÃvel, mas não achável, do verdadeiro viver: que para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em teatro, para cada representador - sua parte, que antes já foi inventada, num papel..." (1).
- Referência:
- ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 366.
33
- "Por isso, Édipo, exilado e cego, acompanhado apenas por AntÃgona, sua filha, perde-se em Colona, no bosque sagrado das Eumênides. Lá poderá descansar na felicidade dos bons. Já atravessou os limites da "vida inconstante": perdeu o trono, a esposa, tudo. Os sofrimentos mostraram-lhe que a vontade consciente de nada vale contra os desÃgnios divinos, a ordem cósmica que regula o mundo dos mortais" (1).
- Referência:
- (1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548.
34
- "A nossa propriedade nos advém desde que somos o que já desde sempre somos. Nesse sentido, o que nos é próprio, o que já desde sempre somos, é o que se chama, em grego, Moira, nosso próprio, nosso quinhão do ser. A tradução tradicional para o português é destino. Este, portanto, não depende de uma ação causal, não é o resultado do agir do saber das intenções da consciência. Não é um eu da consciência e o resultado de ações causais, por isso, o que cada um é, o seu próprio, independe do meio e das influências de ordem social ou psÃquica" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo. Ensaio não publicado.
35
- "Desse modo o esquecimento do ser se dá num caminho duplo e ambÃguo, na caminhada do Ocidente: esqueceu-se o vigorar do mÃtico e do pensamento. Nesse sentido, devemos ter sempre em mente que não devemos procurar Platão, mas o que ele procurava. Nenhum mito, nenhuma obra de pensamento dá conta do que já o pensador Heráclito, no fragmento 16, propôs como questão para o pensar:
- “Face ao que nunca declina ninguém pode manter-se encobertoâ€.
- Não há doutrina ou teoria ou conhecimento que dê conta do “que nunca declinaâ€. E jamais poderemos diante desse acontecer incessante e sempre inaugural manter-nos “encobertosâ€. Para nós não há outro destino senão procurar o que todos os grandes pensadores e poetas procuraram em tudo que pensaram e poetaram. Isso exige de nós o termos de nos defrontar com nosso destino, com o que em nós, em cada um, acontece inauguralmente. É o mesmo, é a unidade das diferenças, pois, não podemos esquecer, só há uma Lei e um Saber, a unidade da memória que a todos reúne e dá sentido. Essa unidade é Zeus, a Luz irradiante que congrega luminosidade e obscuridade, noite e dia, Eros e Thánatos. Eis nossa moira" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 170.
37
- "Ora, a palavra mythos forma-se do verbo grego mytheomai, que significa: abrir, manifestar pela palavra. Por isso, toda poiesis é radicalmente mÃtica. A questão fundamental do mito e da poÃesis, da harmonia Cósmica e, nela, do humano do ser humano, é o destino enquanto Ser e Não-ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 171.
38
- "Diante do perigo mortal, Ulisses, no relato aos seus companheiros, começa acentuando dois aspectos interligados e fundamentais: o saber, o tomar consciência, e o destino que implica esse saber. De novo, não é um saber como qualquer outro saber, é um saber que abre para o que o destino é. No destino dá-se a dobra de saber e ser. O vigorar desta dobra é a essência do agir. Nesta acontece o destino que nos foi destinado. É por isso que não é a vontade por meio da razão que age, mas o querer poder do destino. E aqui o destino é o próprio mito enquanto saber. Experienciar o destino é experienciar o mito, e experienciar o mito é experienciar o saber. Saber é tomar consciência do destino e realizá-lo em nossas escolhas" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 172.
39
- "O advento e a possibilidade da Escuta não é fruto de um desejo de Ulisses, isto é, nosso. Podemos ou não apenas acolhê-la. É um poder impotente, porque o acolher não é uma questão de vontade, mas de acolhimento do destino. Este é a via sinuosa de querer e não-querer, melhor de querer não-querer e de não-querer querer. No destino não está em jogo algo que nos é exterior, mas a realização do próprio. A via do impróprio nos faz sofrer porque nos lança no esquecimento do próprio e na aparência de ser o que não somos. Podemos mentir e nos enganar muito, mas não podemos fazer isso o tempo todo. Há sempre o kairós, instante de verdade que a cada um, no mais Ãntimo de seu Ãntimo, se revela e manifesta" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 176.
40
- "Édipo é o próprio ser humano como questão. Ele não tem ascendência divina, não é um deus. No entanto, nele comparecem todas as questões essenciais em que todo ser humano se vê envolvido. Mas não é um ser humano abstrato, uma essência que está não se sabe onde. Não. A concreticidade de sua realidade está no agir constante e ambÃguo pelo qual busca o sentido do que ele é em meio ao enigma do real, do qual ele é participante indissolúvel. Quanto mais Édipo (todo ser humano) procura fugir do destino mais ele o realiza. Ele está sempre “entre†o agir da sua vontade e inteligência, e o agir da vontade e saber da Moira (destino). Todo agir essencial do ser humano é ambÃguo. Ele é sempre um ser-do-entre" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 22.
41
- "Tentando afirmar sua vontade e razão como “subjetividade†livre, Édipo, como todo ser humano, tenta evitar o destino. Cada um vive dessa e nessa ambiguidade. É que queremos e não queremos o destino, sabemos e não sabemos o destino. Por isso, o destino é uma questão. É que somos e não-somos. Nisso, esse “e†misterioso se torna o “lugar†que faz do homem um ser-do-entre (Da-sein)" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23.
42
- " Durante um momento, nossas vidas navegam a favor ou contra a corrente. Porém, é a corrente a que decide nosso destino " (1).
- Esta fala inicia o filme e é dita pela personagem principal que dá nome ao filme: Sofie. É um filme denso e muito rico de questões. Sobressai a questão do Genos, centralizado numa famÃlia judia e seus costumes. Mostra que essencialmente o mais importante é o ser humano. Porém, a ligação de cada um com a famÃlia é uma das linhas mestras tratada. Sofie é uma personagem densa que, no final, em relação ao filho, consegue se libertar e deixa o filho seguir a sua vontade e seu destino. Porém, isso não aconteceu com ela.
- Referência:
- (1) Filme Sofie. Direção e Roteiro de Liv Ullmann, 1992.
43
- "Como podemos descobrir o que o destino nos reserva? Só consultando os druidas, profetas ou poetas. Os druidas impressionaram os visitantes romanos com sua capacidade de prever o futuro observando o voo dos pássaros, as fases da Lua ou o movimento das estrelas. As mulheres também eram videntes e muitas vezes eram capazes de prever o resultado das batalhas e o destino dos heróis. E todo rei celta também tinha um poeta versado na arte de compor versos proféticos" (1).
- Referência:
- (1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. "Destino e conhecimento do futuro". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 83.
44
- "Existir tanto como humano e quanto essência do humano é interpretar-se como o que é, ou seja, no ter sido para chegar a ser. Consumação do seu sentido a pôr-se a caminho do pensar. Destino, próprio, apropriação" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 259.
45
- Questionar é pensar. E pensar é o agir do ser. Somente somos agindo, porque somente temos nosso próprio na medida em que é uma doação do ser. A essa doação os gregos denominaram: moira, destino, próprio, identidade, singularidade, pessoa.
46
- "Navegar pelo oceano desconhecido é lançar-se nas mãos do destino. O destino, contudo, nunca é meramente neutro - sempre existe uma dimensão moral. A própria vida é uma busca e o buscador dedicado e consciente da verdade e do bem é recompensado da maneira apropriada no devido tempo" (1).
- Referência:
- (1) HOOD, Juliette. "Como Viver e como Morrer". O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 69.