Verdade
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : A [[tese]] central de Heidegger em ''A origem da obra de arte'' (1) é a de que [[arte]] é [[verdade]] e a [[obra]] é a [[verdade]] operando. Mas então o que Heidegger entende por [[verdade]] é a [[realidade]] eclodindo, desvelando-se na [[disputa]] com o [[velar-se]]. Por isso, à [[verdade]] corresponderá a [[não-verdade]]. Então [[verdade]] enquanto [[desvelamento]] é a [[realidade]] se dando como [[presença]]. E [[presença]] é sempre [[corpo]] denso e [[inteiro]], tendendo à [[plenitude]], à esfericidade. E isso é o [[ser humano]]: [[corpo]]-[[presença]] [[entre]]-[[sendo]]. | + | : A [[tese]] central de [[Heidegger]] em '''A [[origem]] da [[obra de arte]]''' (1) é a de que [[arte]] é [[verdade]] e a [[obra]] é a [[verdade]] operando. Mas então o que [[Heidegger]] entende por [[verdade]] é a [[realidade]] eclodindo, desvelando-se na [[disputa]] com o [[velar-se]]. Por isso, à [[verdade]] corresponderá a [[não-verdade]]. Então [[verdade]] enquanto [[desvelamento]] é a [[realidade]] se dando como [[presença]]. E [[presença]] é [[sempre]] [[corpo]] denso e [[inteiro]], tendendo à [[plenitude]], à esfericidade. E isso é o [[ser humano]]: [[corpo]]-[[presença]] [[entre]]-[[sendo]]. |
- | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''A Origem da obra de arte | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''A [[Origem]] da [[obra de arte]]. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70 / Almedina-Brasil, 2010'''. |
: '''Ver também:''' | : '''Ver também:''' | ||
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== 2 == | == 2 == | ||
- | : O [[verdadeiro]] diz sempre respeito ao [[sendo]] em seus [[atributos]]. A [[verdade]] diz originariamente respeito ao [[Ser]] do [[sendo]], pela e na qual o [[sendo]] chega a [[Ser]] o que [[é]]: [[sendo]] do [[Ser]]. | + | : O [[verdadeiro]] diz [[sempre]] respeito ao [[sendo]] em seus [[atributos]]. A [[verdade]] diz [[originariamente]] respeito ao [[Ser]] do [[sendo]], pela e na qual o [[sendo]] chega a [[Ser]] o que [[é]]: [[sendo]] do [[Ser]]. |
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- | :Todas as verdades [[enunciado|enunciadas]] e anunciadas foram e são [[errância|errâncias]] [[originário|originárias]]. | + | : [[Todas]] as [[verdades]] [[enunciado|enunciadas]] e anunciadas foram e são [[errância|errâncias]] [[originário|originárias]]. |
- | :- [[Manuel Antônio de Castro]] | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
== 4 == | == 4 == | ||
- | :"A verdade é, portanto, uma [[dimensão]], isto é, a possibilidade do [[real]] como dinâmica se estabelecer e, em se fazendo [[presença]], desencadear as possibilidades de [[medida]], não como conversão a uma convenção pré-estabelecida, mas a instauração da possibilidade do real fazer-se medida de si mesmo" (1). | + | : "A [[verdade]] é, portanto, uma [[dimensão]], isto é, a [[possibilidade]] do [[real]] como dinâmica se estabelecer e, em se fazendo [[presença]], desencadear as [[possibilidades]] de [[medida]], não como conversão a uma convenção pré-estabelecida, mas a instauração da [[possibilidade]] do [[real]] fazer-se medida de si mesmo" (1). |
- | :Referência: | + | : Referência: |
- | :(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético | + | : (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005''', p. 78. |
== 5 == | == 5 == | ||
- | :"A exigência do | + | : "A exigência do verossímil é que, no seu domínio, a correspondência esteja correta, certa. Para o que é verossímil basta a [[certeza]]. No domínio da [[verdade]], a [[certeza]] não é suficiente. O [[verdadeiro]] não é o correto, o [[certo]]. A [[verdade]] necessita do [[movimento]] e da [[memória]] para que se estabeleça como [[dimensão]], [[unidade]] e desencadeador de [[realidade]]. [[Verdade]] é des-velar o que se vela. É desocultar o que necessariamente se oculta. A [[dinâmica]] da [[verdade]] não pretende depurar a [[realidade]] de seus [[processos]] de ocultação. A [[verdade]] vive do [[oculto]], pois é este, e somente este que necessariamente tende a se mostrar, a se des-ocultar" (1). |
- | :Referência: | + | : Referência: |
- | :(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético | + | : (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005''', p. 86. |
== 6 == | == 6 == | ||
- | : A [[verdade]] pode se referir ao real enquanto desvelamento e velamento e aí então ela se realiza enquanto sentido e essência da ''[[phýsis]]'' como [[agir]]/''[[poíesis]]''. Mas também pode referir-se à [[proposição]] e então será verdadeira ou falsa dentro do estreito ciclo de relação do código, onde verdadeiro e falso dizem respeito ao [[significado]]. Não há significação fora do código e da proposição. Esta verdade do e como significado vive das relações inerentes: | + | : A [[verdade]] pode se referir ao [[real]] enquanto [[desvelamento]] e [[velamento]] e aí então ela se realiza enquanto [[sentido]] e [[essência]] da ''[[phýsis]]'' como [[agir]]/''[[poíesis]]''. Mas também pode referir-se à [[proposição]] e então será [[verdadeira]] ou [[falsa]] dentro do estreito ciclo de [[relação]] do [[código]], onde [[verdadeiro]] e [[falso]] dizem respeito ao [[significado]]. Não há [[significação]] fora do [[código]] e da [[proposição]]. Esta [[verdade]] do e como [[significado]] vive das [[relações]] inerentes: |
- | : a) À proposição; | + | : a) À [[proposição]]; |
- | : b) Ao período; | + | : b) Ao [[período]]; |
- | : c) Ao contexto. | + | : c) Ao [[contexto]]. |
- | : Nem sempre | + | |
- | : A Linguagem fala. Isto implica a ''poíesis'', o verbo como sentido e verdade como ''[[alétheia]]''. Aí a rede se dimensiona no horizonte do vazio. E as relações deixam de ser só epistêmicas para serem poético-ontológicas. A Linguagem fala dizendo: a ''poíesis''/verbo/Hermes fala. | + | : Nem [[sempre]] se parte do [[significado]] da [[proposição]] em relação ao [[código]]. Um tal [[significado]] e uma tal [[verdade]] é necessariamente relacional aos predicativos e à [[representação]] do que se diz na [[enunciação]] e no [[enunciado]]. Olhando uma [[rede]]/[[texto]], notamos que cada nó rizomático tem múltiplas linhas que se originam nele mas que constituem relações de manifestação predicativa do que é inerente ao nó. Essas [[relações]] nunca levam em consideração os [[vazios]] onde estão suspensas as linhas/[[relações]]. Mas é do [[vazio]] que surgem os [[sentidos]]. As [[relações]] [[entre]] os nós formam os [[períodos]] e os [[textos]] e o todo como [[discurso]]. Um [[discurso]] resulta de uma linearidade que pressupõe o [[ideológico]] que dá [[origem]] a [[diferentes]] [[discursos]]. Isso é motivado pelas diferentes [[disciplinas]] e pela redução da ''[[poíesis]]'' à ''[[práxis]]''. Porém, a ''[[práxis]]'' pressupõe a ''[[poíesis]]'' e a reduz a um [[aprendizado]]. À ''[[práxis]]'' não é [[possível]] [[ser]] a ''[[poíesis]]'', como não é [[possível]] o [[discurso]] [[cronológico]] [[ser]] o [[tempo]]-''currere''-[[linguagem]]. |
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+ | : A [[Linguagem]] fala. Isto implica a ''[[poíesis]]'', o [[verbo]] como [[sentido]] e [[verdade]] como ''[[alétheia]]''. Aí a rede se dimensiona no [[horizonte]] do [[vazio]]. E as [[relações]] deixam de ser só epistêmicas para serem poético-ontológicas. A [[Linguagem]] fala dizendo: a ''[[poíesis]]''/[[verbo]]/[[Hermes]] [[fala]]. | ||
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== 7 == | == 7 == | ||
- | :"Nosso [[conceito]] de verdade e o conceito grego da verdade tiram sua respectiva ''inteligibilidade intuitiva'' de ''áreas'' e ''conjunturas de relações intuitivamente diferentes''. | + | : "Nosso [[conceito]] de [[verdade]] e o [[conceito]] [[grego]] da [[verdade]] tiram sua respectiva ''inteligibilidade intuitiva'' de ''áreas'' e ''conjunturas de relações intuitivamente diferentes''. "A-letheia", [[descobrimento]], provém do [[feito]] e do [[fato]] de encobrir, [[velar]], respectivamente, [[desvelar]], [[descobrir]]. Correção provém do [[feito]] e do [[fato]] de reger uma [[coisa]] por outra, através de [[medida]] e [[medir]]. [[Desvelar]] e [[medir]] são feitos e [[fatos]] inteiramente [[diferentes]]" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''Ser e verdade | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Ser]] e [[verdade]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 2007''', p. 111. |
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- | : (1) LISPECTOR, Clarice. ''Água viva | + | : (1) LISPECTOR, Clarice. '''[[Água]] viva'. Rio de Janeiro: Artenova, 1973''', p. 36. |
== 9 == | == 9 == | ||
- | : "Ler ''Alice'', em consequência, nos ajuda a entender a potência do [[pensamento]] criativo e não normativo. Para a verdade, as [[coisas]] podem ser [[úteis]] tanto do lado direito quanto do avesso. A verdade não tem bom senso. A verdade é selvagem e paradoxal - e nem sempre suportamos isso. Pois Alice com suas aventuras sem pé nem cabeça, nos ajuda a suportar. Volta e meia, a menina se pergunta quando as coisas voltarão a [[acontecer]] "de forma natural". O que ela descobre, não sem alguma [[dor]], é que não existe tal forma estável e sensata de [[existir]]" (1). O [[autor]] se refere à [[obra]] de Lewis Carroll ''Alice no país das maravilhas''. | + | : "[[Ler]] '''Alice''', em consequência, nos ajuda a [[entender]] a [[potência]] do [[pensamento]] [[criativo]] e não normativo. Para a [[verdade]], as [[coisas]] podem [[ser]] [[úteis]] tanto do lado direito quanto do avesso. A [[verdade]] não tem bom senso. A [[verdade]] é selvagem e [[paradoxal]] - e nem [[sempre]] suportamos isso. Pois '''Alice''' com suas aventuras sem pé nem cabeça, nos ajuda a suportar. Volta e meia, a menina se [[pergunta]] quando as [[coisas]] voltarão a [[acontecer]] "de [[forma]] [[natural]]". O que ela descobre, não sem alguma [[dor]], é que não existe tal [[forma]] estável e sensata de [[existir]]" (1). |
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+ | : O [[autor]] se refere à [[obra]] de Lewis Carroll '''Alice no país das maravilhas'''. | ||
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- | : - | + | : - Manuel Antônio de Castro |
- | : (1) CASTELLO, José. | + | : (1) CASTELLO, José. '''Por que ler 'Alice'?. In: O Globo, Caderno "Prosa e verso", 23-05-2015''', p. 5. |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte | + | : (1) HEIDEGGER, Martin. '''A [[origem]] da [[obra de arte]]. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010''', p. 207 . |
== 12 == | == 12 == | ||
- | : "Na conclusão do livro de Heidegger ''A origem da [[obra de arte]]'', o pensador-poeta diz: “Na frase “Pôr-em-obra-da [[verdade]]”, em que fica indeterminado, porém, determinável de que modo quem ou o que “põe”, ''vela-se a [[referência]] do [[Ser]] e da [[essência]] [[humana]]'', e tal [[referência]], nesta formulação, já é pensada inadequadamente...” (Heidegger: 2010, p. 221. Grifo meu) (1). | + | : "Na conclusão do livro de Heidegger '''A origem da [[obra de arte]]''', o [[pensador]]-[[poeta]] diz: |
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+ | : “Na frase “Pôr-em-obra-da [[verdade]]”, em que fica indeterminado, porém, determinável de que modo quem ou o que “põe”, ''vela-se a [[referência]] do [[Ser]] e da [[essência]] [[humana]]'', e tal [[referência]], nesta formulação, já é pensada inadequadamente...” ([[Heidegger]]: 2010, p. 221. Grifo meu) (1). | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, ''Dialética em questão I | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Dialética]] e [[diálogo]]: A [[verdade]] do [[humano]]". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, '''[[Dialética]] em [[questão]] I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013''', p. 9. |
== 13 == | == 13 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''Introdução à metafísica | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Introdução à [[metafísica]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969''', p. 139. |
== 14 == | == 14 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) ''Os ditados do sábio Cadoc'' (VI século). Textos apresentados por Jean Markale. Paris: Albin Michel, Cadernos de Sabedoria, 2004, p. 13. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro. | + | : (1) '''Os ditados do sábio Cadoc''' (VI século). Textos apresentados por Jean Markale. Paris: Albin Michel, '''Cadernos de Sabedoria''', 2004, p. 13. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro. |
== 17 == | == 17 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: ''Ensaios e conferências | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "A [[questão]] da [[técnica]]". In: '''[[Ensaios]] e [[conferências]]. Petrópolis: Vozes, 2002''', p. 27. |
== 18 == | == 18 == | ||
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- | : (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ' | + | : (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal'''. Já faleceu. |
== 19 == | == 19 == | ||
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: [[HEIDEGGER]], Martin. '''A [[origem]] da [[obra de arte]]. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010''', p. XIII. |
== 21 == | == 21 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HESSE, Hermann. ' | + | : (1) HESSE, Hermann. '''Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003''', p. 117. |
== 22 == | == 22 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. ''A caminho da Linguagem | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "A [[linguagem]]". In: ----. '''A caminho da [[Linguagem]]. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003''', p. 11. |
== 23 == | == 23 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) YAWANAWÁ, Putanny - Pajé. '''A cura do mundo é pela espiritualidade, e ela é coletiva | + | : (1) YAWANAWÁ, Putanny - Pajé. '''A [[cura]] do [[mundo]] é pela espiritualidade, e ela é coletiva. Entrevista a ''Maria Fortuna''. In: ''O Globo''. Segundo Caderno, Quarta-feira, 01-01-2020''', p. 2. |
== 24 == | == 24 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) Evangelho de João, cap. 14, versículo 6, p. 1293. Bíblia Sagrada. Petrópolis/RJ: Vozes, 1989. Tradução do grego: Mateus Hoepers. Revisor Literário: Emmanuel Carneiro Leão. | + | : (1) Evangelho de João, cap. 14, versículo 6, p. 1293. '''Bíblia [[Sagrada]]. Petrópolis/RJ: Vozes, 1989. Tradução do grego: Mateus Hoepers. Revisor Literário: Emmanuel Carneiro Leão'''. |
== 25 == | == 25 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Liberdade]], [[vontade]] e uso de [[drogas]]". In: ---. '''[[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011''', p. 276. |
== 26 == | == 26 == | ||
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- | : A [[proposição]] será desde a [[sofística]] e o [[Helenismo]] o [[lugar]] da [[verdade]]. E algo será [[verdadeiro]] quando houver ''homoiosis'' [[entre]] ''o que é'' e ''o como se conhece'' e ''o como se diz''. Homoiosis foi traduzida para o [[latim]] como ''adaequatio'', [[adequação]]. A [[verdade]] passará a [[ser]] a [[adequação]] [[entre]] [[forma]] e [[conteúdo]] (razão), entre [[enunciado]] e [[enunciação]] (discurso), [[entre]] [[sujeito]] e [[predicativo]], na [[proposição]]. | + | : A [[proposição]] será desde a [[sofística]] e o [[Helenismo]] o [[lugar]] da [[verdade]]. E algo será [[verdadeiro]] quando houver ''homoiosis'' [[entre]] ''o que é'' e ''o como se conhece'' e ''o como se diz''. ''Homoiosis'' foi traduzida para o [[latim]] como ''adaequatio'', [[adequação]]. A [[verdade]] passará a [[ser]] a [[adequação]] [[entre]] [[forma]] e [[conteúdo]] (razão), entre [[enunciado]] e [[enunciação]] (discurso), [[entre]] [[sujeito]] e [[predicativo]], na [[proposição]]. |
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317. |
== 29 == | == 29 == | ||
Linha 236: | Linha 243: | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 51. |
== 30 == | == 30 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: | + | : CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. '''Tempos de Metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 136. |
== 31 == | == 31 == | ||
Linha 252: | Linha 259: | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ... '''Tempos de metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 66. |
== 32 == | == 32 == | ||
- | : "Santo Agostinho, um angustiado pela [[procura]] da [[verdade]], disse que [[Deus]] é mais íntimo ao [[ser humano]] do que o [[próprio]] [[ser humano]] é íntimo a si mesmo. Então a [[pergunta]] mais | + | : "Santo Agostinho, um angustiado pela [[procura]] da [[verdade]], disse que [[Deus]] é mais íntimo ao [[ser humano]] do que o [[próprio]] [[ser humano]] é íntimo a si mesmo. Então a [[pergunta]] mais angustiante não é se [[Deus]] existe ou não existe. A [[questão]] está no [[fato]] de que [[Deus]] assumiu a [[figura]] d’'''a''' [[verdade]], pois, como [[Deus]], não poderia ser '''uma''' [[verdade]]. Negar a [[existência]] da [[verdade]] pela [[existência]] de outra implica a [[negação]], muitas vezes e para muitos, de [[Deus]]" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: ' | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três [[pragas]] do século XXI". In: '''Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007''', p. 19. |
== 33 == | == 33 == | ||
Linha 268: | Linha 275: | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: ' | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três [[pragas]] do século XXI". In: '''Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007''', p. 19. |
+ | |||
+ | == 34 == | ||
+ | : "É que as [[obras]] [[religiosas]] não são [[filosóficas]], são muitas vezes [[obras]] [[mítico]]-[[poéticas]], como por exemplo, os ''Salmos'', o ''Cântico dos cânticos'', de Salomão, o ''Gênesis''. Porém, as [[obras]] [[religiosas]] são encaradas a partir da [[questão]] da [[verdade]] e, por isso, a [[verdade]] que elas dizem, manifestam, precisam das [[reflexões]] [[filosóficas]] para que sejam compreendidas. Pois quem trata da [[questão]] da [[verdade]], explicitamente, é a [[filosofia]]. Toda a [[filosofia]] se tece em torno da grande e [[fundamental]] [[questão]] da [[verdade]]. Hoje e desde [[sempre]] o modo como se encara e conduz a [[questão]] da [[verdade]] é [[filosófica]]. Claro, depois, essa tarefa coube à [[teologia]]. Mas não há [[teologia]] sem [[filosofia]], nunca houve nem haverá" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: ---. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015''', p. 125. | ||
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+ | == 35 == | ||
+ | : "Enquanto [[imagem-palavra]], a [[imagem]] é [[linguagem]] e, como a [[linguagem]], não-é. A [[imagem-palavra]]-''[[poiesis]]'' não pode ser nunca determinada como um [[ente]], porque não se lhe pode atribuir um [[limite]]. E não se lhe pode atribuir um [[limite]] porque é a própria ''[[poiesis]]'' poetando, e isso é o [[ser]] se [[doando]] como [[desvelamento]]. A [[imagem-questão]] é ''[[poiesis]]'' de [[experienciação]] e nunca este ou aquele [[ente]]. [[Capitu]], como [[imagem]], não é, porque [[Capitu]] é [[imagem-poético]]-[[manifestativa]] de [[questões]], é [[imagem-questão]]. Como [[imagem]] e [[verbo]] toda [[obra de arte]] é a dinâmica [[poética]] (tautologia) de [[manifestação]] do [[real]] em sua [[verdade]]. ''[[Hermes]]'', [[Palavra]], [[Verbo]], [[Imagem]], [[Verdade]] são ''[[poiesis]]''" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''[[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005''', p. 18. | ||
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+ | == 36 == | ||
+ | : "O surgimento das duas irmãs se dá do mesmo modo: o suceder e preceder pressupõem o [[tempo]]/''[[poiesis]]''/[[linguagem]]. Estes aqui mostram duas coisas: um [[desvelamento]] e [[velamento]]. A estes chamou o [[mito]] ''[[Aletheia]]'', ou seja, [[verdade]]. Mas este [[desvelamento]] e [[velamento]] constitui [[evidentemente]] a [[vida]] e a [[morte]]. [[Verdade]], [[vida]], [[morte]], [[luz]], [[trevas]] não será este o itinerário e [[travessia poética]] de [[Édipo]], do [[homem]]? Não será este o nosso itinerário, a nossa [[travessia]]? Mas até onde ela será [[poética]]? Ou seja, até onde fazemos do [[viver]] uma [[experienciação]] de [[ser]]?" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''[[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005''', p. 27. | ||
+ | |||
+ | == 37 == | ||
+ | : "Por ser a [[água]] a [[essência]] da [[vida]] e também uma poderosa [[fonte]] de [[sabedoria]] e [[verdade]], acessível a [[poetas]], [[druidas]], [[reis]] e [[heróis]], o caldeirão e a taça, receptáculos desse fluido [[mágico]], têm, eles próprios, [[poder]] [[espiritual]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) HOOD, Juliette. '''O [[livro]] celta da [[vida]] e da [[morte]]. "Receptáculos da verdade". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011''', p. 76. | ||
+ | |||
+ | == 38 == | ||
+ | : O [[operar]] da [[verdade]] é o [[destino]] do [[ser]] de cada um fazendo-se [[presença]]. | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
Edição atual tal como 20h59min de 24 de Outubro de 2024
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- A tese central de Heidegger em A origem da obra de arte (1) é a de que arte é verdade e a obra é a verdade operando. Mas então o que Heidegger entende por verdade é a realidade eclodindo, desvelando-se na disputa com o velar-se. Por isso, à verdade corresponderá a não-verdade. Então verdade enquanto desvelamento é a realidade se dando como presença. E presença é sempre corpo denso e inteiro, tendendo à plenitude, à esfericidade. E isso é o ser humano: corpo-presença entre-sendo.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70 / Almedina-Brasil, 2010.
- Ver também:
- * Alétheia
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- O verdadeiro diz sempre respeito ao sendo em seus atributos. A verdade diz originariamente respeito ao Ser do sendo, pela e na qual o sendo chega a Ser o que é: sendo do Ser.
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- Todas as verdades enunciadas e anunciadas foram e são errâncias originárias.
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- "A verdade é, portanto, uma dimensão, isto é, a possibilidade do real como dinâmica se estabelecer e, em se fazendo presença, desencadear as possibilidades de medida, não como conversão a uma convenção pré-estabelecida, mas a instauração da possibilidade do real fazer-se medida de si mesmo" (1).
- Referência:
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- "A exigência do verossímil é que, no seu domínio, a correspondência esteja correta, certa. Para o que é verossímil basta a certeza. No domínio da verdade, a certeza não é suficiente. O verdadeiro não é o correto, o certo. A verdade necessita do movimento e da memória para que se estabeleça como dimensão, unidade e desencadeador de realidade. Verdade é des-velar o que se vela. É desocultar o que necessariamente se oculta. A dinâmica da verdade não pretende depurar a realidade de seus processos de ocultação. A verdade vive do oculto, pois é este, e somente este que necessariamente tende a se mostrar, a se des-ocultar" (1).
- Referência:
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- A verdade pode se referir ao real enquanto desvelamento e velamento e aí então ela se realiza enquanto sentido e essência da phýsis como agir/poíesis. Mas também pode referir-se à proposição e então será verdadeira ou falsa dentro do estreito ciclo de relação do código, onde verdadeiro e falso dizem respeito ao significado. Não há significação fora do código e da proposição. Esta verdade do e como significado vive das relações inerentes:
- a) À proposição;
- b) Ao período;
- c) Ao contexto.
- Nem sempre se parte do significado da proposição em relação ao código. Um tal significado e uma tal verdade é necessariamente relacional aos predicativos e à representação do que se diz na enunciação e no enunciado. Olhando uma rede/texto, notamos que cada nó rizomático tem múltiplas linhas que se originam nele mas que constituem relações de manifestação predicativa do que é inerente ao nó. Essas relações nunca levam em consideração os vazios onde estão suspensas as linhas/relações. Mas é do vazio que surgem os sentidos. As relações entre os nós formam os períodos e os textos e o todo como discurso. Um discurso resulta de uma linearidade que pressupõe o ideológico que dá origem a diferentes discursos. Isso é motivado pelas diferentes disciplinas e pela redução da poíesis à práxis. Porém, a práxis pressupõe a poíesis e a reduz a um aprendizado. À práxis não é possível ser a poíesis, como não é possível o discurso cronológico ser o tempo-currere-linguagem.
- A Linguagem fala. Isto implica a poíesis, o verbo como sentido e verdade como alétheia. Aí a rede se dimensiona no horizonte do vazio. E as relações deixam de ser só epistêmicas para serem poético-ontológicas. A Linguagem fala dizendo: a poíesis/verbo/Hermes fala.
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- "Nosso conceito de verdade e o conceito grego da verdade tiram sua respectiva inteligibilidade intuitiva de áreas e conjunturas de relações intuitivamente diferentes. "A-letheia", descobrimento, provém do feito e do fato de encobrir, velar, respectivamente, desvelar, descobrir. Correção provém do feito e do fato de reger uma coisa por outra, através de medida e medir. Desvelar e medir são feitos e fatos inteiramente diferentes" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Ser e verdade. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 111.
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- "A verdade está em alguma parte: mas inútil pensar. Não a descobrirei e no entanto vivo dela" (1).
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. Água viva'. Rio de Janeiro: Artenova, 1973, p. 36.
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- "Ler Alice, em consequência, nos ajuda a entender a potência do pensamento criativo e não normativo. Para a verdade, as coisas podem ser úteis tanto do lado direito quanto do avesso. A verdade não tem bom senso. A verdade é selvagem e paradoxal - e nem sempre suportamos isso. Pois Alice com suas aventuras sem pé nem cabeça, nos ajuda a suportar. Volta e meia, a menina se pergunta quando as coisas voltarão a acontecer "de forma natural". O que ela descobre, não sem alguma dor, é que não existe tal forma estável e sensata de existir" (1).
- - Manuel Antônio de Castro
- (1) CASTELLO, José. Por que ler 'Alice'?. In: O Globo, Caderno "Prosa e verso", 23-05-2015, p. 5.
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- A luz é a energia do silêncio e seu manto é a claridade. Sem luz não há claridade nem escuridão. A claridade da luz é o sentido e verdade do agir, o vigorar do silêncio da luz. Portanto, a luz é o princípio de tudo, pois dela provêm tanto a claridade quanto a escuridão. E o silêncio é essa energia de plenitude e origem de sentido e verdade em que se constitui originariamente a luz. Como origem de tudo, a luz pode-se mostrar como desvelamento e velamento, como claridade e escuridão.
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- "A verdade é o desvelamento do sendo enquanto sendo. A verdade é a verdade do ser. A beleza não aparece junto desta verdade. Quando a verdade se põe na obra, ela aparece. O aparecer é – como este ser da verdade na obra e como obra – a beleza. Assim, o belo pertence ao acontecer-se apropriante da verdade" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 207 .
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- "Na conclusão do livro de Heidegger A origem da obra de arte, o pensador-poeta diz:
- “Na frase “Pôr-em-obra-da verdade”, em que fica indeterminado, porém, determinável de que modo quem ou o que “põe”, vela-se a referência do Ser e da essência humana, e tal referência, nesta formulação, já é pensada inadequadamente...” (Heidegger: 2010, p. 221. Grifo meu) (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 9.
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- "Um homem verdadeiramente sábio não é aquele que persegue cegamente uma verdade. É somente aquele que conhece constantemente todos os três caminhos: o do Ser, o do não-ser e o da aparência.
- Os três caminhos proporcionam uma indicação em si unitária:
- O caminho para o Ser é inevitável.
- O caminho para o Nada é inacessível.
- O caminho para a aparência é sempre acessível e frequentado, mas evitável" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 139.
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- O raciocinar se move sempre no que pode ser claro e passível de conhecimento enquanto conceito, daí tal conhecimento basear-se na verdade por adequação, ou seja, na “adaequatio rei et intellectus”, expressão latina da filosofia medieval que diz: a verdade é a adequação da coisa/real ao intelecto. Tal adequação é o resultado do exercício da razão enquanto no juízo profere algo de lógico, ou seja, o que é passível de comprovação e exatidão racional, isto é, lógico, verdadeiro.
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- Uni-verso é formada da palavra latina: uni: uno, ou seja, do ser enquanto unidade, sentido e verdade de tudo. E -verso, do verbo latino vertere, cujo particípio passado é versum, traduzido como versão. O verbo significa: verter, realizar, dar forma, versões ou mudanças, realizações. Por isso, é que de universo se formou o universal, aplicado à questão da verdade. Toda verdade tem de ter um valor universal, como unidade ou identidade das diferenças. Por isso os gregos pensaram a verdade como a-letheia: desvelamento, ou seja, a dobra de velar e desvelar. Para isso, a verdade deve ser regida pelo princípio do uno, do ser.
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- " -"Eu quero te conhecer melhor, diz Taliesin um dia a Cadoc. Diz-me que tipo de homem tu és". E o sábio Cadoc respondeu a Taliesin: -"Tu o deves saber melhor do que eu, pois tu escutas nas minhas costas dizerem de mim o que jamais chegou aos meus ouvidos. São aqueles que nos cercam que melhor podem julgar alguém, pois nem eu nem ninguém pode saber toda a verdade sobre aquilo que lhe diz respeito." "(1).
- Referência:
- (1) Os ditados do sábio Cadoc (VI século). Textos apresentados por Jean Markale. Paris: Albin Michel, Cadernos de Sabedoria, 2004, p. 13. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.
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- "O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.
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- Falar dos transcendentais é falar de conversibilidade entre o ser e os quatro transcendentais. Diz Cláudio Hummes: "A conversibilidade. Tudo o que é, porque e enquanto lhe convém ser, é uno, verdadeiro, bom e belo. Disto segue uma conversibilidade: tudo o que é uno, verdadeiro, belo e bom é; tudo o que é, é bom, belo, verdadeiro e uno; os graus e os modos de ser são graus e modos de unidade, beleza, verdade e bondade. A negação de unidade, beleza, verdade e bondade é negação do ser. Não é esta negação que gera o mal? No entanto, esta conversibilidade não implica que a relação dos transcendentais para com o ser seja a mesma que a do ser para com os transcendentais. O ser fundamenta os transcendentais; os transcendentais manifestam e desdobram o ser. Assim o ser tem uma prioridade ontológica – não cronológica – sobre os transcendentais" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.
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- Para compreender e apreender o que é o olhar, o melhor caminho é pensar a diferença ontológica entre olhar e ver. Concretamente, um exemplo clássico pode nos fazer pensar essa diferença: quando Édipo, o famoso personagem do mito de Édipo, pensado por Sófocles em sua famosa obra Rei Édipo, tinha olhos não penetrara e nem vira os caminhos de seu destino. É que o olho é funcional, faz parte do nosso organismo que diz respeito ao olhar, não necessariamente ao ver, pois foi quando arrancou os olhos que passou a ver na luz da verdade os caminhos e descaminhos do seu destino. O olho diz respeito aos sentidos, a visão diz respeito ao sentido. Não basta olhar, é necessário ver. E é nesta distinção fundamental que os gregos pensaram a essência da aletheia, desvelamento ou verdade. Por isso, este diz respeito à manifestação do sentido do destino. E é nesse horizonte que se diferencia radicalmente a verdade da obra de arte e a verdade funcional da lógica, que fundamenta a ciência fundada na razão.
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- "A obra de arte é o acontecer poético-apropriante da verdade, é o pôr-se em obra da verdade. Um tal acontecer acontece sempre na disputa de Terra e Mundo. Na obra de arte nunca temos um suporte coisal que suporte o artístico, temos a verdade como disputa de Terra e Mundo" (1)
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. XIII.
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- "Uma percepção me veio, ó Govinda, que talvez se te afigure novamente como uma brincadeira ou uma bobagem. Reza ela: O oposto de cada verdade é igualmente verdade" (1). O oposto da verdade é a não-verdade e não o erro. Toda verdade já vigora originariamente na não-verdade.
- Referência:
- (1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 117.
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- "A linguagem fala. O que acontece com essa fala? Onde encontramos a fala da linguagem? Sobremaneira no que se diz. No dito, a fala se consuma, mas não acaba. No dito, a fala se resguarda. No dito, a fala recolhe e reúne tanto os modos em que ela perdura como o que pela fala perdura - seu perdurar, seu vigorar, sua essência. Contudo, na maior parte das vezes e com frequência, o dito nos vem ao encontro como uma fala que passou" (1).
- Não podemos esquecer que o vigorar da linguagem é o sentido e a verdade que orientam nossas ações, nosso, enfim, agir. Daí o seu perdurar. E é nesse perdurar que o tempo é e acontece em seu desdobrar-se em épocas. A cada desdobramento, a cada manifestação do vigorar do sentido e da verdade corresponde mundo, de modo que o perdurar evidencia o vigorar do sentido, da verdade e do mundo que se manifesta e é horizonte de nosso viver, de nosso realizar-se. Mundo e sentido e verdade são para nós a realidade: vigorar da linguagem.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 11.
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- "Não importa se somos indígenas ou brancos, é tempo de a gente se juntar e unificar o pensamento. Vem aí a era da verdade, do amor, do equilíbrio, com a natureza ditando as regras. A solução não está fora, está dentro de nós" (1).
- Referência:
- (1) YAWANAWÁ, Putanny - Pajé. A cura do mundo é pela espiritualidade, e ela é coletiva. Entrevista a Maria Fortuna. In: O Globo. Segundo Caderno, Quarta-feira, 01-01-2020, p. 2.
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- "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (1). "Egw eími 'eh 'Odos kai 'eh Alehtheia kai 'eh Dzwéh", segundo o texto grego do Novo Testamento. Notemos que o termo para verdade em grego é Alehtheia e para Vida é Dzwéh. Não se trata, portanto, de uma referência aos viventes, bioi, em grego, mas nomeia a Vida como tal.
- Referência:
- (1) Evangelho de João, cap. 14, versículo 6, p. 1293. Bíblia Sagrada. Petrópolis/RJ: Vozes, 1989. Tradução do grego: Mateus Hoepers. Revisor Literário: Emmanuel Carneiro Leão.
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- "Não podemos julgar a verdade e não-verdade por um critério prévio de verdade, seja da fé ou dos paradigmas da representação racional. Se assim for, estaremos vigorando e agindo de acordo com fatos prévios e não estaremos deixando vigorar o agir, o agir-ser. Ele sempre se dá na dobra de não-verdade e verdade, e só no agir é que podemos distinguir e julgar (krinein, verbo grego, quer dizer criticar distinguindo, discernindo) o alcance da errância como verdade e não-verdade. Errância não é erro (este tem seu critério de julgamento numa representação)" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
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- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. A liberdade de criação e as Musas. Ensaio ainda não publicado.
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- A proposição será desde a sofística e o Helenismo o lugar da verdade. E algo será verdadeiro quando houver homoiosis entre o que é e o como se conhece e o como se diz. Homoiosis foi traduzida para o latim como adaequatio, adequação. A verdade passará a ser a adequação entre forma e conteúdo (razão), entre enunciado e enunciação (discurso), entre sujeito e predicativo, na proposição.
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- "A realidade, enquanto linguagem e sentido, é o que denominamos: mundo. No amar e quando amamos vigoramos em nosso amor no mundo, isto é, tudo entra no âmbito do sentido, da linguagem, pois sem esta não há sentido, unidade e musicalidade. Amar, portanto, é sempre deixar acontecer mundo e sentido, unidade e musicalidade. Amar como verbo é o deixar vigorar o sentido musical do ser. E é sempre no horizonte de mundo e sentido que acontece verdade, unidade, beleza, bem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.
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- "Verdade não é nenhuma afirmação de adequação entre aquilo de que se fala e o que dele se fala. Isso é derivado, é representação. A verdade fundadora é o próprio ser eclodindo, desvelando-se enquanto linguagem, sentido e mundo. O mundo em que cada um vive e se experiencia já é uma consequência de ser sempre sendo do ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 51.
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- "O caráter fictício da ficção é o mais aceito, daí originar diretamente a palavra. Se bem observarmos, o fingir, enquanto narrar, é a própria tensão manifestada do formar e do imaginar. O narrar constitui-se em forma e abre o espaço para o imaginar. Nele, a Linguagem se manifesta como língua, instituindo realidades. Tenhamos bem claro que a ficção não é encarada como algo falso. O fingir da ficção, quase sempre, enche de graça e de prazer o leitor, num envolvimento lúdico que o simplesmente falso jamais explicaria. Daí podermos deduzir que a ficção nos remete para o homem em sua essência, em que o lúdico profundo é a luz visível da verdade" (1).
- Referência:
- CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 136.
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- "A teologia vai aos poucos perdendo sua posição de saber mais importante e é substituída pela filosofia. Mas esta nova filosofia fundamenta e prepara o advento da ciência como paradigma último da Verdade. A verdade deixa de ser teológica e passa a ser científica. Tanto que hoje, quando alguém quer dizer que algo é verdadeiro, diz simplesmente que é científico. A aura da ciência, como verdade, tornou-se tão evidente que as pessoas nem um pouco se perguntam porque a ciência é simplesmente sinônimo da verdade. É claro que a ciência tem seus argumentos. E o maior deles é a experiência imediata que cada um comprova. A ciência brota do homem. É uma atividade que tem como centro de atuação e de legitimação o homem. Mas que homem? O homem enquanto razão. Esta substitui a fé" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ... Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 66.
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- "Santo Agostinho, um angustiado pela procura da verdade, disse que Deus é mais íntimo ao ser humano do que o próprio ser humano é íntimo a si mesmo. Então a pergunta mais angustiante não é se Deus existe ou não existe. A questão está no fato de que Deus assumiu a figura d’a verdade, pois, como Deus, não poderia ser uma verdade. Negar a existência da verdade pela existência de outra implica a negação, muitas vezes e para muitos, de Deus" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 19.
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- "Uma fala, um conhecimento só são válidos na medida de sua verdade. No fundo, o jogo consumista do falatório e da circulação e formação através das informações/conhecimentos encontra sua aceitação porque são portadores e fundados na aura da verdade. O apelo mais profundo em nós é sempre da verdade, porque ela implica o real e o que somos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 19.
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- "É que as obras religiosas não são filosóficas, são muitas vezes obras mítico-poéticas, como por exemplo, os Salmos, o Cântico dos cânticos, de Salomão, o Gênesis. Porém, as obras religiosas são encaradas a partir da questão da verdade e, por isso, a verdade que elas dizem, manifestam, precisam das reflexões filosóficas para que sejam compreendidas. Pois quem trata da questão da verdade, explicitamente, é a filosofia. Toda a filosofia se tece em torno da grande e fundamental questão da verdade. Hoje e desde sempre o modo como se encara e conduz a questão da verdade é filosófica. Claro, depois, essa tarefa coube à teologia. Mas não há teologia sem filosofia, nunca houve nem haverá" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 125.
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- "Enquanto imagem-palavra, a imagem é linguagem e, como a linguagem, não-é. A imagem-palavra-poiesis não pode ser nunca determinada como um ente, porque não se lhe pode atribuir um limite. E não se lhe pode atribuir um limite porque é a própria poiesis poetando, e isso é o ser se doando como desvelamento. A imagem-questão é poiesis de experienciação e nunca este ou aquele ente. Capitu, como imagem, não é, porque Capitu é imagem-poético-manifestativa de questões, é imagem-questão. Como imagem e verbo toda obra de arte é a dinâmica poética (tautologia) de manifestação do real em sua verdade. Hermes, Palavra, Verbo, Imagem, Verdade são poiesis" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 18.
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- "O surgimento das duas irmãs se dá do mesmo modo: o suceder e preceder pressupõem o tempo/poiesis/linguagem. Estes aqui mostram duas coisas: um desvelamento e velamento. A estes chamou o mito Aletheia, ou seja, verdade. Mas este desvelamento e velamento constitui evidentemente a vida e a morte. Verdade, vida, morte, luz, trevas não será este o itinerário e travessia poética de Édipo, do homem? Não será este o nosso itinerário, a nossa travessia? Mas até onde ela será poética? Ou seja, até onde fazemos do viver uma experienciação de ser?" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 27.
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- "Por ser a água a essência da vida e também uma poderosa fonte de sabedoria e verdade, acessível a poetas, druidas, reis e heróis, o caldeirão e a taça, receptáculos desse fluido mágico, têm, eles próprios, poder espiritual" (1).
- Referência:
- (1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. "Receptáculos da verdade". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 76.
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