Errância

De Dicionário de Poética e Pensamento

1

"O desvelamento do ente enquanto tal é, ao mesmo tempo e em si mesmo, o encobrimento do ente em sua totalidade. É nesta simultaneidade do desvelamento e do encobrimento que impera a errância. E encobrimento do que está velado e a errância pertencem à essência inicial da verdade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Trad. Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 210.

2

Toda errância é a clara manifestação da indigência (Pênia, mãe de Eros). "O homem se engana nas medidas, tanto mais quanto mais exclusivamente toma a si mesmo, enquanto sujeito, como medida para todo ente" (1).


Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Trad. Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 207.

3

"Na vigência da errância, é característico que no ponto de partida esteja já o ponto de chegada. Estar a um tempo no ponto de partida e fazer este compartilhar com a situação de estar ao mesmo tempo no ponto de chegada é uma experiência advinda desde a compreensão fundamental de que os trajetos são, essencialmente, errância. Nessa errância o que vigora é a possibilidade de, em se desfazendo as trajetórias determinadas por metas a serem atingidas, perceber a presença do caminhar como o maior e mais decisivo desafio" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 205.
Ver também
*Método
*Não-compreender

4

"Se considerarmos que vivencialmente a não-verdade se dá sempre como errância, mesmo quando temos como horizonte a essência do agir, ela deixará de vigorar na dobra, quando em lugar da errância a substituímos pela verdade da representação, onde esta como verdade se opõe ao falso, ao erro e, assim, criamos uma oposição à verdade como ideia absoluta (inerente a todo sistema, seja ele qual for e em que época for), que não leve em consideração a errância ou existência que sempre vigora na dobra de verdade e de não-verdade. Vivemos essencialmente na errância (não no erro) porque vivemos na proximidade e distância de viver na vivência a morte como seres mortais" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.

5

"A linguagem é nosso maior bem, mas também o mais perigoso. Por quê? Porque podemos viver em errância em meio aos entes, à posse cada vez maior disto e daquilo, querendo ter conhecimentos sem ser o que se conhece, em meio às vivências estéticas, ao uso desse bem maior como simples e mero instrumento de comunicação. Nisto consiste o perigo. Perigo tem o mesmo radical de peras, palavra grega, que significa limite. Que limite? O do ente, o das relações intramundanas dos entes, o afã em torno dos entes e da posse deles e não do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 27.
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