Realidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Pois a realidade é apenas um conceito, ou um [[princípio]], e por realidade quero dizer todo o sistema de valores conectado com este princípio" (1). Logo a seguir define Real como algo metafísico de [[causa|causas]] e [[efeito|efeitos]]. Mas se esse é o real metafísico o que é o real não metafísico? Ou, em sentido grego, o que é a ''[[phýsis]]''? Como pensar a realidade ou a [[hiper-realidade]] sem pensar a ''phýsis''? Realidade como hiper-realidade - paroxismo e paródia ao mesmo tempo. "Ela aceita todo tipo de interpretação porque ela não faz mais sentido..." (2).
+
: "O que nos diz a [[palavra]] [[realidade]] e [[realização]]? É uma [[palavra]] de [[origem]] latina, formada de ''[[res]]'', cuja [[tradução]] comum é [[coisa]], mas no [[sentido]] de [[causa]], aquilo que agindo causa [[algo]], faz [[eclodir]] numa [[relação]] de [[agente]] e [[paciente]], onde jamais pode [[acontecer]] o [[amar]]. Pela [[tradição]] [[metafísica]] que conduziu à [[substantivação]], todo esse [[sentido]] [[verbal]] se perdeu e vemos de imediato na [[palavra]] [[realidade]] o que está em nossas [[circunstâncias]], expulsando-nos do [[tempo]] [[poético]] e deixando-nos aparentemente [[livres]], porque sem [[sentido]]..." (1).
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In:------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 318.
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:Referências:
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== 2 ==
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: Há duas [[formas]] correntes e contraditórias de ''con-ceber'' a [[realidade]]. Pela primeira, ela é o resultado do que nossos [[sentidos]] ''per-cebem''. Pela segunda, ela depende de alguma [[teoria]], [[racional]] ou criacionista. Tenta-se unir num terceiro módulo estas duas, seja dialeticamente, seja cientificamente. No entanto, a [[verdade]] é muito [[simples]]: [[Realidade]] é o que não cessa de [[vigorar]] e se dá a nós como [[acontecer]] [[poético]]. A [[realidade]] nunca depende, como se crê normalmente, de uma ''concepção''. Ela simplesmente vigora acontecendo, sendo, portanto, um incessante ''poietizar'' ou popularmente ''poetar'' dela e por ela mesma. Além dessas duas, podemos falar numa terceira que é bem mais completa e complexa: como a [[realidade]] se dá na [[obra de arte]]. É que esta se revela para o [[ser humano]]  e com o [[ser humano]] como [[mundo]], [[sentido]] e [[verdade]].
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:(1) BAUDRILLARD, Jean. ''A ilusão vital''. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 69.
 
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:(2) Idem, p. 83.
 
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== 2 ==
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
:Numa visão do senso-comum ou do positivismo endêmico, a realidade é o que está aí e nos cerca. Porém, essa questão é bem mais complexa. Essa [[complexidade]] pode ser pensada a partir do fragmento 123 de Heráclito, quando diz: "A natureza ama retrair-se" (1), onde a realidade é a [[tensão]] no amar tanto do que se manifesta, se desvela, quanto do que se retrai, se vela. Emmanuel Carneiro Leão, a esse propósito, vai falar de totalidade do [[real]] ou [[natureza]] e tudo que de alguma maneira se desvela, já a realidade é o que se manifestando se [[retração|retrai]]. A realização é o amor que é o agir, pelo qual se dá o manifestar-se e o retrair-se. Em suas palavras: "A totalidade do real, o espaço-tempo de todas as coisas, não é apenas o reino aberto das diferenças, onde tudo se distingue de tudo... A totalidade do real é também o reino misterioso da [[identidade]], onde cada [[coisa]] não é somente ela [[mesmo|mesma]], por ser todas as outras, onde os indivíduos não são definíveis, por serem uni-versais, onde tudo é uno: ''hen panta''. No movimento de sua realização, a realidade é tanto o [[horizonte]] em expansão da luz de todas as singularidades como a uni-versalidade protetora da noite, onde todos os gatos são pardos" (2). O "''hen panta''" a que Leão se reporta é o núcleo do fragmento 50 de Heráclito. Por este fragmento também podemos pensar a [[noite]] como sendo o [[silêncio]] falante do ''[[lógos]]''.  
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== 3 ==
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: A [[realidade]] é [[unidade]] de [[real]] e [[ideal]], de [[real]] e [[irreal]] no vir-a-ser das [[realizações]]. Como [[unidade]] a [[realidade]] é um [[mistério]] que, portanto, exclui qualquer [[atributo]]. E dessa maneira não diz respeito a [[limites]], ou seja, a [[entes]]. Não sendo [[ente]] nenhum e nem a totalidade dos [[entes]], que podemos denominar apropriadamente [[real]], a [[realidade]] é [[nada]] de [[ente]], enfim, a [[realidade]] é ''o [[nada criativo]]''. A [[realidade]] funda o [[real]], mas o [[real]] não é a [[realidade]], pois a [[realidade]] é a [[possibilidade]] também de todo [[vir a ser]], seja do que já se realizou em [[realizações]], seja do que ainda não se realizou e é [[possível]], portanto, [[ideal]]. Enfim, a [[realidade]], embora origine os [[entes]], não é [[nada]] de [[ente]] nem a soma de todos os [[entes]]. Caso contrário não comportaria também o [[ideal]] e até mesmo o [[irreal]], pois este pode perfeitamente conter o que vigora, mas não é [[ente]] determinado e já realizado. Para esta [[questão]] de [[irreal]] é necessário levar em consideração, assim como para todas as distinções aqui feitas, a [[questão]] da [[verdade]]. Então, [[irreal]] pode se referir a algo que não é [[verdadeiro]]. Mas jamais podemos esquecer que [[verdadeiro]] implica o que se manifesta e o que se oculta, como bem o diz a [[palavra]] grega para [[verdade]] ''[[a-letheia]]''.
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: [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 4 ==
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: Numa [[visão]] do senso-comum ou do [[positivismo]] endêmico, a [[realidade]] é o que está aí e nos cerca. Porém, essa [[questão]] é bem mais complexa. Essa [[complexidade]] pode ser pensada a partir do fragmento 123 de [[Heráclito]], quando diz: "A [[natureza]] ama [[retrair-se]]" (1), onde a [[realidade]] é a [[tensão]] no [[amar]] tanto do que se manifesta, se desvela, quanto do que se retrai, se vela. Emmanuel Carneiro Leão, a esse propósito, vai [[falar]] de [[totalidade]] do [[real]] ou [[natureza]] e [[tudo]] que de alguma maneira se desvela, já a [[realidade]] é o que se manifestando se retrai. A [[realização]] é o [[amor]] que é o [[agir]], pelo qual se dá o manifestar-se e o [[retrair-se]]. Em suas [[palavras]]:
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: "A [[totalidade]] do [[real]], o [[espaço]]-[[tempo]] de todas as [[coisas]], não é apenas o reino aberto das [[diferenças]], onde [[tudo]] se distingue de [[tudo]]... A [[totalidade]] do [[real]] é também o reino misterioso da [[identidade]], onde cada [[coisa]] não é somente ela [[mesmo|mesma]], por ser [[todas]] as outras, onde os [[indivíduos]] não são definíveis, por serem [[universais]], onde [[tudo]] é [[uno]]: ''hen panta''. No [[movimento]] de sua [[realização]], a [[realidade]] é tanto o [[horizonte]] em expansão da [[luz]] de todas as [[singularidades]] como a uni-versalidade protetora da [[noite]], onde todos os gatos são pardos" (2).  
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: O "''hen panta''" a que Leão se reporta é o núcleo do fragmento 50 de [[Heráclito]]. Por este fragmento também podemos [[pensar]] a [[noite]] como sendo o [[silêncio]] falante do ''[[lógos]]''.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referências:
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: (1) HERÁCLITO et alii. '''Os pensadores originários'''. Petrópolis: Vozes, 1991.
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: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Aprendendo a pensar'''. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 84.
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== 5 ==
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: [[Realidade]] não é só o que se vê ou sente. [[Realidade]] é propriamente a [[vigência]] do vigente que se dando como [[ver]], [[sentir]], [[criar]] e [[crer]] permanentemente se retrai e vela. Mesmo do que se dá a [[ver]] e [[sentir]], vemos e sentimos muito pouco. Por isso mesmo, a [[vigência]] do [[vigente]] é muito mais do que o [[consciente]] e do que o [[inconsciente]]. [[Realidade]] como [[vigência]] do [[vigente]] é o [[ser]] e o [[nada]] do abismal [[mistério]]: [[amor]].
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 6 ==
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:"O [[sentido]] da [[realidade]] é uma [[questão]] de [[talento]]. Para a maioria das pessoas falta esse talento... e talvez seja melhor assim..." (1).
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:Referências:
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: Não só a [[realidade]] de cada um é uma [[questão]] de dávida da [[vida]], também a dávida do [[sentido]] da [[realidade]] é um dom, que se recebeu ou não. Cabe a cada um com simplicidade acolher esse dom e não exigir dos outros o que não recebeu, porque o [[sentido]] da [[realidade]] não é algo que se consiga pelo uso da [[razão]]. Alguém pode ser muito [[erudito]] e [[racional]] e não ter o dom do [[sentido]] da [[realidade]]. Porque isso é assim é um [[mistério]]. Os antigos diziam que esse [[sentido]] da [[realidade]] é uma [[questão]] de [[destino]], assim como [[ser]] um Beethoven, um Bach, um Sófocles, um Guimarães Rosa, é uma [[questão]] de [[destino]]. Friedrich Hölderlin, para assinalar esse [[destino]] nele, afirmou num momento de grande lucidez e [[loucura]]: "Apolo me feriu". Àquele que foi ferido pelo [[sentido]] não cabe deixar de cumprir o [[destino]], que não pode ser confundido com "radicalismo" conceitual e doutrinal. Se então há radicalismo, é o radicalismo das [[questões]]. E estas é que nos têm, como o [[destino]]. O [[sentido]] da [[realidade]] é o [[originário]] da [[realidade]] se manifestando. [[Sentido]] da [[realidade]] é o saber da [[realidade]]. Em '''Grande sertão: veredas''', João Guimarães Rosa também se refere a esta [[questão]] do [[sentido]] da [[realidade]], que ele denomina, [[ser-tão]], dizendo: "Sendo isto. Ao doido doideiras digo...Vou lhe falar. Lhe falo do [[sertão]]. Do que não sei...Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas [[pessoas]] - e só essas poucas [[veredas]], veredazinhas" (2). Por que para a maioria das pessoas falta o [[sentido]] da [[realidade]] não cabe a nós indagar. Em [[princípio]] todos o recebem, mas tornar-se um dom no [[sentido]] de um [[destino]] específico para algo, isso já é uma [[questão]] de talento, como muito bem afirma [[Bergman]], embora como [[ser humanos]] todos estejam abertos para essa [[possibilidade]].
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:(1) HERÁCLITO et alii. ''Os pensadores originários''. Petrópolis: Vozes, 1991.
 
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:(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 84.
 
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== 3 ==
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:"A unidade é o ponto inicial de qualquer desencadear da realidade. Toda realidade é [[unidade]] de identidade e diferença. Na medida em que toda unidade é a vigência do mais [[simples]] e do mais [[complexo]], toda unidade é sem [[dobra|dobras]], e ao mesmo tempo a exigência de dobramento" (1). 
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: Referências:
-
:Referência:
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: (1) BERGMAN, Ingmar. No filme '''Sonata de outono'''.
-
:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7letras, 2005, p. 53.
+
: (2) ROSA, João Guimarães. '''Grande sertão: veredas''', 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 79.
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== 7 ==
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: "Deixe-me lhe [[dizer]] uma [[coisa]], Anna Egerman. Na minha idade, quando nos inclinamos para a frente, às vezes, nossa [[mente]] entra em uma outra [[realidade]]. Os [[mortos]] não estão mais [[mortos]]. Os [[vivos]] parecem [[fantasmas]]. O que era óbvio um minuto atrás... tornou-se peculiar e impenetrável. Anna... ouça o [[silêncio]] aqui neste palco. Imagine toda a [[energia]] [[espiritual]], todos os [[sentimentos]] [[reais]] e [[representados]]...riso, fúria, [[paixão]] e [[Deus]] sabe mais o quê...[[Tudo]] isso permanece aqui...fechado...vivendo sua [[vida]] secreta e ininterrupta. Às vezes [[eu]] os ouço. Às vezes, não. [[Sempre]]. Às vezes acho que consigo vê-los...[[demônios]], [[anjos]]...[[fantasmas]]...[[pessoas]] comuns...cuidando atentamente de suas [[vidas]]. Fechadas. Reservadas" (1).
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:'''Ver também:'''
 
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:*''[[Lógos]]''
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: Referência:
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:*[[Ser]]
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: (1) BERGMAN, Ingmar. Fala do personagem Henrik Vogler, no filme '''Depois do ensaio'''.
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== 4 ==
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== 8 ==
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:Realidade não é só o que se vê ou sente. Realidade é propriamente a vigência do vigente que se dando como ver, sentir, criar e crer permanentemente se retrai e vela. Mesmo do que se a ver e sentir, vemos e sentimos muito pouco. Por isso mesmo, a vigência do vigente é muito mais do que o consciente e do que o inconsciente. Realidade como vigência do vigente é o ser e o nada do abismal mistério: [[amor]].
+
: "O [[vidente]] é aquele que já tem visto a totalidade das [[coisas]] que se apresenta na [[presença]]: em latim ''vidit''; em alemão ''er steht in Wissen'' (ele está a par). Ter visto é a [[ausência]] do [[saber]]. No ter visto já há sempre outra [[coisa]] em jogo que a simples [[realização]] de um processo ótico. No ter visto a [[relação]] com aquilo que se apresenta já retrocedeu para trás de toda a espécie de [[percepção]] sensível e não-sensível. A partir daí, o ter visto está relacionado com a [[presença]] que se clarifica.
 +
: O [[ver]] não se determina a partir do olho, mas a partir da [[clareira]] do [[ser]]. A in-sistência nela constitui a articulação de todos os [[sentidos]] [[humanos]]. A [[essência]] do [[ver]] enquanto ter visto é o [[saber]]. Este contém a [[visão]]. Ele permanece na lembrança da [[presença]]. O [[saber]] é a lembrança do [[ser]]. É por isso que ''Mnemosýne'' é a mãe das [[musas]]. [[Saber]] não é a [[ciência]] no sentido [[moderno]]. [[Saber]] é salvaguarda pensante da guarda do [[ser]]" (1).
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: Na medida em que todo [[ver]] pressupõe o já ter visto de alguma maneira é que dá [[origem]] ao [[vidente]] e à [[evidência]]. Esta não precisa de [[mediação]], por ela a [[realidade]] se mostra no que ela [[é]] e em-si. Por isso, dizemos frequentemente: isso é [[evidente]], ou seja, não precisa de uma [[explicação]], de uma [[mediação]]. Em sua [[essência]], todo [[ser humano]] é um [[vidente]], embora poucos consigam quebrar o [[hábito]] do [[ver]] [[banal]] e cotidiano. Todo [[artista]], especialmente o  [[poeta]] e [[pintor]], se deixa tomar em seu [[ver]] e [[dizer]] pela [[evidência]]. Na [[dança]], o meio de manifestar o [[evidente]] é o [[gesto]]. Todo [[gesto]] na [[dança]] manifesta a [[realidade]] acontecendo, dando-se a [[ver]].
-
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 5 ==
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: Referência:
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:"O [[sentido]] da realidade é uma questão de [[talento]]. Para a maioria das pessoas falta esse talento... e talvez seja melhor assim..." (1). Não só a realidade de cada um é uma questão de dávida da vida, também a dávida do sentido da realidade é um dom, que se recebeu ou não. Cabe a cada um com simplicidade acolher esse dom e não exigir dos outros o que não recebeu, porque o sentido da realidade não é algo que se consiga pelo uso da razão. Alguém pode ser muito erudito e racional e não ter o dom do sentido da realidade. Os antigos diziam que esse sentido da realidade é uma questão de destino, assim como ser um Beethoven, um Bach, um Sófocles, um Guimarães Rosa, é uma questão de destino. Friedrich Hölderlin para assinalar esse destino nele afirmou num momento de grande lucidez e loucura: "Apolo me feriu". Àquele que foi ferido pelo sentido não cabe deixar de cumprir o destino, que não pode ser confundido com "radicalismo" conceitual e doutrinal. Se então há radicalismo, é o radicalismo das questões. E estas é que nos têm, como o [[destino]]. O sentido da realidade é o originário da realidade se manifestando. Sentido da realidade é o saber da realidade. Em ''Grande sertão: veredas'', João Guimarães Rosa também se refere a esta [[questão]] do sentido da realidade, que ele denomina, ser-tão, dizendo: "Sendo isto. Ao doido doideiras digo...Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei...Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas - e só essas poucas veredas, veredazinhas" (2). Por que para a maioria das pessoas falta o sentido da realidade não cabe a nós indagar.  
+
 
 +
: (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: '''Os pré-socráticos'''. Coleção '''Os pensadores'''. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 34.
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== 9 ==
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: A [[Realidade]] é [[mistério]] em contínua [[realização]], produzindo os reais (''on, onta'', em grego) como seu modo de se [[desvelar]]. Daí a variedade de reais ou [[mundos]], enquanto conjunto de [[coisas]] ou [[entes]] com [[sentido]] de totalidades parciais. [[Real]] diz o que é, o [[próprio]] da Realidade, como o [[poético]] é o próprio da [[Poética]] e o [[humano]] é o próprio da [[Humanidade]]. À realidade, à Poética, à Humanidade não temos acesso, porque nenhuma [[língua]] pode dizê-las, embora toda língua seja língua de [[Linguagem]] como todo humano é humano da Humanidade e todo real é real da Realidade. Nesta tensão constante e [[dialética]] acontecem as [[realizações]].  
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 10 ==
 +
: "A [[realidade]] se dá na [[medida]] e enquanto se retrai nas [[realizações]]" (1).
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:Referências:
 
-
:(1) BERGMAN, Ingmar. No filme ''Sonata de outono''.
+
: Referência:
-
:(2) ROSA, João Guimarães. ''Grande sertão: veredas''. 6ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 79.
+
-
== 6 ==
+
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Logos, mythos, epos". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 31.
-
:"A realidade é mais do que nossos [[sentidos]] alcançam, portanto, mais do que a [[medida]] de nossa visão ou densidade de nossa audição. A realidade é trânsito que se desapega do estático para se fundar no extático, ainda que confundida com a solidez do [[cotidiano]] mal interpretado; é a impossibilidade de ser abrangida numa definição. Neste caso, qualquer tentativa de fazê-lo é já uma investida passada, radicada na derrota de um [[ensaio]] conceitual, antes mesmo de sobressaltar a voz e ganhar a fala" (1).
+
 
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== 11 ==
 +
: "Tomas: Existe uma [[palavra]] mágica para nós descrentes.
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: "Jenny: O que quer [[dizer]]?
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: "Às vezes [[eu]] a sussurro para mim.
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: "Pode me [[dizer]] qual [[é]]?
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: "[[Eu]] desejo ardentemente que alguém me toque para [[eu]] me tornar [[real]]. [[Eu]] repito [[sempre]]: "Permita que [[eu]] me torne [[real]]."
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:" Jemmy: O que quer [[dizer]] com "[[real]]"?
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:" Tomas: [[Ouvir]] uma [[voz]] [[humana]] e [[saber]] que ela vem de alguém que sente como [[eu]]. Beijar uma boca e [[saber]] de imediato que é uma boca. Não ter que repetir o momento terrível mais uma vez no qual [[experiências]] anteriores não dizem que era uma boca que beijei. Para mim [[realidade]] é quando [[alegria]] é [[verdadeira]] [[alegria]]. E [[sofrimento]] é [[verdadeiro]] [[sofrimento]]. Eu não sei. O [[real]] não é isso que [[eu]] imagino. Não existe [[razão]] para a [[realidade]] [[existir]]. Ela não é [[nada]] mais que uma [[esperança]]" (1).
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 +
: (1) BERGMAN, Ingmar. Filme '''Face a face'''. Falas dos personagens: Jemmy e Tomas.
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== 12 ==
 +
: Quem diz [[sentido]] o faz já no [[horizonte]] do [[vigorar]] da [[realidade]] em [[linguagem]], [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]]. [[Realidade]] é [[acontecer]] nas [[realizações]] do [[real]]. Não há [[realização]] do [[real]] sem abertura de [[verdade]] e [[mundo]], pois todo [[acontecer]] da [[realidade]] manifesta e vela.
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 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 13 ==
 +
:"... toda [[experiência]] radical de [[pensamento]] se embrenha pelas raízes da própria [[possibilidade]] de [[pensar]] as [[realizações]] do [[real]] no e pelo [[mistério]] da [[realidade]]" (1).
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 +
 
 +
: - Referência:
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 +
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Deus e o homem louco". Rio de Janeiro: '''Revista Tempo Brasileiro''', 188: 145-153, jan.-mar., 2012, p. 145.
 +
 
 +
== 14 ==
 +
: "Não há fala sem [[linguagem]] como não há [[realidade]] sem ''onta'' ([[sendos]]). Toda fala é uma fala da [[linguagem]] assim como todo ''[[on]]'' é um ''[[on]]'' da ''[[phýsis]]'', [[ser]], [[realidade]]. Disso decorre que a [[linguagem]] implica a [[realidade]] e a [[realidade]] implica a [[linguagem]]. Cada [[fala]] e cada ''[[on]]'' já são [[posições]] dentro da [[realidade]] e dentro da [[linguagem]]" (1).
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 +
 
 +
: Referência bibliográfica:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 129.
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 +
== 15 ==
 +
: "Em 1950, o matemático americano Norbert Wiener publicava o livro '''The human use of human beings – cybernetics and society''', em que propunha o campo da [[cibernética]] como o [[conhecimento]] em torno de [[sistemas]] de controle, [[comunicação]] e transmissão de [[informações]]. Tal [[conhecimento]] poderia automatizar muitos aspectos da [[vida humana]], tornando-a mais livre e menos dependente do [[trabalho]] manual" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) LIRA, André. "O ciborgue frente ao real". In: Revista '''Tempo Brasileiro: globalização, pensamento e arte''', 201/202, abr.-set.,2015, p. 78.
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== 16 ==
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: "O que não pode [[ser]] esquecido é que o [[vocabulário]], ao nos circunscrever num determinado [[mundo]] [[real]], não quer isso dizer que tenhamos já toda a [[realidade]], ou que ela seja toda determinada por esse [[vocabulário]]. A [[realidade]] é bem mais dinâmica e nem todos os [[seres humanos]] são determinados pelo [[vocabulário]]. Há outras [[realizações]] que convivem entre si e em [[relação]] à [[realidade]] geral de uma maneira muito dinâmica, múltipla e ambígua, inovadora" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 242.
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== 17 ==
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: "Entenda-se por [[realidade]] não apenas o âmbito do já feito e realizado, o [[real]]. [[Realidade]] é desde sempre [[mistério]]. Em geral, pensamos falar de [[realidade]] ou [[real]] quando, na verdade, falamos das suas diferentes [[manifestações]] históricas, que podemos adequadamente denominar: [[mundos]] (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A história do sentido das artes e as épocas". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 287.
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== 19 ==
 +
: "A [[realidade]] é o [[labirinto]] que exige de nós uma [[caminhada]] de [[sentido]], um [[motivo]] que nos mova em nossa [[existência]]. É para esse [[sentido]] que a [[dança]] nos conduz, se a deixarmos [[operar]],se tivermos a [[coragem]] de nos entregarmos a ela em sua [[vigência]]. Na [[dança]] [[poética]] somos tomados pelo que somos, pois [[ser]] é [[sempre]] uma tarefa [[poética]], onde quem vigora é o [[princípio]]: o não cessar de estar [[sendo]]" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). '''O que me move, de Pina Bausch''' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 83.
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== 20 ==
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: "[[Mentira]] e [[realidade]] são uma [[coisa]] só. Tudo pode [[acontecer]]. Tudo é [[sonho]] e [[verdade]]. [[Tempo]] e [[espaço]] não existem. Sobre a frágil base da [[realidade]], a [[imaginação]] tece sua [[teia]] e desenha novas [[formas]], novos [[destinos]]" (1).
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 +
 
 +
: (1) Referência:
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 +
: Strindberg. Peça teatral "Sonhos". Passagem citada no filme de Ingmar Bergman '''Fanny e Alexander''', 1982.
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 +
== 21 ==
 +
: "Seu [[método]] de [[reflexão]] [[filosófica]] é exclusivamente o [[método]] [[dialético]] triádico: [[tese]], [[antítese]] e [[síntese]], ou melhor, segundo a [[terminologia]] [[hegeliana]]: [[afirmação]] (Tese), [[negação]] (Antítese) e [[negação da negação]] e [[afirmação da afirmação]] (Síntese). Por este [[método]] [[Hegel]] pretende mostrar como se classificam [[racionalmente]] e como se encadeiam [[racionalmente]], e com [[necessidade]], todos os [[aspectos]] mais importantes da [[realidade]], a partir dos mais [[abstratos]] como: o ser em geral, o [[vir-a-ser]], a qualidade, a quantidade etc., até os mais [[concretos]] como os diversos tipos de [[civilizações]] e de [[filosofias]]. Estes vários aspectos da [[realidade]] são as tais “[[essências]]” que, segundo [[Hegel]], estão [[logicamente]] e [[realmente]] tão encadeadas que a [[existência]] de uma implica necessariamente a [[existência]] de todas as demais. Todo o “[[sistema]]” da [[realidade]] é [[absolutamente]] [[necessário]] e [[absolutamente]] [[lógico]]" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: HUMMES ofm, Cardeal Dom Cláudio. ''História da Filosofia''. Curso dado em 1963, em Daltro Filho, hoje cidade de Imigrantes, RS. Anotações distribuídas em sala de aula.
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== 22 ==
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: O [[homem]] [[moderno]] criará a partir da [[imaginação]]. Contudo, para isto haverá uma profunda [[transformação]]. E a grande [[metáfora]] para indicar e conduzir esta [[mudança]] será o [[universo]] como um gigantesco relógio. Nesta [[mudança]] o [[Ser]] é substituído pelo [[Tempo]], mas agora um [[tempo]] que pode ser [[conhecido]], [[medido]] e até se podem efetuar [[intervenções]], [[fundamentadas]], claro, desde então, nesse novo [[conhecimento]] que passou a ser denominado [[científico]], porque [[objetivo]]. E desde então só será [[verdadeiro]] o que for [[científico]]. A prática vai levar a [[metáfora]] do relógio/[[tempo]] para todas as esferas da [[realidade]]/[[natureza]]. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da [[preocupação]] [[ontológica]] com ''o que é'' e o foco único ''no como é'', mas não mais relacionado a ''o que é''. Agora ''o como é'' diz respeito a ''o como se conhece''. É este em última [[instância]] que determina [[tudo]], pois [[tudo]] será [[objeto]] do [[conhecimento]] que se torna o [[verdadeiro]] [[sujeito]], o [[verdadeiro]] “[[criador]]”. Um tal conhecimento é exercido pela [[razão]] [[crítica]], que se fundamenta na '''Razão Crítica''' de Kant.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "A [[linguagem]] fala. O que acontece com essa [[fala]]? Onde encontramos a [[fala]] da [[linguagem]]? Sobremaneira no que se diz. No dito, a [[fala]] se consuma, mas não acaba. No dito, a [[fala]] se resguarda. No dito, a [[fala]] recolhe e reúne tanto os modos em que ela perdura como o que pela [[fala]] perdura - seu [[perdurar]], seu [[vigorar]], sua [[essência]]. Contudo, na maior parte das vezes e com frequência, o dito nos vem ao encontro como uma [[fala]] que passou" (1).
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: Não podemos esquecer que o [[vigorar]] da [[linguagem]] é o [[sentido]] e a [[verdade]] que orientam nossas [[ações]], nosso, enfim, [[agir]]. Daí o seu perdurar. E é nesse [[perdurar]] que o [[tempo]] [[é]] e acontece em seu [[desdobrar-se]] em [[épocas]]. A cada [[desdobramento]], a cada [[manifestação]] do [[vigorar]] do [[sentido]] e da [[verdade]] corresponde [[mundo]], de modo que o [[perdurar]] evidencia o [[vigorar]] do [[sentido]], da [[verdade]] e do [[mundo]] que se manifesta e é [[horizonte]] de nosso [[viver]], de nosso [[realizar-se]]. [[Mundo]] e [[sentido]] e [[verdade]] são para nós a [[realidade]]: [[vigorar]] da [[linguagem]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. '''A caminho da Linguagem'''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 11.
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: "O [[inanimado]] tem ''[[daimon]]'', isto é, tem uma [[dinâmica]] que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer [[dizer]] que a [[técnica]] e a [[ciência]] não devam controlar o [[homem]], mas devam controlar o mineral, o vegetal, o [[animal]]. Não. A [[técnica]] e a [[ciência]] não podem controlar nenhuma [[realização]] e nenhuma [[realidade]]. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer [[realidade]] que, no [[homem]], se chama ''[[daimon]]'', mas Aristóteles diz que se chama ''[[genos]] timeotaton'': ''o [[gênero]] mais elevado'', isto é, o modo de ser a [[estrutura]] mais elevada do [[real]]" (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: ''Arte: corpo, mundo e terra''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.
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== 25 ==
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: A [[linguagem]] é um [[enigma]] porque a [[realidade]] é um [[enigma]]. A [[angústia]] [[social]] com os excluídos e com a sobrevivência tende a encobrir que a própria sobrevivência não se deve colocar como o [[objetivo]] que está para além da própria [[realidade]], nem [[fazer]] desta um [[simples]] [[meio]] para esse [[objetivo]]. É preciso [[pensar]] tanto a sobrevivência como a [[convivência]], no âmbito maior da [[realidade]]/[[linguagem]]. Mas jamais devemos deixar de fazer tudo  para que [[todos]] os [[seres humanos]] tenham assegurada a sobrevivência. "Pois será mesmo possível [[transformar]] a [[realidade]] em meio para um [[fim]]?... Ao pretender decidir como deve ser a [[realidade]], a [[necessidade]] de sobrevivência bitola de antemão todo esforço, na vã ilusão de impedir que a [[realidade]] se mostre e revele como é em si mesma. É que um [[objetivo]] não nos descobre, antes nos encobre, a [[necessidade]] [[essencial]]: abrir-se e expor-se à originalidade do [[real]] assim como [[é]] em sua originalidade, e não assim como aparece no que agora julgamos [[necessitar]]!" (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto". -----. In: ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 167.
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== 26 ==
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: A [[realidade]] e o [[ser humano]] são muito, mas muito mais do que [[finalidades]] [[funcionais]] dentro de [[sistemas]] de [[relações]], sejam elas quais forem. É que a [[linguagem]], fundamentalmente, não é [[funcional]] nem [[relacional]]. A [[linguagem]] é a [[unidade]] do incessante [[eclodir]] da [[realidade]] em sua [[verdade]] e [[sentido]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 27 ==
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: "A [[palavra]] [[realização]] nos engana porque vamos lê-la no plano dos [[entes]], quando ela só pode ser o que é porque é o [[vigorar]] do [[ser]]. Vejamos. [[Realização]] é todo [[crescer]], é todo [[agir]], é todo levar à [[manifestação]], à [[transformação]], ao [[aparecimento]] de algo que ainda não é. Há [[realização]] incessante e não apenas quando se vê o resultado de uma [[ação]] [[humana]] ou da [[natureza]]. Toda a [[realidade]] é contínua e [[permanente]] [[realização]], [[musicalidade]], onde não há apenas [[aparecimento]], e, sim, um [[vigorar]] no [[sentido do ser]]. [[Realização]] é um contínuo e incessante [[agir]], [[crescer]], [[acontecer]] do [[sentido]]. [[Tudo]] está em [[permanente]] [[mutação]], eclosão, como nos diz o [[verbo]] [[grego]] ''[[légein]]'': [[pôr]], [[depor]], [[compor]], [[dispor]], [[propor]]. Acontece que nesse [[por]], a [[realidade]] se dá enquanto seu [[sentido]] pelo [[vigorar]] na [[linguagem]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.
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== 28 ==
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: "A [[unidade]] é o ponto inicial de qualquer desencadear da [[realidade]]. Toda [[realidade]] é [[unidade]] de [[identidade]] e [[diferença]]. Na medida em que toda [[unidade]] é a [[vigência]] do mais [[simples]] e do mais [[complexo]], toda [[unidade]] é sem [[dobra|dobras]], e ao mesmo [[tempo]] a exigência de dobramento" (1). 
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: Referência:
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: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7letras, 2005, p. 53.
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: '''Ver também:'''
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: *''[[Logos]]''
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: *[[Ser]]
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== 29 ==
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: "Também melhor se entende a [[ficcionalidade]] se atentarmos para o terceiro significado do verbo latino ''fingere'': [[imaginar]].  O [[imaginar]] é o contraponto do [[formar]].  O contraponto indica a [[presença]] da tensão do [[limite]] e do [[ilimitado]], da [[diferença]] e da [[identidade]], da [[língua]] e da [[Linguagem]].  O [[formar]] sem o [[imaginar]] origina os formalismos, provocando equívocos sobre o fazer [[literário]].  Já o [[literário]] se realiza quando o [[imaginário]] irrompe em [[produções]].  É isto o que caracteriza fundamentalmente a [[literatura]] infantil: uma [[presença]] marcante e irrefreável do [[imaginário]]. Porque a [[criança]] é mais sensível ao [[imaginário]].  Nela, o [[sonho]] é [[realidade]] e a [[realidade]] é [[sonho]].  Nela, o [[imaginário]] é [[realidade]] e a [[realidade]] é [[imaginário]]. Ainda não sofreu o processo de [[formação]] que a deforma para o real-imaginário e a deseduca para a humanização.  Pelo [[imaginar]], o [[homem]] consuma a sua humanização, na medida em que manifesta o [[sentido]] do que ele é.  Isso se chama [[libertação]]. Na realidade ficcional-literária o [[imaginar]] é o [[real]] vigorando" (1).
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: Referência:
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. ''Tempos de Metamorfose''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 134.
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== 30 ==
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: "Hoje, a [[realidade]] é concebida de maneiras [[diferentes]]: pelo [[sistema]] [[científico]], pelos [[sistemas]] [[religiosos]] e pelo [[tradicional]] [[senso comum]]. Apesar desses [[diferentes]] [[sistemas]] de [[realidade]] há também a [[presença]] incontrolável e gratuita do [[imaginário]], do [[extra-ordinário]] e da [[possibilidade]] do [[tempo]] [[poético]] em cada um: é quando a [[arte]] atua" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.
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== 31 ==
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: "[[Sileno]] é conhecido por ser o detentor da [[sabedoria]]. Não se trata de qualquer [[sábio]] e, certamente, está longe da [[sabedoria]] que os [[filósofos]] profissionais procuram, porque a [[sabedoria]] tem muitos [[caminhos]]. A riqueza cultural grega está na [[possibilidade]] dos diferentes [[caminhos]] que ela empreende em busca desse [[saber]] [[radical]], que é a [[questão]] do [[mito]]: a [[procura]] [[radical]] pela [[felicidade]], girando em torno da [[experienciação]] da [[realidade]] como ''[[Eros]]'' e ''[[Thánatos]]'', que é a [[experienciação]] de todas as [[experienciações]], porque implica nossos [[limites]] [[ilimitados]]" (1).
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: Referência bibliográfica:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.
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== 32 ==
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: "Toda a [[realidade]] continua crítica, agora no [[sentido]] de [[ser]] criticamente sistematizada, controlada e anestesiada pela [[estética]] do [[consumo]]. A esta nada escapa. O grande aliado são os recursos técnicos, cada vez mais amplos e potentes. E quem os promove são as [[universidades]] e os centros de [[pesquisa]]. Tudo hoje é [[objeto]] de [[pesquisa]], se teórica, terá sempre em vista algo [[prático]], até porque a [[pesquisa]] só produz [[saber]] [[prático]], [[funcional]], jamais o seu [[saber]] se transformará numa [[sabedoria]] [[ética]], até porque a [[sabedoria]], desde a lição de [[Platão]] no [[diálogo]] ''[[Menon]]'', não pode ser ensinada" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.
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== 33 ==
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: "Para mim o [[ser humano]] é uma tremenda [[criação]], um [[pensamento]] inconcebível. No [[ser humano]] existe tudo, do mais elevado até o mais baixo. O [[homem]] é a [[imagem]] de [[Deus]] e [[Deus]] existe em [[tudo]]. E assim o [[ser humano]] foi criado, mas também os [[demônios]], os santos, os [[profetas]], os [[artistas]] e os iconoclastas. Tudo existe lado a lado. É como se fossem desenhos gigantes mudando o tempo inteiro. Da mesma maneira devem existir inúmeras [[realidades]]. Não apenas a [[realidade]] que percebemos com nossas obtusas [[sensibilidades]], mas um tumulto de [[realidades]] arqueando-se uma em cima da outra, por dentro e por fora. É só o [[medo]] e o [[puritanismo]] que nos levam a acreditar em [[limites]]. Não existem [[limites]]. Nem para [[pensamentos]] nem para [[sentimentos]]. A [[ansiedade]] é que estabelece os [[limites]]" (1).
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: Referência:
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: BERGMAN, Ingmar. Fala da personagem "Eva", em relação à morte do filho de quatro anos, no filme: '''Sonata de outono'''.
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== 34 ==
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: "Enquanto formos capazes de [[imaginar]] [[realidades]] alternativas seremos capazes de [[criar]] alternativas à [[realidade]]" (1).
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: Referência:
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. "A noite dos reis". Crônica in: '''O Globo''', ''Segundo Caderno'', p. 6, 4-09-2021.
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== 35 ==
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: "A [[energia poética]] é a [[essência]] de todo [[agir]] e o [[sentido]] de todo [[fazer]] e até do não [[agir]] e do não [[fazer]], do [[ser]] e do [[não-ser]]. Enfim, é a [[realidade]] de todas as [[realizações]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.
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== 36 ==
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: "A [[vida]] não é [[real]]. [[Vida]] é fascínio, [[êxtase]], elevação. A [[realidade]] tem a respiração curta, anda rente às calçadas" (1).
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:Referência:
+
: Referência:
-
:(1) PESSANHA, Fábio Santana. "Homem: corpo insólito". In: GARCÍA, Flavio; PINTO, Marcello de Oliveira; MICHELLI, Regina (orgs.). ''[http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/o_insolito_e_seu_duplo_comunicacoes_livres.pdf O insólito e seu duplo]'' – Anais do VI Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional/ I Encontro Regional Insólito como Questão na Narrativa Ficcional. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2010, p. 143.
+
: (1) MEDEIROS, Martha. "Silêncio em movimento", ''Crônica''. In: '''Ela''', publicação de '''O Globo''', 10-04-2022, p. 10.

Edição de 22h03min de 17 de janeiro de 2024

1

"O que nos diz a palavra realidade e realização? É uma palavra de origem latina, formada de res, cuja tradução comum é coisa, mas no sentido de causa, aquilo que agindo causa algo, faz eclodir numa relação de agente e paciente, onde jamais pode acontecer o amar. Pela tradição metafísica que conduziu à substantivação, todo esse sentido verbal se perdeu e vemos de imediato na palavra realidade o que está em nossas circunstâncias, expulsando-nos do tempo poético e deixando-nos aparentemente livres, porque sem sentido..." (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 318.

2

Há duas formas correntes e contraditórias de con-ceber a realidade. Pela primeira, ela é o resultado do que nossos sentidos per-cebem. Pela segunda, ela depende de alguma teoria, racional ou criacionista. Tenta-se unir num terceiro módulo estas duas, seja dialeticamente, seja cientificamente. No entanto, a verdade é muito simples: Realidade é o que não cessa de vigorar e se dá a nós como acontecer poético. A realidade nunca depende, como se crê normalmente, de uma concepção. Ela simplesmente vigora acontecendo, sendo, portanto, um incessante poietizar ou popularmente poetar dela e por ela mesma. Além dessas duas, podemos falar numa terceira que é bem mais completa e complexa: como a realidade se dá na obra de arte. É que esta se revela para o ser humano e com o ser humano como mundo, sentido e verdade.


- Manuel Antônio de Castro

3

A realidade é unidade de real e ideal, de real e irreal no vir-a-ser das realizações. Como unidade a realidade é um mistério que, portanto, exclui qualquer atributo. E dessa maneira não diz respeito a limites, ou seja, a entes. Não sendo ente nenhum e nem a totalidade dos entes, que podemos denominar apropriadamente real, a realidade é nada de ente, enfim, a realidade é o nada criativo. A realidade funda o real, mas o real não é a realidade, pois a realidade é a possibilidade também de todo vir a ser, seja do que já se realizou em realizações, seja do que ainda não se realizou e é possível, portanto, ideal. Enfim, a realidade, embora origine os entes, não é nada de ente nem a soma de todos os entes. Caso contrário não comportaria também o ideal e até mesmo o irreal, pois este pode perfeitamente conter o que vigora, mas não é ente determinado e já realizado. Para esta questão de irreal é necessário levar em consideração, assim como para todas as distinções aqui feitas, a questão da verdade. Então, irreal pode se referir a algo que não é verdadeiro. Mas jamais podemos esquecer que verdadeiro implica o que se manifesta e o que se oculta, como bem o diz a palavra grega para verdade a-letheia.


Manuel Antônio de Castro

4

Numa visão do senso-comum ou do positivismo endêmico, a realidade é o que está aí e nos cerca. Porém, essa questão é bem mais complexa. Essa complexidade pode ser pensada a partir do fragmento 123 de Heráclito, quando diz: "A natureza ama retrair-se" (1), onde a realidade é a tensão no amar tanto do que se manifesta, se desvela, quanto do que se retrai, se vela. Emmanuel Carneiro Leão, a esse propósito, vai falar de totalidade do real ou natureza e tudo que de alguma maneira se desvela, já a realidade é o que se manifestando se retrai. A realização é o amor que é o agir, pelo qual se dá o manifestar-se e o retrair-se. Em suas palavras:
"A totalidade do real, o espaço-tempo de todas as coisas, não é apenas o reino aberto das diferenças, onde tudo se distingue de tudo... A totalidade do real é também o reino misterioso da identidade, onde cada coisa não é somente ela mesma, por ser todas as outras, onde os indivíduos não são definíveis, por serem universais, onde tudo é uno: hen panta. No movimento de sua realização, a realidade é tanto o horizonte em expansão da luz de todas as singularidades como a uni-versalidade protetora da noite, onde todos os gatos são pardos" (2).
O "hen panta" a que Leão se reporta é o núcleo do fragmento 50 de Heráclito. Por este fragmento também podemos pensar a noite como sendo o silêncio falante do lógos.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) HERÁCLITO et alii. Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 84.

5

Realidade não é só o que se vê ou sente. Realidade é propriamente a vigência do vigente que se dando como ver, sentir, criar e crer permanentemente se retrai e vela. Mesmo do que se dá a ver e sentir, vemos e sentimos muito pouco. Por isso mesmo, a vigência do vigente é muito mais do que o consciente e do que o inconsciente. Realidade como vigência do vigente é o ser e o nada do abismal mistério: amor.


- Manuel Antônio de Castro

6

"O sentido da realidade é uma questão de talento. Para a maioria das pessoas falta esse talento... e talvez seja melhor assim..." (1).
Não só a realidade de cada um é uma questão de dávida da vida, também a dávida do sentido da realidade é um dom, que se recebeu ou não. Cabe a cada um com simplicidade acolher esse dom e não exigir dos outros o que não recebeu, porque o sentido da realidade não é algo que se consiga pelo uso da razão. Alguém pode ser muito erudito e racional e não ter o dom do sentido da realidade. Porque isso é assim é um mistério. Os antigos diziam que esse sentido da realidade é uma questão de destino, assim como ser um Beethoven, um Bach, um Sófocles, um Guimarães Rosa, é uma questão de destino. Friedrich Hölderlin, para assinalar esse destino nele, afirmou num momento de grande lucidez e loucura: "Apolo me feriu". Àquele que foi ferido pelo sentido não cabe deixar de cumprir o destino, que não pode ser confundido com "radicalismo" conceitual e doutrinal. Se então há radicalismo, é o radicalismo das questões. E estas é que nos têm, como o destino. O sentido da realidade é o originário da realidade se manifestando. Sentido da realidade é o saber da realidade. Em Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa também se refere a esta questão do sentido da realidade, que ele denomina, ser-tão, dizendo: "Sendo isto. Ao doido doideiras digo...Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei...Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas - e só essas poucas veredas, veredazinhas" (2). Por que para a maioria das pessoas falta o sentido da realidade não cabe a nós indagar. Em princípio todos o recebem, mas tornar-se um dom no sentido de um destino específico para algo, isso já é uma questão de talento, como muito bem afirma Bergman, embora como ser humanos todos estejam abertos para essa possibilidade.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) BERGMAN, Ingmar. No filme Sonata de outono.
(2) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 79.

7

"Deixe-me lhe dizer uma coisa, Anna Egerman. Na minha idade, quando nos inclinamos para a frente, às vezes, nossa mente entra em uma outra realidade. Os mortos não estão mais mortos. Os vivos parecem fantasmas. O que era óbvio um minuto atrás... tornou-se peculiar e impenetrável. Anna... ouça o silêncio aqui neste palco. Imagine toda a energia espiritual, todos os sentimentos reais e representados...riso, fúria, paixão e Deus sabe mais o quê...Tudo isso permanece aqui...fechado...vivendo sua vida secreta e ininterrupta. Às vezes eu os ouço. Às vezes, não. Sempre. Às vezes acho que consigo vê-los...demônios, anjos...fantasmas...pessoas comuns...cuidando atentamente de suas vidas. Fechadas. Reservadas" (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Fala do personagem Henrik Vogler, no filme Depois do ensaio.

8

"O vidente é aquele que já tem visto a totalidade das coisas que se apresenta na presença: em latim vidit; em alemão er steht in Wissen (ele está a par). Ter visto é a ausência do saber. No ter visto já há sempre outra coisa em jogo que a simples realização de um processo ótico. No ter visto a relação com aquilo que se apresenta já retrocedeu para trás de toda a espécie de percepção sensível e não-sensível. A partir daí, o ter visto está relacionado com a presença que se clarifica.
O ver não se determina a partir do olho, mas a partir da clareira do ser. A in-sistência nela constitui a articulação de todos os sentidos humanos. A essência do ver enquanto ter visto é o saber. Este contém a visão. Ele permanece na lembrança da presença. O saber é a lembrança do ser. É por isso que Mnemosýne é a mãe das musas. Saber não é a ciência no sentido moderno. Saber é salvaguarda pensante da guarda do ser" (1).
Na medida em que todo ver pressupõe o já ter visto de alguma maneira é que dá origem ao vidente e à evidência. Esta não precisa de mediação, por ela a realidade se mostra no que ela é e em-si. Por isso, dizemos frequentemente: isso é evidente, ou seja, não precisa de uma explicação, de uma mediação. Em sua essência, todo ser humano é um vidente, embora poucos consigam quebrar o hábito do ver banal e cotidiano. Todo artista, especialmente o poeta e pintor, se deixa tomar em seu ver e dizer pela evidência. Na dança, o meio de manifestar o evidente é o gesto. Todo gesto na dança manifesta a realidade acontecendo, dando-se a ver.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Os pré-socráticos. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 34.

9

A Realidade é mistério em contínua realização, produzindo os reais (on, onta, em grego) como seu modo de se desvelar. Daí a variedade de reais ou mundos, enquanto conjunto de coisas ou entes com sentido de totalidades parciais. Real diz o que é, o próprio da Realidade, como o poético é o próprio da Poética e o humano é o próprio da Humanidade. À realidade, à Poética, à Humanidade não temos acesso, porque nenhuma língua pode dizê-las, embora toda língua seja língua de Linguagem como todo humano é humano da Humanidade e todo real é real da Realidade. Nesta tensão constante e dialética acontecem as realizações.


- Manuel Antônio de Castro

10

"A realidade se dá na medida e enquanto se retrai nas realizações" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Logos, mythos, epos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 31.

11

"Tomas: Existe uma palavra mágica para nós descrentes.
"Jenny: O que quer dizer?
"Às vezes eu a sussurro para mim.
"Pode me dizer qual é?
"Eu desejo ardentemente que alguém me toque para eu me tornar real. Eu repito sempre: "Permita que eu me torne real."
" Jemmy: O que quer dizer com "real"?
" Tomas: Ouvir uma voz humana e saber que ela vem de alguém que sente como eu. Beijar uma boca e saber de imediato que é uma boca. Não ter que repetir o momento terrível mais uma vez no qual experiências anteriores não dizem que era uma boca que beijei. Para mim realidade é quando alegria é verdadeira alegria. E sofrimento é verdadeiro sofrimento. Eu não sei. O real não é isso que eu imagino. Não existe razão para a realidade existir. Ela não é nada mais que uma esperança" (1).


(1) BERGMAN, Ingmar. Filme Face a face. Falas dos personagens: Jemmy e Tomas.

12

Quem diz sentido o faz já no horizonte do vigorar da realidade em linguagem, sentido, verdade e mundo. Realidade é acontecer nas realizações do real. Não há realização do real sem abertura de verdade e mundo, pois todo acontecer da realidade manifesta e vela.


- Manuel Antônio de Castro

13

"... toda experiência radical de pensamento se embrenha pelas raízes da própria possibilidade de pensar as realizações do real no e pelo mistério da realidade" (1).


- Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Deus e o homem louco". Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro, 188: 145-153, jan.-mar., 2012, p. 145.

14

"Não há fala sem linguagem como não há realidade sem onta (sendos). Toda fala é uma fala da linguagem assim como todo on é um on da phýsis, ser, realidade. Disso decorre que a linguagem implica a realidade e a realidade implica a linguagem. Cada fala e cada on já são posições dentro da realidade e dentro da linguagem" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 129.

15

"Em 1950, o matemático americano Norbert Wiener publicava o livro The human use of human beings – cybernetics and society, em que propunha o campo da cibernética como o conhecimento em torno de sistemas de controle, comunicação e transmissão de informações. Tal conhecimento poderia automatizar muitos aspectos da vida humana, tornando-a mais livre e menos dependente do trabalho manual" (1).


Referência:
(1) LIRA, André. "O ciborgue frente ao real". In: Revista Tempo Brasileiro: globalização, pensamento e arte, 201/202, abr.-set.,2015, p. 78.

16

"O que não pode ser esquecido é que o vocabulário, ao nos circunscrever num determinado mundo real, não quer isso dizer que tenhamos já toda a realidade, ou que ela seja toda determinada por esse vocabulário. A realidade é bem mais dinâmica e nem todos os seres humanos são determinados pelo vocabulário. Há outras realizações que convivem entre si e em relação à realidade geral de uma maneira muito dinâmica, múltipla e ambígua, inovadora" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 242.

17

"Entenda-se por realidade não apenas o âmbito do já feito e realizado, o real. Realidade é desde sempre mistério. Em geral, pensamos falar de realidade ou real quando, na verdade, falamos das suas diferentes manifestações históricas, que podemos adequadamente denominar: mundos (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A história do sentido das artes e as épocas". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 287.

19

"A realidade é o labirinto que exige de nós uma caminhada de sentido, um motivo que nos mova em nossa existência. É para esse sentido que a dança nos conduz, se a deixarmos operar,se tivermos a coragem de nos entregarmos a ela em sua vigência. Na dança poética somos tomados pelo que somos, pois ser é sempre uma tarefa poética, onde quem vigora é o princípio: o não cessar de estar sendo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 83.

20

"Mentira e realidade são uma coisa só. Tudo pode acontecer. Tudo é sonho e verdade. Tempo e espaço não existem. Sobre a frágil base da realidade, a imaginação tece sua teia e desenha novas formas, novos destinos" (1).


(1) Referência:
Strindberg. Peça teatral "Sonhos". Passagem citada no filme de Ingmar Bergman Fanny e Alexander, 1982.

21

"Seu método de reflexão filosófica é exclusivamente o método dialético triádico: tese, antítese e síntese, ou melhor, segundo a terminologia hegeliana: afirmação (Tese), negação (Antítese) e negação da negação e afirmação da afirmação (Síntese). Por este método Hegel pretende mostrar como se classificam racionalmente e como se encadeiam racionalmente, e com necessidade, todos os aspectos mais importantes da realidade, a partir dos mais abstratos como: o ser em geral, o vir-a-ser, a qualidade, a quantidade etc., até os mais concretos como os diversos tipos de civilizações e de filosofias. Estes vários aspectos da realidade são as tais “essências” que, segundo Hegel, estão logicamente e realmente tão encadeadas que a existência de uma implica necessariamente a existência de todas as demais. Todo o “sistema” da realidade é absolutamente necessário e absolutamente lógico" (1).


Referência:
HUMMES ofm, Cardeal Dom Cláudio. História da Filosofia. Curso dado em 1963, em Daltro Filho, hoje cidade de Imigrantes, RS. Anotações distribuídas em sala de aula.

22

O homem moderno criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será o universo como um gigantesco relógio. Nesta mudança o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até se podem efetuar intervenções, fundamentadas, claro, desde então, nesse novo conhecimento que passou a ser denominado científico, porque objetivo. E desde então só será verdadeiro o que for científico. A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeirocriador”. Um tal conhecimento é exercido pela razão crítica, que se fundamenta na Razão Crítica de Kant.


- Manuel Antônio de Castro.

23

"A linguagem fala. O que acontece com essa fala? Onde encontramos a fala da linguagem? Sobremaneira no que se diz. No dito, a fala se consuma, mas não acaba. No dito, a fala se resguarda. No dito, a fala recolhe e reúne tanto os modos em que ela perdura como o que pela fala perdura - seu perdurar, seu vigorar, sua essência. Contudo, na maior parte das vezes e com frequência, o dito nos vem ao encontro como uma fala que passou" (1).
Não podemos esquecer que o vigorar da linguagem é o sentido e a verdade que orientam nossas ações, nosso, enfim, agir. Daí o seu perdurar. E é nesse perdurar que o tempo é e acontece em seu desdobrar-se em épocas. A cada desdobramento, a cada manifestação do vigorar do sentido e da verdade corresponde mundo, de modo que o perdurar evidencia o vigorar do sentido, da verdade e do mundo que se manifesta e é horizonte de nosso viver, de nosso realizar-se. Mundo e sentido e verdade são para nós a realidade: vigorar da linguagem.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 11.

24

"O inanimado tem daimon, isto é, tem uma dinâmica que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer dizer que a técnica e a ciência não devam controlar o homem, mas devam controlar o mineral, o vegetal, o animal. Não. A técnica e a ciência não podem controlar nenhuma realização e nenhuma realidade. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer realidade que, no homem, se chama daimon, mas Aristóteles diz que se chama genos timeotaton: o gênero mais elevado, isto é, o modo de ser a estrutura mais elevada do real" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.

25

A linguagem é um enigma porque a realidade é um enigma. A angústia social com os excluídos e com a sobrevivência tende a encobrir que a própria sobrevivência não se deve colocar como o objetivo que está para além da própria realidade, nem fazer desta um simples meio para esse objetivo. É preciso pensar tanto a sobrevivência como a convivência, no âmbito maior da realidade/linguagem. Mas jamais devemos deixar de fazer tudo para que todos os seres humanos tenham assegurada a sobrevivência. "Pois será mesmo possível transformar a realidade em meio para um fim?... Ao pretender decidir como deve ser a realidade, a necessidade de sobrevivência já bitola de antemão todo esforço, na vã ilusão de impedir que a realidade se mostre e revele como é em si mesma. É que um objetivo não nos descobre, antes nos encobre, a necessidade essencial: abrir-se e expor-se à originalidade do real assim como é em sua originalidade, e não assim como aparece no que agora julgamos necessitar!" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto". -----. In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 167.

26

A realidade e o ser humano são muito, mas muito mais do que finalidades funcionais dentro de sistemas de relações, sejam elas quais forem. É que a linguagem, fundamentalmente, não é funcional nem relacional. A linguagem é a unidade do incessante eclodir da realidade em sua verdade e sentido.


- Manuel Antônio de Castro.

27

"A palavra realização nos engana porque vamos lê-la no plano dos entes, quando ela só pode ser o que é porque é o vigorar do ser. Vejamos. Realização é todo crescer, é todo agir, é todo levar à manifestação, à transformação, ao aparecimento de algo que ainda não é. Há realização incessante e não apenas quando se vê o resultado de uma ação humana ou da natureza. Toda a realidade é contínua e permanente realização, musicalidade, onde não há apenas aparecimento, e, sim, um vigorar no sentido do ser. Realização é um contínuo e incessante agir, crescer, acontecer do sentido. Tudo está em permanente mutação, eclosão, como nos diz o verbo grego légein: pôr, depor, compor, dispor, propor. Acontece que nesse por, a realidade se dá enquanto seu sentido pelo vigorar na linguagem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.

28

"A unidade é o ponto inicial de qualquer desencadear da realidade. Toda realidade é unidade de identidade e diferença. Na medida em que toda unidade é a vigência do mais simples e do mais complexo, toda unidade é sem dobras, e ao mesmo tempo a exigência de dobramento" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7letras, 2005, p. 53.


Ver também:
*Logos
*Ser

29

"Também melhor se entende a ficcionalidade se atentarmos para o terceiro significado do verbo latino fingere: imaginar. O imaginar é o contraponto do formar. O contraponto indica a presença da tensão do limite e do ilimitado, da diferença e da identidade, da língua e da Linguagem. O formar sem o imaginar origina os formalismos, provocando equívocos sobre o fazer literário. Já o literário se realiza quando o imaginário irrompe em produções. É isto o que caracteriza fundamentalmente a literatura infantil: uma presença marcante e irrefreável do imaginário. Porque a criança é mais sensível ao imaginário. Nela, o sonho é realidade e a realidade é sonho. Nela, o imaginário é realidade e a realidade é imaginário. Ainda não sofreu o processo de formação que a deforma para o real-imaginário e a deseduca para a humanização. Pelo imaginar, o homem consuma a sua humanização, na medida em que manifesta o sentido do que ele é. Isso se chama libertação. Na realidade ficcional-literária o imaginar é o real vigorando" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 134.

30

"Hoje, a realidade é concebida de maneiras diferentes: pelo sistema científico, pelos sistemas religiosos e pelo tradicional senso comum. Apesar desses diferentes sistemas de realidade há também a presença incontrolável e gratuita do imaginário, do extra-ordinário e da possibilidade do tempo poético em cada um: é quando a arte atua" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.

31

"Sileno é conhecido por ser o detentor da sabedoria. Não se trata de qualquer sábio e, certamente, está longe da sabedoria que os filósofos profissionais procuram, porque a sabedoria tem muitos caminhos. A riqueza cultural grega está na possibilidade dos diferentes caminhos que ela empreende em busca desse saber radical, que é a questão do mito: a procura radical pela felicidade, girando em torno da experienciação da realidade como Eros e Thánatos, que é a experienciação de todas as experienciações, porque implica nossos limites ilimitados" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.

32

"Toda a realidade continua crítica, agora no sentido de ser criticamente sistematizada, controlada e anestesiada pela estética do consumo. A esta nada escapa. O grande aliado são os recursos técnicos, cada vez mais amplos e potentes. E quem os promove são as universidades e os centros de pesquisa. Tudo hoje é objeto de pesquisa, se teórica, terá sempre em vista algo prático, até porque a pesquisa só produz saber prático, funcional, jamais o seu saber se transformará numa sabedoria ética, até porque a sabedoria, desde a lição de Platão no diálogo Menon, não pode ser ensinada" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.

33

"Para mim o ser humano é uma tremenda criação, um pensamento inconcebível. No ser humano existe tudo, do mais elevado até o mais baixo. O homem é a imagem de Deus e Deus existe em tudo. E assim o ser humano foi criado, mas também os demônios, os santos, os profetas, os artistas e os iconoclastas. Tudo existe lado a lado. É como se fossem desenhos gigantes mudando o tempo inteiro. Da mesma maneira devem existir inúmeras realidades. Não apenas a realidade que percebemos com nossas obtusas sensibilidades, mas um tumulto de realidades arqueando-se uma em cima da outra, por dentro e por fora. É só o medo e o puritanismo que nos levam a acreditar em limites. Não existem limites. Nem para pensamentos nem para sentimentos. A ansiedade é que estabelece os limites" (1).


Referência:
BERGMAN, Ingmar. Fala da personagem "Eva", em relação à morte do filho de quatro anos, no filme: Sonata de outono.

34

"Enquanto formos capazes de imaginar realidades alternativas seremos capazes de criar alternativas à realidade" (1).
Referência:
(1) AGUALUSA, José Eduardo. "A noite dos reis". Crônica in: O Globo, Segundo Caderno, p. 6, 4-09-2021.

35

"A energia poética é a essência de todo agir e o sentido de todo fazer e até do não agir e do não fazer, do ser e do não-ser. Enfim, é a realidade de todas as realizações" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.

36

"A vida não é real. Vida é fascínio, êxtase, elevação. A realidade tem a respiração curta, anda rente às calçadas" (1).


Referência:
(1) MEDEIROS, Martha. "Silêncio em movimento", Crônica. In: Ela, publicação de O Globo, 10-04-2022, p. 10.
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