Sentido

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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== 1 ==
== 1 ==
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:É que uma língua só comunica se e na medida em que sua competência tiver sentido, isto é, enquanto puder articular as experiências inovadoras partilhadas pela comunidade. Responder à pergunta se um discurso é ou não é significativo equivale a responder à pergunta: que dimensão da experiência comunitária ele exprime, consolida e transforma?(1)  Ora, este fato mostra claramente que realidade e homem se dimensionam no vigor da Linguagem. É por isso que estas questões: homem, realidade, linguagem se constituem no núcleo duro da Poiesis. Perguntar, pois, pelo homem e pela realidade na Modernidade e na [[Pós-modernidade]] é perguntar pelo que acontece à Linguagem.  
+
: "[[Método]] é uma [[palavra]] grega e diz concretamente toda caminhada que o [[ser-humano]] faz para atingir seus [[fins]]. Isso pressupõe o [[agir]] e seu [[sentido]]. O [[agir]] e seu [[sentido]] diz-se em grego ''[[póiesis]]'', ou seja, [[ação]] com [[sentido]] tendo em vista a [[manifestação]] e construção de algo. Por isso, todo nosso [[agir]] tem um fundo [[poético]] em [[sentido]] [[essencial]]. O [[sentido]] em sua [[etimologia]] significa [[caminho]] que dá [[unidade]] às sensações de todos os [[sentidos]]. A esta [[unidade]] ou [[sentido]] entendemos como [[tempo]] e [[póiesis]], [[memória]] e [[linguagem]]" (1).
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:— [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) Cf. "A ação e a caminhada de vida". In: '''www.travessiapoetica.blogspot.com''', 2006. Blog de Manuel Antônio de Castro.
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:Referência:
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== 2 ==
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: "Se o [[essencial]] não foi [[destino|destinado]] a ser [[compreendido]], se somos cegos por que insistimos em [[visão|ver]] com os [[olhos]], por que não tentamos usar estas nossas mãos entortadas por dedos? Por que tentamos [[ouvir]] com os [[ouvidos]] o que não é [[som]]?" (1).
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Conferência: ''A Pós-modernidade''. Mimeo, p. 9.
 
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: Referência:
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:'''Ver também:'''
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: (1) LISPECTOR, Clarice. '''Maçã no escuro''', 3. e. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1970, p. 252.
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:*[[Logos]]
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: '''Ver também:'''
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:*[[Sociedade]]
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:*[[Experienciar]]
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== 2 ==
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: *[[Arte]]
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:"Se o essencial não foi destinado a ser compreendido, se somos cegos por que insistimos em ver com os olhos, por que não tentamos usar estas nossas mãos entortadas por dedos? Por que tentamos ouvir com os ouvidos o que não é som?"
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: *[[Presença]]
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: *[[Clareira]]
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== 3 ==
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: A [[questão]] do [[sentido]] fica mais clara quando se examina o triângulo semiótico e se tenta aplicá-lo à [[música]]. Do ponto de vista da [[semiótica]] ou [[semiologia]] parece facilmente que o [[real]] é construído a partir do [[signo]], daí que o [[referente]] foge do [[horizonte]] de [[reflexão]], ficando na [[tensão]] [[significante]]/[[significado]], seja como [[denotação]], seja como [[conotação]]. Mas quando se tenta aplicar à [[música]], esta é que origina o significante e o significado, mas sem que se possa falar em [[referente]], ou seja, a [[música]] é o próprio [[referente]] na medida em que [[é]] a [[realidade]] tanto mais se manifestando quanto mais mergulhando misteriosamente no [[velar-se]] e no [[silenciar]]. É deste [[silêncio]] que se haure o [[sentido]]. Mas então aí não se pode falar de [[significado]]. O que aqui se diz da [[música]] deve ser dito igualmente da [[poesia]] e de todas as [[artes]]. O significado é do plano da [[epistemologia]], ao passo que o [[silêncio]] é da [[dimensão]] do [[poético]], em seu [[sentido]] [[ontológico]]. Neste se [[realiza]] o [[humano]] em seu [[sentido]]. E o [[humano]] diz respeito a todo e qualquer [[ser humano]], em [[todas]] as [[culturas]] e [[épocas]].
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:Referência:
 
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:(1) LISPECTOR, Clarice. ''Maçã no escuro''. 3.e. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1970, p. 252.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: '''Ver também:'''
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:'''Ver também:'''
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: *[[Musas]]
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: *[[Interpretação]]
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: *[[Interpretar]]
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:*[[Arte]]
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:*[[Presença]]
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: Eis os três significados fundamentais de [[sentido]] ([[sentidos]]/sentir/[[percepção]]; direção, [[caminho]]; [[sintaxe]], reunião enquanto aquilo que permanece, é constante e confiável). A apreensão da [[linguagem]] como a que dá [[sentido]] (reduzida ao conceito/signo) vem do [[assinalar]] o ''[[logos]]'', a sintaxe, a ordem enquanto [[sentido]] que vigora no reunir, na [[unidade]] de reunião. Por isso, ''[[logos]]'' significa fundamentalmente [[pôr]], depor e [[propor]] enquanto [[reunião]] e ordem de [[sentido]]. O [[sentido]], portanto, enquanto sintaxe/''[[logos]]'', está no núcleo do que é "[[lugar]]" e do que é "[[mundo]]". É necessário fazer uma fenomenologia do [[sentir]]. Não há apenas os diferentes [[sentidos]] reunidos no [[sentir]]. O [[sentir]] é também um [[impulso]] vital de tensão de [[ente]]/[[ser]] pelo qual, como [[sentir]] no âmbito do [[ente]], o [[sentir]] deste e daquele [[ente]], cada [[ente]] como [[sendo]] quer [[sentir]] tudo, ou seja, o [[Ser]]. Isso fica, por exemplo, patente no [[poema]] de Fernando Pessoa: "Multipliquei-me, para me [[sentir]], Para me [[sentir]], precisei [[sentir]] tudo". É importante [[compreender]] que a [[música]] perfaz todos os verbos-questões e que, por isso mesmo, essa inter-face de ''[[physis]]'' e ''[[poiesis]]'' nos verbos-questões se dá sempre como [[sentido]]. Esse dar-se da ''[[phýsis]]''/''[[poíesis]]'' como [[sentido]] é o [[Ser]]-[[entre]], o [[lugar]], o [[mundo]].
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:*[[Clareira]]
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== 3 ==
 
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:A questão do sentido fica mais clara quando se examina o triângulo semiótico e se tenta aplicá-lo à música. Do ponto de vista da semiótica ou semiologia parece facilmente que o real é construído a partir do signo, daí que o [[referente]] foge do horizonte de reflexão, ficando na tensão significante/significado, seja como denotação, seja como conotação. Mas quando se tenta aplicar à música, esta é que origina o significante e o significado, mas sem que se possa falar em referente, ou seja, a música é o próprio referente na medida em que é a realidade tanto mais se manifestado quanto mais mergulhando misteriosamente no velar-se e no silenciar. É deste silêncio que se haure o sentido. Mas então aí não se pode falar de significado. O que aqui se diz da música deve ser dito igualmente da poesia e de todas as artes.
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:— [[Manuel Antônio de Castro]]
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: '''Ver também:'''
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: *[[Conjuntura]]
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: *[[Identidade]]
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: *[[Diferença]]
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:'''Ver também:'''
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== 5 ==
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: Heidegger diz no [[ensaio]] '''A origem da obra de arte''' (1) que os sentidos (''aistheton'') só apreendem "algo" na medida em que fazem parte, de algum modo, de um "[[mundo]]". Ou seja, a [[coisa]] já se oferece num determinado "[[sentido]]" e cada [[sentido]] só sente a partir e no âmbito desse "[[sentido]]" (mundo). É claro que há aí uma [[relação]] constituída por um todo fundada pelo [[sentido]] e [[experienciar|experienciada]] no e pelos [[sentidos]]. Um exemplo bem consistente é o [[jogo]]. Os movimentos, os processos, os toques, a [[presença]] dos sentidos recebem todos o seu [[sentido]] pelo [[sentido]] inerente ao [[agir]] que o [[jogo]] traz e pressupõe. Sem este [[sentido]] não há [[jogo]]. Os sentidos que entram na execução de um [[jogo]] e seus processos se manifestam nas jogadas e nos jogadores. Mas tanto uns como outros têm seu [[horizonte]] de [[sentido]], no "[[sentido]]" ([[mundo]]) do [[jogo]] que está sendo jogado. Porém, a aparente "gratuidade" do [[jogo]], de cada [[jogo]], é uma [[doação]] do [[sentido]] da [[realidade]] no sentido do [[agir]] do [[ser humano]]. É nesse sentido que podemos [[dizer]] que o [[ser humano]] é essencialmente um [[ser]] lúdico: [[sentido]], [[mundo]], [[linguagem]].
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:*[[Musas]]
 
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:*[[Interpretação]]
 
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:*[[Interpretar]]
 
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== 4 ==
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Eis os três significados fundamentais de sentido (sentidos/sentir/percepção; direção, caminho; sintaxe, reunião enquanto aquilo que permanece, é constante e confiável). A apreensão da linguagem como a que dá sentido (reduzida ao conceito/signo) vem do assinalar o logos a sintaxe, a ordem enquanto sentido que vigora no reunir, na unidade de reunião. Por isso, logos significa fundamentalmente o de-por e pro-por enquanto reunião e ordem de sentido. O sentido, portanto, enquanto sintaxe/logos está no núcleo do que é "lugar" e do que é "mundo". É necessário fazer uma fenomenologia do sentir. Não há, apenas os diferentes sentidos reunidos no sentir. O sentir é também um impulso vital de tensão de ente/ser pelo qual, como sentir no âmbito do ente, o sentir deste e daquele ente, cada ente como sendo quer sentir tudo, ou seja, o Ser. Isso fica, por exemplo, patente no poema de Fernando Pessoa: "Multipliquei-me, para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo". É importante compreender que a [[música]] perfaz todos os verbos-questões e que, por isso mesmo, essa inter-face de physis e poiesis nos verbos-questões se dá sempre como sentido. Esse dar-se da physis/poiesis como sentido é o Ser-entre, o lugar, o mundo.
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: Referência:
-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
+
: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A Origem da Obra de Arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. Lisboa: Edições 70, 2010.
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: '''Ver também:'''
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:'''Ver também:'''
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: *[[Vida]]
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: *[[Vivência]]
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:*[[Conjuntura]]
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== 6 ==
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:*[[Identidade]]
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: "[[Pensar]] o [[sentido do ser]] é [[escuta|escutar]] a [[realidade]] nos vórtices das [[realizações]], deixando-se [[dizer]] para si mesmo o que é digno de ser pensado como o [[outro]]" (1).
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:*[[Diferença]]
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: Referência:
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== 5 ==
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 15.
-
:Heidegger diz no ensaio "A origem da obra de arte" que os sentidos (aistheton) só apreendem "algo" na medida em que fazerm parte, de algum modo, de um "mundo". Ou seja, a "coisa" já se oferece num determinado "sentido" e cada sentido só sente a partir e no âmbito desse "sentido" (mundo). É claro que há aí uma relação constituída por um todo fundada pelo sentido e experienciada no e pelos sentidos. Um exemplo bem consistente é o [[jogo]]. Os movimentos, os processos, os toques, a presença dos sentidos recebem todos o seu sentido pelo sentido inerente ao agir que o jogo traz e pressupõe. Sem este sentido não há jogo. Os sentidos que entram na execução de um jogo e seus processos se manifestam nas jogadas e nos jogadores. Mas tanto uns como outros têm seu horizonte de sentido, no "sentido" (mundo) do jogo que está sendo jogado. Porém, a aparente "gratuidade" do jogo, de cada jogo, é uma doação do sentido do real no sentido do agir do ser humano. É nesse sentido que podemos dizer que o ser humano é essencialmente um ser lúdico: sentido, mundo, linguagem.
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-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
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: '''Ver também:'''
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: *[[Acontecer]]
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: *[[Diálogo]]
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:'''Ver também:'''
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== 7 ==
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: Heidegger pensa o [[sentido]] e [[pensamento]], e o distingue de [[consciência]] e [[conhecimento]]. "O alemão ''sinnan'', ''sinnen'', pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma. Entregar-se ao sentido é a [[essência]] do [[pensamento]] que pensa o sentido. Este significa mais do que simples [[consciência]] de alguma coisa. Ainda não pensamos o sentido quando estamos apenas na [[consciência]]. Pensar o sentido é muito mais. É a [[serenidade]] em face do que é digno de ser questionado. No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um [[lugar]] onde se abre, então, o [[espaço]] que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer" (1).
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:*[[Vida]]
 
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:*[[Vivenciar]]
 
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:*[[Experienciar]]
 
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== 6 ==
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:"Pensar o sentido do ser é escutar a realidade nos vórtices das realizações, deixando-se dizer para si mesmo o que é digno de ser pensado como o outro." (1)
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: Referência:
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:Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:-------. ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.
-
:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Apresentação. In: Heidegger, Martin. ''Ser e tempo'' . Petrópolis: Vozes, 1988, p. 15.
 
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: '''Ver também:'''
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:'''Ver também:'''
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: *[[Ser]]
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: *[[Questão]]
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:*[[Acontecer]]
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== 8 ==
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:*[[Diálogo]]
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: O [[sentido]] é a [[dimensão]] [[sagrado|sagrada]] da qual, ao modo da [[música]], a [[palavra]] chega a articular o engendramento [[originário]] da [[realidade]]. A [[linguagem]] como [[linguagem]] é sempre [[sentido]] e não simples [[significado]]. O [[significado]] é a articulação da [[linguagem]] como [[representação]]. Somos mais atraídos pela [[linguagem]] enquanto [[significado]] porque o [[real]] se nos dá como [[representação]], onde o [[sentido]] propriamente se retrai. E nesse sentido, a [[música]] é a que mais resiste à [[representação]]. Mas também ela, articulada nas [[relações]] intra-mundanas das [[linguagens]] diversas enquanto [[significados]], cai nas malhas da repetição. Esta é [[representação]]? Hoje não se fala simplesmente de [[música]] mas de [[gênero|gêneros]] seguidos de adjetivos . E a [[música]] para [[consumo]] se não é [[representação]] é repetição representada na repetição do já manifesto. Todas as "[[artes]]" podem tornar-se repetições do já manifesto com modificações circunstanciais e contextuais. Toda [[arte]] inaugural é sempre inauguradora de [[História]] (1).
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:*[[Linguagem]]
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== 7 ==
 
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:Heidegger pensa o sentido e pensamento, e o distingue de [[consciência]] e conhecimento. "O alemão sinnan, sinnen, pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma. Entregar-se ao sentido é a essência do pensamento que pensa o sentido. Este significa mais do que simples consciência de alguma coisa. Ainda não pensamos o sentido quando estamos apenas na consciência. Pensar o sentido é muito mais. É a serenidade em face do que é digno de ser questionado. No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um lugar onde se abre, então, o espaço que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer." (1)
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Referência:
 
-
:(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.
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: Referência:
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: (1) Cf. HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo'', volume I. Vozes: 1993, p. 208.
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:'''Ver também:'''
 
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:*[[Ser]]
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: '''Ver também:'''
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:*[[Questão]]
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:*[[Linguagem]]
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== 8 ==
+
: *[[Histórico]]
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:"Não se pensa propriamente o sentido do ser se não se abandona o conceito metafísico do ser como o ente supremo, paradigmático, exemplar ou como o fundamento adutivo e produtivo do universo ôntico. (Seiendheit = onticidade)" (1).  Não se pode pensar o sentido porque se pensa o ser entitativamente. E o ser não é ente, daí optar Heidegger pelo Es gibti: Se dá. Neste, há o dar-se como dom e o [[guardar-se]] como ser no não-ser do velar-se. "Se não se compreende a duplicidade originária do particípo eón como o apropriar-se ontofânico (Ereignis) e, ao mesmo tempo, como o desapropriar-se criptofânico (Enteignis) jamais se apreende o sentido do ser." (2)
+
: *[[Silêncio]]
 +
== 9 ==
 +
: [[Sentido]] está ligado a ''[[Télos]]''. "''[[Telos]]'' é o [[sentido]], enquanto [[sentido]] implica [[princípio]] de desenvolvimento, [[vigor]] de [[vida]], [[plenitude]] de [[estruturação]]" (1). ''[[Telos]]'', enquanto [[sentido]], não se traduz então como ''[[fim]]'', ''[[finalidade]]''. Por isso, Gadamer, a propósito do [["sentido" do Ser]] em Heidegger, diz: "A meu ver, porém, quando pergunta pelo [[sentido do ser]], Heidegger tampouco pensa "[[sentido]]" na linha da [[metafísica]] e de seu [[conceito]] de [[essência]]. Pensa-o, antes, como [[sentido]] interrogativo que não espera uma determinada [[resposta]], mas que sugere uma direção ao [[perguntar]]" (2). Só vejo aí direção como tensão entre [[saber]] e [[não-saber]], dialeticamente na [[procura]] da [[plenitude]] de [[realização]].
-
:Referências:
 
-
:(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. ''O saber em memória do ser''. In: "Revista Tempo Brasileiro". Rio de Janeiro: nº 95, out-dez, 1988, p. 15.
+
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
:(2) Idem, p. 15.
 
 +
: Referências:
-
:'''Ver também:'''
+
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 156.
 +
: (2) Cf. GADAMER, Hans-Georg. ''Verdade e método II''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 428.
-
:*[[Doação]]
+
 
-
:*[[Clareira]]
+
: '''Ver também:'''
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 +
: *[[Questão]]
 +
: *[[Interpretar]]
 +
: *[[Consumação]]
== 10 ==
== 10 ==
-
:O sentido é a dimensão sagrada da qual, ao modo da [[música]], a palavra chega a articular o engendramento originário da realidade. A linguagem como linguagem é, sempre sentido e não simples significado. O significado é a articulação da linguagem como [[representação]]. Somos mais atraídos pela linguagem enquanto significado porque o real se nos dá como representação, onde o sentido propriamente se retrai. E nesse sentido, a música é a que mais resiste à representação. Mas também ela, articulada nas relações intra-mundanas das linguagens diversas enquanto significados, cai nas malhas da repetição. Esta é representação? Hoje não se fala simplesmente de música mas de gêneros seguidos de adjetivos . E a música para consumo se não é representação é repetição representada na repetição do já manifesto. Todas as "artes" podem tornar-se repetições do já manifesto com modificações circunstanciais e contextuais. Toda arte inaugural é sempre inauguradora de História. (1)
+
: O sentido está radicalmente ligado à [[compreensão]], na medida em que esta manifesta a pertença do ente (entre os quais se acha o homem) ao ser. Esta pertença se [[manifestação|manifesta]] através do círculo hermenêutico (1). Por isso mesmo, ''Ser e tempo'' trata fundamentalmente da questão do sentido do ser. A questão do sentido está, pois, ligada à questão da pré-compreensão, da compreensão, da pergunta enquanto saber e não-saber (sentido do que somos), da abertura, do projeto, da clareira. A compreensão enquanto sentido do ser/ ente em sua tensão remete para a proximidade. Diz Michelazzo: "Ela [a compreensão] é tanto a expressão da proximidade e da mútua [[pertinência]] entre o [[homem]] e o [[ser]], quanto o próprio caminho para investigar o sentido do ser em geral, isto é, do ser dos entes em sua [[totalidade]], incluindo o homem" (2).
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:— [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referências:
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 +
: (1) Cf. MICHELAZZO, José Carlos. ''Do um como princípio ao dois como unidade''. São Paulo: Annablume, 1999, p. 107.
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: (2) Idem, p. 109.
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 +
: '''Ver também:'''
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 +
: *[[Vereda]]
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: *[[Destino]]
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== 11 ==
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: "[[Sentido]] é a [[dinâmica]] de estabelecimento da [[unidade]]. [[Sentido]] é, desse modo, [[harmonia]], isto é, a junção da di-ferença no [[uno]]" (1).
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 +
 
 +
: Referência:
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 +
: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 80.
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 +
== 12 ==
 +
: "O [[sentido]] da [[realidade]] é uma [[questão]] de [[talento]]. Para a maioria das pessoas falta esse talento... e talvez seja melhor assim" (1).
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 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) BERGMAN, Ingmar. Filme "Sonata de outono".
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 +
== 13 ==
 +
:"O sentido interposto e a [[ação]] que é a [[interpretação]] - ''isso'' é um único e mesmo [[fenômeno]], um único e mesmo [[acontecimento]] ou [[ato]]. Dito de outro modo: o ''inter'' do sentido inter-posto e o ''inter'' da inter-pretação são um e o mesmo ''fato'', um e o mesmo acontecimento - a ação do viver, do existir" (1).
:Referência:
:Referência:
-
:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo I''. Vozes: 1993, p. 208.
+
: (1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org.). ''Permanecer silêncio'' - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 112.
 +
== 14 ==
 +
:"Sentido, isso que é [[nada]], ''[[coisa]]'' nenhuma, mas tão-só este modo de [[ser]] [[próprio]] do [[homem]], da [[vida]] ou da [[existência]] humana, em sendo antecipação e esta se mostrando como [[orientação]], é ''aquilo'' que me põe, me sintoniza e me sincroniza como que em estado nascente com a própria coisa" (1).
-
:'''Ver também:'''
 
-
:*[[Arte]]
+
:Referência:
-
:*[[Histórico]]
+
-
:*[[Silêncio]]
+
-
== 11 ==
+
: (1) FOGEL, Gilvan. Vida, realidade, interpretação. In: FAGUNDES, Igor (org.). ''Permanecer silêncio'' - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 107.
-
:Sentido está ligado a TELOS. Ver: (1). Mas lhe dá uma tradução diferente de "fim". A questão do "sentido" é discutida em (2), a propósito do "sentido" do [[Ser]] em Heidegger. Diz: "A meu ver, porém, quando pergunta pelo sentido do ser, Heidegger tampouco pensa "sentido" na linha da metafísica e de seu conceito de essência. Pensa-o, antes como sentido interrogativo que não espera uma determinada resposta, mas que sugere uma direção ao perguntar". Só vejo aí direção como tensão entre saber e não-saber.
+
 +
== 15 ==
 +
: "Das [[vivências]] pode-se [[perguntar]] o [[significado]], mas da [[vida]] só se pode esperar o [[sentido]]. [[Sentido]] é a [[linguagem]] sem significados e [[conceitos]], mas [[fonte]] de todos os possíveis significados semânticos e [[discursos]]. É o [[sentido]] [[ético]] da [[vida]] de cada vivente em seu [[destino]]" (1).
-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
 
 +
:Referência:
-
:Referências:
+
: CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d'água e o mar": In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 252.
-
:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 156.
+
== 16 ==
 +
: ''Os [[olhos]] são a janela da [[alma]]''.
 +
: ''Cada um olha o [[mundo]] da sua janela''.
 +
: ''O [[mundo]] não é o que cada um olha''.
 +
: ''É o [[sentido]] do que [[acontece]]'' (1).
-
:(2) GADAMER, Hans-Georg. ''Verdade e método II''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 428.
 
 +
: Referência:
-
:'''Ver também:'''
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: ----. ''Leitura: Questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 87.
-
:*[[Questão]]
+
== 17 ==
-
:*[[Interpretar]]
+
: "O [[pensamento]] que calcula (''das rechnende Denken'') faz cálculos. Faz cálculos com [[possibilidades]] continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O [[pensamento]] que calcula corre de oportunidade em oportunidade. O [[pensamento]] que calcula nunca pára, nunca chega a [[meditar]]. O [[pensamento]] que calcula não é um [[pensamento]] que medita (''ein besinnliches Denken''), não é um [[pensamento]] que reflete (''nachdenkt'') sobre o [[sentido]] que reina em tudo que existe" (1).
-
:*[[Consumação]]
+
-
== 12 ==
 
-
:O sentido está radicalmente ligado à [[compreensão]], na medida em que esta manifesta a pertença do ente (entre os quais se acha o homem) ao ser. Esta pertença se manifesta através do círculo hermenêutico (1). Por isso mesmo, Ser e tempo trata fundamentalmente da questão do sentido do ser. A questão do sentido está, pois, ligada à questão da pré-compreensão, da compreensão, da pergunta enquanto saber e não-saber (sentido do que somos), da abertura, do projeto, da clareira. A compreensão enquanto sentido do ser/ente em sua tensão remete para a proximidade. Diz Michelazzo: "Ela [a compreensão] é tanto a expressão da proximidade e da mútua pertinência entre o homem e o ser, quanto o próprio caminho para investigar o sentido do ser em geral, isto é, do ser dos entes em sua totalidade, incluindo o homem" (2).
 
 +
: Referência:
-
:— [[Manuel Antônio de Castro]]
+
: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Serenidade''. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p.13.
 +
== 18 ==
 +
: "[[Sentido]] é o [[vigorar]] do [[ser]], é a essencialização do [[ser]], dando-se em [[verdade]] e [[linguagem]]. No e pelo [[vigorar]] do [[sentido]], o suporte teórico-orgânico do [[ser humano]] acontece na transfiguração mundificante de seus [[sentidos]] e [[razão]]" (1).
-
:Referências:
 
-
:(1) MICHELAZZO, José Carlos. ''Do um como princípio ao dois como unidade''. S. Paulo: Annablume, 1999, p. 107.
+
: Referência:
-
:(2) Idem, p. 109.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
 +
== 19 ==
 +
: "Nas [[obras de arte]], o sentido explode, advém, transborda, de dentro para fora, não havendo mais fora nem dentro, enfim, acontece [[compreensão]]. Uma obra de arte só é epocal por estar sempre transbordando, se desdobrando no sentido dos sentidos e do [[raciocinar]]. O sentido é o incessante pro-vocar a [[pensar]] como abertura do [[compreender]]".
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:'''Ver também:'''
 
-
:*[[Vereda]]
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: Referência:
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:*[[Destino]]
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== 13 ==
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
-
: "A demiurgia pueril do procedimento meramente cumulativo das imagens alegóricas... se converte na estratégia pós-moderna da celebração da ausência do sentido de tudo que é ou existe".  
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== 20 ==
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: "É que uma língua só comunica se e na medida em que sua competência tiver sentido, isto é, enquanto puder articular as experiências inovadoras partilhadas pela [[comunidade]]. Responder à pergunta se um [[discurso]] é ou não é significativo equivale a responder à pergunta: que [[dimensão]] da experiência comunitária ele exprime, consolida e transforma?" (1). Ora, este fato mostra claramente que [[realidade]] e [[homem]] se dimensionam no vigor da [[Linguagem]], enquanto lugar de origem de cada língua e seus discursos. É por isso que estas questões: homem, realidade, linguagem se constituem no núcleo duro da ''[[Poética]]'', fundada na ''[[poiesis]]''. Esta não é qualquer energia, mas a do sentido, isto é, da Linguagem. Perguntar, pois, pelo homem e pela realidade na [[Modernidade]] e na [[Pós-modernidade]] é perguntar à Linguagem pelo seu acontecer.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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:(1) Cf. LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''A Pós-modernidade''. Mimeo, p. 9.
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: '''Ver também:'''
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: *''[[Lógos]]''
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: *[[Sociedade]]
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: *[[Experienciar]]
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== 21 ==
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: "[[Entre]] o [[horizonte]] de [[origem]] e o [[horizonte]] de chegada é que se coloca a [[questão]] do [[sentido]]. [[Sentido]] é “isso”: o [[entre]] um de e um para. Sem o de e o para é impossível [[pensar]] o [[sentido]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.
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== 22 ==
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: “É assim que ''[[sentido]]'' constitui-se no ''[[páthos]]'', no [[afeto]] ou no ''modo de [[ser]]'', ao qual nós nos atemos, porque antes de tudo já o somos e, em nos atendo, nos projetamos e nos orientamos. Ele, o [[sentido]], dita, revela, evidencia o ''de onde'' e o ''para onde''” (1).
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: Referência:
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: (1) FOGEL, Gilvan. "Filosofia como compreensão do que é, ou como a verdade do real". In: -----. ''O que é filosofia? - Filosofia como exercício de finitude -''. Aparecida / SP: Editora Ideias e Letras, 2009, 47.
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== 23 ==
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: "Achar o [[sentido]] não é determinar alguma [[funcionalidade]]. Não é [[perguntar]]: para que serve, qual o seu porquê? Pois no porquê já está implícita a [[causa]] que conduz ao para quê. Achar o [[sentido]] é deixar o [[sendo]] [[ser]] em sua [[plenitude]], isto é, realizar-se em todas as suas [[possibilidades]]. [[Sentido]] diz então a plena [[realização]]. Como toda [[realização]] só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar de antemão o [[sentido]] de qualquer [[sendo]]. Nisto se funda a [[identidade]] da [[diferença]], se compreendermos aí [[identidade]] por apropriar-se do que é [[próprio]]. [[Sentido]] é o estar a [[caminho]] da [[apropriação]]. O [[próprio]] ou [[sentido]] é o isto de cada [[sendo]]. A redução de tudo à [[causalidade]] e à [[funcionalidade]] não está anulando o [[sentido]] do [[próprio]] [[ser humano]] e da [[realidade]]? O [[sentido]] pode surgir da [[funcionalidade]] sem [[vigência]] do [[próprio]]? A [[funcionalidade]] é uma [[dimensão]] possível do [[próprio]], mas não se pode reduzir o [[próprio]] à mera [[funcionalidade]] (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ''Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão''.  SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 214.
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== 24 ==
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: "Há, no entanto, um forte argumento empírico a nos estimular ao cultivo de [[pensamentos]] que se não podem provar. É que são [[pensamentos]] e [[ideias]] reconhecidamente [[úteis]]. O [[homem]] realmente necessita de [[ideias]] gerais e [[convicções]] que lhe deem um [[sentido]] à [[vida]] e lhe permitam encontrar seu [[próprio]]  [[lugar]] no [[mundo]]. Pode suportar as mais incríveis provações se estiver convencido de que elas têm um [[sentido]]" (1).
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: Referência:
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: (1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G. e Outros. ''O homem e seus símbolos''. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.
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== 25 ==
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: Só o [[sentido]] possibilita [[plenitude]], a plena [[realização]] das [[possibilidades]] que todo [[ser humano]] já recebeu, ou seja, seu [[destino]]. Portanto, [[destino]] diz a morte como [[horizonte]] de [[possibilidade]] de [[realização]] do [[sentido]] da [[vida]], que nos advém no [[saber]] inerente a todo [[questionar]]. Há [[questionar]] quando se fazem e assumem [[perguntas]] essenciais, aquelas que só se podem [[fundar]] no [[sentido]], uma vez que este se diferencia do [[significado]], ou seja, o [[sentido]] reduzido a uma [[representação]] sígnica. Em vista disso todo [[sentido]] remete para uma [[significação]], que não pode ser reduzida a uma [[representação]] sígnica e, sim, pode remeter para um [[símbolo]], sobretudo religioso.
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 26 ==
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: "Para o [[ser humano]] não basta [[viver]], é necessário [[procurar]] o [[motivo]] do [[existir]], isto é, o [[humano]] enquanto [[sentido]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 191.
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== 27 ==
 +
: "As [[proposições]] da [[língua]] fundamentam os [[significados]]. O [[sentido]] é o [[silêncio]] de todo [[significado]], de toda [[semântica]]. Com [[significados]] se faz muito barulho e discussão, se tomam [[posições]] e [[oposições]], se afirmam [[verdades]] e [[falsidades]]. Mas só o [[silêncio]] acolhe o [[sentido]] e conduz toda [[fala]] para o [[agir]] [[essencial]], aquele onde o [[ser humano]] encontra a sua [[medida]], o seu [[sentido]], o seu [[motivo]] de [[viver]] a [[vida]] como [[vivente]], na [[certeza]] de que tem como [[finalidade]] o [[pleno]] [[sentido]] e [[realização]] de sua [[vida]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.
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== 28 ==
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: "Mas não somos nós, com nosso [[pensar]], que damos [[sentido]]. O [[sentido]] já nos é dado. Como? Como o [[tempo]] se dá em cada [[instante]]. Não poderíamos [[experienciar]] nenhum [[instante]] como [[tempo]] se este não fosse [[sentido]], ou seja, [[linguagem]]. A [[linguagem]] é o [[sentido]] do [[tempo]] na [[medida]] em que este é [[vida]], é [[memória]], é [[mar]], é [[ser]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 251.
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== 29 ==
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: "[[Entre]] o [[horizonte]] de [[origem]] e o [[horizonte]] de chegada é que se coloca a [[questão]] do [[sentido]]. [[Sentido]] é “isso”: o [[entre]] um de e um para. Sem o de e o para é impossível [[pensar]] o [[sentido]]. De imediato e de uma maneira muito [[evidente]] para todos, em qualquer [[momento]], [[época]] e [[cultura]], o [[entre]] acontece enquanto [[vivências]] e [[experienciações]] de [[vida]]. Mas [[dizer]] [[vivências]] e [[experienciações]] de [[vida]] quer [[dizer]] o mesmo que [[vivências]] e [[experienciações]] de [[morte]], pois umas não acontecem sem as outras. A [[medida]] do [[entre]] tanto é a [[vida]] quanto a [[morte]]. Na [[medida]] está o [[sentido]], no [[sentido]] está a [[medida]]" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.
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== 30 ==
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: "As [[proposições]] da [[língua]] fundamentam os [[significados]]. O [[sentido]] é o [[silêncio]] de todo [[significado]], de toda [[semântica]]. Com [[significados]] se faz muito barulho e discussão, se tomam [[posições]] e [[oposições]], se afirmam [[verdades]] e [[falsidades]]. Mas só o [[silêncio]] acolhe o [[sentido]] e conduz toda [[fala]] para o [[agir]] [[essencial]], aquele onde o [[ser humano]] encontra a sua [[medida]], o seu [[sentido]], o seu [[motivo]] de [[viver]] a [[vida]] como [[vivente]], na [[certeza]] de que tem como [[finalidade]] o [[pleno]] [[sentido]] e [[realização]] de sua [[vida]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.
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== 31 ==
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: Há sempre em tudo três [[questões]] prévias para o [[aprender]] a [[pensar]]: o que é o [[ser humano]]? o que é a [[realidade]]? o que é o [[destino]]? E a [[palavra]] exata para se dimensionar o [[aprender]] a [[pensar]] é a [[questão]] do [[sentido]]. Por isso, o [[destino]] é a linha diretriz do [[horizonte]] das duas outras [[questões]] prévias. No [[destino]] está o [[sentido]] do que somos e não somos e, existindo, estamos a [[caminho]] de o [[realizar]] para chegar a sê-lo. [[Destino]] é o [[caminho]] a ser trilhado para [[manifestação]] do [[sentido]] que já nos foi dado. Se o [[destino]] é nosso [[próprio]], o [[sentido]] é o [[caminho]] necessário do que somos. Desse modo, é impossível separar as três [[questões]]: o [[sentido]] da [[realidade]] é o [[humano]] se realizando em seu [[destino]]. Isso se torna para nós o [[real]] ou [[mundo]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 32 ==
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: " - ''Se pelo menos tivesse aprendido alguma [[coisa]]...Eu me sinto tão despreparado quanto no dia em que nasci. Não consigo encontrar um [[sentido]]. É isso o que temos de [[procurar]]... Às vezes... acho que é isso o que temos de [[procurar]]''..." (1).
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: Fala do professor Rémy, ao voltar de uma tomografia feita nos Estados Unidos, levado pelo filho. O resultado é radical: câncer raro, sem cura, e, portanto, irreversível. Ao se ver diante da [[morte]] próxima, é que lhe vem a reflexão acima. O que é mais importante na [[vida]]? E constata que nunca tinha se preocupado com essa [[questão]], embora seja a mais [[evidente]], uma vez que somos todos [[mortais]]. O sermos [[mortais]] nos coloca inevitavelmente essa [[questão]]. Cabe a cada um fazer a sua [[travessia]] de [[sentido]] da [[vida]].
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: Referência:
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) Filme de Denys Arcand: '''As invasões bárbaras'''. Vencedor do Oscar de 2004 de Melhor filme estrangeiro.
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== 33 ==
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: "Ao [[vigor]] do [[originário]] realizando-se, doando-se, plenificando-se, denominaram os Gregos ''[[télos]]''. O que é ''[[télos]]''? "Costuma-se [[traduzir]] ''[[télos]]'' por [[meta]], fim, finalidade. Todavia ''[[télos]]'' não diz nem a [[meta]] a que se dirige a [[ação]], nem o [[fim]] em que a [[ação]] finda, nem a [[finalidade]] a que serve a [[ação]]. ''[[Télos]]'' é o [[sentido]], enquanto [[sentido]] implica [[princípio]] de desenvolvimento, [[vigor]] de [[vida]], [[plenitude]] de [[estruturação]]. Assim o ''[[télos]]'', o [[sentido]], de toda [[ação]] é [[consumar]] a [[atitude]], é o sumo desenvolvimento do [[vigor]] em sua [[plenitude]]" (Leão, 1992: 156) (1). Portanto, só podemos entender o que é ''[[télos]]'' se pensarmos o [[sentido]] e se o pensarmos como [[princípio]]" (2).
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: Referências:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar'' II. Petrópolis, Vozes, 1992.
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 +
: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas de tradução". In: HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 228.
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== 34 ==
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: "Há, pois, duas [[possibilidades]], que brotam, se complementam e se integram na [[estrutura]] do [[pensar]]: o [[pensamento]] irrequieto, que calcula, e o [[pensamento]] sereno, que pensa o [[sentido]]. É da [[angústia]] deste [[pensamento]] do [[sentido]] que estamos fugindo hoje e na fuga lhe sentimos a falta. Por isso, procuramos preencher o [[vazio]] com discussões sobre [[filosofia]] e [[psicanálise]]" (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 52.
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== 35 ==
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: "Não pensamos o [[sentido]] de graça. O [[sentido]] não se concede sem [[ascese]]. Exige [[paciência]] e [[serenidade]] de [[exercício]]. Temos de [[aprender]] a [[esperar]] o [[inesperado]]: que medre a semeadura da [[paciência]] e amadureça a [[serenidade]] do [[crescimento]]" (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 54.
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== 36 ==
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: "Achar o [[sentido]] não é determinar alguma [[funcionalidade]]. Não é [[perguntar]]: para que serve, qual o seu por quê? No por quê já está implícita a [[causa]] que conduz ao para quê. Achar o [[sentido]] é deixar o [[sendo]] [[ser]] em sua [[plenitude]], [[realizar-se]] em todas as suas [[possibilidades]]. [[Sentido]] diz, então, a plena [[realização]]. Como toda [[realização]] só acontece realizando-se, é absolutamente [[impossível]] determinar, de antemão, o [[sentido]] de qualquer [[sendo]]. Nisso se funda a [[identidade]] da [[diferença]], se compreendemos [[identidade]] por [[apropriar-se]] do que é [[próprio]]. [[Sentido]] é o [[estar]] a [[caminho]] da [[apropriação]]. O [[próprio]] ou [[sentido]] é o isto de cada [[sendo]]. A redução de [[tudo]] à [[causalidade]] e à [[funcionalidade]] não está anulando o [[sentido]] do próprio [[ser humano]] e da [[realidade]]? O [[sentido]] pode surgir da [[funcionalidade]] sem [[vigência]] do [[próprio]]? A [[funcionalidade]] é uma [[dimensão]] possível do [[próprio]], mas não se pode [[reduzir]] o [[próprio]] à mera [[funcionalidade]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 98.
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== 37 ==
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: "Os mesmos [[gregos]] que [[experienciaram]] o [[real]] como ''[[physis]]'' [[compreenderam]] a sua [[verdade]] como ''[[aletheia]]''. Em si, a [[palavra]] diz o que não se [[oculta]], ou seja, o tornar-se [[visível]] da ''[[physis]]'' em cada [[ente]]: na planta, no [[rio]], no [[homem]]. O que se [[oculta]] é a [[não-verdade]]. A ''[[physis]]'' como [[real]] [[é]], portanto, a junção [[harmônica]] de [[verdade]] e [[não-verdade]]. Esta [[nada]] tem a ver com o [[erro]]. A  [[verdade]] da [[obra poética]] não é, portanto, algo [[oculto]], que é [[necessário]], através da [[interpretação]], trazer para a [[luz]]. Ela é o [[aspecto]] [[manifesto]] do que se [[oculta]]. Como [[manifesto]], diz respeito ao [[mundo]] da ''[[physis]]''. É o seu [[sentido]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO. Manuel Antônio de. ''Poética e ''poiesis'': a questão da interpretação''. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ. '''Série Conferências''', v. 5, 2000, p. 20.
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== 38 ==
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: "O que nos faz falta é o [[sentido do ser]]. O que é o [[sentido]]? Dessa maneira [[tudo]] que acontece fora do [[sentido]] é falta, que é o [[mal]] [[radical]]. É [[mal]] porque sem o [[sentido]] de [[ser]] a [[vida]] perde o seu [[motivo]] de [[viver]]. Mas o que nos [[motiva]] o [[viver]]? O simplesmente [[estar]] ou no e por [[estar]] [[sendo]] deixar o [[ser]] [[ser]] o [[motivo]], isto é, o [[sentido]]? Como se pode [[viver]] sem [[sentido]]? E quem dá o [[sentido]]? A perda de [[sentido]] não é já deixar [[estar]] o [[mal]] nos secando?" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.
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== 39 ==
 +
: "Sabemos muito bem que não basta [[viver]] e/ou [[saber]]. É [[necessário]] [[ser]] o que se sabe. Não basta [[viver]] sentindo o que [[é]], é [[necessário]] [[ser]] o que se sente. [[Ser]] [[sabendo]] e [[sentindo]] é deixar [[eclodir]] o [[sentido]] enquanto [[vigorar]] do [[ser]]. A perda do [[sentido]] do [[viver]] é que acarreta o [[poder]] secar. A falta de [[sentido]] conduz ao secar. Sem [[sentido]] tanto o [[viver]] como o [[sentir]] perdem o [[vigorar]] do [[viver]] [[sendo]]" (1).
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:  Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 244.
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== 40 ==
 +
: "O [[poético]] diz sempre a [[essência]] do [[agir]], não mecânico, [[funcional]], mas [[realização]] no e pelo [[sentido]] da [[compreensão]] e [[compreensão]] do [[sentido]]. Por isso, ''[[poiesis]]'' diz a [[energia]] de [[sentido]] e [[compreensão]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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== 41 ==
 +
: "Só na [[dobra]] [[vigorante]] em todo [[ato]], o [[sentido do ser]], como [[sentido]] da [[linguagem]], torna-se tanto mais [[poético]] quanto mais [[ético]]. Sendo o [[poético]]-[[ético]] o [[vigorar]] do [[ser]] ao [[dar-se]] como [[linguagem]].
 +
: Neste [[sentido]], estamos [[poeticamente]] [[sempre]] a [[caminho]] da [[linguagem]]. E, portanto, tal [[caminho]] será tanto mais [[ético]] quanto mais [[poético]]. [[Caminho]] diz o [[agir]] a partir do [[sentido]] da [[linguagem]] como [[sentido do ser]] e nele [[existir]]. [[Sentido]], em sua [[proveniência]], [[diz]] o [[caminho]] [[originário]] de onde se parte e aonde já desde sempre se vai chegar. Já desde [[sempre]] se chega porque no [[começo]] está o [[fim]], o [[consumar]]. O [[caminho]] enquanto [[sentido]] é o [[destino]], nosso [[destino]]. Enquanto [[caminho]] de [[necessidade]] e [[liberdade]], nosso [[destino]], isto é, para o que já desde sempre estamos destinados, é o [[apropriar-nos]] do que nos [[é]] [[próprio]]: o que somos" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
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== 42 ==
 +
: "Como [[falar]] de [[diferenças]] se elas já não se movessem no [[sentido]] da [[unidade]]? [[Ter]] [[unidade]] é mover-se no [[sentido]]. Uma justaposição de tijolos ainda não é uma [[casa]]. Eles se tornam [[casa]] quando se reúnem numa [[unidade]]: a [[casa]]. Esta como [[unidade]] é prévia aos tijolos. Prévia diz aí a [[abertura]] do [[homem]] para o [[sentido]] da [[unidade]], do ''[[logos]]''. A [[unidade]] acontecendo é o [[sentido]]. O [[sentido]] acontecendo é a [[linguagem]]" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo''. Ensaio ainda não publicado.
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== 43 ==
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: "A [[diferença]] e [[referência]] [[entre]] [[consciente]] e [[inconsciente]] não se pode [[reduzir]] apenas a [[mecanismos]] e [[processadores]], mas inclui ambas as [[coisas]]. O que a [[fenomenologia]] do [[fenômeno]] nos faz [[perceber]] é que qualquer emergente na [[vida]] perfaz um [[movimento]] só na [[criação]] das [[pessoas]]. Sem o [[percurso]] desta [[identidade]], de [[igualdade]] e [[diferença]], não é [[possível]] [[sentir-se]] dentro nem encontrar-se com [[movimento]] de [[transformação]] da [[fenomenologia]] de todo [[fenômeno]]. Assim é indispensável passar dos [[mecanismos]] para o [[sentido]] que revelam e a que visam  os [[mecanismos]]" (1).
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 +
: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.
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== 44 ==
 +
: "O tipo de [[esperança]] sobre a qual penso frequentemente,... compreendo-a acima de tudo como um estado da [[mente]], não um estado do [[mundo]]. Ou nós temos a [[esperança]] dentro de nós ou não temos; ela é uma [[dimensão]] da [[alma]], e não depende [[essencialmente]] de uma observação do [[mundo]] ou de uma avaliação da [[situação]]... [A [[esperança]]] não é a [[convicção]] de que as [[coisas]] vão dar certo, mas a [[certeza]] de que as [[coisas]] têm [[sentido]], como quer que venham a terminar" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) HAVEL, Václav. Citado, sem indicação bibliográfica, por CAPRA, Fritjof, in: -----------. ''Conexões ocultas''. São Paulo: Cultrix, 2013, p. 273.
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== 45 ==
 +
: "Outra ultrapassagem do [[pensamento]] de Sartre se verifica em [[Heidegger]] quanto à [[questão]] de que a [[liberdade]] tem ou não tem uma [[lei]] [[interna]] que ela tem de seguir para se [[realizar]]: em Sartre, a [[liberdade]] é puro projeto sempre totalmente [[vazio]] de direção prefixada, em [[Heidegger]], a [[liberdade]] radica no [[ser]] e significa [[estar]] aberto ao [[ser]]. E, por isto, [[realizar-se]] como [[livre]] significa [[realizar-se]] em direção ao [[ser]], com a conseqüência de que o [[ser]] se torna a [[norma]] [[necessária]] [[interna]] da [[liberdade]]. [[Significa]] isto que, enquanto em Sartre não há [[norma]] do [[agir]] [[humano]], mas, ao contrário, é [[moral]] somente aquilo que escolho [[livremente]], seja o que for, em [[Heidegger]], só é [[moral]] a [[ação]] que escolhe em [[direção]] ao [[ser]]. Em [[Heidegger]] o [[próprio]] [[ser]] se torna [[norma]] absoluta da [[liberdade]]. Temos assim em [[Heidegger]] realmente uma [[liberdade]] que tem um [[sentido]], e, mais ainda, que encerra todo o [[sentido]] de [[vida]] [[humana]] como a um tender a uma sempre maior [[aproximação]] do [[ser]] [[infinito]] e [[absoluto]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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== 46 ==
 +
: "Pode haver [[viver]] sem ser no [[amar]], na [[clareira]] do [[ser]]? A [[claridade]] da [[clareira]] não é a [[luz]] que nos faz [[ver]] [[tudo]] que está ao nosso redor. Não. Isso são [[sensações]] próximas do sem [[sentido]]. A [[claridade]] da [[clareira]] é o [[sentido]], a [[sonoridade]] [[silenciosa]], [[amorosa]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 318.
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 +
== 47 ==
 +
: "Toda [[posição]] é [[posição]] em [[mudança]]. Esta não se resolve numa [[sucessividade]] justaposta. A [[justaposição]] de dez mil tijolos ainda não é uma [[casa]]. Esta implica mais do que as suas [[posições]]. Exige em primeiro [[lugar]] o [[vazio]], onde eles poderão ocupar uma [[posição]]. Sem [[vazio]] não há [[posição]]. Sem [[silêncio]] não há [[fala]] nem [[canto]]. Portanto, a [[posição]] exige sempre algo prévio que possibilite [[fazer]] de dez mil tijolos não uma [[reunião]] confusa, mas uma [[casa]]: o prévio é o [[sentido]] e o [[mundo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.
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: "Mas a [[fala]] do [[silêncio]] é mais do que [[relação]] e [[comunicação]]. São, portanto, [[linguagem]], [[sentido]] e [[mundo]] que possibilitam as [[posições]] como [[posições]], isto é, são as [[possibilidades]] de [[tempo]] e [[mundo]] e suas [[circunstâncias]]. Sem [[ser]] não há [[linguagem]], [[sentido]] e [[mundo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.
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: Os [[transcendentais]] são modos de o [[ser]] se manifestar em seu [[sentido]]. O [[sentido do ser]] será para nós sempre um [[mistério]]. E todas as grandes [[obras]] de [[pensamento]] e de [[arte]] serão sempre tentativas de [[respostas]] a essa [[questão]]. Mas como toda [[resposta]] tem o alcance do [[vigorar]] da [[questão]], nenhuma [[resposta]] se sustenta a não ser como [[questão]] reinaugurada. É o âmbito da [[pergunta]], enquanto [[vigorar]] do [[ser]]. Por isso, a [[questão]] que subjaz à [[questão]] do [[sentido do ser]] é a [[referência]] [[entre]] [[pensamento]] e [[poesia]], a [[referência]] de [[pensadores]] e [[poetas]], a [[referência]] de [[dizer]] o [[ser]] e [[nomear]] o [[sagrado]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 50 ==
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: "Nosso projeto de [[ser]] acontece como [[tempo]] e [[linguagem]]. A [[vida]] vivida como [[experienciação]] de [[ser]] – [[sentido]] - é o [[tempo]] como [[linguagem]]. A [[linguagem]] é o [[tempo]] oportuno de [[manifestação]] do que somos. A esse [[tempo]] os [[gregos]] deram o [[nome]] de ''[[kairos]]'': é o [[tempo]] oportuno, o [[tempo]] do florescimento, da eclosão do que somos. Cada um tem o seu ''[[kairos]]''. Para [[ser]].  [[Ser]] é o único desafio [[verdadeiro]] de nossa [[vida]]. Então esse é o [[horizonte]] de nossas [[escolhas]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 85.
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== 51 ==
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: É no [[diálogo]], com o [[diálogo]] e pelo [[diálogo]] que acontece a [[dialética]]. Sem [[diálogo]] não há [[dialética]]. E sem [[dialética]] não há [[história]]. Quem dá [[sentido]] à [[dialética]] é o [[sentido do ser]] enquanto [[tempo]]. Isso é fundamental para nós nos compreendermos. O [[sentido]] é a [[dialética]] da [[história]] porque esta é o [[destinar-se]] do [[sentido do ser]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 52 ==
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: ... pois [[mundo]] [[nada]] mais [[é]] do que a [[realidade]]/''[[physis]]'' eclodindo em [[sentido]], isto é, [[mundo]]. E aí vem o [[desdobramento]]: a [[realidade]] eclodindo em [[mundo]] enquanto o seu [[próprio]] [[sentido]], é a [[realidade]] [[eclodindo]] como [[verdade]], ''[[a-letheia]]''. Daí a ligação antiquíssima [[entre]] [[caos]] e [[mundo]] (''[[kosmos]]''). Ora, onde a [[terra]] eclode em [[mundo]] é na [[obra de arte]]. Por isso é no deixar [[vigorar]] a [[obra de arte]] que passamos a [[ver]] o [[sentido]] e a [[verdade]] da [[realidade]]. Daí a [[verdade]] e o [[sentido]] serem indissociáveis.
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:Referência:
 
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:(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e.''Epigênese do pós-moderno''. In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: 1986, 84, jan.-mar., p. 57.
+
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 53 ==
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: [[Realização]] é o vir a ser da [[realidade]] no seu manifestar-se em [[real]], ou seja, a [[totalidade]] dos [[entes]] (''ta onta''), dos [[fenômenos]]. Como tal, todo [[fenômeno]] é uma [[realização]] da [[realidade]]  constituindo o [[real]]. Toda [[realização]] é oblíqua e dissimulada porque nela a [[realidade]] se dá e retrai, se manifesta e vela. Toda [[realização]] é uma [[doação]] do [[ser]]. Daí podermos falar de [[real]] e [[irreal]], de [[ideal]] e [[real]], porque este, em verdade, é a [[vigência]] do [[vigor]] da [[realidade]] pondo-se e depondo-se nas [[realizações]]. O [[Ser]] é [[doação]] enquanto [[tempo]], [[presença]], [[mundo]], [[sentido]] e [[realização]].
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:'''Ver também:'''
 
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:*[[Representação]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:*[[Símbolo]]
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Edição atual tal como 22h09min de 26 de Abril de 2024

1

"Método é uma palavra grega e diz concretamente toda caminhada que o ser-humano faz para atingir seus fins. Isso pressupõe o agir e seu sentido. O agir e seu sentido diz-se em grego póiesis, ou seja, ação com sentido tendo em vista a manifestação e construção de algo. Por isso, todo nosso agir tem um fundo poético em sentido essencial. O sentido em sua etimologia significa caminho que dá unidade às sensações de todos os sentidos. A esta unidade ou sentido entendemos como tempo e póiesis, memória e linguagem" (1).


Referência:
(1) Cf. "A ação e a caminhada de vida". In: www.travessiapoetica.blogspot.com, 2006. Blog de Manuel Antônio de Castro.

2

"Se o essencial não foi destinado a ser compreendido, se somos cegos por que insistimos em ver com os olhos, por que não tentamos usar estas nossas mãos entortadas por dedos? Por que tentamos ouvir com os ouvidos o que não é som?" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Maçã no escuro, 3. e. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1970, p. 252.
Ver também:
*Arte
*Presença
*Clareira

3

A questão do sentido fica mais clara quando se examina o triângulo semiótico e se tenta aplicá-lo à música. Do ponto de vista da semiótica ou semiologia parece facilmente que o real é construído a partir do signo, daí que o referente foge do horizonte de reflexão, ficando na tensão significante/significado, seja como denotação, seja como conotação. Mas quando se tenta aplicar à música, esta é que origina o significante e o significado, mas sem que se possa falar em referente, ou seja, a música é o próprio referente na medida em que é a realidade tanto mais se manifestando quanto mais mergulhando misteriosamente no velar-se e no silenciar. É deste silêncio que se haure o sentido. Mas então aí não se pode falar de significado. O que aqui se diz da música deve ser dito igualmente da poesia e de todas as artes. O significado é do plano da epistemologia, ao passo que o silêncio é da dimensão do poético, em seu sentido ontológico. Neste se realiza o humano em seu sentido. E o humano diz respeito a todo e qualquer ser humano, em todas as culturas e épocas.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Musas
*Interpretação
*Interpretar

4

Eis os três significados fundamentais de sentido (sentidos/sentir/percepção; direção, caminho; sintaxe, reunião enquanto aquilo que permanece, é constante e confiável). A apreensão da linguagem como a que dá sentido (reduzida ao conceito/signo) vem do assinalar o logos, a sintaxe, a ordem enquanto sentido que vigora no reunir, na unidade de reunião. Por isso, logos significa fundamentalmente pôr, depor e propor enquanto reunião e ordem de sentido. O sentido, portanto, enquanto sintaxe/logos, está no núcleo do que é "lugar" e do que é "mundo". É necessário fazer uma fenomenologia do sentir. Não há apenas os diferentes sentidos reunidos no sentir. O sentir é também um impulso vital de tensão de ente/ser pelo qual, como sentir no âmbito do ente, o sentir deste e daquele ente, cada ente como sendo quer sentir tudo, ou seja, o Ser. Isso fica, por exemplo, patente no poema de Fernando Pessoa: "Multipliquei-me, para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo". É importante compreender que a música perfaz todos os verbos-questões e que, por isso mesmo, essa inter-face de physis e poiesis nos verbos-questões se dá sempre como sentido. Esse dar-se da phýsis/poíesis como sentido é o Ser-entre, o lugar, o mundo.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Conjuntura
*Identidade
*Diferença

5

Heidegger diz no ensaio A origem da obra de arte (1) que os sentidos (aistheton) só apreendem "algo" na medida em que fazem parte, de algum modo, de um "mundo". Ou seja, a coisa já se oferece num determinado "sentido" e cada sentido só sente a partir e no âmbito desse "sentido" (mundo). É claro que há aí uma relação constituída por um todo fundada pelo sentido e experienciada no e pelos sentidos. Um exemplo bem consistente é o jogo. Os movimentos, os processos, os toques, a presença dos sentidos recebem todos o seu sentido pelo sentido inerente ao agir que o jogo traz e pressupõe. Sem este sentido não há jogo. Os sentidos que entram na execução de um jogo e seus processos se manifestam nas jogadas e nos jogadores. Mas tanto uns como outros têm seu horizonte de sentido, no "sentido" (mundo) do jogo que está sendo jogado. Porém, a aparente "gratuidade" do jogo, de cada jogo, é uma doação do sentido da realidade no sentido do agir do ser humano. É nesse sentido que podemos dizer que o ser humano é essencialmente um ser lúdico: sentido, mundo, linguagem.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. Lisboa: Edições 70, 2010.
Ver também:
*Vida
*Vivência

6

"Pensar o sentido do ser é escutar a realidade nos vórtices das realizações, deixando-se dizer para si mesmo o que é digno de ser pensado como o outro" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 15.


Ver também:
*Acontecer
*Diálogo

7

Heidegger pensa o sentido e pensamento, e o distingue de consciência e conhecimento. "O alemão sinnan, sinnen, pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma. Entregar-se ao sentido é a essência do pensamento que pensa o sentido. Este significa mais do que simples consciência de alguma coisa. Ainda não pensamos o sentido quando estamos apenas na consciência. Pensar o sentido é muito mais. É a serenidade em face do que é digno de ser questionado. No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um lugar onde se abre, então, o espaço que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:-------. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.


Ver também:
*Ser
*Questão

8

O sentido é a dimensão sagrada da qual, ao modo da música, a palavra chega a articular o engendramento originário da realidade. A linguagem como linguagem é sempre sentido e não simples significado. O significado é a articulação da linguagem como representação. Somos mais atraídos pela linguagem enquanto significado porque o real se nos dá como representação, onde o sentido propriamente se retrai. E nesse sentido, a música é a que mais resiste à representação. Mas também ela, articulada nas relações intra-mundanas das linguagens diversas enquanto significados, cai nas malhas da repetição. Esta é representação? Hoje não se fala simplesmente de música mas de gêneros seguidos de adjetivos . E a música para consumo se não é representação é repetição representada na repetição do já manifesto. Todas as "artes" podem tornar-se repetições do já manifesto com modificações circunstanciais e contextuais. Toda arte inaugural é sempre inauguradora de História (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) Cf. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo, volume I. Vozes: 1993, p. 208.


Ver também:
*Histórico
*Silêncio

9

Sentido está ligado a Télos. "Telos é o sentido, enquanto sentido implica princípio de desenvolvimento, vigor de vida, plenitude de estruturação" (1). Telos, enquanto sentido, não se traduz então como fim, finalidade. Por isso, Gadamer, a propósito do "sentido" do Ser em Heidegger, diz: "A meu ver, porém, quando pergunta pelo sentido do ser, Heidegger tampouco pensa "sentido" na linha da metafísica e de seu conceito de essência. Pensa-o, antes, como sentido interrogativo que não espera uma determinada resposta, mas que sugere uma direção ao perguntar" (2). Só vejo aí direção como tensão entre saber e não-saber, dialeticamente na procura da plenitude de realização.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 156.
(2) Cf. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 428.


Ver também:
*Questão
*Interpretar
*Consumação

10

O sentido está radicalmente ligado à compreensão, na medida em que esta manifesta a pertença do ente (entre os quais se acha o homem) ao ser. Esta pertença se manifesta através do círculo hermenêutico (1). Por isso mesmo, Ser e tempo trata fundamentalmente da questão do sentido do ser. A questão do sentido está, pois, ligada à questão da pré-compreensão, da compreensão, da pergunta enquanto saber e não-saber (sentido do que somos), da abertura, do projeto, da clareira. A compreensão enquanto sentido do ser/ ente em sua tensão remete para a proximidade. Diz Michelazzo: "Ela [a compreensão] é tanto a expressão da proximidade e da mútua pertinência entre o homem e o ser, quanto o próprio caminho para investigar o sentido do ser em geral, isto é, do ser dos entes em sua totalidade, incluindo o homem" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) Cf. MICHELAZZO, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo: Annablume, 1999, p. 107.
(2) Idem, p. 109.
Ver também:
*Vereda
*Destino

11

"Sentido é a dinâmica de estabelecimento da unidade. Sentido é, desse modo, harmonia, isto é, a junção da di-ferença no uno" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 80.

12

"O sentido da realidade é uma questão de talento. Para a maioria das pessoas falta esse talento... e talvez seja melhor assim" (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Filme "Sonata de outono".

13

"O sentido interposto e a ação que é a interpretação - isso é um único e mesmo fenômeno, um único e mesmo acontecimento ou ato. Dito de outro modo: o inter do sentido inter-posto e o inter da inter-pretação são um e o mesmo fato, um e o mesmo acontecimento - a ação do viver, do existir" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 112.

14

"Sentido, isso que é nada, coisa nenhuma, mas tão-só este modo de ser próprio do homem, da vida ou da existência humana, em sendo antecipação e esta se mostrando como orientação, é aquilo que me põe, me sintoniza e me sincroniza como que em estado nascente com a própria coisa" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. Vida, realidade, interpretação. In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 107.

15

"Das vivências pode-se perguntar o significado, mas da vida só se pode esperar o sentido. Sentido é a linguagem sem significados e conceitos, mas fonte de todos os possíveis significados semânticos e discursos. É o sentido ético da vida de cada vivente em seu destino" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d'água e o mar": In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 252.

16

Os olhos são a janela da alma.
Cada um olha o mundo da sua janela.
O mundo não é o que cada um olha.
É o sentido do que acontece (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: ----. Leitura: Questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 87.

17

"O pensamento que calcula (das rechnende Denken) faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O pensamento que calcula corre de oportunidade em oportunidade. O pensamento que calcula nunca pára, nunca chega a meditar. O pensamento que calcula não é um pensamento que medita (ein besinnliches Denken), não é um pensamento que reflete (nachdenkt) sobre o sentido que reina em tudo que existe" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p.13.

18

"Sentido é o vigorar do ser, é a essencialização do ser, dando-se em verdade e linguagem. No e pelo vigorar do sentido, o suporte teórico-orgânico do ser humano acontece na transfiguração mundificante de seus sentidos e razão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

19

"Nas obras de arte, o sentido explode, advém, transborda, de dentro para fora, não havendo mais fora nem dentro, enfim, acontece compreensão. Uma obra de arte só é epocal por estar sempre transbordando, se desdobrando no sentido dos sentidos e do raciocinar. O sentido é o incessante pro-vocar a pensar como abertura do compreender".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

20

"É que uma língua só comunica se e na medida em que sua competência tiver sentido, isto é, enquanto puder articular as experiências inovadoras partilhadas pela comunidade. Responder à pergunta se um discurso é ou não é significativo equivale a responder à pergunta: que dimensão da experiência comunitária ele exprime, consolida e transforma?" (1). Ora, este fato mostra claramente que realidade e homem se dimensionam no vigor da Linguagem, enquanto lugar de origem de cada língua e seus discursos. É por isso que estas questões: homem, realidade, linguagem se constituem no núcleo duro da Poética, fundada na poiesis. Esta não é qualquer energia, mas a do sentido, isto é, da Linguagem. Perguntar, pois, pelo homem e pela realidade na Modernidade e na Pós-modernidade é perguntar à Linguagem pelo seu acontecer.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) Cf. LEÃO, Emmanuel Carneiro. A Pós-modernidade. Mimeo, p. 9.
Ver também:
*Lógos
*Sociedade
*Experienciar

21

"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.

22

“É assim que sentido constitui-se no páthos, no afeto ou no modo de ser, ao qual nós nos atemos, porque antes de tudo já o somos e, em nos atendo, nos projetamos e nos orientamos. Ele, o sentido, dita, revela, evidencia o de onde e o para onde” (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Filosofia como compreensão do que é, ou como a verdade do real". In: -----. O que é filosofia? - Filosofia como exercício de finitude -. Aparecida / SP: Editora Ideias e Letras, 2009, 47.

23

"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu porquê? Pois no porquê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, isto é, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz então a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar de antemão o sentido de qualquer sendo. Nisto se funda a identidade da diferença, se compreendermos aí identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 214.

24

"Há, no entanto, um forte argumento empírico a nos estimular ao cultivo de pensamentos que se não podem provar. É que são pensamentos e ideias reconhecidamente úteis. O homem realmente necessita de ideias gerais e convicções que lhe deem um sentido à vida e lhe permitam encontrar seu próprio lugar no mundo. Pode suportar as mais incríveis provações se estiver convencido de que elas têm um sentido" (1).


Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G. e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.

25

Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte de possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar. Há questionar quando se fazem e assumem perguntas essenciais, aquelas que só se podem fundar no sentido, uma vez que este se diferencia do significado, ou seja, o sentido reduzido a uma representação sígnica. Em vista disso todo sentido remete para uma significação, que não pode ser reduzida a uma representação sígnica e, sim, pode remeter para um símbolo, sobretudo religioso.


- Manuel Antônio de Castro

26

"Para o ser humano não basta viver, é necessário procurar o motivo do existir, isto é, o humano enquanto sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 191.

27

"As proposições da língua fundamentam os significados. O sentido é o silêncio de todo significado, de toda semântica. Com significados se faz muito barulho e discussão, se tomam posições e oposições, se afirmam verdades e falsidades. Mas só o silêncio acolhe o sentido e conduz toda fala para o agir essencial, aquele onde o ser humano encontra a sua medida, o seu sentido, o seu motivo de viver a vida como vivente, na certeza de que tem como finalidade o pleno sentido e realização de sua vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.

28

"Mas não somos nós, com nosso pensar, que damos sentido. O sentido já nos é dado. Como? Como o tempo se dá em cada instante. Não poderíamos experienciar nenhum instante como tempo se este não fosse sentido, ou seja, linguagem. A linguagem é o sentido do tempo na medida em que este é vida, é memória, é mar, é ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 251.

29

"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido. De imediato e de uma maneira muito evidente para todos, em qualquer momento, época e cultura, o entre acontece enquanto vivências e experienciações de vida. Mas dizer vivências e experienciações de vida quer dizer o mesmo que vivências e experienciações de morte, pois umas não acontecem sem as outras. A medida do entre tanto é a vida quanto a morte. Na medida está o sentido, no sentido está a medida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.

30

"As proposições da língua fundamentam os significados. O sentido é o silêncio de todo significado, de toda semântica. Com significados se faz muito barulho e discussão, se tomam posições e oposições, se afirmam verdades e falsidades. Mas só o silêncio acolhe o sentido e conduz toda fala para o agir essencial, aquele onde o ser humano encontra a sua medida, o seu sentido, o seu motivo de viver a vida como vivente, na certeza de que tem como finalidade o pleno sentido e realização de sua vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.

31

Há sempre em tudo três questões prévias para o aprender a pensar: o que é o ser humano? o que é a realidade? o que é o destino? E a palavra exata para se dimensionar o aprender a pensar é a questão do sentido. Por isso, o destino é a linha diretriz do horizonte das duas outras questões prévias. No destino está o sentido do que somos e não somos e, existindo, estamos a caminho de o realizar para chegar a sê-lo. Destino é o caminho a ser trilhado para manifestação do sentido que já nos foi dado. Se o destino é nosso próprio, o sentido é o caminho necessário do que somos. Desse modo, é impossível separar as três questões: o sentido da realidade é o humano se realizando em seu destino. Isso se torna para nós o real ou mundo.


- Manuel Antônio de Castro

32

" - Se pelo menos tivesse aprendido alguma coisa...Eu me sinto tão despreparado quanto no dia em que nasci. Não consigo encontrar um sentido. É isso o que temos de procurar... Às vezes... acho que é isso o que temos de procurar..." (1).
Fala do professor Rémy, ao voltar de uma tomografia feita nos Estados Unidos, levado pelo filho. O resultado é radical: câncer raro, sem cura, e, portanto, irreversível. Ao se ver diante da morte próxima, é que lhe vem a reflexão acima. O que é mais importante na vida? E constata que nunca tinha se preocupado com essa questão, embora seja a mais evidente, uma vez que somos todos mortais. O sermos mortais nos coloca inevitavelmente essa questão. Cabe a cada um fazer a sua travessia de sentido da vida.


Referência:
- Manuel Antônio de Castro
(1) Filme de Denys Arcand: As invasões bárbaras. Vencedor do Oscar de 2004 de Melhor filme estrangeiro.

33

"Ao vigor do originário realizando-se, doando-se, plenificando-se, denominaram os Gregos télos. O que é télos? "Costuma-se traduzir télos por meta, fim, finalidade. Todavia télos não diz nem a meta a que se dirige a ação, nem o fim em que a ação finda, nem a finalidade a que serve a ação. Télos é o sentido, enquanto sentido implica princípio de desenvolvimento, vigor de vida, plenitude de estruturação. Assim o télos, o sentido, de toda ação é consumar a atitude, é o sumo desenvolvimento do vigor em sua plenitude" (Leão, 1992: 156) (1). Portanto, só podemos entender o que é télos se pensarmos o sentido e se o pensarmos como princípio" (2).


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis, Vozes, 1992.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas de tradução". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 228.

34

"Há, pois, duas possibilidades, que brotam, se complementam e se integram na estrutura do pensar: o pensamento irrequieto, que calcula, e o pensamento sereno, que pensa o sentido. É da angústia deste pensamento do sentido que estamos fugindo hoje e na fuga lhe sentimos a falta. Por isso, procuramos preencher o vazio com discussões sobre filosofia e psicanálise" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 52.

35

"Não pensamos o sentido de graça. O sentido não se concede sem ascese. Exige paciência e serenidade de exercício. Temos de aprender a esperar o inesperado: que medre a semeadura da paciência e amadureça a serenidade do crescimento" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 54.

36

"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu por quê? No por quê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz, então, a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar, de antemão, o sentido de qualquer sendo. Nisso se funda a identidade da diferença, se compreendemos identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 98.

37

"Os mesmos gregos que experienciaram o real como physis compreenderam a sua verdade como aletheia. Em si, a palavra diz o que não se oculta, ou seja, o tornar-se visível da physis em cada ente: na planta, no rio, no homem. O que se oculta é a não-verdade. A physis como real é, portanto, a junção harmônica de verdade e não-verdade. Esta nada tem a ver com o erro. A verdade da obra poética não é, portanto, algo oculto, que é necessário, através da interpretação, trazer para a luz. Ela é o aspecto manifesto do que se oculta. Como manifesto, diz respeito ao mundo da physis. É o seu sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO. Manuel Antônio de. Poética e poiesis: a questão da interpretação. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ. Série Conferências, v. 5, 2000, p. 20.

38

"O que nos faz falta é o sentido do ser. O que é o sentido? Dessa maneira tudo que acontece fora do sentido é falta, que é o mal radical. É mal porque sem o sentido de ser a vida perde o seu motivo de viver. Mas o que nos motiva o viver? O simplesmente estar ou no e por estar sendo deixar o ser ser o motivo, isto é, o sentido? Como se pode viver sem sentido? E quem dá o sentido? A perda de sentido não é já deixar estar o mal nos secando?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.

39

"Sabemos muito bem que não basta viver e/ou saber. É necessário ser o que se sabe. Não basta viver sentindo o que é, é necessário ser o que se sente. Ser sabendo e sentindo é deixar eclodir o sentido enquanto vigorar do ser. A perda do sentido do viver é que acarreta o poder secar. A falta de sentido conduz ao secar. Sem sentido tanto o viver como o sentir perdem o vigorar do viver sendo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 244.

40

"O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poiesis diz a energia de sentido e compreensão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

41

"Só na dobra vigorante em todo ato, o sentido do ser, como sentido da linguagem, torna-se tanto mais poético quanto mais ético. Sendo o poético-ético o vigorar do ser ao dar-se como linguagem.
Neste sentido, estamos poeticamente sempre a caminho da linguagem. E, portanto, tal caminho será tanto mais ético quanto mais poético. Caminho diz o agir a partir do sentido da linguagem como sentido do ser e nele existir. Sentido, em sua proveniência, diz o caminho originário de onde se parte e aonde já desde sempre se vai chegar. Já desde sempre se chega porque no começo está o fim, o consumar. O caminho enquanto sentido é o destino, nosso destino. Enquanto caminho de necessidade e liberdade, nosso destino, isto é, para o que já desde sempre estamos destinados, é o apropriar-nos do que nos é próprio: o que somos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.

42

"Como falar de diferenças se elas já não se movessem no sentido da unidade? Ter unidade é mover-se no sentido. Uma justaposição de tijolos ainda não é uma casa. Eles se tornam casa quando se reúnem numa unidade: a casa. Esta como unidade é prévia aos tijolos. Prévia diz aí a abertura do homem para o sentido da unidade, do logos. A unidade acontecendo é o sentido. O sentido acontecendo é a linguagem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo. Ensaio ainda não publicado.

43

"A diferença e referência entre consciente e inconsciente não se pode reduzir apenas a mecanismos e processadores, mas inclui ambas as coisas. O que a fenomenologia do fenômeno nos faz perceber é que qualquer emergente na vida perfaz um movimento só na criação das pessoas. Sem o percurso desta identidade, de igualdade e diferença, não é possível sentir-se dentro nem encontrar-se com movimento de transformação da fenomenologia de todo fenômeno. Assim é indispensável passar dos mecanismos para o sentido que revelam e a que visam os mecanismos" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.

44

"O tipo de esperança sobre a qual penso frequentemente,... compreendo-a acima de tudo como um estado da mente, não um estado do mundo. Ou nós temos a esperança dentro de nós ou não temos; ela é uma dimensão da alma, e não depende essencialmente de uma observação do mundo ou de uma avaliação da situação... [A esperança] não é a convicção de que as coisas vão dar certo, mas a certeza de que as coisas têm sentido, como quer que venham a terminar" (1).


Referência:
(1) HAVEL, Václav. Citado, sem indicação bibliográfica, por CAPRA, Fritjof, in: -----------. Conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2013, p. 273.

45

"Outra ultrapassagem do pensamento de Sartre se verifica em Heidegger quanto à questão de que a liberdade tem ou não tem uma lei interna que ela tem de seguir para se realizar: em Sartre, a liberdade é puro projeto sempre totalmente vazio de direção prefixada, em Heidegger, a liberdade radica no ser e significa estar aberto ao ser. E, por isto, realizar-se como livre significa realizar-se em direção ao ser, com a conseqüência de que o ser se torna a norma necessária interna da liberdade. Significa isto que, enquanto em Sartre não há norma do agir humano, mas, ao contrário, é moral somente aquilo que escolho livremente, seja o que for, em Heidegger, só é moral a ação que escolhe em direção ao ser. Em Heidegger o próprio ser se torna norma absoluta da liberdade. Temos assim em Heidegger realmente uma liberdade que tem um sentido, e, mais ainda, que encerra todo o sentido de vida humana como a um tender a uma sempre maior aproximação do ser infinito e absoluto" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

46

"Pode haver viver sem ser no amar, na clareira do ser? A claridade da clareira não é a luz que nos faz ver tudo que está ao nosso redor. Não. Isso são sensações próximas do sem sentido. A claridade da clareira é o sentido, a sonoridade silenciosa, amorosa" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 318.

47

"Toda posição é posição em mudança. Esta não se resolve numa sucessividade justaposta. A justaposição de dez mil tijolos ainda não é uma casa. Esta implica mais do que as suas posições. Exige em primeiro lugar o vazio, onde eles poderão ocupar uma posição. Sem vazio não há posição. Sem silêncio não há fala nem canto. Portanto, a posição exige sempre algo prévio que possibilite fazer de dez mil tijolos não uma reunião confusa, mas uma casa: o prévio é o sentido e o mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.

48

"Mas a fala do silêncio é mais do que relação e comunicação. São, portanto, linguagem, sentido e mundo que possibilitam as posições como posições, isto é, são as possibilidades de tempo e mundo e suas circunstâncias. Sem ser não há linguagem, sentido e mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.

49

Os transcendentais são modos de o ser se manifestar em seu sentido. O sentido do ser será para nós sempre um mistério. E todas as grandes obras de pensamento e de arte serão sempre tentativas de respostas a essa questão. Mas como toda resposta tem o alcance do vigorar da questão, nenhuma resposta se sustenta a não ser como questão reinaugurada. É o âmbito da pergunta, enquanto vigorar do ser. Por isso, a questão que subjaz à questão do sentido do ser é a referência entre pensamento e poesia, a referência de pensadores e poetas, a referência de dizer o ser e nomear o sagrado.


- Manuel Antônio de Castro.

50

"Nosso projeto de ser acontece como tempo e linguagem. A vida vivida como experienciação de sersentido - é o tempo como linguagem. A linguagem é o tempo oportuno de manifestação do que somos. A esse tempo os gregos deram o nome de kairos: é o tempo oportuno, o tempo do florescimento, da eclosão do que somos. Cada um tem o seu kairos. Para ser. Ser é o único desafio verdadeiro de nossa vida. Então esse é o horizonte de nossas escolhas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 85.

51

É no diálogo, com o diálogo e pelo diálogo que acontece a dialética. Sem diálogo não há dialética. E sem dialética não há história. Quem dá sentido à dialética é o sentido do ser enquanto tempo. Isso é fundamental para nós nos compreendermos. O sentido é a dialética da história porque esta é o destinar-se do sentido do ser.


- Manuel Antônio de Castro

52

... pois mundo nada mais é do que a realidade/physis eclodindo em sentido, isto é, mundo. E aí vem o desdobramento: a realidade eclodindo em mundo enquanto o seu próprio sentido, é a realidade eclodindo como verdade, a-letheia. Daí a ligação antiquíssima entre caos e mundo (kosmos). Ora, onde a terra eclode em mundo é na obra de arte. Por isso é no deixar vigorar a obra de arte que passamos a ver o sentido e a verdade da realidade. Daí a verdade e o sentido serem indissociáveis.


- Manuel Antônio de Castro.

53

Realização é o vir a ser da realidade no seu manifestar-se em real, ou seja, a totalidade dos entes (ta onta), dos fenômenos. Como tal, todo fenômeno é uma realização da realidade constituindo o real. Toda realização é oblíqua e dissimulada porque nela a realidade se dá e retrai, se manifesta e vela. Toda realização é uma doação do ser. Daí podermos falar de real e irreal, de ideal e real, porque este, em verdade, é a vigência do vigor da realidade pondo-se e depondo-se nas realizações. O Ser é doação enquanto tempo, presença, mundo, sentido e realização.


- Manuel Antônio de Castro
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