Liberdade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "O [[destino]] do [[desencobrimento]] sempre rege o [[homem]] em todo o seu [[ser]], mas nunca é a [[fatalidade]] de uma coação. Pois o [[homem]] só se torna [[livre]] num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do [[destino]]. A [[essência]] da [[liberdade]] não pertence ''originariamente'' à [[vontade]] e nem tampouco se reduz à [[causalidade]] do [[querer]] [[humano]]. A [[liberdade]] rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A [[liberdade]] tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do [[desencobrimento]], ou seja, da [[verdade]]. Todo [[desencobrimento]] pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o [[mistério]], um encoberto que [[sempre]] se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo [[desencobrimento]] provém do que é [[livre]], dirige-se ao que é [[livre]] e conduz ao que é [[livre]]. A [[liberdade]] do [[livre]] não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples [[leis]]. A [[liberdade]] é o que aclarando encobre e cobre, em cuja [[clareira]] tremula o véu que vela o [[vigor]] de toda [[verdade]] e faz [[aparecer]] o véu como o véu que vela. A [[liberdade]] é o reino do [[destino]] que põe o [[desencobrimento]] em seu [[próprio]] [[caminho]]" (1).  
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". Trad. Emmanuel Carneio Leão. In: ------. '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". Trad. Emmanuel Carneio Leão. In: ---. '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.
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Edição de 15h36min de 29 de Abril de 2022

1

"O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". Trad. Emmanuel Carneio Leão. In: ---. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.
Ver também:
* Sujeito

2

Somos possibilidades de e para possibilidades. E como possibilidades somos agir ontológico. Este agir é que manifesta o que já somos e por isso não acrescenta nem pode acrescentar nada. Dá sentido ao que já somos. E a adveniência desse sentido consiste em nos deixarmos libertar para o agir da verdade e para o agir da linguagem. A liberdade não é uma questão de vontade de negação ou vitória sobre o que se nos opõe. Isso é aparente e passageiro, meramente entitativo. A liberdade é, sim, deixar-se tomar pelo agir do pensar no qual e dentro do qual o que somos chega ao saber do sentido da luz, ou seja, ao sentido da verdade e da linguagem. Por isso, verdade é sentido e não certeza ou incerteza a respeito de algo externo e meramente entitativo. Só o sentido liberta porque sentido é ação ontológica. Sentido, enfim, é saber-se sendo o que já desde sempre somos.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Há infinitas maneiras, pessoais e coletivas, de se compreender o que é a liberdade. Entretanto, ainda que se possam conferir diferentes sentidos à liberdade, são sempre diferentes sentidos da liberdade. A permanência desta questão aponta para uma dimensão ontológica, que antecede o ângulo de visão desta ou daquela pessoa, época ou cultura. A liberdade se inscreve no modo de ser do homem. Por isso, para se questionar o que é a liberdade, é necessário colocá-la em referência com a pergunta: o que é o homem?" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 133.

4

"Liberdade é sempre libertação. Não inclui negar ou recusar, mas identificar-se e lidar com dependências. Sem necessidade não se tem liberdade. O engodo de uma liberdade sem libertação implica pretender desvencilhar-se das dependências, em buscar eliminar as necessidades e iludir-se de somente assim poder ser livre e conquistar a liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Sociedade do conhecimento: passes e impasses". In: Revista Tempo Brasileiro, 152, jan.-mar., 2003, p. 17.

5

"Livres das aparentes soluções dos sistemas e das procuras circunstanciais, devemos reconduzir nossos saberes ao saber essencial e único: experienciar o tempo enquanto linguagem para sermos essencialmente livres e realizados. Só assim seremos poéticos, porque ser poético é ser realizando-se enquanto libertação. Temos que nos livrar do que é somente circunstancial para nos libertarmos para o que nos foi destinado e nos plenifica: o próprio. Só a liberdade realiza e plenifica. Eis a demanda e tarefa poética, enquanto Cura. Por isso, a Cura não será um bem, será o Bem. Bem é a liberdade sem atributos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2011, p. 233.

6

"O que no homem se destina é ele ser uma questão. Não uma resposta, mas uma pergunta. Liberdade é realizar a plenitude do que se é. O que somos é uma abertura para as questões que nos constituem em nossa humanidade. Somos delas doações. Não as temos: elas nos têm. Por isso, ser livre não é fazer só o que queremos com a vida, e, sim, escutar o que a vida quer de nós" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 134.

7

Na ordem da ciência, a falta de bens e cultura pode ser indigência e na dimensão do humano a falta de cultura e bens pode ser renúncia para a aprendizagem. Porque a renúncia não tira, dá. Pois o silêncio não é a falta de voz da poesia e o som não é a falta de música, mas a sua plenitude. O repouso não é falta de dança e gestos, mas a plenitude do agir do corpo como simplicidade. Do silêncio e do repouso, paradoxalmente, vem a possibilidade de libertação.


- Manuel Antônio de Castro

8

"A liberdade não é uma propriedade do homem. Muito pelo contrário. O homem é que vem a si mesmo e se constitui como homem enquanto e na medida em que é apropriado pela liberdade. A liberdade é uma dinâmica abrangente, em cuja vigência o homem se faz homem. A hominização do homem se funda e se exerce na significância da liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 57.

9

A liberdade do homem não é a liberdade do humano. A liberdade do homem pode exercer o escravizar, o fazer mal, o proceder injustamente, o espoliar o outro, o anular os que se lhe opõem, aniquilar e matar os inimigos. Só a liberdade do humano deixa a liberdade libertar, o bem tornar-se bem, a justiça ser justiça e ética, a vida vitalizar e o amor acolher as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro

10

"Os tebanos proclamam Édipo tyranos, "senhor" de Tebas em reconhecimento pela libertação. Não sabem ainda, mas logo vão saber, que toda libertação é transitória, presenteia-nos com uma liberdade provisória a ser sempre de novo conquistada. Liberdade provisória está em se ter de assumir cada vez, sem nunca desistir, a tarefa de libertar-se" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 66.

11

"A todo instante de ser e de não ser sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 64.

12

Não há, não houve e nunca haverá qualquer modelo, suporte, paradigma, teoria que consiga enclausurar a experienciação amorosa que é viver a liberdade de ser, tendo como horizonte de sentido permanente a morte. Viver é tornar-se, construir-se livre, ser livre poeticamente, mas uma liberdade que encontra seu vigor e sentido na morte, não na pretensa liberdade da vontade e do querer subjetivo. Como exercer a razão crítica em relação ao que não se sabe nem pode caber na consciência? Não há identidades culturais, ideológicas, formais, religiosas, políticas, que possam prescrever o que só cuidando livremente podemos realizar sempre inauguralmente como atualidade e permanência do poético, da poética: apropriar-nos do que nos é próprio. Isto é a essência originária do humano em sua vigência na liberdade. Toda travessia é travessia de libertação em seu acontecer poético.


- Manuel Antônio de Castro

13

"Pois a liberdade é como a rosa, sem porquê, floresce por florescer. A liberdade se justifica a partir de si mesma e não de outra coisa. A liberdade é como a criação, só revela sua verdade em si mesma. Nunca se poderá provar que a liberdade é necessária ou por que é necessária. A simples tentativa já é um esforço de pular a própria sombra" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 58.

14

"A liberdade só se dá como conquista, a liberdade só existe como empenho de libertação, a liberdade só se presenteia no pulo e como pulo do nada. Somente à medida em que nos lançarmos neste pulo é que existiremos como homens" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 58.

15

"A todo instante de ser e não ser, sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

16

"O viver dá a aparente (porque aí aparece) liberdade do querer da vontade. O limite de tal liberdade (limite necessário) encontra-se diante de algo que é mais radical: o morrer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e o uso de drogas". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 273.

17

"Somos livres para falar, mas não somos livres diante da linguagem, a partir da qual e só a partir da qual, necessariamente, é que podemos querer e falar. Há uma liberdade do querer ou não querer falar, mas esta liberdade radica na necessidade de sempre querermos a partir da linguagem como necessidade, mesmo quando queremos não querer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.

18

"O poder da linguagem é o poder do questionar: o vigorar das questões. Essa necessidade é que funda a liberdade na qual já podemos querer e assim exercer nossa vontade, a que chamamos nosso livre exercício do agir, nossa liberdade. Esta, portanto, se origina da liberdade essencial, isto é, da liberdade que se funda na essência do agir. Este fundar-se é a necessidade essencial. Sempre acontece assim e em todas as nossas vivências? Não. Eis a ambiguidade em que o ser humano sempre existe" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 272.

19

"O tema central dos escritos de Chuang Tzu gira em torno da liberdade. Não a liberdade específica que conhecemos hoje, mas uma liberdade originária. Sua questão básica era averiguar como pode o homem viver em um mundo consubstanciado pelo caos, pelo sofrimento e pelo absurdo, isto é, o non-sense, o sem-sentido, o ilógico, alógico, metalógico. E a resposta do sábio é com outra questão: para libertar-se do sofrimento, da dor, do desconcerto do mundo, da incoerência do planeta liberte-se do mundo. Mas como se libertar do mundo estando inserido no mundo? Como se libertar do planeta e continuar vivo sobre a face da Terra? A libertação aqui é a libertação dos conceitos, dos condicionamentos, das dicotomias" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 167.

20

"A trajetória da compreensão e conhecimento da Essência do ser humano no Ocidente será a tensão criativa e permanente de pensamento e linguagem. Dessa maneira, o próprio do ser humano é ser um sendo do "entre”: entre pensamento e linguagem. E entre conhecimento e língua, radicado sempre no princípio de que tudo é E não é. Neste horizonte de pensamento não se pode, de maneira alguma, reduzir o “e” a uma classificação gramatical, esquecida da sua “medida” que é a linguagem e o pensamento do Ser. Esse “e” é o aberto da liberdade de ser o que já é, enquanto possibilidade de verdade e sentido do Ser. Portanto, a liberdade não é um exercício da vontade que conhece, mas um apelo de ser no e pelo sentido da verdade do Ser. É pensando nesse princípio que o poeta Píndaro disse: “Chega a ser o que já és, aprendendo” "(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.

21

"Como assevera Mirandola, “pela agudeza dos sentidos, pelo poder indagador da razão e pela luz do intelecto”, o homem é o “intérprete da natureza” (1998, p. 49) (1). Em meio a todos os seres, só o homem interpreta. O interpretar está inscrito em seu ser: é porque o homem pode interpretar as coisas de diferentes maneiras que ele é livre" (2).


Referência:
(1) MIRANDOLA, Giovanni Pico Della. Discurso sobre a dignidade do homem. Trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho. Lisboa, Edições 70 , 1998, p. 49.
(2) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.

22

"Ser interpretação não é uma escolha que dependa da vontade humana. Ao contrário, esta condição ontológica já lhe foi destinada para que seja o que é: homem, um ser que interpreta, e que por isso é livre. Paradoxalmente, sua liberdade é destino" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.

23

"Não foi o homem que se colocou, por seu livre arbítrio, por sua vontade, no entre do interlúdio. Ele já foi lá colocado desde sempre, senão não seria homem, mas um outro ser. Este entre nele se destina para que seja o que é: um interlúdio entre a liberdade que nele se destina e o destino de nele se dar a liberdade" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.

24

"Ser livre não é só fazer o que desejamos da vida, mas escutar o que a Vida, como dimensão que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como destino, um sentido de missão a se realizar. A Vida Incessante, que não cessa de nascer e perecer, é maior do que a vida de cada homem, pois outros seres viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o homem é o único entre todos os seres que recebeu o livre arbítrio, o arbítrio só é livre na medida em que é a escuta do interlúdio que constitui o seu destino" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.

25

"O ser-aí só pode ser assumidamente livre à medida que vive livremente, à medida que talha a sua vida a partir da perspectiva orientadora que sintoniza com o começo, o qual não pode não ser angústia. Não importa se desse talhe resulte uma obra perene. Sartre e Heidegger e até Nietzsche concordariam que ser livre não depende de hora e lugar. Qualquer hora é hora, qualquer lugar é lugar, pois não é o que se faz que decide, mas o como se faz tudo o que se faz. O que decide é como nos relacionamos com o princípio da ação: se nos relacionamos com ele sintonizados e tendo clareza a respeito da parte que nos cabe. Caso não haja uma tal clareza, agimos como cegos e surdos lançados todo o tempo a cada vez numa direção sem nunca termos nenhum tipo de satisfação..." (1).


Referência:
LEÃO, Emmanuel Carneiro. " "Condenação à liberdade", princípio de uma "Ética da não salvação" ". In: Rio de Janeiro, Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade - dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 174.

26

"Viver é deixar-se libertar para e na poiesis, no agir que dá sentido a toda ação de viver, pois viver é sempre um empenho de ser" (1). "Liberando as condições de viver, a existência se dá como o penhor de todo empenho e desempenho" (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade - dimensões poéticas. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 10.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Petrópolis, Vozes, 1977, p. 44.

27

"Fundar é deixar vigorar e acontecer o sentido que educa libertando. A liberdade está no sentido e o sentido está na liberdade. Entretanto, não pode ser uma liberdade de escolha de sistemas ou dentro de sistemas prévios em que o escolher se reduz a mudar de função. Tem de ser aquela liberdade e sentido inerentes às obras de arte, enquanto nestas acontece o fundar de terra e mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 101.

28

"A questão, portanto, do humano sempre se funda na liberdade como questão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 243.

29

"Contudo, o que significa ser livre? Ser livre é viver e levar no tempo e como tempo, no agir e como agir, no querer e como querer, a vida à sua plenitude. Para tanto, o querer e o agir devem se fundar no saber. O saber não é, portanto, algo que nos advém eventualmente na vida. Ele é tão essencial como a própria vida, pois é esse saber que conduz à libertação, ao não deixar a gota d’água que somos evaporar, ou seja, morrer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 244.

30

"Amar é a energia iluminadora e vitalizadora do solo fértil do desvelamento, crescimento e consumação do que somos, do nosso próprio. Libertação" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

31

"O destino é a medida e fonte necessária de nossa liberdade. Só o poético realiza a essência do humano: libertação. Sem o poder do não-querer, o destino, não há a vontade de poder querer para o ser humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 270.

32

"Quando digo “eu sou”, o alcance desse “eu” está na estrita dependência e determinação necessária do “sou”. Até para dizereu não sou”, só sendo o não-ser é que o “eu” pode se afirmar como sendo o que não-é. Ser é a necessidade essencial de todoeu” (de todo sendo). Só ela liberta.
Quando o “eu” se dimensiona pelo ser, então, o “eué e, sendo, é livre, porque ser é a essência da liberdade, da ação. A essência é o vigorar do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.

33

"Como mortais, nossa liberdade é necessidade ontológica. A separação entre vida e morte causa a dor que advém de nossos limites. A sua integração nos lança na verdadeira liberdade, aquela necessidade de vivermos a vida como sentido e não simplesmente como vivências. Trata-se de ser o que se sente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.

34

"A liberdade não vem do “eu”, mas do destino do “sou”, de cada “sou”, em cada sendo um “eu”. Liberdade necessária. A plenitude acontece enquanto o pensar, que é a ascese da paixão de viver. A plenitude incorpora toda possível estesia na paixão do consumar, do levar ao sumo, onde razão, paixão e sentir são concretamente integrados, sendo um e o mesmo. Os gregos chamaram a esta realização de plenitude télos. Este é, portanto, não apenas todo agir causal. É algo além e muito mais, o levar à plenitude o que se é" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.

35

"Mas liberdade - aposto - ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Tem uma verdade que se carece de aprender, do encoberto, o que ninguém não ensina: o beco para a liberdade se fazer" (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 233.

36

"É que liberdade não é um presente que se recebe ao nascer. Ninguém nasce com liberdade, como nasce com orelhas. Liberdade é um dom de uma conquista. O homem não é livre. O homem se liberta. Liberdade é libertação de e para criar com as necessidades e seus bens de satisfação, com as possibilidades e suas forças de realização de um mundo realmente novo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: Filosofia contemporânea. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 63.

37

"O jejum do coração esvazia as faculdades, liberta-as dos liames e das preocupações. O jejum do coração é a origem da unidade e da liberdade" (1).


Referência:
(1) MERTON, Thomas. "Quando o sapato se adapta". In: A via de Chuang Tzu, 9.e. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999, p. 71.

38

A liberdade não é uma questão de vontade de negação e vitória sobre o que se nos opõe. Isso é aparente e passageiro, meramente entitativo. A liberdade é, sim, deixar-se tomar pelo agir do pensar no qual e dentro do qual o que somos chega ao saber do sentido da luz, ou seja, ao sentido da verdade e da linguagem, enfim, ao sentido do ser. Por isso, verdade é sentido e não certeza ou incerteza a respeito de algo externo e meramente entitativo. Só o sentido liberta porque sentido é ação ontológica. Sentido, enfim, é saber-se sendo o que já desde sempre somos.


- Manuel Antônio de Castro.

39

"Outra ultrapassagem do pensamento de Sartre se verifica em Heidegger quanto à questão de que a liberdade tem ou não tem uma lei interna que ela tem de seguir para se realizar: em Sartre, a liberdade é puro projeto sempre totalmente vazio de direção prefixada, em Heidegger, a liberdade radica no ser e significa estar aberto ao ser. E, por isto, realizar-se como livre significa realizar-se em direção ao ser, com a conseqüência de que o ser se torna a norma necessária interna da liberdade. Significa isto que, enquanto em Sartre não há norma do agir humano, mas, ao contrário, é moral somente aquilo que escolho livremente, seja o que for, em Heidegger, só é moral a ação que escolhe em direção ao ser. Em Heidegger o próprio ser se torna norma absoluta da liberdade. Temos assim em Heidegger realmente uma liberdade que tem um sentido, e, mais ainda, que encerra todo o sentido de vida humana como a um tender a uma sempre maior aproximação do ser infinito e absoluto" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

40

"Temos assim como final da problemática do ser do homem: O homem é liberdade limitada e, como tal, ele se dá a si mesmo a sua essência, que será autêntica enquanto for escolhido em direção ao ser. E que será inautêntica enquanto for escolhida em direção inversa ao ser. Isto significa igualmente que o homem é espírito limitado, pois a característica do espírito é justamente este saber do seu próprio ser enquanto este se refere ao seu fundamento, o ser absoluto. Espírito e liberdade são dois aspetos da mesma realidade, tanto assim que um implica o outro: não há liberdade senão no espírito, e não há espírito senão livre" (1). Isso é a plena iluminação efetivada enquanto verdade e linguagem.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

41

"Educar, em seu sentido originário e radical diz ex- : para fora; e ducere: conduzir, levar. Educar é conduzir para fora, fazer desabrochar, fazer eclodir o ser humano que cada um é, e não entulhar o educando com conhecimentos externos. Para fora não indica um deslocamento espacial, mas a irrupção estruturante do vigor do ser do homem. Educar é fazer desabrochar em plenitude de liberdade o que cada ser humano é" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 135.

42

"Mas ao agir, enquanto Escuta do destino, é que Ulisses afirma e realiza a sua liberdade como realização do que é. É nessa abertura de Escuta do destino que Ulisses tem acesso e não tem à Escuta do Canto das Sereias. Elas, enquanto destino, podem implicar a morte. Esse é o saber e o querer ao qual devemos estar poética e ontologicamente abertos, onde e quando necessidade e libertação são um e o mesmo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 173.

43

"Só podemos perguntar porque, ontologicamente, já estamos abertos para o ser, não sendo, portanto, consequência desta ou daquela circunstância, conjuntura ou decisão histórica ou social. Tal abertura é o saber que liberta" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 193.

44

"Por incrível que pareça, a liberdade nos advém do saber da morte, da qual desde que nascemos já sabemos. Só esse saber essencial liberta, mas este nunca está pronto. A vida como saber da morte tem de ser vivida como saber/sabor no viver" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 193.

45

sua voz ativa
é sua soberania
- livre (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 148.
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