Ciência
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : "O [[conceito]] de [[ciência]] deriva da [[representação]] paradigmática do [[saber]]. O [[conceito]] de [[saber]] fundamenta-se no respectivo entendimento e na respectiva [[compreensão]] da [[essência]] da [[verdade]]. A [[essência]] da [[verdade]] surge a partir da [[posição]] [[fundamental]] do [[homem]] no meio da totalidade do [[ser]]. Esta [[posição]] [[fundamental]] é dominada pelo modo como o [[homem]] está no meio do [[ente]]; ela é dominada pelo [[fato]] - ''quem'' o [[homem]] [[é]] - e se e como o [[homem]] questiona e responde a esta [[questão]]. Isto é, portanto, a | + | : "O [[conceito]] de [[ciência]] deriva da [[representação]] paradigmática do [[saber]]. O [[conceito]] de [[saber]] fundamenta-se no respectivo entendimento e na respectiva [[compreensão]] da [[essência]] da [[verdade]]. A [[essência]] da [[verdade]] surge a partir da [[posição]] [[fundamental]] do [[homem]] no meio da totalidade do [[ser]]. Esta [[posição]] [[fundamental]] é dominada pelo modo como o [[homem]] está no meio do [[ente]]; ela é dominada pelo [[fato]] - ''quem'' o [[homem]] [[é]] - e se e como o [[homem]] questiona e responde a esta [[questão]]. Isto é, portanto, a decisão na qual ''nós mesmos'' estamos" (1). |
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- | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Lógica]] - a [[pergunta]] pela [[essência]] da [[linguagem]]. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008 | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Lógica]] - a [[pergunta]] pela [[essência]] da [[linguagem]]. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008, p. 156.''' |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O [[problema]] [[filosófico]] da [[lógica]] em | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "O [[problema]] [[filosófico]] da [[lógica]] em Aristóteles". In: -----. [[Filosofia]] [[grega]] - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 235.''' |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "Ócio e negócio". In: Revista Tempo Brasileiro - [[Caminhos]] do [[pensamento]] hoje: novas [[linguagens]] no [[limiar]] do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 74.''' |
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- | : (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]". In: Revista | + | : (1) PRIGOGINE, Ilya.''' "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]". In: Revista Tempo Brasileiro - [[Cultura]], [[ciência]] e [[técnica]], 168, jan.-mar., 2007, p. 5.''' |
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- | : (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]". In: Revista | + | : (1) PRIGOGINE, Ilya.''' "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]". In: Revista Tempo Brasileiro - [[Cultura]], [[ciência]] e [[técnica]], 168, jan.-mar., 2007, p. 5.''' |
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- | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' “[[Ciência]] e [[pensamento]] do [[sentido]]”, Trad. Emmanuel Carneiro Leão: In: -----. [[Ensaios]] e conferências. Petrópolis R / J: Vozes, 2002, p. 39.''' | |
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. | + | |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Machado de Assis e a identidade brasileira". In: ------. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "Machado de Assis e a [[identidade]] brasileira". In: ------. [[Tempos]] de [[Metamorfose]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 203.''' |
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- | : (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo". In: Revista | + | : (1) PRIGOGINE, Ilya.''' "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]". In: Revista Tempo Brasileiro - [[Cultura]], [[ciência]] e [[técnica]], 168, jan.-mar., 2007, p. 7.''' |
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- | : "Para a [[ciência]] tudo é [[disposição]] porque a [[realidade]] já está disposta e predisposta para a sua [[intervenção]]. Cientificamente, [[conhecer]] é poder [[intervir]], pois a [[ciência]] não trata do que [[é]], só do | + | : "Para a [[ciência]] [[tudo]] é [[disposição]] porque a [[realidade]] já está disposta e predisposta para a sua [[intervenção]]. Cientificamente, [[conhecer]] é [[poder]] [[intervir]], pois a [[ciência]] não trata do que [[é]], só do como é" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Midas]] da [[morte]] ou do [[ser]] [[feliz]]". In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 191.''' |
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: "No entanto, nem [[tudo]] é [[técnico]] e [[científico]] na [[vida]]. Diz Manoel de Barros no '''Livro sobre nada''': | : "No entanto, nem [[tudo]] é [[técnico]] e [[científico]] na [[vida]]. Diz Manoel de Barros no '''Livro sobre nada''': | ||
- | : ''A [[ciência]] pode | + | : ''A [[ciência]] pode classificar e [[nomear]] os órgãos de um |
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: ''mas não pode [[medir]] seus encantos. | : ''mas não pode [[medir]] seus encantos. | ||
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio. "Apresentação". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio.''' "Apresentação". In: A [[construção]] [[poética]] do [[real]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 7.''' |
- | : (2) BARROS, Manoel. '''Livro sobre nada | + | : (2) BARROS, Manoel. '''[[Livro]] sobre [[nada]]. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 53.''' |
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- | : "Ora, mesmo que as muitas [[ciências]] da [[vida]] se construíssem sobre uma [[experiência]] [[radical]] da [[vida]], ainda assim tal [[experiência]] nunca poderia [[ser]] alcançada ou constituída por qualquer [[ciência]]. E por que não? - Porque | + | : "Ora, mesmo que as muitas [[ciências]] da [[vida]] se construíssem sobre uma [[experiência]] [[radical]] da [[vida]], ainda assim tal [[experiência]] nunca poderia [[ser]] alcançada ou constituída por qualquer [[ciência]]. E por que não? - Porque toda [[ciência]] é uma [[ciência]] e a [[vida]] é [[sempre]] muito mais antiga do que qualquer [[ciência]]. Como toda [[ciência]], também as [[ciências]] da [[vida]] vêm depois e a reboque de uma determinada [[interpretação]] da [[vida]], que só se obtém com a [[experiência]] comunitária de um [[pensamento]] [[radical]]" (1). |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega" (''Dzoion logon echon'').In: | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "Uma [[leitura]] órfica de uma [[sentença]] [[grega]]" (''Dzoion logon echon''). In: [[Aprendendo]] a [[pensar]] II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 132.''' |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "[[Dialética]]: [[entre]] o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: [[Dialética]] em [[questão]] II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.''' |
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- | : "Nossa [[época]] e a [[ciência]] reduziram o ''[[logos]]'' a um de seus significados: o [[lógico]]. Este existe e é uma [[dimensão]] | + | : "Nossa [[época]] e a [[ciência]] reduziram o ''[[logos]]'' a um de seus significados: o [[lógico]]. Este existe e é uma [[dimensão]] importante do ''[[logos]]'', mas não diz [[tudo]] que o ''[[logos]]'' diz. A [[vida]], o [[tempo]], o [[ser]], o [[pensar]], o [[sagrado]], o [[mundo]], a [[verdade]], o [[humano]], o [[social]], a [[arte]], o [[imaginário]], o [[sonho]], o [[ético]], o [[poético]], a [[paixão]], o [[desejo]], a [[loucura]], o [[erótico]], a [[dor]], o [[sofrimento]], o [[desespero]], a [[alegria]], a [[tristeza]], são mais do que o [[lógico]] da [[lógica]]. [[Pensando]] [[bem]], o que há de [[essencial]] em nossa [[vida]] não é regido pelo [[lógico]] da [[lógica]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Diálogos ''trans-'' e a procura do humano". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Diálogos]] ''trans-'' e a [[procura]] do [[humano]]". In: www.travessiapoetica.blogspot.com''' |
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- | : (1) PRIGOGINE, Ilya. "Apenas uma ilusão?". In: -------. | + | : (1) PRIGOGINE, Ilya.''' "Apenas uma [[ilusão]]?". In: -------. O fim das [[certezas]]. São Paulo: Editora UNESP, 1996, p. 60.''' |
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- | : (1) PRIGOGINE, Ilya. '''O fim das certezas - Tempo, Caos e as Leis da Natureza | + | : (1) PRIGOGINE, Ilya. '''O fim das [[certezas]] - [[Tempo]], [[Caos]] e as [[Leis]] da Natureza. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Editora UNESP, 1996, 3. e.''' |
- | : (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das | + | : (2) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 158.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.''' |
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- | : "Porque a [[verdade]] na [[Ciência]] é [[sempre]] [[provisória]]: um [[limite]] do qual nos aproximamos sem nunca alcançá-lo. O [[tempo]] passa e a | + | : "Porque a [[verdade]] na [[Ciência]] é [[sempre]] [[provisória]]: um [[limite]] do qual nos aproximamos sem nunca alcançá-lo. O [[tempo]] passa e a antiga [[verdade]] é [[questionada]]" (1). |
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- | : (1) LENT, Robert - Neurocientista, Professor Emérito da UFRJ. "A hora da ciência". In: | + | : (1) LENT, Robert -''' Neurocientista, Professor Emérito da UFRJ. "A hora da [[ciência]]". In: O Globo, 11-06-2020, p. 17.''' |
== 21 == | == 21 == | ||
- | : "A elaboração | + | : "A elaboração perfeita de qualquer [[ciência]] depende, naturalmente, em máxima parte do uso do [[método]] acertado. Qual é o [[método]] da [[metafísica]]? A esta [[pergunta]] não podemos fugir se queremos [[elaborar]] uma [[metafísica]] que deve [[ser]] [[ciência]] do [[ser]]. O resultado de qualquer [[ciência]] é [[mediado]] pelo [[método]] que ela usa, por isto um [[método]] [[falso]] levará necessariamente a [[falsos]] resultados" (1). |
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- | : (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''' | + | : (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio. '''[[Metafísica]]. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal. ''' |
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- | : "A [[teologia]] vai aos poucos perdendo sua [[posição]] de [[saber]] mais importante e é substituída pela [[filosofia]]. Mas esta nova [[filosofia]] fundamenta e prepara o [[advento]] da [[ciência]] como [[paradigma]] último da [[Verdade]]. A [[verdade]] deixa de [[ser]] [[teológica]] e passa a [[ser]] [[científica]]. Tanto que hoje, quando alguém quer [[dizer]] que algo é [[verdadeiro]], diz [[simplesmente]] que é [[científico]]. A [[aura]] da [[ciência]], como [[verdade]], tornou-se tão [[evidente]] que as [[pessoas]] nem um pouco se perguntam porque a [[ciência]] é [[simplesmente]] | + | : "A [[teologia]] vai aos poucos perdendo sua [[posição]] de [[saber]] mais importante e é substituída pela [[filosofia]]. Mas esta nova [[filosofia]] fundamenta e prepara o [[advento]] da [[ciência]] como [[paradigma]] último da [[Verdade]]. A [[verdade]] deixa de [[ser]] [[teológica]] e passa a [[ser]] [[científica]]. Tanto que hoje, quando alguém quer [[dizer]] que algo é [[verdadeiro]], diz [[simplesmente]] que é [[científico]]. A [[aura]] da [[ciência]], como [[verdade]], tornou-se tão [[evidente]] que as [[pessoas]] nem um pouco se perguntam porque a [[ciência]] é [[simplesmente]] sinônimo da [[verdade]]. É claro que a [[ciência]] tem seus argumentos. E o maior deles é a [[experiência]] imediata que cada um comprova. A [[ciência]] brota do [[homem]]. É uma [[atividade]] que tem como centro de [[atuação]] e de [[legitimação]] o [[homem]]. Mas que [[homem]]? O [[homem]] enquanto [[razão]]. Esta substitui a [[fé]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Metamorfose]] da [[narrativa]]". In: ..... [[Tempos]] de [[metamorfose]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 66.''' |
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- | : "A [[ciência]] reduz [[tudo]] de uma maneira assombrosa, pois lhe falta a [[dimensão]] do [[sagrado]]. A [[dessacralização]] é proporcional ao avanço da [[ciência]]. Mas esta tem um encontro marcado com o [[destino]], onde a [[essência]] da [[técnica]] terá de se defrontar com a [[presença]] constante do [[sagrado]]. Não é sem [[motivo]] que em [[ciência]] já se fala na | + | : "A [[ciência]] reduz [[tudo]] de uma maneira assombrosa, pois lhe falta a [[dimensão]] do [[sagrado]]. A [[dessacralização]] é proporcional ao avanço da [[ciência]]. Mas esta tem um encontro marcado com o [[destino]], onde a [[essência]] da [[técnica]] terá de se defrontar com a [[presença]] constante do [[sagrado]]. Não é sem [[motivo]] que em [[ciência]] já se fala na “era das incertezas”. E então onde mora o [[perigo]] é daí mesmo que vem a [[salvação]], que não é algo externo ao que está acontecendo. Apenas o [[esquecimento]] dessa [[presença]] e [[sentido]], o [[esquecimento]] do [[sentido do ser]]. Toda gota d’água [[pro-cura]] o seu [[elemento]]: o [[mar]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.''' |
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- | : "A [[verdade]] é o maior trunfo da [[ciência]], não o que produz. Pois a [[ciência]] vive e sobrevive, no que diz respeito à [[verdade]], de uma [[falácia]], ou seja, de uma [[verdade]] aparentemente [[verdadeira]], mas que é [[falsa]]. Qual? A [[verdade]] da [[ciência]] muda de acordo com a [[teoria]] e o [[tempo]] de validade das [[teorias]] e alcance das [[pesquisas]]. O que hoje afirmam novas [[pesquisas]] podem [[dizer]] amanhã exatamente o contrário. O que é válido para uma [[disciplina]] não é válido para outras. Quando o [[conhecimento]] não dá conta de [[algo]], vira | + | : "A [[verdade]] é o maior trunfo da [[ciência]], não o que produz. Pois a [[ciência]] vive e sobrevive, no que diz respeito à [[verdade]], de uma [[falácia]], ou seja, de uma [[verdade]] aparentemente [[verdadeira]], mas que é [[falsa]]. Qual? A [[verdade]] da [[ciência]] muda de acordo com a [[teoria]] e o [[tempo]] de validade das [[teorias]] e alcance das [[pesquisas]]. O que hoje afirmam novas [[pesquisas]] podem [[dizer]] amanhã exatamente o contrário. O que é válido para uma [[disciplina]] não é válido para outras. Quando o [[conhecimento]] não dá conta de [[algo]], vira exceção, jamais será admitido tal [[conhecimento]] como [[falso]]. O interessante é que o [[falso]] passou a [[ser]] [[tudo]] que não está de acordo ou se reduz ao [[conhecimento]] [[científico]], pois a [[ciência]] jamais pode ser [[falsa]]. Ela é [[sempre]] [[verdadeira]], nem que a sua [[verdade]] dure até que seja provada a sua [[falsidade]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio.''' "As três [[pragas]] do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 20.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 14.''' |
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: "Até a [[mentira]] pode ser [[interpretada]] por [[historiadores]]. A pluralidade e a [[refutação]] de [[diferentes]] [[interpretações]] é parte do debate. Já dizia o [[filósofo]] Karl Popper que uma [[sentença]] irrefutável não é [[científica]] - lembra o [[historiador]] italiano Carlo Ginszburg" (1). | : "Até a [[mentira]] pode ser [[interpretada]] por [[historiadores]]. A pluralidade e a [[refutação]] de [[diferentes]] [[interpretações]] é parte do debate. Já dizia o [[filósofo]] Karl Popper que uma [[sentença]] irrefutável não é [[científica]] - lembra o [[historiador]] italiano Carlo Ginszburg" (1). | ||
- | : O [[historiador]] | + | : O [[historiador]] italiano diz o seguinte, na entrevista citada: "Até a [[mentira]] pode ser [[interpretada]] por [[historiadores]]. A pluralidade e a refutação de [[diferentes]] [[interpretações]] é [[parte]] do debate. Já disse o [[filósofo]] Karl Popper que uma [[sentença]] irrefutável não é [[científica]]" (2). |
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- | : (2) GABRIEL, Ruan de Sousa. Crônica: | + | : (2) GABRIEL, Ruan de Sousa.''' [[Crônica]]: A [[disputa]] pela [[verdadeira]] [[história]]''. In: O GLOBO', Segundo Caderno, sábado, 8-5-2021, p.1.''' |
- | : (2) GINSBURG, Carlo. ''Os usos políticos da mentira são notícia velha | + | : (2) GINSBURG, Carlo. '''Os usos [[políticos]] da [[mentira]] são notícia velha Entrevista. In: O GLOBO, Segundo Caderno, sábado, 9-5-2021, p. 2.''' |
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- | : "Assim, mesmo que a [[ciência]] acredite que possa conceitualizar o [[tempo]], fazendo uso de [[cálculos]] e fórmulas complexas, [[sempre]] haverá [[algo]] que está para além da [[compreensão]] numérica e mensurável. Para alguns, é exatamente nesse inapreensível de tanta [[coisa]] de nossa [[travessia]] que reside o | + | : "Assim, mesmo que a [[ciência]] acredite que possa conceitualizar o [[tempo]], fazendo uso de [[cálculos]] e fórmulas complexas, [[sempre]] haverá [[algo]] que está para além da [[compreensão]] numérica e mensurável. Para alguns, é exatamente nesse inapreensível de tanta [[coisa]] de nossa [[travessia]] que reside o encanto da [[vida]]; para outros, ao contrário, a inapreensibilidade do [[viver]] gera desconforto e até certo desespero, uma vez que estamos acostumados a nos mover em uma [[falsa]] zona de conforto, que nos dá a [[ilusão]] de que o [[viver]] é "cerzidinho" " (1). |
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- | : (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. | + | : (1) GUIDA, Angela.''' "[[Tempo]] I - Que é Isto o [[Tempo]]". In:---. A [[Poética]] do [[Tempo]]. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, Coleção [[Pensamento]] [[Poético]], 5, 2013, p. 20.''' |
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) NOVELLO, Mário. '''O círculo do tempo | + | : (1) NOVELLO, Mário. '''O [[círculo]] do [[tempo]]. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 153.''' |
- | : (2) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. | + | : (2) GUIDA, Angela.''' "[[Tempo]] I - Que é Isto o [[Tempo]]". In:---. A [[Poética]] do [[Tempo]]. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, Coleção [[Pensamento]] [[Poético]], 5, 2013, p. 23.''' |
== 29 == | == 29 == | ||
- | : "A [[ciência]] é apresentada na | + | : "A [[ciência]] é apresentada na escola como um corpo de [[conhecimento]] fixo, com [[respostas]] de sim e não, [[certo]] ou [[errado]]. Mas na [[verdade]], a [[ciência]] é um [[processo]] de [[investigação]] que leva em conta [[incertezas]] e probabilidades" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) PASTERNAK, Natalia. [[Crônica]]: " | + | : (1) PASTERNAK, Natalia.''' [[Crônica]]: "Fatalistas do clima". In: O GLOBO, Segunda-feira, 26.8.2024, p. 14.''' |
Edição atual tal como 22h16min de 19 de janeiro de 2025
1
- A ciência como ciência não pode pensar a sua essência. E não pode pensar a sua essência porque a essência não pode ser reduzida ao saber. Pensar é mais do que simplesmente saber. É abrir-se para o mesmo de ser e saber.
- E não poder pensar para a ciência que se pensa como ciência é deixar de ser ciência e passar a ser filosofia ou pensamento.
2
- "O conceito de ciência deriva da representação paradigmática do saber. O conceito de saber fundamenta-se no respectivo entendimento e na respectiva compreensão da essência da verdade. A essência da verdade surge a partir da posição fundamental do homem no meio da totalidade do ser. Esta posição fundamental é dominada pelo modo como o homem está no meio do ente; ela é dominada pelo fato - quem o homem é - e se e como o homem questiona e responde a esta questão. Isto é, portanto, a decisão na qual nós mesmos estamos" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Lógica - a pergunta pela essência da linguagem. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008, p. 156.
3
- A palavra ciência está ligada à palavra grega episteme.
- "E o que diz e significa episteme? É uma palavra composta da preposição epi e do verbo ístamai. Ístamai diz estar em pé, solidamente estabelecido e fundado. E a preposição epi acrescenta-lhe a conotação de por sobre, em cima, a cavaleiro de, por cima. Da integração de todas estas dimensões formou-se, então, a experiência de conhecimento e ciência em sentido forte e próprio de episteme. Episteme não diz apenas conhecimento, mas todo o contexto em que se constitui conhecimento. Corresponde mais ou menos à experiência originária da scientia medieval e à nossa experiência espontânea de ciência , destituída naturalmente de qualquer conotação moderna que,em sua essência, equivale à técnica, no sentido de uma armação que tudo controla e tudo transforma em dispositivo de uma disposição ilimitada e auto-regulável" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O problema filosófico da lógica em Aristóteles". In: -----. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 235.
4
- "Na percepção, nós recebemos o real nas sensações e nos sentimentos de nossa sensibilidade. E somos tocados e tão mobilizados pela rosa que a respeitamos e deixamos ser rosa, sem intervenção de espécie alguma. Outra bem outra, é a atitude da ciência ao observar a rosa. A rosa deixa de ser rosa para enquadrar-se numa classe, num gênero, numa espécie, numa família ou para submeter-se a um experimento e transformar-se num perfume, num chá ou num arranjo" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 74.
5
- "Existem, de fato, dois aspectos na ciência, sobretudo se vistos do ponto de vista de um teórico. Temos, primeiramente, o diálogo com a natureza. Imaginamos modelos e depois verificamos se esses modelos são realizados. A maior experiência do cientista teórico consiste em imaginar algo e vê-lo no computador ou em uma experiência de laboratório. Eis porque gostaria de dizer que a ciência ultrapassa as aparências. Não se trata somente das aparências: a ciência cria aparências" (1).
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo". In: Revista Tempo Brasileiro - Cultura, ciência e técnica, 168, jan.-mar., 2007, p. 5.
6
- "A ciência não apenas apresenta o aspecto científico, propriamente dito, no sentido da descoberta e descrição da natureza, mas também a posição que o homem ocupa na natureza" (1).
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo". In: Revista Tempo Brasileiro - Cultura, ciência e técnica, 168, jan.-mar., 2007, p. 5.
7
- "... o que se chama de ciência ocidental europeia determina também, em seus traços fundamentais e em proporção crescente, a realidade na qual o homem de hoje se move e tenta sustentar-se. Meditando o sentido deste processo, percebe-se que, no mundo do Ocidente e nas épocas da sua história, a ciência desenvolveu um poder que não se pode encontrar em nenhum outro lugar da terra e que está em vias de estender-se por todo o globo terrestre" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. “Ciência e pensamento do sentido”, Trad. Emmanuel Carneiro Leão: In: -----. Ensaios e conferências. Petrópolis R / J: Vozes, 2002, p. 39.
8
- "A ciência tem como correlato de seu princípio de verificabilidade a técnica. Esta encontra, no acúmulo de capital e na expansão econômica, as condições básicas para, aos poucos, dominar todo o fazer cultural. Ela não só substitui o homem na elaboração dos produtos, estabelecendo novas relações de produção, mas também atinge a cultura enquanto informação" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Machado de Assis e a identidade brasileira". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 203.
9
- "Sempre constatei que a ciência ocidental era um pouco considerada como um imperialismo, como uma maneira muito particular de se verem as coisas ligada, justamente, a essas leis da natureza. Ora, na China, por exemplo, natureza significa o que se faz espontaneamente. A ideia das leis da natureza é, portanto, estranha às outras tradições culturais. E, tenho a impressão - e isto gostaria de desenvolver - que hoje em dia a ciência oferece perspectivas mais universais" (1).
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo". In: Revista Tempo Brasileiro - Cultura, ciência e técnica, 168, jan.-mar., 2007, p. 7.
10
- "Para a ciência tudo é disposição porque a realidade já está disposta e predisposta para a sua intervenção. Cientificamente, conhecer é poder intervir, pois a ciência não trata do que é, só do como é" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 191.
11
- "O desenvolvimento técnico ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias criações artísticas".
- "No entanto, nem tudo é técnico e científico na vida. Diz Manoel de Barros no Livro sobre nada:
- A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
- sabiá
- mas não pode medir seus encantos.
- A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
- existem
- nos encantos de um sabiá(1) (2).
- Referências:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio. "Apresentação". In: A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 7.
12
- "Ora, mesmo que as muitas ciências da vida se construíssem sobre uma experiência radical da vida, ainda assim tal experiência nunca poderia ser alcançada ou constituída por qualquer ciência. E por que não? - Porque toda ciência é uma ciência e a vida é sempre muito mais antiga do que qualquer ciência. Como toda ciência, também as ciências da vida vêm depois e a reboque de uma determinada interpretação da vida, que só se obtém com a experiência comunitária de um pensamento radical" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega" (Dzoion logon echon). In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 132.
13
- "O método científico é sempre delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem ser violadas. Tudo aquilo que não constar e estiver dentro desses limites não é científico. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a ciência não é científica. Por quê? A ciência como ciência não é objeto de nenhuma pesquisa científica. Não é um fenômeno físico a Física. Não é um fenômeno químico a Química. Por isso é que há uma tensão entre o conhecimento propiciado pelo método e pela técnica, porque método e técnica na ciência se trocam, um constitui o outro. Em vista disso, dizer técnica ou ciência não tem muita diferença. A técnica é o que possibilita a ciência. Sem se articularem as possibilidades de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma teoria científica. A Física tem uma Pro-física, uma Ante-física, para poder ser Física. É por isso que a diferença fundamental é de constituição. O método lógico-científico se constitui com forças e princípios que fogem do alcance do próprio método científico" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.
14
- "Nossa época e a ciência reduziram o logos a um de seus significados: o lógico. Este existe e é uma dimensão importante do logos, mas não diz tudo que o logos diz. A vida, o tempo, o ser, o pensar, o sagrado, o mundo, a verdade, o humano, o social, a arte, o imaginário, o sonho, o ético, o poético, a paixão, o desejo, a loucura, o erótico, a dor, o sofrimento, o desespero, a alegria, a tristeza, são mais do que o lógico da lógica. Pensando bem, o que há de essencial em nossa vida não é regido pelo lógico da lógica" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Diálogos trans- e a procura do humano". In: www.travessiapoetica.blogspot.com
15
- "Sempre pensei que a ciência era um diálogo com a natureza. Como em todo diálogo de verdade, muitas vezes as respostas são inesperadas. Eu gostaria de compartilhar com o leitor o sentimento de excitação e de espanto de meus colegas e de mim mesmo ao longo de toda essa exploração dos problemas do tempo e do determinismo" (1).
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. "Apenas uma ilusão?". In: -------. O fim das certezas. São Paulo: Editora UNESP, 1996, p. 60.
16
- Para compreender e apreender o que é o olhar, o melhor caminho é pensar a diferença ontológica entre olhar e ver. Concretamente, um exemplo clássico pode nos fazer pensar essa diferença: quando Édipo, o famoso personagem do mito de Édipo, pensado por Sófocles em sua famosa obra Rei Édipo, tinha olhos não penetrara e nem vira os caminhos de seu destino. É que o olho é funcional, faz parte do nosso organismo que diz respeito ao olhar, não necessariamente ao ver, pois foi quando arrancou os olhos que passou a ver na luz da verdade os caminhos e descaminhos do seu destino. O olho diz respeito aos sentidos, a visão diz respeito ao sentido. Não basta olhar, é necessário ver. E é nesta distinção fundamental que os gregos pensaram a essência da aletheia, desvelamento ou verdade. Por isso, este diz respeito à manifestação do sentido do destino. E é nesse horizonte que se diferencia radicalmente a verdade da obra de arte e a verdade funcional da lógica, que fundamenta a ciência fundada na razão.
17
- "A ciência reduz tudo de uma maneira assombrosa, pois lhe falta a dimensão do sagrado. A dessacralização é proporcional ao avanço da ciência. Mas esta tem um encontro marcado com o destino, onde a essência da técnica terá de se defrontar com a presença constante do sagrado. Não é sem motivo que em ciência já se fala na “era das incertezas” (1).
- "E então onde mora o perigo é daí mesmo que vem a salvação, que não é algo externo ao que está acontecendo. Apenas o esquecimento dessa presença e sentido, o esquecimento do sentido do ser. Toda gota d’água procura o seu elemento: o mar" (2).
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas - Tempo, Caos e as Leis da Natureza. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Editora UNESP, 1996, 3. e.
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.
18
- "O ritual do mito – a palavra cantada - não encena, não representa, como o faz o saber da ciência. O ritual do mito se torna a manifestação do sentido da Escuta da palavra cantada. Não há o rito e a Escuta, mas o rito – a palavra cantada – é a própria Escuta enquanto manifestação do vigorar do mito. Desta maneira, a realidade da Escuta é a realidade do mito enquanto rito" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 158.
19
- "Com o surgimento da ciência, a partir dos conceitos filosóficos, estes sofrem uma transformação: além dos limites definidos, passa a ser exigidos deles exatidão. E então, além da lógica, introduz-se a linguagem matemática, a linguagem da exatidão e da precisão. A maioria dos conceitos com que se analisam as obras de arte surgiram a partir do paradigma científico. E acabaram por ocultar as questões em que sempre a arte se move. O conceito traz a ideia de objetividade. Esta, fundada na exatidão da matemática, traz a certeza. Porém, hoje, tudo isso está, de novo, em questão" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.
20
- "Porque a verdade na Ciência é sempre provisória: um limite do qual nos aproximamos sem nunca alcançá-lo. O tempo passa e a antiga verdade é questionada" (1).
- Referência:
- (1) LENT, Robert - Neurocientista, Professor Emérito da UFRJ. "A hora da ciência". In: O Globo, 11-06-2020, p. 17.
21
- "A elaboração perfeita de qualquer ciência depende, naturalmente, em máxima parte do uso do método acertado. Qual é o método da metafísica? A esta pergunta não podemos fugir se queremos elaborar uma metafísica que deve ser ciência do ser. O resultado de qualquer ciência é mediado pelo método que ela usa, por isto um método falso levará necessariamente a falsos resultados" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.
22
- "A teologia vai aos poucos perdendo sua posição de saber mais importante e é substituída pela filosofia. Mas esta nova filosofia fundamenta e prepara o advento da ciência como paradigma último da Verdade. A verdade deixa de ser teológica e passa a ser científica. Tanto que hoje, quando alguém quer dizer que algo é verdadeiro, diz simplesmente que é científico. A aura da ciência, como verdade, tornou-se tão evidente que as pessoas nem um pouco se perguntam porque a ciência é simplesmente sinônimo da verdade. É claro que a ciência tem seus argumentos. E o maior deles é a experiência imediata que cada um comprova. A ciência brota do homem. É uma atividade que tem como centro de atuação e de legitimação o homem. Mas que homem? O homem enquanto razão. Esta substitui a fé" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 66.
23
- "A ciência reduz tudo de uma maneira assombrosa, pois lhe falta a dimensão do sagrado. A dessacralização é proporcional ao avanço da ciência. Mas esta tem um encontro marcado com o destino, onde a essência da técnica terá de se defrontar com a presença constante do sagrado. Não é sem motivo que em ciência já se fala na “era das incertezas”. E então onde mora o perigo é daí mesmo que vem a salvação, que não é algo externo ao que está acontecendo. Apenas o esquecimento dessa presença e sentido, o esquecimento do sentido do ser. Toda gota d’água pro-cura o seu elemento: o mar" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.
24
- "A verdade é o maior trunfo da ciência, não o que produz. Pois a ciência vive e sobrevive, no que diz respeito à verdade, de uma falácia, ou seja, de uma verdade aparentemente verdadeira, mas que é falsa. Qual? A verdade da ciência muda de acordo com a teoria e o tempo de validade das teorias e alcance das pesquisas. O que hoje afirmam novas pesquisas podem dizer amanhã exatamente o contrário. O que é válido para uma disciplina não é válido para outras. Quando o conhecimento não dá conta de algo, vira exceção, jamais será admitido tal conhecimento como falso. O interessante é que o falso passou a ser tudo que não está de acordo ou se reduz ao conhecimento científico, pois a ciência jamais pode ser falsa. Ela é sempre verdadeira, nem que a sua verdade dure até que seja provada a sua falsidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 20.
25
- "Os conceitos vão surgir quando a resposta se torna mais importante do que a questão, na medida em que a resposta “acha” que dá conta da questão, pois estabelece um conhecimento definido, preciso e exato. Os conceitos tiveram um duplo encaminhamento. Primeiro, eles se tornaram a definição de verdades por oposição ao erro. O seu fundamento foi a verdade lógica. E então os conceitos se tornaram a espinha dorsal dos sistemas filosóficos, na medida em que estes se sobrepuseram ao próprio real como teorias e abortaram as questões. Com o surgimento da ciência, a partir dos conceitos filosóficos, estes sofrem uma transformação: além dos limites definidos, passa a ser exigido deles exatidão. E então, além da lógica, introduz-se a linguagem matemática, a linguagem da exatidão e da precisão. A maioria dos conceitos com que se analisam as obras de arte surgiram a partir do paradigma científico. E acabaram por ocultar as questões em que sempre a arte se move" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 14.
26
- "Até a mentira pode ser interpretada por historiadores. A pluralidade e a refutação de diferentes interpretações é parte do debate. Já dizia o filósofo Karl Popper que uma sentença irrefutável não é científica - lembra o historiador italiano Carlo Ginszburg" (1).
- O historiador italiano diz o seguinte, na entrevista citada: "Até a mentira pode ser interpretada por historiadores. A pluralidade e a refutação de diferentes interpretações é parte do debate. Já disse o filósofo Karl Popper que uma sentença irrefutável não é científica" (2).
- Referências:
- (2) GABRIEL, Ruan de Sousa. Crônica: A disputa pela verdadeira história. In: O GLOBO', Segundo Caderno, sábado, 8-5-2021, p.1.
- (2) GINSBURG, Carlo. Os usos políticos da mentira são notícia velha Entrevista. In: O GLOBO, Segundo Caderno, sábado, 9-5-2021, p. 2.
27
- "Assim, mesmo que a ciência acredite que possa conceitualizar o tempo, fazendo uso de cálculos e fórmulas complexas, sempre haverá algo que está para além da compreensão numérica e mensurável. Para alguns, é exatamente nesse inapreensível de tanta coisa de nossa travessia que reside o encanto da vida; para outros, ao contrário, a inapreensibilidade do viver gera desconforto e até certo desespero, uma vez que estamos acostumados a nos mover em uma falsa zona de conforto, que nos dá a ilusão de que o viver é "cerzidinho" " (1).
- Referência:
- (1) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. A Poética do Tempo. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, Coleção Pensamento Poético, 5, 2013, p. 20.
28
- "O físico Mário Novello argumenta que está convencido de que "...a ciência nada mais é do que um jogo que brincamos, coletiva-solitariamente com a natureza" (1). Quando pensamos em jogo, somos levados a pensar que no jogo há um largo espaço para o cultivo da ilusão" (2).
- Referência:
- (2) GUIDA, Angela. "Tempo I - Que é Isto o Tempo". In:---. A Poética do Tempo. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, Coleção Pensamento Poético, 5, 2013, p. 23.
29
- "A ciência é apresentada na escola como um corpo de conhecimento fixo, com respostas de sim e não, certo ou errado. Mas na verdade, a ciência é um processo de investigação que leva em conta incertezas e probabilidades" (1).
- Referência:
- (1) PASTERNAK, Natalia. Crônica: "Fatalistas do clima". In: O GLOBO, Segunda-feira, 26.8.2024, p. 14.