Mulher

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Dia 8 de março. Dia internacional da [[Mulher]].
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: "Aí estava o [[mar]], a mais ininteligível das existências não-humanas. E ali estava a [[mulher]], de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o [[ser humano]] fizera um dia uma [[pergunta]] sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava [[sangue]]" (1).  
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: "Aí estava o [[mar]], a mais ininteligível das existências não-humanas. E ali estava a [[mulher]], de pé, o mais ininteligível dos [[seres]] [[vivos]]. Como o [[ser humano]] fizera um dia uma [[pergunta]] sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos [[seres]] onde circulava sangue" (1).  
: Referência:
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: (1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''. 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 82.
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: (1) LISPECTOR, Clarice. '''Uma [[aprendizagem]] ou o [[livro]] dos prazeres, 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974''', p. 82.
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:O conceito "mulher" aplicado a cada mulher individual e singular ainda não consegue dizer tudo, simplesmente porque a mulher-individual está continuamente sendo o não-ser, mudando. Mas ainda falta apreendê-la nesse vir-a-ser como [[unidade]] nessa [[mudança]], senão será impossível falar tanto do conceito "mulher" como da mulher singular e concreta. O que falta? O [[originário]], a [[memória]], a [[linguagem]], ou seja, só quando a mulher singular e concreta [[vigorar|vigora]]  como possibilidade de ser mulher, no horizonte de mudança e permanência, é que se pode apreender a mulher-singular-concreta, isto é,  como o que ela é no seu concrescer, no seu vir-a-ser "esta" mulher e, ao mesmo tempo, ser simplesmente "mulher". Isto não significa uma essência abstrata, o conceito mulher, mas a tensão entre singularidade e identidade, daí que Memória como Unidade não é apenas a identidade, mas unidade significa sempre unidade de identidade e diferença (singularidade), ou seja, “entre” ser e não ser há um abismo para o qual a identidade da diferença  e a diferença da identidade nos atrai irresistivelmente. O vigor e a possibilidade são [[Éros]]. Podemos ver o sentido profundo desse Éros quando, entre outras possibilidades concretas, se concretiza na mulher. E é nesse horizonte que se pode pensar Mulher e Feminismo poeticamente. O [[poética|poético]] é o vigor poético pelo qual cada mulher é esta mulher e ao mesmo tempo ser [[feminino|feminina]]. E é daí que se pode pensar a Mulher enquanto [[corpo]] na sua feminilidade, ou seja, a reunião de terra e céu. Não podemos pensar aqui terra e céu como conceitos oriundos de uma visão cosmográfica, mas no que eles têm de [[mistério|misterioso]] e [[sagrado]]. Hoje a genética já trabalha com a ideia de terra como sendo Gaia, ou seja, simplesmente, VIDA.  Por isso a mulher está profundamente ligada à Terra. Terra é gaia, é vida. Mas então não podemos pensar [[Vida|VIDA]] como algo biológico apenas, mas o próprio vigor e possibilidade vital que comparece em tudo e a toda vida possibilita. A mulher como mulher tem em si sintetizado todo esse vigor vital. Então VIDA é uma questão e não simplesmente um conceito, seja de que ciência for.
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: O [[conceito]] "[[mulher]]" aplicado a cada [[mulher]] [[individual]] e [[singular]] ainda não consegue [[dizer]] [[tudo]], simplesmente porque a [[mulher]]-[[individual]] está continuamente [[sendo]] o [[não-ser]], mudando. Mas ainda falta apreendê-la nesse [[vir-a-ser]] como [[unidade]] nessa [[mudança]], senão será [[impossível]] [[falar]] tanto do [[conceito]] "[[mulher]]" como da [[mulher]] [[singular]] e [[concreta]]. O que falta? O [[originário]], a [[memória]], a [[linguagem]], ou seja, só quando a [[mulher]] [[singular]] e [[concreta]] [[vigorar|vigora]]  como [[possibilidade]] de [[ser]] [[mulher]], no [[horizonte]] de [[mudança]] e [[permanência]], é que se pode [[apreender]] a [[mulher]]-[[singular]]-[[concreta]], isto é,  como o que ela [[é]] no seu concrescer, no seu [[vir-a-ser]] "esta" [[mulher]] e, ao mesmo tempo, ser simplesmente "[[mulher]]". Isto não significa uma [[essência]] [[abstrata]], o [[conceito]] [[mulher]], mas a [[tensão]] [[entre]] [[singularidade]] e [[identidade]], daí que [[Memória]] como [[Unidade]] não é apenas a [[identidade]], mas [[unidade]] significa sempre [[unidade]] de [[identidade]] e [[diferença]] ([[singularidade]]), ou seja, “[[entre]]” [[ser]] e [[não ser]] há um [[abismo]] para o qual a [[identidade]] da [[diferença]] e a [[diferença]] da [[identidade]] nos atrai irresistivelmente. O [[vigor]] e a [[possibilidade]] são [[Éros]]. Podemos ver o [[sentido]] [[profundo]] desse [[Éros]] quando, entre outras [[possibilidades]] [[concretas]], se concretiza na [[mulher]]. E é nesse [[horizonte]] que se pode [[pensar]] [[Mulher]] e [[Feminismo]] [[poeticamente]]. O [[poética|poético]] é o [[vigor]] [[poético]] pelo qual cada [[mulher]] é esta [[mulher]] e ao mesmo tempo ser [[feminino|feminina]]. E é daí que se pode [[pensar]] a [[Mulher]] enquanto [[corpo]] na sua [[feminilidade]], ou seja, a reunião de [[terra]] e [[céu]]. Não podemos [[pensar]] aqui [[terra]] e [[céu]] como [[conceitos]] oriundos de uma [[visão]] cosmográfica, mas no que eles têm de [[mistério|misterioso]] e [[sagrado]]. Hoje a [[genética]] já trabalha com a [[ideia]] de [[terra]] como sendo [[Gaia]], ou seja, simplesmente, [[VIDA]].  Por isso a [[mulher]] está profundamente ligada à [[Terra]]. [[Terra]] é [[gaia]], é [[vida]]. Mas então não podemos [[pensar]] [[Vida|VIDA]] como algo biológico apenas, mas o próprio [[vigor]] e [[possibilidade]] [[vital]] que comparece em [[tudo]] e a toda vida possibilita. A [[mulher]] como [[mulher]] tem em si sintetizado todo esse [[vigor]] [[vital]]. Então [[Vida | VIDA]] é uma [[questão]] e não simplesmente um [[conceito]], seja de que [[ciência]] for.
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: A [[mulher]], como verdadeira [[obra]] poética criativa, precisa para [[procriar]] ser desvirginizada desvelando a [[fonte]] da [[vida]], da [[maternidade]]. Devemos compreender aqui esse desvelamento como a verdade acontecendo (''[[aletheia]]''. Todo [[procriar]] é um [[acontecer]] da [[maternidade]]: [[milagre]] do [[mistério]] [[extraordinário]] que é o [[procriar]], o dar à [[luz]]. A pura [[possibilidade]] que a virgindade como [[velamento]] contém em-si pode tornar a [[mulher]] a [[mãe]] de muitos filhos, continuando o [[milagre]] da [[vida]] como [[permanência]] da [[vida]] e desafio da [[morte]]. [[Vida]] e [[morte]]: faces do [[mesmo]] [[acontecer]]. Todo [[nascimento]] de uma [[criança]] reinaugura o [[mundo]] diante da [[morte]] e é, portanto, um desvirginizar, porque é fazer o [[nada]] ser criativo, [[fonte]] de todas as [[possibilidades]]. Nesse sentido, a [[mulher]] se torna [[mãe]], porque nela acontece a [[maternidade]], o [[ser]] o [[lugar]] do [[procriar]], do [[gerar]] filhos. E só acontece na [[mulher]], pois é [[próprio]] do [[feminino]], ou seja, nela acontece ''[[Eros]]''. Este acontecendo na [[mulher]] torna-a tanto mais [[humana]] quanto mais [[divina]]. Em verdade, ela co-participar da [[essência]] de ''[[Eros]]''. É neste [[sentido]] que falamos do [[amor]] maternal, tão radical quanto o [[ser]] [[mãe]].
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: A [[mulher]], como verdadeira [[obra]] poética criativa, precisa para [[procriar]] ser desvirginizada desvelando a [[fonte]] da [[vida]], da [[maternidade]]. Devemos [[compreender]] aqui esse [[desvelamento]] como a [[verdade]] acontecendo (''[[aletheia]]''. Todo [[procriar]] é um [[acontecer]] da [[maternidade]]: [[milagre]] do [[mistério]] [[extraordinário]] que é o [[procriar]], o dar à [[luz]]. A pura [[possibilidade]] que a [[virgindade]] como [[velamento]] contém em-si pode tornar a [[mulher]] a [[mãe]] de muitos filhos, continuando o [[milagre]] da [[vida]] como [[permanência]] da [[vida]] e desafio da [[morte]]. [[Vida]] e [[morte]]: faces do [[mesmo]] [[acontecer]]. Todo [[nascimento]] de uma [[criança]] reinaugura o [[mundo]] diante da [[morte]] e é, portanto, um desvirginizar, porque é [[fazer]] o [[nada]] ser criativo, [[fonte]] de [[todas]] as [[possibilidades]]. Nesse sentido, a [[mulher]] se torna [[mãe]], porque nela acontece a [[maternidade]], o [[ser]] o [[lugar]] do [[procriar]], do [[gerar]] filhos. E só acontece na [[mulher]], pois é [[próprio]] do [[feminino]], ou seja, nela acontece ''[[Eros]]''. Este acontecendo na [[mulher]] torna-a tanto mais [[humana]] quanto mais [[divina]]. Em verdade, ela co-participar da [[essência]] de ''[[Eros]]''. É neste [[sentido]] que falamos do [[amor]] maternal, tão [[radical]] quanto o [[ser]] [[mãe]].
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:"A mulher vive presa à [[imagem]] que a sociedade masculina lhe impõe; portanto, só pode escolher rompendo consigo mesma. 'O amor a transformou, fez dela outra pessoa', costuma-se dizer das apaixonadas. E é [[verdade]]: o [[amor]] faz da mulher uma outra, pois, se se atreve a [[amar]], a escolher, se se atreve a ser ela mesma, precisa quebrar a imagem em que o [[mundo]] encarcera o seu [[ser]]" (1).
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: "A [[mulher]] vive presa à [[imagem]] que a [[sociedade]] [[masculina]] lhe impõe; portanto, só pode [[escolher]] rompendo consigo mesma. 'O [[amor]] a transformou, fez dela outra [[pessoa]], costuma-se dizer das apaixonadas. E é [[verdade]]: o [[amor]] faz da [[mulher]] uma outra, pois, se se atreve a [[amar]], a [[escolher]], se se atreve a [[ser]] ela mesma, precisa quebrar a [[imagem]] em que o [[mundo]] encarcera o seu [[ser]]" (1).
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:(1) PAZ, Octavio. ''O labirinto da solidão e post.scriptum''. Trad. Eliane Zagury. 2.e. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 178.
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: (1) PAZ, Octavio. '''O [[labirinto]] da [[solidão]] e post.scriptum. Trad. Eliane Zagury. 2.e. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 178.'''
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: "Você é [[mulher]]; [[eu]], o [[homem]]. Este é o [[mundo]] e cada um é [[obra]] de [[tudo]]" (1)
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: (1) Fala do poeta, no filme '''O ponto de mutação''', direção de Bernt Capra, baseado no livro de Fritjof Capra: '''O ponto de mutação'''.
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:"Você é [[mulher]]; [[eu]], o [[homem]]. Este é o [[mundo]] e cada um é [[obra]] de [[tudo]]" (1)
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== 6 ==
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: "A [[mulher]] para engravidar nela aconteceu um [[pacto]] de [[amor]], isto é, ela foi tomada e possuída por ''[[eros]]''. Tanto a [[mulher]] como o [[homem]] foram tomados, deixaram-se atravessar por ''[[eros]]''. Não podemos [[compreender]] esse deixar-se possuir por ''[[eros]]'' de [[pacto]] amoroso? Em ''Grande [[sertão]]: [[veredas]]'' o [[pacto]] é esse deixar-se tomar por ''[[eros]]''. Por isso, a [[energia]] [[poética]] só é [[poética]] porque é a [[energia]] de ''[[eros]]'' " (1).
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: (1) Fala do poeta, no filme ''O ponto de mutação'', direção de Bernt Capra, baseado no livro de Fritjof Capra: ''O ponto de mutação''.
 
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: Manuel Antônio de Castro (org.). [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 19.'''
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: "A [[mulher]] para engravidar nela aconteceu um [[pacto]] de [[amor]], isto é, ela foi tomada e possuída por ''[[eros]]''. Tanto a [[mulher]] como o [[homem]] foram tomados, deixaram-se atravessar por ''[[eros]]''. Não podemos [[compreender]] esse deixar-se possuir por ''[[eros]]'' de [[pacto]] amoroso? Em ''Grande sertão: veredas'' o [[pacto]] é esse deixar-se tomar por ''[[eros]]''. Por isso, a [[energia]] poética só é [[poética]] porque é a [[energia]] de ''[[eros]]'' " (1).
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: Pode o [[êxtase]] levar a possuir o [[silêncio]] e o [[vazio]], o [[nada criativo]]? Miticamente, é a [[mulher]], em seu [[feminino]] como [[possibilidade]], a mais completa [[fonte]] de [[prazer]] e [[realização]] do [[desejar]], aquela que atinge e pode levar ao [[êxtase]]. [[Êxtase]] será então [[completude]], [[plenitude]] de [[realização]], eclosão na [[liberdade]]. Entendamos, a [[palavra]] [[êxtase]] se compõe do prefixo latino e grego ''ex/eks'', que tanto pode significar para fora ou fora de, quando diz uma [[relação]] espácio-temporal, substantiva, quanto o lançar para fora dos [[limites]], dizendo, então, uma [[possibilidade]] [[ontológica]] do [[existir]] [[humano]]. [[Existência]]. O que está fora dos [[limites]] é o [[livre aberto]], a [[possibilidade]] enquanto [[possibilidade]], [[ser]]. Já o radical ''-stase'' diz [[posição]]. [[Êxtase]] assinala, portanto, ontologicamente, o que está além e aquém da [[posição]]. Se [[posição]] diz o [[estar]], o [[êxtase]] pode abrir-nos para o [[ser]], o que está fora de, além do [[estado]], da [[posição]], ou seja, o nos projetar no [[livre aberto]] ([[clareira]]) da [[libertação]] essencial. A [[possibilidade]] [[ontológica]] é a [[essência]] da [[liberdade]]. Daí advir no [[êxtase]] [[ontológico]] a [[completude]] da [[liberdade]], do [[livre aberto]], da [[clareira]], em que nos podemos projetar e sair dos nossos [[limites]] posicionais, [[substantivos]], da nossa [[finitude]].
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: Referência:
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 19.
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== 8 ==
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: O [[destino]] que somos nos é destinado na [[linguagem]], pois é a [[linguagem]] que fala, não o [[ser humano]], em sua [[língua]]. Esta e cada falante só falam porque já vigoram na [[linguagem]]. Assim como cada [[mãe]]-[[mulher]] só gesta seus filhos porque já lhe foi dada a [[possibilidade]] de gestar. Ela não cria a [[Vida]]. Esta é que a cria e a faz ser [[mulher]]-[[mãe]]. Sem [[linguagem]] não há [[matéria]]/[[mãe]] criativa. Do mesmo modo é a [[linguagem]] que cria os [[mitos]] e, portanto, cria as [[obras de arte]], todas as [[obras de arte]] e todas as [[línguas]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 7 ==
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== 9 ==
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: Pode o [[êxtase]] levar a possuir o [[silêncio]] e o [[vazio]], o [[nada]] criativo? Miticamente, é a [[mulher]], em seu [[feminino]] como [[possibilidade]], a mais completa [[fonte]] de [[prazer]] e realização do [[desejar]], aquela que atinge e pode levar ao [[êxtase]]. [[Êxtase]] será então [[completude]], [[plenitude]] de [[realização]], eclosão na [[liberdade]]. Entendamos, a [[palavra]] [[êxtase]] se compõe do prefixo latino e grego ''ex/eks'', que tanto pode significar para fora ou fora de, quando diz uma [[relação]] espácio-temporal, substantiva, quanto o lançar para fora dos [[limites]], dizendo, então, uma [[possibilidade]] [[ontológica]] do [[existir]] [[humano]]. O que está fora dos [[limites]] é o livre aberto, a [[possibilidade]] enquanto [[possibilidade]], [[ser]]. Já o radical ''-stase'' diz [[posição]]. [[Êxtase]] assinala, portanto, ontologicamente, o que está além e aquém da [[posição]]. Se [[posição]] diz o [[estar]], o [[êxtase]] pode abrir-nos para o [[ser]], o que está fora de, além do estado, da [[posição]], ou seja, o nos projetar no livre aberto da [[libertação]] essencial. A [[possibilidade]] [[ontológica]] é a [[essência]] da [[liberdade]]. Daí advir no [[êxtase]] [[ontológico]] a [[completude]] da [[liberdade]], do livre aberto em que nos podemos projetar e sair dos nossos [[limites]] posicionais, substantivos, da nossa [[finitude]].
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: "É um [[fato]] notório que o [[corpo]] [[feminino]] está dotado de uma sensibilidade interna mais viva que a do [[homem]], isto é, que nossas [[sensações]] orgânicas intracorporais são vagas e como que surdas comparadas com as da [[mulher]]. Neste [[fato]] vejo eu uma das raízes de onde emerge, sugestivo, gentil e admirável, o esplêndido espetáculo da [[feminilidade]]" (1).
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: Referência:
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José.''' "Como nos vemos a nós. A [[mulher]] e seu [[corpo]]". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.'''
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: "A relativa hiperestesia das [[sensações]] orgânicas da [[mulher]] faz com que seu [[corpo]] exista para ela mais que para o [[homem]] o seu. Nós, [[homens]], normalmente, esquecemos nosso irmão [[corpo]]; não sentimos que o temos, a não ser com o muito frio ou com o muito calor da extrema [[dor]] ou do extremo [[prazer]]. [[Entre]] nosso [[eu]] puramente [[psíquico]] e o [[mundo]] exterior não parece se interpor [[nada]]. Na [[mulher]], pelo contrário, é solicitada constantemente a atenção pela vivacidade de suas [[sensações]] intracorporais: sente a toda hora seu [[corpo]] como interposto [[entre]] o [[mundo]] e seu [[eu]], leva-o sempre diante de si, ao mesmo tempo como um escudo que defende ou prenda vulnerável. As consequências disto são claras: toda a [[vida]] psíquica da [[mulher]] está mais fundida com seu [[corpo]] que a do [[homem]]; quer dizer, sua [[alma]] é mais corporal - porém, vice-versa, seu [[corpo]] convive mais constante  e estreitamente com seu [[espírito]]; quer dizer, seu [[corpo]] está mais tomado pela [[alma]]. Ocasiona, com efeito, na [[pessoa]] [[feminina]] um grau de penetração  [[entre]] [[corpo]] e [[espírito]] muito mais elevado que na do [[homem]]. No [[homem]], comparativamente, costumam ir cada um por seu lado; [[corpo]] e [[alma]] sabem pouco um do [[outro]] e não são solidários; pelo contrário atuam como irreconciliáveis inimigos" (1).  
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José.''' "Como nos vemos a nós. A [[mulher]] e seu [[corpo]]". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.'''
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== 11 ==
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: "Graças à sua afortunada predisposição psicológica, a [[mulher]] consegue logo e sem esforço, essa perfeita [[unidade]] [[entre]] o [[amor]] da [[alma]] e do [[corpo]], que é, sem dúvida, a [[forma]] exemplar e a equação moral do [[erotismo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José.''' "Como nos vemos a nós. A [[mulher]] e seu [[corpo]]". In: [[Obras]] Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 163.'''
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== 12 ==
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: "Porém, a conexão, peculiarmente estreita, [[entre]] [[alma]] e [[corpo]], que caracteriza a [[mulher]], mostra seus mais claros efeitos no [[sagrado]] recinto do [[amor]]. Se compararmos [[homens]] e [[mulheres]] de tipo médio, normais, de igual [[educação]] e cercados do mesmo ambiente [[social]], logo salta à vista sua diferente [[atitude]] diante do [[erotismo]]. É normal que o [[homem]] sinta [[desejos]] de prazeroso arrebatamento carnal para com [[mulheres]] que não despertam  em sua [[alma]] o menor [[afeto]]. Por assim dizê-lo dispõe seu [[corpo]] para que cumpra os [[ritos]] do [[amor]] carnal, com total [[ausência]] de seu [[espírito]]" (1).
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José.''' "Como nos vemos a nós. A [[mulher]] e seu [[corpo]]". In: [[Obras]] Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 163.'''
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== 13 ==
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: "Na [[mulher]], o [[corpo]] influi na normalidade da [[vida]] mais do que o do [[homem]]; porém, ao contrário, esse comportamento frequente faz com que a [[mulher]], não doente, domine mais seu [[corpo]] do que o [[homem]]. Daí o estranho [[fenômeno]] de que a [[mulher]] resista à grande [[dor]] e à miséria física melhor que o [[homem]] e, em contrapartida, seja mais comedida em entregar-se aos prazeres excessivos, daí a surpreendente eurritmia e comedimento na postura [[feminina]], no compasso e contenção em seus gestos, um não sei quê de recolhido e contenção que tem o [[corpo]] da [[mulher]]" (1).
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: Referência:
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José.''' "Como nos vemos a nós. A [[mulher]] e seu [[corpo]]". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.'''
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== 14 ==
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: "Nesta observação creio que pode achar-se a [[causa]] desse [[fato]] [[eterno]] e [[enigmático]] que percorre a [[história]] [[humana]] de ponta a ponta, e de que não se deram senão [[explicações]] estúpidas ou superficiais: refiro-me à imortal propensão da [[mulher]] ao [[adorno]] e ao embelezamento do seu [[corpo]]. Visto à luz da [[ideia]] que exponho, nada mais natural e, ao mesmo tempo, inevitável. Sua nativa [[formação]] fisiológica impõe à [[mulher]] o hábito de fixar-se, de atender a seu [[corpo]], que vem a ser o [[objeto]] mais próximo dentro da [[perspectiva]] de seu [[mundo]]. E como a [[cultura]] não é senão a ocupação reflexiva sobre aquilo para o qual nossa atenção se volta preferencialmente, a [[mulher]] criou a egrégia [[cultura]] do [[corpo]], que, historicamente, começou pelo [[adorno]], prosseguiu pelo asseio e se concluiu pela cortesia, genial invento [[feminino]], que é, em conclusão, a fina [[cultura]] do gesto" (1).
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: Referência:
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José.''' "Como nos vemos a nós. A [[mulher]] e seu [[corpo]]". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.'''
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== 15 ==
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: " - ''Sabina'': Você está apenas procurando [[prazer]] ou toda [[mulher]] é uma [[terra]] nova cujos segredos você quer desvendar? Quer [[saber]] o que ela dirá quando fizer [[amor]]? Ou como ela sorriria? Ou que sussurraria? Gemeria? Gritaria?
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: - ''Tomás'': Talvez os menores e mais inimagináveis [[detalhes]]. Pequenas [[coisas]] fazem uma [[mulher]] diferente de qualquer outra.
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: - ''Sabina'': Qual é o meu [[detalhe]], doutor Tomás?
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: - ''Tomás'': O seu chapéu, Sabina" (1).
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: - Referência:
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: (1) '''A insustentável leveza do ser, filme de Philip Kaufman, 1988, baseado no romance de Milan Kundera: A insustentável leveza do ser.'''
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== 16 ==
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: Mas qual o [[limite]] do [[sentido]]? Qual o [[limite]] do [[silêncio]]? Qual o [[limite]] do [[vazio]]? Eis a concreta e misteriosa [[realidade]] do [[feminino]], pelo qual toda [[mulher]] é envolvida e dimensionada. Deixar-se tomar por estas [[questões]] é tentar penetrar na [[essência]] do [[feminino]]. Ela está a quilômetros-luz do [[feminismo]]. Como [[querer]] reduzir a [[essência]] do [[feminino]] a um “ismo”? A [[mulher]], em sua [[essência]], é esse oco e [[vazio]] acolhedor, que a faz aberta para [[ser]], sem jamais se deixar tomar por comportamentos prévios. Daí dizer-se, com razão, que toda [[mulher]] é imprevisível, não lógica, prevalecendo sempre o [[sentido]] do [[sentir]], [[vigência]] possível do [[sentido]]. Todo [[ser humano]] está lançado nesta [[dimensão]] imprevisível do não lógico. Todavia, na [[mulher]], estas [[possibilidades]] prevalecem.
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: [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 17 ==
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: Em [[essência]], a complexidade e [[mistério]] da [[luz]] é o mesmo [[mistério]] da [[imagem]]. [[Luz]], essencialmente, é [[sentido]], [[verdade]], [[mundo]] e [[vida]]. Por isso, quando nasce uma [[criança]], dizemos que a [[mulher]] dá à [[luz]], um [[homem]] não dá à [[luz]]. No que há de [[essencial]], a [[teoria]] de [[gênero]] nada pode, porque em [[coisas]] [[essenciais]] nossa [[vontade]] é impotente. Outra expressão neste [[horizonte]] é o dizermos para nos referirmos à [[verdade]]: vir à [[luz]] ou à [[luz]] da [[razão]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 18 ==
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: "...toda [[mulher]] mede seu grau de envelhecimento pelo [[interesse]] ou pelo desinteresse que os [[homens]] demonstram por seu [[corpo]]" (1).
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== 8 ==
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: Referência:
-
: O [[destino]] que somos nos é destinado na [[linguagem]], pois é a [[linguagem]] que fala, não o [[ser humano]], em sua [[língua]]. Esta e cada falante só falam porque já vigoram na [[linguagem]]. Assim como cada [[mãe]]-[[mulher]] só gesta seus filhos porque já lhe foi dada a [[possibilidade]] de [[gestar]]. Ela não cria a [[Vida]]. Esta é que a cria e a faz ser [[mulher]]-[[mãe]]. Sem [[linguagem]] não há [[matéria]]/[[mãe]] criativa. Do mesmo modo é a [[linguagem]] que cria os [[mitos]] e, portanto, cria as [[obras de arte]], todas as [[obras de arte]] e todas as [[línguas]].
+
 
 +
: (1) KUNDERA, Milan. '''A [[identidade]], trad. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p. 30.'''
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== 19 ==
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: "Seu [[ciúme]] não se parecia com o que conhecera na juventude, quando a [[imaginação]] estimulava nele uma torturante [[fantasia]] [[erótica]]; dessa vez, ele era menos [[doloroso]], porém, mais destrutivo; lenta e mansamente, transformava uma [[mulher]] [[amada]] em [[simulacro]] de [[mulher]] [[amada]]. E,  como ela não era mais um [[ser]] seguro para ele, não havia mais nenhum ponto de estabilidade no [[caos]] sem [[valores]] que é o [[mundo]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) KUNDERA, Milan. '''A [[identidade]], trad. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p. 74.'''
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== 20 ==
 +
: " '''O senhor diz que, em um [[futuro]] próximo, as [[mulheres]] estarão no centro do [[sistema]] [[social]]. Por quê?'''
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: "Em 2030, as [[mulheres]] [[viverão]] em média três anos a mais que os [[homens]]. Sessenta por cento dos estudantes [[universitários]], 60% dos graduados e 60% dos titulares de mestrado serão [[mulheres]]. Muitas [[mulheres]] se casarão com um [[homem]] mais novo que elas. Por tudo isso, as [[mulheres]] [[estarão]] no centro do [[sistema]] [[social]] e serão tentadas a administrar seu [[poder]] com a dureza que deriva dos [[erros]] sofridos nos mil anos anteriores. Os [[valores]] "[[femininos]]" ([[estética]], [[subjetividade]], [[emoção]], flexibilidade) também terão colonizado os [[homens]]. Fluidez [[sexual]], pansexualidade e androginia se espalharão no [[estilo]] de [[vida]]" (1).
 +
: Note o [[leitor]] como o [[autor]] só [[pensa]] a [[mulher]] e o [[feminino]] no seus [[aspectos]] [[sociais]], deixando impensada a [[essência]] da [[mulher]] e do [[feminino]]. E, preso à [[Sociologia]], jamais [[pensa]] as [[questões]] do [[próprio]], do [[ético]] e do [[poético]], cada vez mais importantes na [[globalização]]. Nem se questiona sobre [[tempo]], [[mundo]] e sucessão das [[épocas]] (2).
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
 +
: Referência:
 +
: (1) DE MASI, Domenico - '''Sociólogo. O [[mundo]] atual é o melhor dos que já existiram. Entrevista dada a ''Bolívar Torres''. In: O Globo. Segundo Caderno, Quinta-feira, 14.11.2019, p.1.'''
 +
: (2)''' Trata-se do [[livro]] do [[autor]]: O [[mundo]] ainda é jovem. Editora Vestígio, 256 páginas.'''
-
== 9 ==
+
== 21 ==
-
: "É um [[fato]] notório que o [[corpo]] [[feminino]] está dotado de uma [[sensibilidade]] [[interna]] mais viva que a do [[homem]], isto é, que nossas [[sensações]] orgânicas intracorporais são vagas e como que surdas comparadas com as da [[mulher]]. Neste fato vejo eu uma das raízes de onde emerge, sugestivo, gentil e admirável, o esplêndido espetáculo da [[feminilidade]]" (1).
+
: "Putanny Yawanawá - A primeira [[mulher]] a se tornar líder [[espiritual]] de seu [[povo]], numa aldeia do Acre, conta como enfrentou o machismo e outras provações para adquirir o [[conhecimento]] [[sagrado]] da Amazônia e virou defensora da [[cultura]] local, renovando [[cantos]] e [[danças]]" (1).
: Referência:  
: Referência:  
-
: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.
+
: (1) YAWANAWÁ, Putanny - Pajé. '''A [[cura]] do [[mundo]] é  pela espiritualidade, e ela é coletiva'''. Entrevista a ''Maria Fortuna''. In: '''O Globo. Segundo Caderno, Quarta-feira, 01-01-2020, p. 2.'''
 +
== 22 ==
 +
: "''[[Ousía]]'' não é [[gênero]] no [[sentido]] gramatical, mas é [[gênero]] no [[sentido]] de ''[[génos]]''. Como [[feminino]] de ''[[on]]'', traz para o [[pensar]] a [[questão]] da [[presença]] [[concreta]] da inesgotável [[energia]] de [[manifestação]] da [[vida]] em toda [[mulher]], isto é, da [[possibilidade]] da [[fertilidade]]" (1).
-
== 10 ==
+
: Referência:
-
: "A relativa hiperestesia das [[sensações]] orgânicas da [[mulher]] faz com que seu [[corpo]] exista para ela mais que para o [[homem]] o seu. Nós, [[homens]], normalmente, esquecemos nosso irmão [[corpo]]; não sentimos que o temos, a não ser com o muito frio ou com o muito calor da extrema [[dor]] ou do extremo [[prazer]]. [[Entre]] nosso [[eu]] puramente [[psíquico]] e o [[mundo]] exterior não parece se interpor [[nada]]. Na [[mulher]], pelo contrário, é solicitada constantemente a atenção pela vivacidade de suas [[sensações]] intracorporais: sente a toda hora seu [[corpo]] como interposto [[entre]] o [[mundo]] e seu [[eu]], leva-o sempre diante de si, ao mesmo tempo como um escudo que defende ou prenda vulnerável. As consequências disto são claras: toda a [[vida]] [[psíquica]] da [[mulher]] está mais fundida com seu [[corpo]] que a do [[homem]]; quer dizer, sua [[alma]] é mais corporal - porém, vice-versa, seu [[corpo]] convive mais constante  e estreitamente com seu [[espírito]]; quer dizer, seu [[corpo]] está mais tomado pela [[alma]]. Ocasiona, com efeito, na [[pessoa]] [[feminina]] um grau de penetração  [[entre]] [[corpo]] e [[espírito]] muito mais elevado que na do [[homem]]. No [[homem]], comparativamente, costumam ir cada um por seu lado; [[corpo]] e [[alma]] sabem pouco um do [[outro]] e não são solidários; pelo contrário atuam como irreconciliáveis inimigos" (1).
+
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[próprio]] como possibilidades". In:------. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 134.'''
-
: Referência:  
+
== 23 ==
 +
: "Digo ao [[senhor]]: e foi [[menino]] nascendo. Com as lágrimas nos [[olhos]], aquela [[mulher]] rebeijou minha mão... Alto eu disse, no me despedir: - "Minha Senhora Dona: um [[menino]] nasceu - o [[mundo]] tornou a [[começar]]! ... " (1).
-
: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.
+
: A [[linguagem]] é a [[mãe]] de todas as [[línguas]]. A [[mulher]] é a [[mãe]] [[originária]] de todos os [[seres humanos]]. '''Physis/ser/poiesis: linguagem/mulher'''.
 +
: [[Mulher]] / [[linguagem]], onde o [[extraordinário]] da ''[[physis]]/[[ser]]'' se destina como [[mundo]] em '''[[poiesis]] [[originária]]''', sua [[plenitude]] de [[mistério]]. [[Mulher]]/[[mãe]], [[ente]]/[[ser]]: [[linguagem]]/''[[ethos]]''" (2).
-
== 11 ==
+
: Referências:
-
: "Graças à sua afortunada predisposição psicológica, a [[mulher]] consegue logo e sem esforço, essa perfeita [[unidade]] [[entre]] o [[amor]] da [[alma]] e do [[corpo]], que é, sem dúvida, a [[forma]] [[exemplar]] e a equação moral do [[erotismo]]" (1).
+
 
 +
: (1) [[ROSA]], João Guimarães. '''Grande [[sertão]]: [[veredas]]. 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 353.'''
 +
 
 +
: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. '''[[Linguagem]]: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 30.'''
 +
 
 +
== 24 ==
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 +
: [[eu]] chorava
 +
: porque não encontrava
 +
: um [[homem]] [[bom]] para minha [[vida]]
 +
: [[agora]] [[eu]] encontrei e
 +
: ele não é suficiente
 +
: os [[outros]] [[sempre]]
 +
: estavam de saída
 +
: - ''por isso eram tão interessantes''    (1)
: Referência:  
: Referência:  
-
: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 163.
+
: (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 64.'''
 +
== 25 ==
 +
: gosto demais da minha [[vida]]
 +
: para ficar toda derretida
 +
: pelo próximo [[homem]]
 +
: que me deixar com frio na barriga
 +
: quando [[eu]] posso me [[olhar]] no [[espelho]]
 +
: e me tirar o fôlego      (1)
-
== 12 ==
+
 
-
: "Porém, a conexão, peculiarmente estreita, [[entre]] [[alma]] e [[corpo]], que caracteriza a [[mulher]], mostra seus mais claros efeitos no [[sagrado]] recinto do [[amor]]. Se compararmos [[homens]] e [[mulheres]] de tipo médio, normais, de igual [[educação]] e cercados do mesmo ambiente [[social]], logo salta à vista sua diferente [[atitude]] diante do [[erotismo]]. É normal que o [[homem]] sinta [[desejos]] de prazeroso arrebatamento carnal para com [[mulheres]] que não despertam  em sua [[alma]] o menor [[afeto]]. Por assim dizer-lo dispõe a seu [[corpo]] para que cumpra os [[ritos]] do [[amor]] carnal, com total ausência de seu [[espírito]]" (1).
+
: Referência:
 +
 
 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 69.'''
 +
 
 +
== 26 ==
 +
 
 +
: [[eu]] vivo [[bem]] sem [[amor]] [[romântico]]
 +
: mas não sobrevivo
 +
: sem as [[mulheres]] que escolhi como [[amigas]]
 +
: elas sabem exatamente do que [[eu]] preciso
 +
: antes mesmo que eu saiba
 +
: o apoio que oferecemos
 +
: umas às [[outras]] é ímpar      (1)
: Referência:  
: Referência:  
-
: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 163.
+
: (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 73.'''
 +
== 27 ==
 +
: ninguém pode [[silenciar]] uma [[mulher]] que nasceu
 +
: amordaçada      (1)
-
== 13 ==
+
 
-
: "Na [[mulher]], o [[corpo]] influi na normalidade da [[vida]] mais do que o do [[homem]]; porém, ao contrário, esse comportamento frequente faz com que a [[mulher]], não doente, domine mais seu [[corpo]] do que o [[homem]]. Daí o estranho [[fenômeno]] de que a [[mulher]] resista à grande [[dor]] e à miséria física melhor que o [[homem]] e, em contrapartida, seja mais comedida em entregar-se aos prazeres excessivos, daí a surpreendente eurritmia e comedimento na postura [[feminina]], no compasso e contenção em seus gestos, um não sei quê de recolhido e contenção que tem o [[corpo]] da [[mulher]]" (1).
+
: Referência:
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 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 134.'''
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== 28 ==
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 +
: viva com todo o orgulho que [[você]] merece [[viver]]
 +
: e se oponha a essas [[regras]] de merda que  
 +
: tentam impor à [[aparência]] da [[mulher]]
: Referência:  
: Referência:  
-
: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.
+
: (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 162.'''
 +
== 29 ==
 +
: quando [[eu]] não conseguia me mexer
 +
: foram [[mulheres]]
 +
: que vieram me banhar os pés
 +
: até [[eu]] voltar a ter forças
 +
: para me levantar
 +
: foram [[mulheres]]
 +
: que me nutriram
 +
: para [[eu]] voltar a [[viver]]
-
== 14 ==
+
: ''- [[irmãs]]''    (1)
-
: "Nesta observação creio que pode achar-se a [[causa]] desse [[fato]] [[eterno]] e [[enigmático]] que percorre a [[história]] [[humana]] de ponta a ponta, e de que não se deram senão [[explicações]] estúpidas ou superficiais: refiro-me à imortal propensão da [[mulher]] ao [[adorno]] e ao embelezamento do seu [[corpo]]. Visto à luz da [[ideia]] que exponho, nada mais natural e, ao mesmo tempo, inevitável. Sua nativa [[formação]] fisiológica impõe à [[mulher]] o hábito de fixar-se, de atender a seu [[corpo]], que vem a ser o [[objeto]] mais próximo dentro da [[perspectiva]] de seu [[mundo]]. E como a [[cultura]] não é senão a ocupação reflexiva sobre aquilo para o qual nossa atenção se volta preferencialmente, a [[mulher]] criou a egrégia [[cultura]] do [[corpo]], que, historicamente, começou pelo [[adorno]], prosseguiu pelo asseio e se concluiu pela cortesia, genial invento [[feminino]], que é, em conclusão, a fina [[cultura]] do gesto" (1).
+
: Referência:  
: Referência:  
-
: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.
+
: (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 168.'''
 +
== 30 ==
 +
: não consigo tirar os [[olhos]] de mim
 +
: agora que [[eu]] me [[vejo]]
 +
: não consigo parar de [[pensar]] em mim
 +
: nem nas magias
 +
: que minhas mãos criam
 +
: nos sermões que eu trouxe ao [[mundo]] com a [[voz]]
 +
: nas montanhas que destruí
 +
: com os dedos
 +
: e nas montanhas que construí
 +
: com as [[palavras]] sem [[sentido]]
 +
: que tentaram usar
 +
: para me apedrejar
-
== 15 ==
+
: ''- [[guerreira]]''   (1)
-
:" - ''Sabina'': Você está apenas procurando [[prazer]] ou toda [[mulher]] é uma [[terra]] nova cujos segredos você quer [[desvendar]]? Quer [[saber]] o que ela dirá quando fizer [[amor]]? Ou como ela sorriria? Ou que sussurraria? Gemeria? Gritaria?
+
-
: - ''Tomás'': Talvez os menores e mais inimagináveis [[detalhes]]. Pequenas [[coisas]] fazem uma [[mulher]] diferente de qualquer outra.
+
-
: - ''Sabina'': Qual é o meu [[detalhe]], doutor [Tomás]?
+
-
: - ''Tomás'': O seu chapéu, Sabina (1).
+
-
: - Referência:
+
: Referência: .
 +
 
 +
:  (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 172.'''
 +
 
 +
== 31 ==
 +
: "A [[mulher]] é a [[harmonia]],
 +
:  é a [[poesia]], é a [[beleza]].
 +
:  Sem ela, o [[mundo]] não seria
 +
:  assim tão [[belo]].
 +
:  Não seria [[harmonioso]]" (1).
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 +
 
 +
: Referência:
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 +
: (1)''' Papa Francisco.'''
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 +
== 32 ==
 +
: "Segundo um conhecido preceito da [[lei]] irlandesa, a [[mulher]] pertence ao [[pai]] enquanto é solteira, ao marido depois de casada e aos [[filhos]] quando fica viúva. As [[mulheres]] [[celtas]], porém, não são tão passivas quanto essa fórmula pode sugerir. Tanto a [[literatura]] [[clássica]] quanto a [[celta]] [[celebram]] as [[mulheres]] fiéis ao seu senso  de honra" (1).
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 +
 
 +
: Referência:
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 +
: (1) HOOD, Juliette. '''O [[livro]] [[celta]] da [[vida]] e da [[morte]]. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora [[Pensamento]], 2011, p. 14.'''
 +
 
 +
== 33 ==
 +
: "Como podemos descobrir o que o [[destino]] nos reserva? Só consultando os [[druidas]], [[profetas]] ou [[poetas]]. Os [[druidas]] impressionaram os visitantes romanos com sua capacidade de [[prever]] o [[futuro]] observando o voo dos pássaros, as fases da [[Lua]] ou o movimento das estrelas. As [[mulheres]] também eram [[videntes]] e muitas vezes eram capazes de [[prever]] o resultado das batalhas e o [[destino]] dos [[heróis]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) HOOD, Juliette. '''O [[livro]] [[celta]] da [[vida]] e da [[morte]]. "[[Destino]] e [[conhecimento]] do [[futuro]]". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora [[Pensamento]], 2011, p. 83.'''
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== 34 ==
 +
: "Em todas as classes [[sociais]], quem controlava o dinheiro eram as [[mulheres]]. Se uma esposa fosse desonrada pelo marido, este perdia o dote. É talvez por essa [[razão]] que as [[mulheres]] logravam, ao menos até certo ponto, selecionar seu marido e, consequentemente, sua [[posição]] [[social]]" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) BARGEMAN, Lisa Ann. '''A [[origem]] egípcia do [[Cristianismo]]. São Paulo: Editora Pensamento, 2012, p. 108.'''
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 +
== 35 ==
 +
: "A [[mulher]], na [[época]] de Jesus, estava condenada a [[viver]] uma [[situação]] de inferioridade. Elas eram subjugadas pelos [[homens]]. Sofriam todo [[tipo]] de [[preconceito]]. A [[lei]] era muito mais pesada para elas do que para eles. Mas Jesus estava [[sempre]] rodeado de [[mulheres]]. Eram pobres, destinadas ao abandono, miseráveis que seguiam Jesus" (1).
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 +
: Referência:
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 +
: (1) ROSSI, Padre Marcelo.''' "A samaritana". In: ---. [[Ágape]]. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 44.'''
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== 36 ==
 +
: "Não é o [[parto]] que causa [[dor]]. A [[dor]] [[é]] o [[uno]] se fazendo [[diversidade]], a [[mulher]] se fazendo [[diferença]] do [[eu]] que [[é]] ela e do [[tu]] que [[é]] seu [[filho]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.'''
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== 37 ==
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: "Mas vejamos a maravilha: a [[mulher]]-[[corpo]]-[[mãe]] só chega a [[ser]]-[[mulher]]-[[mãe]] enquanto [[identidade]] no se [[diferenciar]] do [[filho]] que [[é]] ela e não [[é]] ela. [[Mundo]] e [[corpo]] é isso: reunião [[identitária]] de [[diferenças]]" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: '''[[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.'''
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== 38  ==
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: "Durante anos, médicos acreditavam que nas [[mulheres]], os [[problemas]] (não românticos) do [[coração]] eram tão raros que pacientes [[femininas]] nunca eram incluídas em [[estudos]] e não recebiam tratamento para essas [[condições]]" (1).
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 +
: (1) PASTERNAK, Natalia.''' [[Crônica]]: "[[Coração]] de [[mulher]]". In: O Globo. Segunda-feira, 15-4-2024, p. 14.'''
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== 39 ==
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: "A [[crença]] não justificada de que [[mulheres]] não sofrem com doenças cardíacas foi senso-comum: [[estudo]] clínico de 1982, que correlacionou colesterol alto à probabilidade de [[problemas]] cardíacos, envolveu aproximadamente 13 mil [[homens]], zero [[mulheres]]" (1).
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 +
: (1) PASTERNAK, Natalia.'''[[Crônica]]: "[[Coração]] de [[mulher]]". In: O Globo. Segunda-feira, 15-04-2024, p. 14.'''
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== 40 ==
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: "Ao clitóris, assim como ao útero, foi atribuída a [[culpa]] por diversas doenças e [[comportamentos]] "[[femininos]]". No século passado popularizou-se a idiotice [[freudiana]] de que [[mulheres]] que têm orgasmos estimulando-o precisam de ajuda psiquiátrica" (1).
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 +
: (1) PASTERNAK, Natalia.''' [[Crônica]]: "[[Coração]] de [[mulher]]". In: O Globo. Segunda-feira, 15-04-2024, p. 14.'''
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== 41 ==
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: "[[Mulheres]] foram negligenciadas na medicina por séculos, resultando em falta de medicamentos, testes e diagnósticos adequados. Para piorar, a negligência não é só [[tecnológica]], mas [[social]], fazendo com que muitos médicos ainda relutem em levar o [[sofrimento]] [[feminino]] a sério" (1).
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 +
: (1) PASTERNAK, Natalia.''' [[Crônica]]: "[[Coração]] de [[mulher]]". In: O Globo. Segunda-feira, 15-04-24, p. 14.'''
 +
 
 +
== 42 ==
 +
: "Não podemos confundir o [[conceito]] [[metafísico]] de [[origem]] com a [[questão]] do [[originário]]...
 +
: [[Originária]] é a [[mulher]]-[[mãe]] ao conceber, gestar e [[dar]] à [[luz]] um [[filho]]/a. [[Entre]] a primeira [[mulher]] que deu à [[luz]] um [[filho]]/ e a que hoje dá à [[luz]] um [[filho]]/a não há [[diferença]] nenhuma do [[ponto]] de [[ser]] [[mãe]]-[[mulher]]. A [[mãe]]-[[mulher]] [[é]] [[sempre]] [[originária]]".
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 +
: Referência:  
-
: (1) ''A insustentável leveza do ser'', filme de Philip Kaufman, 1988, baseado no romance de Milan Kundera: ''A insustentável leveza do ser''.
+
: CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poiesis]], [[sujeito]] e [[metafísica]]". CASTRO, Manuel Antônio de (Org.) A [[construção]] [[poética]] do [[real]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 19.'''

Edição atual tal como 20h36min de 31 de março de 2025

0

Dia 8 de março. Dia internacional da Mulher.

1

"Aí estava o mar, a mais ininteligível das existências não-humanas. E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fizera um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava sangue" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 82.

2

O conceito "mulher" aplicado a cada mulher individual e singular ainda não consegue dizer tudo, simplesmente porque a mulher-individual está continuamente sendo o não-ser, mudando. Mas ainda falta apreendê-la nesse vir-a-ser como unidade nessa mudança, senão será impossível falar tanto do conceito "mulher" como da mulher singular e concreta. O que falta? O originário, a memória, a linguagem, ou seja, só quando a mulher singular e concreta vigora como possibilidade de ser mulher, no horizonte de mudança e permanência, é que se pode apreender a mulher-singular-concreta, isto é, como o que ela é no seu concrescer, no seu vir-a-ser "esta" mulher e, ao mesmo tempo, ser simplesmente "mulher". Isto não significa uma essência abstrata, o conceito mulher, mas a tensão entre singularidade e identidade, daí que Memória como Unidade não é apenas a identidade, mas unidade significa sempre unidade de identidade e diferença (singularidade), ou seja, “entreser e não ser há um abismo para o qual a identidade da diferença e a diferença da identidade nos atrai irresistivelmente. O vigor e a possibilidade são Éros. Podemos ver o sentido profundo desse Éros quando, entre outras possibilidades concretas, se concretiza na mulher. E é nesse horizonte que se pode pensar Mulher e Feminismo poeticamente. O poético é o vigor poético pelo qual cada mulher é esta mulher e ao mesmo tempo ser feminina. E é daí que se pode pensar a Mulher enquanto corpo na sua feminilidade, ou seja, a reunião de terra e céu. Não podemos pensar aqui terra e céu como conceitos oriundos de uma visão cosmográfica, mas no que eles têm de misterioso e sagrado. Hoje a genética já trabalha com a ideia de terra como sendo Gaia, ou seja, simplesmente, VIDA. Por isso a mulher está profundamente ligada à Terra. Terra é gaia, é vida. Mas então não podemos pensar VIDA como algo biológico apenas, mas o próprio vigor e possibilidade vital que comparece em tudo e a toda vida possibilita. A mulher como mulher tem em si sintetizado todo esse vigor vital. Então VIDA é uma questão e não simplesmente um conceito, seja de que ciência for.


- Manuel Antônio de Castro

3

A mulher, como verdadeira obra poética criativa, precisa para procriar ser desvirginizada desvelando a fonte da vida, da maternidade. Devemos compreender aqui esse desvelamento como a verdade acontecendo (aletheia. Todo procriar é um acontecer da maternidade: milagre do mistério extraordinário que é o procriar, o dar à luz. A pura possibilidade que a virgindade como velamento contém em-si pode tornar a mulher a mãe de muitos filhos, continuando o milagre da vida como permanência da vida e desafio da morte. Vida e morte: faces do mesmo acontecer. Todo nascimento de uma criança reinaugura o mundo diante da morte e é, portanto, um desvirginizar, porque é fazer o nada ser criativo, fonte de todas as possibilidades. Nesse sentido, a mulher se torna mãe, porque nela acontece a maternidade, o ser o lugar do procriar, do gerar filhos. E só acontece na mulher, pois é próprio do feminino, ou seja, nela acontece Eros. Este acontecendo na mulher torna-a tanto mais humana quanto mais divina. Em verdade, ela co-participar da essência de Eros. É neste sentido que falamos do amor maternal, tão radical quanto o ser mãe.


- Manuel Antônio de Castro

4

"A mulher vive presa à imagem que a sociedade masculina lhe impõe; portanto, só pode escolher rompendo consigo mesma. 'O amor a transformou, fez dela outra pessoa, costuma-se dizer das apaixonadas. E é verdade: o amor faz da mulher uma outra, pois, se se atreve a amar, a escolher, se se atreve a ser ela mesma, precisa quebrar a imagem em que o mundo encarcera o seu ser" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. O labirinto da solidão e post.scriptum. Trad. Eliane Zagury. 2.e. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 178.

5

"Você é mulher; eu, o homem. Este é o mundo e cada um é obra de tudo" (1)


(1) Fala do poeta, no filme O ponto de mutação, direção de Bernt Capra, baseado no livro de Fritjof Capra: O ponto de mutação.

6

"A mulher para engravidar nela aconteceu um pacto de amor, isto é, ela foi tomada e possuída por eros. Tanto a mulher como o homem foram tomados, deixaram-se atravessar por eros. Não podemos compreender esse deixar-se possuir por eros de pacto amoroso? Em Grande sertão: veredas o pacto é esse deixar-se tomar por eros. Por isso, a energia poética só é poética porque é a energia de eros " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 19.

7

Pode o êxtase levar a possuir o silêncio e o vazio, o nada criativo? Miticamente, é a mulher, em seu feminino como possibilidade, a mais completa fonte de prazer e realização do desejar, aquela que atinge e pode levar ao êxtase. Êxtase será então completude, plenitude de realização, eclosão na liberdade. Entendamos, a palavra êxtase se compõe do prefixo latino e grego ex/eks, que tanto pode significar para fora ou fora de, quando diz uma relação espácio-temporal, substantiva, quanto o lançar para fora dos limites, dizendo, então, uma possibilidade ontológica do existir humano. Existência. O que está fora dos limites é o livre aberto, a possibilidade enquanto possibilidade, ser. Já o radical -stase diz posição. Êxtase assinala, portanto, ontologicamente, o que está além e aquém da posição. Se posição diz o estar, o êxtase pode abrir-nos para o ser, o que está fora de, além do estado, da posição, ou seja, o nos projetar no livre aberto (clareira) da libertação essencial. A possibilidade ontológica é a essência da liberdade. Daí advir no êxtase ontológico a completude da liberdade, do livre aberto, da clareira, em que nos podemos projetar e sair dos nossos limites posicionais, substantivos, da nossa finitude.


- Manuel Antônio de Castro

8

O destino que somos nos é destinado na linguagem, pois é a linguagem que fala, não o ser humano, em sua língua. Esta e cada falante só falam porque já vigoram na linguagem. Assim como cada mãe-mulher só gesta seus filhos porque já lhe foi dada a possibilidade de gestar. Ela não cria a Vida. Esta é que a cria e a faz ser mulher-mãe. Sem linguagem não há matéria/mãe criativa. Do mesmo modo é a linguagem que cria os mitos e, portanto, cria as obras de arte, todas as obras de arte e todas as línguas.


- Manuel Antônio de Castro

9

"É um fato notório que o corpo feminino está dotado de uma sensibilidade interna mais viva que a do homem, isto é, que nossas sensações orgânicas intracorporais são vagas e como que surdas comparadas com as da mulher. Neste fato vejo eu uma das raízes de onde emerge, sugestivo, gentil e admirável, o esplêndido espetáculo da feminilidade" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.

10

"A relativa hiperestesia das sensações orgânicas da mulher faz com que seu corpo exista para ela mais que para o homem o seu. Nós, homens, normalmente, esquecemos nosso irmão corpo; não sentimos que o temos, a não ser com o muito frio ou com o muito calor da extrema dor ou do extremo prazer. Entre nosso eu puramente psíquico e o mundo exterior não parece se interpor nada. Na mulher, pelo contrário, é solicitada constantemente a atenção pela vivacidade de suas sensações intracorporais: sente a toda hora seu corpo como interposto entre o mundo e seu eu, leva-o sempre diante de si, ao mesmo tempo como um escudo que defende ou prenda vulnerável. As consequências disto são claras: toda a vida psíquica da mulher está mais fundida com seu corpo que a do homem; quer dizer, sua alma é mais corporal - porém, vice-versa, seu corpo convive mais constante e estreitamente com seu espírito; quer dizer, seu corpo está mais tomado pela alma. Ocasiona, com efeito, na pessoa feminina um grau de penetração entre corpo e espírito muito mais elevado que na do homem. No homem, comparativamente, costumam ir cada um por seu lado; corpo e alma sabem pouco um do outro e não são solidários; pelo contrário atuam como irreconciliáveis inimigos" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.

11

"Graças à sua afortunada predisposição psicológica, a mulher consegue logo e sem esforço, essa perfeita unidade entre o amor da alma e do corpo, que é, sem dúvida, a forma exemplar e a equação moral do erotismo" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 163.

12

"Porém, a conexão, peculiarmente estreita, entre alma e corpo, que caracteriza a mulher, mostra seus mais claros efeitos no sagrado recinto do amor. Se compararmos homens e mulheres de tipo médio, normais, de igual educação e cercados do mesmo ambiente social, logo salta à vista sua diferente atitude diante do erotismo. É normal que o homem sinta desejos de prazeroso arrebatamento carnal para com mulheres que não despertam em sua alma o menor afeto. Por assim dizê-lo dispõe seu corpo para que cumpra os ritos do amor carnal, com total ausência de seu espírito" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 163.

13

"Na mulher, o corpo influi na normalidade da vida mais do que o do homem; porém, ao contrário, esse comportamento frequente faz com que a mulher, não doente, domine mais seu corpo do que o homem. Daí o estranho fenômeno de que a mulher resista à grande dor e à miséria física melhor que o homem e, em contrapartida, seja mais comedida em entregar-se aos prazeres excessivos, daí a surpreendente eurritmia e comedimento na postura feminina, no compasso e contenção em seus gestos, um não sei quê de recolhido e contenção que tem o corpo da mulher" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.

14

"Nesta observação creio que pode achar-se a causa desse fato eterno e enigmático que percorre a história humana de ponta a ponta, e de que não se deram senão explicações estúpidas ou superficiais: refiro-me à imortal propensão da mulher ao adorno e ao embelezamento do seu corpo. Visto à luz da ideia que exponho, nada mais natural e, ao mesmo tempo, inevitável. Sua nativa formação fisiológica impõe à mulher o hábito de fixar-se, de atender a seu corpo, que vem a ser o objeto mais próximo dentro da perspectiva de seu mundo. E como a cultura não é senão a ocupação reflexiva sobre aquilo para o qual nossa atenção se volta preferencialmente, a mulher criou a egrégia cultura do corpo, que, historicamente, começou pelo adorno, prosseguiu pelo asseio e se concluiu pela cortesia, genial invento feminino, que é, em conclusão, a fina cultura do gesto" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.

15

" - Sabina: Você está apenas procurando prazer ou toda mulher é uma terra nova cujos segredos você quer desvendar? Quer saber o que ela dirá quando fizer amor? Ou como ela sorriria? Ou que sussurraria? Gemeria? Gritaria?
- Tomás: Talvez os menores e mais inimagináveis detalhes. Pequenas coisas fazem uma mulher diferente de qualquer outra.
- Sabina: Qual é o meu detalhe, doutor Tomás?
- Tomás: O seu chapéu, Sabina" (1).


- Referência:
(1) A insustentável leveza do ser, filme de Philip Kaufman, 1988, baseado no romance de Milan Kundera: A insustentável leveza do ser.

16

Mas qual o limite do sentido? Qual o limite do silêncio? Qual o limite do vazio? Eis a concreta e misteriosa realidade do feminino, pelo qual toda mulher é envolvida e dimensionada. Deixar-se tomar por estas questões é tentar penetrar na essência do feminino. Ela está a quilômetros-luz do feminismo. Como querer reduzir a essência do feminino a um “ismo”? A mulher, em sua essência, é esse oco e vazio acolhedor, que a faz aberta para ser, sem jamais se deixar tomar por comportamentos prévios. Daí dizer-se, com razão, que toda mulher é imprevisível, não lógica, prevalecendo sempre o sentido do sentir, vigência possível do sentido. Todo ser humano está lançado nesta dimensão imprevisível do não lógico. Todavia, na mulher, estas possibilidades prevalecem.


Manuel Antônio de Castro.

17

Em essência, a complexidade e mistério da luz é o mesmo mistério da imagem. Luz, essencialmente, é sentido, verdade, mundo e vida. Por isso, quando nasce uma criança, dizemos que a mulher dá à luz, um homem não dá à luz. No que há de essencial, a teoria de gênero nada pode, porque em coisas essenciais nossa vontade é impotente. Outra expressão neste horizonte é o dizermos para nos referirmos à verdade: vir à luz ou à luz da razão.


- Manuel Antônio de Castro

18

"...toda mulher mede seu grau de envelhecimento pelo interesse ou pelo desinteresse que os homens demonstram por seu corpo" (1).


Referência:
(1) KUNDERA, Milan. A identidade, trad. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p. 30.

19

"Seu ciúme não se parecia com o que conhecera na juventude, quando a imaginação estimulava nele uma torturante fantasia erótica; dessa vez, ele era menos doloroso, porém, mais destrutivo; lenta e mansamente, transformava uma mulher amada em simulacro de mulher amada. E, como ela não era mais um ser seguro para ele, não havia mais nenhum ponto de estabilidade no caos sem valores que é o mundo" (1).


Referência:
(1) KUNDERA, Milan. A identidade, trad. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p. 74.

20

" O senhor diz que, em um futuro próximo, as mulheres estarão no centro do sistema social. Por quê?
"Em 2030, as mulheres viverão em média três anos a mais que os homens. Sessenta por cento dos estudantes universitários, 60% dos graduados e 60% dos titulares de mestrado serão mulheres. Muitas mulheres se casarão com um homem mais novo que elas. Por tudo isso, as mulheres estarão no centro do sistema social e serão tentadas a administrar seu poder com a dureza que deriva dos erros sofridos nos mil anos anteriores. Os valores "femininos" (estética, subjetividade, emoção, flexibilidade) também terão colonizado os homens. Fluidez sexual, pansexualidade e androginia se espalharão no estilo de vida" (1).
Note o leitor como o autorpensa a mulher e o feminino no seus aspectos sociais, deixando impensada a essência da mulher e do feminino. E, preso à Sociologia, jamais pensa as questões do próprio, do ético e do poético, cada vez mais importantes na globalização. Nem se questiona sobre tempo, mundo e sucessão das épocas (2).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) DE MASI, Domenico - Sociólogo. O mundo atual é o melhor dos que já existiram. Entrevista dada a Bolívar Torres. In: O Globo. Segundo Caderno, Quinta-feira, 14.11.2019, p.1.
(2) Trata-se do livro do autor: O mundo ainda é jovem. Editora Vestígio, 256 páginas.

21

"Putanny Yawanawá - A primeira mulher a se tornar líder espiritual de seu povo, numa aldeia do Acre, conta como enfrentou o machismo e outras provações para adquirir o conhecimento sagrado da Amazônia e virou defensora da cultura local, renovando cantos e danças" (1).


Referência:
(1) YAWANAWÁ, Putanny - Pajé. A cura do mundo é pela espiritualidade, e ela é coletiva. Entrevista a Maria Fortuna. In: O Globo. Segundo Caderno, Quarta-feira, 01-01-2020, p. 2.

22

"Ousía não é gênero no sentido gramatical, mas é gênero no sentido de génos. Como feminino de on, traz para o pensar a questão da presença concreta da inesgotável energia de manifestação da vida em toda mulher, isto é, da possibilidade da fertilidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 134.

23

"Digo ao senhor: e foi menino nascendo. Com as lágrimas nos olhos, aquela mulher rebeijou minha mão... Alto eu disse, no me despedir: - "Minha Senhora Dona: um menino nasceu - o mundo tornou a começar! ... " (1).
A linguagem é a mãe de todas as línguas. A mulher é a mãe originária de todos os seres humanos. Physis/ser/poiesis: linguagem/mulher.
Mulher / linguagem, onde o extraordinário da physis/ser se destina como mundo em poiesis originária, sua plenitude de mistério. Mulher/mãe, ente/ser: linguagem/ethos" (2).


Referências:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 353.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 30.

24

eu chorava
porque não encontrava
um homem bom para minha vida
agora eu encontrei e
ele não é suficiente
os outros sempre
estavam de saída
- por isso eram tão interessantes (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 64.

25

gosto demais da minha vida
para ficar toda derretida
pelo próximo homem
que me deixar com frio na barriga
quando eu posso me olhar no espelho
e me tirar o fôlego (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 69.

26

eu vivo bem sem amor romântico
mas não sobrevivo
sem as mulheres que escolhi como amigas
elas sabem exatamente do que eu preciso
antes mesmo que eu saiba
o apoio que oferecemos
umas às outras é ímpar (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 73.

27

ninguém pode silenciar uma mulher que nasceu
amordaçada (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 134.

28

viva com todo o orgulho que você merece viver
e se oponha a essas regras de merda que
tentam impor à aparência da mulher


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 162.

29

quando eu não conseguia me mexer
foram mulheres
que vieram me banhar os pés
até eu voltar a ter forças
para me levantar
foram mulheres
que me nutriram
para eu voltar a viver
- irmãs (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 168.

30

não consigo tirar os olhos de mim
agora que eu me vejo
não consigo parar de pensar em mim
nem nas magias
que minhas mãos criam
nos sermões que eu trouxe ao mundo com a voz
nas montanhas que destruí
com os dedos
e nas montanhas que construí
com as palavras sem sentido
que tentaram usar
para me apedrejar
- guerreira (1)


Referência: .
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 172.

31

"A mulher é a harmonia,
é a poesia, é a beleza.
Sem ela, o mundo não seria
assim tão belo.
Não seria harmonioso" (1).


Referência:
(1) Papa Francisco.

32

"Segundo um conhecido preceito da lei irlandesa, a mulher pertence ao pai enquanto é solteira, ao marido depois de casada e aos filhos quando fica viúva. As mulheres celtas, porém, não são tão passivas quanto essa fórmula pode sugerir. Tanto a literatura clássica quanto a celta celebram as mulheres fiéis ao seu senso de honra" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 14.

33

"Como podemos descobrir o que o destino nos reserva? Só consultando os druidas, profetas ou poetas. Os druidas impressionaram os visitantes romanos com sua capacidade de prever o futuro observando o voo dos pássaros, as fases da Lua ou o movimento das estrelas. As mulheres também eram videntes e muitas vezes eram capazes de prever o resultado das batalhas e o destino dos heróis" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. "Destino e conhecimento do futuro". Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 83.

34

"Em todas as classes sociais, quem controlava o dinheiro eram as mulheres. Se uma esposa fosse desonrada pelo marido, este perdia o dote. É talvez por essa razão que as mulheres logravam, ao menos até certo ponto, selecionar seu marido e, consequentemente, sua posição social" (1).


Referência:
(1) BARGEMAN, Lisa Ann. A origem egípcia do Cristianismo. São Paulo: Editora Pensamento, 2012, p. 108.

35

"A mulher, na época de Jesus, estava condenada a viver uma situação de inferioridade. Elas eram subjugadas pelos homens. Sofriam todo tipo de preconceito. A lei era muito mais pesada para elas do que para eles. Mas Jesus estava sempre rodeado de mulheres. Eram pobres, destinadas ao abandono, miseráveis que seguiam Jesus" (1).


Referência:
(1) ROSSI, Padre Marcelo. "A samaritana". In: ---. Ágape. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 44.

36

"Não é o parto que causa dor. A dor é o uno se fazendo diversidade, a mulher se fazendo diferença do eu que é ela e do tu que é seu filho" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.

37

"Mas vejamos a maravilha: a mulher-corpo-mãe só chega a ser-mulher-mãe enquanto identidade no se diferenciar do filho que é ela e não é ela. Mundo e corpo é isso: reunião identitária de diferenças" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.

38

"Durante anos, médicos acreditavam que nas mulheres, os problemas (não românticos) do coração eram tão raros que pacientes femininas nunca eram incluídas em estudos e não recebiam tratamento para essas condições" (1).
(1) PASTERNAK, Natalia. Crônica: "Coração de mulher". In: O Globo. Segunda-feira, 15-4-2024, p. 14.

39

"A crença não justificada de que mulheres não sofrem com doenças cardíacas foi senso-comum: estudo clínico de 1982, que correlacionou colesterol alto à probabilidade de problemas cardíacos, envolveu aproximadamente 13 mil homens, zero mulheres" (1).


(1) PASTERNAK, Natalia.Crônica: "Coração de mulher". In: O Globo. Segunda-feira, 15-04-2024, p. 14.

40

"Ao clitóris, assim como ao útero, foi atribuída a culpa por diversas doenças e comportamentos "femininos". No século passado popularizou-se a idiotice freudiana de que mulheres que têm orgasmos estimulando-o precisam de ajuda psiquiátrica" (1).


(1) PASTERNAK, Natalia. Crônica: "Coração de mulher". In: O Globo. Segunda-feira, 15-04-2024, p. 14.

41

"Mulheres foram negligenciadas na medicina por séculos, resultando em falta de medicamentos, testes e diagnósticos adequados. Para piorar, a negligência não é só tecnológica, mas social, fazendo com que muitos médicos ainda relutem em levar o sofrimento feminino a sério" (1).


(1) PASTERNAK, Natalia. Crônica: "Coração de mulher". In: O Globo. Segunda-feira, 15-04-24, p. 14.

42

"Não podemos confundir o conceito metafísico de origem com a questão do originário...
Originária é a mulher-mãe ao conceber, gestar e dar à luz um filho/a. Entre a primeira mulher que deu à luz um filho/ e a que hoje dá à luz um filho/a não há diferença nenhuma do ponto de ser mãe-mulher. A mãe-mulher é sempre originária".


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Poiesis, sujeito e metafísica". CASTRO, Manuel Antônio de (Org.) A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 19.
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