Representação

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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== Coisa ==
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__NOTOC__
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:O conceito de representação tem muitos aspectos, mas um se torna fundamental com o advento da ciência: "O que a ciência faz ao tornar o cântaro com vinho por uma cavidade com líquido não é propriamente falso, é apenas exato. Mas, com isso, falamos do ser da coisa cântaro? Do ponto de vista da experiência originária da coisa, uma cavidade com líquido nunca é um cântaro com vinho. Nesse sentido, o saber representativo, ao invés de mostrar a coisa, acaba por escondê-la e anulá-la." (1)
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== 1 ==
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: O [[conceito]] de [[representação]] tem muitos [[aspectos]], mas um se torna fundamental com o [[advento]] da [[ciência]]:  
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: "O que a [[ciência]] faz ao tornar o cântaro com vinho por uma cavidade com líquido não é propriamente [[falso]], é apenas [[exatidão|exato]]. Mas, com isso, falamos do [[ser]] da [[coisa]] cântaro? Do ponto de vista da [[experiência]] [[originária]] da [[coisa]], uma cavidade com líquido nunca é um cântaro com vinho. Nesse [[sentido]], o [[saber]] [[representativo]], ao invés de [[mostrar]] a [[coisa]], acaba por escondê-la e anulá-la" (1).
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:Referência:
 
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:(1) MICHELAZZO, José Carlos. ''Do um como princípio ao dois como unidade''. S. Paulo: Annablume, 1999, pp. 184-5.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) MICHELAZZO, José Carlos. '''Do um como princípio ao dois como unidade'''. São Paulo: Annablume, 1999, pp. 184-5.
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== Objeto ==
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== 2 ==
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:Este é um dos conceitos mais difíceis quanto ao vigor da representação ou à sua proveniência. Martin Heidegger dá uma visão que radica no destinar-se; "E somente o que já se destinou a uma representação objetivante torna acessível, como objeto, o histórico da historiografia, isto é, de uma ciência." (1)
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: No que diz respeito ao [[vigor]] ou à [[proveniência]], [[representação]] é um [[conceito]] extremamente difícil. Por isso, Martin [[Heidegger]] dá uma [[visão]] que radica no [[destino|destinar-se]]:
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: "E somente o que já se destinou a uma [[representação]] objetivante torna acessível, como [[objeto]], o [[histórico]] da [[historiografia]], isto é, de uma [[ciência]]" (1).
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:Referência:
 
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 27.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.
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== 3 ==
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: Ernesto Grassi (1) trata a [[arte]] como [[representação]], a partir do [[conceito]] aristotélico de ''[[mímesis]]''. E não se detém na [[questão]] filosófica de [[Aristóteles]]. Mas quando chega na [[questão]] de relacionar [[arte]]/[[mundo]] surge a [[questão]] histórica da [[interpretação]] da [[obra]] a partir do seu [[mundo]]. E aí questiona a validade do [[conceito]] de [[representação]]. Então utiliza o [[conceito]] de [[representação]] em mais de um [[sentido]]. E problematiza mais a [[imagem]] como [[representação]] quando examina a [[arte]] [[gótica]], onde a [[imagem]] não representa: "... não é [[cópia]] ou [[reprodução]] ou [[retrato]] - é algo em si. A [[imagem]] é algo de [[próprio]] em [[substância]] e [[significado]], em [[aparência]] e [[aspecto]]" (2). Ou seja, cai o [[conceito]] de [[representação]]. Daí: "Todavia, a [[espiritualização]] [[ocidental]] de [[tudo]] quanto é [[humano]], levada a efeito e atestada pela [[arte]] [[gótica]], remonta a um novo [[mito]] [[universal]] que alicerçou uma nova [[representação]] do [[homem]]: a [[doutrina]] [[cristã]]" (3). Quando não se enfrenta a [[representação]] do ponto de vista [[filosófico]] gera-se esse impasse. O uso da [[palavra]] [[representação]] gera [[contradições]].
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== Arte ==
 
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:Ernesto Grassi(1) trata a [[arte]] como representação, a partir do conceito aristotélico de ''mimesis''. E não se detém na questão filosófica de Aristóteles. Mas quando chega na questão de relacionar arte/mundo surge a questão histórica da interpretação da obra a partir do seu mundo. E aí questiona a validade do conceito de representação. Então utiliza o conceito de representação em mais de um sentido. E problematiza mais a imagem como representação quando examina a arte gótica, onde a imagem não representa: "... não é cópia ou reprodução ou retrato - é algo em si. A imagem é algo de próprio em substância e significado, em aparência e aspecto," (2) Ou seja, cai o conceito de representação. Daí: "Todavia, a espiritualização ocidental de tudo quanto é humano, levada a efeito e atestada pela arte gótica, remonta a um novo mito universal que alicercou uma nova representação do homem: a doutrina cristã." (3) Quando não se enfrenta a representação do ponto de vista filosófico gera-se esse impasse. O uso da palavra representação gera contradições.
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Referência:
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: Referências:
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:(1) GRASSI, Ernesto. ''Arte e Mito''. Lisboa: Livros do Brasil, s/d, p. 178.
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: (1) GRASSI, Ernesto. '''Arte e Mito'''. Lisboa: Livros do Brasil, s/d, p. 178.
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: (2) Idem, p. 179.
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: (3) Idem, p. 179.
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:(2) Idem, p. 179.
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: '''Ver também:'''
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:(3) Idem, p. 179.
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: * [[Simbólico]]
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: *[[Símbolo]]
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== 4 ==
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: A [[representação]] é uma [[questão]], porém foi reduzida a um [[conceito]]. É que, na [[realidade]], não há, [[ontologicamente]], [[representação]]. Há ''[[mímesis]]''. Sem ser pensada em seu [[vigor]] como [[questão]], essa [[ideia]] reduziu-a à [[representação]]. Se penso que posso [[representar]] uma [[casa]], um [[homem]], uma [[mulher]] e tantas outras "[[coisas]]" em [[nomes]], não é [[verdade]]. O [[nome]] não dá, recebe. Por isso, a [[palavra]] é o [[jogar]] [[ambíguo]] do "[[entre]]". Para [[entender]] o alcance da [[representação]] em seu [[valor]] de [[verdade]], basta notar que a [[representação]], no que ela tem de [[representação]], já nos diz de algo [[aparente]], falso, [[simulacro]]. Isto quer [[dizer]], por exemplo, que o [[amor]], se é [[amor]], não pode [[ser]] [[representação]]. A [[justiça]], se é [[justiça]], não pode [[ser]] [[representação]]. E assim por diante. Que [[representação]] há na [[dança]]? Na [[música]]? O que um [[templo]] representa? A [[representação]] não diz diretamente respeito à "[[coisa]]", mas aos [[conceitos]] de "[[coisa]]" e, por isso, ela se inscreve na [[tensão]] [[entre]] [[verdadeiro]] e [[falso]]. Ocorre que para além destes dois [[conceitos]] existe a "[[coisa]]" e sua [[manifestação]] e [[ocultamento]]. Dessa [[tensão]] é que provém essa estranha sensação de que, em muitos "casos", a "[[coisa]]" nos advém como "[[representação]]". A [[representação]] está ligada ao [[signo]]. Porém, ele já diz respeito à [[linguagem]] entendida e reduzida a um [[instrumento]] e à "[[coisa]]" como [[objeto]].
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== Papel epistemológico ==
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Uma compreensão profunda da representação e do seu papel epistemológico, o que implica num duplo simulacro, está bem caracterizado na passagem de Ronaldes de Melo e Souza: "O confinamento das relações vitais se consuma na clausura do presente único da comparência, iludindo-se a presencialização da presença das coisas enquanto coisas ainda não destruídas pela representação desintegradora da subjetividade." (1) É necessário ver o restante do parágrafo porque é muito esclarecedor.
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== 5 ==
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: A [[questão]] da [[linguagem]] enquanto [[representação]], que começa como ''[[homoíosis]]'' (semelhança, da qual surge o [[conceito]] de [[verdade]] por [[adequação]]), ou seja, como [[instrumento]] [[representacional]], se exacerba na [[pós-modernidade]]. De [[mediação]] [[entre]] a "[[coisa]]" e o [[conceito]], ela se torna cada vez mais autônoma e passando a [[ser]] não só um [[instrumento]] de [[representação]], em [[função]] da [[coisa]] transformada em [[instrumento]], ela mesma substitui a [[coisa]] e passa a [[ser]] o "[[real]]". A [[representação]] vale pelo [[real]], um [[real]] [[instrumental]], onde o principal [[instrumento]] é a própria [[linguagem]]. Esse é o [[real]] da [[pós-modernidade]]: o [[real]] como [[representação]] e [[simulacro]], o [[real]] como "[[real virtual]]" e não mais o [[virtual]] do [[real]]. A esse [[real virtual]] como [[representação]] corresponde a [[redução]] da "[[coisa]]" à [[instrumentalização]] do [[conceito]]. O [[conceito]] sem a [[questão]] torna-se o [[real]] [[instrumental]], apreendido e compreendido na [[redução]] do [[real]] à [[sociedade]] do [[conhecimento]] em [[rede]]. O [[início]] disso está na [[modernidade]], construída a partir do predomínio da "[[razão instrumental]]", que se expande de tal maneira que transforma a [[Mãe Terra]] em [[recursos]] [[naturais]] e os [[seres humanos]] em [[recursos]] [[humanos]]. [[Recurso]] é aí a [[disposição]] das "[[coisas]]" para serem [[instrumentos]] em-si e em [[instrumentos]] para [[fazer]] [[instrumentos]]. É o que [[Heidegger]] chama ''Ge-stell'' como [[essência]] da [[técnica]], em "A questão da técnica" (1). Porém, é importante [[perceber]] que isso se dispõe no [[próprio]] [[programa]] e [[sistema]] [[educativo]]: é um [[saber]] [[representativo]]-[[instrumental]]. Só a [[arte]] resiste. Mas que [[arte]]?
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:Referência:
 
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:(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. In: Revista Tempo Brasileiro. Rio: 94, jul.-set., 1988, p. 72.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002.
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== ''Ensaios e conferências'' ==
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== 6 ==
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:Cf. HEIDEGGER, Martin. ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 48, 52, 53, 54, 55.
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: A [[questão]] da [[representação]] ganha uma [[clareza]], no seu encaminhamento metafísico-cartesiano, naquilo que hoje se torna tão [[evidente]]: a [[virtualização]]. O [[virtual]] é a [[manifestação]] de uma [[ausência]]. Nesse sentido, em [[virtude]] da "[[virtualização]]", termos tradicionais como "[[real]]", "[[virtual]]", "[[atual]]" e "[[potencial]]" ganham novos [[significados]]. Toda [[ciência]] é [[representação]]. O nó da [[representação]] está no [[fato]] de que ela pressupõe que há a [[apreensão]] de um [[real]] gerado a [[partir]] de um anterior. Ocorre que a [[existência]] do [[real]] é que é o [[problema]]. O que é o [[real]] para que dele se possa fazer uma [[representação]]? Por isso, a [[representação]] só se dá em cima de uma [[ideia]] de [[real]]. E isto é [[metafísica]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
== ''Heráclito'' ==
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: '''Ver também:'''
-
:Cf. HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 129.
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 +
: *[[Modernidade]]
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== 7 ==
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: Há uma tendência a ver na relação com a cidade um mimetismo de [[representação]]. O [[termo]] [[representação]] é muito [[limitado]]. Visto pela ótica da memória/fluxo de tempo/realidade/[[permanência]], não há [[representação]], mas a apropriação pela memória poética, como transfiguração, do que flui e acontece e fica enquanto imagem poética (ou não será arte, ''[[poíesis]]''), não como cópia, mas como [[transfiguração]] e [[manifestação]] de [[mundo]]/[[cidade]]/[[sentido]]/[[verdade]]. Mas a insistência na [[representação]] talvez indique muito mais a falta do que disse antes. Daí a [[solidão]], a predominância de [[vivências]] em vez de [[experienciações]] e junto com as [[vivências]] uma forte [[estética|estetização]] de [[tudo]], até da [[morte]] e da [[dor]], daí a [[sensação]] de um [[presente]] em contínuo fazer-se, sem [[passado]] (de certo modo, também [[memória]]) e sem [[futuro]] (não pregnância da [[morte]]).
-
== ''Chemins'' ==
 
-
:Cf. HEIDEGGER, Martin. ''Chemins''. Paris: Gallimard, 1962, p. 53.
 
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
 +
: '''Ver também:'''
 +
: *[[Mudança]]
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== ''A origem da obra de arte'' ==
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== 8 ==
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Cf. HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Manuel Antônio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. Acessível para uso acadêmico em: [http://travessiapoetica.blogspot.com Travessia Poética]. Parágrafo: 148.
+
: Sem dúvida, a [[representação]] é uma dimensão básica para a construção da [[realidade]] e do [[homem]]. Mas o que entender por [[representação]]? Ela gira basicamente em torno da construção de uma determinada realidade e do [[homem]], na medida em que toda representação implica uma construção do [[espaço]] e do [[tempo]]. É nesse sentido que deve ser pensada a proximidade e a distância. Stuart Hall faz observações importantes sobre a relação espaço, tempo e representação: "O que importa para nosso argumento quanto ao impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação" (1). Seria necessário confrontar essas afirmações com o que desenvolve Martin Heidegger no início do ensaio "A coisa" (2). Enquanto Hall pensa em [[contexto]] de [[espaço]] e [[tempo]], [[Heidegger]] pensa a [[clareira]] como [[lugar]].  
-
== ''A essência do fundamento'' ==
 
-
:Cf. HEIDEGGER, Martin. ''A essência do fundamento''. Lisboa: Edições 70, 1988, p. 23. Aí faz a relação com Ser e tempo e com a clareira enquanto verdade.
 
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
 +
: Referências:
-
== Dissimulação ==
+
: (1) HALL, Stuart. '''A identidade cultural na pós-modernidade'''. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 70.
-
:A questão da representação é complexa quando vista não apenas do ponto de vista racional mas também ético. Nesse sentido, Luiz Guilherme Merquior(1) faz uma observação importante em seu livro '' Saudades do carnaval''. Na relação natureza/razão há a questão da [[dissimulação]]. Ver esta questão.
+
: (2) HEIDEGGER, Martin. "A coisa". In: '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002.
-
:Referência:
+
: '''Ver também:'''
-
:(1) MERQUIOR, Luiz Guilherme. '' Saudades do carnaval''. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 124.
+
: *[[Modernidade]]
 +
: *[[Memória]]
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== 9 ==
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: [[Representação]] é um conceito complexo. Mas para além das relações internas ou externas, há aí todo um problema epistemológico e ontológico. Por isso, Heidegger viu perfeitamente que está ligado à questão da [[verdade]], no mito da caverna. É que esse mito é a expressão vigorosa e essencial da questão. Todo o mito da caverna trata da questão do real e da sua representação. Também é importante aí a questão da luz, que pode ser vista em relação ao externo, ao interno e ao transcendente, daí ela estar ligada à razão. Mas como já Platão o indica, o [[sol]], fonte de toda luz, é o que não pode ser visto. No fundo, a questão da representação é também a questão da verdade. Como [[pensador]], Platão pensa a questão do que permanece no fluxo das mudanças, no parecer e aparecer. A sua marca de pensador está na criação original do ''[[eîdos]]''. Mas o que no todo de seu pensamento quer dizer é a grande questão.
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
== Razão ==
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: '''Ver também:'''
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:A representação provém da interpretação metafísica e moderna do real, através da [[razão]]. Essa concepção da razão está bem expicada nA representação provém da interpretação metafísica e moderna do real, através da razão. Essa concepção da razão está bem expicada no livro de Bárbara Freitag ''A teoria crítica ontem e hoje'' (1).Mas também a dialética é metafísica. Ver, por isso, também o item a partir da p. 34. Nesse tópico discute a razão e é fundamental para a compreensão da razão na modernidade. Também entra aí o dado da compreensão que surge com as ciências históricas.
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 +
: *[[Clareira]]
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: *[[Ideia]]
-
:Referência:
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== 10 ==
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: Essa anotação trata do que [[representação]] não é. É retirada a citação do ensaio "A origem da obra de arte", quando Heidegger fala do templo e o mostra como abrindo um [[mundo]]. Refere-se à estátua do deus e mostra como nessa dimensão não há representação. Essa não-representação faz entender melhor a representação. A representação é própria das relações intramundanas estabelecidas pelas diferentes ciências. Enquanto ''phýsis'', [[terra]], [[mundo, não há representação. Diz: "Somente o templo, no seu permanecer aí, dá às coisas sua vista e aos homens a [[visão]] de si mesmos. Esta visão permanece tanto tempo aberta quanto a [[obra]] é uma obra, tanto tempo quanto o deus não a abandona. O mesmo acontece com a imagem do deus que o vencedor lhe consagra na batalha. Não é nenhuma cópia para que nela se tome conhecimento mais facilmente de como o deus parece, mas é uma obra que deixa o próprio deus presentificar-se e, assim, o deus propriamente é. O [[mesmo]] vale para a [[obra]] da [[linguagem]]" (1).
-
:(1) FREITAG, Bárbara. ''A teoria crítica ontem e hoje''. São Paulo: Brasiliense, 1986, segundo momento, p. 43.
 
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
 +
: Referência:
 +
: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Manuel Antônio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. Parágrafo 77. Lisboa: Edições 70, 2010, p. 105.
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== Simulacro ==
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: '''Ver também:'''
-
:A representação é uma questão, porém foi reduzida a um conceito. É que, na realidade, não há ontologicamente "representação". Há ''mimesis''. E esta, sem ser pensada seu vigor como questão, é que deu origem ao reducionismo dela à representação. Se penso que posso representar uma casa, um homem, uma mulher e tantas e tantas outras "coisas" em nomes, não é verdade. O nome não dá, recebe. Por isso, a palavra é o jogar ambíguo do "entre" (''pará-ballo''). Para entender o alcance da representação em seu valor de verdade, basta notar que a representação, no que ela tem de representação, já nos diz de algo aparente, falso, [[simulacro]]. Isto quer dizer, por exemplo, que o amor, se é amor, não pode ser representação. A justiça, se é justiça, não pode ser representação. E assim por diante. Que representação há na dança? Na música? O que um templo representa? A representação não diz diretamente respeito à "coisa", mas aos conceitos de "coisa" e, por isso, ela se inscreve na tensão entre verdadeiro e falso. Ocorre que para além destes dois conceitos existe a "coisa" e sua manifestação e ocultamento. Desta tensão é que provém essa estranha sensação de que em muitos "casos" a "coisa" nos advém "como" representação". A representação está ligada ao signo. Porém, este já diz respeito à linguagem entendida e reduzida a um instrumento e à "coisa" como objeto.
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 +
: *[[Não-ser]]
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: *[[Guardar]]
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: *[[Encoberto]]
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== 11 ==
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: "O [[corpo]] não se determina por suas qualidades, nem se quantifica em sua [[substancialidade]], que é sempre indômita ao cálculo. O corpo não admite representação. Em relação a formas e conceitos, processos e procedimentos, efeitos e causas, consequências e determinações, idealidades e materialidades, as representações têm valor satisfatório, conseguem se fazer valer pelo que representam. Tal é o caso porque representam o que já se constitui como representante por um lado e representado por outro. O que se nota, portanto, é que, sempre que a representação tem qualquer [[valor]], ela não se distingue da própria [[coisa]] tal como ela se dá já num modo representativo de considerar. A representação válida é parte essencial da estrutura ôntica das coisas vistas como representáveis, mas não apenas passíveis de representação, e sim, unicamente pensáveis na medida em que representadas. Por outro lado, quando as representações se referem ao corpo – já pensado no sentido pleno de sua [[corporeidade]] – elas jamais conseguem impor sua validade. Apresentam-se sempre como substitutas insuficientes, dispositivos meramente ilustrativos, [[símbolos]], [[analogias]] e [[signos]]" (1).
-
== Linguagem ==
 
-
:A questão da [[linguagem]] enquanto representação, que começa como ''homoiosis'' (semelhança, da qual surge o conceito de [[verdade]] por adequação), ou seja, como instrumento representacional, se exacerba na pós-modernidade. De mediação entre a "coisa" e o conceito, ela se torna cada vez mais autônoma e passando a ser não só um instrumento de representação, em função da coisa transformada em instrumento, ela mesma substitui a coisa e passa a ser o "real". A representação vale pelo real, um real intrumental, onde o principal instrumento é a própria linguagem. Esse é o real da pós-modernidade: o real como representação e simulacro, o real como "real virtual" e não mais o virtual do real. A esse real virtual como representação corresponde a redução da "coisa" à instrumentalização do conceito. O conceito sem a questão torna-se o real instrumental, apreendido e compreendido na redução do real à sociedade do conhecimento em rede. O início disso está na modernidade, construída a partir do predomínio da "razão instrumental". Esta se expande de tal maneira que transforma a Mãe Terra em recursos naturais e os seres humanos em recursos humanos. Recurso é aí a disposição das "coisas" para serem instrumentos em-si e em instrumentos para fazer instrumentos. É o que Heidegger chama ''Ge-stell''. É o que Heidegger trata como essência da técnica em "A questão da técnica"(1). Porém, é importante perceber que isso se dispõe no próprio programa e sistema educativo: é um saber representativo-instrumental. Só a arte resiste. Mas que [[arte]]?
 
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:Referência:
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: Referência:
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 +
: (1) BRAGA, Diego. "A terceira margem do mito: hermenêutica da corporeidade". In: Revista '''Terceira margem'''. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 60.
-
:(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002.
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== 12 ==
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:"É preciso reconhecer que, em toda representação, há uma condição de [[possibilidade]] da representação que já não pode ser representada. Como diz Emmanuel Careniro Leão, na introdução a ''Ser e tempo'' (1): "... ninguém pode pular a própria sombra". O que for irrepresentável, ou seja, este caráter pré-ontológico cujo elemento ''[[próprio]]'' se permite o [[pensar]] é o [[ser]]" (2).
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: Referências:
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:  (1) HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.
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 +
: (2) TAVARES, Renata. ''Do silêncio à liberdade - Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012, p. 49.
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== 13 ==
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: "No [[pensamento]], portanto, nem tudo é representação. Ao contrário, toda representaçao nos remete a [[pensar]] as raízes e [[origens]] de sua [[vigência]] e constituição, toda representação inclui sempre um nível de pensamento que não representa [[nada]], toda representação vive de acolher e aceitar, em seus [[limites]], o [[mistério]] da [[realidade]], subtraindo-se em todas as [[realizações]]" (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.
== 14 ==
== 14 ==
-
:A questão da representação ganha uma clareza, no seu encaminhamento metafísico-carteseano, muito evidente naquilo que hoje se torna tão evidente: a virtualização. O virtual é a manifestação de uma ausência. Nesse sentido, em virtude da "virtualização", termos tradicionais como "real", "virtual", "atual" e "potencial" ganham novos sentidos. Toda ciência é representação. O nó da representação está no fato de que ela pressupõe que há a apreensão de um real gerado a partir de um anterior. Ocorre que a existência do real é que é o problema. O que é o real para que dele se possa fazer uma representação? Por isso, a representação só se dá em cima de uma idéia de real. E isto é [[metafísica]].
+
: "Somos seres que, por milênios. foram programados para concentrar-se em determinadas [[possibilidades]] e obedecer a determinados [[princípios]]. Assim, fomos programados, numa [[história]] milenar, a crer no progresso e a ter fé no [[poder]] da dominação, fomos programados para seguir [[modelos]] e obedecer a [[paradigmas]], para cumprir ditados e aceitar tabus. Numa [[palavra]], fomos programados, não apenas para [[ter]], mas sobretudo, para [[ser]] [[consciência]]. O conteúdo, que povoa nossa consciência, são representações do que é, do que foi e do que será. São representações do que pode ser, do que vem a ser, do que deve ser. São representações de [[crenças]] e [[valores]], de angústias e ansiedade ,de [[dor]] e prazer, de frustrações e satisfações. São representações de tudo. Mas, por outro lado, sempre em qualquer [[tempo]], em qualquer [[lugar]] ou condições, os [[homens]] não são apenas consciência e representações" (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Sociedade do conhecimento: passes e impasses". In: Revista Tempo Brasileiro, 152, jan.-mar., 2003, p. 18.
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== 15 ==
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: A representação tem dois momentos no [[destino]] do [[ser]], no percurso cultural do [[Ocidente]]. Num primeiro momento, diz, segundo a proposta de [[pensamento]] de Parmênides, o que é, o que não-é e o que vem-a-ser: ''to on'', ou seja, toda representação – re-presentação - é um tornar a (re-), no caso tornar a se presentear, re-tomando o não-ser em todo vir a ser, num círculo poético inesperado, havendo, por isso mesmo, um contínuo e incessante re-a-presentar-se, sempre diferente na sua [[identidade]] de [[ser]] o que [[é]]. Funda-se na [[dialética]] de [[ser]] e [[não-ser]].  A-presentar é chegar à [[presença]], [[sendo]], isto é, re-presentando-se, tornando-se novamente [[presença]]. Num segundo momento, ao se passar, entre os gregos, do ''on'' parmenídico para o ''on'' metafísico. Neste e por este o ''[[eidos]]'' ontológico de Platão, o pensador, é reduzido ao ''[[eidos]]'' epistemológico, fundamento do platonismo, que passou a dominar a trajetória ocidental, pelo qual o ''[[logos]]'' de Heráclito é reduzido à [[razão]]. Desde então predomina esta representação pela qual o ''on'' se torna conceitual, permanente, essencialista, abstrato, pois abstrai as mudanças e diferenças, ou seja, sem as determinações e qualidades sensíveis e mutáveis, porque necessariamente temporais, da [[realidade]] [[concreta]]. No [[conceito]] abstrai-se o [[sentido]] do [[tempo]], reduzido ao significado, ou seja, a uma representação linguística a partir de um código. Desde então a representação deixou de ser questão como era o ''[[on]]'' parmenídico.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 16 ==
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: "A [[presença]] institui a [[realidade]]  como [[mundo]]. A [[representação]] reproduz o [[mundo]] instituído" (1).
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: Referência:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Identidade: os dois ocidentes". In: TAVARES, Renata e Outros (org.). ''O sagrado, a arte e a família''. São Paulo: Editora LiberArs, 2011, p. 28.
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== 17 ==
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: "O [[ritual]] do [[mito]] – a palavra cantada - não encena, não representa, como o faz o [[saber]] da [[ciência]]. O [[ritual]] do [[mito]] se torna a [[manifestação]] do [[sentido]] da [[Escuta]] da palavra cantada. Não há o [[rito]] e a [[Escuta]], mas o [[rito]] – a palavra cantada – é a [[própria]] [[Escuta]] enquanto [[manifestação]] do [[vigorar]] do [[mito]]. Desta maneira, a [[realidade]] da [[Escuta]] é a [[realidade]] do [[mito]] enquanto [[rito]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 158.
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: "Ao despertar o [[ver]] [[originário]], a [[corporeidade]] faz coincidir o [[perceber]] (a [[imagem]]) com o [[pensar]]. Desse modo, a [[imagem]] se dá na [[travessia]] [[poética]] do [[corpo]], não podendo ser reduzida a um simples [[meio]] de [[comunicação]], de [[informação]], de [[representação]], de [[significação]]" (1).
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: (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). ''Convite ao pensar''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
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: "O [[poder]] da [[representação]] parte da hipótese de que ela é [[universal]], mas um [[universal abstrato]] (do [[verbo]] latino ''abstraho'', ''arrancar, separar''). Neste, arranca-se o [[acontecer]] do [[tempo]], sempre [[diferente]], e só se considera o [[uniforme]], o repetitivo, o meramente [[conceitual]], o [[científico]] enquanto [[conceito]] generalizante, uniformizante" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 89.
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: "Não podemos [[julgar]] a [[verdade]] e [[não-verdade]] por um [[critério]] prévio de [[verdade]], seja da [[fé]] ou dos [[paradigmas]] da [[representação]] [[racional]]. Se assim for, estaremos [[vigorando]] e agindo de acordo com [[fatos]] prévios e não estaremos deixando [[vigorar]] o [[agir]], o [[agir]]-[[ser]]. Ele sempre se [[dá]] na [[dobra]] de [[não-verdade]] e [[verdade]], e só no [[agir]] é que podemos [[distinguir]] e [[julgar]] (''[[krinein]]'', [[verbo]] [[grego]], quer [[dizer]] [[criticar]] distinguindo, discernindo) o alcance da [[errância]] como [[verdade]] e [[não-verdade]]. [[Errância]] não é [[erro]] (este tem seu [[critério]] de [[julgamento]] numa [[representação]])" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
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: "A [[essência]] da [[verdade]] [[lógico]]-[[metafísica]] é a [[representação]]. É nesse [[sentido]] que há hoje uma tendência quase [[absoluta]] ao [[virtual]], isto é, à [[representação]] (criadora de um [[mundo]] [[estético]] e indolor), uma vez que a [[realidade]] [[digital]] é dócil e obediente ao [[modelo]] e não admite jamais o [[inesperado]] (Se não se espera, não se encontra o [[inesperado]], sendo sem [[caminho]] de encontro nem [[vias]] de acesso. Heráclito: 18)" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metafísica e pensamento poético". In: www.travessiapoetica.blogspot.com Metafísica e pensamento poético.
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: "Assim a [[pergunta]] aparece como sendo ao mesmo tempo um [[auto-exercício]] e um [[exercício]] de [[outro]].  Trata-se de um [[auto-exercício]] em que o [[sujeito]] como [[perguntador]] se transcende a si mesmo em direção ao [[outro]] como perguntado, ao [[objeto]], ou seja, um [[auto-exercício]] que se realiza através do [[exercício]] de um [[outro]]" (1). Está aqui, certamente, a [[intencionalidade]] de que trata a [[fenomenologia]] e, por isso mesmo, a [[questão]] do [[horizonte]]. "Em outras [[palavras]], em um mesmo [[exercício]] da [[pergunta]] o [[perguntador]] se exerce a si mesmo e a algo de [[outro]]. Já sabemos também que toda [[pergunta]] implica um [[saber]] que o [[perguntador]] possui de si mesmo e do [[objeto]] perguntado. Ora, todo [[saber]] é, em última [[análise]], um [[saber]] referente ao [[ser]], pois somente [[algo]] que [[é]] pode [[ser]] sabido" (2). Esta [[observação]] é [[fundamental]]. Todo [[saber]] diz respeito em primeira [[instância]] ao [[ser]] e a sua separação deste é pura [[abstração]]. Quando há a [[representação]] o interessante é que se cria uma defasagem [[entre]] o que se representa e o que acontece a [[partir]] de e na [[vigência]] do [[ser]]. E é aí que se dá toda a [[perda]] que a mera [[representação]] acarreta: perde-se o [[sentido]] da [[realidade]], de maneira que se uma [[defasagem]] e um afastamento dela. E isso acaba gerando a [[perda]] do seu [[sentido]] e de quem assim age. E sem [[sentido]] não se pode mais [[viver]], não se pode mais [[ser]].
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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:  (2) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "Mas todo [[pensamento]] tem que ser expresso. Por isso a descida à [[subjetividade]] faz [[ascender]] o [[problema]] da [[representação]]. A [[representação]] é a contraface da [[subjetividade]]. Daí que a [[subjetividade]], o [[eu]] coloca imediatamente o [[problema]] do [[outro]] ([[alteridade]]), da [[alienação]] e da [[diferença]]. Há três pólos: o [[Eu]] ([[identidade]]), o [[Outro]] ([[diferença]]) e a [[Representação]] ([[espelho]]). Os [[mitos]], sempre a melhor [[forma]] de colocar as [[questões]] [[essenciais]], já desde [[sempre]] tinham apreendido essa problemática no [[mito]] de [[Narciso]]. Por isso, o [[mito]] de [[Narciso]] será um dos [[mitos]] [[fundadores]] da [[modernidade]] e a [[narrativa]] lhe prestará o seu tributo" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... '''Tempos de metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 65.
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: "O [[pensamento que medita]] exige de nós que não fiquemos unilateralmente presos a uma [[representação]], que não continuemos a correr em [[sentido]] único na direção de uma [[representação]]. O [[pensamento que medita]] exige que nós nos ocupemos daquilo que, à primeira vista, parece inconciliável" (1).
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: Referência:
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. '''Serenidade'''. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 23.

Edição atual tal como 02h12min de 11 de janeiro de 2022

1

O conceito de representação tem muitos aspectos, mas um se torna fundamental com o advento da ciência:
"O que a ciência faz ao tornar o cântaro com vinho por uma cavidade com líquido não é propriamente falso, é apenas exato. Mas, com isso, falamos do ser da coisa cântaro? Do ponto de vista da experiência originária da coisa, uma cavidade com líquido nunca é um cântaro com vinho. Nesse sentido, o saber representativo, ao invés de mostrar a coisa, acaba por escondê-la e anulá-la" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) MICHELAZZO, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo: Annablume, 1999, pp. 184-5.

2

No que diz respeito ao vigor ou à proveniência, representação é um conceito extremamente difícil. Por isso, Martin Heidegger dá uma visão que radica no destinar-se:
"E somente o que já se destinou a uma representação objetivante torna acessível, como objeto, o histórico da historiografia, isto é, de uma ciência" (1).


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.

3

Ernesto Grassi (1) trata a arte como representação, a partir do conceito aristotélico de mímesis. E não se detém na questão filosófica de Aristóteles. Mas quando chega na questão de relacionar arte/mundo surge a questão histórica da interpretação da obra a partir do seu mundo. E aí questiona a validade do conceito de representação. Então utiliza o conceito de representação em mais de um sentido. E problematiza mais a imagem como representação quando examina a arte gótica, onde a imagem não representa: "... não é cópia ou reprodução ou retrato - é algo em si. A imagem é algo de próprio em substância e significado, em aparência e aspecto" (2). Ou seja, cai o conceito de representação. Daí: "Todavia, a espiritualização ocidental de tudo quanto é humano, levada a efeito e atestada pela arte gótica, remonta a um novo mito universal que alicerçou uma nova representação do homem: a doutrina cristã" (3). Quando não se enfrenta a representação do ponto de vista filosófico gera-se esse impasse. O uso da palavra representação gera contradições.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) GRASSI, Ernesto. Arte e Mito. Lisboa: Livros do Brasil, s/d, p. 178.
(2) Idem, p. 179.
(3) Idem, p. 179.
Ver também:
* Simbólico
*Símbolo

4

A representação é uma questão, porém foi reduzida a um conceito. É que, na realidade, não há, ontologicamente, representação. Há mímesis. Sem ser pensada em seu vigor como questão, essa ideia reduziu-a à representação. Se penso que posso representar uma casa, um homem, uma mulher e tantas outras "coisas" em nomes, não é verdade. O nome não dá, recebe. Por isso, a palavra é o jogar ambíguo do "entre". Para entender o alcance da representação em seu valor de verdade, basta notar que a representação, no que ela tem de representação, já nos diz de algo aparente, falso, simulacro. Isto quer dizer, por exemplo, que o amor, se é amor, não pode ser representação. A justiça, se é justiça, não pode ser representação. E assim por diante. Que representação há na dança? Na música? O que um templo representa? A representação não diz diretamente respeito à "coisa", mas aos conceitos de "coisa" e, por isso, ela se inscreve na tensão entre verdadeiro e falso. Ocorre que para além destes dois conceitos existe a "coisa" e sua manifestação e ocultamento. Dessa tensão é que provém essa estranha sensação de que, em muitos "casos", a "coisa" nos advém como "representação". A representação está ligada ao signo. Porém, ele já diz respeito à linguagem entendida e reduzida a um instrumento e à "coisa" como objeto.


- Manuel Antônio de Castro

5

A questão da linguagem enquanto representação, que começa como homoíosis (semelhança, da qual surge o conceito de verdade por adequação), ou seja, como instrumento representacional, se exacerba na pós-modernidade. De mediação entre a "coisa" e o conceito, ela se torna cada vez mais autônoma e passando a ser não só um instrumento de representação, em função da coisa transformada em instrumento, ela mesma substitui a coisa e passa a ser o "real". A representação vale pelo real, um real instrumental, onde o principal instrumento é a própria linguagem. Esse é o real da pós-modernidade: o real como representação e simulacro, o real como "real virtual" e não mais o virtual do real. A esse real virtual como representação corresponde a redução da "coisa" à instrumentalização do conceito. O conceito sem a questão torna-se o real instrumental, apreendido e compreendido na redução do real à sociedade do conhecimento em rede. O início disso está na modernidade, construída a partir do predomínio da "razão instrumental", que se expande de tal maneira que transforma a Mãe Terra em recursos naturais e os seres humanos em recursos humanos. Recurso é aí a disposição das "coisas" para serem instrumentos em-si e em instrumentos para fazer instrumentos. É o que Heidegger chama Ge-stell como essência da técnica, em "A questão da técnica" (1). Porém, é importante perceber que isso se dispõe no próprio programa e sistema educativo: é um saber representativo-instrumental. Só a arte resiste. Mas que arte?


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002.

6

A questão da representação ganha uma clareza, no seu encaminhamento metafísico-cartesiano, naquilo que hoje se torna tão evidente: a virtualização. O virtual é a manifestação de uma ausência. Nesse sentido, em virtude da "virtualização", termos tradicionais como "real", "virtual", "atual" e "potencial" ganham novos significados. Toda ciência é representação. O nó da representação está no fato de que ela pressupõe que há a apreensão de um real gerado a partir de um anterior. Ocorre que a existência do real é que é o problema. O que é o real para que dele se possa fazer uma representação? Por isso, a representação só se dá em cima de uma ideia de real. E isto é metafísica.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Modernidade

7

Há uma tendência a ver na relação com a cidade um mimetismo de representação. O termo representação é muito limitado. Visto pela ótica da memória/fluxo de tempo/realidade/permanência, não há representação, mas a apropriação pela memória poética, como transfiguração, do que flui e acontece e fica enquanto imagem poética (ou não será arte, poíesis), não como cópia, mas como transfiguração e manifestação de mundo/cidade/sentido/verdade. Mas a insistência na representação talvez indique muito mais a falta do que disse antes. Daí a solidão, a predominância de vivências em vez de experienciações e junto com as vivências uma forte estetização de tudo, até da morte e da dor, daí a sensação de um presente em contínuo fazer-se, sem passado (de certo modo, também memória) e sem futuro (não pregnância da morte).


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Mudança

8

Sem dúvida, a representação é uma dimensão básica para a construção da realidade e do homem. Mas o que entender por representação? Ela gira basicamente em torno da construção de uma determinada realidade e do homem, na medida em que toda representação implica uma construção do espaço e do tempo. É nesse sentido que deve ser pensada a proximidade e a distância. Stuart Hall faz observações importantes sobre a relação espaço, tempo e representação: "O que importa para nosso argumento quanto ao impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação" (1). Seria necessário confrontar essas afirmações com o que desenvolve Martin Heidegger no início do ensaio "A coisa" (2). Enquanto Hall pensa em contexto de espaço e tempo, Heidegger pensa a clareira como lugar.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 70.
(2) HEIDEGGER, Martin. "A coisa". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002.
Ver também:
*Modernidade
*Memória

9

Representação é um conceito complexo. Mas para além das relações internas ou externas, há aí todo um problema epistemológico e ontológico. Por isso, Heidegger viu perfeitamente que está ligado à questão da verdade, no mito da caverna. É que esse mito é a expressão vigorosa e essencial da questão. Todo o mito da caverna trata da questão do real e da sua representação. Também é importante aí a questão da luz, que pode ser vista em relação ao externo, ao interno e ao transcendente, daí ela estar ligada à razão. Mas como já Platão o indica, o sol, fonte de toda luz, é o que não pode ser visto. No fundo, a questão da representação é também a questão da verdade. Como pensador, Platão pensa a questão do que permanece no fluxo das mudanças, no parecer e aparecer. A sua marca de pensador está na criação original do eîdos. Mas o que no todo de seu pensamento quer dizer é a grande questão.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Clareira
*Ideia

10

Essa anotação trata do que representação não é. É retirada a citação do ensaio "A origem da obra de arte", quando Heidegger fala do templo e o mostra como abrindo um mundo. Refere-se à estátua do deus e mostra como nessa dimensão não há representação. Essa não-representação faz entender melhor a representação. A representação é própria das relações intramundanas estabelecidas pelas diferentes ciências. Enquanto phýsis, terra, [[mundo, não há representação. Diz: "Somente o templo, no seu permanecer aí, dá às coisas sua vista e aos homens a visão de si mesmos. Esta visão permanece tanto tempo aberta quanto a obra é uma obra, tanto tempo quanto o deus não a abandona. O mesmo acontece com a imagem do deus que o vencedor lhe consagra na batalha. Não é nenhuma cópia para que nela se tome conhecimento mais facilmente de como o deus parece, mas é uma obra que deixa o próprio deus presentificar-se e, assim, o deus propriamente é. O mesmo vale para a obra da linguagem" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Manuel Antônio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. Parágrafo 77. Lisboa: Edições 70, 2010, p. 105.
Ver também:
*Não-ser
*Guardar
*Encoberto

11

"O corpo não se determina por suas qualidades, nem se quantifica em sua substancialidade, que é sempre indômita ao cálculo. O corpo não admite representação. Em relação a formas e conceitos, processos e procedimentos, efeitos e causas, consequências e determinações, idealidades e materialidades, as representações têm valor satisfatório, conseguem se fazer valer pelo que representam. Tal é o caso porque representam o que já se constitui como representante por um lado e representado por outro. O que se nota, portanto, é que, sempre que a representação tem qualquer valor, ela não se distingue da própria coisa tal como ela se dá já num modo representativo de considerar. A representação válida é parte essencial da estrutura ôntica das coisas vistas como representáveis, mas não apenas passíveis de representação, e sim, unicamente pensáveis na medida em que representadas. Por outro lado, quando as representações se referem ao corpo – já pensado no sentido pleno de sua corporeidade – elas jamais conseguem impor sua validade. Apresentam-se sempre como substitutas insuficientes, dispositivos meramente ilustrativos, símbolos, analogias e signos" (1).


Referência:
(1) BRAGA, Diego. "A terceira margem do mito: hermenêutica da corporeidade". In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 60.

12

"É preciso reconhecer que, em toda representação, há uma condição de possibilidade da representação que já não pode ser representada. Como diz Emmanuel Careniro Leão, na introdução a Ser e tempo (1): "... ninguém pode pular a própria sombra". O que for irrepresentável, ou seja, este caráter pré-ontológico cujo elemento próprio se permite o pensar é o ser" (2).


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.
(2) TAVARES, Renata. Do silêncio à liberdade - Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012, p. 49.

13

"No pensamento, portanto, nem tudo é representação. Ao contrário, toda representaçao nos remete a pensar as raízes e origens de sua vigência e constituição, toda representação inclui sempre um nível de pensamento que não representa nada, toda representação vive de acolher e aceitar, em seus limites, o mistério da realidade, subtraindo-se em todas as realizações" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.

14

"Somos seres que, por milênios. foram programados para concentrar-se em determinadas possibilidades e obedecer a determinados princípios. Assim, fomos programados, numa história milenar, a crer no progresso e a ter fé no poder da dominação, fomos programados para seguir modelos e obedecer a paradigmas, para cumprir ditados e aceitar tabus. Numa palavra, fomos programados, não apenas para ter, mas sobretudo, para ser consciência. O conteúdo, que povoa nossa consciência, são representações do que é, do que foi e do que será. São representações do que pode ser, do que vem a ser, do que deve ser. São representações de crenças e valores, de angústias e ansiedade ,de dor e prazer, de frustrações e satisfações. São representações de tudo. Mas, por outro lado, sempre em qualquer tempo, em qualquer lugar ou condições, os homens não são apenas consciência e representações" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Sociedade do conhecimento: passes e impasses". In: Revista Tempo Brasileiro, 152, jan.-mar., 2003, p. 18.

15

A representação tem dois momentos no destino do ser, no percurso cultural do Ocidente. Num primeiro momento, diz, segundo a proposta de pensamento de Parmênides, o que é, o que não-é e o que vem-a-ser: to on, ou seja, toda representação – re-presentação - é um tornar a (re-), no caso tornar a se presentear, re-tomando o não-ser em todo vir a ser, num círculo poético inesperado, havendo, por isso mesmo, um contínuo e incessante re-a-presentar-se, sempre diferente na sua identidade de ser o que é. Funda-se na dialética de ser e não-ser. A-presentar é chegar à presença, sendo, isto é, re-presentando-se, tornando-se novamente presença. Num segundo momento, ao se passar, entre os gregos, do on parmenídico para o on metafísico. Neste e por este o eidos ontológico de Platão, o pensador, é reduzido ao eidos epistemológico, fundamento do platonismo, que passou a dominar a trajetória ocidental, pelo qual o logos de Heráclito é reduzido à razão. Desde então predomina esta representação pela qual o on se torna conceitual, permanente, essencialista, abstrato, pois abstrai as mudanças e diferenças, ou seja, sem as determinações e qualidades sensíveis e mutáveis, porque necessariamente temporais, da realidade concreta. No conceito abstrai-se o sentido do tempo, reduzido ao significado, ou seja, a uma representação linguística a partir de um código. Desde então a representação deixou de ser questão como era o on parmenídico.


- Manuel Antônio de Castro

16

"A presença institui a realidade como mundo. A representação reproduz o mundo instituído" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Identidade: os dois ocidentes". In: TAVARES, Renata e Outros (org.). O sagrado, a arte e a família. São Paulo: Editora LiberArs, 2011, p. 28.

17

"O ritual do mito – a palavra cantada - não encena, não representa, como o faz o saber da ciência. O ritual do mito se torna a manifestação do sentido da Escuta da palavra cantada. Não há o rito e a Escuta, mas o rito – a palavra cantada – é a própria Escuta enquanto manifestação do vigorar do mito. Desta maneira, a realidade da Escuta é a realidade do mito enquanto rito" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 158.

18

"Ao despertar o ver originário, a corporeidade faz coincidir o perceber (a imagem) com o pensar. Desse modo, a imagem se dá na travessia poética do corpo, não podendo ser reduzida a um simples meio de comunicação, de informação, de representação, de significação" (1).


Referência:
(1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.

19

"O poder da representação parte da hipótese de que ela é universal, mas um universal abstrato (do verbo latino abstraho, arrancar, separar). Neste, arranca-se o acontecer do tempo, sempre diferente, e só se considera o uniforme, o repetitivo, o meramente conceitual, o científico enquanto conceito generalizante, uniformizante" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 89.

20

"Não podemos julgar a verdade e não-verdade por um critério prévio de verdade, seja da ou dos paradigmas da representação racional. Se assim for, estaremos vigorando e agindo de acordo com fatos prévios e não estaremos deixando vigorar o agir, o agir-ser. Ele sempre se na dobra de não-verdade e verdade, e só no agir é que podemos distinguir e julgar (krinein, verbo grego, quer dizer criticar distinguindo, discernindo) o alcance da errância como verdade e não-verdade. Errância não é erro (este tem seu critério de julgamento numa representação)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.

21

"A essência da verdade lógico-metafísica é a representação. É nesse sentido que há hoje uma tendência quase absoluta ao virtual, isto é, à representação (criadora de um mundo estético e indolor), uma vez que a realidade digital é dócil e obediente ao modelo e não admite jamais o inesperado (Se não se espera, não se encontra o inesperado, sendo sem caminho de encontro nem vias de acesso. Heráclito: 18)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metafísica e pensamento poético". In: www.travessiapoetica.blogspot.com Metafísica e pensamento poético.

22

"Assim a pergunta aparece como sendo ao mesmo tempo um auto-exercício e um exercício de outro. Trata-se de um auto-exercício em que o sujeito como perguntador se transcende a si mesmo em direção ao outro como perguntado, ao objeto, ou seja, um auto-exercício que se realiza através do exercício de um outro" (1). Está aqui, certamente, a intencionalidade de que trata a fenomenologia e, por isso mesmo, a questão do horizonte. "Em outras palavras, em um mesmo exercício da pergunta o perguntador se exerce a si mesmo e a algo de outro. Já sabemos também que toda pergunta implica um saber que o perguntador possui de si mesmo e do objeto perguntado. Ora, todo saber é, em última análise, um saber referente ao ser, pois somente algo que é pode ser sabido" (2). Esta observação é fundamental. Todo saber diz respeito em primeira instância ao ser e a sua separação deste é pura abstração. Quando há a representação o interessante é que se cria uma defasagem entre o que se representa e o que acontece a partir de e na vigência do ser. E é aí que se dá toda a perda que a mera representação acarreta: perde-se o sentido da realidade, de maneira que se dá uma defasagem e um afastamento dela. E isso acaba gerando a perda do seu sentido e de quem assim age. E sem sentido não se pode mais viver, não se pode mais ser.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
(2) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

23

"Mas todo pensamento tem que ser expresso. Por isso a descida à subjetividade faz ascender o problema da representação. A representação é a contraface da subjetividade. Daí que a subjetividade, o eu coloca imediatamente o problema do outro (alteridade), da alienação e da diferença. Há três pólos: o Eu (identidade), o Outro (diferença) e a Representação (espelho). Os mitos, sempre a melhor forma de colocar as questões essenciais, já desde sempre tinham apreendido essa problemática no mito de Narciso. Por isso, o mito de Narciso será um dos mitos fundadores da modernidade e a narrativa lhe prestará o seu tributo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 65.

24

"O pensamento que medita exige de nós que não fiquemos unilateralmente presos a uma representação, que não continuemos a correr em sentido único na direção de uma representação. O pensamento que medita exige que nós nos ocupemos daquilo que, à primeira vista, parece inconciliável" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 23.
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