Uniforme

De Dicionário de Poética e Pensamento

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Mas como se dá essa tensão na globalização entre o presente e o acontecer poético? Esta é uma dimensão da questão da construção ético-poética do homem e do real na globalização, lugar das obras de arte e de pensamento. Nestas acontece a essência da cidadania, pois esta não é ditada pelo social, enquanto algo geral e resultante de um sistema de relações sociais e suas representações. A cidadania é a identidade concreta das diferenças, onde toda igualdade deve ser a otimização para todos de oportunidades de realização diferenciada. Onde vigora a uniformidade não há cidadania, porque ela é a negação concreta de tempo e ser, das diferenças na identidade, que deve ser sempre concreta por fundar-se nessa dialética. Neste horizonte de pensamento, igualdade jamais pode ser identificada com o geral e o uniforme.


- Manuel Antônio de Castro


2

"Só homem nomeia, mas quem convive com um animal e até com plantas sabe como eles são únicos, daí darmos nomes que os identificam, isto é, que mostram sua identidade como diferença na uniformidade conceitual da espécie" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 25.


3

"Opondo-se ao pensamento temos a globalização funcional que é a uniformidade com aparência do novo em tudo e em todos. É a publicização, a banalização, a predominância do instante e do simultâneo, a fugacidade e imaterialidade digital de tudo, o domínio absoluto da imagem. Tudo isto está ocasionando uma transformação de todos os valores e modos de viver jamais acontecida antes e com tal amplitude: a global. É o tempo da cibercultura, da engenharia genética, da eliminação da linguagem simbólica, da inteligência artificial, das próteses microeletrônicas, do ciborgue, do culto do corpo, do domínio global do profano, do conteúdo reduzido às formas e formatos, da estetização generalizada da arte, da celebração do instante, da língua e linguagem reduzidas à comunicação, da perda da memória, da redução do afetivo e do erótico às sensações, da sociedade em rede. É que nosso tempo é o tempo das redes" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 23.
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