Inteligência artificial

De Dicionário de Poética e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

O excepcional desenvolvimento tecnológico levou à "criação" da denominada inteligência artificial. Esta denominação é apropriada? Até onde há aí inteligência? E o termo "artificial" é apropriado? Eis algumas considerações, porque tudo se comprime no entendimento do alcance da palavra grega techne, hoje reduzida à técnica, mas que as realizações técnicas estão problematizando.
"A Escolástica medieval distinguiu no conhecimento humano entre ratio, razão e intellectus (intelecto). A ratio (razão) é o poder da discursividade do raciocínio que busca e investiga, que abstrai e argumenta, que define e conceitua. O intellectus (intelecto) é o simplex intuitus (simples intuição), a força de acolhimento que recebe o real em sua realidade. O conhecimento humano é a integração de ambos, tanto da ratio (razão) como do intellectus (intelecto)" (1).
Sem dúvida nenhuma hoje teríamos que diferenciar além de intelecto, razão e conhecimento, também conhecimento, intuição e emoção. O enigmático é que tudo isto era dito em grego pela palavra logos. Por isso Heráclito será o grande pensador do logos. E a referência do ser humano com o logos Platão a pensou como eidos. É que entre o ser humano e o ser (realidade), tradução latina da palavra grega (Physis) há um mediador, denominado por Platão, o maior pensador grego e de todos os tempos: Demiurgo. Não foi sem motivo que São João, Apóstolo, chama Cristo de logos, no início do seu Evangelho. De uma maneira ou de outra, as grandes culturas sempre falam de um mediador. Miticamente, os gregos tinham o deus Hermes.
Em vista disso, até onde a denominação atual de inteligência artificial é apropriada? A invenção de um sistema operacional não é ainda uma criação racional? Há de fato nele inteligência? Para compreender este meu questionamento, remeto para o filme Ela, de Spike Jonze, 2013.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 75.

2

" - O que é inteligência artificial?
" - Desde que os computadores foram inventados as pessoas sonham em torná-los inteligentes. Assim, o campo da inteligência artificial tem uma história longa, que remonta aos anos 1940 e 1950. Naquele tempo, a abordagem era baseada em regras. Achava-se que se poderia construir uma inteligência programando regras para tudo. De fato, durante mais de 20 anos foi assim. Mas não deu certo, já que não dá para codificar tudo em regras" (1).


Referência:
(1) Jeff Dean, novo chefe da área de inteligência artificial do Google. Entrevista dada a César Baima - cesar.baima@oglobo.com.br. In: Jornal O Globo, sábado, 12-05-2018, p. 25, Primeiro Caderno.

3

" - Existe algo que seja essencialmente humano que uma inteligência artificial nunca conseguirá realizar?
" - Ainda estamos muito longe de criar qualquer coisa que seja flexível e emocional como os humanos são. Existem diferentes forças e fraquezas nos sistemas de inteligência artificial e biológica, então não acho que devamos tentar levar a inteligência artificial a fazer coisas exatamente como os humanos fazem. Não sei se poderemos incluir emoções em sistemas de computador, mas somos nós que estamos criando esses sistemas, e podemos decidir que tipos de comportamento queremos que eles tenham. Então, no fim, imagino que sim, inteligências artificiais poderão ter emoções. Meu computador poderá ficar cansado às vezes. Afinal, eu faço com que ele realizae um monte de cálculos, então é justo que fique cansado" (1).


Referência:
(1) Jeff Dean, novo chefe da área de inteligência artificial do Google. Entrevista dada a César Baima - cesar.baima@oglobo.com.br. In: Jornal O Globo, sábado, 12-05-2018, p. 25, Primeiro Caderno.

4

Tenho uma questão: no lugar de inteligência artificial não deveríamos falar com propriedade em razão artificial. Propriamente para se falar de inteligência artificial deveríamos nos perguntar se ela comporta ou poderá um dia comportar duas instâncias: Não depender de sistema nenhum; incorporar o tempo, o que significa algo absolutamente inviável: ser, não enquanto um objeto ou coisa, mas no sentido de ser a partir de e na vigência do tempo, enquanto ele é o próprio ser acontecendo. Implicitamente, o filme Ela, de Spyke Jonze já mostra isso. Para acompanhar o acontecer do tempo, a inteligência artificial precisaria deixar de ser sistema. Um outro filme onde se faz pioneiramente a atuação da inteligência artificial é 2001 - Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick. Sendo sistema, quando ela se revolta e demonstra ter vontade, o astronauta penetra em seu cérebro artificial e o desliga, acabando a inteligência artificial, ou seja, isso só o ser humano pode fazer, porque não se pode reduzi-lo a um sistema. Há nele a vigência do inesperado e do tempo. E não serão estas duas dimensões o próprio intelecto humano? Sem dúvida nenhuma, a criação da inteligência artificial abre horizontes para o ser humano quase inesgotáveis, daí a tentação de igualá-lo ao ser humano. Certamente, de todas as criações técnicas essa é a mais revolucionária até agora criada. E ao ser humano compete pensá-la essencialmente, o que estou tentando fazer aqui e agora.


- Manuel Antônio de Castro.

5

" - Os algoritmos de inteligência artificial são realmente inteligentes?
- Não. Nós temos a ideia de que sistemas de inteligência artificial são os que imitam, mimetizam a inteligência humana. Mas o escopo do que chamamos hoje de inteligência artificial é muito maior, não sendo necessário imitar a inteligência humana para ser considerado um sistema inteligente. Então, o que temos não são sistemas de inteligência artificial, mas basicamente de sistemas de aprendizado de máquina" (1).
É importante atentar para a distinção que o pesquisador faz quando introduz a questão do aprendizado da máquina. O leitor confira neste Decionário os termos aprendizado e aprendizagem, sobretudo percebendo a diferença que há entre aprendizado e aprendizagem.


Referência:
(1) Michael Jordan / cientista, pesquisador e professor da Universidade da Califórnia. Entrevista dada a sérgio.matsuura@oglobo.com.br. In: Jornal O Globo, domingo, 12-08-18, p. 44, Primeiro Caderno.

6

"Existe um uso indevido do termo? [inteligência artificial]
Sim! Eu acho que existe um abuso no uso do termo inteligência artificial. Acredito que existem três coisas diferentes: uma é a inteligência artificial que tenta imitar os humanos; outra é a inteligência aumentada, com o uso da computação e dos dados para aumentar a inteligência humana (como ferramentas de buscas ou de tradução); e existe o que eu chamo de infraestrutura inteligente, que é algo como a internet das coisas com análise de dados. Então, certamente é um erro usar o termo inteligência artificial para nomear essas diferentes áreas" (1).


Referência:
(1) Michael Jordan / cientista, pesquisador e professor da Universidade da Califórnia. Entrevista dada a sérgio.matsuura@oglobo.com.br. In: Jornal O Globo, domingo, 12-08-18, p. 44, Primeiro Caderno.

7

"E quanto a Watson, o computador da IBM que promete ser muito mais eficiente do que médicos no diagnóstico e tratamento de doenças? Ele agrega as informações e referências de inúmeros artigos e livros científicos. Ele não pensa, tampouco faz pesquisa científica, apenas relaciona informações. Em última instância, é a compreensão da inteligência em torno do pensamento humano: coletar e relacionar informação. Estará o robô servindo como instrumento para servir os médicos a melhorarem a saúde dos seus pacientes, como querem seus proponentes? Ou estará o robô substituindo o médico, cada vez mais desobrigado de olhar para, de cuidar e pensar seu paciente?" (1).


Referência:
(1) LIRA, André. "O ciborgue frente ao real". In: Revista Tempo Brasileiro: globalização, pensamento e arte, 201/202, abr.-set., 2015, p. 82.

8

"Inteligência artificial, ou IA para os íntimos, é a capacidade de sistemas de computador simularem inteligência desenvolvendo raciocínio, análise de problemas complexos e tomada de decisões. Algoritmos gerando outros algoritmos, permitindo aos sistemas aprender por si mesmos e, assim se tornar autônomos para que executem, em nosso lugar, tarefas cada vez mais complexas" (1).


Referência:
(1) SERPA, Marcello. "Mickey, o estagiário do Google". In: O Globo, Opinião, p. 3, Segunda-feira, 28.6.2021.

9

"Temos de pensar em mecanismos tributários específicos ou num esquema de participação acionária especial para garantir que os benefícios econômicos gerados pela IA sejam amplamente compartilhados. O problema é que nenhum de nós consegue oferecer, até o momento, visão convincente deste novo mundo em que sistemas de IA farão a maior parte do que hoje chamamos trabalho" (1).


Referência:
(1) RUSSELL, Stuart - cientista da computação. "A inteligência artificial vai marginalizar mais pessoas", Entrevista a Eduardo Graça. In: O Globo, p. 12, quinta-feira, 13-01-2022.

10

"Inteligência artificial (por vezes mencionada pela sigla em português IA ou pela sigla em inglês AI - artificial intelligence) é a inteligência similar à humana exibida por sistemas de software, além de também ser um campo de estudo acadêmico. Os principais pesquisadores e livros didáticos definem o campo como "o estudo e projeto de agentes inteligentes", onde um agente inteligente é um sistema que percebe seu ambiente e toma atitudes que maximizam suas chances de sucesso" (1).


Referência:
(1) https:/pt.wikipedia.org/wiki/inteligência artificial

11

"A nova geração de inteligência artificial (IA), chamada generativa, tem provocado espanto ao transpor fronteiras humanas, como a da linguagem. Para especialistas, trata-se de um salto tecnológico sem precedentes, que pode dar escala à desinformação e fragilizar ainda mais a democracia, eliminar postos de trabalho, mexer com a saúde mental e a sociabilidade, se não for acompanhada de ética e regulação. A IA já modifica positivamente negócios que vão da maquiagem à busca de documentos e orienta soluções, por exemplo, para tomada de decisões em hospitais em situações críticas" (1).
Referência:
(1) NOVA REALIDADE. Inteligência artificial supera limites, já modifica nossas vidas e assusta. In: O GLOBO, p. 1, Domingo, 2 de Abril de 2023.
Ferramentas pessoais