MÃmesis
De Dicionário de Poética e Pensamento
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- A questão poética articula-se com a questão mundo, na medida em que este implica sempre linguagem em sentido originário, isto é, a realidade se dando em sentido, o mundo. A mÃmesis está ligada à questão da criatividade ou da essência do agir e, por extensão, diz respeito ao problema da representação. Daà ser importante para o aprofundamento da questão a leitura de A poética ocidental (1), que fala sobre a criatividade poética. MÃmesis diz originariamente o vigorar da realidade.
- Referência:
- (1) DOLEIZEL, Lubomir. A poética ocidental. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1990, pp. 22-3.
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- Em geral trata-se do problema da mÃmesis numa comparação entre a coisa natural e a coisa cultural (que pode ser igual, pior ou melhor). Nessa comparação e relação se esquecem duas facetas essenciais. A primeira: o vigor da phýsis enquanto manifestação (phýsis: o viço dominante daquilo que brota e permanece), ou seja, é pelo próprio vigor da phýsis que se dá o agir do homem, como se o homem completasse o agir da phýsis, pois não podemos esquecer que o homem também é phýsis. A segunda relação é que a mÃmesis se dá enquanto linguagem, mas esta linguagem não é uma produção da mÃmesis, mas da própria phýsis enquanto lógos (linguagem). Assim sendo, a grande questão da mÃmesis eclode na questão da linguagem (sentido e verdade) e da poÃesis, enquanto o agir e seu sentido e valor ético. A grande questão da mÃmesis em Platão está relacionada à sua concepção de verdade e da leitura da phýsis e da diánoia enquanto lógos como Eîdos. A tradução em Platão do Eîdos por ideia, e a mÃmesis por representação, são equÃvocas e não correspondem à questão que, para Platão, está em questão: o que é que no fluxo das mudanças permanece?
3
- Por que surge com Aristóteles a questão da mÃmesis? Ele faz a distinção essencial entre os phýsei ónta dos tekhnes ónta: "Os primeiros são aquilo que no seu emergir se produz a partir de si mesmo; os outros são aquilo que é produzido através da representação e do fazer humanos" (1). Se os primeiro têm o princÃpio em si mesmo, os outros precisam de um outro princÃpio, justamente o princÃpio da tekhne. Mas este não é separado da physis, porém, é esta se dando em plenitude de realizão. Sem physis não há techne.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Os Pré-socráticos – Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 21.