Próprio

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Se nosso [[ser]] conseguisse expandir-se até atingir as [[dimensões]] [[infinitas]] do [[ser absoluto]], deixaria de haver [[diferença]] [[entre]] nós e o [[absoluto]], deixaríamos de [[ser]] alguém para naufragar totalmente na [[identidade]] [[absoluta]] do [[ser]].  E isto [[tudo]], seja sob seu aspeto negativo de nunca podermos atingir a [[plenitude]] [[infinita]], seja sob seu aspecto positivo de salvaguardar nossa [[individualidade]] [''nosso [[próprio]]''] de [[entes]] frente ao [[ser]], [[tudo]] isto nós o devemos à nossa [[essência]]" (1).
: "Se nosso [[ser]] conseguisse expandir-se até atingir as [[dimensões]] [[infinitas]] do [[ser absoluto]], deixaria de haver [[diferença]] [[entre]] nós e o [[absoluto]], deixaríamos de [[ser]] alguém para naufragar totalmente na [[identidade]] [[absoluta]] do [[ser]].  E isto [[tudo]], seja sob seu aspeto negativo de nunca podermos atingir a [[plenitude]] [[infinita]], seja sob seu aspecto positivo de salvaguardar nossa [[individualidade]] [''nosso [[próprio]]''] de [[entes]] frente ao [[ser]], [[tudo]] isto nós o devemos à nossa [[essência]]" (1).
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: Referência:
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "No [[sistema]] [[hegeliano]], o [[homem]] [[concreto]] e [[individual]] não tinha mais [[sentido]] como tal. Porém, diziam os [[existencialistas]], é o [[homem]] [[concreto]] que se trata de [[salvar]] e de [[explicar]]. Ora, o [[homem]] [[concreto]], [[eu]] [[concretamente]] existente, não posso ser reduzido a uma [[definição]] [[essencial]] fixa de uma vez para [[sempre]], diz o [[existencialismo]].  E isto precisamente porque o [[próprio]] do [[homem]] é o [[escolher]]" (1).

Edição de 22h01min de 6 de Julho de 2020

1

"E o que nos é próprio? A poético-ecologia enquanto cura poético-amorosa, pois apropriarmo-nos do que nos é próprio é amar. Amar é levar à plenitude de sentido o que nos foi dado e é próprio: o tempo enquanto o ser, o nossso destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 29.

2

"Talvez antes de ele falar, ela tivesse a intenção de um dia dar-se, pois sabia que teria de dar a alguém o que ela era, senão o que faria de si? Como morrer antes de dar-se, mesmo em silêncio? Porque no dar-se teria enfim uma testemunha de si própria" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: José Olympio, 4. e., 1974, p. 63.

3

"O radical phil- se encontra em várias formas de verbo, substantivo, adjetivo. Corresponde ao pronome grego nóos, cognato do latim suus. Designa de per si a qualidade e ação de próprio, de apropriar-se e ser próprio. Em Homero (Od. 8, 233, II - 3, 31) phílos significa próprio. Mas o que é próprio, propriedade e apropriar-se? Esta é a pergunta que faz o filósofo. Próprio e propriedade são um conjunto de condições estruturais que se tornou estável por se ter desenvolvido e conquistado num processo de apropriação. Assim, phílo-sóphos indica o homem, enquanto se conquista determinada atitude, por ele se ter apropriado do sabor de viver (sóphos). O homem só se empenha por apropriar-se e se lança à apropriação de saber por já ter sido apropriado pela paixão de viver" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições da filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, n. 130/131, 1997, p. 153.
Ver também:
*Filosofia

4

A questão do próprio está na tensão dialética entre necessidade e liberdade, sem se oporem radicalmente. Enquanto a ciência se rege por normas gerais, genéricas, da espécie, da genética, a emergência da liberdade e seu cultivo entram em tensão com a dimensão lógico-científico-causal, tensão possível pelo livre-aberto da não-causalidade. É a liberdade poética da verdade em tensão dialética com o causal e lógico. No fundo, é a tensão lógico-dialética de "eu" e "sou", mais complexa do que a consciência, meramente epistemológica, pois tal tensão é ontológica, isto é, é a própria afirmação e eclosão do próprio na vigência do ser.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"O meu mais fervoroso desejo sempre foi o de conseguir me expressar nos meus filmes, de dizer tudo com absoluta sinceridade, sem impor aos outros os meus pontos de vista. No entanto, se a visão de mundo transmitida pelo filme puder ser reconhecida por outras pessoas como parte integrante de si próprios, como algo a que nada, até agora, conseguiria dar expressão, que maior estímulo para o meu trabalho eu poderia desejar?" (1).


Referência:
(1) TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o tempo. São Paulo: Martins, 2010. Texto do autor na Orelha do livro.

6

"Somente no existir sem atributos seremos livres, porque seremos o próprio que nos foi dado. Sabendo-se no e pelo pensar, próprio sem atributos. Todo próprio do sendo tem um encontro marcado pelo, no e com o pensar do ser.
Somos, sou, próprio sem atributos. Só me resta, só nos resta, a tarefa, o destino, de ser o próprio no aprender a pensar" (1).
Aprender a pensar é questionar. Neste e por este, nossa vida se torna uma caminhada dentro e a partir das possibilidades ou destino/próprio que nos foi dado pelo ser. Quem questiona retoma a cada dia, a cada momento, a questão em questão. E esta jamais é determinada pela nossa vontade, ou seja, apenas no horizonte do eu enquanto sujeito com sua vontade. Nesse sentido, o próprio, enquanto caminhada do e no destinar-se do sentido do ser, tem como horizonte de sentido o acontecer poético, o Ereignis, de que nos fala o pensador Heidegger em sua obra Vom Ereignis. E o destinar-se do sentido do ser dá-se, acontece enquanto época em sentido ontológico e não apenas epistemológico.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) CASTRO. Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 143.

7

Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 214.

8

"Desde a criação o homem é, portanto, o denominador universal do ser de tudo que é. Apenas para ele mesmo não encontrou seu nome próprio. É por isso que todo nome dado ao homem e a seus modos de ser não é próprio, é sempre pseudônimo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 122.

9

"A dessacralização que domina hoje é devida a quê? Certamente muitos são os fatores. É no âmago dessa questão que a arte como questão se faz presente. Pode se falar em arte sem levar em consideração a questão do sagrado? Difícil. Porém, ela se faz presente de um modo muito simples e especial que se perdeu com o próprio distanciamento do sagrado acontecido na dinâmica dessas transformações históricas. Transformações essas que dizem respeito à própria dinâmica de o próprio sagrado se destinar. Mas ele, por mais que esteja esquecido, nunca se distancia e torna ausente como tal. Pelo contrário, sem sua presença, sua proximidade, tudo perderia o sentido e o próprio vigor de realização do real. E ele é próximo, tão próximo que até para sermos o que somos só podemos ser sendo essa proximidade. Porém, em tudo que fazemos temos a tendência, hoje e há muito tempo, a considerá-lo distante e inalcançável, como se ele fosse outro que não o vigor do que nos é próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.

10

"Ser o próprio e não os outros torna-se a questão. Mas o que é o próprio? Apropriar-se do próprio é o mais difícil e doloroso. Há tantas teorias, tantos modelos, tantas verdades prontas! A tentação de se identificar e deixar-se afetar pela teoria mais convincente e agradável é tão mais fácil! Mas quem disse que viver é fácil? “Viver é muito perigoso” (1). É sem receitas. Isso decorre de que estamos sempre em travessia, à beira do abismo" (2).


Referências:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 16.
(2): CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 125.

11

"A dança jamais pode se por a serviço de qualquer sistema, caso contrário perderá sua identidade, seu próprio. E qual é o próprio da dança, a sua identidade? Esta identidade não pode ser diferente da identidade de todo ser humano. O próprio é a medida de cada um. À realização dessa medida corresponde a história de cada um, que é sempre singular e irrepetível. Ou ao menos deveria ser. A medida é o destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.

12

"O que isso significa? Aqui se impõe ainda uma explicação mais profunda do ser humano, como constituído pelo ser e pela essência, pois todo ser humano é e é o que cada um é, ou seja, cada um tem seu próprio, isto é, aquela essência que faz com que ele seja ele e não outro qualquer ente (sendo)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 31.

13

Próprio é Identidade e identidade é possibilidade de ser. O possível é o que já nos foi doado pelo Ser para sermos e constitui, por isso, nossa identidade, nosso próprio. Ninguém se dá seu próprio ou sua identidade e muito menos se faz isso ou aquilo. Em termos ontológicos só podemos fazer aquilo que já somos. Somente somos sendo, existindo numa constante travessia, como nos diz Guimarães Rosa em Grande Sertão: veredas. E os sábios chineses a denominaram caminho ou Tao. Toda caminhada inclui o histórico, o cultural e o social sem lhe ficar dependentes, pelo contrário, transfigurando-os. A identidade é o que nos foi dado pelo ser, de uma maneira única e própria, enfim, aquilo que nos foi destinado e, por isso, constitui nosso destino.


- Manuel Antônio de Castro

14

"Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já o disse poeticamente:
Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender . (Poema XXIV)
Procuro despir-me do que aprendi,:
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos ... (Poema XLVI) " (1)

´

Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.

15

"Ora, ninguém é comum. Sem dúvida, há uma pesada estratégia de mercado, que constrói sobre a equalização de ser humano e subjetividade. A partir dessa equalização, reconhecemos como próprio não o que somos, mas o que realizamos sobre ou em relação aos demais. É um sentido terceirizado, relacional, do próprio: identidade" (1).


Referência:
(1) LIRA, André. "O ciborgue frente ao real". In: Revista Tempo Brasileiro: globalização, pensamento e arte, 201/202, abr.-set., 2015, p. 81.

16

"É dado a todos os homens conhecer-se a si mesmos e pensar" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 116. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 89.

17

"O que nos leva a constituir uma rede poética não são os humanismos, nem mais um humanismo, mas o que em todo ser humano o constitui como próprio: é o humano de todo ser humano. Eis o motivo que move a rede poética. Para ela cada ser humano não se reduz a um número na multidão dos consumidores, não é um qualquer, pois todo ser humano já traz algo próprio e único, embora poético-universal: o humano de todo próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 25.

18

"Pensar diz respeito à essência do humano, porque nele procuramos realizar e chegar a ser as possibilidades próprias do que cada um já desde sempre é. E cada um é por uma doação do Ser, sendo, portanto, uma singularidade, irredutível a uma generalização conceitual" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 13.

19

"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu por quê? No por quê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz, então, a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar, de antemão, o sentido de qualquer sendo. Nisso se funda a identidade da diferença, se compreendemos identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 98.

20

"Numa ordem metodológica, a análise existencial precede as questões da biologia, psicologia, teodiceia e teologia da morte. Do ponto de vista ôntico, seus resultados mostram o caráter formal e vazio de toda caracterização ontológica. Isso, porém, não deve cegar a visão para a riqueza e complexidade do fenômeno. A morte é uma possibilidade privilegiada da presença entre-ser. Ora, se a presença entre-ser nunca pode tornar-se acessível como algo simplesmente dado porque pertence à sua essência a possibilidade de ser de modo próprio, então é tanto menos lícito esperar que a estrutura ontológica da morte possa resultar de uma mera leitura" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução revisada de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis/RJ: Vozes / Editora Universitária São Francisco, 2006, p. 323.

21

"Só o apropriar-se é amar. Desapropriar e apossar-se são a tentativa de anular o que é próprio de quem é, ou seja, de suas possibilidades e contínua realização. Daí dizer que a renúncia não tira, dá. Dá a liberdade de chegar a ser, amando" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

22

"O ser humano é uma doação da linguagem. Sempre se movendo na linguagem em sua ânsia essencial de ser o não-ser, procura incessantemente o horizonte de seu mistério e presença como escuta de sua fala. A escuta exige de nós uma entrega e caminhada, que se tornam uma travessia, um percurso de iluminação. Ela nos leva à fala da sua escuta para melhor escutá-la. É quando a palavra se torna o vigor de seu desvelamento e velamento como língua. Porque a palavra é o vigor desse " entre " que identifica e diferencia fala e silêncio, desvelamento e velamento. E assim surgem algumas das mais importantes reflexões dos pensadores " (1). O percurso de iluminação nos conduz a uma posse do sentido do que somos e recebemos para ser. Na iluminação, o sentido do ser acontece em nós. Será, portanto, um percurso ontológico e não meramente temporal ou espacial. O ontológico é o originário de todo espaço e tempo, de toda época e do mundo que lhe corresponde. Iluminação é mundo de sentido e verdade, verdade ontológica, aletheia. No e pelo ontológico o percurso como caminhada é de mergulho na memória, que a tudo preside. A iluminação provoca em nós a experienciação da sabedoria e uma caminhada de libertação. Não há iluminação sem desprendimento e recolhimento. E será uma caminhada ou travessia para a plenitude de realização do sentido do que recebemos para ser, será uma apropriação do próprio. No recolhimento apreendemos o sentido de nosso agir.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser e a aparência". In: ---------. www.travessiapoetica.blogspot.com.

23

" Em poética não basta conhecer. É necessário ser o que se conhece. Ser o que se conhece é apropriar-se do que é próprio. Próprio é o que recebemos como destino, a Moira dos gregos. Em poética não basta sentir. É necessário ser o que se sente. Ser o próprio que se é. Eis a essência do agir, a essência da poética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 278.

24

"Quando vemos este e aquele ser humano, esta e aquela coisa, este e aquele algo, sempre o vemos no seu limite e diferença, mas dotados, isso se sabe também concretamente, de um próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.

25

"Um vive, e muito se vê... Reperguntei qual era o mote. - Um outro pode ser a gente: mas a gente não pode ser um outro, nem convém..." (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 347.

26

"A nossa propriedade nos advém desde que somos o que já desde sempre somos. Nesse sentido, o que nos é próprio, o que já desde sempre somos, é o que se chama, em grego, Moira, nosso próprio, nosso quinhão do ser. A tradução tradicional para o português é destino. Este, portanto, não depende de uma ação causal, não é o resultado do agir do saber das intenções da consciência. Não é um eu da consciência e o resultado de ações causais, por isso, o que cada um é, o seu próprio, independe do meio e das influências de ordem social ou psíquica" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo. Ensaio não publicado.

27

"Uma vez que ele pergunta pelo ser, é sinal de que não sabe totalmente o ser, mas que pode e quer sabê-lo. Significa isto que o perguntador sabe o ser como transcendendo a si mesmo (i. é, ao perguntador) e ao seu saber, ou seja, o perguntador sabe da diferença ou transcendência do ser-na-sua-totalidade com respeito ao seu próprio ser" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

28

Cada ente, enquanto ser humano, na sua diferença ontológica, ocupa uma posição na realidade e ele recebeu possibilidades absolutamente positivas que fazem com que ele seja o que ele é e não outro, ou seja, um próprio. São possibilidades tão dinâmicas que jamais chegamos a conquistá-las em toda a sua riqueza. Daí o desafio de nos conhecermos no que somos. Por isso, a racionalidade moderna não pode jamais reduzir o ser que cada um é ao determinado por um modelo, mesmo de diferentes teorias, sociais ou psicológicas. Pelo contrário, há a matriz/’’’matrix’’’ (ser) que nos torna inesgotáveis. E é dessa riqueza inesgotável que nos falam as obras de arte. E é por isso que para cada um o viver se torna uma tarefa poética. As obras de arte são como velas onde se concentra uma enorme energia que precisa ser acesa/lida para que a leitura as transforme em chamas que nos iluminam, mas iluminam no sentido de chegarmos a nos conhecermos e libertarmos.


- Manuel Antônio de Castro.

29

"Se nosso ser conseguisse expandir-se até atingir as dimensões infinitas do ser absoluto, deixaria de haver diferença entre nós e o absoluto, deixaríamos de ser alguém para naufragar totalmente na identidade absoluta do ser. E isto tudo, seja sob seu aspeto negativo de nunca podermos atingir a plenitude infinita, seja sob seu aspecto positivo de salvaguardar nossa individualidade [nosso próprio] de entes frente ao ser, tudo isto nós o devemos à nossa essência" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

30

"No sistema hegeliano, o homem concreto e individual não tinha mais sentido como tal. Porém, diziam os existencialistas, é o homem concreto que se trata de salvar e de explicar. Ora, o homem concreto, eu concretamente existente, não posso ser reduzido a uma definição essencial fixa de uma vez para sempre, diz o existencialismo. E isto precisamente porque o próprio do homem é o escolher" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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