Época

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: [[Época]] é um [[conceito]] e uma [[questão]]. Como [[conceito]] reduz a [[obra]] aos seus aspectos formais, seja sob o ponto de vista de [[estilo]], seja sob o ponto de vista do conteúdo. Na sucessão de [[estilos]], a [[obra]] é vista enquanto um produto do [[tempo]] [[cronologia|cronológico]] e [[historiográfico]]. Porém, a [[obra]], sendo uma [[questão]], dá-se como [[época]] a partir do que esta [[palavra]] significa: retenção, o que dando-se se guarda, suspensão. Do quê? Do que na [[obra]] opera enquanto no [[desvelar-se]] se [[velamento|vela]]. Por isso, a melhor atitude em [[relação]] à [[obra]] é considerá-la como [[lugar]], onde este diz a [[abertura]] do [[ser humano]], como [[entre]], para o [[sentido do ser]] e [[sentido]] de [[ser]]. A tal [[abertura]] ou [[lugar]] dá-se o [[nome]] de [[clareira]]. [[Época]] diz sempre [[clareira]]. A esse respeito, cabe consultar o que Heidegger diz no [[ensaio]] "A sentença de Anaximandro" (1) para ver como a [[época]] se relaciona à [[História]].
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: [[Época]] é um [[conceito]] e uma [[questão]]. Como [[conceito]] reduz a [[obra]] aos seus [[aspectos]] [[formais]], seja sob o ponto de vista de [[estilo]], seja sob o ponto de vista do [[conteúdo]]. Na [[sucessão]] de [[estilos]], a [[obra]] é vista enquanto um [[produto]] do [[tempo]] [[cronologia|cronológico]] e [[historiográfico]]. Porém, a [[obra]], sendo uma [[questão]], dá-se como [[época]] a partir do que esta [[palavra]] significa: retenção, o que dando-se se guarda, [[suspensão]]. Do quê? Do que na [[obra]] opera enquanto no [[desvelar-se]] se [[velamento|vela]]. Por isso, a melhor [[atitude]] em [[relação]] à [[obra]] é considerá-la como [[lugar]], onde este diz a [[abertura]] do [[ser humano]], como [[entre]], para o [[sentido do ser]] e [[sentido]] de [[ser]]. A tal [[abertura]] ou [[lugar]] dá-se o [[nome]] de [[clareira]]. [[Época]] diz [[sempre]] [[clareira]]. A esse respeito, cabe consultar o que [[Heidegger]] diz no [[ensaio]] "A [[sentença]] de Anaximandro" (1) para [[ver]] como a [[época]] se relaciona à [[História]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "[[História]] do [[ser]] significa [[destino]] do [[ser]]. Nessas destinações, tanto o [[destinar]] quanto o [[ser]] que se destina retêm-se com a [[manifestação]] de si mesmos. Em [[grego]], reter-se equivale a ''epoché''. Por isso se fala da [[época]] do [[destino]] do [[ser]]" (1).  Fica bem claro que [[época]], o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o [[velamento|velado]] de [[desvelamento|desvelado]]. Ao se atentar só para a [[forma]] dos [[estilos]] ou [[temas]], na caracterização e [[estudo]] das [[obra|obras]] de [[arte]], o que lhes é [[essencial]] não se pensa. [[Época]], em [[sentido]] [[essencial]], é sempre [[destino]] do [[sentido do ser]]. Nesse [[sentido]], as [[obras de arte]], como [[vigência]] do [[destino]], são sempre [[inaugural|inaugurais]] e só podem [[ser]] [[inaugurais]] porque justamente elas são [[epocais]], isto é, como [[destino]], não cessam de [[revelar]] a [[realidade]] dizendo-a de muitas [[maneiras]]. Estas [[maneiras]] é que são propriamente os [[estilos]], mas que não têm sua [[fonte]] em si, mas no [[poder]] das [[obras]]. Nos [[estilos]] só enquanto o manifesto nas [[formas]], não se pensa propriamente a ''epoché'', daí a dificuldade de [[pensar]] a ''epoché'' sem o [[dar-se]]. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza: "Este [[acontecimento]] propriamente [[histórico]]-[[ontológico]] de um [[dar]] que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o [[destinar]] (''das Schicken'') do [[evento]] criptofânico (''das Ereignis''), a que [[Heidegger]] reporta o [[evento]] [[epifânico]] da [[Presença]] (''das Sein'')" (2).
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: "[[História]] do [[ser]] significa [[destino]] do [[ser]]. Nessas destinações, tanto o [[destinar]] quanto o [[ser]] que se destina retêm-se com a [[manifestação]] de si mesmos. Em [[grego]], reter-se equivale a ''epoché''. Por isso se fala da [[época]] do [[destino]] do [[ser]]" (1).   
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: Fica bem claro que [[época]], o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o [[velamento|velado]] de [[desvelamento|desvelado]]. Ao se atentar só para a [[forma]] dos [[estilos]] ou [[temas]], na caracterização e [[estudo]] das [[obra|obras]] de [[arte]], o que lhes é [[essencial]] não se pensa. [[Época]], em [[sentido]] [[essencial]], é sempre [[destino]] do [[sentido do ser]]. Nesse [[sentido]], as [[obras de arte]], como [[vigência]] do [[destino]], são sempre [[inaugural|inaugurais]] e só podem [[ser]] [[inaugurais]] porque justamente elas são [[epocais]], isto é, como [[destino]], não cessam de [[revelar]] a [[realidade]] dizendo-a de muitas [[maneiras]]. Estas [[maneiras]] é que são propriamente os [[estilos]], mas que não têm sua [[fonte]] em si, mas no [[poder]] das [[obras]]. Nos [[estilos]] só enquanto o manifesto nas [[formas]], não se pensa propriamente a ''epoché'', daí a dificuldade de [[pensar]] a ''epoché'' sem o [[dar-se]]. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza:
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: "Este [[acontecimento]] propriamente [[histórico]]-[[ontológico]] de um [[dar]] que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o [[destinar]] (''das Schicken'') do [[evento]] criptofânico (''das Ereignis''), a que [[Heidegger]] reporta o [[evento]] [[epifânico]] da [[presença]] (''das Sein'')" (2).
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: (1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', Rio de Janeiro: 95, out.-dez., 1988, p. 14.
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: (1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Rio de Janeiro,  '''Revista Tempo Brasileiro''', 95, out.-dez., 1988, p. 14.
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: (2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', nº 95. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988, p. 14.
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: (2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Rio de Janeiro, '''Revista Tempo Brasileiro''', nº 95, 1988, p. 14.
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: "O [[Ser]] se vela, como [[destino]], ao destinar-se no [[homem]], pois é essencialmente destino. O velamento é o vigor do destinar-se. A [[época]], para [[Heidegger]], expressa o [[movimento]] [[dialético]] de [[desvelar-se]] e [[velar-se]]. A [[compreensão]], portanto, das [[diferentes]] [[épocas]] só é [[possível]] através da [[dialética]] que o [[próprio]] [[Ser]] instaura" (1). "É no [[destino]] [[epocal]] do [[Ser]] que se essencializa a [[história]] dos [[homens]]" (2).
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: "O [[Ser]] se vela, como [[destino]], ao [[destinar-se]] no [[homem]], pois é [[essencialmente]] [[destino]]. O [[velamento]] é o [[vigor]] do [[destinar-se]]. A [[época]], para [[Heidegger]], expressa o [[movimento]] [[dialético]] de [[desvelar-se]] e [[velar-se]]. A [[compreensão]], portanto, das [[diferentes]] [[épocas]] só é [[possível]] através da [[dialética]] que o [[próprio]] [[Ser]] instaura" (1).  
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: "É no [[destino]] [[epocal]] do [[Ser]] que se essencializa a [[história]] dos [[homens]]" (2).
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: Em nossa [[vida]] de [[travessia]], a cada escolha, a cada [[ação]], a cada passo, não é um [[caminho]] que se abre, mas muitos. A [[possibilidade]] dos muitos [[caminhos]] não só [[pessoais]], mas [[reais]], porque igualmente [[epocais]], é a [[realidade]] [[acontecendo]] enquanto [[memória]]. [[Misteriosamente]], a [[memória]] é a [[morte]] se dando em [[vida]], manifestando-se nos [[viventes]]. Ela é muito mais do que a [[cronologia]] e a [[causalidade]]. Ela é o [[acontecer]] [[poético]], que é sem por quê.
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: Em nossa [[vida]] de [[travessia]], a cada [[escolha]], a cada [[ação]], a cada [[passo]], não é um [[caminho]] que se abre, mas muitos. A [[possibilidade]] dos muitos [[caminhos]] não só [[pessoais]], mas [[reais]], porque igualmente [[epocais]], é a [[realidade]] [[acontecendo]] enquanto [[memória]]. [[Misteriosamente]], a [[memória]] é a [[morte]] se dando em [[vida]], manifestando-se nos [[viventes]]. Ela é muito mais do que a [[cronologia]] e a [[causalidade]]. Ela é o [[acontecer]] [[poético]], que é sem por quê.
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: [[Época]] é toda [[interpretação]] nova e coletiva que é feita a partir do [[destinar]]-se do [[sentido do ser]]. O [[sentido do ser]] acontece na [[interpretação]] pelo vigorar da [[linguagem]], ''[[Logos]]'', em grego, e do [[tempo]], em [[sentido]] [[originário]].
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: [[Época]] é toda [[interpretação]] nova e [[coletiva]] que é feita a partir do [[destinar]]-se do [[sentido do ser]]. O [[sentido do ser]] [[acontece]] na [[interpretação]] pelo [[vigorar]] da [[linguagem]], ''[[Logos]]'', em [[grego]], e do [[tempo]], em [[sentido]] [[originário]].
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: [[Arte]] é desafio [[humano]] de criação. Mas o que é criar? O que é ser humano? Por etapas: A concepção de criar ressente-se dos [[humanismo]]s, frutos de uma [[metafísica]] do [[esquecimento]] do [[sentido]] do [[Ser]]. Por metafísica entenda-se aí [[fundamento]]. O Cristianismo, via Judaísmo, traduziu o Ser / ''Physis'' como fundamento e este como Deus, o Criador. Logo, Deus é o criador de entes e como fundamento tornou-se o ente absoluto, ou seja, o "Então". O que ficou aí esquecido é o sentido do Ser em seu [[mistério]], irredutível à totalidade dos entes, a um "Então". Portanto, a criação não depende de um fundamento, tradicionalmente identificado com [[sujeito]] (em grego ''hypokeimenon'' e em latim ''subjectum''). Então em arte, o ser humano, identificado ao sujeito, tornou-se o [[criador]] das obras de arte, que é uma [[contradição]] metafísica. Em [[verdade]] o ser humano não cria nada. Ele tem de enfrentar o grande desafio. Qual? De um lado, não nos criamos, de outro, já estamos projetados nas [[questões]], que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa [[vontade]]. É então que entra aí o propriamente humano, ou seja, o artístico: responder ao desafio das questões. Cada [[obra de arte]] manifesta o humano porque cada uma é uma tentativa de [[resposta]] às questões. E nisso consiste a "criação" artística, ou seja, manifestação do humano. Mas nenhuma resposta dá conta e elimina a questão, porque somos o fundamento ou sujeito das respostas, não das questões. As questões são fundadas pelo [[Nada]]. Somos fundados pelo ''nada''. Então criar é responder às questões [[originárias]] de modo  [[original]], porque cada situação, sempre diferente em seu acontecer, exige de nós novas respostas, ou seja, novas obras de arte, onde o humano se manifesta como destinado pelas questões do sentido do Ser, do Inesperado, no dizer de Heráclito (frag. 18). Cada obra de arte produz manifestação de [[mundo]], o sentido do Ser que se destina no ser humano enquanto [[pensar]]. Eis aí a [[essência]] verbal da arte em suas épocas e, portanto, da [[necessidade]] do [[contemporâneo]].
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: [[Arte]] é desafio [[humano]] de [[criação]]. Mas o que é [[criar]]? O que é [[ser humano]]?  
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: Por etapas: A [[concepção]] de [[criar]] ressente-se dos [[humanismo]]s, frutos de uma [[metafísica]] do [[esquecimento]] do [[sentido do Ser]]. Por [[metafísica]] entenda-se aí [[fundamento]]. O [[Cristianismo]], via Judaísmo, traduziu o [[Ser]] / ''[[Physis]]'' como [[fundamento]] e este como [[Deus]], o [[Criador]]. Logo, [[Deus]] é o criador de entes e como fundamento tornou-se o ente absoluto. O que ficou aí esquecido é o [[sentido do Ser]] em seu [[mistério]], irredutível à totalidade dos [[entes]]. Portanto, a [[criação]] não depende de um [[fundamento]], tradicionalmente identificado com [[sujeito]] (em [[grego]] ''[[hypokeimenon]]'' e em [[latim]] ''[[subjectum]]'').  
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: Então em [[arte]], o [[ser humano]], identificado ao [[sujeito]], tornou-se o [[criador]] das [[obras de arte]], que é uma [[contradição]] [[metafísica]]. Em [[verdade]] o [[ser humano]] não cria [[nada]]. Ele tem de enfrentar o grande [[desafio]]. Qual? De um lado, não nos criamos; de outro, já estamos projetados nas [[questões]], que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa [[vontade]]. É então que entra aí o propriamente [[humano]], ou seja, o [[artístico]]: [[responder]] ao [[desafio]] das [[questões]]. Cada [[obra de arte]] manifesta o [[humano]] porque cada uma é uma tentativa de [[resposta]] às [[questões]]. E nisso consiste a [["criação" artística]], ou seja, manifestação do [[humano]].
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: Mas nenhuma [[resposta]] dá conta e elimina a [[questão]], porque somos o [[fundamento]] ou [[sujeito]] das [[respostas]], não das [[questões]]. As [[questões]] são fundadas pelo [[Nada]]. Somos fundados pelo ''[[nada]]''. Então [[criar]] é [[responder]] às [[questões]] [[originárias]] de modo  [[original]], porque cada [[situação]], [[sempre]] [[diferente]] em seu [[acontecer]], exige de nós novas [[respostas]], ou seja, novas [[obras de arte]], onde o [[humano]] se manifesta como [[destinado]] pelas [[questões]] do [[sentido]] do [[Ser]], do Inesperado, no [[dizer]] de Heráclito (frag. 18). Cada [[obra de arte]] [[produz]] [[manifestação]] de [[mundo]], o [[sentido do Ser]] que se [[destina]] no [[ser humano]] enquanto [[pensar]]. Eis aí a [[essência]] [[verbal]] da [[arte]] em suas [[épocas]] e, portanto, da [[necessidade]] do [[contemporâneo]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 283.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 283.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 242.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 242.
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: O que não aparece em tudo que aparece [[é]] o que sempre se vela. A [[época]] não pode ser nunca determinada e deduzida de uma [[relação]] [[causal]], [[funcional]], linear e cronológica. O [[vigorar]] da [[época]] está na [[suspensão]] (e é isso o que significa a [[palavra]] [[época]]) do que não cessa de [[vigorar]] para tornar visível e [[presente]] o que se dá a [[ver]], mas que para isso se retrai e vela.
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: O que não aparece em tudo que aparece [[é]] o que sempre se vela. A [[época]] não pode ser nunca determinada e deduzida de uma [[relação]] [[causal]], [[funcional]], linear e cronológica. O [[vigorar]] da [[época]] está na suspensão (e é isso o que significa a [[palavra]] [[época]]) do que não cessa de [[vigorar]] para tornar visível e [[presente]] o que se dá a [[ver]], mas que para isso se retrai e vela.
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: -----. ''Conferências e escritos filosóficos - Coleção Os pensadores''. Trad., Introduções e Notas: Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 261.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: -----. '''Conferências e escritos filosóficos - Coleção Os pensadores'''. Trad., Introduções e Notas: Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 261.
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: (1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista ''Tempo Brasileiro'': ''Interdisciplinaridade dimensões poéticas'', 164, Jan.-mar. 2006, 180.
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: (1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista '''Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas''', 164, Jan.-mar. 2006, 180.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético - a história literária''. Rio de Janeiro: Edições Antares, 2. e., 1982, p. 140.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''O acontecer poético - a história literária'''. Rio de Janeiro: Edições Antares, 2. e., 1982, p. 140.
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: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis (RJ): Vozes, 1977, p. 131.
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: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Aprendendo a pensar'''. Petrópolis (RJ): Vozes, 1977, p. 131.
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: (1) FRECHEIRAS, Marta Luzie de Oliveira. "Intencionalidade, memória e reminiscência em Aristóteles". In: Revista ''Tempo Brasileiro - Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164. Rio de Janeiro: jan.-mar. 2006, p. 38.
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: (1) FRECHEIRAS, Marta Luzie de Oliveira. "Intencionalidade, memória e reminiscência em Aristóteles". In: Revista '''Tempo Brasileiro - Interdisciplinaridade: dimensões poéticas''', 164. Rio de Janeiro: jan.-mar. 2006, p. 38.
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: Uma [[época]] não é jamais uma demarcação de [[datas]] enquanto [[linearidade]] [[cronológica]] do [[tempo]] e enquanto [[progresso]]. [[Época]] jamais será uma [[questão]] de [[limite]] [[quantitativo]]. Esse [[valor]] inerente ao [[progresso]] é estranho ao [[destinar-se]] do [[sentido do Ser]] no [[acontecer]] das [[épocas]] e da [[dimensão]] [[ética]] de [[tudo]], manifestando-se e constituindo o [[próprio]] do [[ser humano]]. Uma [[época]] é sempre um [[enigma]] de que as [[crises]] são o sintoma e que amadurecem numa [[dinâmica]] de [[diferenciação]] [[originária]] da própria [[realidade]], na qual o [[ser humano]] em sua [[Essência]] se vê projetado.
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: Uma [[época]] não é jamais uma demarcação de datas enquanto [[linearidade]] [[cronológica]] do [[tempo]] e enquanto [[progresso]]. [[Época]] jamais será uma [[questão]] de [[limite]] [[quantitativo]]. Esse [[valor]] inerente ao [[progresso]] é estranho ao [[destinar-se]] do [[sentido do Ser]] no [[acontecer]] das [[épocas]] e da [[dimensão]] [[ética]] de [[tudo]], manifestando-se e constituindo o [[próprio]] do [[ser humano]]. Uma [[época]] é sempre um [[enigma]] de que as [[crises]] são o sintoma e que amadurecem numa [[dinâmica]] de [[diferenciação]] [[originária]] da própria [[realidade]], na qual o [[ser humano]] em sua [[Essência]] se vê projetado.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 283.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 283.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. ''O acontecer poético - a história literária'', 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. '''O acontecer poético - a história literária''', 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ocidente e Modernidade". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 17.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ocidente e Modernidade". In:------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 17.
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: (1) HESSE, Hermann. '''Francisco de Assis'''. Trad. Kristina Michahelles. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1. e., 2019, p. 58.
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: (1) HESSE, Hermann. ''Francisco de Assis''. Trad. Kristina Michahelles. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1. e., 2019, p. 58.
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Edição atual tal como 22h04min de 17 de Abril de 2024

1

Época é um conceito e uma questão. Como conceito reduz a obra aos seus aspectos formais, seja sob o ponto de vista de estilo, seja sob o ponto de vista do conteúdo. Na sucessão de estilos, a obra é vista enquanto um produto do tempo cronológico e historiográfico. Porém, a obra, sendo uma questão, dá-se como época a partir do que esta palavra significa: retenção, o que dando-se se guarda, suspensão. Do quê? Do que na obra opera enquanto no desvelar-se se vela. Por isso, a melhor atitude em relação à obra é considerá-la como lugar, onde este diz a abertura do ser humano, como entre, para o sentido do ser e sentido de ser. A tal abertura ou lugar dá-se o nome de clareira. Época diz sempre clareira. A esse respeito, cabe consultar o que Heidegger diz no ensaio "A sentença de Anaximandro" (1) para ver como a época se relaciona à História.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Pré-socráticos – Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 28.

2

"História do ser significa destino do ser. Nessas destinações, tanto o destinar quanto o ser que se destina retêm-se com a manifestação de si mesmos. Em grego, reter-se equivale a epoché. Por isso se fala da época do destino do ser" (1).
Fica bem claro que época, o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o velado de desvelado. Ao se atentar só para a forma dos estilos ou temas, na caracterização e estudo das obras de arte, o que lhes é essencial não se pensa. Época, em sentido essencial, é sempre destino do sentido do ser. Nesse sentido, as obras de arte, como vigência do destino, são sempre inaugurais e só podem ser inaugurais porque justamente elas são epocais, isto é, como destino, não cessam de revelar a realidade dizendo-a de muitas maneiras. Estas maneiras é que são propriamente os estilos, mas que não têm sua fonte em si, mas no poder das obras. Nos estilos só enquanto o manifesto nas formas, não se pensa propriamente a epoché, daí a dificuldade de pensar a epoché sem o dar-se. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza:
"Este acontecimento propriamente histórico-ontológico de um dar que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o destinar (das Schicken) do evento criptofânico (das Ereignis), a que Heidegger reporta o evento epifânico da presença (das Sein)" (2).


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Rio de Janeiro, Revista Tempo Brasileiro, 95, out.-dez., 1988, p. 14.
(2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Rio de Janeiro, Revista Tempo Brasileiro, nº 95, 1988, p. 14.

3

"O Ser se vela, como destino, ao destinar-se no homem, pois é essencialmente destino. O velamento é o vigor do destinar-se. A época, para Heidegger, expressa o movimento dialético de desvelar-se e velar-se. A compreensão, portanto, das diferentes épocas só é possível através da dialética que o próprio Ser instaura" (1).
"É no destino epocal do Ser que se essencializa a história dos homens" (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 131.

4

"A época é o ilimitado instituindo limites e o humano emergindo em sua historicidade. Por isso, a verdade do literário, o que vale dizer do humano, radica no ser da historicidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 63.

5

Em nossa vida de travessia, a cada escolha, a cada ação, a cada passo, não é um caminho que se abre, mas muitos. A possibilidade dos muitos caminhos não só pessoais, mas reais, porque igualmente epocais, é a realidade acontecendo enquanto memória. Misteriosamente, a memória é a morte se dando em vida, manifestando-se nos viventes. Ela é muito mais do que a cronologia e a causalidade. Ela é o acontecer poético, que é sem por quê.


- Manuel Antônio de Castro

6

Época é toda interpretação nova e coletiva que é feita a partir do destinar-se do sentido do ser. O sentido do ser acontece na interpretação pelo vigorar da linguagem, Logos, em grego, e do tempo, em sentido originário.


- Manuel Antônio de Castro

7

Arte é desafio humano de criação. Mas o que é criar? O que é ser humano?
Por etapas: A concepção de criar ressente-se dos humanismos, frutos de uma metafísica do esquecimento do sentido do Ser. Por metafísica entenda-se aí fundamento. O Cristianismo, via Judaísmo, traduziu o Ser / Physis como fundamento e este como Deus, o Criador. Logo, Deus é o criador de entes e como fundamento tornou-se o ente absoluto. O que ficou aí esquecido é o sentido do Ser em seu mistério, irredutível à totalidade dos entes. Portanto, a criação não depende de um fundamento, tradicionalmente identificado com sujeito (em grego hypokeimenon e em latim subjectum).
Então em arte, o ser humano, identificado ao sujeito, tornou-se o criador das obras de arte, que é uma contradição metafísica. Em verdade o ser humano não cria nada. Ele tem de enfrentar o grande desafio. Qual? De um lado, não nos criamos; de outro, já estamos projetados nas questões, que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa vontade. É então que entra aí o propriamente humano, ou seja, o artístico: responder ao desafio das questões. Cada obra de arte manifesta o humano porque cada uma é uma tentativa de resposta às questões. E nisso consiste a "criação" artística, ou seja, manifestação do humano.
Mas nenhuma resposta dá conta e elimina a questão, porque somos o fundamento ou sujeito das respostas, não das questões. As questões são fundadas pelo Nada. Somos fundados pelo nada. Então criar é responder às questões originárias de modo original, porque cada situação, sempre diferente em seu acontecer, exige de nós novas respostas, ou seja, novas obras de arte, onde o humano se manifesta como destinado pelas questões do sentido do Ser, do Inesperado, no dizer de Heráclito (frag. 18). Cada obra de arte produz manifestação de mundo, o sentido do Ser que se destina no ser humano enquanto pensar. Eis aí a essência verbal da arte em suas épocas e, portanto, da necessidade do contemporâneo.


- Manuel Antônio de Castro

8

"A época da linguagem instrumental reproduz a forma formulada no telos como finalidade ou objetivo. O objeto do objetivo é o tempo da subjetividade racional como medida da representação conceitual da realidade. Sua realidade temporal e histórica se representa na objetividade da subjetividade, enquanto relações e funcionamento das funções das diferentes instâncias das teorias ou disciplinas, em que as realizações da realidade são apreendidas: social, econômica, antropológica, psicológica, política etc." (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

9

"A época é uma dádiva do vazio, um entre céu e terra. E o que o vazio nos doa? O sentido poético, o ético da eks-sistência e de toda ação poética. No sentido ético-poético se manifesta o humano do ser humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

10

"A época não é jamais algo geral que está aí para nos tomar e nos determinar. A época só é época enquanto acontecer poético. E todo acontecer é sempre acontecer do mesmo. A época é o mesmo acontecendo. É o humano se desdobrando poeticamente. Quando o humano acontece poeticamente, então o pensar do ser e seu sentido se dá. O ler poético aconteceu" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 283.

11

"Dentro de uma mesma época, pode haver diferentes vocabulários, mas, enquanto época, eles estarão interligados por esse vocabulário mais geral. Então, uma época começa a mudar quando um novo vocabulário começa a se impor. Talvez nenhuma época seja mais exemplar do que a Idade Média, nesse caso. Um vocabulário bem específico a configura e até os pretensos fatos dessa época são lidos, colhidos e organizados já dentro dos limites desse vocabulário. Mas será que sabemos o que esse vocabulário nos diz ou o lemos a partir de nossa atual conjuntura, isto é, a partir de um outro vocabulário?


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 242.

12

Ora, aí é que entra também o tempo da arte. Que tempo é esse? Confunde-se o tempo da arte com a arte dos tempos, onde a conjuntura e a época determinariam o sentido das obras de arte. Diga-se logo que não são as épocas e suas conjunturas que determinam a memória e a história, pois sem memóriaunidade e sentido das diferenças – não há nem época nem conjunturas, enquanto sentido do acontecer do tempo, memória e história, enfim, obra de arte.


- Manuel Antônio de Castro

13

O que não aparece em tudo que aparece é o que sempre se vela. A época não pode ser nunca determinada e deduzida de uma relação causal, funcional, linear e cronológica. O vigorar da época está na suspensão (e é isso o que significa a palavra época) do que não cessa de vigorar para tornar visível e presente o que se dá a ver, mas que para isso se retrai e vela.


- Manuel Antônio de Castro

14

"História do ser significa destino do ser - e nessas destinações tanto o destinar como o Se que destina se retém com a manifestação de si mesmo. Reter-se significa aqui em grego epoché. Por isso se fala de época do destino do ser. Época não significa aqui um lapso de tempo no acontecer, mas o traço fundamental do destinar, a constante retenção de si mesmo em favor da possibilidade de perceber o dom, isto é, o ser em vista da fundamentação do ente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: -----. Conferências e escritos filosóficos - Coleção Os pensadores. Trad., Introduções e Notas: Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 261.

15

"Para Heidegger, a ação humana não pode mudar a compreensão do ser que é vigente hoje, nem acelerar o advento de uma nova compreensão. Mas a preparação para este advento diz respeito a uma espera ativa. Nesta espera, a forma mais alta de ação é a de um pensar que se põe à escuta do sentido de nosso tempo. O entendimento ainda não é a escuta. A escuta é um entendimento que exige o esforço, a devoção, o recolhimento do pensamento" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 180.

16

"A história literária resulta, pois, das diferentes poéticas: poéticas das obras e poéticas das épocas. Estas não constituem um aglomerado caótico, mas as vicissitudes humanas, das quais a verdade e o sentido do ser são o seu destinar-se. "É no destino 'epocal' do Ser que se essencializa a história dos homens"(2)" (1)".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Edições Antares, 2. e., 1982, p. 140.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis (RJ): Vozes, 1977, p. 131.

17

"Refazer o itinerário de Aristóteles, com o afã de compreender a sua concepção antropológica nos é bastante pertinente, principalmente, se tomarmos como parâmetro a época atual. Época essa de crise em que o indivíduo não sabe mais o que pensar acerca de si nem do mundo, onde abundam antíteses e onde pensar através de dualismos, sem dúvida, tornou-se o caminho mais fácil" (1).


Referência:
(1) FRECHEIRAS, Marta Luzie de Oliveira. "Intencionalidade, memória e reminiscência em Aristóteles". In: Revista Tempo Brasileiro - Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164. Rio de Janeiro: jan.-mar. 2006, p. 38.

18

Uma época não é jamais uma demarcação de datas enquanto linearidade cronológica do tempo e enquanto progresso. Época jamais será uma questão de limite quantitativo. Esse valor inerente ao progresso é estranho ao destinar-se do sentido do Ser no acontecer das épocas e da dimensão ética de tudo, manifestando-se e constituindo o próprio do ser humano. Uma época é sempre um enigma de que as crises são o sintoma e que amadurecem numa dinâmica de diferenciação originária da própria realidade, na qual o ser humano em sua Essência se vê projetado.


- Manuel Antônio de Castro.

19

"Não importa se somos indígenas ou brancos, é tempo de a gente se juntar e unificar o pensamento. Vem aí a era da verdade, do amor, do equilíbrio, com a natureza ditando as regras. A solução não está fora, está dentro de nós" (1).


Referência:
(1) YAWANAWÁ, Putanny - Pajé. A cura do mundo é pela espiritualidade, e ela é coletiva. Entrevista a Maria Fortuna. In: O Globo. Segundo Caderno, Quarta-feira, 01-01-2020, p. 2.

20

"A época não é jamais algo geral que está aí para nos tomar e nos determinar. A época só é época enquanto acontecer poético. E todo acontecer é sempre acontecer do mesmo. A época é o mesmo acontecendo. É o humano se desdobrando poeticamente. Quando o humano acontece poeticamente, então o pensar do ser e seu sentido se dá. O ler poético aconteceu" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 283.

21

"Todo vigorar de época é uma dobra que não cessa de se desdobrar. Apreender e compreender o des-dobrar é deixar-se tomar pelo mesmo. Todo desdobrar é um vigorar do sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

22

"A época é uma dádiva do vazio, um entre céu e terra. E o que o vazio nos doa? O sentido poético, o ético da eks-sistência e de toda ação poética. No sentido ético-poético se manifesta o humano do ser humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

23

"Toda cultura resulta de uma conjuntura. Nela o homem se hominiza. Um famoso filme abordou essa situação de uma maneira admirável: 2001: uma odisseia no espaço, de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande época tem sua epopeia. e esta é, sem dúvida nenhuma, a epopeia da tematização, celebração e crítica angustiada da era da Técnica. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na linguagem cinematográfica. Nela, a epopeia reencontra o caráter essencial do narrar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. O acontecer poético - a história literária, 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.

24

"A leitura de qualquer época tem um grande perigo: reduzi-la a uma perspectiva, a uma tendência que se tornou importante e até decisiva para grandes transformações. Porém, há geralmente outras linhas de força que agem mais no silêncio e nunca chegam aos holofotes do que se torna um mundo dominante como aparente palco único da história. Nem por isso são menos importantes. Trazer para o questionamento essas diferentes linhas de força é a tarefa do pensamento. Vamos exemplificar com dois grandes autores da modernidade. Leibniz, filósofo. E Angelus Silesius, poeta. Notemos que vivem praticamente na mesma época e no mesmo país (Alemanha). E, no entanto, indicam linhas de força completamente opostas: o Ocidente metafísico e dual, o do fundamento. E o Ocidente poético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ocidente e Modernidade". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 17.

25

"Normalmente, um espírito vigoroso e profundo fala e tenta se fazer entender por meio de formas e transformações, que são sempre renovadas; assim, por exemplo, o espírito de Cristo se expressou de diversas maneiras, em diferentes épocas. Nos tempos em que a doutrina e a prédica arrefeceram e enfraqueceram, acaso ele não falou por meio de poetas, visionários e grandes músicos? E nos tempos em que a Igreja caiu em pecado e viu-se em decadência, ele falou por meio das obras de pintores, arquitetos e escultores" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Francisco de Assis. Trad. Kristina Michahelles. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1. e., 2019, p. 58.
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