Poético

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Admitir a [[polifonia]] é admitir [[visão]] e [[escuta]] em uma [[dinâmica]] de [[superposição]]. A textura [[histórica]] das [[artes]], ou não, reproduz a textura do modo de se dar o [[real]]. Em qualquer [[dimensão]], mas em especial na [[dimensão]] do [[poético]], o decisivo é que não há superação [[histórica]]. A rigor não se pode [[afirmar]] a superação de [[nada]] no âmbito do [[poético]]. O que numa primeira [[instância]] pode [[aparecer]] como superação, pode ser na [[verdade]] uma superposição em que alguma [[coisa]]] esteja momentaneamente oculta e não superada"(1).
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: "Admitir a polifonia é admitir [[visão]] e [[escuta]] em uma [[dinâmica]] de superposição. A textura [[histórica]] das [[artes]], ou não, reproduz a textura do modo de se dar o [[real]]. Em qualquer [[dimensão]], mas em especial na [[dimensão]] do [[poético]], o decisivo é que não há superação [[histórica]]. A rigor não se pode [[afirmar]] a superação de [[nada]] no âmbito do [[poético]]. O que numa primeira [[instância]] pode [[aparecer]] como superação, pode ser na [[verdade]] uma superposição em que alguma [[coisa]]] esteja momentaneamente oculta e não superada"(1).
: Referência:
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 112.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: vigência do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 112.'''
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== 2 ==
-
: O [[poético]] é a incessante reinvenção do [[cotidiano]]. Por isso o [[poético]] é a [[ação]] se fazendo [[linguagem]], o [[ser]] se dando, sendo [[tempo]], presenteando-se. O [[cotidiano]] não é o [[cronológico]] de um [[agora]]. É o [[presente]] do que não cessa de se [[inaugurar]]. E toda [[inauguração]] é [[sempre]] [[inauguração]] do [[mesmo]], o que é o contrário da [[repetição]] da mesma [[coisa]]. O [[mesmo]] é o [[poético]] vigorando. É o [[extraordinário]] do [[ordinário]], a face [[sempre]] nova da [[realidade]] na [[realização]] do [[instante]], porque o [[instante]] é o presentificar-se do que [[é]]. O [[poético]] [[é]]. É enquanto se pensa. E pensando-se dimensiona-se o [[político]] pelo [[ético]]. O [[político]] é o [[ético]] do [[poético]].
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: O [[poético]] é a incessante reinvenção do [[cotidiano]]. Por isso o [[poético]] é a [[ação]] se fazendo [[linguagem]], o [[ser]] se dando, sendo [[tempo]], presenteando-se. O [[cotidiano]] não é o [[cronológico]] de um [[agora]]. É o [[presente]] do que não cessa de se inaugurar. E toda inauguração é [[sempre]] inauguração do [[mesmo]], o que é o contrário da repetição da mesma [[coisa]]. O [[mesmo]] é o [[poético]] vigorando. É o [[extraordinário]] do [[ordinário]], a face [[sempre]] nova da [[realidade]] na [[realização]] do [[instante]], porque o [[instante]] é o presentificar-se do que [[é]]. O [[poético]] [[é]]. É enquanto se pensa. E pensando-se dimensiona-se o [[político]] pelo [[ético]]. O [[político]] é o [[ético]] do [[poético]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: O [[poético]], em termos de [[realidade]] e [[essência]] do [[humano]], é [[sempre]] o [[diferente]], sendo o [[nada]] criativo a sua [[identidade]]. Desse modo as [[novas]] grandes [[obras de arte]] [[operam]] num [[círculo]]  [[poético]].
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: O [[poético]], em termos de [[realidade]] e [[essência]] do [[humano]], é [[sempre]] o [[diferente]], sendo o [[nada]] criativo a sua [[identidade]]. Desse modo as novas grandes [[obras de arte]] operam num [[círculo]]  [[poético]].
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:Feitos por [[Cura]], temos que fazer de nossas pro-curas o [[cuidar]] [[poético]] do que somos e não somos. Mas só seremos radicalmente [[poéticos]] se ao [[cuidar]] do que nos é [[próprio]], este [[cuidar]] não for qualquer [[cuidar]], mas um [[cuidar]] [[poético]], onde o que o move como [[permanência]] e [[atualidade]] é o [[vigorar]] do [[amar]]. E há algo mais [[poético]], permanente e [[atual]] que o [[Amar]]?  Quando afirmamos que no [[princípio]] era a [[Poética]] queremos [[dizer]] e mostrar que no [[princípio]] era o [[amar]]: o [[ser humano]] consumando o que é.
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:Feitos por [[Cura]], temos que fazer de nossas pro-curas o [[cuidar]] [[poético]] do que somos e não somos. Mas só seremos radicalmente [[poéticos]] se ao [[cuidar]] do que nos é [[próprio]], este [[cuidar]] não for qualquer [[cuidar]], mas um [[cuidar]] [[poético]], onde o que o move como [[permanência]] e atualidade é o [[vigorar]] do [[amar]]. E há algo mais [[poético]], permanente e [[atual]] que o [[Amar]]?  Quando afirmamos que no [[princípio]] era a [[Poética]] queremos [[dizer]] e mostrar que no [[princípio]] era o [[amar]]: o [[ser humano]] consumando o que é.
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: A [[ideia]] de [[autor]] propalada desde a [[Modernidade]] é [[falha]] porque não se abre para o [[acontecer]] da [[realidade]], [[entendendo]] esta como o que [[vigora]]. Se a denominamos, [[sempre]] impropriamente, de [[imaginação]], [[silêncio]], [[vazio]], [[nada criativo]], é porque como [[finitos]] temos [[sempre]] de nos mover no [[limite]]. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela [[finitude]]. [[Criar]] [[mesmo]] nunca  criamos, não somos [[autores]] de [[nada]], mas [[acontece]] em nós o [[advir]] ao [[sentido]] a [[própria]] [[realidade]], o [[vazio]] de que nos fala o [[pensador]]. Mover-se na [[autoria]] é ainda ficar restrito à [[entificação]] [[subjetiva]]. Mas sem [[ser]] não há [[ente]]. Deve haver [[dialética]] [[entre]] [[língua]] e [[linguagem]], [[entre]] [[silêncio]] e [[fala]]. O oleiro faz a jarra com o que a [[realidade]] lhe oferece, mas quem lhe dá [[sentido]] e acolhimento é o [[vazio]]. O [[poético]] é isso e é [[essencialmente]] [[dialético]].
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: A [[ideia]] de [[autor]] propalada desde a [[Modernidade]] é falha porque não se abre para o [[acontecer]] da [[realidade]], entendendo esta como o que [[vigora]]. Se a denominamos, [[sempre]] impropriamente, de [[imaginação]], [[silêncio]], [[vazio]], [[nada criativo]], é porque como [[finitos]] temos [[sempre]] de nos mover no [[limite]]. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela [[finitude]]. [[Criar]] [[mesmo]] nunca  criamos, não somos [[autores]] de [[nada]], mas [[acontece]] em nós o advir ao [[sentido]] a [[própria]] [[realidade]], o [[vazio]] de que nos fala o [[pensador]]. Mover-se na autoria é ainda ficar restrito à [[entificação]] [[subjetiva]]. Mas sem [[ser]] não há [[ente]]. Deve haver [[dialética]] [[entre]] [[língua]] e [[linguagem]], [[entre]] [[silêncio]] e [[fala]]. O oleiro faz a jarra com o que a [[realidade]] lhe oferece, mas quem lhe dá [[sentido]] e acolhimento é o [[vazio]]. O [[poético]] é isso e é [[essencialmente]] [[dialético]].
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: O [[poético]] é a tentativa mais [[radical]] de livrar-se da [[terminologia]] [[metafísica]] atributiva e [[libertar]] cada vivente para a [[luz]] matinal do [[instante]] [[poético]] em que nos compreendemos já vivendo. O [[poético]] é a [[paixão]] de [[Viver]] e seu [[sentido]], [[sempre]] novo, [[sempre]] [[inaugural]], [[sempre]] desafiante, para ser experienciado e jamais reduzido a mero [[jogo retórico-expressivo de [[palavras]] midiáticas.  A mídia e seus meios expressivos são a [[metafísica]] atributiva da [[linguagem]]. Nela, [[linguagem]] se reduz a meio. Os lugares-comuns da [[língua]] e sua [[lógica]] coerente são o sepulcro [[metafísico]] da ''[[poiesis]]'', encoberto pelas camadas de cinza multi-seculares do jargão dominante da [[metafísica]] [[lógica]]. O [[poder]] [[verbal]] da [[palavra]] é a [[possibilidade]] de todo [[poético]] e o que ele implica [[sempre]] de [[inesperado]], porque ele é a [[verdade]] acontecendo enquanto [[desvelamento]] e [[velamento]], casa da [[linguagem]] e [[cuidado]] da [[concretização]] do [[humano]].
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: O [[poético]] é a tentativa mais [[radical]] de livrar-se da [[terminologia]] [[metafísica]] atributiva e [[libertar]] cada vivente para a [[luz]] matinal do [[instante]] [[poético]] em que nos compreendemos já vivendo. O [[poético]] é a [[paixão]] de [[Viver]] e seu [[sentido]], [[sempre]] novo, [[sempre]] [[inaugural]], [[sempre]] desafiante, para [[ser]] experienciado e jamais reduzido a mero [[jogo]] [[retórico]]-expressivo de [[palavras]] midiáticas.  A [[mídia]] e seus meios expressivos são a [[metafísica]] atributiva da [[linguagem]]. Nela, [[linguagem]] se reduz a [[meio]]. Os [[lugares-comuns]] da [[língua]] e sua [[lógica]] coerente são o sepulcro [[metafísico]] da ''[[poiesis]]'', encoberto pelas camadas de cinza multi-seculares do jargão dominante da [[metafísica]] [[lógica]]. O [[poder]] [[verbal]] da [[palavra]] é a [[possibilidade]] de todo [[poético]] e o que ele implica [[sempre]] de [[inesperado]], porque ele é a [[verdade]] acontecendo enquanto [[desvelamento]] e [[velamento]], casa da [[linguagem]] e [[cuidado]] da [[concretização]] do [[humano]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Época]] e [[tempo]] [[poético]]". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Época]] e [[tempo]] [[poético]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.'''
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: "E [Eduardo Portella] pensa em tempo integral para poder levar todo [[ser humano]] a [[pensar]], fazendo do [[educar]] um permanente [[ensaio]] de [[aprendizagem]] do [[pensar]], tarefa hoje cada vez mais difícil e rara, porque o midiático monta uma cena obscena, onde predomina o dispersivo, o  circunstancial, o ralo e passageiro da estesia da espetáculo [[estético]]. Nessa encenação  [[virtual]], o [[estético]] é mais importante do que o [[poético]], com a evidente perda do [[ético]]. Só o [[poético]], numa permanente [[ensaio]] de acerto e erro, de risco de perda e ganho, se funda no [[ético]]" (1).
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: "E Eduardo Portella [[pensa]] em [[tempo]] [[integral]] para [[poder]] levar [[todo]] [[ser humano]] a [[pensar]], fazendo do [[educar]] um permanente [[ensaio]] de [[aprendizagem]] do [[pensar]], tarefa hoje cada vez mais difícil e rara, porque o midiático monta uma cena obscena, onde predomina o dispersivo, o  [[circunstancial]], o ralo e [[passageiro]] da estesia da espetáculo [[estético]]. Nessa encenação  [[virtual]], o [[estético]] é mais importante do que o [[poético]], com a [[evidente]] perda do [[ético]]. Só o [[poético]], num permanente [[ensaio]] de acerto e [[erro]], de risco de perda e ganho, se funda no [[ético]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: '''Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos'''. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "Eduardo Portella, o [[professor]]". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.'''
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback.  In: -----. '''Ensaios e conferências'''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2001, p. 161.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "...poeticamente o [[homem]] habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback.  In: -----. [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2001, p. 161.'''
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: "Pois o '[[poético]]' parece pertencer, quanto ao seu [[valor]] [[poético]], ao reino da [[fantasia]]. O [[habitar]] [[poético]]  sobrevoa fantasticamente o [[real]]. O [[poeta]] faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o [[habitar]] [[poético]] é o [[habitar]] 'esta [[terra]]'. Assim, Hölderlin não somente protege o [[poético]] contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as [[palavras]] 'esta [[terra]]', remete para o [[vigor]] [[essencial]] da [[poesia]]. A [[poesia]] não sobrevoa e nem se eleva sobre a [[terra]] a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a [[poesia]] que traz o [[homem]] para a [[terra]], para ela, e assim o traz para um [[habitar]]" (1). Esta passagem do [[pensador]] [[Heidegger]] é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de [[ficção]], atribuída a toda [[literatura]]. É [[necessário]], certamente, repensar tanto a noção corrente de [[ficção]], bem como de [[fantasia]], quanto o que se entende por [[real]] e [[realidade]].
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: "Pois o '[[poético]]' parece pertencer, quanto ao seu [[valor]] [[poético]], ao reino da [[fantasia]]. O [[habitar]] [[poético]]  sobrevoa fantasticamente o [[real]]. O [[poeta]] faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o [[habitar]] [[poético]] é o [[habitar]] 'esta [[terra]]'. Assim, Hölderlin não somente protege o [[poético]] contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as [[palavras]] 'esta [[terra]]', remete para o [[vigor]] [[essencial]] da [[poesia]]. A [[poesia]] não sobrevoa e nem se eleva sobre a [[terra]] a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a [[poesia]] que traz o [[homem]] para a [[terra]], para ela, e assim o traz para um [[habitar]]" (1).  
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: Esta passagem do [[pensador]] [[Heidegger]] é extremamente importante, porque desfaz completamente a [[falsa]] [[noção]] de [[ficção]], atribuída a toda [[literatura]]. É [[necessário]], certamente, repensar tanto a [[noção]] corrente de [[ficção]], bem como de [[fantasia]], quanto o que se entende por [[real]] e [[realidade]].
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.  In: ------. ''Ensaios e conferências''. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "...[[poeticamente]] o [[homem]] [[habita]]...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.  In: ------. [[Ensaios]] e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.'''
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: "Na [[vida]], entretanto, não basta [[sentir]], é [[necessário]] [[ser]] o que se sente. Ao contrário, a [[poética]] [[é]] um [[enigma]] que se dá em uma [[dobra]]. O seu [[desdobrar-se]] é mais que [[estético]], algo somente preso às [[sensações]] ou [[percepções]], é [[poético]]. Só o [[poético]] vigora no e a partir da [[essência]] do [[agir]]. Eis aí a [[diferença]] [[radical]] [[entre]] [[estética]] e [[poética]]. A [[essência]] do [[agir]] vigora a partir do [[sentido]] do [[ser]] e acontece em nós quando nos abrimos para o [[operar]] do [[pensar]]" (1).
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: "Na [[vida]], entretanto, não basta [[sentir]], é [[necessário]] [[ser]] o que se sente. Ao contrário, a [[poética]] [[é]] um [[enigma]] que se dá em uma [[dobra]]. O seu [[desdobrar-se]] é mais que [[estético]], [[algo]] somente preso às [[sensações]] ou [[percepções]], é [[poético]]. Só o [[poético]] [[vigora]] no e a partir da [[essência]] do [[agir]]. Eis aí a [[diferença]] [[radical]] [[entre]] [[estética]] e [[poética]]. A [[essência]] do [[agir]] [[vigora]] a partir do [[sentido]] do [[ser]] e [[acontece]] em nós quando nos abrimos para o [[operar]] do [[pensar]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Liberdade]], [[vontade]] e uso de drogas”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 29.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Interdisciplinaridade]] [[poética]]: o [[entre]]". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: [[Interdisciplinaridade]]: [[dimensões]] [[poéticas]], 164, jan.-mar., 2006, p. 29.'''
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: "O [[poético]] diz sempre a [[essência]] do [[agir]], não mecânico, [[funcional]], mas [[realização]] no e pelo [[sentido]] da [[compreensão]] e [[compreensão]] do [[sentido]]. Por isso, ''[[poiesis]]'' diz a [[energia]] de [[sentido]] e [[compreensão]]" (1).
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: "O [[poético]] diz [[sempre]] a [[essência]] do [[agir]], não mecânico, [[funcional]], mas [[realização]] no e pelo [[sentido]] da [[compreensão]] e [[compreensão]] do [[sentido]]. Por isso, ''[[poiesis]]'' diz a [[energia]] de [[sentido]] e [[compreensão]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Época]] e [[tempo]] [[poético]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Liberdade]], [[vontade]] e uso de drogas". In: ----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.'''
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Qu'est-ce que la metaphysique". In: ''Questions I''. Paris: Gallimard, 1968, p. 83.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "Qu'est-ce que la metaphysique". In: Questions I. Paris: Gallimard, 1968, p. 83.'''
   
   
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.'''
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: "A [[ideia]] de [[verdade]] enquanto correção é [[moderna]]. Diga-se logo que todo grande [[escritor]] reinventa a [[língua]], pois esta é [[algo]] vivo, pulsante, em [[realização]] incessante. A [[gramática]] é a [[morte]] [[lógica]] e sistêmica da [[língua]] viva, [[poética]]. Tal ensino é muito bom para a [[comunicação]], algo [[formal]], [[funcional]], sistêmico, [[retórico]], [[sofístico]], prático. Claro, numa [[sociedade]] [[funcional]], [[retórica]] e utilitarista como a nossa isso se torna decisivo, pois torna seu detentor [[eficiente]], a [[palavra]] mágica para a boa [[instrução]]. Mas é aí justamente que morre e se enterra o [[poético]] por debaixo de camadas de cinza do [[falar]] empobrecedor [[comunicativo]]. Hoje a [[comunicação]] é a [[banalização]] da [[língua]] viva e [[poética]]" (1).
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: "A [[ideia]] de [[verdade]] enquanto correção é [[moderna]]. Diga-se logo que todo grande [[escritor]] reinventa a [[língua]], pois esta é [[algo]] vivo, pulsante, em [[realização]] incessante. A [[gramática]] é a [[morte]] [[lógica]] e sistêmica da [[língua]] viva, [[poética]]. Tal ensino é muito bom para a [[comunicação]], algo [[formal]], [[funcional]], sistêmico, [[retórico]], sofístico, prático. Claro, numa [[sociedade]] [[funcional]], [[retórica]] e utilitarista como a nossa isso se torna decisivo, pois torna seu detentor eficiente, a [[palavra]] mágica para a boa instrução. Mas é aí justamente que morre e se enterra o [[poético]] por debaixo de camadas de cinza do [[falar]] empobrecedor [[comunicativo]]. Hoje a [[comunicação]] é a [[banalização]] da [[língua]] viva e [[poética]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.'''
== 17 ==
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: "Qual é a [[essência]] da [[sabedoria]]? Ela estará [[radicalmente]] ligada ao [[poético]] e [[ético]] do [[humano]]. E este não pode [[ser]] ensinado, só experienciado. E isso as [[análises]] das [[obras de arte]] nunca podem conseguir. Nelas, destrói-se o [[poético]] e [[ético]] para se criar um [[conhecimento]] [[crítico]] [[objetivo]]-[[científico]], resultante da [[análise]] [[crítica]]. A [[medida]] do [[real]] para a [[ciência]] tornou-se o [[calculável]]. O [[cálculo]] [[racional]] é a [[medida]] da tecno-ciência. O [[humano]] é sem [[medida]] [[calculável]]. A sua [[medida]] é [[outra]]. A sua [[medida]] é o [[poético]]" (1).
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: "Qual é a [[essência]] da [[sabedoria]]? Ela estará [[radicalmente]] ligada ao [[poético]] e [[ético]] do [[humano]]. E este não pode [[ser]] ensinado, só experienciado. E isso as [[análises]] das [[obras de arte]] nunca podem conseguir. Nelas, destrói-se o [[poético]] e [[ético]] para se criar um [[conhecimento]] crítico [[objetivo]]-[[científico]], resultante da [[análise]] [[crítica]]. A [[medida]] do [[real]] para a [[ciência]] tornou-se o [[calculável]]. O [[cálculo]] [[racional]] é a [[medida]] da tecno-ciência. O [[humano]] é sem [[medida]] [[calculável]]. A sua [[medida]] é [[outra]]. A sua [[medida]] é o [[poético]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.'''
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: "... a [[ecologia]] como a [[casa]] da [[linguagem]] exige [[radicalmente]] o [[corpo]] [[Terra]]-[[Céu]]-[[Mundo]] [[originário]] de [[Eros]]. Isso é o [[poético]]. [[Eros]] [[é]] o [[poético]]. O [[poético]], sendo [[Eros]], é a [[energia]] que cinde, é a [[dor]] [[paixão]]. Por isso, a [[obra de arte]] é [[mundo]] porque é [[Eros]] e é [[Eros]] porque é [[mundo]]. Não podemos reduzir de modo algum a [[obra de arte]] a [[formas]] de [[linguagem]]. [[Obra de arte]] é [[corpo]]-[[mundo]] enquanto [[reunião]] das [[diferenças]] de [[Céu]] e [[Terra]], de [[Homem]] e [[Mulher]]" (1).
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: "... a [[ecologia]] como a [[casa]] da [[linguagem]] exige [[radicalmente]] o [[corpo]] [[Terra]]-[[Céu]]-[[Mundo]] [[originário]] de [[Eros]]. Isso é o [[poético]]. [[Eros]] [[é]] o [[poético]]. O [[poético]], sendo [[Eros]], é a [[energia]] que cinde, é a [[dor]] [[paixão]]. Por isso, a [[obra de arte]] é [[mundo]] porque é [[Eros]] e é [[Eros]] porque é [[mundo]]. Não podemos reduzir de modo algum a [[obra de arte]] a [[formas]] de [[linguagem]]. [[Obra de arte]] é [[corpo]]-[[mundo]] enquanto reunião das [[diferenças]] de [[Céu]] e [[Terra]], de [[Homem]] e [[Mulher]]" (1).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: '''Arte: corpo, mundo e terra'''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.'''

Edição atual tal como 20h20min de 10 de março de 2025

1

"Admitir a polifonia é admitir visão e escuta em uma dinâmica de superposição. A textura histórica das artes, ou não, reproduz a textura do modo de se dar o real. Em qualquer dimensão, mas em especial na dimensão do poético, o decisivo é que não há superação histórica. A rigor não se pode afirmar a superação de nada no âmbito do poético. O que numa primeira instância pode aparecer como superação, pode ser na verdade uma superposição em que alguma coisa] esteja momentaneamente oculta e não superada"(1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 112.

2

O poético é a incessante reinvenção do cotidiano. Por isso o poético é a ação se fazendo linguagem, o ser se dando, sendo tempo, presenteando-se. O cotidiano não é o cronológico de um agora. É o presente do que não cessa de se inaugurar. E toda inauguração é sempre inauguração do mesmo, o que é o contrário da repetição da mesma coisa. O mesmo é o poético vigorando. É o extraordinário do ordinário, a face sempre nova da realidade na realização do instante, porque o instante é o presentificar-se do que é. O poético é. É enquanto se pensa. E pensando-se dimensiona-se o político pelo ético. O político é o ético do poético.


- Manuel Antônio de Castro

3

O poético, em termos de realidade e essência do humano, é sempre o diferente, sendo o nada criativo a sua identidade. Desse modo as novas grandes obras de arte operam num círculo poético.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Feitos por Cura, temos que fazer de nossas pro-curas o cuidar poético do que somos e não somos. Mas só seremos radicalmente poéticos se ao cuidar do que nos é próprio, este cuidar não for qualquer cuidar, mas um cuidar poético, onde o que o move como permanência e atualidade é o vigorar do amar. E há algo mais poético, permanente e atual que o Amar? Quando afirmamos que no princípio era a Poética queremos dizer e mostrar que no princípio era o amar: o ser humano consumando o que é.


- Manuel Antônio de Castro

5

A ideia de autor propalada desde a Modernidade é falha porque não se abre para o acontecer da realidade, entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de imaginação, silêncio, vazio, nada criativo, é porque como finitos temos sempre de nos mover no limite. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela finitude. Criar mesmo nunca criamos, não somos autores de nada, mas acontece em nós o advir ao sentido a própria realidade, o vazio de que nos fala o pensador. Mover-se na autoria é ainda ficar restrito à entificação subjetiva. Mas sem ser não há ente. Deve haver dialética entre língua e linguagem, entre silêncio e fala. O oleiro faz a jarra com o que a realidade lhe oferece, mas quem lhe dá sentido e acolhimento é o vazio. O poético é isso e é essencialmente dialético.


- Manuel Antônio de Castro

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Então o poético consiste sempre no mergulho no que somos como projeto e destino enigmático de realização. Isso é o poético, onde o conhecer não se torna epistemológico, mas ontológico, porque o essencial não é conhecer pelo e para o estético, porém, chegar a ser o que se conhece.


- Manuel Antônio de Castro

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O poético é a tentativa mais radical de livrar-se da terminologia metafísica atributiva e libertar cada vivente para a luz matinal do instante poético em que nos compreendemos já vivendo. O poético é a paixão de Viver e seu sentido, sempre novo, sempre inaugural, sempre desafiante, para ser experienciado e jamais reduzido a mero jogo retórico-expressivo de palavras midiáticas. A mídia e seus meios expressivos são a metafísica atributiva da linguagem. Nela, linguagem se reduz a meio. Os lugares-comuns da língua e sua lógica coerente são o sepulcro metafísico da poiesis, encoberto pelas camadas de cinza multi-seculares do jargão dominante da metafísica lógica. O poder verbal da palavra é a possibilidade de todo poético e o que ele implica sempre de inesperado, porque ele é a verdade acontecendo enquanto desvelamento e velamento, casa da linguagem e cuidado da concretização do humano.


Manuel Antônio de Castro

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"O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poiesis diz a energia de sentido e compreensão" (1) .


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

9

"E Eduardo Portella pensa em tempo integral para poder levar todo ser humano a pensar, fazendo do educar um permanente ensaio de aprendizagem do pensar, tarefa hoje cada vez mais difícil e rara, porque o midiático monta uma cena obscena, onde predomina o dispersivo, o circunstancial, o ralo e passageiro da estesia da espetáculo estético. Nessa encenação virtual, o estético é mais importante do que o poético, com a evidente perda do ético. Só o poético, num permanente ensaio de acerto e erro, de risco de perda e ganho, se funda no ético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.

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"Com isso, deixamos de lado a representação corriqueira do que seja habitar. De acordo com essa representação, habitar continua sendo simplesmente um modo do comportamento humano, dentre tantos outros. Trabalhamos na cidade e habitamos fora. Empreendemos uma viagem e habitamos ora aqui, ora ali. Nesse sentido, habitar é sempre apenas a posse de um domicílio. Quando Hölderlin fala do habitar, ele vislumbra o traço fundamental da presença humana. Ele vê o "poético" a partir da relação com esse habitar, compreendido nesse modo vigoroso e essencial" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. In: -----. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2001, p. 161.

11

"Pois o 'poético' parece pertencer, quanto ao seu valor poético, ao reino da fantasia. O habitar poético sobrevoa fantasticamente o real. O poeta faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o habitar poético é o habitar 'esta terra'. Assim, Hölderlin não somente protege o poético contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as palavras 'esta terra', remete para o vigor essencial da poesia. A poesia não sobrevoa e nem se eleva sobre a terra a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a poesia que traz o homem para a terra, para ela, e assim o traz para um habitar" (1).
Esta passagem do pensador Heidegger é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de ficção, atribuída a toda literatura. É necessário, certamente, repensar tanto a noção corrente de ficção, bem como de fantasia, quanto o que se entende por real e realidade.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ------. Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.

12

"Na vida, entretanto, não basta sentir, é necessário ser o que se sente. Ao contrário, a poética é um enigma que se dá em uma dobra. O seu desdobrar-se é mais que estético, algo somente preso às sensações ou percepções, é poético. Só o poético vigora no e a partir da essência do agir. Eis aí a diferença radical entre estética e poética. A essência do agir vigora a partir do sentido do ser e acontece em nós quando nos abrimos para o operar do pensar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.

13

"Não é o eu ou o tu que funda o entre ou o logos, porque o logos, essencialmente, é entre-poético-ontológico. Também não há precedência de um sobre o outro, mas uma tensão concreta e poética vigorando no entre, esse entre de ser-humano (“on”) E ser (“einai”)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.

14

"O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poiesis diz a energia de sentido e compreensão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

15

"Só na dobra vigorante em todo ato, o sentido do ser, como sentido da linguagem, torna-se tanto mais poético quanto mais ético. Sendo o poético-ético o vigorar do ser ao dar-se como linguagem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.

16

O poético diz o ditar-doar do sagrado enquanto poiesis, isto é, doar instaurador e inaugural porque originário, o narrar inerente a toda saga. Sendo instaurador-originário é energia poética, isto é, o ser-se-dando como doar. O ser-se-dando enquanto doar é tempo e silêncio e memória e linguagem e realidade.


- Manuel Antônio de Castro.

17

"No poético, as línguas são o rito da Linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da Linguagem. Por isso, o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado. Martin Heidegger afirma: “O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado” (1). Nomear o sagrado eis o vigorar da palavra cantada" (2).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Qu'est-ce que la metaphysique". In: Questions I. Paris: Gallimard, 1968, p. 83.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

16

"A ideia de verdade enquanto correção é moderna. Diga-se logo que todo grande escritor reinventa a língua, pois esta é algo vivo, pulsante, em realização incessante. A gramática é a morte lógica e sistêmica da língua viva, poética. Tal ensino é muito bom para a comunicação, algo formal, funcional, sistêmico, retórico, sofístico, prático. Claro, numa sociedade funcional, retórica e utilitarista como a nossa isso se torna decisivo, pois torna seu detentor eficiente, a palavra mágica para a boa instrução. Mas é aí justamente que morre e se enterra o poético por debaixo de camadas de cinza do falar empobrecedor comunicativo. Hoje a comunicação é a banalização da língua viva e poética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.

17

"Qual é a essência da sabedoria? Ela estará radicalmente ligada ao poético e ético do humano. E este não pode ser ensinado, só experienciado. E isso as análises das obras de arte nunca podem conseguir. Nelas, destrói-se o poético e ético para se criar um conhecimento crítico objetivo-científico, resultante da análise crítica. A medida do real para a ciência tornou-se o calculável. O cálculo racional é a medida da tecno-ciência. O humano é sem medida calculável. A sua medida é outra. A sua medida é o poético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.

18

"... a ecologia como a casa da linguagem exige radicalmente o corpo Terra-Céu-Mundo originário de Eros. Isso é o poético. Eros é o poético. O poético, sendo Eros, é a energia que cinde, é a dor paixão. Por isso, a obra de arte é mundo porque é Eros e é Eros porque é mundo. Não podemos reduzir de modo algum a obra de arte a formas de linguagem. Obra de arte é corpo-mundo enquanto reunião das diferenças de Céu e Terra, de Homem e Mulher" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.
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