Questão
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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== 1 == | == 1 == | ||
- | : Há cinco questões básicas: ''phýsis'', tempo, [[linguagem]], [[memória]], história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido. Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'O que é uma [[coisa]]?' é válido para qualquer questão de [[filosofia]], que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em | + | : Há cinco [[questões]] básicas: ''[[phýsis]]'', [[tempo]], [[linguagem]], [[memória]], [[história]]. Não basta [[dizer]] que não sabemos o que são e que mantêm [[entre]] si uma [[referência]] [[fundamental]]. Não basta tomar o [[caminho]] do [[não-saber]] como [[possibilidade]] de todo [[saber]]. Não basta [[falar]] das [[experienciações]]. [[Tudo]] isso é válido. |
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+ | : Diz [[Heidegger]]: "O que se disse acerca do caráter [[histórico]] da [[questão]] 'O que é uma [[coisa]]?' é válido para qualquer [[questão]] de [[filosofia]], que colocamos hoje ou no [[futuro]], admitindo, certamente, que a [[filosofia]] é um [[questionar]] que se põe a si mesmo em [[questão]] e que, em consequência, se movimenta, [[sempre]] e em toda a parte em [[círculo]]" (1). | ||
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+ | : Para fugir da linearidade [[causal]] da [[historiografia]], do [[tempo]], da [[memória]] é [[necessário]] ter [[presente]], por exemplo, que quando se pergunta "O que é a [[história]]?", essa [[pergunta]] não se pode [[responder]] só através de dados historiográficos. A [[historiografia]] já pressupõe que de antemão se defina o seu [[objeto]] e o seu [[método]]. A [[historiografia]] nunca pergunta pelo [[isto]] que ela é. Quando pergunta, deixa de ser [[historiografia]] e passa a ser "[[filosofia]]". Por isso, a [[experiência]] da [[história]] como [[conhecimento]] e como [[experienciação]] do que é [[História]] são diferentes. Na [[História]] ([[experienciação]]) há um [[acontecer]]. Na [[historiografia]] há uma [[experiência]] como [[conhecimento]]. Aí já se inclui a ''[[phýsis]]'' (''res''/[[real]]) o [[tempo]], a [[linguagem]], a [[memória]]. | ||
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''O que é uma coisa? | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''O que é uma [[coisa]]? Lisboa: Edições 70, 1992, p. 54.''' |
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- | :"Como a [[palavra]] querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do | + | : "Como a [[palavra]] [[querer]], também as [[palavras]] [[questão]], [[questionar]] e [[questionamento]] vêm do [[verbo]] latino: ''quaerere''. ''Quaerere'' significa: empenhar-se na busca e na [[procura]] do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1). |
- | :Referência: | + | : Referência: |
- | :(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''[[Aprendendo]] a [[pensar]]. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.''' |
== 3 == | == 3 == | ||
- | : Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos [[agir]] logicamente porque já somos desde sempre [[questão]]. Enquanto o isto da [[essência]] do [[homem]], quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do | + | : Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos [[agir]] logicamente porque já somos desde [[sempre]] [[questão]]. Enquanto o isto da [[essência]] do [[homem]], quer [[dizer]], pelo simples [[fato]] de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do ''[[logos]]''. [[Questionar]] é [[pensar]]. |
+ | : "O [[pensamento]] con-suma a [[referência]] do [[Ser]] à [[Essência]] do [[homem]]. Não a produz nem a efetua. O [[pensamento]] apenas a restitui ao [[Ser]] como [[algo]] que lhe foi entregue pelo [[próprio]] [[Ser]]. Essa restituição consiste em que, no [[pensamento]], o [[ser]] se torna [[linguagem]]. A [[linguagem]] é a [[Casa]] do [[ser]]" (1). | ||
- | : - [[ | + | : A [[linguagem]] é o ''[[logos]]''. Como a [[questão]], não somos nós que temos a [[linguagem]], mas é a [[linguagem]] que nos tem, dando-nos o [[sentido]] de [[existir]]. A [[linguagem]] fala, não o [[homem]]. Só existimos porque vigoramos já desde [[sempre]] na [[linguagem]] e [[pensamento]]. Eis a [[diferença ontológica]]. |
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Carta sobre o [[humanismo]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 1967, p. 24. |
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Permanência]] e atualidade da [[Poética]]". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12'''. |
: '''Ver também:''' | : '''Ver também:''' | ||
- | : *[[Círculo]] | + | : * [[Círculo]] |
== 5 == | == 5 == | ||
- | : O [[querer]] de toda [[questão]] é o [[empenho]] em torno do [[penhor]] pelo qual o [[homem]] se empenha no seu [[agir]]. O [[agir]] (poiesis) é, portanto, a presentificação (sendo) do penhor nos empenhos do [[homem]], mas jamais pela decisão apenas do [[homem]]. Na [[ação]] [[humana]], o [[homem]] responde ao apelo de [[escuta]], [[espera]] e [[cuidado]]. Nisso consiste a [[questão]] e o [[questionar]]. | + | : O [[querer]] de toda [[questão]] é o [[empenho]] em torno do [[penhor]] pelo qual o [[homem]] se empenha no seu [[agir]]. O [[agir]] ([[poiesis]]) é, portanto, a presentificação (sendo) do penhor nos empenhos do [[homem]], mas jamais pela decisão apenas do [[homem]]. Na [[ação]] [[humana]], o [[homem]] responde ao apelo de [[escuta]], [[espera]] e [[cuidado]]. Nisso consiste a [[questão]] e o [[questionar]]. |
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== 7 == | == 7 == | ||
- | : Em verdade, [[pensar]] é deixar-se tomar pela [[questão]]. E as [[respostas]]? São [[respostas]], não são [[solução]]. Para a [[questão]] a [[resposta]] só é [[resposta]] se tiver a [[dimensão]] de recolocar a [[questão]] em novo [[horizonte]]. Por isso vale a pena [[perguntar]] e [[responder]]. [[Tudo]] e [[sempre]] se torna [[diferente]]. A [[resposta]] só se torna uma [[solução]] se a [[pergunta]] é originada numa [[teoria]] ou num [[conceito]]. Falamos então em [[problema]] e [[solução]]. Seja como for, | + | : Em verdade, [[pensar]] é deixar-se tomar pela [[questão]]. E as [[respostas]]? São [[respostas]], não são [[solução]]. Para a [[questão]] a [[resposta]] só é [[resposta]] se tiver a [[dimensão]] de recolocar a [[questão]] em novo [[horizonte]]. Por isso vale a pena [[perguntar]] e [[responder]]. [[Tudo]] e [[sempre]] se torna [[diferente]]. A [[resposta]] só se torna uma [[solução]] se a [[pergunta]] é originada numa [[teoria]] ou num [[conceito]]. Falamos então em [[problema]] e [[solução]]. Seja como for, toda [[teoria]] e toda [[solução]] é sempre [[provisória]]. A [[energia]] do [[tempo]] a [[tudo]] transforma, exigindo novas [[teorias]] e novas [[respostas]], no caso, soluções. |
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== 8 == | == 8 == | ||
- | : As questões como questões fazem parte de toda [[cultura]] e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o [[próprio]] de toda questão é ser [[simples]] e complexa. Dessa maneira as questões sempre podem aparecer em novas [[dimensões]] que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a questão, apenas a densifica. Em si as questões não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos [[finitos]], precisamos das [[respostas]] para ir abarcando cada vez mais a questão em toda a sua simplicidade e riqueza. O [[horizonte]] desta riqueza é o infinito. Esse é o desafio de toda [[obra de arte]]. E é por isso que toda obra de arte é um [[enigma]]. | + | : As [[questões]] como [[questões]] fazem parte de toda [[cultura]] e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações [[conceituais]]. Porém, o [[próprio]] de toda [[questão]] é [[ser]] [[simples]] e complexa. Dessa maneira as [[questões]] [[sempre]] podem aparecer em novas [[dimensões]] que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a [[questão]], apenas a densifica. Em si as [[questões]] não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos [[finitos]], precisamos das [[respostas]] para ir abarcando cada vez mais a [[questão]] em toda a sua [[simplicidade]] e riqueza. O [[horizonte]] desta riqueza é o [[infinito]]. Esse é o desafio de toda [[obra de arte]]. E é por isso que toda [[obra de arte]] é um [[enigma]]. |
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- | : "[[Cuidar]] e [[procurar]], enquanto [[querer]], devem ser o querer do que em nós já sempre vigora: o que somos. E o que somos essencialmente é questão. [[Viver]] em procura é deixar-se tomar pela questão. E, então, [[Cura]] e questão serão um e o mesmo. É que no querer da questão a cura se plenifica" (1). | + | : "[[Cuidar]] e [[procurar]], enquanto [[querer]], devem ser o [[querer]] do que em nós já sempre vigora: o que somos. E o que somos essencialmente é [[questão]]. [[Viver]] em [[procura]] é deixar-se tomar pela [[questão]]. E, então, [[Cura]] e [[questão]] serão um e o mesmo. É que no [[querer]] da [[questão]] a [[cura]] se plenifica" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: --------. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 233.''' |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: -----. | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "[[Aprender]] e [[Ensinar]]". In: -----. [[Aprendendo]] a [[pensar]]. Petrópolis R/J: Vozes, 1977, p. 45.''' |
== 12 == | == 12 == | ||
- | : "... o [[vocabulário]], em sua amplitude, tende num primeiro [[momento]] a manter uma [[tensão]] entre questões e [[conceitos]]. Os [[conceitos]] são o dito, as questões são o não-dizer de todo [[dizer]] vivo e pulsante. Os [[conceitos]] são [[representações]]. As questões são sempre [[presenças]] velantes, dissimulantes. Como aqueles tendem mais a se impor em detrimento da [[dinâmica]] das questões, eles imprimem ao [[mundo]] real o seu caráter abstrato e representacional. E acabam por circunscreverem um [[mundo]] [[abstrato]] em detrimento do [[mundo]] real, vivo, operante" (1). | + | : "... o [[vocabulário]], em sua amplitude, tende num primeiro [[momento]] a manter uma [[tensão]] entre [[questões]] e [[conceitos]]. Os [[conceitos]] são o dito, as [[questões]] são o não-dizer de todo [[dizer]] vivo e pulsante. Os [[conceitos]] são [[representações]]. As [[questões]] são [[sempre]] [[presenças]] velantes, dissimulantes. Como aqueles tendem mais a se impor em detrimento da [[dinâmica]] das [[questões]], eles imprimem ao [[mundo]] [[real]] o seu caráter [[abstrato]] e [[representacional]]. E acabam por circunscreverem um [[mundo]] [[abstrato]] em detrimento do [[mundo]] [[real]], vivo, operante" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Obra]] de [[arte]], [[vocabulário]] e [[mundo]]". In: ------------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 243.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' " [[Phýsis]] e [[humano]]: a [[arte]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 264.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Amar]] e [[Ser]]". In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 292.''' |
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- | : A [[questão]] se diferencia do [[conceito]] porque o [[querer]] de todo [[questionar]] consiste no “[[empenhar-se]] na [[procura]] do que não se tem por já se [[ter]] e para se vir a [[ter]]” (Leão: 1977: 44) (1). No [[empenho]] de [[viver]] [[existindo]], vive-se a primeira de todas as [[questões]]. Primeira diz aí não o [[cronológico]] nem o [[epistemológico]] e [[funcional]], mas o [[ontológico]]. Todo [[querer]] desdobra-se num [[caminho]] que é aquele que nos conduz para nós [[mesmos]], para o que nos é mais próximo: o [[princípio]]. | + | : A [[questão]] se diferencia do [[conceito]] porque o [[querer]] de todo [[questionar]] consiste no “[[empenhar-se]] na [[procura]] do que não se tem por já se [[ter]] e para se vir a [[ter]]” (Leão: 1977: 44) (1). |
+ | : No [[empenho]] de [[viver]] [[existindo]], vive-se a primeira de todas as [[questões]]. Primeira diz aí não o [[cronológico]] nem o [[epistemológico]] e [[funcional]], mas o [[ontológico]]. Todo [[querer]] desdobra-se num [[caminho]] que é aquele que nos conduz para nós [[mesmos]], para o que nos é mais próximo: o [[princípio]]. | ||
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- | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "[[Aprender]] e [[Ensinar]]". In: ---. [[Aprendendo]] a [[pensar]]. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.''' | |
- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: | + | |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.''' |
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== 18 == | == 18 == | ||
- | : "As [[questões]] não dependem do [[pensador]]. Não é ele que tem ou não tem as [[questões]]. As [[questões]] é que nos têm. Nós, cada um de nós é uma [[doação]] das [[questões]]. Elas constituem o que nos é [[próprio]], porém, para serem [[apropriadas]] exigem uma dura e assídua [[experienciação]]. A sua frequentação cotidiana se torna uma [[verdadeira]] [[ascese]] de [[renúncia]], onde a [[renúncia]] não tira, dá. Dá o quê? O que nos [[é]] [[próprio]], o que somos. A [[doação]] da [[renúncia]] surge como um | + | : "As [[questões]] não dependem do [[pensador]]. Não é ele que tem ou não tem as [[questões]]. As [[questões]] é que nos têm. Nós, cada um de nós é uma [[doação]] das [[questões]]. Elas constituem o que nos é [[próprio]], porém, para serem [[apropriadas]] exigem uma dura e assídua [[experienciação]]. A sua frequentação cotidiana se torna uma [[verdadeira]] [[ascese]] de [[renúncia]], onde a [[renúncia]] não tira, dá. Dá o quê? O que nos [[é]] [[próprio]], o que somos. A [[doação]] da [[renúncia]] surge como um anunciar novamente (re-núncia) de modo [[originário]], ou seja, nos envia ao [[destino]], ao que nos é [[próprio]]" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 14.''' |
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]. | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio não publicado. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''' "[[Espelho]]: o perigoso [[caminho]] do [[auto]]-[[diálogo]]". [[Ensaio]] não publicado.''' |
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== 21 == | == 21 == | ||
- | : "Só podemos [[perguntar]] porque já [[vigoramos]] no [[ser]], na [[memória]] do [[sentido do ser]]. É que o [[ser]], a [[memória]] ou [[sentido do ser]], é [[questão]]. É que a [[questão]] não é apenas [[saber]] e [[não-saber]], [[ser]] e [[não-ser]], ela é também a [[unidade]] de [[saber]] e [[ser]], de [[não-saber]] e [[não-ser]]. E só por ser [[unidade]] é que a [[questão]] pode | + | : "Só podemos [[perguntar]] porque já [[vigoramos]] no [[ser]], na [[memória]] do [[sentido do ser]]. É que o [[ser]], a [[memória]] ou [[sentido do ser]], é [[questão]]. É que a [[questão]] não é apenas [[saber]] e [[não-saber]], [[ser]] e [[não-ser]], ela é também a [[unidade]] de [[saber]] e [[ser]], de [[não-saber]] e [[não-ser]]. E só por ser [[unidade]] é que a [[questão]] pode advir à [[pergunta]]. Advir à [[pergunta]] [[é]] advir à [[linguagem]], a partir da [[memória]]. [[Memória]] é [[unidade]] e sendo [[unidade]] [[é]] [[linguagem]]. [[Linguagem]], enquanto [[unidade]], não é, em primeira [[instância]], [[fala]] ou elocução. Só se [[fala]] na e a partir da [[linguagem]]. Então podemos [[dizer]] que a quarta [[dimensão]] do [[tempo]] é a [[memória]], e esta é a [[unidade]] do [[tempo]] enquanto o [[tempo]] se faz [[linguagem]]. [[É]]. O [[tempo]] [[é]] já [[diz]], [[originariamente]], [[linguagem]], [[unidade]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''[[Espelho]]: o perigoso [[caminho]] do [[auto]]-diálogo". [[Ensaio]] ainda não publicado.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "A gota d’[[água]] e o [[mar]]". In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 243.''' |
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== 23 == | == 23 == | ||
- | : "Para a [[questão]], a [[resposta]] só é [[resposta]] se tiver a [[dimensão]] de | + | : "Para a [[questão]], a [[resposta]] só é [[resposta]] se tiver a [[dimensão]] de recolocar a [[questão]] em novo [[horizonte]]. Por isso, é imprescindível [[perguntar]] e [[responder]]. [[Tudo]] e [[sempre]] se torna [[diferente]]" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "A gota d’[[água]] e o [[mar]]". In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 246.''' |
== 24 == | == 24 == | ||
- | : As [[questões]] como [[questões]] fazem parte de toda [[cultura]] e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o [[próprio]] de toda [[questão]] é ser [[simples]] e | + | : As [[questões]] como [[questões]] fazem parte de toda [[cultura]] e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o [[próprio]] de toda [[questão]] é ser [[simples]] e complexa ao mesmo tempo. Dessa maneira as [[questões]] sempre podem [[aparecer]] em novas [[dimensões]] que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a [[questão]], apenas a densifica. Em si as [[questões]] não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos [[finitos]], precisamos das [[respostas]] para ir abarcando cada vez mais a [[questão]] em toda a sua [[simplicidade]] e riqueza. O [[horizonte]] desta riqueza é o [[infinito]]. Esse é o [[desafio]] de toda [[obra de arte]]. Por isso toda [[obra de arte]] é um [[enigma]]. |
: - [[Manuel Antônio de Castro]]. | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | == 25 == | ||
+ | : "O [[saber]] acerca daquilo que “[[é]]”, já conquistado no exercício [[atual]] de [[perguntar]] ou de [[saber]], é [[sempre]] de novo ultrapassado por [[impulso]] do [[ser]] e do nosso [[pré-saber]] do [[ser ilimitado]]. O [[saber]] do [[sentido do ser]], portanto, nunca é definitivamente fixável em [[conceito]], mas está sempre em [[movimento]] de [[transcendência]] sobre si [[mesmo]], ou seja, está [[sempre]] em [[tensão]] de [[analogia]], na [[tensão]] [[entre]] o [[finito]] daquilo que já atinge e o [[infinito]] por atingir e o qual pré-capto sem nunca abraçá-lo em [[plenitude]]" (1). | ||
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+ | : Se no [[lugar]] de [[conceito]] passarmos a nos referir a [[questão]], notaremos que esta jamais se extingue, [[sempre]] há novos aspectos a [[saber]] ou [[conhecer]] e a [[tematizar]], indefinidamente, mas aquilo que já sabemos da [[questão]] não é [[falso]]. Ou seja, todo o nosso [[saber]] de determinada [[questão]], aquilo que já [[tematizamos]], se torna um [[saber]] [[análogo]]. Eis toda a [[dinâmica]] da [[analogia]], porque nela o que está em [[questão]] é o [[sentido do ser]], sempre dinâmico e [[infinito]]. | ||
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+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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+ | : Referência: | ||
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+ | : (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio. '''[[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.''' | ||
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+ | == 26 == | ||
+ | : "Toda [[questão]] só se dá como [[questão]] na medida em que se torna para o [[ser humano]] uma [[experienciação]] [[radical]]" (1). | ||
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+ | |||
+ | : Referência bibliográfica: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Midas]] da [[morte]] ou do [[ser]] [[feliz]]". In: -------. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 192.''' | ||
+ | |||
+ | == 27 == | ||
+ | : "A emergência do [[homem]] e o âmbito de sua atuação e de seu [[lugar]] dentro do [[real]] – e o [[enigma]] do seu [[destino]] – são as [[questões]] que perpassam todas as [[culturas]] em todos os [[tempos]] e suas [[obras de arte]]. Note-se que a [[arte]], na maioria das [[culturas]], sempre esteve ligada ao [[sagrado]] e que seria, por isso mesmo, estranha aos respectivos [[contextos]] qualquer ligação com processos econômico-comerciais. E do [[enigma]] que é o [[sagrado]] lhe advêm todas as grandes [[questões]]" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.''' | ||
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+ | == 28 == | ||
+ | : "[[Édipo]] decifrou o [[enigma]]? Noutras palavras: Algum de nós já decifrou o [[enigma]]? Não. O [[mito do homem]] não é a [[resposta]] para o [[mito do real]]. Até é, mas só na medida em que recoloca sempre o [[mito do real]], pois o [[real]] como [[questão]] é que nos tem e dimensiona. Toda [[resposta]] a qualquer [[questão]] será [[sempre]] ambígua. Toda [[questão]] se articula [[sempre]] em torno de duas [[dimensões]]: 1ª. o [[querer]] como [[vontade]]; 2ª. o [[querer]] como [[saber]]. O [[sujeito]] do [[querer]] como [[destino]] não é o [[ser humano]]. O [[sujeito]] é o [[real]], o próprio [[enigma]], e não o [[homem]] (como [[Édipo]] afirma equivocadamente em sua [[resposta]])" (1). | ||
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+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 27.''' | ||
+ | |||
+ | == 29 == | ||
+ | : "... [[questão]] não é [[problema]]. O [[problema]] se resolve, se acha uma solução para ele. Por isso os [[problemas]] aparecem e desaparecem. As [[questões]] não, elas nos frequentam permanentemente: são nosso oxigênio" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 37.''' | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 31.''' |
Edição atual tal como 20h43min de 26 de Abril de 2025
1
- Há cinco questões básicas: phýsis, tempo, linguagem, memória, história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido.
- Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'O que é uma coisa?' é válido para qualquer questão de filosofia, que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em consequência, se movimenta, sempre e em toda a parte em círculo" (1).
- Para fugir da linearidade causal da historiografia, do tempo, da memória é necessário ter presente, por exemplo, que quando se pergunta "O que é a história?", essa pergunta não se pode responder só através de dados historiográficos. A historiografia já pressupõe que de antemão se defina o seu objeto e o seu método. A historiografia nunca pergunta pelo isto que ela é. Quando pergunta, deixa de ser historiografia e passa a ser "filosofia". Por isso, a experiência da história como conhecimento e como experienciação do que é História são diferentes. Na História (experienciação) há um acontecer. Na historiografia há uma experiência como conhecimento. Aí já se inclui a phýsis (res/real) o tempo, a linguagem, a memória.
- Referência:
2
- "Como a palavra querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do verbo latino: quaerere. Quaerere significa: empenhar-se na busca e na procura do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.
3
- Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos agir logicamente porque já somos desde sempre questão. Enquanto o isto da essência do homem, quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do logos. Questionar é pensar.
- "O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que, no pensamento, o ser se torna linguagem. A linguagem é a Casa do ser" (1).
- A linguagem é o logos. Como a questão, não somos nós que temos a linguagem, mas é a linguagem que nos tem, dando-nos o sentido de existir. A linguagem fala, não o homem. Só existimos porque vigoramos já desde sempre na linguagem e pensamento. Eis a diferença ontológica.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.
4
- "Ao doar-se da physis, da realidade, no homem enquanto mito, poesia, pensamento, filosofia e o místico enquanto mistério, é o que denominamos questões. Não é o homem que tem as questões, são estas que têm e constituem o homem. Ao narrar mitos e ao escreverem-se obras poéticas, nelas e por elas as questões se tornam obras-questões-mitos do real no homem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12.
- Ver também:
- * Círculo
5
- O querer de toda questão é o empenho em torno do penhor pelo qual o homem se empenha no seu agir. O agir (poiesis) é, portanto, a presentificação (sendo) do penhor nos empenhos do homem, mas jamais pela decisão apenas do homem. Na ação humana, o homem responde ao apelo de escuta, espera e cuidado. Nisso consiste a questão e o questionar.
- Ver também:
6
- A realidade, o nada criativo, é um enigma que permeia o labirinto em que a verdade poética acontece. É o que denominamos questão. A travessia é a questão acontecendo como caminho e caminhada no labirinto que é a realidade em seu acontecer permanente.
7
- Em verdade, pensar é deixar-se tomar pela questão. E as respostas? São respostas, não são solução. Para a questão a resposta só é resposta se tiver a dimensão de recolocar a questão em novo horizonte. Por isso vale a pena perguntar e responder. Tudo e sempre se torna diferente. A resposta só se torna uma solução se a pergunta é originada numa teoria ou num conceito. Falamos então em problema e solução. Seja como for, toda teoria e toda solução é sempre provisória. A energia do tempo a tudo transforma, exigindo novas teorias e novas respostas, no caso, soluções.
8
- As questões como questões fazem parte de toda cultura e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o próprio de toda questão é ser simples e complexa. Dessa maneira as questões sempre podem aparecer em novas dimensões que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a questão, apenas a densifica. Em si as questões não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos finitos, precisamos das respostas para ir abarcando cada vez mais a questão em toda a sua simplicidade e riqueza. O horizonte desta riqueza é o infinito. Esse é o desafio de toda obra de arte. E é por isso que toda obra de arte é um enigma.
9
- Na realidade, a questão é sempre a mesma, isto não quer dizer que seja sempre a mesma coisa, pois ela acontece na dialética de pergunta e resposta, de não saber e saber, sempre em aberto, impossível de se fechar, de terminar. Por isso somos históricos.
- Tudo muda quando a questão se torna problema. Todo problema é localizado, o que pressupõe também uma resposta localizada. A palavra problema diz exatamente isso: o colocar para diante algo, que se re-solve na resposta. Um problema pode ter uma solução, a questão jamais. Na questão a resposta nada mais é, quando é resposta, do que uma maneira de re-colocar a questão.
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- "Cuidar e procurar, enquanto querer, devem ser o querer do que em nós já sempre vigora: o que somos. E o que somos essencialmente é questão. Viver em procura é deixar-se tomar pela questão. E, então, Cura e questão serão um e o mesmo. É que no querer da questão a cura se plenifica" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 233.
11
- "Que a existência é o penhor de todo empenho e desempenho, é a questão de todas as questões verdadeiras, isto é, daqueles que, ao questionarem qualquer coisa, se colocam a si mesmos em questão. É a questão que sempre, sabendo ou sem saber, se questiona em toda questão. Nenhum questionamento, nenhum problema teórico ou prático, racional ou emocional, natural ou cultural, se compreende a si mesmo se não se compreender a questão de todas as questões, isto é, se não questioná-la" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: -----. Aprendendo a pensar. Petrópolis R/J: Vozes, 1977, p. 45.
12
- "... o vocabulário, em sua amplitude, tende num primeiro momento a manter uma tensão entre questões e conceitos. Os conceitos são o dito, as questões são o não-dizer de todo dizer vivo e pulsante. Os conceitos são representações. As questões são sempre presenças velantes, dissimulantes. Como aqueles tendem mais a se impor em detrimento da dinâmica das questões, eles imprimem ao mundo real o seu caráter abstrato e representacional. E acabam por circunscreverem um mundo abstrato em detrimento do mundo real, vivo, operante" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 243.
13
- É que a realidade, o nada criativo, é um enigma que permeia o labirinto em que a verdade poética acontece, desvelando a realidade em mundo e velando-se como enigma, mistério. É o que denominamos questão.
14
- "As questões não são culturais nem históricas e nem dependem do agir do ser humano. Pelo contrário, este é que depende delas, porque elas são a própria phýsis se doando nele. Portanto, as questões não somos nós que as podemos ter ou não" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.
15
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.
16
- A questão se diferencia do conceito porque o querer de todo questionar consiste no “empenhar-se na procura do que não se tem por já se ter e para se vir a ter” (Leão: 1977: 44) (1).
- No empenho de viver existindo, vive-se a primeira de todas as questões. Primeira diz aí não o cronológico nem o epistemológico e funcional, mas o ontológico. Todo querer desdobra-se num caminho que é aquele que nos conduz para nós mesmos, para o que nos é mais próximo: o princípio.
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ---. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.
17
- "Questão vem do verbo latino quaerere, através do particípio: quaestum. Significa fundamentalmente: procurar; desejar; indagar, pensar, examinar; perguntar. O verbo como tal traz em si o aspecto desiderativo, logo, ligado ao cuidado, à “Cura”, como se faz presente no mito de Cura" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.
18
- "As questões não dependem do pensador. Não é ele que tem ou não tem as questões. As questões é que nos têm. Nós, cada um de nós é uma doação das questões. Elas constituem o que nos é próprio, porém, para serem apropriadas exigem uma dura e assídua experienciação. A sua frequentação cotidiana se torna uma verdadeira ascese de renúncia, onde a renúncia não tira, dá. Dá o quê? O que nos é próprio, o que somos. A doação da renúncia surge como um anunciar novamente (re-núncia) de modo originário, ou seja, nos envia ao destino, ao que nos é próprio" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 14.
19
- Toda questão é paradoxal. Todo conceito é racional e objetivo. A questão precisa do conceito assim como o ilimitado precisa do limite. Porém, tanto o conceito quanto o limite não subsistem sem a questão e o ilimitado. É aqui que acontece o paradoxo. Por isso ele surge da questão porque a vida do ser humano só é paradoxal porque é uma doação das questões.
20
- "Toda questão é e não é, sabe e não sabe. Acontece que a questão não é algo que a consciência põe. Pelo contrário, nós somos postos na e pela questão, pois já vivemos e nascemos, amamos e morremos, e nos movemos na questão como unidade e vigorar de tudo que é e se sabe, se dá e se retrai, enquanto linguagem, isto é, sentido do ser. A questão não é posta pela pergunta do eu, do sujeito. O eu é que é posto pela questão. Por exemplo, para perguntar, já tenho que estar vivendo, me experienciando no vigorar do tempo" (1).
- Referência:
21
- "Só podemos perguntar porque já vigoramos no ser, na memória do sentido do ser. É que o ser, a memória ou sentido do ser, é questão. É que a questão não é apenas saber e não-saber, ser e não-ser, ela é também a unidade de saber e ser, de não-saber e não-ser. E só por ser unidade é que a questão pode advir à pergunta. Advir à pergunta é advir à linguagem, a partir da memória. Memória é unidade e sendo unidade é linguagem. Linguagem, enquanto unidade, não é, em primeira instância, fala ou elocução. Só se fala na e a partir da linguagem. Então podemos dizer que a quarta dimensão do tempo é a memória, e esta é a unidade do tempo enquanto o tempo se faz linguagem. É. O tempo é já diz, originariamente, linguagem, unidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio ainda não publicado.
22
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 243.
23
- "Para a questão, a resposta só é resposta se tiver a dimensão de recolocar a questão em novo horizonte. Por isso, é imprescindível perguntar e responder. Tudo e sempre se torna diferente" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.
24
- As questões como questões fazem parte de toda cultura e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o próprio de toda questão é ser simples e complexa ao mesmo tempo. Dessa maneira as questões sempre podem aparecer em novas dimensões que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a questão, apenas a densifica. Em si as questões não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos finitos, precisamos das respostas para ir abarcando cada vez mais a questão em toda a sua simplicidade e riqueza. O horizonte desta riqueza é o infinito. Esse é o desafio de toda obra de arte. Por isso toda obra de arte é um enigma.
25
- "O saber acerca daquilo que “é”, já conquistado no exercício atual de perguntar ou de saber, é sempre de novo ultrapassado por impulso do ser e do nosso pré-saber do ser ilimitado. O saber do sentido do ser, portanto, nunca é definitivamente fixável em conceito, mas está sempre em movimento de transcendência sobre si mesmo, ou seja, está sempre em tensão de analogia, na tensão entre o finito daquilo que já atinge e o infinito por atingir e o qual pré-capto sem nunca abraçá-lo em plenitude" (1).
- Se no lugar de conceito passarmos a nos referir a questão, notaremos que esta jamais se extingue, sempre há novos aspectos a saber ou conhecer e a tematizar, indefinidamente, mas aquilo que já sabemos da questão não é falso. Ou seja, todo o nosso saber de determinada questão, aquilo que já tematizamos, se torna um saber análogo. Eis toda a dinâmica da analogia, porque nela o que está em questão é o sentido do ser, sempre dinâmico e infinito.
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.
26
- "Toda questão só se dá como questão na medida em que se torna para o ser humano uma experienciação radical" (1).
- Referência bibliográfica:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 192.
27
- "A emergência do homem e o âmbito de sua atuação e de seu lugar dentro do real – e o enigma do seu destino – são as questões que perpassam todas as culturas em todos os tempos e suas obras de arte. Note-se que a arte, na maioria das culturas, sempre esteve ligada ao sagrado e que seria, por isso mesmo, estranha aos respectivos contextos qualquer ligação com processos econômico-comerciais. E do enigma que é o sagrado lhe advêm todas as grandes questões" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.
28
- "Édipo decifrou o enigma? Noutras palavras: Algum de nós já decifrou o enigma? Não. O mito do homem não é a resposta para o mito do real. Até é, mas só na medida em que recoloca sempre o mito do real, pois o real como questão é que nos tem e dimensiona. Toda resposta a qualquer questão será sempre ambígua. Toda questão se articula sempre em torno de duas dimensões: 1ª. o querer como vontade; 2ª. o querer como saber. O sujeito do querer como destino não é o ser humano. O sujeito é o real, o próprio enigma, e não o homem (como Édipo afirma equivocadamente em sua resposta)" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 27.
29
- "... questão não é problema. O problema se resolve, se acha uma solução para ele. Por isso os problemas aparecem e desaparecem. As questões não, elas nos frequentam permanentemente: são nosso oxigênio" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 37.
30
- "Só o homem pode escravizar o homem. A poético-ecologia tem que se centralizar na verdade do homem. Mas qual é a verdade do homem? Édipo, o homem, não solucionou os enigmas. O homem não é a resposta para os enigmas das questões. As questões são maiores do que o homem. A poético-ecologia é o deixar-se tomar pelas questões. E o que faz Édipo? Será que nós temos a mesma coragem para fazer o que ele fez? Ele deixou-se tomar pela questão" (1).
- Referência: