Método

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "O meu propósito não consiste aqui em [[ensino|ensinar]] o método que cada um deve seguir para bem dirigir a [[razão]], mas sim mostrar apenas de que modo consegui dirigir a minha... Logo que terminei o curso de estudos com que é costume ser-se recebido na classe dos doutos, mudei inteiramente de [[opinião]], pois vi-me tão embaraçado com dúvidas e [[erro|erros]] que me pareceu não ter obtido outro proveito, ao tratar de me instruir, senão [[descobrir]] cada vez mais a minha ignorância" (1).  
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: "O [[caminho]] sempre pressupõe duas margens e um [[entre]]”. A este “[[entre]]” das margens os [[gregos]] denominaram: ''meta'': que significa “através de, [[entre]]”. ''[[Hodos]]'' significa [[caminho]]. Daqui se origina a [[palavra]] portuguesa [[método]]. Este pressupõe um [[caminho]] que se dá através do “[[entre]]”. O “''[[deus]]''” dos [[caminhos]], da [[verdade]], da ambiguidade, das encruzilhadas, os [[gregos]] tematizaram no [[mito]] de [[Hermes]]. Como mediador, é a [[imagem-questão]] do [[ser humano]], enquanto se realiza percorrendo o [[caminho]] do que [[é]]. De [[Hermes]] se formou, em [[grego]], o [[substantivo]] ''[[hermeneuia]]''. Os latinos a traduziram como: [[interpretação]]" (1).
: Referência:
: Referência:
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: (1) KIERKEGAARD, Sören. ''Temor e tremor''. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 20.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 204.
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: '''Ver também:'''
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: *[[Errância]]
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: Emmanuel Carneiro Leão precisa bem o conteúdo do método enquanto [[metodologia]], em seu livro ''Aprendendo a Pensar II'': "É necessário ter bem claro o [[objetivo]] deste fazer específico que é investigar. O objetivo estabelecido no tema determina o método, isto é, o conjunto das decisões sobre o [[caminho]] a seguir, o nível e registro a tomar, os recursos e meios a empregar, o grau e o como fazer. Decide, sobretudo, do necessário para a [[viagem]] chegar ao fim e atingir o objetivo. Pois desta definição prévia depende tudo: quem investiga, para quê, o quê, como e onde investigar!" (1).
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: Emmanuel Carneiro Leão precisa bem o [[conteúdo]] do [[método]] enquanto [[metodologia]], em seu livro ''Aprendendo a Pensar II'': "É [[necessário]] ter bem claro o [[objetivo]] deste fazer específico que é [[investigar]]. O [[objetivo]] estabelecido no [[tema]] determina o [[método]], isto é, o [[conjunto]] das [[decisões]] sobre o [[caminho]] a seguir, o nível e registro a tomar, os recursos e meios a empregar, o grau e o como [[fazer]]. Decide, sobretudo, do [[necessário]] para a [[viagem]] chegar ao [[fim]] e atingir o [[objetivo]]. Pois desta [[definição]] prévia depende [[tudo]]: quem investiga, para quê, o quê, como e onde [[investigar]]!" (1).
: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 164.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto". In: ...... . ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 164.
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: '''Ver também:'''
: '''Ver também:'''
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: *[[Provar]]
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: * [[Provar]]
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: A questão do [[método]] tem muitos caminhos, mas para uma [[hermenêutica]] [[ontologia|ontológica]], ele passa necessariamente pela "questão que é digna de ser pensada", pela “questão do [[pensamento]]”. Em relação ao método, diz Ernildo Stein na “Nota do Tradutor”: “Não discutiremos aqui até que ponto Heidegger terá razão quando critica e procura superar Hegel e Husserl. É, sem dúvida, simplificação resumir a filosofia de ambos na [[subjetividade]] e, consequentemente, na questão do método; como também é impossível pensar em separar, na 'questão do pensamento', método e [[questão]]” (1). Ora, Heidegger não separa método e questão, apenas não fica preso às formulações metodológicas de ambos, que acabam por configurar seu pensamento, mas Heidegger pensa o método já dentro da questão, ao pensar o [[círculo]] da circularidade perfeita, nas trilhas do [[pensador]] Heráclito. Não se pode entender método em seu aspecto formal. Por isso, Heidegger fala muito em caminho e o caminho nunca está desligado da questão. Ver como exemplo o ensaio “O caminho do campo” (2). Esta questão do método também é fundamental para a questão da arte.
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: A [[questão]] do [[método]] tem muitos [[caminhos]], mas para uma [[hermenêutica]] [[ontologia|ontológica]], ele passa necessariamente pela "[[questão]] que é digna de [[ser]] [[pensada]]", pela “questão do [[pensamento]]”. Em [[relação]] ao [[método]], diz Ernildo Stein na “Nota do Tradutor”: “Não discutiremos aqui até que ponto [[Heidegger]] terá [[razão]] quando critica e [[procura]] superar Hegel e Husserl. É, sem dúvida, simplificação resumir a [[filosofia]] de ambos na [[subjetividade]] e, consequentemente, na [[questão]] do [[método]]; como também é [[impossível]] [[pensar]] em separar, na '[[questão]] do [[pensamento]]', [[método]] e [[questão]]” (1). Ora, [[Heidegger]] não separa [[método]] e [[questão]], apenas não fica preso às formulações [[metodológicas]] de ambos, que acabam por configurar seu [[pensamento]], mas [[Heidegger]] pensa o [[método]] já dentro da [[questão]], ao [[pensar]] o [[círculo]] da [[circularidade]] perfeita, nas trilhas do [[pensador]] [[Heráclito]]. Não se pode entender [[método]] em seu aspecto [[formal]]. Por isso, [[Heidegger]] fala muito em [[caminho]] e o [[caminho]] nunca está desligado da [[questão]]. Ver como exemplo o [[ensaio]] “O [[caminho]] do [[campo]]” (2). Esta [[questão]] do [[método]] também é [[fundamental]] para a [[questão]] da [[arte]]. Se pensarmos a [[formação]] grega da [[palavra]] [[método]]: ''metá-'' / ''hodos'', devemos [[pensar]] o [[método]] como [[caminhada]] de [[vida]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
: Referência:
: (1) STEIN, Ernildo. In: ''Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 67.
: (1) STEIN, Ernildo. In: ''Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 67.
 +
: (2) HEIDEGGER, Martin. "O caminho do campo". In: ''Revista de Cultura Vozes'', nº 4. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 326-8.
: (2) HEIDEGGER, Martin. "O caminho do campo". In: ''Revista de Cultura Vozes'', nº 4. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 326-8.
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==4==
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== 4 ==
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:O método, enquanto caminho, implica a verdade, porque aí caminho é, no fundo, realizar como ''[[éthos]]''/ agir o que nos é próprio. ''Éthos'', de onde se forma a palavra ética, é o agir no horizonte do sentido do ser, onde se dá a [[ética]], o livre agir movido pela [[sabedoria]]. Há, portanto, no método: 1-caminho; 2-ação; 3-''éthos''; 4-''lógos'', como reunião de desvelamento e velamento. Portanto, tudo isso leva à ''[[alétheia]]'' (desvelamento ou verdade). Verdade enquanto ''alétheia'', a palavra [[grego|grega]] para verdade, não pode ser confundida com verdadeiro (a que se opõe falso). A verdade se dá em tensão com a não-verdade e não com o falso. Não se pode falar de verdadeiro se já não nos movemos dentro e a partir da verdade.
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: O [[método]], enquanto [[caminho]], implica a [[verdade]], porque aí [[caminho]] é, no fundo, [[realizar]] como ''[[éthos]]'' / [[agir]] o que nos é [[próprio]]. ''[[Éthos]]'', de onde se forma a [[palavra]] [[ética]], é o [[agir]] no [[horizonte]] do [[sentido do ser]], onde se dá a [[ética]], o livre [[agir]] movido pela [[procura]] da [[sabedoria]]. Há, portanto, no [[método]]:
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: 1-[[caminho]]; 2-[[ação]]; 3-''[[éthos]]''; 4-''[[logos]]'', como [[reunião]] de [[desvelamento]] e [[velamento]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Portanto, tudo isso leva à ''[[alétheia]]'' ([[desvelamento]] ou [[verdade]]). [[Verdade]] enquanto ''[[alétheia]]'', a [[palavra]] [[grego|grega]] para [[verdade]], não pode ser confundida com [[verdadeiro]] (a que se opõe [[falso]], distinção esta já dependente de [[juízos]] [[lógicos]]). A [[verdade]] se dá em [[tensão]] com a [[não-verdade]] e não com o [[falso]]. Não se pode [[falar]] de [[verdadeiro]] se já não nos movemos dentro e a partir da [[verdade]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Para as obras de arte não há um método geral e único. Quando isso ocorre, o [[próprio]] da obra de arte se [[retração|retrai]] e fica silenciado. Toda obra de arte institui nela mesma o método ou caminho que devemos pela escuta seguir atenta e inauguralmente. Ao solicitar em primeiro lugar a escuta, a obra exige de cada leitor um caminho sempre inaugural. Por isso é que, nas leituras das grandes obras de arte, não só diferentes leituras do mesmo leitor, mas também as leituras de diferentes momentos históricos encontram sempre caminhos novos.  “A ''Paideia'' poética hölderliniana revigora a hermenêutica, pois esta admite que cada obra de arte solicite um método adequado ao princípio que articula seu [[corpo]]. O método canônico, pretensamente único e verdadeiro, tão cultuado pela metodologia [[hipertrofia|hipertrofiada]] na "metodomania", se denuncia como uma [[abstração]] que vale para tudo e coisa nenhuma” (1).
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== 5 ==
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: Para as [[obras de arte]] não há um [[método]] [[geral]] e [[único]]. Quando isso ocorre, o [[próprio]] da [[obra de arte]] se [[retração|retrai]] e fica silenciado. Toda [[obra de arte]] institui nela mesma o [[método]] ou [[caminho]] que devemos pela sua [[escuta]] seguir atenta e [[inauguralmente]]. Ao solicitar em primeiro lugar a [[escuta]], a [[obra de arte]] exige de cada [[leitor]] um [[caminho]] sempre [[inaugural]]. Por isso é que, nas [[leituras]] das [[obras de arte]] [[clássicas]], não só [[diferentes]] [[leituras]] do mesmo [[leitor]], mas também as [[leituras]] de [[diferentes]] [[momentos]] [[históricos]] encontram sempre [[caminhos]] novos.  “A ''[[Paideia]]'' [[poética]] hölderliniana revigora a [[hermenêutica]], pois esta admite que cada [[obra de arte]] solicite um [[método]] adequado ao [[princípio]] que articula seu [[corpo]]. O [[método]] [[canônico]], pretensamente [[único]] e [[verdadeiro]], tão cultuado pela [[metodologia]] [[hipertrofia|hipertrofiada]] na "metodomania", se denuncia como uma [[abstração]] que vale para [[tudo]] e [[coisa]] nenhuma” (1).
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:Referência:
 
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:(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Atualidade da tragédia grega". In: ROSENFIELD, Denis L. (Org.). ''Filosofia e literatura: o trágico''. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, pp. 115-140.
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: Referência:
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: (1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Atualidade da tragédia grega". In: ROSENFIELD, Denis L. (Org.). ''Filosofia e literatura: o trágico''. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, pp. 115-140.
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:Toda [[questão]] só é questão na medida em que empreende uma caminhada. Nesta, a questão advém e fala como [[verdade]]. É a ''[[alétheia]]'' (palavra grega que diz: desvelamento, e este é o que poeticamente se denomina verdade) do ''[[lógos]]'' (linguagem). A ''alétheia'' pode ser a ''alétheia'' do ''lógos'' porque ela se torna e é a partir da ''[[poíesis]]'' (vigor do poético) enquanto ''[[éthos]]'' (vigor do sentido do agir, ética) da questão. Por ser o ''éthos'' da questão, ela se dá como ''sophia'' (sabedoria) e não simplesmente como o a ser conhecido tecnicamente. Todo ''sophía'', como ''éthos'', vige na essência da [[linguagem]]: a ''phýsis'' (nascividade) / dzoé (vida). A questão de todo querer se dá como caminho e não simplesmente como desejo ao nível do [[psique|psíquico]] ou pela vontade do querer.
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: "O meu propósito não consiste aqui em [[ensino|ensinar]] o [[método]] que cada um deve seguir para bem dirigir a [[razão]], mas sim [[mostrar]] apenas de que modo consegui dirigir a minha... Logo que terminei o [[curso]] de [[estudos]] com que é [[costume]] ser-se recebido na [[classe]] dos [[doutos]], mudei inteiramente de [[opinião]], pois vi-me tão embaraçado com [[dúvidas]] e [[erro|erros]] que me pareceu não ter obtido outro proveito, ao tratar de me [[instruir]], senão [[descobrir]] cada vez mais a minha [[ignorância]]" (1).  
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:Eis o que nos diz Heidegger: “A seguir questionaremos a técnica. O questionamento trabalha na construção de um caminho. Por isso aconselha-se a considerar sobretudo o caminho e a não ficar preso às várias sentenças e aos diversos títulos. O caminho é um caminho do pensamento. Todo caminho de pensamento passa, de maneira mais ou menos [[percepção|perceptível]] e de modo extraordinário, pela linguagem” (1).  
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) KIERKEGAARD, Sören. ''Temor e tremor''. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 20.
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:Referência:
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: '''Ver também:'''
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p.11.
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: * [[Errância]]
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== 7 ==
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: [[Fazer]] o [[itinerário]] [[ocidental]] do [[mito]] à [[ciência]] é [[fazer]] o [[itinerário]] das opções de [[método]] e o que ele sempre implica: a [[verdade]]. Na [[medida]] em que implica a [[verdade]], nele estão implicados: o [[homem]], o [[mundo]], o [[real]], a [[terra]]. Ora, o [[caminho]] no [[caminhar]] da [[caminhada]] se dá sempre como [[diálogo]]. Por isso o [[diá-logo]] vai implicar a [[memória]]/]]história]], a [[cultura]], a [[coletividade]] [[originária]], que é [[originária]] quando se dá o ''cum-legere'' ([[verbo]] latino que significa: o [[ler]] em [[conjunto]], em [[unidade]]) do ''homoleguein'' ([[verbo]] [[grego]] que significa: [[falar]] a partir do [[mesmo]]): é neste que temos a [[identidade]] [[originária]] ou [[ontológica]].
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: É nessa [[dimensão]] que podemos [[diferenciar]] o que Marx diz sobre [[alienação]] e o que diz [[Heidegger]]. A [[questão]] já está encaminhada na [[escolha]] do [[método]] por Marx ao tomar como base a [[dialética]] hegeliana, ao passo que [[Heidegger]] a questiona e vai às [[diferenças]]. O que está em [[questão]] tanto em Marx quanto em [[Heidegger]] é a [[questão]] do [[humano]]. O que [[é]] o [[humano]]? A [[questão]] é que nenhum [[humanismo]] pode [[dimensionar]] o [[humano]] do [[homem]]. E é nisso que [[Heidegger]] insiste.  É com este [[olhar]] que é preciso [[ler]] os dois [[ensaios]] de [[Heidegger]], que depois foram [[reunidos]]: "[[Identidade]] e [[diferença]]". O [[método]] é decisivo sobre essa [[questão]] porque nele se dimensiona a [[questão]] da [[verdade]]. [[Verdade]] e [[método]] decidem do que no [[questionar]] se coloca como [[homem]], [[mundo]], [[real]], ou seja, como [[essência]] do [[agir]].
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:Fazer o [[itinerário]] ocidental do mito à ciência é fazer o itinerário das opções de método e o que ele sempre implica: a verdade. Na medida em que implica a verdade, nele estão implicados: o homem, o mundo, o real, a [[terra]]. Ora, o caminho no caminhar se dá sempre como diálogo. Por isso o diá-logo vai implicar a memória/ história, a cultura, a co-letividade originária, que é originária quando se dá o ''cum-legere'' (verbo latino que significa: o ler em conjunto, em unidade) do ''homoleguein'' (verbo grego que significa: falar a partir do [[mesmo]]): é neste que temos a [[identidade]] originária ou ontológica.
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:É nessa dimensão que podemos diferenciar o que Marx diz sobre [[alienação]] e o que diz Heidegger. A questão já está encaminhada na escolha do método por Marx ao tomar como base a dialética hegeliana, ao passo que Heidegger a questiona e vai às diferenças. O que está em questão tanto em Marx quanto em Heidegger é a questão do humano. O que é o humano? A questão é que nenhum humanismo pode dimensionar o humano do homem. E é nisso que Heidegger insiste.  É com este olhar que é preciso ler os dois ensaios de Heidegger, que depois foram reunidos: "Identidade e diferença". O método decide da questão porque nele se dimensiona a questão da verdade. Verdade e método decidem do que no questionar se coloca como homem, mundo, real, ou seja, como essência do agir.
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: A [[questão]] [[metodológica]] está pouco elaborada no que diz respeito  aos [[estudos]] [[literários]]. Por isso, a seguinte observação de Mircea Eliade esclarece: “[[Atualmente]], os [[historiadores]] das [[religiões]] estão divididos entre duas [[orientações]] [[metodológicas]] divergentes, mas [[complementares]]: uns concentram sua atenção nas [[estruturas]] específicas dos [[fenômenos]] [[religiosos]], enquanto outros interessam-se de preferência pelo [[contexto]] [[histórico]] desse [[fenômeno]]; os primeiros esforçam-se por [[compreender]] a [[essência]] da [[religião]], os outros trabalham por decifrar e apresentar sua [[história]]” (1). A [[hermenêutica]] [[ontológica]] trabalha ao mesmo [[tempo]] sobre a [[essência]] e sobre a [[história]], mas dando à [[interpretação]] e a esses [[conceitos]] um [[sentido]] [[ontológico]]. Os dois [[métodos]] de que fala Eliade têm [[origem]] [[científica]]. Que [[método]] usar para ficar fiel ao [[fato]] [[religioso]], não como [[fato]] mas como [[fenômeno]] [[religioso]]? Pensando em Gadamer, notamos que o núcleo é a [[questão]] [[histórica]], mas como fica a [[interpretação]] em [[relação]] às [[sociedades]] [[arcaicas]] que não vivenciam o [[real]] como [[histórico]] no [[sentido]] [[científico]]? O [[homem]] também aí se dá um [[sentido]] e é de alguma maneira [[histórico]]. Mas que [[histórico]] é este? O que é isto – o [[histórico]]? Pode haver [[histórico]] sem [[acontecer poético]], pois como [[saber]] o que é a [[história]] sem [[tematizar]] o [[tempo]] e como [[questionar]] o [[tempo]] sem [[questionar]] a [[memória]]? Em [[relação]] à [[memória]] não se inscreve o [[método]] como [[caminhada]] de [[diálogo]]?
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:A questão metodológica está pouco elaborada no que diz respeito  aos estudos literários. Por isso, a seguinte observação de Mircea Eliade esclarece: “Atualmente, os historiadores das religiões estão divididos entre duas orientações metodológicas divergentes, mas complementares: uns concentram sua atenção nas estruturas específicas dos fenômenos religiosos, enquanto outros interessam-se de preferência pelo contexto histórico desse fenômeno; os primeiros esforçam-se por compreender a essência da [[religião]], os outros trabalham por decifrar e apresentar sua história” (1). A hermenêutica ontológica trabalha ao mesmo tempo sobre a essência e sobre a [[história]], mas dando à interpretação e a esses conceitos um sentido ontológico. Os dois métodos de que fala Eliade têm origem científica. Que método usar para ficar fiel ao fato religioso, não como fato mas como fenômeno religioso? Pensando em Gadamer, notamos que o núcleo é a questão histórica, mas como fica a interpretação em sociedades arcaicas que não vivenciam o real como [[histórico]] no sentido científico? O homem também aí se dá um sentido e é de alguma maneira histórico. Mas que histórico é este? O que é isto – o histórico? Pode haver histórico sem acontecer poético, pois como saber o que é a história sem tematizar o [[tempo]] e como questionar o tempo sem questionar a [[memória]]? Em relação à memória não se inscreve o método como caminhada de [[diálogo]]?
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) ELIADE, Mircea. ''O sagrado e o profano''. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 13.
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:Referência:
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: '''Ver também:'''
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:(1) ELIADE, Mircea. ''O sagrado e o profano''. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 13.
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: * [[Historicismo]]
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:'''Ver também:'''
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:*[[Historicismo]]
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== 9 ==
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:"O questionamento trabalha na construção de um [[caminho]]. Por isso, aconselha-se a considerar sobretudo o caminho e a não ficar preso às várias sentenças e aos diversos títulos. O caminho é um caminho de [[pensamento]]. Todo caminho de pensamento passa de maneira mais ou menos perceptível e de modo [[extraordinário]] pela linguagem" (1).
+
: "Mas o [[método]] (ainda não [[metodologia]]) de maneira alguma constitui algo em si. Ele surge do [[estranho]] que é para o [[ser humano]] ele mesmo e [[tudo]] o que o cerca, em seu [[permanecer]] e [[devir]]" (1).  
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:Referência:
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: Referência:
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 11.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', nº 164. Rio de Janeiro, 2006, p. 19.
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: '''Ver também:'''
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: * [[Mistério]]
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: * [[Clareira]]
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: * [[Floresta]]
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== 10 ==
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:"Mas o método (ainda não [[metodologia]]) de maneira alguma constitui algo em si. Ele surge do [[estranho]] que é para o ser humano ele mesmo e tudo o que o cerca, em seu permanecer e devir" (1).  
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: "Perder-se também é [[caminho]]" (1).
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:Referência:
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: Referência:
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', nº 164. Rio de Janeiro, 2006, p. 19. 
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:'''Ver também:'''
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:*[[Mistério]]
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:*[[Clareira]]
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:*[[Floresta]]
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: (1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.
== 11 ==
== 11 ==
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:"Perder-se também é caminho" (1).
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: "Curioso é o modo de proceder do [[filósofo]] no [[exercício]] da [[filosofia]]. Ele põe em [[questionamento]] uma [[questão]] tentando respondê-la  numa variedade de níveis e [[modos]]. Mas, se bem se analisa, a [[resposta]] não passa de uma [[radicalização]] e [[aprofundamento]] da [[pergunta]]. Ao longo de todo o esforço de [[pensar]], o [[filósofo]] se faz [[ouvinte]] para [[escutar]] outras [[respostas]], diferentes e contrárias, que possam vir a enriquecer e [[desdobrar]] a [[questão]]. É um [[procedimento]] não só difícil de encontrar como também penoso de seguir no âmbito da [[consciência]]" (1).
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:Referência:
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:(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Revista Tempo Brasileiro'', nº 130/131, 1997, p. 148.
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== 12 ==
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:"Curioso é o modo de proceder do filósofo no exercício da filosofia. Ele põe em questionamento uma [[questão]] tentando respondê-la  numa variedade de níveis e modos. Mas, se bem se analisa, a [[resposta]] não passa de uma radicalização e aprofundamento da [[pergunta]]. Ao longo de todo o esforço de [[pensar]], o filósofo se faz ouvinte para [[escutar]] outras respostas, diferentes e contrárias, que possam vir a enriquecer e desdobrar a questão. É um procedimento não só difícil de encontrar  como também  penoso de seguir no âmbito da [[consciência]]" (1).
 
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:Referência:
 
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Revista Tempo Brasileiro'', nº 130/131, 1997, p. 148.
 
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== 13 ==
 
: "O [[método]] [[científico]] é sempre delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem ser violadas. Tudo aquilo que não constar e estiver dentro desses [[limites]] não é [[científico]]. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a [[ciência]] não é [[científica]]. Por quê? A [[ciência]] como [[ciência]] não é [[objeto]] de nenhuma pesquisa [[científica]]. Não é um [[fenômeno]] físico a Física. Não é um [[fenômeno]] químico a Química. Por isso é que há uma tensão entre o [[conhecimento]] propiciado pelo [[método]] e pela [[técnica]], porque [[método]] e [[técnica]] na [[ciência]] se trocam, um constitui o outro. Em vista disso, dizer [[técnica]] ou [[ciência]] não tem muita [[diferença]]. A [[técnica]] é o que possibilita a [[ciência]]. Sem se articularem as [[possibilidades]] de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma [[teoria]] [[científica]]. A Física tem uma Pro-física, uma Ante-física, para [[poder]] ser Física. É por isso que a [[diferença]] [[fundamental]] é de constituição. O [[método]] [[lógico]]-[[científico]] se constitui com forças e [[princípios]] que fogem do alcance do próprio [[método]] [[científico]]" (1).
: "O [[método]] [[científico]] é sempre delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem ser violadas. Tudo aquilo que não constar e estiver dentro desses [[limites]] não é [[científico]]. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a [[ciência]] não é [[científica]]. Por quê? A [[ciência]] como [[ciência]] não é [[objeto]] de nenhuma pesquisa [[científica]]. Não é um [[fenômeno]] físico a Física. Não é um [[fenômeno]] químico a Química. Por isso é que há uma tensão entre o [[conhecimento]] propiciado pelo [[método]] e pela [[técnica]], porque [[método]] e [[técnica]] na [[ciência]] se trocam, um constitui o outro. Em vista disso, dizer [[técnica]] ou [[ciência]] não tem muita [[diferença]]. A [[técnica]] é o que possibilita a [[ciência]]. Sem se articularem as [[possibilidades]] de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma [[teoria]] [[científica]]. A Física tem uma Pro-física, uma Ante-física, para [[poder]] ser Física. É por isso que a [[diferença]] [[fundamental]] é de constituição. O [[método]] [[lógico]]-[[científico]] se constitui com forças e [[princípios]] que fogem do alcance do próprio [[método]] [[científico]]" (1).
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:  (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". ''Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II''. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.
:  (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". ''Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II''. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.
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== 14 ==
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== 13 ==
: "Assim precisamos percorrer efetiva e plenamente o [[círculo]]. Isto não é nem uma solução passageira nem é uma deficiência. A [[posição]] vigorosa é trilhar este [[caminho]] e permanecer nele é a festa do [[pensar]], posto que o [[pensar]] é um ofício. Não somente o passo principal da [[obra]] para a [[arte]] assim como o passo da [[arte]] para a [[obra]] é um [[círculo]], mas cada passo isolado que tentamos dar circula neste [[círculo]]" (1).
: "Assim precisamos percorrer efetiva e plenamente o [[círculo]]. Isto não é nem uma solução passageira nem é uma deficiência. A [[posição]] vigorosa é trilhar este [[caminho]] e permanecer nele é a festa do [[pensar]], posto que o [[pensar]] é um ofício. Não somente o passo principal da [[obra]] para a [[arte]] assim como o passo da [[arte]] para a [[obra]] é um [[círculo]], mas cada passo isolado que tentamos dar circula neste [[círculo]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 39.
: (1) HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 39.
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: "Os [[conceitos]] são determinados pela [[verdade lógica]] e [[matemática]]. Eles se servem de uma [[metodologia]] presa a [[teorias]], determinadas pelas [[metodologias]] em que predominam a [[indução]], a [[dedução]] e o [[experimental]]. São [[objetivos]] na medida em que adequam o [[real]] às [[teorias]] e suas [[metodologias]]. Elas originam as [[análises]] descritivas e [[explicativas]]" (1).
: "Os [[conceitos]] são determinados pela [[verdade lógica]] e [[matemática]]. Eles se servem de uma [[metodologia]] presa a [[teorias]], determinadas pelas [[metodologias]] em que predominam a [[indução]], a [[dedução]] e o [[experimental]]. São [[objetivos]] na medida em que adequam o [[real]] às [[teorias]] e suas [[metodologias]]. Elas originam as [[análises]] descritivas e [[explicativas]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.
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: "A elaboração [[perfeita]] de qualquer [[ciência]] depende, naturalmente, em máxima parte do uso do [[método]] acertado.  Qual é o [[método]] da [[metafísica]]?  A esta [[pergunta]] não podemos fugir se queremos [[elaborar]] uma [[metafísica]] que deve [[ser]] [[ciência]] do [[ser]]. O resultado de qualquer [[ciência]] é [[mediado]] pelo [[método]] que ela usa, por isto um [[método]] [[falso]] levará necessariamente a [[falsos]] resultados" (1).
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: Referência:
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "O [[caminho]] sempre pressupõe duas margens e um “[[entre]]”. A este “[[entre]]” das margens os [[gregos]] denominaram: ''meta'': que significa “através de, [[entre]]”. ''Hodos'' significa [[caminho]]. Daqui se origina a [[palavra]] portuguesa [[método]]. Este pressupõe um [[caminho]] que se dá através do “[[entre]]”. O “''[[deus]]''” dos [[caminhos]], da [[verdade]], da ambiguidade, das encruzilhadas, os [[gregos]] tematizaram no [[mito]] de [[Hermes]]. Como mediador, é a [[imagem-questão]] do [[ser humano]], enquanto se realiza percorrendo o [[caminho]] do que [[é]]. De [[Hermes]] se formou, em [[grego]], o [[substantivo]] ''[[hermeneuia]]''. Os latinos a traduziram como: [[interpretação]]" (1).
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: "Os [[conceitos]] são determinados pela [[verdade lógica]] e [[matemática]]. Eles se servem de uma [[metodologia]] presa a [[teorias]], determinadas pelas [[metodologias]] em que predominam a [[indução]], a [[dedução]] e o [[experimental]]. São [[objetivos]] na medida em que adequam o [[real]] às [[teorias]] e suas [[metodologias]]. Elas [[originam]] as [[análises]] descritivas e [[explicativas]]" (1).
: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 204.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.

Edição atual tal como 20h36min de 11 de Novembro de 2020

1

"O caminho sempre pressupõe duas margens e um “entre”. A este “entre” das margens os gregos denominaram: meta: que significa “através de, entre”. Hodos significa caminho. Daqui se origina a palavra portuguesa método. Este pressupõe um caminho que se dá através do “entre”. O “deus” dos caminhos, da verdade, da ambiguidade, das encruzilhadas, os gregos tematizaram no mito de Hermes. Como mediador, é a imagem-questão do ser humano, enquanto se realiza percorrendo o caminho do que é. De Hermes se formou, em grego, o substantivo hermeneuia. Os latinos a traduziram como: interpretação" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 204.

2

Emmanuel Carneiro Leão precisa bem o conteúdo do método enquanto metodologia, em seu livro Aprendendo a Pensar II: "É necessário ter bem claro o objetivo deste fazer específico que é investigar. O objetivo estabelecido no tema determina o método, isto é, o conjunto das decisões sobre o caminho a seguir, o nível e registro a tomar, os recursos e meios a empregar, o grau e o como fazer. Decide, sobretudo, do necessário para a viagem chegar ao fim e atingir o objetivo. Pois desta definição prévia depende tudo: quem investiga, para quê, o quê, como e onde investigar!" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto". In: ...... . Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 164.
Ver também:
* Provar

3

A questão do método tem muitos caminhos, mas para uma hermenêutica ontológica, ele passa necessariamente pela "questão que é digna de ser pensada", pela “questão do pensamento”. Em relação ao método, diz Ernildo Stein na “Nota do Tradutor”: “Não discutiremos aqui até que ponto Heidegger terá razão quando critica e procura superar Hegel e Husserl. É, sem dúvida, simplificação resumir a filosofia de ambos na subjetividade e, consequentemente, na questão do método; como também é impossível pensar em separar, na 'questão do pensamento', método e questão” (1). Ora, Heidegger não separa método e questão, apenas não fica preso às formulações metodológicas de ambos, que acabam por configurar seu pensamento, mas Heidegger pensa o método já dentro da questão, ao pensar o círculo da circularidade perfeita, nas trilhas do pensador Heráclito. Não se pode entender método em seu aspecto formal. Por isso, Heidegger fala muito em caminho e o caminho nunca está desligado da questão. Ver como exemplo o ensaio “O caminho do campo” (2). Esta questão do método também é fundamental para a questão da arte. Se pensarmos a formação grega da palavra método: metá- / hodos, devemos pensar o método como caminhada de vida.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) STEIN, Ernildo. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 67.
(2) HEIDEGGER, Martin. "O caminho do campo". In: Revista de Cultura Vozes, nº 4. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 326-8.

4

O método, enquanto caminho, implica a verdade, porque aí caminho é, no fundo, realizar como éthos / agir o que nos é próprio. Éthos, de onde se forma a palavra ética, é o agir no horizonte do sentido do ser, onde se dá a ética, o livre agir movido pela procura da sabedoria. Há, portanto, no método:
1-caminho; 2-ação; 3-éthos; 4-logos, como reunião de desvelamento e velamento.
Portanto, tudo isso leva à alétheia (desvelamento ou verdade). Verdade enquanto alétheia, a palavra grega para verdade, não pode ser confundida com verdadeiro (a que se opõe falso, distinção esta já dependente de juízos lógicos). A verdade se dá em tensão com a não-verdade e não com o falso. Não se pode falar de verdadeiro se já não nos movemos dentro e a partir da verdade.


- Manuel Antônio de Castro

5

Para as obras de arte não há um método geral e único. Quando isso ocorre, o próprio da obra de arte se retrai e fica silenciado. Toda obra de arte institui nela mesma o método ou caminho que devemos pela sua escuta seguir atenta e inauguralmente. Ao solicitar em primeiro lugar a escuta, a obra de arte exige de cada leitor um caminho sempre inaugural. Por isso é que, nas leituras das obras de arte clássicas, não só diferentes leituras do mesmo leitor, mas também as leituras de diferentes momentos históricos encontram sempre caminhos novos. “A Paideia poética hölderliniana revigora a hermenêutica, pois esta admite que cada obra de arte solicite um método adequado ao princípio que articula seu corpo. O método canônico, pretensamente único e verdadeiro, tão cultuado pela metodologia hipertrofiada na "metodomania", se denuncia como uma abstração que vale para tudo e coisa nenhuma” (1).


Referência:
(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Atualidade da tragédia grega". In: ROSENFIELD, Denis L. (Org.). Filosofia e literatura: o trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, pp. 115-140.

6

"O meu propósito não consiste aqui em ensinar o método que cada um deve seguir para bem dirigir a razão, mas sim mostrar apenas de que modo consegui dirigir a minha... Logo que terminei o curso de estudos com que é costume ser-se recebido na classe dos doutos, mudei inteiramente de opinião, pois vi-me tão embaraçado com dúvidas e erros que me pareceu não ter obtido outro proveito, ao tratar de me instruir, senão descobrir cada vez mais a minha ignorância" (1).


Referência:
(1) KIERKEGAARD, Sören. Temor e tremor. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 20.
Ver também:
* Errância

7

Fazer o itinerário ocidental do mito à ciência é fazer o itinerário das opções de método e o que ele sempre implica: a verdade. Na medida em que implica a verdade, nele estão implicados: o homem, o mundo, o real, a terra. Ora, o caminho no caminhar da caminhada se dá sempre como diálogo. Por isso o diá-logo vai implicar a memória/]]história]], a cultura, a coletividade originária, que é originária quando se dá o cum-legere (verbo latino que significa: o ler em conjunto, em unidade) do homoleguein (verbo grego que significa: falar a partir do mesmo): é neste que temos a identidade originária ou ontológica.
É nessa dimensão que podemos diferenciar o que Marx diz sobre alienação e o que diz Heidegger. A questão já está encaminhada na escolha do método por Marx ao tomar como base a dialética hegeliana, ao passo que Heidegger a questiona e vai às diferenças. O que está em questão tanto em Marx quanto em Heidegger é a questão do humano. O que é o humano? A questão é que nenhum humanismo pode dimensionar o humano do homem. E é nisso que Heidegger insiste. É com este olhar que é preciso ler os dois ensaios de Heidegger, que depois foram reunidos: "Identidade e diferença". O método é decisivo sobre essa questão porque nele se dimensiona a questão da verdade. Verdade e método decidem do que no questionar se coloca como homem, mundo, real, ou seja, como essência do agir.


- Manuel Antônio de Castro

8

A questão metodológica está pouco elaborada no que diz respeito aos estudos literários. Por isso, a seguinte observação de Mircea Eliade esclarece: “Atualmente, os historiadores das religiões estão divididos entre duas orientações metodológicas divergentes, mas complementares: uns concentram sua atenção nas estruturas específicas dos fenômenos religiosos, enquanto outros interessam-se de preferência pelo contexto histórico desse fenômeno; os primeiros esforçam-se por compreender a essência da religião, os outros trabalham por decifrar e apresentar sua história” (1). A hermenêutica ontológica trabalha ao mesmo tempo sobre a essência e sobre a história, mas dando à interpretação e a esses conceitos um sentido ontológico. Os dois métodos de que fala Eliade têm origem científica. Que método usar para ficar fiel ao fato religioso, não como fato mas como fenômeno religioso? Pensando em Gadamer, notamos que o núcleo é a questão histórica, mas como fica a interpretação em relação às sociedades arcaicas que não vivenciam o real como histórico no sentido científico? O homem também aí se dá um sentido e é de alguma maneira histórico. Mas que histórico é este? O que é isto – o histórico? Pode haver histórico sem acontecer poético, pois como saber o que é a história sem tematizar o tempo e como questionar o tempo sem questionar a memória? Em relação à memória não se inscreve o método como caminhada de diálogo?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 13.
Ver também:
* Historicismo

9

"Mas o método (ainda não metodologia) de maneira alguma constitui algo em si. Ele surge do estranho que é para o ser humano ele mesmo e tudo o que o cerca, em seu permanecer e devir" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 164. Rio de Janeiro, 2006, p. 19.
Ver também:
* Mistério
* Clareira
* Floresta

10

"Perder-se também é caminho" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.

11

"Curioso é o modo de proceder do filósofo no exercício da filosofia. Ele põe em questionamento uma questão tentando respondê-la numa variedade de níveis e modos. Mas, se bem se analisa, a resposta não passa de uma radicalização e aprofundamento da pergunta. Ao longo de todo o esforço de pensar, o filósofo se faz ouvinte para escutar outras respostas, diferentes e contrárias, que possam vir a enriquecer e desdobrar a questão. É um procedimento não só difícil de encontrar como também penoso de seguir no âmbito da consciência" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Revista Tempo Brasileiro, nº 130/131, 1997, p. 148.

12

"O método científico é sempre delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem ser violadas. Tudo aquilo que não constar e estiver dentro desses limites não é científico. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a ciência não é científica. Por quê? A ciência como ciência não é objeto de nenhuma pesquisa científica. Não é um fenômeno físico a Física. Não é um fenômeno químico a Química. Por isso é que há uma tensão entre o conhecimento propiciado pelo método e pela técnica, porque método e técnica na ciência se trocam, um constitui o outro. Em vista disso, dizer técnica ou ciência não tem muita diferença. A técnica é o que possibilita a ciência. Sem se articularem as possibilidades de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma teoria científica. A Física tem uma Pro-física, uma Ante-física, para poder ser Física. É por isso que a diferença fundamental é de constituição. O método lógico-científico se constitui com forças e princípios que fogem do alcance do próprio método científico" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.

13

"Assim precisamos percorrer efetiva e plenamente o círculo. Isto não é nem uma solução passageira nem é uma deficiência. A posição vigorosa é trilhar este caminho e permanecer nele é a festa do pensar, posto que o pensar é um ofício. Não somente o passo principal da obra para a arte assim como o passo da arte para a obra é um círculo, mas cada passo isolado que tentamos dar circula neste círculo" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 39.

14

"Os conceitos são determinados pela verdade lógica e matemática. Eles se servem de uma metodologia presa a teorias, determinadas pelas metodologias em que predominam a indução, a dedução e o experimental. São objetivos na medida em que adequam o real às teorias e suas metodologias. Elas originam as análises descritivas e explicativas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.

15

"A elaboração perfeita de qualquer ciência depende, naturalmente, em máxima parte do uso do método acertado. Qual é o método da metafísica? A esta pergunta não podemos fugir se queremos elaborar uma metafísica que deve ser ciência do ser. O resultado de qualquer ciência é mediado pelo método que ela usa, por isto um método falso levará necessariamente a falsos resultados" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

16

"Os conceitos são determinados pela verdade lógica e matemática. Eles se servem de uma metodologia presa a teorias, determinadas pelas metodologias em que predominam a indução, a dedução e o experimental. São objetivos na medida em que adequam o real às teorias e suas metodologias. Elas originam as análises descritivas e explicativas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.
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