Medida

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "O [[divino]] é 'a [[medida]]' com a qual o [[homem]] confere [[medida]] ao seu habitar, à sua [[morada]] e demora sobre a [[terra]], sob o céu. Somente porque o [[homem]] faz, desse modo, o levantamento da [[medida]] de seu [[habitar]] é que ele consegue ''[[ser]]'' na [[medida]] de sua [[essência]]" (1).
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: "O [[divino]] é 'a [[medida]]' com a qual o [[homem]] confere [[medida]] ao seu [[habitar]], à sua [[morada]] e demora sobre a [[terra]], sob o [[céu]]. Somente porque o [[homem]] faz, desse modo, o levantamento da [[medida]] de seu [[habitar]] é que ele consegue [[ser]] na [[medida]] de sua [[essência]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ---. '''Ensaios e conferências'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 172.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "...[[poeticamente]] o [[homem]] habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ---.[[Ensaios]] e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 172.'''
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: A [[questão]] na [[vigência]] do [[questionar]] mede seus [[julgamentos]] (''krisis''/crítica) pela [[medida]] do [[sentido]] e [[verdade]] do [[Ser]] e não apenas pela [[medida]] do [[ser]] do [[sendo]], um [[ser]] concebido [[ideal]] e paradigmaticamente, pressupõe [[abertura]] para o envio dos diferentes modos de a ''[[phýsis]]'' se [[manifestar]]. A ''[[phýsis]]'' é a [[medida]] da [[lei]] e a [[lei]] da [[medida]]. São as [[experienciações]] do [[real]] [[sendo]]. Está, portanto, em contínuo e profundo [[diálogo]] com a ''[[tekhné]]'' e a ''[[episteme]]''. Mas para ultrapassá-las como ''[[tekhné]]'' da ''[[poíesis]]'' e ''[[noein]]'' do ''[[einai]]/[[ser]]'' (cf. Parmênides: '''Peri physeos''').  
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: A [[questão]] na [[vigência]] do [[questionar]] mede seus [[julgamentos]] (''krisis''/crítica) pela [[medida]] do [[sentido]] e [[verdade]] do [[Ser]] e não apenas pela [[medida]] do [[ser]] do [[sendo]], um [[ser]] concebido [[ideal]] e paradigmaticamente, pressupõe [[abertura]] para o envio dos [[diferentes]] modos de a ''[[phýsis]]'' se [[manifestar]]. A ''[[phýsis]]'' é a [[medida]] da [[lei]] e a [[lei]] da [[medida]]. São as [[experienciações]] do [[real]] [[sendo]]. Está, portanto, em contínuo e profundo [[diálogo]] com a ''[[tekhné]]'' e a ''[[episteme]]''. Mas para ultrapassá-las como ''[[tekhné]]'' da ''[[poíesis]]'' e ''[[noein]]'' do ''[[einai]]/[[ser]]'' (cf. Parmênides: '''Peri physeos''').  
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 71-2.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 71-2.'''
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: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 72.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 72.'''
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: "Agimos ao nos empenharmos por algum [[penhor]]. Talvez seja melhor e mais [[verdadeiro]] enunciar que o [[viver]] agindo é o [[viver]] em que acontece o [[sentido]], uma vez que não somos um programa em que basta simplesmente iniciá-lo com um comando, um toque, como se faz hoje, em geral, com tudo que diz respeito à [[computação]]. Todo [[programa]] é orgânico e, por isso, seus processos, resultados e fins já estão inscritos e previstos. Tudo se regula por uma [[medida]] conhecida pelo programador e pela máquina. O que diferencia o [[agir]] do [[ser humano]] é que nele a [[vida]] se dá, acontece dentro da [[medida]] do [[viver]] e do [[morrer]]. Mas destes ninguém sabe a [[medida]], pois eles mesmos são a [[medida]], e não nós.
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: "Agimos ao nos empenharmos por algum [[penhor]]. Talvez seja melhor e mais [[verdadeiro]] enunciar que o [[viver]] agindo é o [[viver]] em que acontece o [[sentido]], uma vez que não somos um programa em que basta simplesmente iniciá-lo com um comando, um toque, como se faz hoje, em geral, com [[tudo]] que diz respeito à computação. Todo [[programa]] é orgânico e, por isso, seus [[processos]], resultados e fins já estão inscritos e previstos. [[Tudo]] se regula por uma [[medida]] conhecida pelo programador e pela máquina. O que diferencia o [[agir]] do [[ser humano]] é que nele a [[vida]] se dá, acontece dentro da [[medida]] do [[viver]] e do [[morrer]]. Mas destes ninguém sabe a [[medida]], pois eles mesmos são a [[medida]], e não nós.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.'''
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: "Toda [[ação]], toda [[procura]], se dá, acontece sempre, queiramos ou não, dentro de uma [[não-medida]] e de uma [[medida]], que lhe são inerentes, internas e externas. Todas as [[ações]] [[humanas]] se dão, [[acontecem]], [[sempre]] dentro de um [[paradoxo]], de uma encruzilhada, em uma [[palavra]], em um [[entre]], ora orientadas pela [[medida]] da [[não-medida]], ora tendo como fim a [[não-medida]] da [[medida]]. O [[pensador]] [[Aristóteles]], na abertura do primeiro livro da '''Ética''', nos diz que “em toda [[ação]] vive um [[empenho]] por algum [[bem]]”. Não podemos, porém, confundir “algum bem” com “o [[bem]]”. É neste e por este que nos advém o [[sentido]]. Isso é o [[ético]]" (1).
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: "Toda [[ação]], toda [[procura]], se dá, [[acontece]] [[sempre]], queiramos ou não, dentro de uma [[não-medida]] e de uma [[medida]], que lhe são inerentes, internas e externas. [[Todas]] as [[ações]] [[humanas]] se dão, [[acontecem]], [[sempre]] dentro de um [[paradoxo]], de uma encruzilhada, em uma [[palavra]], em um [[entre]], ora orientadas pela [[medida]] da [[não-medida]], ora tendo como fim a [[não-medida]] da [[medida]]. O [[pensador]] Aristóteles, na abertura do primeiro livro da '''[[Ética]]''', nos diz que “em toda [[ação]] vive um [[empenho]] por algum [[bem]]”. Não podemos, porém, confundir “algum bem” com “o [[bem]]”. É neste e por este que nos advém o [[sentido]]. Isso é o [[ético]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 216.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 216.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). '''O que me move, de Pina Bausch''' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Aprender]] com a [[dança]]: fluxos e [[diálogos]] [[poéticos]]”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre [[dança]]-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 190.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Midas]] da [[morte]] ou do [[ser feliz]]". In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 190.'''
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: (1) TZU, Chuang. “Ação e não-ação”. In: MERTON, Thomas. '''A via de Chuang Tzu'''. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 106.
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: (1) TZU, Chuang.''' “[[Ação]] e [[não-ação]]”. In: MERTON, Thomas. A [[via]] de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 106.'''
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 211.
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “O [[mito]] de [[Midas]] da [[morte]] ou do [[ser feliz]]”. In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 211.'''
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: "A [[medida]], seja qualitativa seja quantitativa, como bem acentuou Antônio Jardim, em ''Música: vigência do pensar poético'', é uma das características do [[pensamento]] [[metafísico]]-[[retórico]] ocidental (2005) (1). Podemos [[medir]] falas, mas como [[medir]] no [[canto]] o [[encanto]], o seu [[poder]] [[revelador]], enquanto [[voz]] do [[silêncio]]? Como eles não são dimensionáveis, a [[ciência]], filha predileta da [[metafísica]], os classifica como algo [[estético]] e [[subjetivo]], ou seja, não [[objetivos]] nem [[reais]]" (2).
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: "A [[medida]], seja qualitativa seja quantitativa, como bem acentuou Antônio Jardim, em '''Música: vigência do pensar poético''', é uma das características do [[pensamento]] [[metafísico]]-[[retórico]] ocidental" (1).  
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: "Podemos [[medir]] falas, mas como [[medir]] no [[canto]] o encanto, o seu [[poder]] [[revelador]], enquanto [[voz]] do [[silêncio]]? Como eles não são dimensionáveis, a [[ciência]], filha predileta da [[metafísica]], os classifica como algo [[estético]] e [[subjetivo]], ou seja, não [[objetivos]] nem [[reais]]" (2).
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: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005.'''
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 148.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]”. In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 148.'''
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: "Mas ao entrar no [[estado]] de [[indivíduo]], resultante da [[multiplicidade]] e [[aparência]], conhece que o [[gozo]] da [[aparência]] é falaz e retorna ao [[uno]]. Nesta [[perspectiva]], o [[trágico]] não resulta da luta do [[herói]] contra o [[destino]]. A própria [[Natureza]] é [[originária]] e [[radicalmente]] [[trágica]]. O [[mito]] [[trágico]] é a [[representação]] [[simbólica]] da [[sabedoria]] [[dionisíaca]], com a ajuda de meios [[artísticos]] [[apolíneos]] e, pelo aniquilamento destes, chega-se ao [[uno]]. O [[estado]] [[apolíneo]], pela [[aparência]], corresponde ao [[princípio]] da “[[medida]]” no sentido [[helênico]]. A [[afirmação]] do [[estado]] [[apolíneo]] repousa sobre o abismo oculto do [[mal]] e do [[conhecimento]]. O [[estado]] [[dionisíaco]] era a [[desmedida]]. Este, mostrando o [[erro]] da [[aparência]] e conduzindo os [[homens]] ao [[estado]] de identificação [[primordial]] da [[Natureza]], produz uma consolação [[metafísica]], e a [[desmedida]] revela-se também como [[verdade]]" (1).
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: "Mas ao entrar no [[estado]] de [[indivíduo]], resultante da [[multiplicidade]] e [[aparência]], conhece que o gozo da [[aparência]] é falaz e retorna ao [[uno]]. Nesta [[perspectiva]], o [[trágico]] não resulta da luta do [[herói]] contra o [[destino]]. A própria [[Natureza]] é [[originária]] e [[radicalmente]] [[trágica]]. O [[mito]] [[trágico]] é a [[representação]] [[simbólica]] da [[sabedoria]] [[dionisíaca]], com a ajuda de meios [[artísticos]] [[apolíneos]] e, pelo aniquilamento destes, chega-se ao [[uno]]. O [[estado]] [[apolíneo]], pela [[aparência]], corresponde ao [[princípio]] da “[[medida]]” no sentido [[helênico]]. A [[afirmação]] do [[estado]] [[apolíneo]] repousa sobre o abismo oculto do [[mal]] e do [[conhecimento]]. O [[estado]] [[dionisíaco]] era a [[desmedida]]. Este, mostrando o [[erro]] da [[aparência]] e conduzindo os [[homens]] ao [[estado]] de identificação primordial da [[Natureza]], produz uma consolação [[metafísica]], e a [[desmedida]] revela-se também como [[verdade]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em ''Vidas Secas''". In: -----. ''Travessia Poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 78.
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "As faces do [[trágico]] em [[Vidas]] Secas". In: ---. [[Travessia]] [[Poética]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 78.'''
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: A imediação mediada é nada mais do que a [[mediação]] da [[medida]], a ''[[poiesis]]''. A [[mediação]] da [[medida]] acontece na [[interpretação]]. Por isso é que todo [[ser humano]] é [[intérprete]] e nesse [[interpretar]] ele realiza a [[essência]] do [[humano]], uma [[essência]] que ele recebe e se torna o seu [[próprio]]. Por isso [[ler]] interpretando é sempre um [[interpretar-se]], não como [[decisão]] [[subjetiva]], mas como [[escuta]] do [[que é]] no [[como é]] da [[interpretação]]. Isso só é [[possível]] porque tanto o [[próprio]] de cada [[ser humano]] quanto o que vigora na [[obra de arte]] já são essas [[possibilidades]] que a [[interpretação]] da [[auto-escuta]] da [[fala]] da [[obra]] opera naquilo que recebeu como [[próprio]], o seu [[destino]].
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: A imediação mediada é nada mais do que a [[mediação]] da [[medida]], a ''[[poiesis]]''. A [[mediação]] da [[medida]] acontece na [[interpretação]]. Por isso é que [[todo]] [[ser humano]] é [[intérprete]] e nesse [[interpretar]] ele realiza a [[essência]] do [[humano]], uma [[essência]] que ele recebe e se torna o seu [[próprio]]. Por isso [[ler]] interpretando é [[sempre]] um [[interpretar-se]], não como decisão [[subjetiva]], mas como [[escuta]] do que é no como é da [[interpretação]]. Isso só é [[possível]] porque tanto o [[próprio]] de cada [[ser humano]] quanto o que vigora na [[obra de arte]] já são essas [[possibilidades]] que a [[interpretação]] da [[auto-escuta]] da [[fala]] da [[obra]] opera naquilo que recebeu como [[próprio]], o seu [[destino]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 202.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Midas]] da [[morte]] ou do [[ser feliz]]". In: ---.[[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 202.'''
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== 17 ==

Edição atual tal como 20h32min de 14 de fevereiro de 2025

1

"O divino é 'a medida' com a qual o homem confere medida ao seu habitar, à sua morada e demora sobre a terra, sob o céu. Somente porque o homem faz, desse modo, o levantamento da medida de seu habitar é que ele consegue ser na medida de sua essência" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ---.Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 172.

2

A questão na vigência do questionar mede seus julgamentos (krisis/crítica) pela medida do sentido e verdade do Ser e não apenas pela medida do ser do sendo, um ser concebido ideal e paradigmaticamente, pressupõe abertura para o envio dos diferentes modos de a phýsis se manifestar. A phýsis é a medida da lei e a lei da medida. São as experienciações do real sendo. Está, portanto, em contínuo e profundo diálogo com a tekhné e a episteme. Mas para ultrapassá-las como tekhné da poíesis e noein do einai/ser (cf. Parmênides: Peri physeos).


- Manuel Antônio de Castro
Ver também
* Questão

3

"Assim como a medida converte o tempo em razão, a identidade converte o lugar a uma espécie de extensão espacial sem localidade. A identidade assegura o predomínio da ideia para o senso comum. Tanto a medida assegura a temporalidade da ideia, quanto a identidade assegura a sua espacialidade. Esse é o modo como ficam afastadas assim, ao menos por parte da ideia, uma série de possibilidades dinamizadoras da realidade, e esta fica reduzida a uma temporalidade-espacialidade determinada pelas ações-realizações, bem como por aquilo que é capaz de caber no âmbito da ideia, ser por ela identificado e medido" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 71-2.

4

A compreensão vulgar de espaço e tempo são o resultado da medida. Toda "causalidade" resulta da medida. Mas o radical de medida diz o meditar, pensar. Acontece que nestes advém o que de si se mede enquanto presença e doação como clareira, verdade, sentido.


- Manuel Antônio de Castro

5

Nenhum ente é igual, cada um é uma doação original absoluta do ser, porque só podemos ser este ou aquele ente a partir do e na vigência do ser. Por isso somos sendo, isto é, provimos e nos presentificamos como doação do ser e caminhamos para o ser, num processo de manifestação e apropriação do que somos dimensionando-nos pelo ser e só pelo ser, ou seja, ser é: sersendo pelo agir e fazer até o sendoser. É a nossa medida essencial e única.


- Manuel Antônio de Castro

6

"A medida, a identidade, a analogia e a análise estruturam uma série de concepções acerca do que é o real, a verdade, o ser, a unidade. A medida sem dimensão, a identidade sem diferença, a analogia que, progressivamente, racionaliza, e a análise que, ascendente e progressivamente, descendente e regressivamente, é capaz de desligar, conformam os modos próprios de predomínio da ideia. Tudo isso concorre para a confecção de uma realidade sem espessura, sem densidade, linear e progressiva, uma realidade ideal" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 72.

7

"Agimos ao nos empenharmos por algum penhor. Talvez seja melhor e mais verdadeiro enunciar que o viver agindo é o viver em que acontece o sentido, uma vez que não somos um programa em que basta simplesmente iniciá-lo com um comando, um toque, como se faz hoje, em geral, com tudo que diz respeito à computação. Todo programa é orgânico e, por isso, seus processos, resultados e fins já estão inscritos e previstos. Tudo se regula por uma medida conhecida pelo programador e pela máquina. O que diferencia o agir do ser humano é que nele a vida se dá, acontece dentro da medida do viver e do morrer. Mas destes ninguém sabe a medida, pois eles mesmos são a medida, e não nós.


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.

8

"Toda ação, toda procura, se dá, acontece sempre, queiramos ou não, dentro de uma não-medida e de uma medida, que lhe são inerentes, internas e externas. Todas as ações humanas se dão, acontecem, sempre dentro de um paradoxo, de uma encruzilhada, em uma palavra, em um entre, ora orientadas pela medida da não-medida, ora tendo como fim a não-medida da medida. O pensador Aristóteles, na abertura do primeiro livro da Ética, nos diz que “em toda ação vive um empenho por algum bem”. Não podemos, porém, confundir “algum bem” com “o bem”. É neste e por este que nos advém o sentido. Isso é o ético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 216.

9

"A dança jamais pode se por a serviço de qualquer sistema, caso contrário perderá sua identidade, seu próprio. E qual é o próprio da dança, a sua identidade? Esta identidade não pode ser diferente da identidade de todo ser humano. O próprio é a medida de cada um. À realização dessa medida corresponde a história de cada um, que é sempre singular e irrepetível. Ou ao menos deveria ser. A medida é o destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de.Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.

10

"Dioniso foi educado por Hermes, a palavra-medida do sentido da vida e da morte. Só há sabedoria onde houver medida. Hermes é o mensageiro da medida não é a medida. Esta é o vigorar do sagrado, por isso Hermes é o mensageiro dos deuses, da divindade, isto é, do sagrado" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 190.

11

“A não-ação do sábio não é a inação.
Não é estudada. Coisa alguma a abala.
O sábio é quieto porque não se altera
Não porque ele queira ser quieto”.

....................................................

“O coração do sábio está tranquilo.
É o espelho do céu e da terra.
O espelho de tudo.
É vazio, é quieto, é tranquilo, é sem-sabor
O silêncio, a não-ação: esta é a medida do céu e da terra”.

.........................................................

“Assim, do vazio do sábio surge a quietude:
Da quietude, a ação. Da ação, a realização.
Da sua quietude vem sua não-ação, que é também ação
E é, portanto, sua realização.
Pois a quietude é alegria. A alegria é isenta de preocupações,
Fértil por muitos anos.
A alegria faz tudo despreocupadamente:
O silêncio e a não-ação
Eis a raiz de todas as coisas” (1).


Referência:
(1) TZU, Chuang.Ação e não-ação”. In: MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 106.

12

"Só há uma medida para o ser feliz: o morrer como sentido de plenitude" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 211.

13

"A medida, seja qualitativa seja quantitativa, como bem acentuou Antônio Jardim, em Música: vigência do pensar poético, é uma das características do pensamento metafísico-retórico ocidental" (1).
"Podemos medir falas, mas como medir no canto o encanto, o seu poder revelador, enquanto voz do silêncio? Como eles não são dimensionáveis, a ciência, filha predileta da metafísica, os classifica como algo estético e subjetivo, ou seja, não objetivos nem reais" (2).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 148.

14

"Mas ao entrar no estado de indivíduo, resultante da multiplicidade e aparência, conhece que o gozo da aparência é falaz e retorna ao uno. Nesta perspectiva, o trágico não resulta da luta do herói contra o destino. A própria Natureza é originária e radicalmente trágica. O mito trágico é a representação simbólica da sabedoria dionisíaca, com a ajuda de meios artísticos apolíneos e, pelo aniquilamento destes, chega-se ao uno. O estado apolíneo, pela aparência, corresponde ao princípio da “medida” no sentido helênico. A afirmação do estado apolíneo repousa sobre o abismo oculto do mal e do conhecimento. O estado dionisíaco era a desmedida. Este, mostrando o erro da aparência e conduzindo os homens ao estado de identificação primordial da Natureza, produz uma consolação metafísica, e a desmedida revela-se também como verdade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: ---. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 78.

15

A imediação mediada é nada mais do que a mediação da medida, a poiesis. A mediação da medida acontece na interpretação. Por isso é que todo ser humano é intérprete e nesse interpretar ele realiza a essência do humano, uma essência que ele recebe e se torna o seu próprio. Por isso ler interpretando é sempre um interpretar-se, não como decisão subjetiva, mas como escuta do que é no como é da interpretação. Isso só é possível porque tanto o próprio de cada ser humano quanto o que vigora na obra de arte já são essas possibilidades que a interpretação da auto-escuta da fala da obra opera naquilo que recebeu como próprio, o seu destino.


- Manuel Antônio de Castro.

16

"A medida da razão não pode nos determinar o caminho do ser feliz. A razão é o saber do ente esquecido do sentido do ser. A sabedoria e felicidade só podem doar-se no ente a partir do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---.Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 202.

17

A dança jamais pode se por a serviço de qualquer sistema, caso contrário perderá sua identidade, seu próprio. E qual é o próprio da dança, a sua identidade? Esta identidade não pode ser diferente da identidade de todo ser humano. O próprio é a medida de cada um. À realização dessa medida corresponde a história de cada um, que é sempre singular e irrepetível. Ou ao menos deveria ser. A medida é o destino. O genos, palavra grega que diz a nossa proveniência, é o princípio e medida que doa a cada um o seu destino.


- Manuel Antônio de Castro.
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