Ente
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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Edição de 01h49min de 30 de janeiro de 2024
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1
- A palavra ente, em português, provém do particípio presente latino do verbo esse: ens, entis. É, portanto, uma forma verbal em sua origem. E ela traduz o particípio presente do verbo einai (ser), em grego: on. Ente (on), particípio presente do verbo ser (em grego eínai), é entendido tanto como substantivo quanto como verbo. Ente significa o que se apresenta, o que se realiza. E o que se apresenta remete para duas dimensões: a) verbo; b) substantivo. Como substantivo é o positum (posto). Na consideração do positum não se leva em conta o verbo, a apresentação, ou seja, uma dinâmica relacional/referencial que pres-supõe a dis-posição e que remete para a quaternidade (em alemão Geviert). O ob-jeto (o posto diante de) é: 1o. relacional (ao sujeito); 2o. apresentativo. A concepção do ob-jeto como algo fixo do conhecimento não leva em conta a inter-subjetividade nem o caráter verbal e muito menos a Physis / Logos. Mas sem physis e logos não há ente nem sua percepção como logos. Daí a tradução do on como coisa ou ente não poder ser reduzida a um conceito nem subjetivo nem objetivo. Ele, como tal, sempre se retrai ao assédio dos conceitos. A outra tradução do on como res/coisa, de onde se originou a palavra realidade, deve nos levar e ver nesta algo dinâmico, verbal e não somente como algo já posto e disposto.
2
- Entificar é esquecer o sentido do ser. Esquecer o sentido do ser é reduzir o ser ao ente e a língua a código. Daí surge também a substituição do sentido pelo significado, este é o sentido sem a linguagem e seu vigorar, ou seja, a mera representação do que é, uma vez que foi reduzido a ente.
3
- O ser humano pela instrumentalização da razão tende a entificar tudo, sobretudo o fundamento a que se reduziu a realidade. Toda conceituação é representação e entificação. A realidade é sem fundamento. Ela funda os fundamentos, os suportes, mas sem se fundamentar. Realidade é o vigorar e acontecer do fundar.
4
- Surpreendemo-nos então numa con-juntura de questão: nós, seres humanos, isto é, cada sendo, só é e pode ser no, com e a partir do ser. Porém, o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Ente diz todo sendo em com-posição. Composição diz todo estar sendo. Todo estar é o ser se dando em posição, ou seja, vigorando no ente. O ser se dá em posição na medida do seu vigorar como linguagem, isto é, enquanto lógos.
5
- "O ser não pode ser. Se fosse, já não seria ser, mas um ente. Contudo, o primeiro pensador que pensou o ser, Parmênides, não diz: Esti gar einai" (frag. 6)? Há, de fato, ser e está presente o ser presente. Temos que pensar que se, efetivamente, no einai, o ser presente, está falando a aletheia, o desvelar-se, acentuado no esti e dito do einai, é : o deixar que venha à presença. Ser: na realidade o que permite a presença"(1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. In: A tese de Kant sobre o ser. Trad. Helena Cortés e Arturo Leyte. Madri: Alianza Editorial, 2007, p. 387. (Tradução do espanhol: Manuel Antônio de Castro).
6
- Distinguir ser e ente não é fácil, tratando-se do pensamento grego. É sobretudo uma questão de pensamento e tradução. Vejamos. Em Carta sobre o humanismo, à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já é. Ora, o que é, antes de tudo, é o Ser ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O gibt (dá) evoca a Essência do Ser, que se doa, concedendo a sua Verdade. O dar-se a si mesmo com a abertura à abertura é o próprio Ser. Ao mesmo tempo, emprega-se o es gibt (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: o Ser é; pois o é se diz comumente daquilo que é. E a isso chamamos ente" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 56.
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- "Só no plano do ente e porque somos entes é que somos, necessariamente, mortais. E ser mortal diz exatamente isso: experienciarmos como entes ser o ser do não-ente, pois todo sendo é e não é, daí estar sendo sem jamais chegar a ser como sendo o ser do sendo. O ser do não-ente não é mortal porque não é. Se fosse, seria ente e não o ser de todo não-ente. O ser não é.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 210.
8
- "De todas as coisas eu posso perguntar: o que “é”? O que “é” isto? O que “é” aquilo? Também posso perguntar por tudo de uma só vez: o que “é” isto tudo? O que “é” a totalidade e a unidade de tudo aquilo sobre o que posso perguntar? Nada de tudo o que é pode fugir à possibilidade de ser perguntado se “é” e o que “é”. E enquanto ela é perguntável justamente por seu “é”, ela é de todo perguntável, pois todo o que ela é entra neste seu “é”. E também posso perguntar para além de todos os limites por tudo simplesmente, e sempre de novo esta pergunta será sobre o “é” de tudo o que ultrapassa os limites imagináveis. Significa que tudo aquilo a que posso dirigir minha pergunta - e isto significa tudo o que “é” de uma ou de outra forma - tem sua unidade fundamental no fato de que “é”; de cada coisa da realidade em particular e da realidade como totalidade, devo dizer que é perguntável por seu “é”. Ora, o que “é”, nós chamamos de ente" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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- "Ora, todos os entes não concordam nisto de que são isto ou aquilo segundo uma grande variedade, mas nisto que todos “são”, ou seja de que de cada um posso dizer que “é”. Por isto perguntar pelo ente enquanto ente significa perguntar por aquilo pelo qual o ente “é”, pelo qual um ente é um ente. Ora, ente é ente pelo fato de que ele “é”. Assim podemos finalmente dizer, ente é ente por virtude do ser" (1). Aqui se coloca a questão da identidade e da diferença. Para não cair no abstrato do conceito é necessário manter sempre o vigorar e a questão da proximidade e da distância.
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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- "O ser é o princípio da realidade do ente, a essência é o princípio da limitação da realidade do ente" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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- Se o ser é o princípio da realidade do ente, a essência é o princípio de limitação da realidade do ente. O que isto implica? Devemos distinguir no ente o que é e o como é. O princípio do que o ente é é o ser, ao passo que o princípio do como o ente é é a essência. Aí é importante destacar duas dimensões: 1ª. ao realizar a sua essência o ente se desdobra em duas dimensões: o ser e a aparência; 2ª. além disso, ainda devemos considerar no como ele se desdobra, ou seja, na sua realização, o como se conhece.
12
- Cada ente, enquanto ser humano, na sua diferença ontológica, ocupa uma posição na realidade e ele recebeu possibilidades absolutamente positivas que fazem com que ele seja o que ele é e não outro, ou seja, um próprio. São possibilidades tão dinâmicas que jamais chegamos a conquistá-las em toda a sua riqueza. Daí o desafio de nos conhecermos no que somos. Por isso, a racionalidade moderna não pode jamais reduzir o ser que cada um é ao determinado por um modelo, mesmo de diferentes teorias, sociais ou psicológicas. Pelo contrário, há a matriz/’’’matrix’’’ (ser) que nos torna inesgotáveis. E é dessa riqueza inesgotável que nos falam as obras de arte. E é por isso que para cada um o viver se torna uma tarefa poética. As obras de arte são como velas onde se concentra uma enorme energia que precisa ser acesa/lida para que a leitura as transforme em chamas que nos iluminam, mas iluminam no sentido de chegarmos a nos conhecermos e libertarmos.
13
- "O ser é o fundamento interno da realidade do ente, do conteúdo entitativo do ente. Mas ser como fundamento do ente não coincide totalmente com este ente, como se fosse apenas fundamento deste ente aqui. O ser como ser é o fundamento de todos os entes. Por isto mesmo é que com o ser não está posta nenhuma limitação no ente, mas ele precisa de outro princípio que seja o princípio de limitação, a saber, o que chamamos de essência. O ser é o princípio da realidade do ente, a essência é o princípio da limitação e determinação do ente. Ser não é essência e essência não é ser sem mais; um não se identifica com a outra. Há uma diferença entre ser e essência, que está posta no ente finito e que pertence essencialmente ao ente finito" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
14
- "... até os tempos modernos o homem não ocupava, na filosofia, um lugar que o destacasse radicalmente dos demais entes mundanos. O mesmo esquema metafísico fundamental servia para a explicação de todos os entes da realidade. Todos eram considerados igualmente como entes e como tais obedeciam às mesmas leis da “essência”. Cada qual tinha a sua essência, que indicava o que ele era e como se diferenciava dos demais. Esta essência era definitiva e rígida desde o início, de tal forma que o ente podia agir somente segundo esta essência dentro dos limites de sua essência. Assim cada ente tinha a sua lei interna: o ser necessariamente era fiel à sua essência. O homem não escapava a isto" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
15
- "A natureza indicava de um lado todo o conjunto deste mundo múltiplo, mas também indicava o modo de ser de cada ente deste mundo: a natureza dos astros, a natureza da matéria, a natureza do cavalo, a natureza do homem e assim por diante. Mais uma vez se verifica que o homem era interpretado segundo o mesmo esquema metafísico de todos os demais entes mundanos: todos têm a sua natureza determinada, bem definida, dentro de cujos limites se movem" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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- "Ente finito significa que não é o ser pleno e ilimitado, mas que é tal e não tal outro. Ente finito é um ente limitado em seu ser pela essência, pela qual ele é o que ele é. Por isto, o espírito finito só pode atingir o ser do ente através de “o que é” do ente finito, ou seja, o que os escolásticos chamavam a “quidditas” de um ente finito, termo este proveniente do “quid est?”, isto é, “o que é?” este ente finito ou aquele ente finito" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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- "... se eu sei “que eu sou”, isto não provém de um puro saber do ser. Pelo contrário, eu só posso saber “que eu sou” sabendo mais ou menos “o que eu sou”, ou seja, sabendo acerca dos limites do ser deste ente finito que eu sou. Por mais atemático que seja este saber da minha “quidditas”, “do que” eu sou, é só nele que eu sei “que sou”. Isto é importante compreender: a saber que eu só posso dar-me conta de meu ser, se me dou conta dos limites de meu ser. Isto talvez fique mais claro na seguinte reflexão: Antes de mais nada – que eu, seja o que for, ou qualquer que seja a forma como possa saber o que sou – eu não sou o ser em ilimitada plenitude, mas um ente finito, que está posto e fundamentado no ser, mas limitado no ser. E por isto deixa margem para maior plenitude de ser para além dele mesmo. Por isto, se eu me sei a mim mesmo, então devo saber-me como algo que “é”, mas que não é o ser mesmo e total" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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- Só nominalmente conhecemos os entes. E isso se comprova facilmente pelo fato de que nem nos conhecemos a nós mesmos, quanto mais aos outros. É aí que entram as obras de arte. Elas laboram intensa e continuamente esse penetrar e desdobrar-se, praticamente infinito, da riqueza dos entes, especialmente o ente que nós somos. Em verdade, ao sermos ente do ser somos em verdade toda a riqueza do ser que, no entanto, é infinita. E nós somos finitos, mas abertos para essa riqueza infinita. Toda a nossa caminhada de vida ou travessia como sempre afirmou o pensador Guimarães Rosa, quanto autêntica, procura essa riqueza infinita, essa plenitude de iluminação que é o sentido do ser, o sentido de ser.
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- "Mas não existe apenas uma unidade fundamental que coliga todos os entes entre si, mas também cada ente particular tem uma certa unidade interna que permite que eu pergunte por ele de uma vez, sem precisar perguntar sucessivamente sob os vários aspectos que tal ente possa ter. De uma só vez posso perguntar: “O que é isto?”, precisamente porque tudo o que um ente tem de conteúdo positivo está fundamentado no ser, em virtude do qual tudo o que é é. Assim o ser não é apenas o horizonte da unidade formal de todos os entes, mas também o princípio da unidade real de que goza cada ente em particular" (1).
- Conferir o ensaio de Martin Heidegger: "O que é isto - a filosofia?" (2), onde se retoma esta questão, mas num outro encaminhamento que enriquece o que está aqui desenvolvido.
- (1) : Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
- (2) HEIDEGGER, Martin. Que é isto - a filosofia?. Identidade e diferença. Tradução, introdução e notas de Ernildo Stein. Editora Vozes / Petrópolis/RJ e Livraria Duas Cidades / São Paulo, Co-edição, 2006.
20
- "Não há apenas uma unidade em cada ente, mas também uma unidade formal que engloba toda multiplicidade de entes. Nesta perspectiva, o ente particular se torna parte de um todo englobante e como parte, naturalmente, ele não constitui unidade por si só, mas apenas em conjunto com o todo" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
21
- "O ente é posto como aquilo que ele é, em virtude do ser. Desde que ele é isto, ele não é outra coisa. E isto que ele é, ele o é em virtude do ser" (1).
- Também o saber é em virtude do ser, mas fazer do ser saber em sua identidade é o grande desafio, a essência da ação.
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
22
- "Quando sei algo acerca de um ente, ponho um saber acerca daquilo que o ente é em si" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
23
- Nossa relação com o ser do ente é complexa, vista sob a dimensão do saber: ele me aparece como objeto material]], quando quero saber o que é; me aparece como objeto formal, quando quero saber o como é; temos ainda a dimensão introduzida por Kant: o como se sabe. E falta ainda considerar, sobretudo, aquela dimensão que diz respeito ao próprio saber como tal: o para que se sabe, pois aí se manifesta a intencionalidade. O que falta pensar na intencionalidade é o não confundi-la com a finalidade. E isso é decisivo, porque quando se reduz tanto o ser quanto o saber, na dimensão da intencionalidade à finalidade sucede a inversão moralista pela qual os fins justificam os meios. Mas tais fins já estão dados no sistema ou modelo. E só então nesse agir se vê todo o abismo em que se move todo o nosso agir, quando tem como sentido o sentido do modelo.
24
- "O saber de toda resposta é sempre o limite experienciado a partir do não-saber, mas manifesto no plano do saber orgânico, que é sempre entitativo. Isso significa que a resposta não se dá nunca no âmbito do ser, mas tão-somente no plano do ente. Isso se dá porque a resposta, só em parte, é resposta à questão posta na pergunta. A resposta nunca se dá no plano do ser, e sim somente no plano do ente enquanto ente do ser. A resposta vai sempre ser paradoxal, pois responde no plano do ente, embora se mova e só se possa mover no plano do ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 199.
25
- " O ente que irrompe na clareira e é iluminado pela luz de Apolo não pode nem se opõe ao ente pensado no âmbito da clareira e o que nela se ausenta. O ente é ambíguo também. Se não fosse nem poderia ser, ser o ente do ser. Vigendo no vigor do ser, ele é também ambíguo: se articula como o que se descobre no desencobrimento da clareira da floresta" (1).
- Referência bibliográfica:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 201.
26
- "Porque o ser como infinitivo é que é a fonte originária das diversas falas, na medida em que é a fonte como verbo, no infinitivo, das diversas possibilidades dos entes, pois estes e só estes se dão nos tempos finitos. Daí a aparente facilidade de definir o que é identidade. Mas ela é ambígua, porque se move ao mesmo tempo e necessariamente no plano do ser e no plano dos entes, assim como o verbo se move no tempo infinitivo e nos tempos finitos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.
27
- "Que é isso o que somos? Aqui podemos nos mover numa dupla articulação. (1) No plano do ente: O que é? Pois tudo que é é ente. (2) Ou, o que é necessário, movermo-nos no plano do ser do ente. Neste caso, o alcance da resposta será medido não pelo ente, mas pelo ser do ente. Isso significa que a resposta não se dá nunca no âmbito do ser, mas apenas e tão-somente no plano do ente. Significa isto que a resposta só em parte é resposta, porque ela nunca se dá no plano do ser, mas somente no plano do ente enquanto ente do ser. Ou seja, a resposta vai sempre ser paradoxal, pois responde no plano do ente, embora se mova, e só pode se mover, no plano do ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 14.
28
- "Imagem-poética é sempre questão. A imagem-questão, como a linguagem, não é. Por isso, a obra de arte, enquanto operar de poiesis, não é ente. Como a linguagem, é doação do ser. Por isso, a imagem-questão não é ente, a obra não é ente, como a verdade (aletheia) não é ente" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 18.
29
- "Cada texto poético não é como tal um ente ao lado do que propriamente é um ente, p. ex., algo dotado de código genético ou funcionalidade, como sendo isto ou aquilo, este ou aquele utensílio. Então os textos, melhor, as obras, que são obras porque operam, se constituem de imagens-questões. Por exemplo, “Campo”, no ensaio de Heidegger “O caminho do campo”, é uma Imagem-questão. Que questões essa imagem nos coloca? Aí é só começar a pensar. E então podemos ligar "campo" a lugar, a mundo, a Terra, a Céu, aos mortais, aos imortais" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 20.
30
- Só nominalmente conhecemos os entes. E isso se comprova facilmente pelo fato de que nem nos conhecemos a nós mesmos, quanto mais aos outros. É aí que entram as obras de arte. Elas laboram intensa e continuamente esse penetrar e desdobrar-se, praticamente infinito, da riqueza dos entes, especialmente o ente que nós somos. Em verdade, ao sermos ente do ser somos toda a riqueza do ser.