Sentido

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 15h02min de 4 de Dezembro de 2019 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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"Método é uma palavra grega e diz concretamente toda caminhada que o ser-humano faz para atingir seus fins. Isso pressupõe o agir e seu sentido. O agir e seu sentido diz-se em grego póiesis, ou seja, ação com sentido tendo em vista a manifestação e construção de algo. Por isso todo nosso agir tem um fundo poético em sentido essencial. O sentido em sua etimologia significa caminho que dá unidade às sensações de todos os sentidos. A esta unidade ou sentido entendemos como tempo e póiesis, memória e linguagem" (1).


Referência:
(1) Cf. "A ação e a caminhada de vida". In: www.travessiapoetica.blogspot.com, 2006. Blog de Manuel Antônio de Castro.

2

"Se o essencial não foi destinado a ser compreendido, se somos cegos por que insistimos em ver com os olhos, por que não tentamos usar estas nossas mãos entortadas por dedos? Por que tentamos ouvir com os ouvidos o que não é som?" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Maçã no escuro. 3. e. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1970, p. 252.


Ver também:
*Arte
*Presença
*Clareira

3

A questão do sentido fica mais clara quando se examina o triângulo semiótico e se tenta aplicá-lo à música. Do ponto de vista da semiótica ou semiologia parece facilmente que o real é construído a partir do signo, daí que o referente foge do horizonte de reflexão, ficando na tensão significante/significado, seja como denotação, seja como conotação. Mas quando se tenta aplicar à música, esta é que origina o significante e o significado, mas sem que se possa falar em referente, ou seja, a música é o próprio referente na medida em que é a realidade tanto mais se manifestando quanto mais mergulhando misteriosamente no velar-se e no silenciar. É deste silêncio que se haure o sentido. Mas então aí não se pode falar de significado. O que aqui se diz da música deve ser dito igualmente da poesia e de todas as artes. O significado é do plano da epistemologia, ao passo que o silêncio é da dimensão do poético, em seu sentido ontológico. Neste se realiza o humano em seu sentido. E o humano diz respeito a todo e qualquer ser humano, em todas as culturas e épocas.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:
*Musas
*Interpretação
*Interpretar

4

Eis os três significados fundamentais de sentido (sentidos/sentir/percepção; direção, caminho; sintaxe, reunião enquanto aquilo que permanece, é constante e confiável). A apreensão da linguagem como a que dá sentido (reduzida ao conceito/signo) vem do assinalar o logos, a sintaxe, a ordem enquanto sentido que vigora no reunir, na unidade de reunião. Por isso, logos significa fundamentalmente pôr, depor e propor enquanto reunião e ordem de sentido. O sentido, portanto, enquanto sintaxe/logos, está no núcleo do que é "lugar" e do que é "mundo". É necessário fazer uma fenomenologia do sentir. Não há apenas os diferentes sentidos reunidos no sentir. O sentir é também um impulso vital de tensão de ente/ser pelo qual, como sentir no âmbito do ente, o sentir deste e daquele ente, cada ente como sendo quer sentir tudo, ou seja, o Ser. Isso fica, por exemplo, patente no poema de Fernando Pessoa: "Multipliquei-me, para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo". É importante compreender que a música perfaz todos os verbos-questões e que, por isso mesmo, essa inter-face de physis e poiesis nos verbos-questões se dá sempre como sentido. Esse dar-se da phýsis/poíesis como sentido é o Ser-entre, o lugar, o mundo.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:
*Conjuntura
*Identidade
*Diferença

5

Heidegger diz no ensaio A origem da obra de arte (1) que os sentidos (aistheton) só apreendem "algo" na medida em que fazem parte, de algum modo, de um "mundo". Ou seja, a coisa já se oferece num determinado "sentido" e cada sentido só sente a partir e no âmbito desse "sentido" (mundo). É claro que há aí uma relação constituída por um todo fundada pelo sentido e experienciada no e pelos sentidos. Um exemplo bem consistente é o jogo. Os movimentos, os processos, os toques, a presença dos sentidos recebem todos o seu sentido pelo sentido inerente ao agir que o jogo traz e pressupõe. Sem este sentido não há jogo. Os sentidos que entram na execução de um jogo e seus processos se manifestam nas jogadas e nos jogadores. Mas tanto uns como outros têm seu horizonte de sentido, no "sentido" (mundo) do jogo que está sendo jogado. Porém, a aparente "gratuidade" do jogo, de cada jogo, é uma doação do sentido da realidade no sentido do agir do ser humano. É nesse sentido que podemos dizer que o ser humano é essencialmente um ser lúdico: sentido, mundo, linguagem.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. Lisboa: Edições 70, 2010.


Ver também:
*Vida
*Vivência

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"Pensar o sentido do ser é escutar a realidade nos vórtices das realizações, deixando-se dizer para si mesmo o que é digno de ser pensado como o outro" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 15.


Ver também:
*Acontecer
*Diálogo

7

Heidegger pensa o sentido e pensamento, e o distingue de consciência e conhecimento. "O alemão sinnan, sinnen, pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma. Entregar-se ao sentido é a essência do pensamento que pensa o sentido. Este significa mais do que simples consciência de alguma coisa. Ainda não pensamos o sentido quando estamos apenas na consciência. Pensar o sentido é muito mais. É a serenidade em face do que é digno de ser questionado. No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um lugar onde se abre, então, o espaço que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:-------. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.


Ver também:
*Ser
*Questão

8

O sentido é a dimensão sagrada da qual, ao modo da música, a palavra chega a articular o engendramento originário da realidade. A linguagem como linguagem é sempre sentido e não simples significado. O significado é a articulação da linguagem como representação. Somos mais atraídos pela linguagem enquanto significado porque o real se nos dá como representação, onde o sentido propriamente se retrai. E nesse sentido, a música é a que mais resiste à representação. Mas também ela, articulada nas relações intra-mundanas das linguagens diversas enquanto significados, cai nas malhas da repetição. Esta é representação? Hoje não se fala simplesmente de música mas de gêneros seguidos de adjetivos . E a música para consumo se não é representação é repetição representada na repetição do já manifesto. Todas as "artes" podem tornar-se repetições do já manifesto com modificações circunstanciais e contextuais. Toda arte inaugural é sempre inauguradora de História (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) Cf. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo, volume I. Vozes: 1993, p. 208.


Ver também:
*Histórico
*Silêncio

9

Sentido está ligado a Télos. "Telos é o sentido, enquanto sentido implica princípio de desenvolvimento, vigor de vida, plenitude de estruturação" (1). Telos, enquanto sentido, não se traduz então como fim, finalidade. Por isso, Gadamer, a propósito do "sentido" do Ser em Heidegger, diz: "A meu ver, porém, quando pergunta pelo sentido do ser, Heidegger tampouco pensa "sentido" na linha da metafísica e de seu conceito de essência. Pensa-o, antes, como sentido interrogativo que não espera uma determinada resposta, mas que sugere uma direção ao perguntar" (2). Só vejo aí direção como tensão entre saber e não-saber, dialeticamente na procura da plenitude de realização.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 156.
(2) Cf. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 428.


Ver também:
*Questão
*Interpretar
*Consumação

10

O sentido está radicalmente ligado à compreensão, na medida em que esta manifesta a pertença do ente (entre os quais se acha o homem) ao ser. Esta pertença se manifesta através do círculo hermenêutico (1). Por isso mesmo, Ser e tempo trata fundamentalmente da questão do sentido do ser. A questão do sentido está, pois, ligada à questão da pré-compreensão, da compreensão, da pergunta enquanto saber e não-saber (sentido do que somos), da abertura, do projeto, da clareira. A compreensão enquanto sentido do ser/ ente em sua tensão remete para a proximidade. Diz Michelazzo: "Ela [a compreensão] é tanto a expressão da proximidade e da mútua pertinência entre o homem e o ser, quanto o próprio caminho para investigar o sentido do ser em geral, isto é, do ser dos entes em sua totalidade, incluindo o homem" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) Cf. MICHELAZZO, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo: Annablume, 1999, p. 107.
(2) Idem, p. 109.


Ver também:


11

"Sentido é a dinâmica de estabelecimento da unidade. Sentido é, desse modo, harmonia, isto é, a junção da di-ferença no uno" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 80.

12

"O sentido da realidade é uma questão de talento. Para a maioria das pessoas falta esse talento... e talvez seja melhor assim" (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Filme "Sonata de outono".

13

"O sentido interposto e a ação que é a interpretação - isso é um único e mesmo fenômeno, um único e mesmo acontecimento ou ato. Dito de outro modo: o inter do sentido inter-posto e o inter da inter-pretação são um e o mesmo fato, um e o mesmo acontecimento - a ação do viver, do existir" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 112.

14

"Sentido, isso que é nada, coisa nenhuma, mas tão-só este modo de ser próprio do homem, da vida ou da existência humana, em sendo antecipação e esta se mostrando como orientação, é aquilo que me põe, me sintoniza e me sincroniza como que em estado nascente com a própria coisa" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. Vida, realidade, interpretação. In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 107.

15

"Das vivências pode-se perguntar o significado, mas da vida só se pode esperar o sentido. Sentido é a linguagem sem significados e conceitos, mas fonte de todos os possíveis significados semânticos e discursos. É o sentido ético da vida de cada vivente em seu destino" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d'água e o mar": In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 252.

16

Os olhos são a janela da alma.
Cada um olha o mundo da sua janela.
O mundo não é o que cada um olha.
É o sentido do que acontece (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: ----. Leitura: Questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 87.

17

"O pensamento que calcula (das rechnende Denken) faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O pensamento que calcula corre de oportunidade em oportunidade. O pensamento que calcula nunca pára, nunca chega a meditar. O pensamento que calcula não é um pensamento que medita (ein besinnliches Denken), não é um pensamento que reflete (nachdenkt) sobre o sentido que reina em tudo que existe" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p.13.

18

"Sentido é o vigorar do ser, é a essencialização do ser, dando-se em verdade e linguagem. No e pelo vigorar do sentido, o suporte teórico-orgânico do ser humano acontece na transfiguração mundificante de seus sentidos e razão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

19

"Nas obras de arte, o sentido explode, advém, transborda, de dentro para fora, não havendo mais fora nem dentro, enfim, acontece compreensão. Uma obra de arte só é epocal por estar sempre transbordando, se desdobrando no sentido dos sentidos e do raciocinar. O sentido é o incessante pro-vocar a pensar como abertura do compreender".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

20

"É que uma língua só comunica se e na medida em que sua competência tiver sentido, isto é, enquanto puder articular as experiências inovadoras partilhadas pela comunidade. Responder à pergunta se um discurso é ou não é significativo equivale a responder à pergunta: que dimensão da experiência comunitária ele exprime, consolida e transforma?" (1). Ora, este fato mostra claramente que realidade e homem se dimensionam no vigor da Linguagem, enquanto lugar de origem de cada língua e seus discursos. É por isso que estas questões: homem, realidade, linguagem se constituem no núcleo duro da Poética, fundada na poiesis. Esta não é qualquer energia, mas a do sentido, isto é, da Linguagem. Perguntar, pois, pelo homem e pela realidade na Modernidade e na Pós-modernidade é perguntar à Linguagem pelo seu acontecer.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) Cf. LEÃO, Emmanuel Carneiro. A Pós-modernidade. Mimeo, p. 9.
Ver também:
*Lógos
*Sociedade
*Experienciar

21

"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.

22

“É assim que sentido constitui-se no páthos, no afeto ou no modo de ser, ao qual nós nos atemos, porque antes de tudo já o somos e, em nos atendo, nos projetamos e nos orientamos. Ele, o sentido, dita, revela, evidencia o de onde e o para onde” (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Filosofia como compreensão do que é, ou como a verdade do real". In: -----. O que é filosofia? - Filosofia como exercício de finitude -. Aparecida / SP: Editora Ideias e Letras, 2009, 47.

23

"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu porquê? Pois no porquê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, isto é, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz então a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar de antemão o sentido de qualquer sendo. Nisto se funda a identidade da diferença, se compreendermos aí identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 214.

24

"Há, no entanto, um forte argumento empírico a nos estimular ao cultivo de pensamentos que se não podem provar. É que são pensamentos e ideias reconhecidamente úteis. O homem realmente necessita de ideias gerais e convicções que lhe deem um sentido à vida e lhe permitam encontrar seu próprio lugar no mundo. Pode suportar as mais incríveis provações se estiver convencido de que elas têm um sentido" (1).


Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G. e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.

25

Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte de possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar. Há questionar quando se fazem e assumem perguntas essenciais, aquelas que só se podem fundar no sentido, uma vez que este se diferencia do significado, ou seja, o sentido reduzido a uma representação sígnica. Em vista disso todo sentido remete para uma significação, que não pode ser reduzida a uma representação sígnica e, sim, pode remeter para um símbolo, sobretudo religioso.


- Manuel Antônio de Castro

26

"Para o ser humano não basta viver, é necessário procurar o motivo do existir, isto é, o humano enquanto sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 191.

27

"As proposições da língua fundamentam os significados. O sentido é o silêncio de todo significado, de toda semântica. Com significados se faz muito barulho e discussão, se tomam posições e oposições, se afirmam verdades e falsidades. Mas só o silêncio acolhe o sentido e conduz toda fala para o agir essencial, aquele onde o ser humano encontra a sua medida, o seu sentido, o seu motivo de viver a vida como vivente, na certeza de que tem como finalidade o pleno sentido e realização de sua vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.

28

"Mas não somos nós, com nosso pensar, que damos sentido. O sentido já nos é dado. Como? Como o tempo se dá em cada instante. Não poderíamos experienciar nenhum instante como tempo se este não fosse sentido, ou seja, linguagem. A linguagem é o sentido do tempo na medida em que este é vida, é memória, é mar, é ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 251.

29

"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido. De imediato e de uma maneira muito evidente para todos, em qualquer momento, época e cultura, o entre acontece enquanto vivências e experienciações de vida. Mas dizer vivências e experienciações de vida quer dizer o mesmo que vivências e experienciações de morte, pois umas não acontecem sem as outras. A medida do entre tanto é a vida quanto a morte. Na medida está o sentido, no sentido está a medida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.

30

"As proposições da língua fundamentam os significados. O sentido é o silêncio de todo significado, de toda semântica. Com significados se faz muito barulho e discussão, se tomam posições e oposições, se afirmam verdades e falsidades. Mas só o silêncio acolhe o sentido e conduz toda fala para o agir essencial, aquele onde o ser humano encontra a sua medida, o seu sentido, o seu motivo de viver a vida como vivente, na certeza de que tem como finalidade o pleno sentido e realização de sua vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.

31

Há sempre em tudo três questões prévias para o aprender a pensar: o que é o ser humano? o que é a realidade? o que é o destino? E a palavra exata para se dimensionar o aprender a pensar é a questão do sentido. Por isso, o destino é a linha diretriz do horizonte das duas outras questões prévias. No destino está o sentido do que somos e não somos e, existindo, estamos a caminho de o realizar para chegar a sê-lo. Destino é o caminho a ser trilhado para manifestação do sentido que já nos foi dado. Se o destino é nosso próprio, o sentido é o caminho necessário do que somos. Desse modo, é impossível separar as três questões: o sentido da realidade é o humano se realizando em seu destino. Isso se torna para nós o real ou mundo.


- Manuel Antônio de Castro


32

" - Se pelo menos tivesse aprendido alguma coisa...Eu me sinto tão despreparado quanto no dia em que nasci. Não consigo encontrar um sentido. É isso o que temos de procurar... Às vezes... acho que é isso o que temos de procurar..." (1).
Fala do professor Rémy, ao voltar de uma tomografia feita nos Estados Unidos, levado pelo filho. O resultado é radical: câncer raro, sem cura, e, protanto, irreversível. Ao se ver diante da morte próxima, é que lhe vem a reflexão acima. O que é mais importante na vida? E constata que nunca tinha se preocupado com essa questão, embora seja o mais evidente, uma vez que somos todos mortais. O sermos mortais nos coloca inevitavelmente essa questão. Cabe a cada um fazer a sua travessia de sentido da vida.


Referência:
- Manuel Antônio de Castro
(1) Filme de Denys Arcand: As invasões bárbaras. Vencedor do Oscar de 2004 de Melhor filme estrangeiro.


33

"Ao vigor do originário realizando-se, doando-se, plenificando-se, denominaram os Gregos télos. O que é télos? "Costuma-se traduzir télos por meta, fim, finalidade. Todavia télos não diz nem a meta a que se dirige a ação, nem o fim em que a ação finda, nem a finalidade a que serve a ação. Télos é o sentido, enquanto sentido implica princípio de desenvolvimento, vigor de vida, plenitude de estruturação. Assim o télos, o sentido, de toda ação é consumar a atitude, é o sumo desenvolvimento do vigor em sua plenitude" (Leão, 1992: 156) (1). Portanto, só podemos entender o que é télos se pensarmos o sentido e se o pensarmos como princípio" (2).


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis, Vozes, 1992.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas de tradução". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 228.


34

"Há, pois, duas possibilidades, que brotam, se complementam e se integram na estrutura do pensar: o pensamento irrequieto, que calcula, e o pensamento sereno, que pensa o sentido. É da angústia deste pensamento do sentido que estamos fugindo hoje e na fuga lhe sentimos a falta. Por isso, procuramos preencher o vazio com discussões sobre filosofia e psicanálise" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 52.


35

"Não pensamos o sentido de graça. O sentido não se concede sem ascese. Exige paciência e serenidade de exercício. Temos de aprender a esperar o inesperado: que medre a semeadura da paciência e amadureça a serenidade do crescimento" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 54.


36

"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu por quê? No por quê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz, então, a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar, de antemão, o sentido de qualquer sendo. Nisso se funda a identidade da diferença, se compreendemos identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 98.
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