Horizonte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "... com [[relação]] à [[filosofia]] platônica, deve-se assinalar, antes de mais nada, que [[Platão]] pensou não bem o "[[mundo]] das [[ideias]]", mas a [[diferença]], a separação, o [[horismós]], o [[horizonte]] de constituição das [[coisas]]. [[Platão]] se curvou para os sortilégios do além, sacrificando as [[coisas]] do aqui.  A [[essência]] da árvore, [[essência]] da pedra, a [[essência]] do [[homem]], a [[essência]] do animal, a [[essência]] do [[divino]], não constituem uma "[[coisa]]", uma [[espécie]] de [[ideal]], mas o [[horizonte]] a partir do qual a árvore, a pedra, o [[homem]], o animal, um [[deus]] aparecem em seu [[ser]]" (1).
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: "... com [[relação]] à [[filosofia]] platônica, deve-se assinalar, antes de mais nada, que [[Platão]] pensou não bem o "[[mundo]] das [[ideias]]", mas a [[diferença]], a separação, o [[horismós]], o [[horizonte]] de constituição das [[coisas]]. [[Platão]] se curvou para os sortilégios do além, sacrificando as [[coisas]] do aqui.  A [[essência]] da árvore, a [[essência]] da pedra, a [[essência]] do [[homem]], a [[essência]] do animal, a [[essência]] do [[divino]], não constituem uma "[[coisa]]", uma [[espécie]] de [[ideal]], mas o [[horizonte]] a partir do qual a árvore, a pedra, o [[homem]], o animal, um [[deus]] aparecem em seu [[ser]]" (1).
: Ora, só podemos [[pensar]] em sacrificar as "[[coisas]] do aqui", caso partamos do [[platonismo]], onde predomina a [[lógica]] e não mais a [[dialética]] do [[diálogo]], presente nos [[diálogos]], isto é, nas [[obras]] que [[Platão]], o [[pensador]], escreveu. Na [[dialética]] não há sacrifício de nada, há [[integração]] sem exclusão. Essa é a [[dialética]] do [[pensador]] [[Platão]] e seus [[diálogos]]. Nesse [[sentido]] a [[dialética]] move-se sempre no [[horizonte]], no [[sentido]] em que a autora o diz. Porém, o [[diálogo]] integra e [[nada]] exclui, pois não é [[finito]] é [[infinito]] como [[horizonte]] da [[finitude]], da [[proximidade]] e da [[distância]]...
: Ora, só podemos [[pensar]] em sacrificar as "[[coisas]] do aqui", caso partamos do [[platonismo]], onde predomina a [[lógica]] e não mais a [[dialética]] do [[diálogo]], presente nos [[diálogos]], isto é, nas [[obras]] que [[Platão]], o [[pensador]], escreveu. Na [[dialética]] não há sacrifício de nada, há [[integração]] sem exclusão. Essa é a [[dialética]] do [[pensador]] [[Platão]] e seus [[diálogos]]. Nesse [[sentido]] a [[dialética]] move-se sempre no [[horizonte]], no [[sentido]] em que a autora o diz. Porém, o [[diálogo]] integra e [[nada]] exclui, pois não é [[finito]] é [[infinito]] como [[horizonte]] da [[finitude]], da [[proximidade]] e da [[distância]]...
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "As cordas serenas de Ulisses". In: '''Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carneiro Leão'''. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 171.
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante.''' "As cordas serenas de [[Ulisses]]". In: [[Ensaios]] de [[filosofia]] - Homenagem a Emmanuel Carneiro Leão. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 171.'''
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: "Diga-se ainda que não é a [[posição]] ou data [[histórica]] da [[composição]] do [[mito]] e a [[forma]] [[narrativa]] que devem [[determinar]] o [[diálogo]] com ele. É que não podemos [[reduzir]] a [[narrativa]] a uma [[posição]] [[formal]]. Para haver [[posição]], já antes o [[narrador]] se acha posicionado no [[horizonte]] que a própria [[linguagem]] abre. Podemos [[denominar]] essa [[abertura]] a [[clareira]] do [[aberto]], na qual todo [[horizonte]] acontece. [[Horizonte]] é a [[amplitude]] do [[visível]] em [[tensão]]  com o [[não-visível]]. Mas para haver [[horizonte]], já ele se mostrou na [[abertura]] da [[clareira]]" (1).
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: "Diga-se ainda que não é a [[posição]] ou data [[histórica]] da [[composição]] do [[mito]] e a [[forma]] [[narrativa]] que devem determinar o [[diálogo]] com ele. É que não podemos reduzir a [[narrativa]] a uma [[posição]] [[formal]]. Para haver [[posição]], já antes o [[narrador]] se acha posicionado no [[horizonte]] que a própria [[linguagem]] abre. Podemos [[denominar]] essa [[abertura]] a [[clareira]] do [[aberto]], na qual todo [[horizonte]] acontece. [[Horizonte]] é a amplitude do [[visível]] em [[tensão]]  com o [[não-visível]]. Mas para haver [[horizonte]], já ele se mostrou na [[abertura]] da [[clareira]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: .... .'''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 226.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: .... .[[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 226.'''
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: Quando se considera a [[questão]] do [[horizonte]] em toda a sua amplitude aparece uma das características de [[Hermes]], o [[deus]] das encruzilhadas. Ora, essas encruzilhadas são tanto as do [[horizonte]] ([[vertical]] e [[horizontal]]) como as de [[limite]] e [[não-limite]], [[verdade]] e [[não-verdade]], [[ser]] e [[não-ser]]. Por isso, o [[ser humano]] é ser-entre (''[[Dasein]]'') e seu [[percurso]] se dá no [[discurso]] da [[travessia|tra-vessia]]. Ele é um [[ser]]-em-[[travessia]] como [[entre-ser]], na [[liminaridade]] do [[horizonte]]. Além de [[ser]] [[deus]] das [[encruzilhadas]], [[Hermes]] é também aquele que diz [[sempre]] a [[verdade]], porém, não [[toda]] a [[verdade]], ou seja, há [[sempre]] em [[toda]] [[verdade]] a [[não-verdade]], como [[fonte]] de [[toda]] [[verdade]].
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: Quando se considera a [[questão]] do [[horizonte]] em toda a sua amplitude aparece uma das características de [[Hermes]], o [[deus]] das encruzilhadas. Ora, essas encruzilhadas são tanto as do [[horizonte]] (vertical e [[horizontal]]) como as de [[limite]] e [[não-limite]], [[verdade]] e [[não-verdade]], [[ser]] e [[não-ser]]. Por isso, o [[ser humano]] é ser-entre (''[[Dasein]]'') e seu [[percurso]] se dá no [[discurso]] da [[travessia|tra-vessia]]. Ele é um [[ser]]-em-[[travessia]] como [[entre-ser]], na [[liminaridade]] do [[horizonte]]. Além de [[ser]] [[deus]] das encruzilhadas, [[Hermes]] é também aquele que diz [[sempre]] a [[verdade]], porém, não toda a [[verdade]], ou seja, há [[sempre]] em toda [[verdade]] a [[não-verdade]], como [[fonte]] de toda [[verdade]].
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Aprendendo a pensar'''. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 184-5.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''[[Aprendendo]] a [[pensar]]. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 184-5.'''
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "As cordas serenas de Ulisses". In: '''Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carenerio Leão'''. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 172.
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante.''' "As cordas serenas de [[Ulisses]]". In: [[Ensaios]] de [[filosofia]] - Homenagem a Emmanuel Carenerio Leão. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 172.'''
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: Tanto externa como internamente [[sempre]] e [[sempre]] nos projetamos numa linha de  [[horizonte]] para além da qual sabemos [[nada]], pois está para além do [[limite]], ou seja, torna-se o [[ilimitado]], e que, no entanto, é o [[horizonte]] de toda [[procura]] e [[cuidado]]: a terceira [[margem]] do [[horizonte]]. Um [[horizonte]] onde procuramos [[ver]] tanto e contraditoriamente não vemos nem podemos [[ver]] o que precede todo o [[olhar]] do próprio [[olho]]. Tão distante  e insondável o [[horizonte]] e, misteriosamente, esse é [[sempre]] o [[limite]] do que não tem [[limite]], ou seja, do [[ilimitado]], um [[limite]] que [[sempre]] está [[próximo]], tão [[próximo]] que não o podemos [[ver]]. Como nossa [[razão]], tão brilhante, potente e deslumbrante é [[limitada]], pois não nos pode oferecer o [[ilimitado]]! Na [[verdade]], a [[luz]] da [[razão]] é um [[limiar]], um ''[[entre]]'', diziam os [[gregos]]  ''[[logos]]'', de [[abertura]] para as [[possibilidades]] que [[fundam]] todo [[ilimitado]].  
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: Tanto externa como internamente [[sempre]] e [[sempre]] nos projetamos numa linha de  [[horizonte]] para além da qual sabemos [[nada]], pois está para além do [[limite]], ou seja, torna-se o [[ilimitado]], e que, no entanto, é o [[horizonte]] de toda [[procura]] e [[cuidado]]: a terceira margem do [[horizonte]]. Um [[horizonte]] onde procuramos [[ver]] tanto e contraditoriamente não vemos nem podemos [[ver]] o que precede todo o [[olhar]] do próprio [[olho]]. Tão distante  e insondável o [[horizonte]] e, misteriosamente, esse é [[sempre]] o [[limite]] do que não tem [[limite]], ou seja, do [[ilimitado]], um [[limite]] que [[sempre]] está [[próximo]], tão [[próximo]] que não o podemos [[ver]]. Como nossa [[razão]], tão brilhante, potente e deslumbrante é [[limitada]], pois não nos pode oferecer o [[ilimitado]]! Na [[verdade]], a [[luz]] da [[razão]] é um [[limiar]], um ''[[entre]]'', diziam os [[gregos]]  ''[[logos]]'', de [[abertura]] para as [[possibilidades]] que [[fundam]] todo [[ilimitado]].  
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: O termo [[horizonte]] provém do verbo grego ''horidzo'' e significa [[limitar]]. Ele diz propriamente [[limite]], mas toda [[experiência]] concreta de [[horizonte]], ou seja, na nossa vida cotidiana e de [[acontecimentos]], já nos diz mais do que o simples [[limite]]. Nos diz do [[homem]] em [[liminaridade]], em estado de limiar, pois é impossível falar de [[limite]] sem ao mesmo tempo e tensionalmente sermos lançados no [[não-limite]]. Isso não nos diz imediatamente a [[palavra]] [[limite]] porque não nos damos conta de que só se pode traçar um [[limite]] enquanto [[possibilidade]] efetiva dada pelo [[não-limite]], o [[limite]] é uma oferta do [[não-limite]], na medida em que se dando e podendo [[ser]] posto e pro-posto como [[limite]] se retira e retrai como [[não-limite]]. Este retraimento é toda [[possibilidade]] do [[limite]] se afirmar como [[limite]], de tal maneira que o que é [[próprio]] do [[limite]] é o [[não-limite]], do qual e a partir do qual ele se pode mostrar como o que ele [[é]].
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: O termo [[horizonte]] provém do verbo grego ''horidzo'' e significa [[limitar]]. Ele diz propriamente [[limite]], mas toda [[experiência]] concreta de [[horizonte]], ou seja, na nossa [[vida]] cotidiana e de [[acontecimentos]], já nos diz mais do que o simples [[limite]]. Nos diz do [[homem]] em [[liminaridade]], em estado de [[limiar]], pois é impossível falar de [[limite]] sem ao mesmo tempo e tensionalmente sermos lançados no [[não-limite]]. Isso não nos diz imediatamente a [[palavra]] [[limite]] porque não nos damos conta de que só se pode traçar um [[limite]] enquanto [[possibilidade]] efetiva dada pelo [[não-limite]], o [[limite]] é uma oferta do [[não-limite]], na medida em que se dando e podendo [[ser]] posto e pro-posto como [[limite]] se retira e retrai como [[não-limite]]. Este retraimento é toda [[possibilidade]] do [[limite]] se afirmar como [[limite]], de tal maneira que o que é [[próprio]] do [[limite]] é o [[não-limite]], do qual e a partir do qual ele se pode mostrar como o que ele [[é]].
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: "O [[horizonte]] é o [[lugar]] em que, subtraindo-se à [[visão]], o visível desaparece no invisível. Se observarmos [[céu]] e [[mar]], o [[horizonte]] não é a linha da [[diferença]]. É a profundidade da [[identidade]]. Na [[visibilidade]] das [[diferenças]], a [[identidade]] se mostra como a [[diferenciação]] de [[céu]] e [[mar]]. Com ser o [[lugar]] de desaparecimento, [[horizonte]] é também o [[lugar]] de aparecimento do visível. O "[[horizonte]]" é [[identidade]], harmonia invisível de contrários e oposições" (1). Temos no [[horizonte]] [[sempre]] a articulação do [[limite]] e [[não-limite]], enquanto [[dobra]].
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: "O [[horizonte]] é o [[lugar]] em que, subtraindo-se à [[visão]], o [[visível]] desaparece no [[invisível]]. Se observarmos [[céu]] e [[mar]], o [[horizonte]] não é a linha da [[diferença]]. É a profundidade da [[identidade]]. Na [[visibilidade]] das [[diferenças]], a [[identidade]] se mostra como a [[diferenciação]] de [[céu]] e [[mar]]. Com ser o [[lugar]] de desaparecimento, [[horizonte]] é também o [[lugar]] de aparecimento do [[visível]]. O "[[horizonte]]" é [[identidade]], harmonia [[invisível]] de contrários e oposições" (1). Temos no [[horizonte]] [[sempre]] a articulação do [[limite]] e [[não-limite]], enquanto [[dobra]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Literatura brasileira: sob o signo de Narciso”. In: ''Origens da Literatura Brasileira''. Coleção Comunicação 4. Diversos autores. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979, p. 8.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' [[Literatura]] brasileira: sob o signo de [[Narciso]]. In: [[Origens]] da [[Literatura]] Brasileira. Coleção [[Comunicação]] 4. Diversos [[autores]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979, p. 8.'''
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: "Portanto, a [[liberdade]] não é um exercício da [[vontade]] que conhece, mas um apelo de [[ser]] no e pelo [[sentido]] da [[verdade]] do [[Ser]]. É pensando nesse [[princípio]] que o [[poeta]] Píndaro disse: “Chega a [[ser]] o que já és, aprendendo”. Em virtude disso, necessariamente, o [[horizonte]] do [[limite]] é sempre o [[não-limite]]. É o que já fazemos todos nós ao experienciarmos o [[horizonte]] como o que se vê e não vê, conhece e não conhece, [[é]] e [[não é]], na horizontalidade e verticalidade de uma linha que não cessa de se trans-formar, trans-dispor.  O [[horizonte]] é sem [[medida]] e nem por isso podemos afirmar dele que é [[imaginário]] ou [[falso]], ou que depende da [[ideia]] de cada um. Mudará, sim, o [[limite]] do que se vê e conhece, não a [[existência]] do [[horizonte]]. E nenhuma trans-disciplinaridade poderá dar conta da [[ambiguidade]] do [[horizonte]], seja [[interno]], seja [[externo]]" (1).
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: "Portanto, a [[liberdade]] não é um exercício da [[vontade]] que conhece, mas um apelo de [[ser]] no e pelo [[sentido]] da [[verdade]] do [[Ser]]. É pensando nesse [[princípio]] que o [[poeta]] Píndaro disse: “Chega a [[ser]] o que já és, aprendendo”. Em virtude disso, necessariamente, o [[horizonte]] do [[limite]] é sempre o [[não-limite]]. É o que já fazemos todos nós ao experienciarmos o [[horizonte]] como o que se vê e não vê, conhece e não conhece, [[é]] e [[não é]], na horizontalidade e verticalidade de uma linha que não cessa de se trans-formar, trans-dispor.  O [[horizonte]] é sem [[medida]] e nem por isso podemos afirmar dele que é [[imaginário]] ou [[falso]], ou que depende da [[ideia]] de cada um. Mudará, sim, o [[limite]] do que se vê e conhece, não a [[existência]] do [[horizonte]]. E nenhuma trans-disciplinaridade poderá dar conta da [[ambiguidade]] do [[horizonte]], seja [[interno]], seja externo" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[ser]] [[humano]] e seus [[limites]]". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos [[limites]] - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.'''
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== 11 ==
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: "A [[palavra]] [[horizonte]] em português se formou do [[verbo]] grego ''horidzo'': limitar, fixar as margens ou [[limiar]], [[delimitar]], [[definir]]. [[Horizonte]] é a [[linha]] ou [[círculo]] mutável que limita a vista para tudo que se vê daquilo que se dá a [[ver]] e também se vela à [[visão]]. É a [[realidade]] enquanto [[princípio]] que de-termina o [[horizonte]], ou seja, aquilo que se vê. [[De-terminar]] é [[pôr]] [[limite]], término. Porém, o [[princípio]] é sem [[limite]], embora o possibilite e o inclua" (1).
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: "A [[palavra]] [[horizonte]] em português se formou do [[verbo]] grego ''horidzo'': limitar, fixar as margens ou [[limiar]], delimitar, [[definir]]. [[Horizonte]] é a linha ou [[círculo]] mutável que limita a vista para tudo que se vê daquilo que se dá a [[ver]] e também se vela à [[visão]]. É a [[realidade]] enquanto [[princípio]] que de-termina o [[horizonte]], ou seja, aquilo que se vê. De-terminar é [[pôr]] [[limite]], término. Porém, o [[princípio]] é sem [[limite]], embora o possibilite e o inclua" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[ser]] [[humano]] e seus [[limites]]". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos [[limites]] - [[ensaios]] para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.'''
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio.''' [[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal. '''
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: "O termo “[[horizonte]]” foi introduzido na [[filosofia]] por [[Husserl]]. Tratava-se ainda de um [[horizonte]] [[empírico]] [[fenomenológico]] e, portanto, ''[[aposteriori]]''. [[Heidegger]] o re-elaborou, dando-lhe maior [[profundidade]] em direção à [[transcendentalidade]] ''[[apriori]]''" (1).
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: "O termo “[[horizonte]]” foi introduzido na [[filosofia]] por [[Husserl]]. Tratava-se ainda de um [[horizonte]] [[empírico]] [[fenomenológico]] e, portanto, aposteriori. [[Heidegger]] o re-elaborou, dando-lhe maior [[profundidade]] em direção à [[transcendentalidade]] ''[[apriori]]''" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio. '''[[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.'''
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:  (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio. '''[[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal. '''
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: "[[Todo]] [[horizonte]] é uma ''linha'' vertical e [[horizontal]] instável [[entre]] [[limite]] e [[não-limite]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: Edições Tempo Brasileiro: [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]], p. 226.'''

Edição atual tal como 15h38min de 27 de março de 2025

1

Todo enigma e imprecisão do limite se expressa bem no termo horizonte, do verbo grego horidzo, que significa limitar. E esse enigma vê-se bem numa pergunta: Como caminhar e alcançar a linha do horizonte? Pois quanto mais nele caminhamos e o pro-curamos mais o horizonte se abre em novas possibilidades. Essa é a utopia cotidiana do viver o que podemos ser, o que nos é próprio. A esta abertura de possibilidades para o realizar-se do ser humano cotidiano e utópico é o que se chama transcendência, abertura de mundo, logos. Mas, por outro lado, o ser humano vive a angústia da finitude, ou seja, vivemos sempre na linha instável da proximidade e da distância. E estas também nos lançam numa outra linha do horizonte: a vertical. Quanto mais olhamos e vemos dentro de nós, mais temos para ver e descobrir, num jogo de espelhos infinito. É o mistério de ser da finitude e do horizonte. Enfim, nossa existência é uma caminhada, onde o essencial é descobrir e realizar o sentido da existência.


- Manuel Antônio de Castro.

2

"... com relação à filosofia platônica, deve-se assinalar, antes de mais nada, que Platão pensou não bem o "mundo das ideias", mas a diferença, a separação, o horismós, o horizonte de constituição das coisas. Platão se curvou para os sortilégios do além, sacrificando as coisas do aqui. A essência da árvore, a essência da pedra, a essência do homem, a essência do animal, a essência do divino, não constituem uma "coisa", uma espécie de ideal, mas o horizonte a partir do qual a árvore, a pedra, o homem, o animal, um deus aparecem em seu ser" (1).
Ora, só podemos pensar em sacrificar as "coisas do aqui", caso partamos do platonismo, onde predomina a lógica e não mais a dialética do diálogo, presente nos diálogos, isto é, nas obras que Platão, o pensador, escreveu. Na dialética não há sacrifício de nada, há integração sem exclusão. Essa é a dialética do pensador Platão e seus diálogos. Nesse sentido a dialética move-se sempre no horizonte, no sentido em que a autora o diz. Porém, o diálogo integra e nada exclui, pois não é finito é infinito como horizonte da finitude, da proximidade e da distância...


Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "As cordas serenas de Ulisses". In: Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carneiro Leão. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 171.

3

"Diga-se ainda que não é a posição ou data histórica da composição do mito e a forma narrativa que devem determinar o diálogo com ele. É que não podemos reduzir a narrativa a uma posição formal. Para haver posição, já antes o narrador se acha posicionado no horizonte que a própria linguagem abre. Podemos denominar essa abertura a clareira do aberto, na qual todo horizonte acontece. Horizonte é a amplitude do visível em tensão com o não-visível. Mas para haver horizonte, já ele se mostrou na abertura da clareira" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: .... .Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 226.

4

Quando se considera a questão do horizonte em toda a sua amplitude aparece uma das características de Hermes, o deus das encruzilhadas. Ora, essas encruzilhadas são tanto as do horizonte (vertical e horizontal) como as de limite e não-limite, verdade e não-verdade, ser e não-ser. Por isso, o ser humano é ser-entre (Dasein) e seu percurso se dá no discurso da tra-vessia. Ele é um ser-em-travessia como entre-ser, na liminaridade do horizonte. Além de ser deus das encruzilhadas, Hermes é também aquele que diz sempre a verdade, porém, não toda a verdade, ou seja, há sempre em toda verdade a não-verdade, como fonte de toda verdade.


- Manuel Antônio de Castro

5

"Em tudo, que aí vemos, nós nos percebemos numa dada posição. É que horizonte, panorama e perspectiva se coordenam e referem à posição que ocupamos [...]. A solidez e estabilidade de uma posição não dependem nem da perspectiva nem do horizonte nem do panorama. Dependem da abertura que, possibilitando perspectivas, dá acesso à visibilidade de horizonte e panorama. Por isso só nos é acessível o que se nos pro-sta aberto pela abertura. Só temos acesso àquilo para o que estamos abertos [...]. A abertura não nos abre apenas o acessível. Também o acesso ao inacessível, como tal, nos é facultado pela abertura que se exerce na própria diferenciação de aberto e fechado, acessível e inacessível" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 184-5.

6

"Na verdade, mais do que incluir o horizonte na visão das coisas, o que Platão fez foi relembrar que as coisas são os contornos-limites que aparecem no aberto do horizonte. Platão não ultrapassa as coisas. Ultrapassa, transcende a visão que destaca as coisas de seu horizonte e esquece essa duplicidade, essa conjugação dual de horizonte e realidade" (1).


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "As cordas serenas de Ulisses". In: Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carenerio Leão. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 172.

7

Tanto externa como internamente sempre e sempre nos projetamos numa linha de horizonte para além da qual sabemos nada, pois está para além do limite, ou seja, torna-se o ilimitado, e que, no entanto, é o horizonte de toda procura e cuidado: a terceira margem do horizonte. Um horizonte onde procuramos ver tanto e contraditoriamente não vemos nem podemos ver o que precede todo o olhar do próprio olho. Tão distante e insondável o horizonte e, misteriosamente, esse é sempre o limite do que não tem limite, ou seja, do ilimitado, um limite que sempre está próximo, tão próximo que não o podemos ver. Como nossa razão, tão brilhante, potente e deslumbrante é limitada, pois não nos pode oferecer o ilimitado! Na verdade, a luz da razão é um limiar, um entre, diziam os gregos logos, de abertura para as possibilidades que fundam todo ilimitado.


- Manuel Antônio de Castro

8

O termo horizonte provém do verbo grego horidzo e significa limitar. Ele diz propriamente limite, mas toda experiência concreta de horizonte, ou seja, na nossa vida cotidiana e de acontecimentos, já nos diz mais do que o simples limite. Nos diz do homem em liminaridade, em estado de limiar, pois é impossível falar de limite sem ao mesmo tempo e tensionalmente sermos lançados no não-limite. Isso não nos diz imediatamente a palavra limite porque não nos damos conta de que só se pode traçar um limite enquanto possibilidade efetiva dada pelo não-limite, o limite é uma oferta do não-limite, na medida em que se dando e podendo ser posto e pro-posto como limite se retira e retrai como não-limite. Este retraimento é toda possibilidade do limite se afirmar como limite, de tal maneira que o que é próprio do limite é o não-limite, do qual e a partir do qual ele se pode mostrar como o que ele é.


- Manuel Antônio de Castro

9

"O horizonte é o lugar em que, subtraindo-se à visão, o visível desaparece no invisível. Se observarmos céu e mar, o horizonte não é a linha da diferença. É a profundidade da identidade. Na visibilidade das diferenças, a identidade se mostra como a diferenciação de céu e mar. Com ser o lugar de desaparecimento, horizonte é também o lugar de aparecimento do visível. O "horizonte" é identidade, harmonia invisível de contrários e oposições" (1). Temos no horizonte sempre a articulação do limite e não-limite, enquanto dobra.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Literatura brasileira: sob o signo de Narciso. In: Origens da Literatura Brasileira. Coleção Comunicação 4. Diversos autores. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979, p. 8.

10

"Portanto, a liberdade não é um exercício da vontade que conhece, mas um apelo de ser no e pelo sentido da verdade do Ser. É pensando nesse princípio que o poeta Píndaro disse: “Chega a ser o que já és, aprendendo”. Em virtude disso, necessariamente, o horizonte do limite é sempre o não-limite. É o que já fazemos todos nós ao experienciarmos o horizonte como o que se vê e não vê, conhece e não conhece, é e não é, na horizontalidade e verticalidade de uma linha que não cessa de se trans-formar, trans-dispor. O horizonte é sem medida e nem por isso podemos afirmar dele que é imaginário ou falso, ou que depende da ideia de cada um. Mudará, sim, o limite do que se vê e conhece, não a existência do horizonte. E nenhuma trans-disciplinaridade poderá dar conta da ambiguidade do horizonte, seja interno, seja externo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.

11

"A palavra horizonte em português se formou do verbo grego horidzo: limitar, fixar as margens ou limiar, delimitar, definir. Horizonte é a linha ou círculo mutável que limita a vista para tudo que se vê daquilo que se dá a ver e também se vela à visão. É a realidade enquanto princípio que de-termina o horizonte, ou seja, aquilo que se vê. De-terminar é pôr limite, término. Porém, o princípio é sem limite, embora o possibilite e o inclua" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.

12

"O conteúdo deste pré-saber atemático é o que chamamos de “horizonte” da pergunta. É um horizonte apriori porque nele e a partir dele a pergunta se torna possível enquanto ele significa o complexo de condições transcendentais apriori do exercício da pergunta" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.

13

"O termo “horizonte” foi introduzido na filosofia por Husserl. Tratava-se ainda de um horizonte empírico fenomenológico e, portanto, aposteriori. Heidegger o re-elaborou, dando-lhe maior profundidade em direção à transcendentalidade apriori" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.

14

"Toda pergunta, todo saber nosso, se exerce dentro do horizonte do ser. Este, como horizonte, é constituído pelo ser absoluto. Ora, embora para perguntar devamos sempre já co-exercer o horizonte do ser ilimitado, no entanto, isto se realiza apenas no sentido de que o pré-captamos sem atingi-lo na sua plenitude, ou seja, que ele é fundamentalmente a direção para onde vai toda nossa pergunta e nosso saber, sem que jamais o possamos abranger à maneira de um abraço com que envolvemos alguém" (1).
A palavra horizonte aplicada ao ser é muito imprópria, porque o horizonte sempre implica limite e não-limite. Por outro lado, devemos afirmar que esse emprego faz parte da condição humana, ou seja, somos finitos e não-finitos.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.

15

"Todo horizonte é uma linha vertical e horizontal instável entre limite e não-limite" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: Edições Tempo Brasileiro: Arte: o humano e o destino, p. 226.
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