Razão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Em relação à Escola de Frankfurt, teríamos três momentos ou três razões: 1ª) Razão [[crítica]]. Tem sua origem em Kant e marca um otimismo no [[poder]] da razão, podendo ser instrumental e emancipatória. 2ª) Razão negativa. Surge com Horkheimer e Adorno, frente à realidade [[modernidade|moderna]] e ao [[humanismo]] diante da realidade da guerra, da [[cultura]] de massa. É uma perda de fé na razão. [[Fé]] é aqui a palavra adequada, pois tal fé ainda diz uma crença na razão que faz o homem maior do que a [[questão]], do que a [[realidade]]. 3ª) Razão comunicativa. Conceituação desenvolvida por Habermas, tenta superar o solipsismo da [[consciência]] e parte para o [[diálogo]] como fundamento do [[consenso]]. Porém, num tal diálogo nunca se dá o acontecer das diferenças, muito menos da realidade em seu desvelar e velar, em seu dar-se e guardar-se. Num tal diálogo quer-se determinar o auto-diálogo pelo diálogo comunicativo. Não se pensa o ''diá''- de todo [[diálogo|diá-logo]] nem o ''[[logos]]'' como a [[identidade]] das diferenças e a [[diferença]] das diferenças, e a identidade das identidades.
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: Em relação à '''Escola de Frankfurt''', teríamos três momentos ou três [[razões]]: 1ª) [[Razão]] [[crítica]]. Tem sua [[origem]] em Kant e marca um otimismo no [[poder]] da [[razão]], podendo ser instrumental e emancipatória. 2ª) [[Razão]] [[negativa]]. Surge com Horkheimer e Adorno, frente à [[realidade]] [[modernidade|moderna]] e ao [[humanismo]] diante da [[realidade]] da [[guerra]], da [[cultura]] de massa. É uma perda de [[]] na [[razão]]. [[Fé]] é aqui a [[palavra]] adequada, pois tal [[]] ainda diz uma [[crença]] na [[razão]] que faz o [[homem]] maior do que a [[questão]], do que a [[realidade]]. 3ª) [[Razão]] [[comunicativa]]. Conceituação desenvolvida por Habermas, tenta superar o solipsismo da [[consciência]] e parte para o [[diálogo]] como [[fundamento]] do [[consenso]]. Porém, num tal [[diálogo]] nunca se dá o [[acontecer]] das [[diferenças]], muito menos da [[realidade]] em seu [[desvelar]] e [[velar]], em seu [[dar-se]] e guardar-se. Num tal [[diálogo]] quer-se determinar o [[auto-diálogo]] pelo [[diálogo]] [[comunicativo]]. Não se pensa o ''diá''- de todo [[diálogo|diá-logo]] nem o ''[[logos]]'' como a [[identidade]] das [[diferenças]] e a [[diferença]] das [[diferenças]], e a [[identidade]] das [[identidades]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:"Por isso mesmo, a [[dialética]], ao contrário da [[lógica]] formal, é capaz de incluir em seus conceitos os elementos da contradição e da transformação, e de abarcar o não-idêntico em um mesmo conceito. A razão iluminista, com sua dupla face de razão emancipatória e razão instrumental, não deixa de ser razão quando se impõe e concretiza como razão instrumental. Mas por isso mesmo gera, pelas limitações a que ela própria se condena, sua contradição, sua crítica e negação, tornando-se necessário o resgate de seu contrário, originalmente nela contido: a razão emancipatória" (1).  
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: "Por isso mesmo, a [[dialética]], ao contrário da [[lógica]] formal, é capaz de incluir em seus [[conceitos]] os [[elementos]] da [[contradição]] e da [[transformação]], e de abarcar o não-idêntico em um [[mesmo]] [[conceito]]. A [[razão]] [[iluminista]], com sua dupla face de [[razão]] emancipatória e [[razão]] [[instrumental]], não deixa de ser [[razão]] quando se impõe e concretiza como [[razão]] [[instrumental]]. Mas por isso mesmo gera, pelas limitações a que ela [[própria]] se condena, sua [[contradição]], sua [[crítica]] e [[negação]], tornando-se [[necessário]] o resgate de seu contrário, [[originalmente]] nela contido: a [[razão]] emancipatória" (1).
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:Adorno está polemizando com Popper. Este defende a razão lógica, puramente metodológica, ao passo que Adorno defende uma dimensão [[existência|existencial]]. A pura razão lógica e instrumental é identificada com o [[positivismo]], defendido por Popper. Ver como conceitos de razão: emancipatória, instrumental, lógico-formal, negativa, dialógica ou comunicativa, são variadas mas todas metafísicas, pois tais conceitos não não questionam o fato de que toda razão já é um fundamento da consciência manifestado nas representações, sejam de ordem escritas ou visuais, sejam de ordem do público e da publicidade (fundamento do poder moderno em oposição ao poder divino e aristocrático).   
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: Adorno está polemizando com Popper. Este defende a [[razão]] [[lógica]], puramente [[metodológica]], ao passo que Adorno defende uma [[dimensão]] [[existência|existencial]]. A pura [[razão]] [[lógica]] e [[instrumental]] é identificada com o [[positivismo]], defendido por Popper. Ver como [[conceitos]] de [[razão]]: emancipatória, [[instrumental]], [[lógico]]-[[formal]], negativa, dialógica ou [[comunicativa]], são variados, mas todos [[metafísicos]], pois tais [[conceitos]] não [[questionam]] o [[fato]] de que toda [[razão]] já é um [[fundamento]] da [[consciência]] manifestado nas [[representações]], sejam de ordem escrita ou visual, sejam de ordem do [[público]] e da [[publicidade]] ([[fundamento]] do [[poder]] [[moderno]] em [[oposição]] ao [[poder]] [[divino]] e [[aristocrático]]).   
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) FREITAG, Bárbara. '''A teoria crítica ontem e hoje'''. S. Paulo: Brasiliense, 1985, p. 49.
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:(1) FREITAG, Bárbara. ''A teoria crítica ontem e hoje''. S. Paulo: Brasiliense, 1985, p. 49.
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: "O anúncio de algo como algo faz com que, no anúncio, se tome algo como algo, que algo seja tomado por algo. 'Eu tomo isto por isto', é o que diz o verbo latino ''reor''. A capacidade correspondente de se tomar algo por algo é ''ratio''" (1). "Tomar algo por algo é ajuizar. A [[essência]] do [[pensamento]] concebido [[metafísica|metafisicamente]] reside no [[juízo]]. Esse [[pensamento]] "lógico", ''logikós'', dimensionado pelo ''[[logos]]'' enquanto [[enunciado]], é a [[essência]] da ''ratio'', da [[razão]]" (2).
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: "O anúncio de [[algo]] como [[algo]] faz com que, no anúncio, se tome [[algo]] como [[algo]], que [[algo]] seja tomado por [[algo]]. 'Eu tomo isto por isto', é o que diz o verbo latino ''reor''. A capacidade correspondente de se tomar [[algo]] por [[algo]] é ''ratio''" (1). "Tomar [[algo]] por [[algo]] é ajuizar. A [[essência]] do [[pensamento]] concebido [[metafísica|metafisicamente]] reside no [[juízo]]. Esse [[pensamento]] "lógico", ''logikós'', dimensionado pelo ''[[logos]]'' enquanto [[enunciado]], é a [[essência]] da ''ratio'', da [[razão]]" (2).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio: Relume Dumará, 1998, p. 282.  
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Heráclito'''. Rio: Relume Dumará, 1998, p. 282.
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:"Não é a razão que é condição de possibilidade do [[pensar]] e sim o contrário, a condição de possibilidade da razão é o pensar. A palavra racional tem sua origem no latim ''ratio'' que significa [[cálculo]], conta, proporção, medida, sistema, regularidade, ordem, regra, juízo, causa, bom senso etc. Ora, o pensar não se estabelece exclusivamente a partir das experiências enunciadas por essas [[atribuição|atribuições]]. Significa: para se pensar não é imprescindível que haja cálculo, proporção, medida, sistema, regularidade, causa ou mesmo bom senso" (1).
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: "Não é a [[razão]] que é condição de [[possibilidade]] do [[pensar]] e sim o contrário, a condição de [[possibilidade]] da [[razão]] é o [[pensar]]. A [[palavra]] [[racional]] tem sua [[origem]] no [[latim]]: ''ratio'' que significa [[cálculo]], conta, proporção, [[medida]], [[sistema]], regularidade, [[ordem]], [[regra]], [[juízo]], [[causa]], bom senso etc. Ora, o [[pensar]] não se estabelece exclusivamente a partir das [[experiências]] enunciadas por essas [[atribuição|atribuições]]. Significa: para se [[pensar]] não é imprescindível que haja [[cálculo]], proporção, [[medida]], [[sistema]], regularidade, [[causa]] ou mesmo bom senso" (1).
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:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 168.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 168.
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:"Eu não entendo mais aquilo que entendo, pois estou infinitamente maior do que [[eu mesma]]...então não me alcanço" (1).
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:(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.
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: (1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.
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: "Que é a ditadura da razão? - A ditadura da razão é exclusiva e excludente e consiste em montar um [[sistema]] [[universal]] de prestar contas e dar [[explicações]] evidentes e suficientes, coerentes e consistentes de tudo que é, de tudo que se conhece e de tudo que se faz, seja nas [[ações]] que se põem, seja nas [[atitudes]] que se tomam, seja nas omissões que se praticam" (1).
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: "Que é a ditadura da [[razão]]? - A ditadura da [[razão]] é exclusiva e excludente e consiste em montar um [[sistema]] [[universal]] de prestar contas e dar [[explicações]] [[evidentes]] e suficientes, coerentes e consistentes de tudo que é, de tudo que se conhece e de tudo que se faz, seja nas [[ações]] que se põem, seja nas [[atitudes]] que se tomam, seja nas omissões que se praticam" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a ética". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 157,Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004. ''Caminhos da ética'', 2004, p. 76.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a ética". In: Revista '''Tempo Brasileiro''', 157,Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004. '''Caminhos da ética''', 2004, p. 76.
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: O [[homem]] [[moderno]] criará a partir da [[imaginação]]. Contudo, para isto haverá uma profunda [[transformação]]. E a grande [[metáfora]] para indicar e conduzir esta [[mudança]] será o [[universo]] como um gigantesco relógio. Nesta [[mudança]] o [[Ser]] é substituído pelo [[Tempo]], mas agora um [[tempo]] que pode ser [[conhecido]], [[medido]] e até se podem efetuar [[intervenções]], [[fundamentadas]], claro, desde então, nesse novo [[conhecimento]] que passou a ser denominado [[científico]], porque [[objetivo]]. E desde então só será [[verdadeiro]] o que for [[científico]]. A prática vai levar a [[metáfora]] do relógio/[[tempo]] para todas as esferas da [[realidade]]/[[natureza]]. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da [[preocupação]] [[ontológica]] com ''o que é'' e o foco único ''no como é'', mas não mais relacionado a ''o que é''. Agora ''o como é'' diz respeito a ''o como se conhece''. É este em última [[instância]] que determina [[tudo]], pois [[tudo]] será [[objeto]] do [[conhecimento]] que se torna o [[verdadeiro]] [[sujeito]], o [[verdadeiro]] “[[criador]]”. Um tal conhecimento é exercido pela [[razão]] [[crítica]], que se fundamenta na ''Razão Crítica'' de Kant.  
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: O [[homem]] [[moderno]] criará a partir da [[imaginação]]. Contudo, para isto haverá uma profunda [[transformação]]. E a grande [[metáfora]] para indicar e conduzir esta [[mudança]] será o [[universo]] como um gigantesco [[relógio]]. Nesta [[mudança]] o [[Ser]] é substituído pelo [[Tempo]], mas agora um [[tempo]] que pode ser [[conhecido]], [[medido]] e até se podem efetuar [[intervenções]], [[fundamentadas]], claro, desde então, nesse novo [[conhecimento]] que passou a ser denominado [[científico]], porque [[objetivo]]. E desde então só será [[verdadeiro]] o que for [[científico]]. A prática vai levar a [[metáfora]] do relógio/[[tempo]] para todas as esferas da [[realidade]]/[[natureza]]. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da [[preocupação]] [[ontológica]] com ''o que é'' e o foco único ''no como é'', mas não mais relacionado a ''o que é''. Agora ''o como é'' diz respeito a ''o como se conhece''. É este em última [[instância]] que determina [[tudo]], pois [[tudo]] será [[objeto]] do [[conhecimento]] que se torna o [[verdadeiro]] [[sujeito]], o [[verdadeiro]] “[[criador]]”. Um tal conhecimento é exercido pela [[razão]] [[crítica]], que se fundamenta na ''Razão Crítica'' de Kant.  
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: A [[prática]] vai levar a [[metáfora]] do [[relógio]]/[[tempo]] para todas as esferas da [[realidade]]/[[natureza]]. Temos de ficar atentos às [[reduções]] que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da [[preocupação]] [[ontológica]] com ''o que é'' e o foco único ''no como é'', mas não mais relacionado a ''o que é''. Agora ''o como é'' diz respeito a ''o como se conhece''. É este em última [[instância]] que [[determina]] [[tudo]], pois [[tudo]] será [[objeto]] do [[conhecimento]] que se torna o [[verdadeiro]] [[sujeito]], o [[verdadeiro]] ''[[criador]]''.  E vamos ter as seguintes [[reduções]]:
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: ''[[Ente]] > [[obra]] > [[relógio]]/[[organismo]]>[[corpo]]''. Por isso não se fala mais em [[ente]] nem em [[obra]] nem em [[corpo]], mas se falará sempre e para [[tudo]] em [[objeto]]. E cada [[objeto]]/[[corpo]]/[[máquina]]/[[organismo]] é [[objeto]] de um [[conhecimento]], submetido à [[razão]] [[crítica]], que [[fundamenta]] ''o como se conhece''. Surgem as [[disciplinas]] e seus [[objetos]] de [[conhecimento]]. Isso tanto no plano [[singular]] quanto no plano das [[entidades]] [[coletivas]], como o [[Estado]], a [[Sociedade]], as [[Épocas]]. Daí a [[história]] [[estar]] submetida [[radicalmente]] à [[cronologia]]. Aliás, [[tudo]] ficará submetido à [[cronologia]]/[[tempo]]. [[Conhecer]] a partir do [[tempo]]/[[cronologia]] é uma [[questão]] de [[medição]]/[[cálculo]]. No fundo, [[tudo]] estará submetido ao [[tempo]]. Mas este passa a [[ser]] ''o que é acessível à [[medição]]/[[cálculo]]''. Disso se encarregam as [[diferentes]] [[disciplinas]] que para tal são criadas. Porém, o [[princípio]] de [[medição]] que dará o [[verdadeiro]] [[conhecimento]] será o efetuado a partir do que se opera pela [[matemática]], base  de todo  cálculo, a [[possibilidade]] de [[aprender]] e [[ser]] [[ensinado]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "Ainda que as [[verdades]] da [[fé]] não sejam [[demonstráveis]], isto é, passíveis de [[prova]], é [[possível]] [[demonstrar]] o acerto de se [[crer]] nelas, e essa tarefa cabe à [[razão]]. A [[razão]] relaciona-se, portanto, duplamente com a [[fé]]: precede-a e é sua consequência. É [[necessário]] [[compreender]] para [[crer]] e [[crer]] para [[compreender]] (''Intellige ut credas, crede ut intelligas'') (1).
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: Referência:
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: (1) PESSANHA, José Américo Motta (Consultor). ''Santo Agostinho'' - Vida e Obra. ''Confissões'' - ''De Magistro''. Coleção: '''Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. XIV.
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: "Com a [[razão]] inaugura-se o [[conhecimento]] [[consciente]] e [[racional]] do [[real]]. E  com ele e a partir dele um novo [[sistema]] de [[valores]] [[morais]], [[sociais]], [[políticos]] e econômicos. É a partir deste novo [[sistema]] que procura [[inaugurar]] uma [[nova]] [[Paideia]], a [[Paideia Humanista]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... ''Tempos de metamorfose''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 66.
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: "A [[medida]] da [[razão]] não pode nos determinar o [[caminho]] do [[ser feliz]]. A [[razão]] é o [[saber]] do [[ente]] esquecido do [[sentido do ser]]. A [[sabedoria]] e [[felicidade]] só podem [[doar]]-se no [[ente]] a partir do [[ser]]" (1).
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: Referência bibliográfica:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 202.
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== 14 ==
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: "A [[Idade Média]] também era já regida por um [[sistema]] [[funcional]] altamente centralizador e [[autoritário]]: o [[teológico]]. [[Tudo]] e todos eram submetidos ao [[poder]] [[teológico]], seja o [[povo]], seja a [[hierarquia]] [[religiosa]], seja o [[poder]] dos [[reis]]. O que a [[modernidade]] acrescenta a esse cerne [[medieval]]? Algo novo para continuar a mesma [[coisa]], isto e, o mesmo [[fundamento]]: Ao [[poder]] autoritário da [[teologia]] sucede o [[poder]] autoritário da [[razão]]. E o [[poder]] desta provém de um atributo explicitamente [[novo]], pois, desde os [[sofistas]], já imperava a [[medida]] da [[razão]], ou seja, o [[homem]] como [[medida]]. E qual é esse [[atributo]]? A [[razão]] passa a [[ser]] [[crítica]]. Na [[modernidade]] [[tudo]] é regido pela [[Crítica]]. Só a [[crítica]] estabelece a [[verdade]], daí a [[leitura]] passar a [[ser]] regida pela [[explicação]], isto é, pelo que a [[crítica]] realiza através da [[análise]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.

Edição atual tal como 23h00min de 18 de Julho de 2023

1

Em relação à Escola de Frankfurt, teríamos três momentos ou três razões: 1ª) Razão crítica. Tem sua origem em Kant e marca um otimismo no poder da razão, podendo ser instrumental e emancipatória. 2ª) Razão negativa. Surge com Horkheimer e Adorno, frente à realidade moderna e ao humanismo diante da realidade da guerra, da cultura de massa. É uma perda de na razão. é aqui a palavra adequada, pois tal ainda diz uma crença na razão que faz o homem maior do que a questão, do que a realidade. 3ª) Razão comunicativa. Conceituação desenvolvida por Habermas, tenta superar o solipsismo da consciência e parte para o diálogo como fundamento do consenso. Porém, num tal diálogo nunca se dá o acontecer das diferenças, muito menos da realidade em seu desvelar e velar, em seu dar-se e guardar-se. Num tal diálogo quer-se determinar o auto-diálogo pelo diálogo comunicativo. Não se pensa o diá- de todo diá-logo nem o logos como a identidade das diferenças e a diferença das diferenças, e a identidade das identidades.


- Manuel Antônio de Castro

2

"Por isso mesmo, a dialética, ao contrário da lógica formal, é capaz de incluir em seus conceitos os elementos da contradição e da transformação, e de abarcar o não-idêntico em um mesmo conceito. A razão iluminista, com sua dupla face de razão emancipatória e razão instrumental, não deixa de ser razão quando se impõe e concretiza como razão instrumental. Mas por isso mesmo gera, pelas limitações a que ela própria se condena, sua contradição, sua crítica e negação, tornando-se necessário o resgate de seu contrário, originalmente nela contido: a razão emancipatória" (1).
Adorno está polemizando com Popper. Este defende a razão lógica, puramente metodológica, ao passo que Adorno defende uma dimensão existencial. A pura razão lógica e instrumental é identificada com o positivismo, defendido por Popper. Ver como conceitos de razão: emancipatória, instrumental, lógico-formal, negativa, dialógica ou comunicativa, são variados, mas todos metafísicos, pois tais conceitos não questionam o fato de que toda razão já é um fundamento da consciência manifestado nas representações, sejam de ordem escrita ou visual, sejam de ordem do público e da publicidade (fundamento do poder moderno em oposição ao poder divino e aristocrático).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) FREITAG, Bárbara. A teoria crítica ontem e hoje. S. Paulo: Brasiliense, 1985, p. 49.

3

"O anúncio de algo como algo faz com que, no anúncio, se tome algo como algo, que algo seja tomado por algo. 'Eu tomo isto por isto', é o que diz o verbo latino reor. A capacidade correspondente de se tomar algo por algo é ratio" (1). "Tomar algo por algo é ajuizar. A essência do pensamento concebido metafisicamente reside no juízo. Esse pensamento "lógico", logikós, dimensionado pelo logos enquanto enunciado, é a essência da ratio, da razão" (2).


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio: Relume Dumará, 1998, p. 282.
(2) Idem, p. 282.


Ver também:
*Proposição

4

"... pensa-se, no entanto, o lógos do homem como ratio, razão, e, portanto, como a capacidade de pensar segundo ideias, ou seja, de julgar por conceitos" (1). "Metafísica e logicamente, logos significa enunciado, juízo ou também conceito, desde que se apreenda conceito como o coágulo de uma conceituação, de um ajuizamento". (2)


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio: Relume Dumará, 1998, p. 293.
(2) Idem, p. 293.


Ver também:
* Proposição

5

"Não é a razão que é condição de possibilidade do pensar e sim o contrário, a condição de possibilidade da razão é o pensar. A palavra racional tem sua origem no latim: ratio que significa cálculo, conta, proporção, medida, sistema, regularidade, ordem, regra, juízo, causa, bom senso etc. Ora, o pensar não se estabelece exclusivamente a partir das experiências enunciadas por essas atribuições. Significa: para se pensar não é imprescindível que haja cálculo, proporção, medida, sistema, regularidade, causa ou mesmo bom senso" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 168.

6

"Eu não entendo mais aquilo que entendo, pois estou infinitamente maior do que eu mesma...então não me alcanço" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.

7

"Que é a ditadura da razão? - A ditadura da razão é exclusiva e excludente e consiste em montar um sistema universal de prestar contas e dar explicações evidentes e suficientes, coerentes e consistentes de tudo que é, de tudo que se conhece e de tudo que se faz, seja nas ações que se põem, seja nas atitudes que se tomam, seja nas omissões que se praticam" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a ética". In: Revista Tempo Brasileiro, 157,Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004. Caminhos da ética, 2004, p. 76.

8

"A Escolástica medieval distinguiu no conhecimento humano entre ratio [ razão ] e intellectus [ intelecto ]. A ratio [ razão ] é o poder da discursividade do raciocínio que busca e investiga, que abstrai e argumenta, que define e conceitua. O intellectus [ intelecto ] é o simplex intuitus [simples intuição ], a força de acolhimento que recebe o real em sua realidade. O conhecimento humano é a integração de ambos, tanto da ratio [ razão ] como do intellectus [ intelecto ]" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 75.


9

O homem moderno criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será o universo como um gigantesco relógio. Nesta mudança o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até se podem efetuar intervenções, fundamentadas, claro, desde então, nesse novo conhecimento que passou a ser denominado científico, porque objetivo. E desde então só será verdadeiro o que for científico. A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeirocriador”. Um tal conhecimento é exercido pela razão crítica, que se fundamenta na Razão Crítica de Kant.


- Manuel Antônio de Castro.

10

A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeiro criador. E vamos ter as seguintes reduções:
Ente > obra > relógio/organismo>corpo. Por isso não se fala mais em ente nem em obra nem em corpo, mas se falará sempre e para tudo em objeto. E cada objeto/corpo/máquina/organismo é objeto de um conhecimento, submetido à razão crítica, que fundamenta o como se conhece. Surgem as disciplinas e seus objetos de conhecimento. Isso tanto no plano singular quanto no plano das entidades coletivas, como o Estado, a Sociedade, as Épocas. Daí a história estar submetida radicalmente à cronologia. Aliás, tudo ficará submetido à cronologia/tempo. Conhecer a partir do tempo/cronologia é uma questão de medição/cálculo. No fundo, tudo estará submetido ao tempo. Mas este passa a ser o que é acessível à medição/cálculo. Disso se encarregam as diferentes disciplinas que para tal são criadas. Porém, o princípio de medição que dará o verdadeiro conhecimento será o efetuado a partir do que se opera pela matemática, base de todo cálculo, a possibilidade de aprender e ser ensinado.


- Manuel Antônio de Castro.


11

"Ainda que as verdades da não sejam demonstráveis, isto é, passíveis de prova, é possível demonstrar o acerto de se crer nelas, e essa tarefa cabe à razão. A razão relaciona-se, portanto, duplamente com a : precede-a e é sua consequência. É necessário compreender para crer e crer para compreender (Intellige ut credas, crede ut intelligas) (1).


Referência:
(1) PESSANHA, José Américo Motta (Consultor). Santo Agostinho - Vida e Obra. Confissões - De Magistro. Coleção: 'Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. XIV.

12

"Com a razão inaugura-se o conhecimento consciente e racional do real. E com ele e a partir dele um novo sistema de valores morais, sociais, políticos e econômicos. É a partir deste novo sistema que procura inaugurar uma nova Paideia, a Paideia Humanista" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 66.

13

"A medida da razão não pode nos determinar o caminho do ser feliz. A razão é o saber do ente esquecido do sentido do ser. A sabedoria e felicidade só podem doar-se no ente a partir do ser" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 202.

14

"A Idade Média também era já regida por um sistema funcional altamente centralizador e autoritário: o teológico. Tudo e todos eram submetidos ao poder teológico, seja o povo, seja a hierarquia religiosa, seja o poder dos reis. O que a modernidade acrescenta a esse cerne medieval? Algo novo para continuar a mesma coisa, isto e, o mesmo fundamento: Ao poder autoritário da teologia sucede o poder autoritário da razão. E o poder desta provém de um atributo explicitamente novo, pois, desde os sofistas, já imperava a medida da razão, ou seja, o homem como medida. E qual é esse atributo? A razão passa a ser crítica. Na modernidade tudo é regido pela Crítica. Só a crítica estabelece a verdade, daí a leitura passar a ser regida pela explicação, isto é, pelo que a crítica realiza através da análise" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.
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