Questão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(3)
(1)
 
(18 edições intermediárias não estão sendo exibidas.)
Linha 1: Linha 1:
__NOTOC__
__NOTOC__
== 1 ==
== 1 ==
-
: Há cinco questões básicas: ''phýsis'', tempo, [[linguagem]], [[memória]], história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido. Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'O que é uma [[coisa]]?' é válido para qualquer questão de [[filosofia]], que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em conseqüência, se movimenta, sempre e em toda a parte em [[círculo]]" (1). Para fugir da linearidade causal da historiografia, do tempo, da memória é necessário ter presente, por exemplo, que quando se pergunta "O que é a história?", essa pergunta não se pode responder através de dados historiográficos. A historiografia já pressupõe que de antemão se defina o seu objeto e o seu método. A historiografia nunca pergunta pelo isto que ela é. Quando pergunta, deixa de ser historiografia e passa a ser "filosofia". Por isso, a experiência da história como conhecimento e como experienciação do que é [[História]] são diferentes. Na História (experienciação) há um acontecer. Na [[historiografia]] há uma experiência como conhecimento. Aí já se inclui a ''phýsis'' (''res''/real) o [[tempo]], a [[linguagem]], a [[memória]].  
+
: Há cinco [[questões]] básicas: ''[[phýsis]]'', [[tempo]], [[linguagem]], [[memória]], [[história]]. Não basta [[dizer]] que não sabemos o que são e que mantêm [[entre]] si uma [[referência]] [[fundamental]]. Não basta tomar o [[caminho]] do [[não-saber]] como [[possibilidade]] de todo [[saber]]. Não basta [[falar]] das [[experienciações]]. [[Tudo]] isso é válido.  
 +
: Diz [[Heidegger]]: "O que se disse acerca do caráter [[histórico]] da [[questão]] 'O que é uma [[coisa]]?' é válido para qualquer [[questão]] de [[filosofia]], que colocamos hoje ou no [[futuro]], admitindo, certamente, que a [[filosofia]] é um [[questionar]] que se põe a si mesmo em [[questão]] e que, em consequência, se movimenta, [[sempre]] e em [[toda]] a parte em [[círculo]]" (1).
-
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
+
: Para fugir da [[linearidade]] [[causal]] da [[historiografia]], do [[tempo]], da [[memória]] é [[necessário]] ter [[presente]], por exemplo, que quando se pergunta "O que é a [[história]]?", essa [[pergunta]] não se pode [[responder]] através de dados [[historiográficos]]. A [[historiografia]] já pressupõe que de antemão se defina o seu [[objeto]] e o seu [[método]]. A [[historiografia]] nunca pergunta pelo [[isto]] que ela é. Quando pergunta, deixa de ser [[historiografia]] e passa a ser "[[filosofia]]". Por isso, a [[experiência]] da [[história]] como [[conhecimento]] e como [[experienciação]] do que é [[História]] são diferentes. Na [[História]] ([[experienciação]]) há um [[acontecer]]. Na [[historiografia]] há uma [[experiência]] como [[conhecimento]]. Aí já se inclui a ''[[phýsis]]'' (''res''/[[real]]) o [[tempo]], a [[linguagem]], a [[memória]].
 +
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. ''O que é uma coisa?''. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 54.
+
: (1) HEIDEGGER, Martin. '''O que é uma coisa?'''. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 54.
== 2 ==
== 2 ==
-
:"Como a [[palavra]] querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do latim: ''quaerere''. ''Quaerere'' significa: empenhar-se na busca e na [[procura]] do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1).
+
: "Como a [[palavra]] [[querer]], também as [[palavras]] [[questão]], [[questionar]] e [[questionamento]] vêm do [[verbo]] latino: ''quaerere''. ''Quaerere'' significa: empenhar-se na busca e na [[procura]] do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1).
-
:Referência:
+
: Referência:
-
:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.
+
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Aprendendo a pensar'''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.
== 3 ==
== 3 ==
-
: Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos [[agir]] logicamente porque já somos desde sempre [[questão]]. Enquanto o isto da [[essência]] do [[homem]], quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do ''logos''. Questionar é [[pensar]]. "O [[pensamento]] con-suma a [[referência]] do [[Ser]] à [[Essência]] do [[homem]]. Não a produz nem a efetua. O [[pensamento]] apenas a restitui ao [[Ser]] como algo que lhe foi entregue pelo próprio [[Ser]]. Essa restituição consiste em que, no [[pensamento]], o [[ser]] se torna [[linguagem]]. A [[linguagem]] é a [[Casa]] do [[ser]]" (1). A [[linguagem]] é o ''[[logos]]''. Como a questão, não somos nós que temos a [[linguagem]], mas é a [[linguagem]] que nos tem, dando-nos o [[sentido]] de [[existir]]. A [[linguagem]] fala, não o [[homem]]. Só existimos porque vigoramos já desde sempre na [[linguagem]] e [[pensamento]]. Eis a [[diferença ontológica]].  
+
: Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos [[agir]] logicamente porque já somos desde sempre [[questão]]. Enquanto o isto da [[essência]] do [[homem]], quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do ''logos''. Questionar é [[pensar]].  
 +
: "O [[pensamento]] con-suma a [[referência]] do [[Ser]] à [[Essência]] do [[homem]]. Não a produz nem a efetua. O [[pensamento]] apenas a restitui ao [[Ser]] como algo que lhe foi entregue pelo próprio [[Ser]]. Essa restituição consiste em que, no [[pensamento]], o [[ser]] se torna [[linguagem]]. A [[linguagem]] é a [[Casa]] do [[ser]]" (1).
-
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
+
: A [[linguagem]] é o ''[[logos]]''. Como a questão, não somos nós que temos a [[linguagem]], mas é a [[linguagem]] que nos tem, dando-nos o [[sentido]] de [[existir]]. A [[linguagem]] fala, não o [[homem]]. Só existimos porque vigoramos já desde sempre na [[linguagem]] e [[pensamento]]. Eis a [[diferença ontológica]].
 +
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.
+
: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Carta sobre o humanismo'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.
== 4 ==
== 4 ==
-
:"Ao doar-se da ''[[physis]]'', da [[realidade]], no [[homem]] enquanto [[mito]], [[poesia]], [[pensamento]], [[filosofia]] e o [[místico]] enquanto [[mistério]], é o que denominamos questões. Não é o [[homem]] que tem as questões, são estas que têm e constituem o [[homem]]. Ao [[narrar]] [[mitos]] e ao escreverem-se [[obra|obras]] poéticas, nelas e por elas as questões se tornam obras-questões-mitos do [[real]] no [[homem]]" (1).  
+
: "Ao [[doar-se]] da ''[[physis]]'', da [[realidade]], no [[homem]] enquanto [[mito]], [[poesia]], [[pensamento]], [[filosofia]] e o [[místico]] enquanto [[mistério]], é o que denominamos [[questões]]. Não é o [[homem]] que tem as [[questões]], são estas que têm e constituem o [[homem]]. Ao [[narrar]] [[mitos]] e ao escreverem-se [[obra|obras]] [[poéticas]], nelas e por elas as [[questões]] se tornam [[obras]]-[[questões]]-[[mitos]] do [[real]] no [[homem]]" (1).  
-
:Referência:
+
: Referência:
-
:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: ''Revista Tempo Brasileiro''. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12.  
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: '''Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12'''.  
-
:'''Ver também:'''
+
: '''Ver também:'''
-
:*[[Círculo]]
+
: * [[Círculo]]
== 5 ==
== 5 ==
-
:O querer de toda questão é o empenho em torno do penhor pelo qual o homem se empenha no seu agir. O agir (poiesis) é, portanto, a presentificação (sendo) do penhor nos empenhos do homem, mas jamais pela decisão apenas do homem. Na ação humana, o homem responde ao apelo de escuta, espera e cuidado. Nisso consiste a questão e o questionar.
+
: O [[querer]] de toda [[questão]] é o [[empenho]] em torno do [[penhor]] pelo qual o [[homem]] se empenha no seu [[agir]]. O [[agir]] (poiesis) é, portanto, a presentificação (sendo) do penhor nos empenhos do [[homem]], mas jamais pela decisão apenas do [[homem]]. Na [[ação]] [[humana]], o [[homem]] responde ao apelo de [[escuta]], [[espera]] e [[cuidado]]. Nisso consiste a [[questão]] e o [[questionar]].
-
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
+
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
 
+
-
:'''Ver também:'''
+
-
 
+
-
:*[[Questionar]]
+
 +
: '''Ver também:'''
 +
: *[[Questionar]]
== 6 ==
== 6 ==
Linha 62: Linha 66:
== 7 ==
== 7 ==
-
:Em verdade, [[pensar]] é deixar-se tomar pela questão. E as respostas? São respostas, não são solução. Para a questão a resposta só é resposta se tiver a [[dimensão]] de recolocar a questão em novo [[horizonte]]. Por isso vale a pena perguntar e responder. Tudo e sempre se torna diferente.
+
: Em verdade, [[pensar]] é deixar-se tomar pela [[questão]]. E as [[respostas]]? São [[respostas]], não são [[solução]]. Para a [[questão]] a [[resposta]] só é [[resposta]] se tiver a [[dimensão]] de recolocar a [[questão]] em novo [[horizonte]]. Por isso vale a pena [[perguntar]] e [[responder]]. [[Tudo]] e [[sempre]] se torna [[diferente]]. [[resposta]] só se torna uma [[solução]] se a [[pergunta]] é originada numa [[teoria]] ou num [[conceito]]. Falamos então em [[problema]] e [[solução]]. Seja como for, [[toda]] [[teoria]] e [[toda]] [[solução]] é sempre [[provisória]]. A [[energia]] do [[tempo]] a [[tudo]] transforma, exigindo [[novas]] [[teorias]] e [[novas]] [[respostas]], no caso, [[soluções]].
-
 
+
-
 
+
-
:- [[Manuel Antônio de Castro]].
+
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
== 8 ==
== 8 ==
-
: As questões como questões fazem parte de toda [[cultura]] e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o [[próprio]] de toda questão é ser [[simples]] e complexa. Dessa maneira as questões sempre podem aparecer em novas [[dimensões]] que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a questão, apenas a densifica. Em si as questões não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos [[finitos]], precisamos das [[respostas]] para ir abarcando cada vez mais a questão em toda a sua simplicidade e riqueza. O [[horizonte]] desta riqueza é o infinito. Esse é o desafio de toda [[obra de arte]]. E é por isso que toda obra de arte é um [[enigma]].
+
: As [[questões]] como [[questões]] fazem parte de toda [[cultura]] e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações [[conceituais]]. Porém, o [[próprio]] de toda [[questão]] é [[ser]] [[simples]] e complexa. Dessa maneira as [[questões]] [[sempre]] podem aparecer em novas [[dimensões]] que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a [[questão]], apenas a densifica. Em si as [[questões]] não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos [[finitos]], precisamos das [[respostas]] para ir abarcando cada vez mais a [[questão]] em toda a sua [[simplicidade]] e [[riqueza]]. O [[horizonte]] desta [[riqueza]] é o [[infinito]]. Esse é o desafio de toda [[obra de arte]]. E é por isso que toda [[obra de arte]] é um [[enigma]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
 
-
 
==9==
==9==
Linha 136: Linha 136:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.
-
 
+
-
 
+
== 16 ==
== 16 ==
Linha 148: Linha 146:
: Referência:
: Referência:
-
 
+
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ---. '''Aprendendo a pensar'''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.
-
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ------. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.
+
-
 
+
-
 
+
== 17 ==
== 17 ==
Linha 218: Linha 213:
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.
 +
 +
== 24 ==
 +
: As [[questões]] como [[questões]] fazem parte de toda [[cultura]] e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o [[próprio]] de toda [[questão]] é ser [[simples]] e [[complexa]] ao mesmo tempo. Dessa maneira as [[questões]] sempre podem [[aparecer]] em novas [[dimensões]] que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a [[questão]], apenas a densifica. Em si as [[questões]] não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos [[finitos]], precisamos das [[respostas]] para ir abarcando cada vez mais a [[questão]] em toda a sua [[simplicidade]] e riqueza. O [[horizonte]] desta riqueza é o [[infinito]]. Esse é o desafio de toda [[obra de arte]]. Por isso toda [[obra de arte]] é um [[enigma]].
 +
 +
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
 +
 +
== 25 ==
 +
: "O [[saber]] acerca daquilo que “[[é]]”, já conquistado no exercício [[atual]] de [[perguntar]] ou de [[saber]], é [[sempre]] de novo ultrapassado por [[impulso]] do [[ser]] e do nosso [[pré-saber]] do [[ser ilimitado]]. O [[saber]] do [[sentido do ser]], portanto, nunca é definitivamente fixável em [[conceito]], mas está sempre em [[movimento]] de [[transcendência]] sobre si [[mesmo]], ou seja, está [[sempre]] em [[tensão]] de [[analogia]], na [[tensão]] [[entre]] o [[finito]] daquilo que já atinge e o [[infinito]] por atingir e o qual pré-capto sem nunca abraçá-lo em [[plenitude]]" (1).
 +
 +
: Se no [[lugar]] de [[conceito]] passarmos a nos referir a [[questão]], notaremos que esta jamais se extingue, [[sempre]] há novos aspectos a [[saber]] ou [[conhecer]] e a [[tematizar]], indefinidamente, mas aquilo que já sabemos da [[questão]] não é [[falso]]. Ou seja, todo o nosso [[saber]] de determinada [[questão]], aquilo que já [[tematizamos]], se torna um [[saber]] [[análogo]]. Eis toda a [[dinâmica]] da [[analogia]], porque nela o que está em [[questão]] é o [[sentido do ser]], sempre dinâmico e [[infinito]].
 +
 +
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
 +
 +
:  Referência:
 +
 +
:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
 +
 +
== 26 ==
 +
: "Toda [[questão]] só se dá como [[questão]] na medida em que se torna para o [[ser humano]] uma [[experienciação]] [[radical]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência bibliográfica:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 192.
 +
 +
== 27 ==
 +
: "A emergência do [[homem]] e o âmbito de sua atuação e de seu [[lugar]] dentro do [[real]] – e o [[enigma]] do seu [[destino]] – são as [[questões]] que perpassam todas as [[culturas]] em todos os [[tempos]] e suas [[obras de arte]]. Note-se que a [[arte]], na maioria das [[culturas]], sempre esteve ligada ao [[sagrado]] e que seria, por isso mesmo, estranha aos respectivos [[contextos]] qualquer ligação com processos [[econômico]]-[[comerciais]]. E do [[enigma]] que é o [[sagrado]] lhe advêm todas as grandes [[questões]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.
 +
 +
== 28 ==
 +
: "[[Édipo]] decifrou o [[enigma]]? Noutras palavras: Algum de nós já decifrou o [[enigma]]? Não. O [[mito do homem]] não é a [[resposta]] para o [[mito do real]]. Até é, mas só na medida em que recoloca  sempre o [[mito do real]], pois o [[real]] como [[questão]] é que nos tem e dimensiona. Toda [[resposta]] a qualquer [[questão]] será [[sempre]] [[ambígua]]. Toda [[questão]] se articula [[sempre]] em torno de duas [[dimensões]]: 1ª. o [[querer]] como [[vontade]]; 2ª. o [[querer]] como [[saber]]. O [[sujeito]] do [[querer]] como [[destino]] não é o [[ser humano]]. O [[sujeito]] é o [[real]], o próprio [[enigma]], e não o [[homem]] (como [[Édipo]] afirma equivocadamente em sua [[resposta]])" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 27.
 +
 +
== 29 ==
 +
: "... [[questão]] não é [[problema]]. O [[problema]] se resolve, se acha uma solução para ele. Por isso os [[problemas]] aparecem e desaparecem. As [[questões]] não, elas nos frequentam permanentemente: são nosso oxigênio" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 37.
 +
 +
== 30 ==
 +
: "Só o [[homem]] pode [[escravizar]] o [[homem]]. A [[poético-ecologia]] tem que se centralizar na [[verdade]] do [[homem]]. Mas qual é a [[verdade]] do [[homem]]? [[Édipo]], o [[homem]], não solucionou os [[enigmas]]. O [[homem]] não é a [[resposta]] para os [[enigmas]] das [[questões]]. As [[questões]] são maiores do que o [[homem]]. A [[poético-ecologia]] é o deixar-se tomar pelas [[questões]]. E o que faz [[Édipo]]? Será que nós temos a [[mesma]] [[coragem]] para [[fazer]] o que ele fez? Ele deixou-se tomar pela [[questão]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: '''Arte: corpo, mundo e terra'''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 31.

Edição atual tal como 20h53min de 30 de Abril de 2024

1

Há cinco questões básicas: phýsis, tempo, linguagem, memória, história. Não basta dizer que não sabemos o que são e que mantêm entre si uma referência fundamental. Não basta tomar o caminho do não-saber como possibilidade de todo saber. Não basta falar das experienciações. Tudo isso é válido.
Diz Heidegger: "O que se disse acerca do caráter histórico da questão 'O que é uma coisa?' é válido para qualquer questão de filosofia, que colocamos hoje ou no futuro, admitindo, certamente, que a filosofia é um questionar que se põe a si mesmo em questão e que, em consequência, se movimenta, sempre e em toda a parte em círculo" (1).
Para fugir da linearidade causal da historiografia, do tempo, da memória é necessário ter presente, por exemplo, que quando se pergunta "O que é a história?", essa pergunta não se pode responder através de dados historiográficos. A historiografia já pressupõe que de antemão se defina o seu objeto e o seu método. A historiografia nunca pergunta pelo isto que ela é. Quando pergunta, deixa de ser historiografia e passa a ser "filosofia". Por isso, a experiência da história como conhecimento e como experienciação do que é História são diferentes. Na História (experienciação) há um acontecer. Na historiografia há uma experiência como conhecimento. Aí já se inclui a phýsis (res/real) o tempo, a linguagem, a memória.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. O que é uma coisa?. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 54.

2

"Como a palavra querer, também as palavras questão, questionar e questionamento vêm do verbo latino: quaerere. Quaerere significa: empenhar-se na busca e na procura do que não se tem, por já se ter e para se vir a ter" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 44.

3

Não questionamos porque agimos logicamente. Só podemos agir logicamente porque já somos desde sempre questão. Enquanto o isto da essência do homem, quer dizer, pelo simples fato de questionarmos, já estamos lançados e vigoramos no e a partir do logos. Questionar é pensar.
"O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que, no pensamento, o ser se torna linguagem. A linguagem é a Casa do ser" (1).
A linguagem é o logos. Como a questão, não somos nós que temos a linguagem, mas é a linguagem que nos tem, dando-nos o sentido de existir. A linguagem fala, não o homem. Só existimos porque vigoramos já desde sempre na linguagem e pensamento. Eis a diferença ontológica.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.

4

"Ao doar-se da physis, da realidade, no homem enquanto mito, poesia, pensamento, filosofia e o místico enquanto mistério, é o que denominamos questões. Não é o homem que tem as questões, são estas que têm e constituem o homem. Ao narrar mitos e ao escreverem-se obras poéticas, nelas e por elas as questões se tornam obras-questões-mitos do real no homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Permanência e atualidade da Poética". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 171, out.-dez. 2007, p. 12.


Ver também:
* Círculo

5

O querer de toda questão é o empenho em torno do penhor pelo qual o homem se empenha no seu agir. O agir (poiesis) é, portanto, a presentificação (sendo) do penhor nos empenhos do homem, mas jamais pela decisão apenas do homem. Na ação humana, o homem responde ao apelo de escuta, espera e cuidado. Nisso consiste a questão e o questionar.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Questionar

6

A realidade, o nada criativo, é um enigma que permeia o labirinto em que a verdade poética acontece. É o que denominamos questão. A travessia é a questão acontecendo como caminho e caminhada no labirinto que é a realidade em seu acontecer permanente.


- Manuel Antônio de Castro.

7

Em verdade, pensar é deixar-se tomar pela questão. E as respostas? São respostas, não são solução. Para a questão a resposta só é resposta se tiver a dimensão de recolocar a questão em novo horizonte. Por isso vale a pena perguntar e responder. Tudo e sempre se torna diferente. A resposta só se torna uma solução se a pergunta é originada numa teoria ou num conceito. Falamos então em problema e solução. Seja como for, toda teoria e toda solução é sempre provisória. A energia do tempo a tudo transforma, exigindo novas teorias e novas respostas, no caso, soluções.


- Manuel Antônio de Castro.

8

As questões como questões fazem parte de toda cultura e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o próprio de toda questão é ser simples e complexa. Dessa maneira as questões sempre podem aparecer em novas dimensões que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a questão, apenas a densifica. Em si as questões não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos finitos, precisamos das respostas para ir abarcando cada vez mais a questão em toda a sua simplicidade e riqueza. O horizonte desta riqueza é o infinito. Esse é o desafio de toda obra de arte. E é por isso que toda obra de arte é um enigma.


- Manuel Antônio de Castro

9

Na realidade, a questão é sempre a mesma, isto não quer dizer que seja sempre a mesma coisa, pois ela acontece na dialética de pergunta e resposta, de não saber e saber, sempre em aberto, impossível de se fechar, de terminar. Por isso somos históricos.
Tudo muda quando a questão se torna problema. Todo problema é localizado, o que pressupõe também uma resposta localizada. A palavra problema diz exatamente isso: o colocar para diante algo, que se re-solve na resposta. Um problema pode ter uma solução, a questão jamais. Na questão a resposta nada mais é, quando é resposta, do que uma maneira de re-colocar a questão.


- Manuel Antônio de Castro.

10

"Cuidar e procurar, enquanto querer, devem ser o querer do que em nós já sempre vigora: o que somos. E o que somos essencialmente é questão. Viver em procura é deixar-se tomar pela questão. E, então, Cura e questão serão um e o mesmo. É que no querer da questão a cura se plenifica" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 233.

11

"Que a existência é o penhor de todo empenho e desempenho, é a questão de todas as questões verdadeiras, isto é, daqueles que, ao questionarem qualquer coisa, se colocam a si mesmos em questão. É a questão que sempre, sabendo ou sem saber, se questiona em toda questão. Nenhum questionamento, nenhum problema teórico ou prático, racional ou emocional, natural ou cultural, se compreende a si mesmo se não se compreender a questão de todas as questões, isto é, se não questioná-la" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: -----. Aprendendo a pensar. Petrópolis R/J: Vozes, 1977, p. 45.

12

"... o vocabulário, em sua amplitude, tende num primeiro momento a manter uma tensão entre questões e conceitos. Os conceitos são o dito, as questões são o não-dizer de todo dizer vivo e pulsante. Os conceitos são representações. As questões são sempre presenças velantes, dissimulantes. Como aqueles tendem mais a se impor em detrimento da dinâmica das questões, eles imprimem ao mundo real o seu caráter abstrato e representacional. E acabam por circunscreverem um mundo abstrato em detrimento do mundo real, vivo, operante" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 243.



13

É que a realidade, o nada criativo, é um enigma que permeia o labirinto em que a verdade poética acontece, desvelando a realidade em mundo e velando-se como enigma, mistério. É o que denominamos questão.


- Manuel Antônio de Castro


14

"As questões não são culturais nem históricas e nem dependem do agir do ser humano. Pelo contrário, este é que depende delas, porque elas são a própria phýsis se doando nele. Portanto, as questões não somos nós que as podemos ter ou não" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.


15

"A essência da questão é o mistério. Só questionamos porque já vigoramos nele" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.

16

A questão se diferencia do conceito porque o querer de todo questionar consiste no “empenhar-se na procura do que não se tem por já se ter e para se vir a ter” (Leão: 1977: 44) (1). No empenho de viver existindo, vive-se a primeira de todas as questões. Primeira diz aí não o cronológico nem o epistemológico e funcional, mas o ontológico. Todo querer desdobra-se num caminho que é aquele que nos conduz para nós mesmos, para o que nos é mais próximo: o princípio.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ---. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.

17

"Questão vem do verbo latino quaerere, através do particípio: quaestum. Significa fundamentalmente: procurar; desejar; indagar, pensar, examinar; perguntar. O verbo como tal traz em si o aspecto desiderativo, logo, ligado ao cuidado, à “Cura”, como se faz presente no mito de Cura" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.


18

"As questões não dependem do pensador. Não é ele que tem ou não tem as questões. As questões é que nos têm. Nós, cada um de nós é uma doação das questões. Elas constituem o que nos é próprio, porém, para serem apropriadas exigem uma dura e assídua experienciação. A sua frequentação cotidiana se torna uma verdadeira ascese de renúncia, onde a renúncia não tira, dá. Dá o quê? O que nos é próprio, o que somos. A doação da renúncia surge como um anunciar novamente (re-núncia) de modo originário, ou seja, nos envia ao destino, ao que nos é próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 14.


19

Toda questão é paradoxal. Todo conceito é racional e objetivo. A questão precisa do conceito assim como o ilimitado precisa do limite. Porém, tanto o conceito quanto o limite não subsistem sem a questão e o ilimitado. É aqui que acontece o paradoxo. Por isso ele surge da questão porque a vida do ser humano só é paradoxal porque é uma doação das questões.


- Manuel Antônio de Castro.


20

"Toda questão é e não é, sabe e não sabe. Acontece que a questão não é algo que a consciência põe. Pelo contrário, nós somos postos na e pela questão, pois já vivemos e nascemos, amamos e morremos, e nos movemos na questão como unidade e vigorar de tudo que é e se sabe, se dá e se retrai, enquanto linguagem, isto é, sentido do ser. A questão não é posta pela pergunta do eu, do sujeito. O eu é que é posto pela questão. Por exemplo, para perguntar, já tenho que estar vivendo, me experienciando no vigorar do tempo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio não publicado.


21

"Só podemos perguntar porque já vigoramos no ser, na memória do sentido do ser. É que o ser, a memória ou sentido do ser, é questão. É que a questão não é apenas saber e não-saber, ser e não-ser, ela é também a unidade de saber e ser, de não-saber e não-ser. E só por ser unidade é que a questão pode advir à pergunta. Advir à pergunta é advir à linguagem, a partir da memória. Memória é unidade e sendo unidade é linguagem. Linguagem, enquanto unidade, não é, em primeira instância, fala ou elocução. Só se fala na e a partir da linguagem. Então podemos dizer que a quarta dimensão do tempo é a memória, e esta é a unidade do tempo enquanto o tempo se faz linguagem. É. O tempo édiz, originariamente, linguagem, unidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio ainda não publicado.


22

"A questão, portanto, do humano sempre se funda na liberdade como questão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 243.


23

"Para a questão, a resposta só é resposta se tiver a dimensão de recolocar a questão em novo horizonte. Por isso, é imprescindível perguntar e responder. Tudo e sempre se torna diferente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.

24

As questões como questões fazem parte de toda cultura e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o próprio de toda questão é ser simples e complexa ao mesmo tempo. Dessa maneira as questões sempre podem aparecer em novas dimensões que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a questão, apenas a densifica. Em si as questões não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos finitos, precisamos das respostas para ir abarcando cada vez mais a questão em toda a sua simplicidade e riqueza. O horizonte desta riqueza é o infinito. Esse é o desafio de toda obra de arte. Por isso toda obra de arte é um enigma.


- Manuel Antônio de Castro.

25

"O saber acerca daquilo que “é”, já conquistado no exercício atual de perguntar ou de saber, é sempre de novo ultrapassado por impulso do ser e do nosso pré-saber do ser ilimitado. O saber do sentido do ser, portanto, nunca é definitivamente fixável em conceito, mas está sempre em movimento de transcendência sobre si mesmo, ou seja, está sempre em tensão de analogia, na tensão entre o finito daquilo que já atinge e o infinito por atingir e o qual pré-capto sem nunca abraçá-lo em plenitude" (1).
Se no lugar de conceito passarmos a nos referir a questão, notaremos que esta jamais se extingue, sempre há novos aspectos a saber ou conhecer e a tematizar, indefinidamente, mas aquilo que já sabemos da questão não é falso. Ou seja, todo o nosso saber de determinada questão, aquilo que já tematizamos, se torna um saber análogo. Eis toda a dinâmica da analogia, porque nela o que está em questão é o sentido do ser, sempre dinâmico e infinito.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

26

"Toda questão só se dá como questão na medida em que se torna para o ser humano uma experienciação radical" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 192.

27

"A emergência do homem e o âmbito de sua atuação e de seu lugar dentro do real – e o enigma do seu destino – são as questões que perpassam todas as culturas em todos os tempos e suas obras de arte. Note-se que a arte, na maioria das culturas, sempre esteve ligada ao sagrado e que seria, por isso mesmo, estranha aos respectivos contextos qualquer ligação com processos econômico-comerciais. E do enigma que é o sagrado lhe advêm todas as grandes questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.

28

"Édipo decifrou o enigma? Noutras palavras: Algum de nós já decifrou o enigma? Não. O mito do homem não é a resposta para o mito do real. Até é, mas só na medida em que recoloca sempre o mito do real, pois o real como questão é que nos tem e dimensiona. Toda resposta a qualquer questão será sempre ambígua. Toda questão se articula sempre em torno de duas dimensões: 1ª. o querer como vontade; 2ª. o querer como saber. O sujeito do querer como destino não é o ser humano. O sujeito é o real, o próprio enigma, e não o homem (como Édipo afirma equivocadamente em sua resposta)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 27.

29

"... questão não é problema. O problema se resolve, se acha uma solução para ele. Por isso os problemas aparecem e desaparecem. As questões não, elas nos frequentam permanentemente: são nosso oxigênio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 37.

30

"Só o homem pode escravizar o homem. A poético-ecologia tem que se centralizar na verdade do homem. Mas qual é a verdade do homem? Édipo, o homem, não solucionou os enigmas. O homem não é a resposta para os enigmas das questões. As questões são maiores do que o homem. A poético-ecologia é o deixar-se tomar pelas questões. E o que faz Édipo? Será que nós temos a mesma coragem para fazer o que ele fez? Ele deixou-se tomar pela questão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 31.
Ferramentas pessoais