Liberdade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ''ensaios para o século XXI''. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ''ensaios para o século XXI''. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.
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: "Como assevera Mirandola, “pela agudeza dos [[sentidos]], pelo [[poder]] indagador da [[razão]] e pela [[luz]] do [[intelecto]]”, o [[homem]] é o “intérprete da [[natureza]]” (1998, p. 49) (1). Em meio a todos os [[seres]], só o [[homem]] interpreta. O [[interpretar]] está inscrito em seu [[ser]]: é porque o [[homem]] pode [[interpretar]] as [[coisas]] de diferentes maneiras que ele é [[livre]]" (2).
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: Referência:
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: (1) MIRANDOLA, Giovanni Pico Della. ''Discurso sobre a dignidade do homem''. Trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho. Lisboa, Edições 70 , 1998, p. 49.
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: (2) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). ''O educar poético''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.

Edição de 19h47min de 25 de Novembro de 2018

1

"O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.


Ver também:

2

Somos possibilidades de e para possibilidades. E como possibilidades somos agir ontológico. Este agir é que manifesta o que já somos e por isso não acrescenta nem pode acrescentar nada. Dá sentido ao que já somos. E a adveniência desse sentido consiste em nos deixarmos libertar para o agir da verdade e para o agir da linguagem. A liberdade não é uma questão de vontade de negação ou vitória sobre o que se nos opõe. Isso é aparente e passageiro, meramente entitativo. A liberdade é, sim, deixar-se tomar pelo agir do pensar no qual e dentro do qual o que somos chega ao saber do sentido da luz, ou seja, ao sentido da verdade e da linguagem. Por isso, verdade é sentido e não certeza ou incerteza a respeito de algo externo e meramente entitativo. Só o sentido liberta porque sentido é ação ontológica. Sentido, enfim, é saber-se sendo o que já desde sempre somos.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Há infinitas maneiras, pessoais e coletivas, de se compreender o que é a liberdade. Entretanto, ainda que se possam conferir diferentes sentidos à liberdade, são sempre diferentes sentidos da liberdade. A permanência desta questão aponta para uma dimensão ontológica, que antecede o ângulo de visão desta ou daquela pessoa, época ou cultura. A liberdade se inscreve no modo de ser do homem. Por isso, para se questionar o que é a liberdade, é necessário colocá-la em referência com a pergunta: o que é o homem?" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 133.

4

"Liberdade é sempre libertação. Não inclui negar ou recusar, mas identificar-se e lidar com dependências. Sem necessidade não se tem liberdade. O engodo de uma liberdade sem libertação implica pretender desvencilhar-se das dependências, em buscar eliminar as necessidades e iludir-se de somente assim poder ser livre e conquistar a liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Sociedade do conhecimento: passes e impasses". In: Revista Tempo Brasileiro, 152, jan.-mar., 2003, p. 17.


5

"Livres das aparentes soluções dos sistemas e das procuras circunstanciais, devemos reconduzir nossos saberes ao saber essencial e único: experienciar o tempo enquanto linguagem para sermos essencialmente livres e realizados. Só assim seremos poéticos, porque ser poético é ser realizando-se enquanto libertação. Temos que nos livrar do que é somente circunstancial para nos libertarmos para o que nos foi destinado e nos plenifica: o próprio. Só a liberdade realiza e plenifica. Eis a demanda e tarefa poética, enquanto Cura. Por isso, a Cura não será um bem, será o Bem. Bem é a liberdade sem atributos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2011, p. 233.


6

"O que no homem se destina é ele ser uma questão. Não uma resposta, mas uma pergunta. Liberdade é realizar a plenitude do que se é. O que somos é uma abertura para as questões que nos constituem em nossa humanidade. Somos delas doações. Não as temos: elas nos têm. Por isso, ser livre não é fazer só o que queremos com a vida, e, sim, escutar o que a vida quer de nós" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 134.


7

Na ordem da ciência, a falta de bens e cultura pode ser indigência e na dimensão do humano a falta de cultura e bens pode ser renúncia para a aprendizagem. Porque a renúncia não tira, dá. Pois o silêncio não é a falta de voz da poesia e o som não é a falta de música, mas a sua plenitude. O repouso não é falta de dança e gestos, mas a plenitude do agir do corpo como simplicidade. Do silêncio e do repouso, paradoxalmente, vem a possibilidade de libertação.


- Manuel Antônio de Castro


8

"A liberdade não é uma propriedade do homem. Muito pelo contrário. O homem é que vem a si mesmo e se constitui como homem enquanto e na medida em que é apropriado pela liberdade. A liberdade é uma dinâmica abrangente, em cuja vigência o homem se faz homem. A hominização do homem se funda e se exerce na significância da liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 57.

9

A liberdade do homem não é a liberdade do humano. A liberdade do homem pode exercer o escravizar, o fazer mal, o proceder injustamente, o espoliar o outro, o anular os que se lhe opõem, aniquilar e matar os inimigos. Só a liberdade do humano deixa a liberdade libertar, o bem tornar-se bem, a justiça ser justiça e ética, a vida vitalizar e o amor acolher as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro

10

"Os tebanos proclamam Édipo tyranos, "senhor" de Tebas em reconhecimento pela libertação. Não sabem ainda, mas logo vão saber que toda libertação é transitória, presenteia-nos com uma liberdade provisória a ser sempre de novo conquistada. Liberdade provisória está em se ter de assumir cada vez, sem nunca desistir, a tarefa de libertar-se" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 66.

11

"A todo instante de ser e de não ser sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 64.

12

Não há, não houve e nunca haverá qualquer modelo, suporte, paradigma, teoria que consiga enclausurar a experienciação amorosa que é viver a liberdade de ser, tendo como horizonte de sentido permanente a morte. Viver é tornar-se, construir-se livre, ser livre poeticamente, mas uma liberdade que encontra seu vigor e sentido na morte, não na pretensa liberdade da vontade e do querer subjetivo. Como exercer a razão crítica em relação ao que não se sabe nem pode caber na consciência? Não há identidades culturais, ideológicas, formais, religiosas, políticas, que possam prescrever o que só cuidando livremente podemos realizar sempre inauguralmente como atualidade e permanência do poético, da poética: apropriar-nos do que nos é próprio. Isto é a essência originária do humano em sua vigência na liberdade. Toda travessia é travessia de libertação em seu acontecer poético.


- Manuel Antônio de Castro



13

"Pois a liberdade é como a rosa, sem porquê, floresce por florescer. A liberdade se justifica a partir de si mesma e não de outra coisa. A liberdade é como a criação, só revela sua verdade em si mesma. Nunca se poderá provar que a liberdade é necessária ou por que é necessária. A simples tentativa já é um esforço de pular a própria sombra" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 58.

14

"A liberdade só se dá como conquista, a liberdade só existe como empenho de libertação, a liberdade só se presenteia no pulo e como pulo do nada. Somente à medida em que nos lançarmos neste pulo é que existiremos como homens" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 58.


15

"A todo instante de ser e não ser, sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.


16

"O viver dá a aparente (porque aí aparece) liberdade do querer da vontade. O limite de tal liberdade (limite necessário) encontra-se diante de algo que é mais radical: o morrer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e o uso de drogas". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 273.


17

"Somos livres para falar, mas não somos livres diante da linguagem, a partir da qual e só a partir da qual, necessariamente, é que podemos querer e falar. Há uma liberdade do querer ou não querer falar, mas esta liberdade radica na necessidade de sempre querermos a partir da linguagem como necessidade, mesmo quando queremos não querer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.


18

"O poder da linguagem é o poder do questionar: o vigorar das questões. Essa necessidade é que funda a liberdade na qual já podemos querer e assim exercer nossa vontade, a que chamamos nosso livre exercício do agir, nossa liberdade. Esta, portanto, se origina da liberdade essencial, isto é, da liberdade que se funda na essência do agir. Este fundar-se é a necessidade essencial. Sempre acontece assim e em todas as nossas vivências? Não. Eis a ambiguidade em que o ser humano sempre existe" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 272.


19

"O tema central dos escritos de Chuang Tzu gira em torno da liberdade. Não a liberdade específica que conhecemos hoje, mas uma liberdade originária. Sua questão básica era averiguar como pode o homem viver em um mundo consubstanciado pelo caos, pelo sofrimento e pelo absurdo, isto é, o non-sense, o sem-sentido, o ilógico, alógico, metalógico. E a resposta do sábio é com outra questão: para libertar-se do sofrimento, da dor, do desconcerto do mundo, da incoerência do planeta liberte-se do mundo. Mas como se libertar do mundo estando inserido no mundo? Como se libertar do planeta e continuar vivo sobre a face da Terra? A libertação aqui é a libertação dos conceitos, dos condicionamentos, das dicotomias" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 167.


20

"A trajetória da compreensão e conhecimento da Essência do ser humano no Ocidente será a tensão criativa e permanente de pensamento e linguagem. Dessa maneira, o próprio do ser humano é ser um sendo do "entre”: entre pensamento e linguagem. E entre conhecimento e língua, radicado sempre no princípio de que tudo é E não é. Neste horizonte de pensamento não se pode, de maneira alguma, reduzir o “e” a uma classificação gramatical, esquecida da sua “medida” que é a linguagem e o pensamento do Ser. Esse “e” é o aberto da liberdade de ser o que já é, enquanto possibilidade de verdade e sentido do Ser. Portanto, a liberdade não é um exercício da vontade que conhece, mas um apelo de ser no e pelo sentido da verdade do Ser. É pensando nesse princípio que o poeta Píndaro disse: “Chega a ser o que já és, aprendendo” "(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.


21

"Como assevera Mirandola, “pela agudeza dos sentidos, pelo poder indagador da razão e pela luz do intelecto”, o homem é o “intérprete da natureza” (1998, p. 49) (1). Em meio a todos os seres, só o homem interpreta. O interpretar está inscrito em seu ser: é porque o homem pode interpretar as coisas de diferentes maneiras que ele é livre" (2).


Referência:
(1) MIRANDOLA, Giovanni Pico Della. Discurso sobre a dignidade do homem. Trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho. Lisboa, Edições 70 , 1998, p. 49.
(2) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.
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