Liberdade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Não foi o [[homem]] que se colocou, por seu [[livre arbítrio]], por sua [[vontade]], no [[entre]] do interlúdio. Ele já foi lá colocado desde sempre, senão não seria [[homem]], mas um [[outro]] [[ser]]. Este [[entre]] nele se destina para que seja o que [[é]]: um interlúdio [[entre]] a [[liberdade]] que nele se destina e o [[destino]] de nele se dar a [[liberdade]]" (1).
: "Não foi o [[homem]] que se colocou, por seu [[livre arbítrio]], por sua [[vontade]], no [[entre]] do interlúdio. Ele já foi lá colocado desde sempre, senão não seria [[homem]], mas um [[outro]] [[ser]]. Este [[entre]] nele se destina para que seja o que [[é]]: um interlúdio [[entre]] a [[liberdade]] que nele se destina e o [[destino]] de nele se dar a [[liberdade]]" (1).
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: Referência:
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: (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). ''O educar poético''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.
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: "[[Ser]] [[livre]] não é só [[fazer]] o que desejamos da [[vida]], mas [[escutar]] o que a [[Vida]], como [[dimensão]] que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como [[destino]], um [[sentido]] de missão a se [[realizar]]. A [[Vida]] Incessante, que não cessa de [[nascer]] e perecer, é maior do que a [[vida]] de cada [[homem]], pois outros [[seres]] viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o [[homem]] é o único [[entre]] todos os [[seres]] que recebeu o [[livre arbítrio]], o [[arbítrio]] só é [[livre]] na [[medida]] em que é a [[escuta]] do interlúdio que constitui o seu [[destino]]" (1).

Edição de 21h15min de 25 de Novembro de 2018

1

"O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.


Ver também:

2

Somos possibilidades de e para possibilidades. E como possibilidades somos agir ontológico. Este agir é que manifesta o que já somos e por isso não acrescenta nem pode acrescentar nada. Dá sentido ao que já somos. E a adveniência desse sentido consiste em nos deixarmos libertar para o agir da verdade e para o agir da linguagem. A liberdade não é uma questão de vontade de negação ou vitória sobre o que se nos opõe. Isso é aparente e passageiro, meramente entitativo. A liberdade é, sim, deixar-se tomar pelo agir do pensar no qual e dentro do qual o que somos chega ao saber do sentido da luz, ou seja, ao sentido da verdade e da linguagem. Por isso, verdade é sentido e não certeza ou incerteza a respeito de algo externo e meramente entitativo. Só o sentido liberta porque sentido é ação ontológica. Sentido, enfim, é saber-se sendo o que já desde sempre somos.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Há infinitas maneiras, pessoais e coletivas, de se compreender o que é a liberdade. Entretanto, ainda que se possam conferir diferentes sentidos à liberdade, são sempre diferentes sentidos da liberdade. A permanência desta questão aponta para uma dimensão ontológica, que antecede o ângulo de visão desta ou daquela pessoa, época ou cultura. A liberdade se inscreve no modo de ser do homem. Por isso, para se questionar o que é a liberdade, é necessário colocá-la em referência com a pergunta: o que é o homem?" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 133.

4

"Liberdade é sempre libertação. Não inclui negar ou recusar, mas identificar-se e lidar com dependências. Sem necessidade não se tem liberdade. O engodo de uma liberdade sem libertação implica pretender desvencilhar-se das dependências, em buscar eliminar as necessidades e iludir-se de somente assim poder ser livre e conquistar a liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Sociedade do conhecimento: passes e impasses". In: Revista Tempo Brasileiro, 152, jan.-mar., 2003, p. 17.


5

"Livres das aparentes soluções dos sistemas e das procuras circunstanciais, devemos reconduzir nossos saberes ao saber essencial e único: experienciar o tempo enquanto linguagem para sermos essencialmente livres e realizados. Só assim seremos poéticos, porque ser poético é ser realizando-se enquanto libertação. Temos que nos livrar do que é somente circunstancial para nos libertarmos para o que nos foi destinado e nos plenifica: o próprio. Só a liberdade realiza e plenifica. Eis a demanda e tarefa poética, enquanto Cura. Por isso, a Cura não será um bem, será o Bem. Bem é a liberdade sem atributos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2011, p. 233.


6

"O que no homem se destina é ele ser uma questão. Não uma resposta, mas uma pergunta. Liberdade é realizar a plenitude do que se é. O que somos é uma abertura para as questões que nos constituem em nossa humanidade. Somos delas doações. Não as temos: elas nos têm. Por isso, ser livre não é fazer só o que queremos com a vida, e, sim, escutar o que a vida quer de nós" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 134.


7

Na ordem da ciência, a falta de bens e cultura pode ser indigência e na dimensão do humano a falta de cultura e bens pode ser renúncia para a aprendizagem. Porque a renúncia não tira, dá. Pois o silêncio não é a falta de voz da poesia e o som não é a falta de música, mas a sua plenitude. O repouso não é falta de dança e gestos, mas a plenitude do agir do corpo como simplicidade. Do silêncio e do repouso, paradoxalmente, vem a possibilidade de libertação.


- Manuel Antônio de Castro


8

"A liberdade não é uma propriedade do homem. Muito pelo contrário. O homem é que vem a si mesmo e se constitui como homem enquanto e na medida em que é apropriado pela liberdade. A liberdade é uma dinâmica abrangente, em cuja vigência o homem se faz homem. A hominização do homem se funda e se exerce na significância da liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 57.

9

A liberdade do homem não é a liberdade do humano. A liberdade do homem pode exercer o escravizar, o fazer mal, o proceder injustamente, o espoliar o outro, o anular os que se lhe opõem, aniquilar e matar os inimigos. Só a liberdade do humano deixa a liberdade libertar, o bem tornar-se bem, a justiça ser justiça e ética, a vida vitalizar e o amor acolher as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro

10

"Os tebanos proclamam Édipo tyranos, "senhor" de Tebas em reconhecimento pela libertação. Não sabem ainda, mas logo vão saber que toda libertação é transitória, presenteia-nos com uma liberdade provisória a ser sempre de novo conquistada. Liberdade provisória está em se ter de assumir cada vez, sem nunca desistir, a tarefa de libertar-se" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 66.

11

"A todo instante de ser e de não ser sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 64.

12

Não há, não houve e nunca haverá qualquer modelo, suporte, paradigma, teoria que consiga enclausurar a experienciação amorosa que é viver a liberdade de ser, tendo como horizonte de sentido permanente a morte. Viver é tornar-se, construir-se livre, ser livre poeticamente, mas uma liberdade que encontra seu vigor e sentido na morte, não na pretensa liberdade da vontade e do querer subjetivo. Como exercer a razão crítica em relação ao que não se sabe nem pode caber na consciência? Não há identidades culturais, ideológicas, formais, religiosas, políticas, que possam prescrever o que só cuidando livremente podemos realizar sempre inauguralmente como atualidade e permanência do poético, da poética: apropriar-nos do que nos é próprio. Isto é a essência originária do humano em sua vigência na liberdade. Toda travessia é travessia de libertação em seu acontecer poético.


- Manuel Antônio de Castro



13

"Pois a liberdade é como a rosa, sem porquê, floresce por florescer. A liberdade se justifica a partir de si mesma e não de outra coisa. A liberdade é como a criação, só revela sua verdade em si mesma. Nunca se poderá provar que a liberdade é necessária ou por que é necessária. A simples tentativa já é um esforço de pular a própria sombra" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 58.

14

"A liberdade só se dá como conquista, a liberdade só existe como empenho de libertação, a liberdade só se presenteia no pulo e como pulo do nada. Somente à medida em que nos lançarmos neste pulo é que existiremos como homens" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 58.


15

"A todo instante de ser e não ser, sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.


16

"O viver dá a aparente (porque aí aparece) liberdade do querer da vontade. O limite de tal liberdade (limite necessário) encontra-se diante de algo que é mais radical: o morrer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e o uso de drogas". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 273.


17

"Somos livres para falar, mas não somos livres diante da linguagem, a partir da qual e só a partir da qual, necessariamente, é que podemos querer e falar. Há uma liberdade do querer ou não querer falar, mas esta liberdade radica na necessidade de sempre querermos a partir da linguagem como necessidade, mesmo quando queremos não querer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.


18

"O poder da linguagem é o poder do questionar: o vigorar das questões. Essa necessidade é que funda a liberdade na qual já podemos querer e assim exercer nossa vontade, a que chamamos nosso livre exercício do agir, nossa liberdade. Esta, portanto, se origina da liberdade essencial, isto é, da liberdade que se funda na essência do agir. Este fundar-se é a necessidade essencial. Sempre acontece assim e em todas as nossas vivências? Não. Eis a ambiguidade em que o ser humano sempre existe" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 272.


19

"O tema central dos escritos de Chuang Tzu gira em torno da liberdade. Não a liberdade específica que conhecemos hoje, mas uma liberdade originária. Sua questão básica era averiguar como pode o homem viver em um mundo consubstanciado pelo caos, pelo sofrimento e pelo absurdo, isto é, o non-sense, o sem-sentido, o ilógico, alógico, metalógico. E a resposta do sábio é com outra questão: para libertar-se do sofrimento, da dor, do desconcerto do mundo, da incoerência do planeta liberte-se do mundo. Mas como se libertar do mundo estando inserido no mundo? Como se libertar do planeta e continuar vivo sobre a face da Terra? A libertação aqui é a libertação dos conceitos, dos condicionamentos, das dicotomias" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 167.


20

"A trajetória da compreensão e conhecimento da Essência do ser humano no Ocidente será a tensão criativa e permanente de pensamento e linguagem. Dessa maneira, o próprio do ser humano é ser um sendo do "entre”: entre pensamento e linguagem. E entre conhecimento e língua, radicado sempre no princípio de que tudo é E não é. Neste horizonte de pensamento não se pode, de maneira alguma, reduzir o “e” a uma classificação gramatical, esquecida da sua “medida” que é a linguagem e o pensamento do Ser. Esse “e” é o aberto da liberdade de ser o que já é, enquanto possibilidade de verdade e sentido do Ser. Portanto, a liberdade não é um exercício da vontade que conhece, mas um apelo de ser no e pelo sentido da verdade do Ser. É pensando nesse princípio que o poeta Píndaro disse: “Chega a ser o que já és, aprendendo” "(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.


21

"Como assevera Mirandola, “pela agudeza dos sentidos, pelo poder indagador da razão e pela luz do intelecto”, o homem é o “intérprete da natureza” (1998, p. 49) (1). Em meio a todos os seres, só o homem interpreta. O interpretar está inscrito em seu ser: é porque o homem pode interpretar as coisas de diferentes maneiras que ele é livre" (2).


Referência:
(1) MIRANDOLA, Giovanni Pico Della. Discurso sobre a dignidade do homem. Trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho. Lisboa, Edições 70 , 1998, p. 49.
(2) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.


22

"Ser interpretação não é uma escolha que dependa da vontade humana. Ao contrário, esta condição ontológica já lhe foi destinada para que seja o que é: homem, um ser que interpreta, e que por isso é livre. Paradoxalmente, sua liberdade é destino" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.


23

"Não foi o homem que se colocou, por seu livre arbítrio, por sua vontade, no entre do interlúdio. Ele já foi lá colocado desde sempre, senão não seria homem, mas um outro ser. Este entre nele se destina para que seja o que é: um interlúdio entre a liberdade que nele se destina e o destino de nele se dar a liberdade" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.


24

"Ser livre não é só fazer o que desejamos da vida, mas escutar o que a Vida, como dimensão que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como destino, um sentido de missão a se realizar. A Vida Incessante, que não cessa de nascer e perecer, é maior do que a vida de cada homem, pois outros seres viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o homem é o único entre todos os seres que recebeu o livre arbítrio, o arbítrio só é livre na medida em que é a escuta do interlúdio que constitui o seu destino" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.
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