Sistema

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "A [[transcendência]] da razão se torna alavanca de sistematização: o movimento parte do [[real]] para integrá-lo na ordem da racionalidade, de onde brotam as forças da sistematização. Todo sistema é uma pretensão absoluta, a pretensão da [[razão]] se bastar a si mesma, de ter tudo, de não carecer de coisa alguma, de não depender de [[nada]], de não necessitar do Nada, do Nada saber e da Não-ação para ser, conhecer e agir." (1)  
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: "A [[transcendência]] da [[razão]] se torna alavanca de [[sistematização]]: o [[movimento]] parte do [[real]] para integrá-lo na ordem da [[racionalidade]], de onde brotam as forças da [[sistematização]]. Todo [[sistema]] é uma pretensão [[absoluta]], a pretensão da [[razão]] se bastar a si mesma, de ter [[tudo]], de não carecer de coisa alguma, de não depender de [[nada]], de não necessitar do [[Nada]], do [[Nada]] [[saber]] e da [[Não-ação]] para [[ser]], [[conhecer]] e [[agir]]." (1)  
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Metafísica e pensamento". In: ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 122.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Metafísica e pensamento". In: '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 122.
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: O importante do sistema é que ele não nos determina apenas como [[função]], ou seja, determina nossa [[identidade]] como algo funcional. Nessa determinação estabelece-se um "[[poder]] disciplinar", no dizer de Foucault. "O poder disciplinar está preocupado, em primeiro lugar, com a regulação. A vigilância é o governo da espécie humana ou de populações inteiras e, em segundo lugar, do indivíduo e do corpo. Seus locais são aquelas novas instituições que se desenvolveram ao longo do século XIX e que 'policiam' e disciplinam as populações modernas - oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clínicas e assim por diante (veja, por exemplo, ''História da loucura'', ''O nascimento da clínica'' e ''Vigiar e punir'')" (1). Ora, essas [[instituição|instituições]] são fruto do novo [[conhecimento]] estabelecido pela [[ciência]], da divisão do real em lotes/[[disciplina|disciplinas]] da apreensão e construção do homem e do real em [[conhecimento|conhecimentos]] certos e objetivos.
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: O importante do [[sistema]] é que ele não nos determina apenas como [[função]], ou seja, determina nossa [[identidade]] como algo funcional. Nessa determinação estabelece-se um "[[poder]] disciplinar", no dizer de Foucault:
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: Uma faceta que deve ficar clara é que o poder é como o camaleão, assume outras faces. É necessário pensar a [[essência]] do poder. A tentativa de fazer da [[arte]], como [[crítica]] e [[leitura]], uma disciplina, é a tentativa de torná-la [[sistema]] e, como poder, torná-la funcional e dominada. Nesse sentido, as [[vanguarda|vanguardas]] são ambíguas, porque, por um lado, questionam o sistema, mas, por outro, propõem um novo sistema: o da [[transgressão]] institucionalizada, ou seja, a transgressão como sistema. Todo sistema vive em [[aporia]]: a de não partir da e nem pensar a [[dobra]] da realidade: só muda porque permanece e só permanece porque muda. Mas surge então a questão que nenhum [[sistema]] encara: O que é isto - o que na [[realidade]] muda e permanece?
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: "O [[poder]] disciplinar está preocupado, em primeiro [[lugar]], com a regulação. A vigilância é o governo da [[espécie]] [[humana]] ou de populações inteiras e, em segundo [[lugar]], do [[indivíduo]] e do [[corpo]]. Seus locais são aquelas novas [[instituições]] que se desenvolveram ao longo do século XIX e que 'policiam' e disciplinam as populações [[modernas]] - oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clínicas e assim por diante (veja, por exemplo, '''História da loucura''', '''O nascimento da clínica''' e '''Vigiar e punir''')" (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Ora, essas [[instituição|instituições]] são fruto do novo [[conhecimento]] estabelecido pela [[ciência]], da [[divisão]] do [[real]] em lotes/[[disciplina|disciplinas]] da apreensão e [[construção]] do [[homem]] e do [[real]] em [[conhecimento|conhecimentos]] certos e [[objetivos]].
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: Uma faceta que deve ficar clara é que o [[poder]] é como o camaleão, assume outras faces. É [[necessário]] [[pensar]] a [[essência]] do [[poder]]. A tentativa de fazer da [[arte]], como [[crítica]] e [[leitura]], uma [[disciplina]], é a tentativa de torná-la [[sistema]] e, como [[poder]], torná-la [[funcional]] e dominada. Nesse sentido, as [[vanguarda|vanguardas]] são ambíguas, porque, por um lado, questionam o [[sistema]], mas, por outro, propõem um novo [[sistema]]: o da [[transgressão]] institucionalizada, ou seja, a [[transgressão]] como [[sistema]]. Todo [[sistema]] vive em [[aporia]]: a de não partir da e nem [[pensar]] a [[dobra]] da [[realidade]]: só muda porque permanece e só permanece porque muda. Mas surge então a [[questão]] que nenhum [[sistema]] encara: O que é isto - o que na [[realidade]] muda e permanece? A concepção da realidade através de sistemas não apreende essa questão. Para tal é [[necessário]] [[pensar]] o [[processo]] e o [[fenômeno]]. Ou seja, [[pensar]], no fundo: a [[essência]] da [[ação]] e do [[agir]] e o que têm a ver com o [[ser humano]]. E mais: com o [[sentido do Ser]].
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: (1) HALL, Stuart. ''A identidade cultural na pós-modernidade''. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 42.
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: "Seu [[método]] de [[reflexão]] [[filosófica]] é exclusivamente o [[método]] [[dialético]] triádico: [[tese]], [[antítese]] e [[síntese]], ou melhor, segundo a [[terminologia]] [[hegeliana]]: [[afirmação]], [[negação]] e [[negação da [[negação]]. Por este [[método]] [[Hegel]] pretende mostrar como se classificam [[racionalmente]] e como se encadeiam [[racionalmente]], e com [[necessidade]], todos os [[aspectos]] mais importantes da [[realidade]], a partir dos mais [[abstratos]] como: o ser em geral, o [[vir-a-ser]], a qualidade, a quantidade etc., até os mais [[concretos]] como os diversos tipos de [[civilizações]] e de [[filosofias]]. Estes vários aspectos da [[realidade]] são as tais “[[essências]]” que, segundo [[Hegel]], estão [[logicamente]] e [[realmente]] tão encadeadas que a [[existência]] de uma implica necessariamente a [[existência]] de todas as demais. Todo o “[[sistema]]” da [[realidade]] é [[absolutamente]] [[necessário]] e [[absolutamente]] [[lógico]]" (1).
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: "Seu [[método]] de [[reflexão]] [[filosófica]] é exclusivamente o [[método]] [[dialético]] triádico: [[tese]], [[antítese]] e [[síntese]], ou melhor, segundo a [[terminologia]] [[hegeliana]]: [[afirmação]], [[negação]] e [[negação da negação]]. Por este [[método]] [[Hegel]] pretende mostrar como se classificam [[racionalmente]] e como se encadeiam [[racionalmente]], e com [[necessidade]], todos os [[aspectos]] mais importantes da [[realidade]], a partir dos mais [[abstratos]] como: o ser em geral, o [[vir-a-ser]], a qualidade, a quantidade etc., até os mais [[concretos]] como os diversos tipos de [[civilizações]] e de [[filosofias]]. Estes vários aspectos da [[realidade]] são as tais “[[essências]]” que, segundo [[Hegel]], estão [[logicamente]] e [[realmente]] tão encadeadas que a [[existência]] de uma implica necessariamente a [[existência]] de todas as demais. Todo o “[[sistema]]” da [[realidade]] é [[absolutamente]] [[necessário]] e [[absolutamente]] [[lógico]]" (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "... a [[crítica]] acerba ao [[sistema]] [[hegeliano]], feita pelos [[existencialistas]] (a começar por Kierkegaard), precisamente com a acusação de que, em [[Hegel]], chegou ao seu auge uma [[filosofia]] do [[sujeito]], mas em quem o [[homem]] [[concreto]], este [[sujeito]] [[concreto]], acabou se perdendo na [[identidade]] [[absoluta]] do [[sujeito]] [[infinito]]. No [[sistema]] [[hegeliano]], o [[homem]] [[concreto]] e [[individual]] não tinha mais [[sentido]] como tal.  Ora, diziam os [[existencialistas]], é o [[homem]] [[concreto]] que se trata de [[salvar]] e de [[explicar]]" (1).
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: O [[ser humano]] faz parte [[essencialmente]] da [[realidade]]. O [[lugar]] do [[ser humano]] no todo da [[realidade]] é que se torna a grande [[questão]]. A [[experiência]] [[histórica]], desde Esparta, é que não se pode reduzir a [[realidade]] e nela incluído o [[ser humano]] a um [[sistema]], por mais [[ideal]] que seja, pois a [[realidade]] é não se reduzirá jamais a um [[sistema]], pois ela em sua [[essência]] é um [[processo]] contínuo e complexo. Esse [[processo]] é a [[História]] como [[Sentido do Ser]].
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: E é como [[processo]] e no [[processo]] que cada [[ser humano]] encontra o seu [[sentido]] de [[realização]]. Ele é experienciado por cada um de acordo com seu [[próprio]] e manifestado nas [[obras de arte]]. A [[obra de arte]] inclui [[trabalho]], [[sentido]] e [[existência]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "Hoje, a [[realidade]] é concebida de maneiras [[diferentes]]: pelo [[sistema]] [[científico]], pelos [[sistemas]] [[religiosos]] e pelo [[tradicional]] [[senso comum]]. Apesar desses [[diferentes]] [[sistemas]] de [[realidade]] há também a [[presença]] incontrolável e gratuita do [[imaginário]], do [[extra-ordinário]] e da [[possibilidade]] do [[tempo]] [[poético]] em cada um: é quando a [[arte]] atua" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.
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: "Será que, seres do [[saber]] da [[ciência]], esquecidos do [[sagrado]], em meio à [[vigência]] do [[profano]] e da [[estética]], filhos cooptados pelo [[sistema]] de controle, pela [[sociedade em rede]], pelo [[desejo]] insaciável de novas [[sensações]], não aceitamos mais as [[Sereias]] e também fechamos nossos ouvidos com cera como os companheiros de [[Ulisses]]? Temos os ouvidos surdos para o [[vigorar]] e [[poder]] [[acontecer]] do [[mito]]? Ou nem os fechamos e no [[caminhar]] de nossos passos constatamos que não há [[canto]] e o [[perigo]] [[mortal]] é um blefe? É o que nos quer fazer [[acreditar]] o [[sistema]], porque o [[sistema]] vive da [[crença]]. Esta nos projeta em duas [[ilusões]]. A de que podemos destruir o [[sistema]], como se isso não implicasse na eleição de um [[outro]], talvez pior, porque destrói as [[diferenças]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 181.
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: "Insistindo na [[questão]] do [[esquecimento]] do [[sentido do Ser]], [[Heidegger]] põe toda a [[filosofia]] em [[questão]]. Mas esse [[questionar]] não significa um excluir ou tentar superar os [[sistemas]] anteriores, para pôr em seu [[lugar]] uma nova [[verdade]] e um novo [[sistema]] ou, no caso da [[arte]], uma nova [[estética]]. Não. Ele se mantém firme [[sempre]] nas [[questões]] a serem pensadas, no '''a-se-pensar'''. Este não cabe jamais nos [[conceitos]] nem em algum [[sistema]]. Os [[leitores]] profissionais de [[filosofia]] querem de qualquer maneira rotulá-lo e classificá-lo. No fundo, [[ler]] [[Heidegger]] é se abrir para as [[questões]], para o '''a-se-pensar'''" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 34.

Edição atual tal como 01h14min de 31 de janeiro de 2024

1

"A transcendência da razão se torna alavanca de sistematização: o movimento parte do real para integrá-lo na ordem da racionalidade, de onde brotam as forças da sistematização. Todo sistema é uma pretensão absoluta, a pretensão da razão se bastar a si mesma, de ter tudo, de não carecer de coisa alguma, de não depender de nada, de não necessitar do Nada, do Nada saber e da Não-ação para ser, conhecer e agir." (1)


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Metafísica e pensamento". In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 122.
Ver também:
* Rede

2

O importante do sistema é que ele não nos determina apenas como função, ou seja, determina nossa identidade como algo funcional. Nessa determinação estabelece-se um "poder disciplinar", no dizer de Foucault:
"O poder disciplinar está preocupado, em primeiro lugar, com a regulação. A vigilância é o governo da espécie humana ou de populações inteiras e, em segundo lugar, do indivíduo e do corpo. Seus locais são aquelas novas instituições que se desenvolveram ao longo do século XIX e que 'policiam' e disciplinam as populações modernas - oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clínicas e assim por diante (veja, por exemplo, História da loucura, O nascimento da clínica e Vigiar e punir)" (1).
Ora, essas instituições são fruto do novo conhecimento estabelecido pela ciência, da divisão do real em lotes/disciplinas da apreensão e construção do homem e do real em conhecimentos certos e objetivos.
Uma faceta que deve ficar clara é que o poder é como o camaleão, assume outras faces. É necessário pensar a essência do poder. A tentativa de fazer da arte, como crítica e leitura, uma disciplina, é a tentativa de torná-la sistema e, como poder, torná-la funcional e dominada. Nesse sentido, as vanguardas são ambíguas, porque, por um lado, questionam o sistema, mas, por outro, propõem um novo sistema: o da transgressão institucionalizada, ou seja, a transgressão como sistema. Todo sistema vive em aporia: a de não partir da e nem pensar a dobra da realidade: só muda porque permanece e só permanece porque muda. Mas surge então a questão que nenhum sistema encara: O que é isto - o que na realidade muda e permanece? A concepção da realidade através de sistemas não apreende essa questão. Para tal é necessário pensar o processo e o fenômeno. Ou seja, pensar, no fundo: a essência da ação e do agir e o que têm a ver com o ser humano. E mais: com o sentido do Ser.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 42.

3

O próprio de todo sistema e em todo sistema é o horizonte sem horizontalidade, sem o que gera todo horizonte. O sistema é uma “matrix” sem o novo, somente origem do repetível dentro das funções já programadas, dentro de uma determinada estrutura, próprias de cada sistema. A realidade – não sistema nem real – é além de origem também originário do sempre novo, do sempre inaugural, do inesperado. E a sua manifestação acontece dentro de um processo infinito. Ela é mãe ou matriz de criatividade. O sistema é modelo, paradigma, suporte, dependente das suas estruturas.


- Manuel Antônio de Castro

4

"Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes, não era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança" (1).


Referência:
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo GH, 3. e. Rio de Janeiro: Sabiá, 1964, p. 10.

5

"Seu método de reflexão filosófica é exclusivamente o método dialético triádico: tese, antítese e síntese, ou melhor, segundo a terminologia hegeliana: afirmação, negação e negação da negação. Por este método Hegel pretende mostrar como se classificam racionalmente e como se encadeiam racionalmente, e com necessidade, todos os aspectos mais importantes da realidade, a partir dos mais abstratos como: o ser em geral, o vir-a-ser, a qualidade, a quantidade etc., até os mais concretos como os diversos tipos de civilizações e de filosofias. Estes vários aspectos da realidade são as tais “essências” que, segundo Hegel, estão logicamente e realmente tão encadeadas que a existência de uma implica necessariamente a existência de todas as demais. Todo o “sistema” da realidade é absolutamente necessário e absolutamente lógico" (1).


Referência:
HUMMES ofm, Cardeal Dom Cláudio. História da Filosofia. Curso dado em 1963, em Daltro Filho, hoje cidade de Imigrantes, RS. Anotações distribuídas em sala de aula.

6

"Na era global da comunicação instantânea (Whatsapp, Twitter) nunca houve tanto isolamento e imersão numa realidade que nos foge dos pés. Todos conectados e todos isolados. Tanto nas artes quanto nas ciências reina a mais absoluta perplexidade. Os sistemas faliram e nunca se tornou tão urgente pensar o ético do humano e o humano do ético enquanto vigorar do princípio originário (arché). O ético é a verdade libertadora do universal concreto. Eis algumas denominações tentando dizer a atual globalização: pós-modernidade, baixa-modernidade, contemporâneo (como se toda época não fosse contemporânea de quem a experiencia!!!!), sociedade da informação, sociedade do espetáculo, sociedade da comunicação, sociedade de consumo, sociedade do conhecimento, pós-tudo, o tempo das redes, o fim das certezas, a realidade virtual. A pura negação ou a total aceitação deslumbrante é uma nescidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 22.

7

"Este domínio omnipresente da técnica nos mostra que a sociedade em rede constitui a realidade, o ar em que o homem global se descobre inserido e respira. Exige da parte dos homens uma reformulação estrutural completa de todos os modos de ser e comportar-se até então vigentes, de seus valores morais, de suas tradições, dos padrões intelectuais e fisiológicos, de tudo que tinha sido o homem até então" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 24.

8

Sistema diz sempre a interpretação da linguagem enquanto causa e efeito, onde o ato de fala ou discurso, enfim, o uso, a reduz a uma função e a uma finalidade, o efeito. Hoje poderíamos dizer que é a linguagem informacional e comunicativa.


- Manuel Antônio de Castro.

9

"... a crítica acerba ao sistema hegeliano, feita pelos existencialistas (a começar por Kierkegaard), precisamente com a acusação de que, em Hegel, chegou ao seu auge uma filosofia do sujeito, mas em quem o homem concreto, este sujeito concreto, acabou se perdendo na identidade absoluta do sujeito infinito. No sistema hegeliano, o homem concreto e individual não tinha mais sentido como tal. Ora, diziam os existencialistas, é o homem concreto que se trata de salvar e de explicar" (1).
O ser humano faz parte essencialmente da realidade. O lugar do ser humano no todo da realidade é que se torna a grande questão. A experiência histórica, desde Esparta, é que não se pode reduzir a realidade e nela incluído o ser humano a um sistema, por mais ideal que seja, pois a realidade é não se reduzirá jamais a um sistema, pois ela em sua essência é um processo contínuo e complexo. Esse processo é a História como Sentido do Ser.
E é como processo e no processo que cada ser humano encontra o seu sentido de realização. Ele é experienciado por cada um de acordo com seu próprio e manifestado nas obras de arte. A obra de arte inclui trabalho, sentido e existência.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

10

"Hoje, a realidade é concebida de maneiras diferentes: pelo sistema científico, pelos sistemas religiosos e pelo tradicional senso comum. Apesar desses diferentes sistemas de realidade há também a presença incontrolável e gratuita do imaginário, do extra-ordinário e da possibilidade do tempo poético em cada um: é quando a arte atua" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 150.

11

"Será que, seres do saber da ciência, esquecidos do sagrado, em meio à vigência do profano e da estética, filhos cooptados pelo sistema de controle, pela sociedade em rede, pelo desejo insaciável de novas sensações, não aceitamos mais as Sereias e também fechamos nossos ouvidos com cera como os companheiros de Ulisses? Temos os ouvidos surdos para o vigorar e poder acontecer do mito? Ou nem os fechamos e no caminhar de nossos passos constatamos que não há canto e o perigo mortal é um blefe? É o que nos quer fazer acreditar o sistema, porque o sistema vive da crença. Esta nos projeta em duas ilusões. A de que podemos destruir o sistema, como se isso não implicasse na eleição de um outro, talvez pior, porque destrói as diferenças" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 181.

12

"Insistindo na questão do esquecimento do sentido do Ser, Heidegger põe toda a filosofia em questão. Mas esse questionar não significa um excluir ou tentar superar os sistemas anteriores, para pôr em seu lugar uma nova verdade e um novo sistema ou, no caso da arte, uma nova estética. Não. Ele se mantém firme sempre nas questões a serem pensadas, no a-se-pensar. Este não cabe jamais nos conceitos nem em algum sistema. Os leitores profissionais de filosofia querem de qualquer maneira rotulá-lo e classificá-lo. No fundo, ler Heidegger é se abrir para as questões, para o a-se-pensar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 34.