Lógos

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 15h43min de 19 de fevereiro de 2020 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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"Pois ho logos nomeia o ser de todo sendo, isto é, de tudo que é e está sendo, mas não aconteceu. Em parte alguma encontramos um vestígio de os gregos terem pensado a essência da linguagem diretamente pela essência do ser. Ao invés, representaram a linguagem foneticamente - e foram os primeiros a fazê-lo - pela fonação, como phoné, como voz e som vocal. A palavra grega que corresponde à palavra 'linguagem' é glossa, língua, em sentido anatômico. Linguagem é phoné semantiké, a fonação que designa alguma coisa. Isto significa: a linguagem tem o caráter fundamental de 'expressão'. Ora, esta representação correta da linguagem, linguagem enquanto expressão, vem de fora mas se tornou, desde então, decisiva. Gostamos de representar todo tipo de expressão como uma espécie de linguagem. A história da arte fala de linguagem das formas. Outrora, porém, no início do pensamento ocidental, a essência da linguagem explodiu, como um relâmpago, na luz do ser; outrora, quando Heráclito pensou o lógos, como palavra-chave, a fim de, nela, pensar o ser do sendo" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Lógos". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 202.

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"De legein formou-se lógos, cujo sentido originário é linguagem. Somente no vigorar da linguagem é que podem surgir as diferentes línguas. Por isso, podemos dizer que a linguagem é a mãe de todas as línguas" (1). Por ser linguagem, isto é, sentido do ser, lógos foi sendo interpretado e traduzido, ao longo de todo percurso ocidental, de muitas maneiras, de acordo com o próprio acontecer da realidade em suas épocas. São significados inclusivos e jamais excludentes. Isso é possível, entre outros motivos, por ser eminentemente um substantivo verbal. A relevância e prioridade do lógos acabou deixando esquecida a questão de todas as questões: o sentido e vigorar do ser, em sua verdade e mundo. De alguma maneira, houve um logocentrismo. Mas este pode ser pensado dialeticamente, desde que se retorne ao vigorar do sentido do ser, presente ainda nos pensadores originários.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: a verdade do humano". In: Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão I, 192, jan.-mar., 2013, p. 14.

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Muitos são as traduções de logos na tradição ocidental, todas elas implicando teorias e paradigmas da physis ou realidade, sentido mais usual no português (mas insuficiente). Podemos enumerar alguns: Verbo, Linguagem, Filho de Deus, discurso, razão, língua, causa, fundamento, palavra, sentido, significado, lógica etc. Porém, atendendo a sua ligação substantiva com o verbo legein, podemos dizer que uma das traduções mais completas seja unidade. De alguma maneira esta engloba a maioria das traduções já citadas. É que o verbo legein diz o vigorar do ser em seu pôr, depor, dispor e propor. E a aparente oposição de tais sentidos fica compreensível e necessária porque em todos eles já vigora o dar unidade, na própria tensão necessária, ontológica e dialética com as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro

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"Nossa época e a ciência reduziram o logos a um de seus significados: o lógico. Este existe e é uma dimensão importante do logos, mas não diz tudo que o logos diz. A vida, o tempo, o ser, o pensar, o sagrado, o mundo, a verdade, o humano, o social, a arte, o imaginário, o sonho, o ético, o poético, a paixão, o desejo, a loucura, o erótico, a dor, o sofrimento, o desespero, a alegria, a tristeza, são mais do que o lógico da lógica. Pensando bem, o que há de essencial em nossa vida não é regido pelo lógico da lógica" (1).


Referência:
- (1) "Diálogos trans-" e a procura do humano. In: www.travessiapoetica.blogspot.com.

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"O abandono, aproximadamente desde o Helenismo, da aletheia pela lógica gerou o esquecimento do sentido do ser e, com isso, a compreensão invertida do que os pensadores originários diziam com o logos... Eis algumas traduções: 1) Fundamento; 2) Unidade; 3) Razão; 4) Necessidade/Lei do mundo; 5) Lógica; 6) Linguagem; 7) Palavra/Deus; 8) Língua/código; 9) Fala/discurso; 10) Signo/semântica; 11) Coletividade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Logos". In: Convite ao pensar. CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (org.). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 143.

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"Pois justamente a relação entre coisa e palavra, e isso na configuração de ser e dizer, foi uma das primeiras coisas que o pensamento ocidental colocou em palavras. Essa relação avassalou o pensamento de tal modo que se pronunciou numa única palavra. Essa palavra diz: logos. Essa palavra é, ao mesmo tempo, nome para o ser e para o dizer" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A essência da linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 144.


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"Como princípio de ordem e força de organização do real em sua realização, o logos é linguagem ontológica da vida, no mais elevado grau de sua explosão na história humana, por isso, a vigência criadora do logos revoluciona não apenas a fala e o discurso, mas também o ouvido e o ouvir. Nas peripécias da criação, ouvir é escutar o logos, seguindo o advento de sua dinâmica de reunião no curso da história. O simples ouvir palavras se dispersa na variedade múltipla dos discursos" (1).


Referência:

(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega". In: -------. Aprendendo a pensar, volume II. Petrópolis (RJ): Vozes, 1991, p. 139 / 140.


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"Auscultando não a mim, mas ao Logos, é sábio concordar : tudo é um" (1). Sem dúvida nenhuma, o Logos é o sentido de tudo, pelo qual tudo se interconecta, se inter-realaciona, pois o Logos, enquanto sentido, é a linguagem que dá unidade a tudo, uma vez que a tudo perpassa. De um modo ou de outro, a realidade somente se torna realidade, isto é, unidade de tudo, na medida em que tal tornar-se da realidade é o que denominamos mundo. É por isso que sem Logos não poderia haver a verdade da realidade, ou seja, a sua manifestação ou aletheia, como apreenderam e compreenderam os gregos o que é verdade. É pelo uno que tudo é e é na medida em que o Ser é o uno.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 71.

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"O que se dá a ver é, para os gregos, a physis; para nós, a realidade. Para mostrar o que se dá a ver (a realidade, a physis), o ser humano recebe da própria physis duas dimensões que o constituem, circunscrevem e determinam: o pensamento (nous, em grego) e a linguagem (logos, em grego). O nous é o pensamento que permite ver o não visto. E este pode ser dito enquanto sentido e mundo porque somos constituídos pelo logos, a linguagem. É o nous e o logos, na vigência da poiesis da realidade, que constituem o seu sentido e mundo, manifestados nos paradigmas. Chamamos poiesis a permanência e transformação da realidade, daí ser ela originária e radicalmente poética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19.


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"O logos significa por, reunir e dizer. Pondo, pode criar as oposições e reuni-las, dizendo-as em proposições. O logos não é a posição nem as oposições, a proposição nem o discurso: é sua origem e fonte. Reúne linguagem e realidade enquanto sentido e verdade, e identidade e diferença (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 149.


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"De logos originaram-se na língua portuguesa dois sentidos (mas as traduções são muitas), aparentemente opostos: razão e linguagem. Isto é devido à perda do sentido fundador do logos como o entre de ser humano E ser. Sendo o ser humano o sujeito e não mais o logos que reúne, a razão fundamenta os conhecimentos e a linguagem os comunica funcionalmente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.


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"O logos não é fundamento. Ele funda os fundamentos (eu e tu, masculino e feminino, russo e chinês, português e alemão, Maria e Joana, Manuel e José, branco e preto etc.) porque é linguagem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 102.


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"Nada pode ser conhecido sem que, em sua representação, não haja previamente uma compreensão concreta, possibilitada pelo ler, pois essa unidade é o logos, a linguagem. Esta funda a referência ou mediação de ser humano “e” ser. É que a forma verbal lego, primeira pessoa do presente do indicativo do verbo grego legein, de onde se forma o substantivo logos, em seus sentidos de pôr, depor, propor e dispor compondo, institui as dimensões em que os fenômenos se dispõem e propõem: o tempo e o espaço" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 91.
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