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De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"O poeta nomeia as [[coisa|coisas]]: estas são plumas, aquelas são pedras. E de súbito afirma: as pedras são plumas, isto é aquilo. Os elementos da imagem não perdem seu caráter concreto e singular: as pedras continuam sendo pedras, ásperas, duras, impenetráveis, amarelas de sol ou verdes de musgo: pedras pesadas. E as plumas, plumas: leves. A imagem resulta escandalosa porque desafia o [[princípio]] de [[contradição]]: o pesado é ligeiro. Ao enunciar a identidade dos contrários, atenta contra os fundamentos do nosso pensar" (1).
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: Do [[latim]] ''imago'': [[imagem]], [[representação]], [[retrato]], [[fantasma]] (sentido poético), [[aparência]]. Em grego: ''eikon'' e [[fantasma]] (do [[verbo]] ''fantadzo'': aquilo que aparece, se manifesta, se torna [[fenômeno]]). Daí a [[relação]] com o [[latim]]: ''imitor'' e ''imaginor'' e ainda [[figura]], relacionada a ''fingere'': [[figurar]], ficcionar, [[fingir]], [[formar]], [[educar]]. O [[latim]] ''imitari'' está ligado ao [[grego]]: ''mimetai'', de onde se formou ''[[mímesis]]''. Portanto, se, de um lado, a [[tradição]] compreende [[imagem]] como [[representação]], de outro, antes de [[ser]] [[representação]], a [[imagem]] [[é]] o [[próprio]] manifestar-se da [[realidade]] (''[[physis]]'') que se dá a [[ver]], não só nos [[fenômenos]] [[humanos]] e [[naturais]], mas também na [[arte]], pois esta traz à [[imagem]], à [[manifestação]] [[realidades]] que a [[própria]] [[natureza]] não manifesta. Por exemplo: há sons na [[natureza]], mas ela não compõe uma sinfonia como a nona de Beethoven. Há [[movimentos]] e gestos na [[natureza]], mas ela não compõe nenhum [[rito]] [[religioso]], com seus [[cantos]] e [[danças]], [[alegrias]] e [[tristezas]], ou seja, não compõe uma "[[Sagração da primavera]]", de Stravinski. Há o mármore, mas dele se podem [[fazer]] [[estátuas]] que a [[natureza]] não faz, escadas etc. das construções, etc.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) PAZ, Octavio. ''Signos em rotação''. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 38.
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: "O [[poeta]] nomeia as [[coisa|coisas]]: estas são plumas, aquelas são pedras. E de súbito afirma: as pedras são plumas, isto [[é]] aquilo. Os elementos da [[imagem]] não perdem seu caráter [[concreto]] e singular: as pedras continuam [[sendo]] pedras, ásperas, duras, impenetráveis, amarelas de sol ou verdes de musgo: pedras pesadas. E as plumas, plumas: leves. A [[imagem]] resulta escandalosa porque desafia o [[princípio]] de [[contradição]]: o pesado é ligeiro. Ao enunciar a [[identidade]] dos contrários, atenta contra os [[fundamentos]] do nosso [[pensar]]" (1).
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:'''Ver também:'''
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: Referência:
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:*[[Estranho]]
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: (1) PAZ, Octavio. '''Signos em rotação'''. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 38.
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:*[[Sonho]]
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: *[[Estranho]]
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:"Quando oponho [[conceito]] e imagem, é necessário deixar bem claro o alcance de imagem. José Lezama Lima tem toda uma [[teoria]] sobre imagem que eu denominaria poética. Pois há imagens não-poéticas. Sobretudo a pós-modernidade se constrói em cima de imagens, através dos meios de [[comunicação]], mas aí já são imagens representadas. Por isso, segundo Nelson Brissac Peixoto: '... a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe lhe vêm por imagens'" (1). A imagem poética é aquela que não pode ser reduzida a simples meio de [[informação]], mas que traz, em si, no seu mostrar, o fazer aparecer o que se presenteando, dando-se, tanto mais se faz presente quanto mais se vela.
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: *[[Sonho]]
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: "Quando oponho [[conceito]] e [[imagem]], é necessário deixar bem claro o alcance de [[imagem]]. José Lezama Lima tem toda uma [[teoria]] sobre [[imagem]] que eu denominaria [[poética]]. Pois há [[imagens]] não-poéticas. Sobretudo a [[pós-modernidade]] se constrói em cima de [[imagens]], através dos meios de [[comunicação]], mas aí já são [[imagens]] representadas. Por isso, segundo Nelson Brissac Peixoto: '... a maioria absoluta das [[informações]] que o [[homem]] [[moderno]] recebe lhe vêm por [[imagens]]' " (1).
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: A [[imagem]] [[poética]] é aquela que não pode ser reduzida a simples meio de [[informação]], mas que traz, em si, no seu mostrar, o fazer [[aparecer]] o que se presenteando, dando-se, tanto mais se faz [[presente]] quanto mais se vela.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) NOVAES, Adauto (org.). "O olhar do estrangeiro". In: ''O olhar''. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1995, p. 65.
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: (1) NOVAES, Adauto (org.). "O olhar do estrangeiro". In: '''O olhar'''. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1995, p. 65.
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:"O [[nome]] que se costuma dar à fisionomia e ao aspecto de alguma coisa é 'imagem'. A [[essência]] da imagem é: deixar ver alguma coisa. Por outro lado, as reproduções e imitações são deformações da imagem propriamene dita que, enquanto fisionomia, deixa ver o [[invisível]], dando-lhe assim uma imagem que o faz participar de algo [[estranho]]. Tomando essa medida cheia de [[mistério]], a saber, a fisionomia do céu, a [[poesia]] fala por 'imagens'. Assim e num sentido muito privilegiado, as imagens poéticas são imaginações. Imaginações e não meras [[fantasias]] ou ilusões. Imaginações entendidas não apenas como inclusões do estranho na fisionomia do que é familiar, mas também como inclusões passíveis de serem visualizadas. O dizer poético das imagens reúne integrando a claridade e a ressonância dos muitos aparecimentos celestes numa unidade com a obscuridade e a silenciosidade do estranho".  
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: "O [[nome]] que se costuma dar à fisionomia e ao aspecto de alguma coisa é '[[imagem]]'. A [[essência]] da [[imagem]] é: deixar [[ver]] alguma coisa. Por outro lado, as [[reproduções]] e [[imitações]] são deformações da [[imagem]] propriamene dita que, enquanto [[fisionomia]], deixa ver o [[invisível]], dando-lhe assim uma [[imagem]] que o faz participar de algo [[estranho]]. Tomando essa [[medida]] cheia de [[mistério]], a saber, a [[fisionomia]] do [[céu]], a [[poesia]] [[fala]] por '[[imagens]]'. Assim e num sentido muito privilegiado, as [[imagens]] [[poéticas]] são [[imaginações]]. [[Imaginações]] e não meras [[fantasias]] ou [[ilusões]]. [[Imaginações]] entendidas não apenas como inclusões do estranho na [[fisionomia]] do que é [[familiar]], mas também como inclusões passíveis de serem visualizadas. O [[dizer]] [[poético]] das [[imagens]] reúne integrando a [[claridade]] e a ressonância dos muitos aparecimentos celestes numa [[unidade]] com a obscuridade e a silenciosidade do [[estranho]]".  
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 177.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 177.
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: [[Imagem]] e [[projeto]]. Estes dizem respeito à [[realização]] e [[forma]] / ''[[morphe]]'' que inclui no projeto não só a [[imagem]], mas também o que nele aparece e pode acontecer, não sendo o [[agir]] [[humano]] nada mais do que o agenciador daquilo que já tem a [[possibilidade]] de [[agir]] e chegar a [[ser]]. É nesse [[sentido]] que o [[pensador]] [[Platão]] criou a [[palavra]] ''[[Eidos]]'' ([[imagem]], perfil), uma vez que ele diz o [[ver]] das [[possibilidades]] de se tornar [[real]], de realizar-se. Só há e só pode haver [[imagem]], porque vemos, temos ''idea'', [[ideias]], [[imagens]] da [[realidade]] manifestando-se. Por isso, dessa [[palavra]] originou-se [[ideal]] e idealismo. Ao contrário do que se diz, estes não são [[negativos]], mas a única [[possibilidade]] de a [[realidade]] estar se transformando pelo agenciar do [[trabalho]] do [[ser humano]]. É que ''[[eidos]]'' diz simplesmente ''[[possibilidade]]'' vista. Como o [[ser humano]] é [[possibilidades]] de e para [[possibilidades]], caso contrário ele não seria um [[projeto]], um [[entre-ser]], [[Dasein]], não se poderia continuar [[sempre]] a [[projetar]] a transformação do [[real]]. Mas esse [[agir]] só é possível porque são [[possibilidades]] doadas pelo [[ser]], lhe advêm da ''[[physis]]''. O [[ser humano]] é ontologicamente idealista. Mas este tem de obedecer às [[leis]] da ''[[physis]]'' e não às [[leis]] sociais, meros [[sistemas]] de ordenamento dos seres e das [[ações]] [[humanas]], tendo [[fundamento]] na [[razão]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Imagem e projeto. Estes dizem respeito à [[realização]] e [[forma]] / ''[[morphe]] que inclui no projeto não só a imagem, mas também o que nele aparece e pode acontecer, não sendo o [[agir] humano nada mais do que o agenciador daquilo que já tem a [[possibilidade]] de agir e chegar a [[ser]]. É nesse [[sentido]] que o [[pensador]] Platão criou a [[palavra]] ''Eidos" (imagem, perfil), uma vez que ele diz o [[ver]] das possibilidades de se tornar [[real]], de realizar-se. Só há e só pode haver imagem, porque vemos, temos ''idea'', ideias, imagens da realidade manifestando-se. Por isso, dessa palavra originou-se [[ideal] e idealismo. Ao contrário do que se diz, estes não são [[negativos]], mas a única possibilidade de a [[realidade]] estar se transformando pelo agenciar do [[trabalho]] do ser humano. É que ''eidos'' diz simplesmente ''possibilidade'' vista. Como o ser humano é possibilidades de e para possibilidades, caso contrário ele não seria um projeto, um [[entre-ser]], não se poderia continuar sempre a projetar a transformação do real. Mas esse agir só é possível porque são possibilidade doadas pelo ser, lhe advêm da ''physis''. O ser humano é ontologicamente idealista. Mas este tem de obedecer às leis da ''physis'' e não às leis sociais, meros sistemas de ordenamento dos seres e das ações humanas, tendo [[fundamento]] na [[razão]].
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: "Afinal, o que Simone Martini, Volpi, Pixinguinha, Hopper, Dorival Caymmi, Camilo Pessanha e Renoir têm a a ver com a falência da [[imagem]] ou do [[olhar]]? Nada! Quando nos encontramos numa via sem saída, como nos dias atuais, com excessos e acúmulos de [[imagens]] sem nenhum [[sentido]], a única opção é [[olhar]] para trás. E, no [[tempo]] passado, poderemos reencontrar a alegria de quando o [[tempo]] não era uma [[medida]]. Poderemos fazer florescer algo da infância da [[arte]] - o dia extenso com caixas de aquarelas a borrar o inefável" (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência.
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: IVO, Gonçalo, pintor. "A pintura, o tempo e a falência da imagem", artigo. In: '''O Globo'''. Terça-feira, 27-11-2018, p. 3. Primeiro Caderno.
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: A [[verdade]] [[grega]] ou ''[[a-letheia]]'' se funda na [[luz]], pois significa o vir à [[luz]], o [[desvelamento]]. E este é que se chamou sempre a [[verdade]], uma [[verdade]] que permite e possibilita todo [[ver]] e [[compreender]], na medida em que a [[verdade]] é uma [[doação]] da [[clareira]], na qual convivem [[claridade]] e [[escuridão]], constituindo as [[diferentes]] e ricas [[cores]], pois como diz [[Rosa]] no conto “Nada e a nossa condição”, a [[luz]] enquanto [[claridade]] constitui-se num [[paradoxo]]:  “O que era a luzência, a clara, incongruência [[claridade]], seu tétrico radiar, o qual traspassava a [[noite]]” (1).
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: Em verdade, não sabemos o que seja a [[luz]]. E, no entanto, toda [[imagem]] e seu [[sentido]] se funda na [[luz]]. E note-se como a [[imagem]] muda de [[aparência]] segundo a incidência e a intensidade ou [[ausência]] de [[luz]], dando [[origem]] às [[diferentes]] [[cores]]. A [[imagem]] em sua [[beleza]] está ligada ao [[jogo]] das [[diferentes]] [[cores]]. Em [[essência]], a complexidade e [[mistério]] da [[luz]] é o [[mesmo]] [[mistério]] da [[imagem]] e da [[cor]] de cada uma. [[Luz]], [[essencialmente]], é [[sentido]], [[verdade]], [[mundo]] e [[vida]]. Por isso, quando nasce uma [[criança]], dizemos que a [[mulher]] dá à [[luz]], um [[homem]] não dá à [[luz]]. No que há de [[essencial]], a [[teoria]] de [[gênero]] nada pode. Outra expressão neste [[horizonte]] é o dizermos para nos referirmos à [[verdade]]: vir à [[luz]] ou à [[luz]] da [[razão]], tratando-se, neste caso, da [[verdade]] [[lógica]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) ROSA, João Guimarães. "Nada e a nossa condição". In: ------. '''Primeiras estórias'''. 3. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 89.
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: "[[Imagem]] consiste na [[dinâmica]] do que, nascendo, se desvela, se descortina e, assim, é [[ação]] que promove o [[questionar]]. [[Imagem]] é [[abertura]] de [[possibilidade]] no [[figurar]] das [[coisas]], no apelo da [[linguagem]] como um [[ver]]-[[escutar]] o que somos e não somos enquanto [[ação]] [[poética]]. [[Imagem]] é condensação da [[linguagem]], do [[tempo]], da [[memória]]: [[horizonte]] aberto como [[fonte]]. A [[imagem]] é o que salva [[tudo]] o que se descortina já obscurecendo, já se velando enquanto clareia. Salvar é chegar à [[essência]], fazer-se [[aparecer]] em seu próprio brilho. No que cuida e guarda o revelado, a [[imagem]] abriga tal [[ação]] [[inaugural]], a imersão no [[vazio]] em que se dá a emersão, o [[nascer]], a [[criação]]" (1).
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: (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). '''Convite ao pensar'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
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: "A [[imagem]] não se reduz à noção de [[signo]], já que traz, em si, no seu [[mostrar]], o próprio mostrar; no seu deixar [[aparecer]], o próprio deixar [[aparecer]], o qual se faz [[presente]] quanto mais segue ausentando-se: [[imagem]]-pronúncia da [[voz]] [[poética]]" (1).
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: (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). '''Convite ao pensar'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
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: "[[Imagem]] é [[desabrochar]] do [[sentido]] na [[linguagem]], no [[diálogo]], quando o [[humano]] se abre para as [[questões]] e se estabelece como [[tessitura]] de [[corpo]] [[entre]] [[terra]] e [[mundo]]. Tal [[tessitura]], longe de ser o cumprimento de regras e [[conceitos]], de uma [[essência]] prévia, é propriamente a [[essência]] como o [[vigorar]] de um modo [[próprio]] de as [[questões]] se desvelarem no [[ser]] que se destina a cada [[humano]]: a [[verdade]] como [[desabrochamento]]. [[Imagem]], aí, [[é]] [[presentificação]] da [[condição humana]] e, portanto, não uma [[representação]], uma [[explicação]], mas [[doação]] de [[realidade]] em e para [[realizações]], [[fonte]] do [[pensar]]-[[agir]] que se dá no [[homem]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). '''Convite ao pensar'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
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== 11 ==
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: "Uma [[imagem]] é [[sempre]] um [[dizer]] sonoro do [[silêncio]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''A imagem-questão''. '''Ensaio''' não publicado.

Edição atual tal como 20h11min de 15 de Abril de 2024

1

Do latim imago: imagem, representação, retrato, fantasma (sentido poético), aparência. Em grego: eikon e fantasma (do verbo fantadzo: aquilo que aparece, se manifesta, se torna fenômeno). Daí a relação com o latim: imitor e imaginor e ainda figura, relacionada a fingere: figurar, ficcionar, fingir, formar, educar. O latim imitari está ligado ao grego: mimetai, de onde se formou mímesis. Portanto, se, de um lado, a tradição compreende imagem como representação, de outro, antes de ser representação, a imagem é o próprio manifestar-se da realidade (physis) que se dá a ver, não só nos fenômenos humanos e naturais, mas também na arte, pois esta traz à imagem, à manifestação realidades que a própria natureza não manifesta. Por exemplo: há sons na natureza, mas ela não compõe uma sinfonia como a nona de Beethoven. Há movimentos e gestos na natureza, mas ela não compõe nenhum rito religioso, com seus cantos e danças, alegrias e tristezas, ou seja, não compõe uma "Sagração da primavera", de Stravinski. Há o mármore, mas dele se podem fazer estátuas que a natureza não faz, escadas etc. das construções, etc.


- Manuel Antônio de Castro

2

"O poeta nomeia as coisas: estas são plumas, aquelas são pedras. E de súbito afirma: as pedras são plumas, isto é aquilo. Os elementos da imagem não perdem seu caráter concreto e singular: as pedras continuam sendo pedras, ásperas, duras, impenetráveis, amarelas de sol ou verdes de musgo: pedras pesadas. E as plumas, plumas: leves. A imagem resulta escandalosa porque desafia o princípio de contradição: o pesado é ligeiro. Ao enunciar a identidade dos contrários, atenta contra os fundamentos do nosso pensar" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 38.
Ver também:
*Estranho
*Sonho

3

"Quando oponho conceito e imagem, é necessário deixar bem claro o alcance de imagem. José Lezama Lima tem toda uma teoria sobre imagem que eu denominaria poética. Pois há imagens não-poéticas. Sobretudo a pós-modernidade se constrói em cima de imagens, através dos meios de comunicação, mas aí já são imagens representadas. Por isso, segundo Nelson Brissac Peixoto: '... a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe lhe vêm por imagens' " (1).
A imagem poética é aquela que não pode ser reduzida a simples meio de informação, mas que traz, em si, no seu mostrar, o fazer aparecer o que se presenteando, dando-se, tanto mais se faz presente quanto mais se vela.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) NOVAES, Adauto (org.). "O olhar do estrangeiro". In: O olhar. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1995, p. 65.

4

"O nome que se costuma dar à fisionomia e ao aspecto de alguma coisa é 'imagem'. A essência da imagem é: deixar ver alguma coisa. Por outro lado, as reproduções e imitações são deformações da imagem propriamene dita que, enquanto fisionomia, deixa ver o invisível, dando-lhe assim uma imagem que o faz participar de algo estranho. Tomando essa medida cheia de mistério, a saber, a fisionomia do céu, a poesia fala por 'imagens'. Assim e num sentido muito privilegiado, as imagens poéticas são imaginações. Imaginações e não meras fantasias ou ilusões. Imaginações entendidas não apenas como inclusões do estranho na fisionomia do que é familiar, mas também como inclusões passíveis de serem visualizadas. O dizer poético das imagens reúne integrando a claridade e a ressonância dos muitos aparecimentos celestes numa unidade com a obscuridade e a silenciosidade do estranho".


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 177.
Ver também:
*Representação
*Mimesis
*Identidade
*Diferença

5

Imagem e projeto. Estes dizem respeito à realização e forma / morphe que inclui no projeto não só a imagem, mas também o que nele aparece e pode acontecer, não sendo o agir humano nada mais do que o agenciador daquilo que já tem a possibilidade de agir e chegar a ser. É nesse sentido que o pensador Platão criou a palavra Eidos (imagem, perfil), uma vez que ele diz o ver das possibilidades de se tornar real, de realizar-se. Só há e só pode haver imagem, porque vemos, temos idea, ideias, imagens da realidade manifestando-se. Por isso, dessa palavra originou-se ideal e idealismo. Ao contrário do que se diz, estes não são negativos, mas a única possibilidade de a realidade estar se transformando pelo agenciar do trabalho do ser humano. É que eidos diz simplesmente possibilidade vista. Como o ser humano é possibilidades de e para possibilidades, caso contrário ele não seria um projeto, um entre-ser, Dasein, não se poderia continuar sempre a projetar a transformação do real. Mas esse agir só é possível porque são possibilidades doadas pelo ser, lhe advêm da physis. O ser humano é ontologicamente idealista. Mas este tem de obedecer às leis da physis e não às leis sociais, meros sistemas de ordenamento dos seres e das ações humanas, tendo fundamento na razão.


- Manuel Antônio de Castro

6

"Afinal, o que Simone Martini, Volpi, Pixinguinha, Hopper, Dorival Caymmi, Camilo Pessanha e Renoir têm a a ver com a falência da imagem ou do olhar? Nada! Quando nos encontramos numa via sem saída, como nos dias atuais, com excessos e acúmulos de imagens sem nenhum sentido, a única opção é olhar para trás. E, no tempo passado, poderemos reencontrar a alegria de quando o tempo não era uma medida. Poderemos fazer florescer algo da infância da arte - o dia extenso com caixas de aquarelas a borrar o inefável" (1).


Referência.
IVO, Gonçalo, pintor. "A pintura, o tempo e a falência da imagem", artigo. In: O Globo. Terça-feira, 27-11-2018, p. 3. Primeiro Caderno.

7

A verdade grega ou a-letheia se funda na luz, pois significa o vir à luz, o desvelamento. E este é que se chamou sempre a verdade, uma verdade que permite e possibilita todo ver e compreender, na medida em que a verdade é uma doação da clareira, na qual convivem claridade e escuridão, constituindo as diferentes e ricas cores, pois como diz Rosa no conto “Nada e a nossa condição”, a luz enquanto claridade constitui-se num paradoxo: “O que era a luzência, a clara, incongruência claridade, seu tétrico radiar, o qual traspassava a noite” (1).
Em verdade, não sabemos o que seja a luz. E, no entanto, toda imagem e seu sentido se funda na luz. E note-se como a imagem muda de aparência segundo a incidência e a intensidade ou ausência de luz, dando origem às diferentes cores. A imagem em sua beleza está ligada ao jogo das diferentes cores. Em essência, a complexidade e mistério da luz é o mesmo mistério da imagem e da cor de cada uma. Luz, essencialmente, é sentido, verdade, mundo e vida. Por isso, quando nasce uma criança, dizemos que a mulher dá à luz, um homem não dá à luz. No que há de essencial, a teoria de gênero nada pode. Outra expressão neste horizonte é o dizermos para nos referirmos à verdade: vir à luz ou à luz da razão, tratando-se, neste caso, da verdade lógica.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. "Nada e a nossa condição". In: ------. Primeiras estórias. 3. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 89.

8

"Imagem consiste na dinâmica do que, nascendo, se desvela, se descortina e, assim, é ação que promove o questionar. Imagem é abertura de possibilidade no figurar das coisas, no apelo da linguagem como um ver-escutar o que somos e não somos enquanto ação poética. Imagem é condensação da linguagem, do tempo, da memória: horizonte aberto como fonte. A imagem é o que salva tudo o que se descortina já obscurecendo, já se velando enquanto clareia. Salvar é chegar à essência, fazer-se aparecer em seu próprio brilho. No que cuida e guarda o revelado, a imagem abriga tal ação inaugural, a imersão no vazio em que se dá a emersão, o nascer, a criação" (1).


Referência:
(1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.

9

"A imagem não se reduz à noção de signo, já que traz, em si, no seu mostrar, o próprio mostrar; no seu deixar aparecer, o próprio deixar aparecer, o qual se faz presente quanto mais segue ausentando-se: imagem-pronúncia da voz poética" (1).


Referência:
(1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.

10

"Imagem é desabrochar do sentido na linguagem, no diálogo, quando o humano se abre para as questões e se estabelece como tessitura de corpo entre terra e mundo. Tal tessitura, longe de ser o cumprimento de regras e conceitos, de uma essência prévia, é propriamente a essência como o vigorar de um modo próprio de as questões se desvelarem no ser que se destina a cada humano: a verdade como desabrochamento. Imagem, aí, é presentificação da condição humana e, portanto, não uma representação, uma explicação, mas doação de realidade em e para realizações, fonte do pensar-agir que se dá no homem" (1).


Referência:
(1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.

11

"Uma imagem é sempre um dizer sonoro do silêncio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. A imagem-questão. Ensaio não publicado.
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