Entre-ser

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Toda [[questão]] é [[paradoxal]]. Todo [[conceito]] é [[racional]] e [[objetivo]]. A [[questão]] precisa do [[conceito]] assim como o [[ilimitado]] precisa do [[limite]]. Porém, tanto o [[conceito]] quanto o [[limite]] não subsistem sem a [[questão]] e o [[ilimitado]]. É aqui que acontece o [[paradoxo]]. Por isso ele surge da [[questão]] porque a [[vida]] do [[ser humano]] só é [[paradoxal]] porque é uma [[doação]] das [[questões]]. Eis porque temos o [[ser humano]] lançado radicalmente numa [[liminaridade]], isto é, no [[paradoxo]] do [[limite]] e do [[ilimitado]], da [[vida]] e da [[morte]], do [[conhecer]] e do [[não-conhecer]], do [[permanente]] e do [[passageiro]], da [[noite]] e do [[dia]],  do [[ser]] e do [[não-ser]]. É nesses [[paradoxos]] que o [[humano]] do [[homem]] se entre-tece. Ele é um [[Entre-ser]].
: Toda [[questão]] é [[paradoxal]]. Todo [[conceito]] é [[racional]] e [[objetivo]]. A [[questão]] precisa do [[conceito]] assim como o [[ilimitado]] precisa do [[limite]]. Porém, tanto o [[conceito]] quanto o [[limite]] não subsistem sem a [[questão]] e o [[ilimitado]]. É aqui que acontece o [[paradoxo]]. Por isso ele surge da [[questão]] porque a [[vida]] do [[ser humano]] só é [[paradoxal]] porque é uma [[doação]] das [[questões]]. Eis porque temos o [[ser humano]] lançado radicalmente numa [[liminaridade]], isto é, no [[paradoxo]] do [[limite]] e do [[ilimitado]], da [[vida]] e da [[morte]], do [[conhecer]] e do [[não-conhecer]], do [[permanente]] e do [[passageiro]], da [[noite]] e do [[dia]],  do [[ser]] e do [[não-ser]]. É nesses [[paradoxos]] que o [[humano]] do [[homem]] se entre-tece. Ele é um [[Entre-ser]].
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: - [[Manuel  Antônio de Castro]].
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: "Numa [[ordem]] [[metodológica]], a [[análise]] [[existencial]] precede as [[questões]] da [[biologia]], [[psicologia]], [[teodiceia]] e [[teologia]] da [[morte]]. Do ponto de vista [[ôntico]], seus resultados mostram o [[caráter]] [[formal]] e [[vazio]] de toda [[caracterização]] [[ontológica]]. Isso, porém, não deve cegar a [[visão]] para a [[riqueza]] e [[complexidade]] do [[fenômeno]]. A [[morte]] é uma [[possibilidade]] privilegiada da [[presença]] [[entre-ser]]. Ora, se a [[presença]] [[entre-ser]] nunca pode tornar-se acessível como algo [[simplesmente]] dado porque pertence à sua [[essência]] a [[possibilidade]] de [[ser]] de modo [[próprio]], então é tanto menos lícito [[esperar]] que a [[estrutura]] [[ontológica]] da [[morte]] possa resultar de uma mera [[leitura]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. Tradução revisada de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis/RJ: Vozes / Editora Universitária São Francisco, 2006, p. 323.
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: "Se a [[questão]] tem o [[homem]], ela se dá no [[homem]]. Há, pois uma [[tensão]], [[entre]] o [[homem]] como [[ente]] e o [[humano]] do [[homem]] que faz do [[homem]] um [[entre]], aquele que sendo [[ente]] é [[ente]] aberto para o [[Ser-Tao]]. Nessa [[abertura]] que faz do [[homem]] um [[entre-ser]], o [[humano]] consiste na demanda do [[ser]], [[realizável]] dentro do [[ser]] como [[Tao]]. [[Tao]] é uma [[misteriosa]] [[palavra]] [[chinesa]] que, entre outros [[sentidos]], assinala a [[caminhada]] dos [[caminhos]] nos quais e pelos quais o [[humano]] do [[homem]] vem a [[ser]] [[o que é]] no como enquanto [[Tao]] do [[Ser]]: o [[Ser-Tao]], [[Veredas]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Grande ser-tao: diálogos amorosos”. In: SECCHIN, Antônio Carlos et alii.  ''Veredas no sertão rosiano''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, p. 143.
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: "A [[palavra cantada]] nos convida à [[escuta]] da [[fala]] do [[silêncio]], mas como [[mortais]] só a podemos alcançar nos [[limites]] da [[fala]]. Aí está o [[perigo]] e ao mesmo tempo nossa [[salvação]]: vivermos no [[limiar]], [[entre-ser]]. O [[vigorar]] [[poético]] da [[palavra cantada]] se [[dá]] [[sempre]] num [[limiar]] em meio ao [[limite]] e ao [[ilimitado]]. Essa é nossa [[situação]] e [[condição]], essa é a [[situação]] e [[condição]] de [[Ulisses]]: somos irremediavelmente [[mortais]] e [[finitos]], mas convocados ao [[infinito]] pela [[Escuta]]. É a [[dobra]] ou nossa [[condição]] de [[finitos]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 178.
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: "Num [[movimento]] pendular e [[dialético]] de [[caminhada]] de ascensão e ao mesmo tempo de descensão, move-se numa [[procura]] do [[sentido do Ser]] a partir do [[homem]] (''[[Da-sein]]''/[[Entre-ser]]) [[concreto]] ([[presença]] ainda do [[método]] [[fenomenológico]] com seu lema: volta [[concreta]] às [[coisas]] e abandono dos [[conceitos]] prévios) e ao mesmo tempo e cada vez mais busca o [[sentido do ser]] [[humano]] a partir do [[sentido do Ser]], que como [[nada]] configura o [[homem]] e o [[real]] em seu [[mistério]] [[mito]]-[[poético]]. No pendular desse ir e vir, uma [[palavra]] [[enigmática]] constitui o pêndulo [[sempre]] [[presente]] e central da [[obra]] de [[Heidegger]]: ''[[Da-sein]]''. A [[tradução]] literal, como Ser-aí, não consegue [[apreender]] a [[dinâmica]] [[verbal]] de [[pensamento]] que ela concentra... O “Da” de ''[[Da-sein]]'', mais do que uma relação [[espacial]] ou [[temporal]], diz muito mais o “[[entre]]” da [[liminaridade]] ([[limite]] e [[não-limite]]), do [[horizonte]] e da [[clareira]], em que o [[ser]] se dá retraindo-se. '''Da''' pode ser traduzido por “[[entre]]”, se este for pensado em toda a sua [[enigmática]] densidade. O [[ser humano]] como ''[[Da-sein]]'' é, de fato, o [[Entre-ser]] como  o ambíguo [[Ser-do-entre]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 33.

Edição atual tal como 22h49min de 25 de Novembro de 2020

1

"Intuição vem de in, ou seja, é já radicalmente um entre. Por já desde sempre vigorar o ser humano neste entre, por provir e se constituir no 'doar-se de uma intuição originária' (1), é que Heidegger passou a denominar o ser humano como Da-sein, ou seja, como Entre-ser" (2).


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Husserl e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 10.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 164. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 24.


Ver também:
*Autodiálogo

2

Os dias, as noites, nós, somos uma doação do sol, que tanto mais se dá quanto mais retrai para que cheguemos a ser o que somos: filhos e doação do sol E da terra. No fundo e essencialmente somos a dis-puta de Terra E Sol. Originários do sol e da terra, nosso viver consiste nesse per-curso entre o sol e a terra. Guimarães Rosa chamou a esse per-curso do entre de travessia. É que nesse percurso nos trans-vertemos, nos vertemos na densidade vertente do que nos constitui: sol e terra. O sol é a linguagem que vivifica e faz eclodir a vida e morte que somos, como doação da terra, em seu sentido. Por isso nosso corpo é a língua da linguagem. Em todos os sentidos, em nossa constituição poética e ontológica somos sempre e sempre Entre-ser. A essa situação de entre-ser também podemos denominar: liminaridade.


- Manuel Antônio de Castro

3

No limite, apreender o não-limite é que constitui propriamente o método poético. Por isso, o ser humano não é simplesmente, é o entre-ser (Dasein, diz Heidegger), o que faz dele, em relação a todos os outros entes, propriamente um ser humano, isto é o que se denomina: diferença ontológica, pois aí o “entre” diz radicalmente a abertura ou clareira do ser, isto é, a a-letheia, a verdade, segundo os gregos. Nesta todos os seres humanos habitam, porém, para cada um há um habitar próprio essa clareira na medida em que é e não é, isto é, se diferencia também ontologicamente.


- Manuel Antônio de Castro

4

" Ser, então, para o ser-humano é estar e ser entre, permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre. Realiza-se sempre na e a partir da liminaridade de ón/ente E einai / ser." (1)


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.


5

Toda questão é paradoxal. Todo conceito é racional e objetivo. A questão precisa do conceito assim como o ilimitado precisa do limite. Porém, tanto o conceito quanto o limite não subsistem sem a questão e o ilimitado. É aqui que acontece o paradoxo. Por isso ele surge da questão porque a vida do ser humano só é paradoxal porque é uma doação das questões. Eis porque temos o ser humano lançado radicalmente numa liminaridade, isto é, no paradoxo do limite e do ilimitado, da vida e da morte, do conhecer e do não-conhecer, do permanente e do passageiro, da noite e do dia, do ser e do não-ser. É nesses paradoxos que o humano do homem se entre-tece. Ele é um Entre-ser.


- Manuel Antônio de Castro.


6

"Numa ordem metodológica, a análise existencial precede as questões da biologia, psicologia, teodiceia e teologia da morte. Do ponto de vista ôntico, seus resultados mostram o caráter formal e vazio de toda caracterização ontológica. Isso, porém, não deve cegar a visão para a riqueza e complexidade do fenômeno. A morte é uma possibilidade privilegiada da presença entre-ser. Ora, se a presença entre-ser nunca pode tornar-se acessível como algo simplesmente dado porque pertence à sua essência a possibilidade de ser de modo próprio, então é tanto menos lícito esperar que a estrutura ontológica da morte possa resultar de uma mera leitura" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução revisada de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis/RJ: Vozes / Editora Universitária São Francisco, 2006, p. 323.


7

"Se a questão tem o homem, ela se dá no homem. Há, pois uma tensão, entre o homem como ente e o humano do homem que faz do homem um entre, aquele que sendo ente é ente aberto para o Ser-Tao. Nessa abertura que faz do homem um entre-ser, o humano consiste na demanda do ser, realizável dentro do ser como Tao. Tao é uma misteriosa palavra chinesa que, entre outros sentidos, assinala a caminhada dos caminhos nos quais e pelos quais o humano do homem vem a ser o que é no como enquanto Tao do Ser: o Ser-Tao, Veredas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Grande ser-tao: diálogos amorosos”. In: SECCHIN, Antônio Carlos et alii. Veredas no sertão rosiano. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, p. 143.

8

"A palavra cantada nos convida à escuta da fala do silêncio, mas como mortais só a podemos alcançar nos limites da fala. Aí está o perigo e ao mesmo tempo nossa salvação: vivermos no limiar, entre-ser. O vigorar poético da palavra cantada se sempre num limiar em meio ao limite e ao ilimitado. Essa é nossa situação e condição, essa é a situação e condição de Ulisses: somos irremediavelmente mortais e finitos, mas convocados ao infinito pela Escuta. É a dobra ou nossa condição de finitos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 178.

9

"Num movimento pendular e dialético de caminhada de ascensão e ao mesmo tempo de descensão, move-se numa procura do sentido do Ser a partir do homem (Da-sein/Entre-ser) concreto (presença ainda do método fenomenológico com seu lema: volta concreta às coisas e abandono dos conceitos prévios) e ao mesmo tempo e cada vez mais busca o sentido do ser humano a partir do sentido do Ser, que como nada configura o homem e o real em seu mistério mito-poético. No pendular desse ir e vir, uma palavra enigmática constitui o pêndulo sempre presente e central da obra de Heidegger: Da-sein. A tradução literal, como Ser-aí, não consegue apreender a dinâmica verbal de pensamento que ela concentra... O “Da” de Da-sein, mais do que uma relação espacial ou temporal, diz muito mais o “entre” da liminaridade (limite e não-limite), do horizonte e da clareira, em que o ser se dá retraindo-se. Da pode ser traduzido por “entre”, se este for pensado em toda a sua enigmática densidade. O ser humano como Da-sein é, de fato, o Entre-ser como o ambíguo Ser-do-entre" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 33.
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