Técnica
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | :É essencial apreender o ponto de partida da técnica na [[modernidade]]. Ela se funda na decisão do que é [[realidade]] a partir do ''sapere aude'', onde se dá o [[ser]] como funcionalidade e a [[verdade]] como operatividade. Então, não há lugar para a [[escuta]] e o [[velar-se]] da ''[[phýsis]]'' no desvelar-se. Por isso diz Carneiro Leão: " | + | : É [[essencial]] apreender o ponto de partida da [[técnica]] na [[modernidade]]. Ela se funda na decisão do que é [[realidade]] a partir do ''sapere aude'', onde se dá o [[ser]] como [[funcionalidade]] e a [[verdade]] como operatividade. Então, não há [[lugar]] para a [[escuta]] e o [[velar-se]] da ''[[phýsis]]'' no [[desvelar-se]]. Por isso diz Carneiro Leão: "... só temos [[olhos]] para o [[espaço]] físico-geométrico de [[sujeito]] e [[objeto]]. Pois este podemos medi-lo com uma escala exatamente definida. Podemos operá-lo com resultados precisos. Mas, com uma [[arte]], que não está dentro nem fora, ou, o que dá no [[mesmo]], que está tão dentro quão fora, da [[obra de arte]] e do [[artista]], não podemos empreender [[nada]]. Não podemos nem mesmo compreendê-la" (1). |
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- | :(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar II | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "[[Heidegger]] e a [[modernidade]]: a correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]. In: ------ [[Aprendendo]] a [[pensar]] II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 172.''' |
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- | :"Entretanto, também a técnica é um modo de revelação do [[Ser]], modo em que Ser se revela como ausência, como [[esquecimento]], como máximo retraimento, como opacidade do [[ente]]. Este retrair-se não é uma nulidade; uma força de atração. Na tração deste retraimento o homem é atraído, é forçado a desinstalar-se de hábitos cristalizados e automatismos de [[pensamento]], a repensar sua [[identidade]] enquanto humano." (1) | + | : "Entretanto, também a [[técnica]] é um modo de [[revelação]] do [[Ser]], modo em que [[Ser]] se revela como [[ausência]], como [[esquecimento]], como máximo [[retraimento]], como opacidade do [[ente]]. Este retrair-se não é uma nulidade; uma força de atração. Na tração deste [[retraimento]] o [[homem]] é atraído, é forçado a desinstalar-se de hábitos cristalizados e automatismos de [[pensamento]], a repensar sua [[identidade]] enquanto [[humano]]." (1) |
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- | :(1) UNGER, Nancy Mangabeira. | + | : (1) UNGER, Nancy Mangabeira.''' [[Heidegger]] e a [[espera]] do [[inesperado]]. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 179/188, jan.-mar., 2006, p. 184.''' |
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- | :"A compreensão usual de técnica, e quando falamos da [[Cultura]] [[ocidente|Ocidental]] como uma cultura hegemonizada e hegemonizadora pela e através da técnica estamos nos referindo a esta compreensão mais usual, impõe a [[finalidade]] antes da produção. Produzir é produzir serventia e produtivo é quem produz serviço. Produzir é necessariamente produzir para uma finalidade pré-estipulada, para uma [[utilidade]]." (1) | + | : "A [[compreensão]] usual de [[técnica]], e quando falamos da [[Cultura]] [[ocidente|Ocidental]] como uma [[cultura]] hegemonizada e hegemonizadora pela e através da [[técnica]] estamos nos referindo a esta [[compreensão]] mais usual, impõe a [[finalidade]] antes da [[produção]]. [[Produzir]] é [[produzir]] serventia e produtivo é quem produz serviço. [[Produzir]] é [[necessariamente]] [[produzir]] para uma [[finalidade]] pré-estipulada, para uma [[utilidade]]." (1) |
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+ | : (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 88.''' | ||
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- | :" ''O sentido do mundo técnico oculta-se''. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o [[mundo]] técnico deparamos com um [[sentido]] oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos o [[mistério]]. Denomino a atitude em virtude da qual nos mantemos abertos ao sentido oculto do mundo técnico ''a abertura ao mistério (die Offenheit für das Geheimnis)'' (1). | + | :" ''O [[sentido]] do [[mundo]] [[técnico]] oculta-se''. Porém, se atentarmos [[agora]], particular e constantemente, que em [[todo]] o [[mundo]] técnico deparamos com um [[sentido]] oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço [[fundamental]] daquilo a que chamamos o [[mistério]]. Denomino a [[atitude]] em [[virtude]] da qual nos mantemos abertos ao [[sentido]] [[oculto]] do [[mundo]] [[técnico]] ''a [[abertura]] ao [[mistério]] (die Offenheit für das Geheimnis)'' " (1). |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''Serenidade | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Serenidade]]. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 25.''' |
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- | :"... a técnica moderna está fundada, como | + | : "... a [[técnica]] [[moderna]] está fundada, como prescrição, na persuasão. O que persuade na persuasão é precisamente a sua [[possibilidade]] de assegurar que o [[caminho]] percorrido leve inexoravelmente a um [[final]] previsto. Nesse [[sentido]], persuasão é aqui entendida como o [[fazer]] emergir a [[razão]] como modo de assegurar a si mesma e ao [[real]] através do con-senso. Significa: o que é constante se apresenta como dado desde [[sempre]] e é em torno deste que é proclamado tanto con-senso quanto neutralidade. Con-senso diz aqui [[aceitação]] de uma constante como [[razão]]." (1) |
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+ | : "O [[filósofo]] Ortega y Gasset, em seu livro '''Meditação da técnica''' diz que esta é [[sempre]] ''o esforço para poupar esforço...'' (1). Mas para que poupar esforço? Onde se aproveitará este esforço? Para a [[experiência]] mais elevada da [[vida]] como [[invenção]] de si mesma e que se expressa nas [[artes]] inúteis como a [[música]], a [[pintura]], escultura, [[dança]], [[retórica]], [[filosofia]] etc.? No entanto, em nosso [[contexto]], este esforço poupado serve para, nada mais nada menos, fazer mais [[cálculos]] para poupar mais esforço, para um maior asseguramento, numa [[lógica]] operativa e produtiva ilimitadas, isto é, que encontra na contínua superação do esforço e no asseguramento mais rigoroso seu modo de [[ser]], seu [[sentido]], sua força" (2). | ||
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+ | : (2) PISETTA, Écio Elvis.''' "A [[funcionalidade]]: o correto e o [[verdadeiro]]". In: Revista Tempo Brasileiro [[Dialética]] em [[questão]] I. Rio de Janeiro, 192: jan.-mar., 2013, p. 86.''' | ||
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+ | :"Como se pode [[ver]], a [[essência]] da [[técnica]] não são as máquinas, os [[instrumentos]], os aparelhos. Tudo isso não passa de figurantes. A [[essência]] mesma é a [[funcionalidade]] de [[tudo]] e de [[todos]], o que nos apresentaram recentemente os filmes ''Matrix''"(1). | ||
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+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "[[Heidegger]] e a [[ética]]". In: ''' Revista [[Tempo]] Brasileiro - [[Caminhos]] da [[ética]], 157, Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004, p. 76.''' | ||
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+ | : "Quando, hoje, no domínio [[universal]] da [[técnica]], falamos em [[globalização]], no fundo, estamos querendo nos [[referir]] a um [[universal]] de tal [[poder]] que abrange [[todo]] o globo [[terrestre]] e [[todo]] o [[universo]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "A [[globalização]] e os desafios do [[humano]]". In: Revista Tempo Brasileiro- [[Globalização]], [[pensamento]] e [[arte]], 201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 15.''' | ||
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+ | : "O [[sofrimento]] e a [[alegria]], o ser afetado, tomado por uma força, são [[relações]] com o [[ser]]. Mas no [[mundo]] do voluntarismo [[absoluto]] em que a [[técnica]] o mergulha, o [[homem]] não sente mais a [[dor]], ou a sente de modo somente passivo, e, portanto, ressentido e reativo. É principalmente em sua indiferença frente às consequências destrutivas da [[técnica]], que o "funcionário da [[técnica]]" mostra sua insensibilidade e seu extremo fechamento, pois nele, o mais angustiante é sua incapacidade de se angustiar" (1). | ||
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+ | : (1) UNGER, Nancy Mangabeira.''' "[[Heidegger]] e a [[espera]] do [[inesperado]]". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: [[Interdisciplinaridade]] [[dimensões]] [[poéticas]], 164, Jan.-mar. 2006, 179.''' | ||
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+ | : "O desenvolvimento [[técnico]] ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias [[criações]] [[artísticas]]". | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio.''' "Apresentação". In: A [[construção]] [[poética]] do [[real]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 7.''' | ||
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+ | : (2) BARROS, Manoel. '''[[Livro]] sobre [[nada]]. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 53.''' | ||
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+ | : "O [[método]] [[científico]] é [[sempre]] delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem [[ser]] violadas. [[Tudo]] aquilo que não constar e estiver dentro desses [[limites]] não é [[científico]]. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a [[ciência]] não é [[científica]]. Por quê? A [[ciência]] como [[ciência]] não é [[objeto]] de nenhuma [[pesquisa]] [[científica]]. Não é um [[fenômeno]] físico a [[Física]]. Não é um [[fenômeno]] químico a Química. Por isso é que há uma [[tensão]] [[entre]] o [[conhecimento]] propiciado pelo [[método]] e pela [[técnica]], porque [[método]] e [[técnica]] na [[ciência]] se trocam, um constitui o [[outro]]. Em vista disso, [[dizer]] [[técnica]] ou [[ciência]] não tem muita [[diferença]]. A [[técnica]] é o que possibilita a [[ciência]]. Sem se articularem as [[possibilidades]] de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma [[teoria]] [[científica]]. A [[Física]] tem uma Pro-física, uma Ante-física, para [[poder]] ser [[Física]]. É por isso que a [[diferença]] [[fundamental]] é de constituição. O [[método]] [[lógico]]-[[científico]] se constitui com [[forças]] e [[princípios]] que fogem do alcance do [[próprio]] [[método]] [[científico]]" (1). | ||
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+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "[[Dialética]]: entre o fechado e o [[aberto]]". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.''' | ||
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+ | : "A [[técnica]] não é, portanto, um [[simples]] [[meio]]. A [[técnica]] é uma [[forma]] de [[desencobrimento]]. Levando isso em conta, abre-se diante de nós [[todo]] um outro âmbito para a [[essência]] da [[técnica]]. Trata-se do âmbito do [[desencobrimento]], isto é, da [[verdade]]" (1). | ||
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+ | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "A [[questão]] da [[técnica]]". In: -------. [[Ensaios]] e conferências. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p. 17.''' | ||
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+ | : "O [[inanimado]] tem ''[[daimon]]'', isto é, tem uma [[dinâmica]] que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer [[dizer]] que a [[técnica]] e a [[ciência]] não devam controlar o [[homem]], mas devam controlar o mineral, o vegetal, o [[animal]]. Não. A [[técnica]] e a [[ciência]] não podem controlar nenhuma [[realização]] e nenhuma [[realidade]]. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer [[realidade]] que, no [[homem]], se chama ''[[daimon]]'', mas Aristóteles diz que se chama ''[[genos]] timeotaton'': ''o [[gênero]] mais elevado'', isto é, o modo de [[ser]] a [[estrutura]] mais elevada do [[real]]" (1). | ||
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+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "O [[corpo]], a [[terra]] e o [[pensamento]]". In: [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.''' | ||
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+ | : "Toda [[cultura]] resulta de uma [[conjuntura]]. Nela o [[homem]] se hominiza. Um famoso [[filme]] abordou essa [[situação]] de uma maneira admirável: '''2001: uma odisseia no [[espaço]]''', de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande [[época]] tem sua epopeia. e esta é, sem [[dúvida]] nenhuma, a epopeia da [[tematização]], [[celebração]] e [[crítica]] angustiada da [[era]] da [[Técnica]]. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na [[linguagem]] cinematográfica. Nela, a epopeia reencontra o caráter [[essencial]] do [[narrar]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[fenômeno]] [[cultural]]". In: -----. O [[acontecer]] [[poético]] - a [[história]] [[literária]], 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.''' | ||
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+ | : "...a revolução da [[técnica]] que se está processando na [[era]] atômica poderia [[prender]], enfeitiçar, ofuscar e deslumbrar o [[Homem]] de tal modo que, um dia, o [[pensamento que calcula]] viesse a [[ser]] o único [[pensamento]] admitido e exercido. | ||
+ | : "Então que grande [[perigo]] se aproxima? Então a máxima e mais eficaz sagacidade do planejamento e da [[invenção]] que calculam andaria a par da indiferença para com a [[reflexão]], para com a [[ausência]] total de [[pensamentos]]. E então? Então o [[Homem]] teria renegado e rejeitado aquilo que tem de mais [[próprio]], ou seja, o [[fato]] de [[ser]] um [[ser]] que reflete" (1). | ||
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+ | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Serenidade]]. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p.26.''' | ||
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+ | : "No entanto, aquilo que é [[verdadeiramente]] inquietante não é o [[fato]] de o [[mundo]] se tornar cada vez mais [[técnico]]. Muito mais inquietante é o [[fato]] de o [[Homem]] não [[estar]] preparado para esta [[transformação]] do [[mundo]], é o [[fato]] de nós ainda não conseguirmos, através do [[pensamento que medita]], lidar adequadamente com aquilo que, nesta [[era]] está [[realmente]] a emergir" (1). | ||
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+ | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Serenidade]]. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 21.''' | ||
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+ | : Há dois [[significados]] [[modernos]]: (1) Designa um conjunto de [[coisas]] e atividades do [[homem]]. É uma habilidade. (2) Designa o conjunto de [[conhecimentos]] em [[relação]] a alguma [[atividade]] e que podem ser aprendidos. | ||
- | : | + | : "Há um [[significado]] em [[relação]] às atividades [[artísticas]]. Neste caso, designa a [[dinâmica]] de [[produzir]], seja ela a [[produção]] [[individual]], artesanal. É nessa [[atividade]] que o [[homem]] se torna [[homem]]. [[Arte]] significa então [[cultura]], no [[sentido]] de que esta é tanto o [[espaço]] como o [[processo]] em que o [[homem]] [[acontece]] como [[homem]]. Neste [[sentido]], [[técnica]] engloba tanto as [[coisas]] e a habilidade [[técnica]] como a competência [[poética]]. A [[arte]], tomada em [[sentido]] [[radical]], engloba a [[técnica]], mas a [[técnica]], em seu [[significado]] [[vigente]], não engloba a [[arte]]. |
- | : | + | : Manuel Antonio de Castro. |
Edição atual tal como 01h27min de 11 de janeiro de 2025
1
- É essencial apreender o ponto de partida da técnica na modernidade. Ela se funda na decisão do que é realidade a partir do sapere aude, onde se dá o ser como funcionalidade e a verdade como operatividade. Então, não há lugar para a escuta e o velar-se da phýsis no desvelar-se. Por isso diz Carneiro Leão: "... só temos olhos para o espaço físico-geométrico de sujeito e objeto. Pois este podemos medi-lo com uma escala exatamente definida. Podemos operá-lo com resultados precisos. Mas, com uma arte, que não está dentro nem fora, ou, o que dá no mesmo, que está tão dentro quão fora, da obra de arte e do artista, não podemos empreender nada. Não podemos nem mesmo compreendê-la" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto. In: ------ Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 172.
2
- "Entretanto, também a técnica é um modo de revelação do Ser, modo em que Ser se revela como ausência, como esquecimento, como máximo retraimento, como opacidade do ente. Este retrair-se não é uma nulidade; uma força de atração. Na tração deste retraimento o homem é atraído, é forçado a desinstalar-se de hábitos cristalizados e automatismos de pensamento, a repensar sua identidade enquanto humano." (1)
- Referência:
- (1) UNGER, Nancy Mangabeira. Heidegger e a espera do inesperado. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 179/188, jan.-mar., 2006, p. 184.
- Ver também:
3
- "A compreensão usual de técnica, e quando falamos da Cultura Ocidental como uma cultura hegemonizada e hegemonizadora pela e através da técnica estamos nos referindo a esta compreensão mais usual, impõe a finalidade antes da produção. Produzir é produzir serventia e produtivo é quem produz serviço. Produzir é necessariamente produzir para uma finalidade pré-estipulada, para uma utilidade." (1)
- Referência:
4
- " O sentido do mundo técnico oculta-se. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o mundo técnico deparamos com um sentido oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos o mistério. Denomino a atitude em virtude da qual nos mantemos abertos ao sentido oculto do mundo técnico a abertura ao mistério (die Offenheit für das Geheimnis) " (1).
- - Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 25.
5
- "... a técnica moderna está fundada, como prescrição, na persuasão. O que persuade na persuasão é precisamente a sua possibilidade de assegurar que o caminho percorrido leve inexoravelmente a um final previsto. Nesse sentido, persuasão é aqui entendida como o fazer emergir a razão como modo de assegurar a si mesma e ao real através do con-senso. Significa: o que é constante se apresenta como dado desde sempre e é em torno deste que é proclamado tanto con-senso quanto neutralidade. Con-senso diz aqui aceitação de uma constante como razão." (1)
- Referência:
6
- "O filósofo Ortega y Gasset, em seu livro Meditação da técnica diz que esta é sempre o esforço para poupar esforço... (1). Mas para que poupar esforço? Onde se aproveitará este esforço? Para a experiência mais elevada da vida como invenção de si mesma e que se expressa nas artes inúteis como a música, a pintura, escultura, dança, retórica, filosofia etc.? No entanto, em nosso contexto, este esforço poupado serve para, nada mais nada menos, fazer mais cálculos para poupar mais esforço, para um maior asseguramento, numa lógica operativa e produtiva ilimitadas, isto é, que encontra na contínua superação do esforço e no asseguramento mais rigoroso seu modo de ser, seu sentido, sua força" (2).
- Referência:
- (1) ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da técnica. Rio de Janeiro : Livro Ibero-Americano, 1963, p. 31.
- (2) PISETTA, Écio Elvis. "A funcionalidade: o correto e o verdadeiro". In: Revista Tempo Brasileiro Dialética em questão I. Rio de Janeiro, 192: jan.-mar., 2013, p. 86.
7
- "Como se pode ver, a essência da técnica não são as máquinas, os instrumentos, os aparelhos. Tudo isso não passa de figurantes. A essência mesma é a funcionalidade de tudo e de todos, o que nos apresentaram recentemente os filmes Matrix"(1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a ética". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos da ética, 157, Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004, p. 76.
8
- "Quando, hoje, no domínio universal da técnica, falamos em globalização, no fundo, estamos querendo nos referir a um universal de tal poder que abrange todo o globo terrestre e todo o universo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro- Globalização, pensamento e arte, 201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 15.
9
- "O sofrimento e a alegria, o ser afetado, tomado por uma força, são relações com o ser. Mas no mundo do voluntarismo absoluto em que a técnica o mergulha, o homem não sente mais a dor, ou a sente de modo somente passivo, e, portanto, ressentido e reativo. É principalmente em sua indiferença frente às consequências destrutivas da técnica, que o "funcionário da técnica" mostra sua insensibilidade e seu extremo fechamento, pois nele, o mais angustiante é sua incapacidade de se angustiar" (1).
- Referência:
- (1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 179.
10
- "O desenvolvimento técnico ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias criações artísticas".
- "No entanto, nem tudo é técnico e científico na vida. Diz Manoel de Barros no Livro sobre nada:
- A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
- sabiá
- mas não pode medir seus encantos.
- A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
- existem
- nos encantos de um sabiá(1) (2).
- Referências:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio. "Apresentação". In: A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 7.
13
- "O método científico é sempre delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem ser violadas. Tudo aquilo que não constar e estiver dentro desses limites não é científico. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a ciência não é científica. Por quê? A ciência como ciência não é objeto de nenhuma pesquisa científica. Não é um fenômeno físico a Física. Não é um fenômeno químico a Química. Por isso é que há uma tensão entre o conhecimento propiciado pelo método e pela técnica, porque método e técnica na ciência se trocam, um constitui o outro. Em vista disso, dizer técnica ou ciência não tem muita diferença. A técnica é o que possibilita a ciência. Sem se articularem as possibilidades de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma teoria científica. A Física tem uma Pro-física, uma Ante-física, para poder ser Física. É por isso que a diferença fundamental é de constituição. O método lógico-científico se constitui com forças e princípios que fogem do alcance do próprio método científico" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.
14
- "A técnica não é, portanto, um simples meio. A técnica é uma forma de desencobrimento. Levando isso em conta, abre-se diante de nós todo um outro âmbito para a essência da técnica. Trata-se do âmbito do desencobrimento, isto é, da verdade" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: -------. Ensaios e conferências. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p. 17.
15
- "O inanimado tem daimon, isto é, tem uma dinâmica que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer dizer que a técnica e a ciência não devam controlar o homem, mas devam controlar o mineral, o vegetal, o animal. Não. A técnica e a ciência não podem controlar nenhuma realização e nenhuma realidade. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer realidade que, no homem, se chama daimon, mas Aristóteles diz que se chama genos timeotaton: o gênero mais elevado, isto é, o modo de ser a estrutura mais elevada do real" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.
16
- "Toda cultura resulta de uma conjuntura. Nela o homem se hominiza. Um famoso filme abordou essa situação de uma maneira admirável: 2001: uma odisseia no espaço, de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande época tem sua epopeia. e esta é, sem dúvida nenhuma, a epopeia da tematização, celebração e crítica angustiada da era da Técnica. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na linguagem cinematográfica. Nela, a epopeia reencontra o caráter essencial do narrar" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. O acontecer poético - a história literária, 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
17
- "...a revolução da técnica que se está processando na era atômica poderia prender, enfeitiçar, ofuscar e deslumbrar o Homem de tal modo que, um dia, o pensamento que calcula viesse a ser o único pensamento admitido e exercido.
- "Então que grande perigo se aproxima? Então a máxima e mais eficaz sagacidade do planejamento e da invenção que calculam andaria a par da indiferença para com a reflexão, para com a ausência total de pensamentos. E então? Então o Homem teria renegado e rejeitado aquilo que tem de mais próprio, ou seja, o fato de ser um ser que reflete" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p.26.
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- "No entanto, aquilo que é verdadeiramente inquietante não é o fato de o mundo se tornar cada vez mais técnico. Muito mais inquietante é o fato de o Homem não estar preparado para esta transformação do mundo, é o fato de nós ainda não conseguirmos, através do pensamento que medita, lidar adequadamente com aquilo que, nesta era está realmente a emergir" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 21.
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- Há dois significados modernos: (1) Designa um conjunto de coisas e atividades do homem. É uma habilidade. (2) Designa o conjunto de conhecimentos em relação a alguma atividade e que podem ser aprendidos.
- "Há um significado em relação às atividades artísticas. Neste caso, designa a dinâmica de produzir, seja ela a produção individual, artesanal. É nessa atividade que o homem se torna homem. Arte significa então cultura, no sentido de que esta é tanto o espaço como o processo em que o homem acontece como homem. Neste sentido, técnica engloba tanto as coisas e a habilidade técnica como a competência poética. A arte, tomada em sentido radical, engloba a técnica, mas a técnica, em seu significado vigente, não engloba a arte.
- Manuel Antonio de Castro.