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De Dicionrio de Potica e Pensamento
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+ | : (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "[[Imagem]]". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). '''Convite ao [[pensar]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.''' | ||
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+ | : "Uma [[imagem]] é [[sempre]] um [[dizer]] sonoro do [[silêncio]]" (1). | ||
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- | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''A [[imagem]]-[[questão]]. [[Ensaio]] não publicado.''' | |
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Edição atual tal como 22h23min de 13 de março de 2025
1
- Do latim imago: imagem, representação, retrato, fantasma (sentido poético), aparência. Em grego: eikon e fantasma (do verbo fantadzo: aquilo que aparece, se manifesta, se torna fenômeno). Daí a relação com o latim: imitor e imaginor e ainda figura, relacionada a fingere: figurar, ficcionar, fingir, formar, educar. O latim imitari está ligado ao grego: mimetai, de onde se formou mímesis. Portanto, se, de um lado, a tradição compreende imagem como representação, de outro, antes de ser representação, a imagem é o próprio manifestar-se da realidade (physis) que se dá a ver, não só nos fenômenos humanos e naturais, mas também na arte, pois esta traz à imagem, à manifestação realidades que a própria natureza não manifesta. Por exemplo: há sons na natureza, mas ela não compõe uma sinfonia como a nona de Beethoven. Há movimentos e gestos na natureza, mas ela não compõe nenhum rito religioso, com seus cantos e danças, alegrias e tristezas, ou seja, não compõe uma "Sagração da primavera", de Stravinski. Há o mármore, mas dele se podem fazer estátuas que a natureza não faz, escadas etc. das construções, etc.
2
- "O poeta nomeia as coisas: estas são plumas, aquelas são pedras. E de súbito afirma: as pedras são plumas, isto é aquilo. Os elementos da imagem não perdem seu caráter concreto e singular: as pedras continuam sendo pedras, ásperas, duras, impenetráveis, amarelas de sol ou verdes de musgo: pedras pesadas. E as plumas, plumas: leves. A imagem resulta escandalosa porque desafia o princípio de contradição: o pesado é ligeiro. Ao enunciar a identidade dos contrários, atenta contra os fundamentos do nosso pensar" (1).
- Referência:
- (1) PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 38.
- Ver também:
3
- "Quando oponho conceito e imagem, é necessário deixar bem claro o alcance de imagem. José Lezama Lima tem toda uma teoria sobre imagem que eu denominaria poética. Pois há imagens não-poéticas. Sobretudo a pós-modernidade se constrói em cima de imagens, através dos meios de comunicação, mas aí já são imagens representadas. Por isso, segundo Nelson Brissac Peixoto: '... a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe lhe vêm por imagens' " (1).
- A imagem poética é aquela que não pode ser reduzida a simples meio de informação, mas que traz, em si, no seu mostrar, o fazer aparecer o que se presenteando, dando-se, tanto mais se faz presente quanto mais se vela.
- Referência:
- (1) NOVAES, Adauto (org.). "O olhar do estrangeiro". In: O olhar. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1995, p. 65.
4
- "O nome que se costuma dar à fisionomia e ao aspecto de alguma coisa é 'imagem'. A essência da imagem é: deixar ver alguma coisa. Por outro lado, as reproduções e imitações são deformações da imagem propriamene dita que, enquanto fisionomia, deixa ver o invisível, dando-lhe assim uma imagem que o faz participar de algo estranho. Tomando essa medida cheia de mistério, a saber, a fisionomia do céu, a poesia fala por 'imagens'. Assim e num sentido muito privilegiado, as imagens poéticas são imaginações. Imaginações e não meras fantasias ou ilusões. Imaginações entendidas não apenas como inclusões do estranho na fisionomia do que é familiar, mas também como inclusões passíveis de serem visualizadas. O dizer poético das imagens reúne integrando a claridade e a ressonância dos muitos aparecimentos celestes numa unidade com a obscuridade e a silenciosidade do estranho".
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 177.
- Ver também:
5
- Imagem e projeto. Estes dizem respeito à realização e forma / morphe que inclui no projeto não só a imagem, mas também o que nele aparece e pode acontecer, não sendo o agir humano nada mais do que o agenciador daquilo que já tem a possibilidade de agir e chegar a ser. É nesse sentido que o pensador Platão criou a palavra Eidos (imagem, perfil), uma vez que ele diz o ver das possibilidades de se tornar real, de realizar-se. Só há e só pode haver imagem, porque vemos, temos idea, ideias, imagens da realidade manifestando-se. Por isso, dessa palavra originou-se ideal e idealismo. Ao contrário do que se diz, estes não são negativos, mas a única possibilidade de a realidade estar se transformando pelo agenciar do trabalho do ser humano. É que eidos diz simplesmente possibilidade vista. Como o ser humano é possibilidades de e para possibilidades, caso contrário ele não seria um projeto, um entre-ser, Dasein, não se poderia continuar sempre a projetar a transformação do real. Mas esse agir só é possível porque são possibilidades doadas pelo ser, lhe advêm da physis. O ser humano é ontologicamente idealista. Mas este tem de obedecer às leis da physis e não às leis sociais, meros sistemas de ordenamento dos seres e das ações humanas, tendo fundamento na razão.
6
- "Afinal, o que Simone Martini, Volpi, Pixinguinha, Hopper, Dorival Caymmi, Camilo Pessanha e Renoir têm a a ver com a falência da imagem ou do olhar? Nada! Quando nos encontramos numa via sem saída, como nos dias atuais, com excessos e acúmulos de imagens sem nenhum sentido, a única opção é olhar para trás. E, no tempo passado, poderemos reencontrar a alegria de quando o tempo não era uma medida. Poderemos fazer florescer algo da infância da arte - o dia extenso com caixas de aquarelas a borrar o inefável" (1).
- Referência.
- IVO, Gonçalo, pintor. "A pintura, o tempo e a falência da imagem", artigo. In: O Globo. Terça-feira, 27-11-2018, p. 3. Primeiro Caderno.
7
- A verdade grega ou a-letheia se funda na luz, pois significa o vir à luz, o desvelamento. E este é que se chamou sempre a verdade, uma verdade que permite e possibilita todo ver e compreender, na medida em que a verdade é uma doação da clareira, na qual convivem claridade e escuridão, constituindo as diferentes e ricas cores, pois como diz Rosa no conto “Nada e a nossa condição”, a luz enquanto claridade constitui-se num paradoxo: “O que era a luzência, a clara, incongruência claridade, seu tétrico radiar, o qual traspassava a noite” (1).
- Em verdade, não sabemos o que seja a luz. E, no entanto, toda imagem e seu sentido se funda na luz. E note-se como a imagem muda de aparência segundo a incidência e a intensidade ou ausência de luz, dando origem às diferentes cores. A imagem em sua beleza está ligada ao jogo das diferentes cores. Em essência, a complexidade e mistério da luz é o mesmo mistério da imagem e da cor de cada uma. Luz, essencialmente, é sentido, verdade, mundo e vida. Por isso, quando nasce uma criança, dizemos que a mulher dá à luz, um homem não dá à luz. No que há de essencial, a teoria de gênero nada pode. Outra expressão neste horizonte é o dizermos para nos referirmos à verdade: vir à luz ou à luz da razão, tratando-se, neste caso, da verdade lógica.
- Referência:
- (1) ROSA, João Guimarães. "Nada e a nossa condição". In: ------. Primeiras estórias. 3. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 89.
8
- "Imagem consiste na dinâmica do que, nascendo, se desvela, se descortina e, assim, é ação que promove o questionar. Imagem é abertura de possibilidade no figurar das coisas, no apelo da linguagem como um ver-escutar o que somos e não somos enquanto ação poética. Imagem é condensação da linguagem, do tempo, da memória: horizonte aberto como fonte. A imagem é o que salva tudo o que se descortina já obscurecendo, já se velando enquanto clareia. Salvar é chegar à essência, fazer-se aparecer em seu próprio brilho. No que cuida e guarda o revelado, a imagem abriga tal ação inaugural, a imersão no vazio em que se dá a emersão, o nascer, a criação" (1).
- Referência:
- (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
9
- "A imagem não se reduz à noção de signo, já que traz, em si, no seu mostrar, o próprio mostrar; no seu deixar aparecer, o próprio deixar aparecer, o qual se faz presente quanto mais segue ausentando-se: imagem-pronúncia da voz poética" (1).
- Referência:
- (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
10
- "Imagem é desabrochar do sentido na linguagem, no diálogo, quando o humano se abre para as questões e se estabelece como tessitura de corpo entre terra e mundo. Tal tessitura, longe de ser o cumprimento de regras e conceitos, de uma essência prévia, é propriamente a essência como o vigorar de um modo próprio de as questões se desvelarem no ser que se destina a cada humano: a verdade como desabrochamento. Imagem, aí, é presentificação da condição humana e, portanto, não uma representação, uma explicação, mas doação de realidade em e para realizações, fonte do pensar-agir que se dá no homem" (1).
- Referência:
- (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
11
- Referência: