Agir

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Agimos no sentido cultural de [[produzir]], seja intelectual, seja praticamente. São as diferentes produções, ditas hoje, artísticas, técnicas, culturais. Esse agir externalizante ainda não traz em si a questão da essência do agir. E quando a questão surge? Ela precede todo e qualquer agir, mas se torna explícita quando o homem pergunta: "o que é [[isto]] - o agir?" Nesse agir como [[essência]] vai [[estar]] implicada a essência do [[ser humano]]. É no e pelo agir que o [[ser humano]] se torna [[humano]]. Enquanto [[essência]] (do latim ''essentia''), ''ousía'' (em grego), vai estar implicado o [[ser]], pois a ''[[ousia]]'' é sempre a ''ousia'' do [[ser]]. A implicação de [[ser]] e [[homem]] no e pelo agir é o que constitui propriamente o [[Ética|ético]].
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: Agimos no sentido cultural de [[produzir]], seja intelectual, seja praticamente. São as diferentes produções, ditas hoje, artísticas, técnicas, culturais. Esse agir externalizante ainda não traz em si a [[questão]] da [[essência]] do [[agir]]. E quando a [[questão]] surge? Ela precede todo e qualquer [[agir]], mas se torna explícita quando o [[homem]] pergunta: "O que é [[isto]] - o [[agir]]?" Nesse [[agir]] como [[essência]] vai [[estar]] implicada a [[essência]] do [[ser humano]]. É no e pelo [[agir]] que o [[ser humano]] se torna [[humano]]. Enquanto [[essência]] (do [[latim]] ''essentia''), ''[[ousia]]'' (em [[grego]]), vai estar implicado o [[ser]], pois a ''[[ousia]]'' é sempre a ''[[ousia]]'' do [[ser]]. A implicação de [[ser]] e [[homem]] no e pelo [[agir]] é o que constitui propriamente o [[Ética|ético]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: '''Ver também:'''
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: A [[essência]] do agir não é [[causar]] efeitos ou fazer surgir, seja lá o que for, na ordem dos entes e nem se dá na correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]. Também não se identifica com o agir causal de agente e paciente. Agir essencialmente é deixar o [[ser]] vigorar em tudo que é e está sendo, implica, portanto, o destinar-se do sentido do ser. O homem faz, o ser age, onde o fazer é o esquecimento do sentido do ser.
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: A [[essência]] do [[agir]] não é [[causar]] efeitos ou [[fazer]] surgir, seja lá o que for, na ordem dos [[entes]] e nem se dá na correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]. Também não se identifica com o [[agir]] [[causal]] de [[agente]] e [[paciente]]. [[Agir]] [[essencialmente]] é deixar o [[ser]] [[vigorar]] em [[tudo]] que é e está sendo; implica, portanto, o [[destinar-se]] do [[sentido do ser]]. O [[homem]] faz, o [[ser]] age, onde o [[fazer]] é o [[esquecimento]] do [[sentido do ser]].
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: - CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.
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: - CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.
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:A [[Linguagem]] poética dá um [[sentido]] a tudo que é e está sendo. O sentido é o [[caminho]] tanto pessoal como da [[comunidade]] histórica enquanto sentido do agir. Pelo agir gera-se um caminho que é o sentido da [[verdade]]. Verdade nunca é algo, é a [[realidade]] se realizando, agindo. Será então necessariamente um agir e [[realizar]] poéticos. A verdade da realidade se torna verdade na medida em que a ação eclode como Linguagem poética.
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: A [[Linguagem]] [[poética]] dá um [[sentido]] a [[tudo]] que [[é]] e está sendo. O [[sentido]] é o [[caminho]] tanto [[pessoal]] como da [[comunidade]] [[histórica]] enquanto [[sentido]] do [[agir]]. Pelo [[agir]] gera-se um [[caminho]] que é o [[sentido]] da [[verdade]]. [[Verdade]] nunca [[é]] [[algo]], é a [[realidade]] se [[realizando]], [[agindo]]. Será então necessariamente um [[agir]] e [[realizar]] [[poéticos]]. A [[verdade]] da [[realidade]] se torna [[verdade]] na [[medida]] em que a [[ação]] eclode como [[Linguagem]] [[poética]], como [[sentido]] do que somos.
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:"Ora, os modos de agir e operar se plantam nos modos de [[ser]] e realizar-se. É o impulso que desperta em nós a [[memória]] criativa de um [[princípio]] aristotélico, o princípio da integração reciprocamente constitutiva de ser e agir: ''operari sequitur esse'': ''os modos de operar seguem os modos de ser'' " (1).
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: "Ora, os modos de [[agir]] e [[operar]] se plantam nos modos de [[ser]] e [[realizar-se]]. É o impulso que desperta em nós a [[memória]] criativa de um [[princípio]] aristotélico, o [[princípio]] da [[integração]] reciprocamente constitutiva de [[ser]] e [[agir]]: ''operari sequitur esse'': ''os modos de [[operar]] seguem os modos de [[ser]]'' " (1).
: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O esquecimento da memória". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', Rio de Janeiro, 153: 143/147, abr.-jun., 2003, p. 144.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O esquecimento da memória". In: Revista '''Tempo Brasileiro''', 153, Rio de Janeiro: abr.-jun., 2003, p. 144.
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: "Ora, este exercício pelo qual nós procuramos [[realizar]] nosso ser, fazer desabrochar nosso [[ser]] em direção à sua perfeição entitativa, é o que chamamos de agir. O agir se revela em nós, portanto, como nosso [[próprio]] ser em dinâmica busca de sua [[realização]] total" (1).  
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: "Ora, este exercício pelo qual nós procuramos [[realizar]] nosso [[ser]], fazer desabrochar nosso [[ser]] em direção à sua [[perfeição]] entitativa, é o que chamamos de [[agir]]. O [[agir]] se revela em nós, portanto, como nosso [[próprio]] [[ser]] em [[dinâmica]] busca de sua [[realização]] total" (1).  
: Referência:
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: (1) HUMMES, Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho (Imigrantes), RS, 1964.
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: (1) HUMMES, Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. ''Daltro Filho'' (hoje ''Imigrantes''), RS, 1964.
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:A [[obra de arte]] mostra que ela é portadora de um [[poder]] que é ambíguo, pois, embora provenha de um [[fundar]] que não é o [[homem]], vai se manifestar no agir do homem, pois todo agir do homem, na medida em que funda [[sentido]], só é possível porque já vigora no poder de sentido do ''[[logos]]'' e do [[pensamento]], isto é, no sentido e verdade do ser. Eis aí a [[essência]] do agir em seu sentido e [[verdade]].  
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: A [[obra de arte]] mostra que ela é portadora de um [[poder]] que é ambíguo, pois, embora provenha de um [[fundar]] que não é o [[homem]], vai se manifestar no [[agir]] do [[homem]], pois todo [[agir]] do [[homem]], na medida em que [[funda]] [[sentido]], só é [[possível]] porque já [[vigora]] no [[poder]] de [[sentido]] do ''[[logos]]'' e do [[pensamento]], isto é, no [[sentido]] e [[verdade]] do [[ser]]. Eis aí a [[essência]] do [[agir]] em seu [[sentido]] e [[verdade]].  
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "A [[Essência]] do agir, no entanto, está em [[con-sumar]]. Con-sumar quer dizer: conduzir uma [[coisa]] ao sumo, à [[plenitude]] de sua [[Essência]]. Levá-la a essa [[plenitude]], ''producere''" (1).
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: "A [[Essência]] do [[agir]], no entanto, está em [[con-sumar]]. [[Con-sumar]] quer [[dizer]]: [[conduzir]] uma [[coisa]] ao sumo, à [[plenitude]] de sua [[Essência]]. Levá-la a essa [[plenitude]], ''producere''" (1).
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: Nota. "''Pro-ducere'': composto do verbo ''ducere'' (levar) e da proposição ''pro''(diante de, em frente de), [[produção]] é a instauração de vigor que leva o modo de ser de algum [[ente]] para a frente da [[presença]] histórica" (2).
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: Nota. "''Pro-ducere'': composto do [[verbo]] ''ducere'' (levar) e da proposição ''pro''(diante de, em frente de), [[produção]] é a instauração de [[vigor]] que leva o modo de [[ser]] de algum [[ente]] para a frente da [[presença]] [[histórica]]" (2).
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: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Veja-se Martin Heidegger, ''Introdução à Metafísica''. Trad. e notas de Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966, p. 78, Nota 16.
: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Veja-se Martin Heidegger, ''Introdução à Metafísica''. Trad. e notas de Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966, p. 78, Nota 16.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.
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: (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). ''O educar poético''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.
: (1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). ''O educar poético''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.
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== 14 ==
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: Não é minha [[pergunta]] pela [[essência]] do [[agir]] que funda o [[agir]], assim como não é meu pro-pósito de fazer uma [[leitura]]-caminhada que funda a [[obra]] e até a [[compreensão]] que possa vir a ter dela. Mas todo [[ser humano]] está implicado nela. Porque o [[agir]] já precede toda [[ação]] [[concreta]], significa isso que no simples [[ato]] de [[perguntar]] já me advém, de algum modo, o [[sentido]] do próprio [[perguntar]], ou seja, o [[agir]] não só funda todo [[saber]] que se sabe, mas também de algum modo todo [[saber]] que não se sabe. É o que se está querendo dizer ao [[nomear]] isso como a [[compreensão]] e a [[pré-compreensão]]. Isso se chama o [[círculo]] [[poético]]-[[hermenêutico]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A ação e a caminhada de vida". In: --------. ''https://travessiapoetica.blogspot.com'', agosto de 2006.
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== 15 ==
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: "... pois o [[agir]], em sua [[essência]], é o [[agir]] do [[vigorar]] do [[tempo]] que se dispõe e destina epocalmente. E isso já nos foi sinalizado pela inscrição no [[templo]] de Apolo em Delfos, que dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Eis a [[essência]] do [[questionar]], agindo. Eis a [[essência]] do [[ler]]".
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 39.
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== 16 ==
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: "[[Liminaridade]] significa aí o [[estar]] jogado num [[projeto]] de [[realização]] do que é a partir do [[ser]]. Na [[liminaridade]] o [[agir]] do [[ser-humano]], e só [[é]] agindo, [[sendo]] ''[[poético]]'', encontra o seu [[vigor]] e seu [[horizonte]] no [[ser]]. Seu [[agir]] [[é]], pois, algo [[entre]] o [[agir]] do [[ser]] que nele opera ([[obra]]/[[verdade]]/''poíesis'') e o seu [[agir]], enquanto [[desvelo]] do que ele [[é]]. Essa dupla ''[[poíesis]]'' é que é o [[paradoxo]], o ''[[entre]]''. [[Ser]], então, para o [[ser-humano]] é [[estar]] e [[ser]] ''[[entre]]'', permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um ''[[entre]]-[[ser]]'', porque é um ''[[ser]]-do-[[entre]]''. Realiza-se sempre na e a partir da [[liminaridade]] de ''ón''/[[ente]] ''E'' ''[[einai]]'' / [[ser]]." (1)
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: ''Revista Tempo Brasileiro''. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.
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== 17 ==
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: "No [[mito]] de [[Midas]] nos é dito, de uma maneira maravilhosa e [[simples]], que temos e não-temos, somos e não-somos a [[essência]] do [[agir]], aquela e aquilo que já desde sempre pro-curamos em todos os nossos [[empenhos]] e [[desempenhos]]. Daí a nossa sensação de constante [[incompletude]] " (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 192.
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== 18 ==
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: "E a grande [[questão]] do [[mito]] do [[Canto das Sereias]] é a [[questão]] do [[destino]] do [[homem]] em sua [[travessia]], é a grande [[questão]] para [[Ulisses]], que vive no [[limiar]] do [[sentido]] do [[agir]] dos [[deuses]] e no [[sentido]] do [[agir]] do [[homem]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 162.
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== 19 ==
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: "[[É]] necessário retomar o [[ético]] de todo [[conhecimento]], na medida em que este tem, [[necessariamente]] como [[medida]] [[ontológica]] e [[princípio]] de [[realização]], o [[humano]]. O que está faltando é se [[pensar]] com [[radicalidade]] a [[essência]] do [[agir]] em [[tudo]], sobretudo no [[educar]] do [[ser humano]], uma vez que [[fazer]] ainda não é [[ser]]. E só na [[vigência]] deste se age [[essencialmente]]. Não basta [[fazer]] é [[necessário]] [[ser]] o que se faz" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 24.
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== 20 ==
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: "Está em [[jogo]] o profundo [[mistério]] da [[tensão]] [[entre]] [[ser-humano]] E [[ser]]. É dentro dessa [[tensão]] que o [[ser-humano]] aparece, queira ou não queira, como um [[ente]]-da-[[liminaridade]]. [[Liminaridade]] significa aí o [[estar]] jogado num [[projeto]] de [[realização]] do que [[é]] a partir do [[ser]]. Na [[liminaridade]] o [[agir]] do [[ser-humano]], e só [[é]] agindo, sendo [[poético]], encontra o seu [[vigor]] e seu [[horizonte]] no [[ser]]. Seu [[agir]] é, pois, algo [[entre]] o [[agir]] do [[ser]] que nele opera ([[obra]]/[[verdade]]/''[[poiesis]]'') e o seu [[agir]], enquanto [[desvelo]] do que ele [[é]]. Essa dupla ''[[poiesis]]'' é que [[é]] o [[paradoxo]], o [[entre]]. [[Ser]], então, para o [[ser-humano]] é [[estar]] e [[ser]] [[entre]], permanentemente. Ele [[é]], queira ou não queira, um [[entre-ser]], porque é um [[ser]]-do-[[entre]]. Realiza-se sempre na e a partir da [[liminaridade]] de “''[[on]]''/[[ente]]” E “einai/[[ser]]”" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: ''Revista Tempo Brasileiro''. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.
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== 21 ==
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: "Em todo [[ato]], o [[vigorar]] já vigora em sua [[plenitude]], mas como esta não é um [[fim]], mas uma [[consumação]], a [[essência]] do [[agir]] tem sua [[medida]] no [[agir]] da [[essência]], daquilo de quem recebemos nosso [[destino]]: o [[ser]]. [[Ser]] é [[verbo]], o [[vigorar]] de todo [[agir]]. [[Ser]] então é a [[necessidade]] necessária" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.
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== 22 ==
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: A [[essência]] do [[agir]] se [[funda]] numa [[ambiguidade]]: perguntamos e no [[perguntar]] quem, em última [[instância]], se pergunta, porque só podemos ter [[vontade]] de [[perguntar]] porque já [[vigoramos]] no [[querer]] do [[ser]], é o [[ser]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 23 ==
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: "Ora, este [[exercício]] pelo qual nós procuramos [[realizar]] nosso [[ser]], [[fazer]] desabrochar nosso [[ser]] em direção à sua [[perfeição]] [[entitativa]], é o que chamamos de [[agir]]. O [[agir]] se revela em nós, portanto, como nosso [[próprio]] [[ser]] em dinâmica [[procura]] de sua [[realização]] [[total]]" (1).
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: Referência:
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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== 24 ==
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: "Ora, [[agir]] é o [[agir espiritual]], cuja característica – por [[ser]] [[espírito]] – é de mover-se no [[horizonte]] [[ilimitado]] do [[ser]]. Porém, se o [[agir espiritual]] é um [[agir]] que exerce o [[ser]] como tal, então, por sua ''[[natureza]]'' ele não implica [[limites]], embora no [[espírito]] [[finito]] de [[fato]] seja [[limitado]]. O [[espírito]] é, pelo contrário, por si mesmo um modo de [[ser]] que exerce sem [[limitação]] a [[pura]] [[positividade]] do [[ser ilimitado]]. Portanto, já não mais um [[simples]] modo de [[ser]], mas a [[plenitude]] do [[ser]] em toda sua [[positividade]] e [[infinitude]], pois exercer o [[ser infinito]] de um modo [[puro]] e [[pleno]] é [[possível]] para o [[ser infinito]] mesmo" (1).
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:  Referência:
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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== 25 ==
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: "Única [[aproximação]] da [[riqueza]] [[interna]] do [[ser]], ou melhor, da [[estrutura]] [[interna]] do [[ser]], se fez ao [[revelar-se]] o [[ser]] como [[agir]], enquanto o [[agir]] não apenas convém a determinada [[forma]] de [[ser]], mas a [[tudo]] quanto participa do [[ser]] e enquanto participa do [[mesmo]]. Porém,  não se esgota aqui nossa [[possibilidade]] de exprimir a [[riqueza]] [[interna]] do [[ser]], que [[transcende]] – como [[agir]] – toda e qualquer [[forma]] particular de [[ser]] e que convém [[necessariamente]] a [[tudo]] que [[participa]] do [[ser]] e enquanto [[participa]] do [[ser]]" (1).
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:  Esta [[participação]] no [[ser]] acontece na justa medida do que lhe é [[próprio]]. E nesse [[próprio]] nos advém a [[questão]] das [[propriedades]]. Seriam estas os [[transcendentais]]. Claro que eles não poderiam se [[manifestar]] no [[próprio]] [[sendo]] senão na medida em que se [[fundam]] no [[ser]]. Porém, para nós [[finitos]], haverá sempre a [[proximidade]] da [[distância]] e a [[distância]] da [[proximidade]]. Nesta [[tensão]] consiste a nossa [[travessia]] em direção e na volta para [[casa]], no [[dizer]] de [[Rosa]], volta para o [[ser]] enquanto [[sentido]] do [[próprio]] que será o [[sentido do ser]]. É no [[sentido do ser]] que nos manifestamos fundados nos [[transcendentais]]: [[uno]], [[verdadeiro]], [[bom]], [[belo]]. São, portanto, [[atributos]] [[essenciais]], sem dúvida nenhuma, e não meramente [[circunstanciais]], pois dizem respeito a todos os [[sendos]], naquilo que constitui a sua [[essência]] enquanto [[sentido]]. Perguntar-se pelo [[sentido do ser]] é perguntar-se pelos [[transcendentais]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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:  Referência:
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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== 26 ==
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: Nossa [[relação]] com o [[ser]] do [[ente]] é complexa, vista sob a [[dimensão]] do [[saber]]: ele me aparece como [[objeto material]], quando quero [[saber]] [[o que é]]; me aparece como [[objeto formal]], quando quero [[saber]] [[o como é]]; temos ainda a [[dimensão]] introduzida por [[Kant]]: [[o como se sabe]]. E falta ainda considerar, sobretudo, aquela [[dimensão]] que diz respeito ao próprio [[saber]] como tal: [[o para que se sabe]], pois aí se manifesta a [[intencionalidade]]. O que falta [[pensar]] na [[intencionalidade]] é o não confundi-la com a [[finalidade]]. E isso é decisivo, porque quando se reduz tanto o [[ser]] quanto o [[saber]], na [[dimensão]] da [[intencionalidade]] à [[finalidade]] sucede a inversão [[moralista]] pela qual os [[fins]] justificam os [[meios]]. Mas tais [[fins]] já estão dados no [[sistema]] ou [[modelo]]. E só então nesse [[agir]] se vê todo o [[abismo]] em que se move todo o nosso [[agir]], quando tem como [[sentido]] o [[sentido]] do [[modelo]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 27 ==
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: "A [[essência]] do [[agir]] é [[ser]] e este implica, necessariamente, [[querer]] e [[não-querer]], [[saber]] e [[não-saber]]" (1).
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 +
: Referência bibliográfica:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 195.
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== 28 ==
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: "O [[mito]] de [[Midas]] da Morte ou do ser feliz nos lança, de chofre, inesperadamente, na mais profunda crueza, no núcleo duro e [[essencial]] da [[essência]] do [[agir]]" (1).
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 +
: Referência bibliográfica:
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 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 197.
 +
 +
== 29 ==
 +
: "Quando [[pensamos]] a [[questão]] como [[questão]], já estamos nos abrindo [[onto]]-[[poeticamente]] para a [[referência]] [[pensar]]/[[questionar]]. Como se vê, a primeira de todas as [[questões]] é o próprio [[questionar]] enquanto dado no [[pensar]] e no próprio [[questionar]]. E aí não podemos ir mais longe, isto é, a [[pergunta]] que [[pergunta]] pelo [[questionar]] não pode [[fundar]] o [[questionar]], mas este enquanto [[ato]] que se [[dá]] ao e no [[ser humano]] [[dá-se]] primordial e [[originariamente]] como [[agir]] do [[questionar]]. E estes é que, ao se darem naquele que pergunta e questiona, já [[fundam]] o [[agir]] e o [[pensar]] de quem questiona no [[perguntar]]. Ou seja, simplesmente o [[agir]] e o [[questionar]] precedem e [[fundam]] o [[próprio]] [[ente]] que age e questiona" (1).
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: Referência:
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 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.
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 +
== 30 ==
 +
: E qual é a [[Essência]] do [[agir]]? O [[agir]] da [[Essência]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 31 ==
 +
: "A [[energia poética]] é a [[essência]] de todo [[agir]] e o [[sentido]] de todo [[fazer]] e até do não [[agir]] e do não [[fazer]], do [[ser]] e do [[não-ser]]. Enfim, é a [[realidade]] de todas as [[realizações]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.

Edição atual tal como 20h56min de 31 de março de 2024

Agir, ver também Ação

1

Agimos no sentido cultural de produzir, seja intelectual, seja praticamente. São as diferentes produções, ditas hoje, artísticas, técnicas, culturais. Esse agir externalizante ainda não traz em si a questão da essência do agir. E quando a questão surge? Ela precede todo e qualquer agir, mas se torna explícita quando o homem pergunta: "O que é isto - o agir?" Nesse agir como essência vai estar implicada a essência do ser humano. É no e pelo agir que o ser humano se torna humano. Enquanto essência (do latim essentia), ousia (em grego), vai estar implicado o ser, pois a ousia é sempre a ousia do ser. A implicação de ser e homem no e pelo agir é o que constitui propriamente o ético.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
* Ação
* Inteiro

2

A essência do agir não pode ser definida num conceito, ela é uma questão: A questão pode ser apreendida de uma maneira clara e paradoxal na seguinte afirmação: Cada um faz o que quer e a realidade faz o que quer com cada um. Realidade enquanto essência do agir é o que acontece. À referência ou essência do agir de cada um e da realidade é o que se dá no acontecer poético. Neste horizonte de pensamento é necessário pensarmos o que é querer e o que é vontade, bem como liberdade e destino.


- Manuel Antônio de Castro

3

A essência do agir não é causar efeitos ou fazer surgir, seja lá o que for, na ordem dos entes e nem se dá na correlação de sujeito e objeto. Também não se identifica com o agir causal de agente e paciente. Agir essencialmente é deixar o ser vigorar em tudo que é e está sendo; implica, portanto, o destinar-se do sentido do ser. O homem faz, o ser age, onde o fazer é o esquecimento do sentido do ser.


- Referência:
- CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.

4

A Linguagem poética dá um sentido a tudo que é e está sendo. O sentido é o caminho tanto pessoal como da comunidade histórica enquanto sentido do agir. Pelo agir gera-se um caminho que é o sentido da verdade. Verdade nunca é algo, é a realidade se realizando, agindo. Será então necessariamente um agir e realizar poéticos. A verdade da realidade se torna verdade na medida em que a ação eclode como Linguagem poética, como sentido do que somos.


- Manuel Antônio de Castro

5

"Ora, os modos de agir e operar se plantam nos modos de ser e realizar-se. É o impulso que desperta em nós a memória criativa de um princípio aristotélico, o princípio da integração reciprocamente constitutiva de ser e agir: operari sequitur esse: os modos de operar seguem os modos de ser " (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O esquecimento da memória". In: Revista Tempo Brasileiro, 153, Rio de Janeiro: abr.-jun., 2003, p. 144.

6

"Ora, este exercício pelo qual nós procuramos realizar nosso ser, fazer desabrochar nosso ser em direção à sua perfeição entitativa, é o que chamamos de agir. O agir se revela em nós, portanto, como nosso próprio ser em dinâmica busca de sua realização total" (1).


Referência:
(1) HUMMES, Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho (hoje Imigrantes), RS, 1964.

7

A obra de arte mostra que ela é portadora de um poder que é ambíguo, pois, embora provenha de um fundar que não é o homem, vai se manifestar no agir do homem, pois todo agir do homem, na medida em que funda sentido, só é possível porque já vigora no poder de sentido do logos e do pensamento, isto é, no sentido e verdade do ser. Eis aí a essência do agir em seu sentido e verdade.


- Manuel Antônio de Castro

8

"A Essência do agir, no entanto, está em con-sumar. Con-sumar quer dizer: conduzir uma coisa ao sumo, à plenitude de sua Essência. Levá-la a essa plenitude, producere" (1).
Nota. "Pro-ducere: composto do verbo ducere (levar) e da proposição pro(diante de, em frente de), produção é a instauração de vigor que leva o modo de ser de algum ente para a frente da presença histórica" (2).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 23.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Veja-se Martin Heidegger, Introdução à Metafísica. Trad. e notas de Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966, p. 78, Nota 16.

9

"No princípio de tudo a ação. O agir humano é empenho e conquista de ser, é percepção e vivência de não ser na experiência de vir a ser. O homem não faz apenas bem e /ou mal as coisas que faz. Ele faz também um bem e/ou um mal a si mesmo e aos outros. Mas em tudo que venha a fazer e/ou deixar de fazer lhe chega sempre um convite radical, o convite de fazer o bem e evitar o mal. É neste sentido que, na dinâmica de todo agir humano, vive um tríplice apelo: fazer bem, fazer um bem, fazer o bem. Assim, a ética, em que mora todo agir dos homens, consiste em fazer o bem e evitar o mal em tudo." (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

10

"Somente no agir o ser é totalmente ele mesmo. Ser é agir e vice-versa. (Não se pode jamais confundir agir com fazer. Aquele inclui este, mas este não inclui aquele)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.

11

"Devemos integrar o agir externo e o agir interno, o agir do sendo com o agir do ser. É que o ser do ser humano não se pode reduzir a um ou outro agir" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.

12

"Na vida, entretanto, não basta sentir, é necessário ser o que se sente. Ao contrário, a poética é um enigma que se dá em uma dobra. O seu desdobrar-se é mais que estético, algo somente preso às sensações ou percepções, é poético. Só o poético vigora no e a partir da essência do agir. Eis aí a diferença radical entre estética e poética. A essência do agir vigora a partir do sentido do ser e acontece em nós quando nos abrimos para o operar do pensar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.

13

"O arbítrio – isto é, a liberdade de agir – foi-lhe entregue por uma ação anterior a qualquer outra que possa ou venha a praticar. Esta ação anterior, do entre que o configura como interlúdio, está na origem do homem. Não é, portanto, ele que originariamente a pratica, mas a ele se dirige, até para que possa agir" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.

14

Não é minha pergunta pela essência do agir que funda o agir, assim como não é meu pro-pósito de fazer uma leitura-caminhada que funda a obra e até a compreensão que possa vir a ter dela. Mas todo ser humano está implicado nela. Porque o agir já precede toda ação concreta, significa isso que no simples ato de perguntar já me advém, de algum modo, o sentido do próprio perguntar, ou seja, o agir não só funda todo saber que se sabe, mas também de algum modo todo saber que não se sabe. É o que se está querendo dizer ao nomear isso como a compreensão e a pré-compreensão. Isso se chama o círculo poético-hermenêutico" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A ação e a caminhada de vida". In: --------. https://travessiapoetica.blogspot.com, agosto de 2006.

15

"... pois o agir, em sua essência, é o agir do vigorar do tempo que se dispõe e destina epocalmente. E isso já nos foi sinalizado pela inscrição no templo de Apolo em Delfos, que dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Eis a essência do questionar, agindo. Eis a essência do ler".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 39.

16

"Liminaridade significa aí o estar jogado num projeto de realização do que é a partir do ser. Na liminaridade o agir do ser-humano, e só é agindo, sendo poético, encontra o seu vigor e seu horizonte no ser. Seu agir é, pois, algo entre o agir do ser que nele opera (obra/verdade/poíesis) e o seu agir, enquanto desvelo do que ele é. Essa dupla poíesis é que é o paradoxo, o entre. Ser, então, para o ser-humano é estar e ser entre, permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre. Realiza-se sempre na e a partir da liminaridade de ón/ente E einai / ser." (1)


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.

17

"No mito de Midas nos é dito, de uma maneira maravilhosa e simples, que temos e não-temos, somos e não-somos a essência do agir, aquela e aquilo que já desde sempre pro-curamos em todos os nossos empenhos e desempenhos. Daí a nossa sensação de constante incompletude " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 192.

18

"E a grande questão do mito do Canto das Sereias é a questão do destino do homem em sua travessia, é a grande questão para Ulisses, que vive no limiar do sentido do agir dos deuses e no sentido do agir do homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 162.

19

"É necessário retomar o ético de todo conhecimento, na medida em que este tem, necessariamente como medida ontológica e princípio de realização, o humano. O que está faltando é se pensar com radicalidade a essência do agir em tudo, sobretudo no educar do ser humano, uma vez que fazer ainda não é ser. E só na vigência deste se age essencialmente. Não basta fazer é necessário ser o que se faz" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 24.

20

"Está em jogo o profundo mistério da tensão entre ser-humano E ser. É dentro dessa tensão que o ser-humano aparece, queira ou não queira, como um ente-da-liminaridade. Liminaridade significa aí o estar jogado num projeto de realização do que é a partir do ser. Na liminaridade o agir do ser-humano, e só é agindo, sendo poético, encontra o seu vigor e seu horizonte no ser. Seu agir é, pois, algo entre o agir do ser que nele opera (obra/verdade/poiesis) e o seu agir, enquanto desvelo do que ele é. Essa dupla poiesis é que é o paradoxo, o entre. Ser, então, para o ser-humano é estar e ser entre, permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre. Realiza-se sempre na e a partir da liminaridade de “on/ente” E “einai/ser”" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.

21

"Em todo ato, o vigorar já vigora em sua plenitude, mas como esta não é um fim, mas uma consumação, a essência do agir tem sua medida no agir da essência, daquilo de quem recebemos nosso destino: o ser. Ser é verbo, o vigorar de todo agir. Ser então é a necessidade necessária" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.

22

A essência do agir se funda numa ambiguidade: perguntamos e no perguntar quem, em última instância, se pergunta, porque só podemos ter vontade de perguntar porque já vigoramos no querer do ser, é o ser.


- Manuel Antônio de Castro.

23

"Ora, este exercício pelo qual nós procuramos realizar nosso ser, fazer desabrochar nosso ser em direção à sua perfeição entitativa, é o que chamamos de agir. O agir se revela em nós, portanto, como nosso próprio ser em dinâmica procura de sua realização total" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

24

"Ora, agir é o agir espiritual, cuja característica – por ser espírito – é de mover-se no horizonte ilimitado do ser. Porém, se o agir espiritual é um agir que exerce o ser como tal, então, por sua natureza ele não implica limites, embora no espírito finito de fato seja limitado. O espírito é, pelo contrário, por si mesmo um modo de ser que exerce sem limitação a pura positividade do ser ilimitado. Portanto, já não mais um simples modo de ser, mas a plenitude do ser em toda sua positividade e infinitude, pois exercer o ser infinito de um modo puro e pleno é possível para o ser infinito mesmo" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

25

"Única aproximação da riqueza interna do ser, ou melhor, da estrutura interna do ser, se fez ao revelar-se o ser como agir, enquanto o agir não apenas convém a determinada forma de ser, mas a tudo quanto participa do ser e enquanto participa do mesmo. Porém, não se esgota aqui nossa possibilidade de exprimir a riqueza interna do ser, que transcende – como agir – toda e qualquer forma particular de ser e que convém necessariamente a tudo que participa do ser e enquanto participa do ser" (1).
Esta participação no ser acontece na justa medida do que lhe é próprio. E nesse próprio nos advém a questão das propriedades. Seriam estas os transcendentais. Claro que eles não poderiam se manifestar no próprio sendo senão na medida em que se fundam no ser. Porém, para nós finitos, haverá sempre a proximidade da distância e a distância da proximidade. Nesta tensão consiste a nossa travessia em direção e na volta para casa, no dizer de Rosa, volta para o ser enquanto sentido do próprio que será o sentido do ser. É no sentido do ser que nos manifestamos fundados nos transcendentais: uno, verdadeiro, bom, belo. São, portanto, atributos essenciais, sem dúvida nenhuma, e não meramente circunstanciais, pois dizem respeito a todos os sendos, naquilo que constitui a sua essência enquanto sentido. Perguntar-se pelo sentido do ser é perguntar-se pelos transcendentais.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

26

Nossa relação com o ser do ente é complexa, vista sob a dimensão do saber: ele me aparece como objeto material, quando quero saber o que é; me aparece como objeto formal, quando quero saber o como é; temos ainda a dimensão introduzida por Kant: o como se sabe. E falta ainda considerar, sobretudo, aquela dimensão que diz respeito ao próprio saber como tal: o para que se sabe, pois aí se manifesta a intencionalidade. O que falta pensar na intencionalidade é o não confundi-la com a finalidade. E isso é decisivo, porque quando se reduz tanto o ser quanto o saber, na dimensão da intencionalidade à finalidade sucede a inversão moralista pela qual os fins justificam os meios. Mas tais fins já estão dados no sistema ou modelo. E só então nesse agir se vê todo o abismo em que se move todo o nosso agir, quando tem como sentido o sentido do modelo.


- Manuel Antônio de Castro.

27

"A essência do agir é ser e este implica, necessariamente, querer e não-querer, saber e não-saber" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 195.

28

"O mito de Midas da Morte ou do ser feliz nos lança, de chofre, inesperadamente, na mais profunda crueza, no núcleo duro e essencial da essência do agir" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 197.

29

"Quando pensamos a questão como questão, já estamos nos abrindo onto-poeticamente para a referência pensar/questionar. Como se vê, a primeira de todas as questões é o próprio questionar enquanto dado no pensar e no próprio questionar. E aí não podemos ir mais longe, isto é, a pergunta que pergunta pelo questionar não pode fundar o questionar, mas este enquanto ato que se ao e no ser humano dá-se primordial e originariamente como agir do questionar. E estes é que, ao se darem naquele que pergunta e questiona, já fundam o agir e o pensar de quem questiona no perguntar. Ou seja, simplesmente o agir e o questionar precedem e fundam o próprio ente que age e questiona" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.

30

E qual é a Essência do agir? O agir da Essência.


- Manuel Antônio de Castro

31

"A energia poética é a essência de todo agir e o sentido de todo fazer e até do não agir e do não fazer, do ser e do não-ser. Enfim, é a realidade de todas as realizações" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.
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