Experienciação

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:A questão da linguagem e do real pode ser vista em três instâncias:  
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: A [[questão]] da [[linguagem]] e do [[real]] pode ser vista em três instâncias:  
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:1ª) Semântica: por exemplo, quando se faz um levantamento semântico de uma [[palavra]]. É necessária a consulta a um bom dicionário lexical;  
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: 1ª) Semântica: por exemplo, quando se faz um levantamento semântico de uma [[palavra]]. É necessária a consulta a um bom dicionário lexical;  
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:2ª) Fenomenológica: p.ex. quando se levantam os diversos [[conceito|conceitos]] em sua tentativa de definição e apreensão, tanto do ente como do ser, em que a própria palavra [[fenomenologia]] mostra a dinâmica essencial da realidade e suas realizações e de seu estar realizando-se. Aqui é necessário consultar um dicionário de filosofia.
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: 2ª) Fenomenológica: por exemplo quando se levantam os diversos [[conceito|conceitos]] em sua tentativa de [[definição]] e [[apreensão]], tanto do [[ente]] como do [[ser]], em que a própria [[palavra]] [[fenomenologia]] mostra a dinâmica [[essencial]] da [[realidade]] e suas [[realizações]] e de seu [[estar]] realizando-se. Aqui é necessário consultar um bom [[dicionário]] de [[filosofia]].
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:3ª) Etimológico-ôntico-poética: as duas primeiras ainda se movem numa sintaxe gramático-conceitual-formal. Já a última se centra na própria ''[[poiesis]]''/''[[lógos]]'' como questão, isto é, a tensão do entre manifestar e dizer e velar e silenciar. Mas esta só acontece como experienciação no sentido em que Clarice Lispector usa a palavra aprendizagem no romance ''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres'' (1).  
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: 3ª) [[Etimológico]]-[[ôntico]]-[[poética]]: as duas primeiras ainda se movem numa [[sintaxe]] gramático-[[conceitual]]-[[formal]]. Já a última se centra na própria ''[[poíesis]]'' / ''[[lógos]]'' como [[questão]], isto é, a [[tensão]] do [[entre]] [[manifestar]] e [[dizer]], e [[velar]] e [[silenciar]].  
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: Mas esta só acontece como [[experienciação]] no [[sentido]] em que Clarice Lispector usa a [[palavra]] [[aprendizagem]] no romance '''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''' (1).
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres''. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.
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: (1) LISPECTOR, Clarice. '''Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres'''. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.
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:A experienciação, junto com o "telos" e o "horizonte", constitui as três instâncias da travessia poética do ser humano. Porém, estas três instâncias precisam do aberto, ou seja, da clareira. Mas não há clareira sem mundo, como não há mundo sem clareira. A clareira é o "entre" de ex-perienciação de "terra" E "mundo. Por isso, nossa condição fundamental é sermos pro-jeto, ou seja, o sermos "entre". Em vista disso, essas três instâncias se realizam através da [[tripla escuta]], que constitue o triplo diálogo. É, pois,  fundamental, pensar a travessia poética a partir da tripla escuta e do triplo diálogo. Ao mesmo tempo estão relacionados ao "dizer/dichten". Ver abaixo.  
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: A [[experienciação]], junto com o ''[[télos]]'' e o [[horizonte]], constituem as três [[instâncias]] da [[travessia]] [[poética]] do [[ser humano]]. Porém, elas precisam do aberto, ou seja, da [[clareira]]. Mas não há [[clareira]] sem [[mundo]], como não há [[mundo]] sem [[clareira]]. A [[clareira]] é o "[[entre]]" de [[ex-perienciação]] de "[[terra]]" E "[[mundo]]". Por isso, nossa condição fundamental é sermos [[projeto]], ou seja, o sermos "[[entre]]". Em vista disso, essas três instâncias se realizam através da tripla [[escuta]], que constitue o triplo [[diálogo]]. É, pois,  fundamental, [[pensar]] a [[travessia]] [[poética]] a partir da tripla [[escuta]] e do triplo [[diálogo]]. Ao mesmo tempo estão relacionados ao "dizer/''dichten''". Conferir o livro '''A caminho da linguagem''' (1) para aprofundar a [[questão]].  
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:Referência:
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1)HEIDEGGER, Martin. ''A caminho da linguagem''. Petrópoli:, Vozes, 2003, p. 146-8.
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Essência da linguagem". In: ---. '''A caminho da linguagem'''. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 146-8.
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:Quando concluímos que toda interpretação e leitura de obras poéticas deve caminhar e ser exercida como ex-perienciação, aqui ela tem um sentido bem preciso: consiste no manifestar e desabrochar como saber o que cada um é. Nesta manifestação consiste o que cada um é enquanto verdade. Não há aí nenhuma atitude prévia que consista num ensino, no sentido de transmissão de conhecimentos, mas no exercitar e desvelar o que sou como [[aprendizado]]. Nisso e só nisso consiste o ensinar. Por isso diz Guimarães Rosa: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende". O [[ensinar]] e [[aprender]] se diferenciam assim: o ensino corresponde ao conhecimento, às informações. O aprendizado ao saber e à sabedoria. Assim sendo, a experienciação de fato perfaz um caminho de aprendizado, mas perpassado pelo ensinar, ou seja, pela aquisição de conhecimentos. O conhecimento é de alguma maneira o aspecto técnico de todo saber, como os degraus de uma escada que se vai subindo. Subimos para a sabedoria-experienciação, mas caminhamos pelos e nos degraus do conhecimento enquanto técnica que, de alguma maneira, é funcional. Só a [[aprendizagem]] não é funcional. O interessante é que exatamente por ser funcional ele, dependendo da ocasião e do tempo, pode ser abandonado e até substituído. Por isso, a leitura interpretativa inaugural trafega do conhecimento à sabedoria. A funcionalidade torna a presença do conhecimento eventual, mas também necessário. A eventualidade e mutabilidade torna este necessário mutável e, até, em determinado momento, completamente secundário. Mas jamais dispensável. Por isso, a ex-perienciação se dá numa originária DIALÉTICA de limite e não-limite.
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: Quando concluímos que toda [[interpretação]] e [[leitura]] de obras poéticas deve caminhar e ser exercida como [[ex-perienciação]], aqui ela tem um sentido bem preciso: consiste no manifestar e desabrochar como saber o que cada um é. Nesta manifestação consiste o que cada um é enquanto [[verdade]]. Não há aí nenhuma atitude prévia que consista num ensino, no sentido de transmissão de [[conhecimento|conhecimentos]], mas no exercitar e desvelar o que sou como [[aprendizado]]. Nisso e só nisso consiste o ensinar. Por isso diz Guimarães Rosa: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende". O [[ensinar]] e [[aprender]] se diferenciam assim: o ensino corresponde ao conhecimento, às informações. O aprendizado ao saber e à sabedoria. Assim sendo, a [[experienciação]] de fato perfaz um caminho de aprendizado, mas perpassado pelo ensinar, ou seja, pela aquisição de conhecimentos. O conhecimento é de alguma maneira o aspecto técnico de todo saber, como os degraus de uma escada que se vai subindo. Subimos para a [[sabedoria]]-experienciação, mas caminhamos pelos e nos degraus do conhecimento enquanto técnica que, de alguma maneira, é funcional. Só a [[aprendizagem]] não é funcional. O interessante é que exatamente por ser funcional ele, dependendo da ocasião e do tempo, pode ser abandonado e até substituído. Por isso, a [[leitura]] interpretativa [[inaugural]] trafega do [[conhecimento]] à [[sabedoria]]. A [[funcionalidade]] torna a presença do conhecimento eventual, mas também necessário. A eventualidade e mutabilidade torna este necessário mutável e, até, em determinado momento, completamente secundário. Mas jamais dispensável. Por isso, a [[ex-perienciação]] se dá numa [[originária]] [[dialética]] de [[limite]] e [[não-limite]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:A ligação da experienciação com a verdade e com o método fica bem clara no § 172 de ''A origem da obra de arte'' quando diz: "A essência da poiesis é a fundação da verdade. O fundar compreendemo-lo aqui em um triplo sentido: fundar como doar, fundar como fundamentar e fundar como começar. A fundação, porém, é verdadeira somente na leitura-inaugural. Assim, a cada modo de fundar corresponde uma semelhante da leitura-inaugural-desvelante". O método é aquele caminho no qual e pelo qual a verdade da obra se dá numa tripla experienciação que se deve fazer presente na leitura-inaugural-desvelante, igualmente de modo triplo e correspondente. Quando tal acontece então a leitura-inaugural-desvelante é onto-poética.
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: A ligação da [[experienciação]] com a [[verdade]] e com o [[método]] fica bem clara no § 172 de '''A origem da obra de arte''' (1) quando diz: "A [[essência]] da ''[[poíesis]]'' é a [[fundação]] da [[verdade]]. O [[fundar]] compreendemo-lo aqui em um triplo sentido: fundar como [[doar]], fundar como [[fundamentar]] e fundar como [[começar]]. A fundação, porém, é verdadeira somente na leitura-inaugural. Assim, a cada modo de fundar corresponde uma semelhante da leitura-inaugural-desvelante".  
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: O [[método]] é aquele [[caminho]] no qual e pelo qual a [[verdade]] da [[obra]] se dá numa tripla [[experienciação]] que se deve fazer presente na [[leitura]]-[[inaugural]]-[[desvelante]], igualmente de modo triplo e correspondente. Quando tal acontece então a [[leitura]]-[[inaugural]]-[[desvelante]] é [[onto]]-[[poética]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A Origem da Obra de Arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. Lisboa: Edições 70, 2008.
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:  A [[realidade]] nos advém como [[linguagem]]. Mas então cada [[experienciação]] em que o [[real]] se dá é sempre [[linguagem]]. Como não sabemos o que é [[real]] também não sabemos o que é [[linguagem]], onde o "não" de [[real]] e o "não" de [[linguagem]] só são "não" para quem diz e experiencia, mas não para o isto que se dá. [[Experienciar]] é o [[dar-se]] a [[perceber]] do [[real]] em quem experiencia.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: A [[experienciação]] não é algo que de fora ou em alguém pode acontecer ao [[real]] e à [[linguagem]]. Não. A [[experienciação]] é o [[real]] acontecendo como [[linguagem]], [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]], em quem os experiencia, o que jamais quer [[dizer]] algo [[subjetivo]] ou [[objetivo]]. A [[experienciação]] não é passível de [[objetividade]] nem de [[cálculo]] nem de uma [[verdade]] [[lógica]]. Por isso, toda [[experienciação]] só pode [[acontecer]] enquanto [[aprendizagem]] e não jamais enquanto [[aprendizado]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "A [[medida]] do [[entre]] tanto é a [[vida]] quanto é a [[morte]]. Na [[medida]] está o [[sentido]], no [[sentido]] está a [[medida]]. Toda [[procura]], no fundo, é sempre a [[procura]] do [[sentir]] do [[sentido]]. É justamente isso que denomino aqui [[experienciação]] e não (jamais!) [[experiência]]. Toda [[procura]] advém sempre enquanto [[experienciação]]. Todo [[conceito]] advém sempre enquanto [[experiência]]. É por isso que posso dizer que “Fulano é experiente no [[fazer]] artefatos de madeira, de barro, em dar aula etc”. Todavia, jamais posso dizer que alguém é experiente na [[experienciação]] de [[morrer]]. Das [[experiências]] surge um [[aprendizado]], passível de ser ensinado, porque é um [[saber]] baseado em [[conceitos]], por exemplo, um carpinteiro que ensina o aprendiz a [[fazer]] móveis. Das [[experienciações]] surge uma [[aprendizagem]], algo absolutamente [[pessoal]] e [[impossível]] de [[ser]] ensinado, porque não é redutível aos [[conceitos]]. A [[aprendizagem]] é [[experienciação]] das [[questões]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.
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: "A [[arte]] sem [[experienciações]] da ''[[poíesis]]'' não é [[arte]], seja para o [[artista]], seja para o [[leitor]], porque a [[arte]], que é ''[[poíesis]]'', vai direto ao [[coração]] das [[questões]]. Deve ficar bem claro que a [[experienciação]] não diz respeito ao domínio do [[subjetivo]]. Muito pelo contrário! É quando o [[subjetivo]] das [[opiniões]] e das impressões se deixa ultrapassar pelo [[poder]] da [[presença]] e [[vigorar]] das [[questões]]. A [[experienciação]] só pode ser [[experienciação]] de [[questões]]" (1) .
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.
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: Para sair da prisão científica do [[verdadeiro]], [[objetivo]], [[lógico]] e conceitual, empregamos a [[palavra]] [[experienciação]], pela qual se diz a [[dialética]] de positivo e negativo do [[limite]], sempre em tensão com o ''ex-'', para indicar a contínua abertura para o livre da [[realização]] em cada [[ato]], em cada momento, bem como a [[unidade]] ([[memória]]) de todos os [[atos]], de todas as [[vivências]], propiciando, assim, uma [[identidade]] nas [[diferenças]] do [[acontecer poético]], ou seja, do [[agir]] em que se dá, acontece, o [[sentido]] da [[ação]], de [[ser]] e [[fazer]], enfim, o [[ético]]-[[poético]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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== 10 ==
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: Nosso [[tempo]] é um [[tempo]] acelerado. Parece uma [[vida]] com muitas [[vidas]], de muitas [[vivências]]. Mas aí entra a [[questão]] ontológica e esta diz respeito diretamente ao [[tempo]] da [[experienciação]]. O [[tempo]] da [[experienciação]] é o [[tempo]] da ''metábole'' ([[movimento]] essencial). Toda [[transformação]] precisa radicalmente de um [[tempo]] [[próprio]], o [[tempo]] de [[ser]] se manifestando e transformando, pelo qual se [[é]] mais do que uma [[forma]]: simplesmente se [[é]]. Neste, ''o que [[é]]'' se manifesta em ''o como [[é]]''. E ''o como é'' ou [[vivências]] se transformam não apenas n’''o como se conhece'', mas no ''[[sentido]] do que [[é]]'', pois [[ser]] é [[agir]] e [[agir]] se manifestando é o advir do [[sentido]], tanto ''do que é'', quanto ''do como se conhece'', isto é, transforma no [[ser humano]] a [[vivência]] em [[experienciação]], daí no [[ser humano]] não haver apenas [[vida]], mas o [[existir]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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== 11 ==
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: "[[Viver]] é [[nascer]], [[crescer]], [[amadurecer]] e [[morrer]] a todo [[instante]]. Vivendo, os [[homens]] vão experienciando a [[paixão]] de [[viver]] e aprendendo com esta [[experienciação]]. [[Pensar]] é a [[disciplina]], a ascese e o ordenamento desta [[paixão]]" (1).
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: '''Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 145'''.
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: "[[Entre]] o [[horizonte]] de [[origem]] e o [[horizonte]] de chegada é que se coloca a [[questão]] do [[sentido]]. [[Sentido]] é “isso”: o [[entre]] um de e um para. Sem o de e o para é impossível [[pensar]] o [[sentido]]. De imediato e de uma maneira muito [[evidente]] para todos, em qualquer [[momento]], [[época]] e [[cultura]], o [[entre]] acontece enquanto [[vivências]] e [[experienciações]] de [[vida]]. Mas [[dizer]] [[vivências]] e [[experienciações]] de [[vida]] quer [[dizer]] o mesmo que [[vivências]] e [[experienciações]] de [[morte]], pois umas não acontecem sem as outras. A [[medida]] do [[entre]] tanto é a [[vida]] quanto a [[morte]]. Na [[medida]] está o [[sentido]], no [[sentido]] está a [[medida]]" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.
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== 13 ==
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: "De onde eu tinha tirado essa [[ideia]] de que a [[felicidade]] é que media a qualidade da [[vida]] de uma [[pessoa]]?" (1).
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: A [[felicidade]] da [[vida]] está na [[medida]] ou a [[medida]] está na [[felicidade]]? Por que esta pergunta em torno da ''[[medida]]''? Não podemos esquecer que era a ''[[hybris]]'' - desmedida - que trazia a [[infelicidade]] e a desgraça, lançando a [[pessoa]] no mais profundo [[sofrimento]]. Por isso, em nossa [[vida]] toda [[ação]] [[ética]] tem como fundo a ''justa [[medida]]''. Assim sendo, a [[medida]] se torna para o [[ser humano]] em seu [[agir]] e viver a [[questão]] decisiva. A [[presença]] mais efetiva da [[medida]] está na [[morte]]. Esta, em última e primeira [[instância]], é a [[medida]] do [[sentido]]. Mas não há [[morte]] sem [[vida]] (''[[zoé]]'', em [[grego]]). É nesse sentido que ''[[eros]]'' e ''[[thanatos]]'' são para nós, [[mortais]], a [[fonte]] de todas as grandes [[experienciações]]. Neste [[horizonte]] percebe-se bem como é importante diferenciar [[experiência]] e [[experienciação]]. Nesta está presente sempre um [[sentido]] [[ético]] de [[realização]], de [[procura]] da [[felicidade]] e não simplesmente de novos [[conhecimentos]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referências:
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: (1) PAMUK, Orhan. '''A maleta de meu pai'''. São Paulo: Cia. das Letras, 2007, p. 66.
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: "Todo o [[mito]] (toda [[travessia]] [[humana]]) gira em torno da ''[[fala]]'' e da ''[[escuta]]''" (1). Todo [[mito]] é uma [[experienciação]] [[poética]] da [[travessia]] [[humana]], pois todo [[mito]] se tece e entretece em torno da alguma [[questão]] ou algumas [[questões]]. É nestas que todo [[ser humano]] realiza a sua [[travessia]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 157.
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: "Toda [[imagem-questão]] surge da [[experienciação]], compreendida como o [[desvelo]] do[[sentido]] no [[silêncio]] e do [[silêncio]] no [[sentido]]. A [[experienciação]] é  o[[pensar]] [[essencial]], do qual irrompe o [[sabor]]-[[saber]]. Um [[saber]], assim, não resultante do acúmulo de [[conhecimento]], de assimilação do já dado, mas surgido do ainda não dado, do desconhecido que toca, que comove e atravessa o [[corpo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: ---. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). '''Convite ao pensar'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.
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: "A [[experienciação]] pressupõe o [[horizonte]]. Este [[nome]] vem do [[grego]] e significa: o [[limite]] do [[visível]], do sabido em tensão com o [[não-visível]], o [[não-sabido]], ou seja, o [[vazio]], o [[silêncio]], o [[nada]]. Mergulhados no [[horizonte]], isto é, na tensão “[[entre]]” [[limite]] e [[não-limite]] aspiramos sempre, em nossas [[ações]] e escolhas, a uma [[completude]] de [[realização]]. Esta [[realização]], como [[consumação]] do que se [[é]], os [[gregos]] denominaram ''[[telos]]'', ou seja, a [[plenificação]] dos [[limites]] no [[aberto]] [[livre]] do [[silêncio]] e da [[não-ação]]. É a [[escuta]] da [[fala]] do [[silêncio]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: caminho de paragens e passagens". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 210.
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: "O [[pleno]] [[saber]] das [[Sereias]], da [[palavra cantada]] como [[voz]] do [[silêncio]], que é a [[possibilidade]] da [[experienciação]] da [[morte]], é a oferta do [[não-saber]] em todo [[saber]] da [[fala]], é a oferta do [[não-caminho]] e do [[não-sentido]] em todo [[caminho]] e [[sentido]] do [[mar]], em toda [[finitude]] da [[não-finitude]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 179.
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== 18 ==
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: "[[Sileno]] é conhecido por ser o detentor da [[sabedoria]]. Não se trata de qualquer [[sábio]] e, certamente, está longe da [[sabedoria]] que os [[filósofos]] profissionais procuram, porque a [[sabedoria]] tem muitos [[caminhos]]. A riqueza cultural grega está na [[possibilidade]] dos diferentes [[caminhos]] que ela empreende em busca desse [[saber]] [[radical]], que é a [[questão]] do [[mito]]: a [[procura]] [[radical]] pela [[felicidade]], girando em torno da [[experienciação]] da [[realidade]] como ''[[Eros]]'' e ''[[Thánatos]]'', que é a [[experienciação]] de todas as [[experienciações]], porque implica nossos [[limites]] [[ilimitados]]" (1).
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: Referência bibliográfica:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.
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: "A [[experienciação]] da [[linguagem]] como nosso maior [[bem]] não pode [[ser]] ensinada nem transmitida, porque é ''[[ethos]]''. O que cada um [[é]] só pode ser [[experienciação]] a partir do que cada um [[é]]. E nem é decisão de cada um. É uma [[doação]] para a qual somos convocados pela [[ausculta]]. Mas a [[ausculta]] também nos é dada. Diz Hölderlin:
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: ''O mais perigoso de todos os [[bens]] foi dado ao [[homem]]'':
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: ''a [[linguagem]]...''
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: ''Para que ele testemunhe o que ele [[é]]...'' "
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:Referência:
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: Referência:  
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Tradução de Manuel Antonio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. Acessível para uso acadêmico em: www.travessiapoetica.blogspot.com
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== Ver também ==
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''Linguagem: nosso maior bem'''. ''Série Aulas Inaugurais''. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 26.
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*[[Fenomenologia]]
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*[[Leitura inaugural]]
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Edição atual tal como 22h31min de 19 de fevereiro de 2024

1

A questão da linguagem e do real pode ser vista em três instâncias:
1ª) Semântica: por exemplo, quando se faz um levantamento semântico de uma palavra. É necessária a consulta a um bom dicionário lexical;
2ª) Fenomenológica: por exemplo quando se levantam os diversos conceitos em sua tentativa de definição e apreensão, tanto do ente como do ser, em que a própria palavra fenomenologia mostra a dinâmica essencial da realidade e suas realizações e de seu estar realizando-se. Aqui é necessário consultar um bom dicionário de filosofia.
3ª) Etimológico-ôntico-poética: as duas primeiras ainda se movem numa sintaxe gramático-conceitual-formal. Já a última se centra na própria poíesis / lógos como questão, isto é, a tensão do entre manifestar e dizer, e velar e silenciar.
Mas esta só acontece como experienciação no sentido em que Clarice Lispector usa a palavra aprendizagem no romance Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.

2

A experienciação, junto com o télos e o horizonte, constituem as três instâncias da travessia poética do ser humano. Porém, elas precisam do aberto, ou seja, da clareira. Mas não há clareira sem mundo, como não há mundo sem clareira. A clareira é o "entre" de ex-perienciação de "terra" E "mundo". Por isso, nossa condição fundamental é sermos projeto, ou seja, o sermos "entre". Em vista disso, essas três instâncias se realizam através da tripla escuta, que constitue o triplo diálogo. É, pois, fundamental, pensar a travessia poética a partir da tripla escuta e do triplo diálogo. Ao mesmo tempo estão relacionados ao "dizer/dichten". Conferir o livro A caminho da linguagem (1) para aprofundar a questão.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Essência da linguagem". In: ---. A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 146-8.

3

Quando concluímos que toda interpretação e leitura de obras poéticas deve caminhar e ser exercida como ex-perienciação, aqui ela tem um sentido bem preciso: consiste no manifestar e desabrochar como saber o que cada um é. Nesta manifestação consiste o que cada um é enquanto verdade. Não há aí nenhuma atitude prévia que consista num ensino, no sentido de transmissão de conhecimentos, mas no exercitar e desvelar o que sou como aprendizado. Nisso e só nisso consiste o ensinar. Por isso diz Guimarães Rosa: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende". O ensinar e aprender se diferenciam assim: o ensino corresponde ao conhecimento, às informações. O aprendizado ao saber e à sabedoria. Assim sendo, a experienciação de fato perfaz um caminho de aprendizado, mas perpassado pelo ensinar, ou seja, pela aquisição de conhecimentos. O conhecimento é de alguma maneira o aspecto técnico de todo saber, como os degraus de uma escada que se vai subindo. Subimos para a sabedoria-experienciação, mas caminhamos pelos e nos degraus do conhecimento enquanto técnica que, de alguma maneira, é funcional. Só a aprendizagem não é funcional. O interessante é que exatamente por ser funcional ele, dependendo da ocasião e do tempo, pode ser abandonado e até substituído. Por isso, a leitura interpretativa inaugural trafega do conhecimento à sabedoria. A funcionalidade torna a presença do conhecimento eventual, mas também necessário. A eventualidade e mutabilidade torna este necessário mutável e, até, em determinado momento, completamente secundário. Mas jamais dispensável. Por isso, a ex-perienciação se dá numa originária dialética de limite e não-limite.


- Manuel Antônio de Castro

4

A ligação da experienciação com a verdade e com o método fica bem clara no § 172 de A origem da obra de arte (1) quando diz: "A essência da poíesis é a fundação da verdade. O fundar compreendemo-lo aqui em um triplo sentido: fundar como doar, fundar como fundamentar e fundar como começar. A fundação, porém, é verdadeira somente na leitura-inaugural. Assim, a cada modo de fundar corresponde uma semelhante da leitura-inaugural-desvelante".
O método é aquele caminho no qual e pelo qual a verdade da obra se dá numa tripla experienciação que se deve fazer presente na leitura-inaugural-desvelante, igualmente de modo triplo e correspondente. Quando tal acontece então a leitura-inaugural-desvelante é onto-poética.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. Lisboa: Edições 70, 2008.

5

A realidade nos advém como linguagem. Mas então cada experienciação em que o real se dá é sempre linguagem. Como não sabemos o que é real também não sabemos o que é linguagem, onde o "não" de real e o "não" de linguagem só são "não" para quem diz e experiencia, mas não para o isto que se dá. Experienciar é o dar-se a perceber do real em quem experiencia.


- Manuel Antônio de Castro

6

A experienciação não é algo que de fora ou em alguém pode acontecer ao real e à linguagem. Não. A experienciação é o real acontecendo como linguagem, sentido, verdade e mundo, em quem os experiencia, o que jamais quer dizer algo subjetivo ou objetivo. A experienciação não é passível de objetividade nem de cálculo nem de uma verdade lógica. Por isso, toda experienciação só pode acontecer enquanto aprendizagem e não jamais enquanto aprendizado.


- Manuel Antônio de Castro

7

"A medida do entre tanto é a vida quanto é a morte. Na medida está o sentido, no sentido está a medida. Toda procura, no fundo, é sempre a procura do sentir do sentido. É justamente isso que denomino aqui experienciação e não (jamais!) experiência. Toda procura advém sempre enquanto experienciação. Todo conceito advém sempre enquanto experiência. É por isso que posso dizer que “Fulano é experiente no fazer artefatos de madeira, de barro, em dar aula etc”. Todavia, jamais posso dizer que alguém é experiente na experienciação de morrer. Das experiências surge um aprendizado, passível de ser ensinado, porque é um saber baseado em conceitos, por exemplo, um carpinteiro que ensina o aprendiz a fazer móveis. Das experienciações surge uma aprendizagem, algo absolutamente pessoal e impossível de ser ensinado, porque não é redutível aos conceitos. A aprendizagem é experienciação das questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.

8

"A arte sem experienciações da poíesis não é arte, seja para o artista, seja para o leitor, porque a arte, que é poíesis, vai direto ao coração das questões. Deve ficar bem claro que a experienciação não diz respeito ao domínio do subjetivo. Muito pelo contrário! É quando o subjetivo das opiniões e das impressões se deixa ultrapassar pelo poder da presença e vigorar das questões. A experienciação só pode ser experienciação de questões" (1) .


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.

9

Para sair da prisão científica do verdadeiro, objetivo, lógico e conceitual, empregamos a palavra experienciação, pela qual se diz a dialética de positivo e negativo do limite, sempre em tensão com o ex-, para indicar a contínua abertura para o livre da realização em cada ato, em cada momento, bem como a unidade (memória) de todos os atos, de todas as vivências, propiciando, assim, uma identidade nas diferenças do acontecer poético, ou seja, do agir em que se dá, acontece, o sentido da ação, de ser e fazer, enfim, o ético-poético.


- Manuel Antônio de Castro

10

Nosso tempo é um tempo acelerado. Parece uma vida com muitas vidas, de muitas vivências. Mas aí entra a questão ontológica e esta diz respeito diretamente ao tempo da experienciação. O tempo da experienciação é o tempo da metábole (movimento essencial). Toda transformação precisa radicalmente de um tempo próprio, o tempo de ser se manifestando e transformando, pelo qual se é mais do que uma forma: simplesmente se é. Neste, o que é se manifesta em o como é. E o como é ou vivências se transformam não apenas n’o como se conhece, mas no sentido do que é, pois ser é agir e agir se manifestando é o advir do sentido, tanto do que é, quanto do como se conhece, isto é, transforma no ser humano a vivência em experienciação, daí no ser humano não haver apenas vida, mas o existir.


- Manuel Antônio de Castro.

11

"Viver é nascer, crescer, amadurecer e morrer a todo instante. Vivendo, os homens vão experienciando a paixão de viver e aprendendo com esta experienciação. Pensar é a disciplina, a ascese e o ordenamento desta paixão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 145.

12

"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido. De imediato e de uma maneira muito evidente para todos, em qualquer momento, época e cultura, o entre acontece enquanto vivências e experienciações de vida. Mas dizer vivências e experienciações de vida quer dizer o mesmo que vivências e experienciações de morte, pois umas não acontecem sem as outras. A medida do entre tanto é a vida quanto a morte. Na medida está o sentido, no sentido está a medida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.

13

"De onde eu tinha tirado essa ideia de que a felicidade é que media a qualidade da vida de uma pessoa?" (1).
A felicidade da vida está na medida ou a medida está na felicidade? Por que esta pergunta em torno da medida? Não podemos esquecer que era a hybris - desmedida - que trazia a infelicidade e a desgraça, lançando a pessoa no mais profundo sofrimento. Por isso, em nossa vida toda ação ética tem como fundo a justa medida. Assim sendo, a medida se torna para o ser humano em seu agir e viver a questão decisiva. A presença mais efetiva da medida está na morte. Esta, em última e primeira instância, é a medida do sentido. Mas não há morte sem vida (zoé, em grego). É nesse sentido que eros e thanatos são para nós, mortais, a fonte de todas as grandes experienciações. Neste horizonte percebe-se bem como é importante diferenciar experiência e experienciação. Nesta está presente sempre um sentido ético de realização, de procura da felicidade e não simplesmente de novos conhecimentos.


- Manuel Antônio de Castro.
Referências:
(1) PAMUK, Orhan. A maleta de meu pai. São Paulo: Cia. das Letras, 2007, p. 66.

14

"Todo o mito (toda travessia humana) gira em torno da fala e da escuta" (1). Todo mito é uma experienciação poética da travessia humana, pois todo mito se tece e entretece em torno da alguma questão ou algumas questões. É nestas que todo ser humano realiza a sua travessia.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 157.

15

"Toda imagem-questão surge da experienciação, compreendida como o desvelo dosentido no silêncio e do silêncio no sentido. A experienciação é opensar essencial, do qual irrompe o sabor-saber. Um saber, assim, não resultante do acúmulo de conhecimento, de assimilação do já dado, mas surgido do ainda não dado, do desconhecido que toca, que comove e atravessa o corpo" (1).


Referência:
(1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: ---. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.

16

"A experienciação pressupõe o horizonte. Este nome vem do grego e significa: o limite do visível, do sabido em tensão com o não-visível, o não-sabido, ou seja, o vazio, o silêncio, o nada. Mergulhados no horizonte, isto é, na tensão “entrelimite e não-limite aspiramos sempre, em nossas ações e escolhas, a uma completude de realização. Esta realização, como consumação do que se é, os gregos denominaram telos, ou seja, a plenificação dos limites no aberto livre do silêncio e da não-ação. É a escuta da fala do silêncio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: caminho de paragens e passagens". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 210.

17

"O pleno saber das Sereias, da palavra cantada como voz do silêncio, que é a possibilidade da experienciação da morte, é a oferta do não-saber em todo saber da fala, é a oferta do não-caminho e do não-sentido em todo caminho e sentido do mar, em toda finitude da não-finitude" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 179.

18

"Sileno é conhecido por ser o detentor da sabedoria. Não se trata de qualquer sábio e, certamente, está longe da sabedoria que os filósofos profissionais procuram, porque a sabedoria tem muitos caminhos. A riqueza cultural grega está na possibilidade dos diferentes caminhos que ela empreende em busca desse saber radical, que é a questão do mito: a procura radical pela felicidade, girando em torno da experienciação da realidade como Eros e Thánatos, que é a experienciação de todas as experienciações, porque implica nossos limites ilimitados" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.

19

"A experienciação da linguagem como nosso maior bem não pode ser ensinada nem transmitida, porque é ethos. O que cada um é só pode ser experienciação a partir do que cada um é. E nem é decisão de cada um. É uma doação para a qual somos convocados pela ausculta. Mas a ausculta também nos é dada. Diz Hölderlin:
O mais perigoso de todos os bens foi dado ao homem:
a linguagem...
Para que ele testemunhe o que ele é... "


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 26.
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