Cultura

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Pois que é a [[cultura]]? Eu sempre acreditei que era o ciclo que o [[Indivíduo]] percorria para chegar ao [[conhecimento]] de si [[próprio]]; e aquele que recusa segui-lo obtém um muito magro proveito de ter nascido na mais preclara das [[épocas]]" (1).
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: "Pois que é a [[cultura]]? Eu [[sempre]] acreditei que era o ciclo que o [[Indivíduo]] percorria para chegar ao [[conhecimento]] de si [[próprio]]; e aquele que recusa segui-lo obtém um muito magro proveito de ter nascido na mais preclara das [[épocas]]" (1).
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: (1) KIERKEGAARD, Sören. ''Temor e tremor''. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 62.
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: (1) KIERKEGAARD, Sören. '''Temor e tremor'''. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 62.
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: "Toda cultura resulta de uma [[conjuntura]]. Nela o [[homem]] se hominiza. Um famoso filme abordou essa [[situação]] de uma maneira admirável: ''2001: uma odisseia no espaço'', de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande [[época]] tem sua [[epopeia]]. e esta é, sem dúvida nenhuma, a [[epopeia]] da [[tematização]], [[celebração]] e [[crítica]] angustiada da era da [[Técnica]]. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na [[linguagem]] cinematográfica. Nela, a [[epopeia]] reencontra o caráter essencial do [[narrar]]" (1).  
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: "Toda [[cultura]] resulta de uma [[conjuntura]]. Nela o [[homem]] se hominiza. Um famoso [[filme]] abordou essa [[situação]] de uma maneira admirável: '''2001: uma odisseia no espaço''', de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande [[época]] tem sua [[epopeia]]. e esta é, sem dúvida nenhuma, a [[epopeia]] da [[tematização]], [[celebração]] e [[crítica]] angustiada da era da [[Técnica]]. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na [[linguagem]] cinematográfica. Nela, a [[epopeia]] reencontra o caráter [[essencial]] do [[narrar]]" (1).  
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: Procura-se fazer nesse capítulo do livro ("O [[fenômeno]] cultural")uma reflexão ampla e essencial do que se [[compreender]] por cultura. Eis uma [[questão]] extremamente complexa e que se relaciona com outras questões [[essenciais]], geralmente deixada entregue às [[definições]] e [[compreensões]] meramente sociológicas ou antropológicas. Nestas já se parte de uma [[posição]] prévia que não leva em consideração o que há de [[essencial]] no [[fenômeno]] cultural. Claro que são importantes tais considerações, mas insuficientes, uma vez que não tematizam o que é a cultura em sua [[essência]]. Igualmente são insuficientes as reflexões psicológicas. Para que se compreenda um pouco esta nossa crítica, leve-se em consideração que Freud, o grande criador da psicanálise, não partiu de reflexões da psicologia da sua época, mas, sim, do [[mito]] de Édipo, narrado na [[tragédia]] de Sófocles: ''Rei Édipo''. E ele consegue no início do século XX fazer uma [[leitura]] original dessa obra-prima, escrita há 2.400 anos (2).   
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: Procura-se fazer nesse capítulo do livro ("O [[fenômeno]] cultural") uma reflexão ampla e [[essencial]] do que se [[compreender]] por [[cultura]]. Eis uma [[questão]] extremamente complexa e que se relaciona com outras [[questões]] [[essenciais]], geralmente deixada entregue às [[definições]] e [[compreensões]] meramente sociológicas ou antropológicas. Nestas já se parte de uma [[posição]] prévia que não leva em consideração o que há de [[essencial]] no [[fenômeno]] [[cultural]]. Claro que são importantes tais considerações, mas insuficientes, uma vez que não tematizam o que é a [[cultura]] em sua [[essência]]. Igualmente são insuficientes as reflexões psicológicas. Para que se compreenda um pouco esta nossa [[crítica]], leve-se em consideração que Freud, o grande [[criador]] da psicanálise, não partiu de reflexões da psicologia da sua [[época]], mas, sim, do [[mito]] de Édipo, narrado na [[tragédia]] de Sófocles: '''Rei Édipo'''. E ele consegue no início do século XX fazer uma [[leitura]] original dessa obra-prima, escrita há 2.400 anos (2).   
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. ''O acontecer poético - a história literária'', 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: ---. '''O acontecer poético - a história literária''', 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
: (2) - [[Manuel Antônio de Castro]].
: (2) - [[Manuel Antônio de Castro]].
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:"Ora, cultura é o [[ser]] do [[homem]] se manifestando em seu [[sentido]]" (1).
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: "Ora, [[cultura]] é o [[ser]] do [[homem]] se manifestando em seu [[sentido]]" (1).
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -------. ''O acontecer poético - a história literária'', 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 35.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: ---. '''O acontecer poético - a história literária''', 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 35.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". In: ----------. ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, pp. 168-9.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". In: ---. '''Ensaios e conferências'''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, pp. 168-9.
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: "Mas o que permanece os poetas o fundam", Hölderlin (1).
: "Mas o que permanece os poetas o fundam", Hölderlin (1).
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: Por que a [[essência]] da [[poesia]] não pode ser apreendida em [[relação]] à cultura? Aí há dois [[caminhos]]. Pelo primeiro se fundamenta a cultura na [[essência]] da [[linguagem]]. Nessa [[dimensão]], as culturas são [[manifestações]] da [[linguagem]] e, portanto, todas provêm de um mesmo ''genos'', ou seja, da tensão ''[[physis]]''/''[[logos]]''. Pelo segundo se considera a cultura na sua diferença, como uma construção como [[língua]], a partir da [[linguagem]]. Neste caso, não se pode apreender a [[essência]] da [[poesia]] a partir da [[língua]], mas sempre a partir da [[linguagem]]. Então, a essência da poesia não se fundamenta na cultura. Pelo contrário, pois são as culturas que surgem a partir da essência da [[poesia]]. Sendo assim, não podemos apreendê-la partindo de uma ou outra cultura, embora sempre de imediato tenhamos uma língua como o [[rito]] da linguagem. Pois é a linguagem como [[mito]] que dá origem (memória) aos [[ritos]], ou seja, às [[línguas]] e, portanto, às culturas.
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: Por que a [[essência]] da [[poesia]] não pode ser apreendida em [[relação]] à [[cultura]]? Aí há dois [[caminhos]]. Pelo primeiro se fundamenta a [[cultura]] na [[essência]] da [[linguagem]]. Nessa [[dimensão]], as [[culturas]] são [[manifestações]] da [[linguagem]] e, portanto, todas provêm de um mesmo ''genos'', ou seja, da tensão ''[[physis]]''/''[[logos]]''. Pelo segundo se considera a [[cultura]] na sua [[diferença]], como uma construção como [[língua]], a partir da [[linguagem]]. Neste caso, não se pode apreender a [[essência]] da [[poesia]] a partir da [[língua]], mas sempre a partir da [[linguagem]]. Então, a [[essência]] da [[poesia]] não se fundamenta na [[cultura]]. Pelo contrário, pois são as [[culturas]] que surgem a partir da [[essência]] da [[poesia]]. Sendo assim, não podemos apreendê-la partindo de uma ou outra [[cultura]], embora [[sempre]] de imediato tenhamos uma [[língua]] como o [[rito]] da [[linguagem]]. Pois é a [[linguagem]] como [[mito]] que dá [[origem]] ([[memória]]) aos [[ritos]], ou seja, às [[línguas]] e, portanto, às [[culturas]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) Citado por Martin Heidegger. In: ______. "Hölderlin und das Wesen der Dichtung". In: ''Erläuterungen zu Hölderlin Dichtung''. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1971, p. 33.
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: (1) Citado por Martin Heidegger. In: ---. "Hölderlin und das Wesen der Dichtung". In: '''Erläuterungen zu Hölderlin Dichtung'''. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1971, p. 33.
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: (1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal ''O Globo'', 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.
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: (1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal '''O Globo''', 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.
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: (1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal ''O Globo'', 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.
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: (1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal '''O Globo''', 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: '''Obras Completas de José Ortega y Gasset''', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. " ''Phýsis'' e humano: a arte”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 263.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. " ''Phýsis'' e humano: a arte”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 263.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. " ''Phýsis'' e humano: a arte”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. " ''Phýsis'' e humano: a arte”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.
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: "Na [[formação]] [[cartesiana]] dos povos [[ocidentais]], há [[sempre]] uma [[referência]] à [[necessidade]] de um [[conhecimento]] comprovado, algo que nos justifique como [[cultura]] superior. Uma [[cultura]] superior que, quando somos socialmente igualitários, evitamos declarar. O "superior", no caso, é muito mais um progresso [[material]], da [[vida]] cotidiana à guerra com o país vizinho, do que uma [[ideia]] de melhor nos conhecermos e conhecermos o [[mundo]] em que vivemos" (1).
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: "Na [[formação]] [[cartesiana]] dos povos [[ocidentais]], há sempre uma [[referência]] à [[necessidade]] de um [[conhecimento]] comprovado, algo que nos justifique como [[cultura]] superior. Uma [[cultura]] superior que, quando somos socialmente igualitários, evitamos declarar. O "superior", no caso, é muito mais um progresso [[material]], da [[vida]] cotidiana à guerra com o país vizinho, do que uma [[ideia]] de melhor nos conhecermos e conhecermos o [[mundo]] em que vivemos" (1).
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: (1) DIEGUES, Cacá. "A queda do céu", crônica publicada no Caderno Opinião do jornal '''O Globo''', p. 3, segunda-feira, 20.5.2019.
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: Desde sempre, o [[educar]] vem sendo sustentado por uma [[cultura]] com três [[dimensões]]: a da [[produção]], que acontece mediante a [[dinâmica]] do [[tempo]]; a da [[transmissão]], que acontece mediante [[ritos]], [[narrativas]] ou [[técnicas]] que passam de [[geração]] para [[geração]], preservando a [[memória]] [[cultural]]; a da [[reprodução]], na qual é conservado o que já foi conquistado no [[tempo]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "A [[memória]] de outras [[culturas]], até milenares, se vê hoje invadida e transmutada pelo [[paradigma]] [[técnico]] e seus [[valores]]. Em verdade, elas perdem seu [[valor]] de [[vigência]] [[ética]] na [[vida]] das [[pessoas]], porque o seu [[vocabulário]] perdeu a força que lhe dava a [[vida]] [[ética]]. Seu [[conhecimento]] tornou-se aquele [[conhecimento]] do [[turista]] que chega, olha e passa, dominado inteiramente pela [[curiosidade]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista '''Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte'''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 21.
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: "Falamos de uma ruptura na [[história]] do [[mundo]] por causa da [[revolução industrial]]. Mas isto não vale apenas no sentido de que as [[regras]] [[gerais]] da [[economia]] de 1810 não são mais as de 1710, mas a [[industrialização]] atinge mesmo o [[coração]] de uma [[cultura]], e é isto o que significa que a [[industrialização]] provocou [[mudanças]] naquilo que os [[homens]] [[pensam]] daquilo que [[fazem]]. Há uma [[verdadeira]] [[mudança]] de [[mentalidade]] e de [[atitudes]] [[coletivas]]" (1).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) DIEGUES, Cacá. "A queda do céu", crônica publicada no Caderno Opinião do jornal ''O Globo'', p. 3, segunda-feira, 20.5.2019.
+
: (1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ---. '''História da Filosofia'''.
 +
: Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS.
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== 14 ==
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: " - '''Uma [[cultura]] [[livre]] de amarras pode fazer a [[diferença]] [[entre]] [[guerra]] e [[paz]], [[democracia]] e [[ditadura]]?'''
 +
: " - ''Não exatamente. Podemos ter [[países]] onde a [[cultura]] é sofisticada e rica, mas o regime [[político]] é belicista e criminoso. A [[cultura]] é uma [[forma]] de [[resiliência]] para as [[pessoas]]. Ela sobrevive nos [[momentos]] mais difíceis e [[trágicos]] da [[humanidade]]. Nesse [[mundo]] onde há um [[espaço]] [[global]], a [[cultura]] é uma das raras [[formas]] de [[diálogo]]. Defendemos uma [[cultura]] de [[pluralidade]] e inclusão dos diversos segmentos da [[sociedade]] '' " (1).
-
== 11 ==
 
-
: Desde sempre, o [[educar]] vem sendo sustentado por uma [[cultura]] com três [[dimensões]]: a da [[produção]], que acontece mediante a [[dinâmica]] do [[tempo]]; a da [[transmissão]], que acontece mediante [[ritos]], [[narrativas]] ou técnicas que passam de [[geração]] para [[geração]], preservando a [[memória]] [[cultural]]; a da [[reprodução]], na qual é conservado o que já foi conquistado no [[tempo]].
 
 +
: Referência:
-
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
+
: Entrevista de ''Audrey Azoulay'' a Ruth de Aquino. In: '''O Globo''', sábado, 16-11-2019, p. 26.
 +
: Observação: ''Audrey Azoulay'' é Diretora-Geral da UNESCO.
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== 15 ==
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: "Toda a [[cultura]] significa lançar a [[luz]] do [[ser]] que brilha em nós sobre o [[mundo]], em que estamos encarnados para arrancá-lo de suas trevas e glorificar nele o [[ser]] também.  Por isto, devemos concluir: o [[mundo]] por si só não é vestígio nenhum do [[ser]], de [[Deus]], mas somente quando nós sobre ele lançarmos a [[luz]] do [[ser]] que brilha em nós: as [[coisas]] do [[mundo]] podem tornar um [[caminho]] para o [[ser]], quando o reflexo da [[luz]] do [[ser]], que lanço sobre eles, faz com que neles eu possa [[descobrir]] e [[reconhecer]] o [[ser]]" (1).
-
== 12 ==
+
 
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: "A [[memória]] de outras [[culturas]], até milenares, se vê hoje invadida e transmutada pelo [[paradigma]] [[técnico]] e seus [[valores]]. Em verdade, elas perdem seu [[valor]] de [[vigência]] [[ética]] na [[vida]] das [[pessoas]], porque o seu [[vocabulário]] perdeu a força que lhe dava
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:  Referência:
-
a [[vida]] [[ética]]. Seu [[conhecimento]] tornou-se aquele [[conhecimento]] do [[turista]] que chega, olha e passa, dominado inteiramente pela [[curiosidade]]" (1).
+
 
 +
:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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== 16 ==
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: "Por [[realidade]] entende-se a ''[[physis]]'', que foi traduzida para o [[latim]] como ''[[natura]]'', ou seja, a [[natureza]]. Mas esta não era concebida como hoje, onde se dá uma [[oposição]] [[entre]] [[natureza]] e [[cultura]]. [[Natureza]] eram todos os [[entes]] e [[cultura]] era [[tudo]] que a [[natureza]] não fazia e precisava do [[ser humano]] para que fosse feito. Este [[fazer]] que a [[natureza]] não fazia e era realizado pelo [[ser humano]], levando a própria [[natureza]] a uma [[plenitude]] que em si mesma ela não realizava, isso se dava pelo [[princípio]] da ''[[techné]]''. ''[[Techné]]'' diz [[conhecimento]]" (1).
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: Referência:
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: (1) '''www.travessiapoetica.blogspot.com'''>2010/10/as-musas-e-essencia-da-criacao-html
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: "Há muitas maneiras de se abordar uma determinada [[cultura]]. O [[caminho]] escolhido será tanto mais fértil quanto mais abertos, operativos e [[questionadores]] se mostrarem os pressupostos.  Podemos [[pensar]] uma [[cultura]] como sendo um [[paradigma]] de [[relações]] [[dinâmicas]] com o [[real]]. Trata-se então de precisar a [[dimensão]] do [[dinâmico]] e o âmbito de um [[paradigma]]" (1).
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: Referência:
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ---. '''Tempos de Metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 187.
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: " As [[referências]] “[[entre]]” o [[mito]] do [[real]] e o [[mito do homem]] constituem a [[essência]], [[sentido]] e trajetória da [[cultura]] [[ocidental]]. Aí [[cultura]] é empregada no [[sentido]] de [[experienciações]] do [[sagrado]]. Os [[ritos]] são a sintaxe [[poética]] dos [[mitos]], enquanto [[narrações]] das  [[questões]]" (1).
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: Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23.

Edição atual tal como 20h55min de 17 de Abril de 2024

1

"Pois que é a cultura? Eu sempre acreditei que era o ciclo que o Indivíduo percorria para chegar ao conhecimento de si próprio; e aquele que recusa segui-lo obtém um muito magro proveito de ter nascido na mais preclara das épocas" (1).


Referência:
(1) KIERKEGAARD, Sören. Temor e tremor. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 62.

2

"Toda cultura resulta de uma conjuntura. Nela o homem se hominiza. Um famoso filme abordou essa situação de uma maneira admirável: 2001: uma odisseia no espaço, de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande época tem sua epopeia. e esta é, sem dúvida nenhuma, a epopeia da tematização, celebração e crítica angustiada da era da Técnica. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na linguagem cinematográfica. Nela, a epopeia reencontra o caráter essencial do narrar" (1).
Procura-se fazer nesse capítulo do livro ("O fenômeno cultural") uma reflexão ampla e essencial do que se compreender por cultura. Eis uma questão extremamente complexa e que se relaciona com outras questões essenciais, geralmente deixada entregue às definições e compreensões meramente sociológicas ou antropológicas. Nestas já se parte de uma posição prévia que não leva em consideração o que há de essencial no fenômeno cultural. Claro que são importantes tais considerações, mas insuficientes, uma vez que não tematizam o que é a cultura em sua essência. Igualmente são insuficientes as reflexões psicológicas. Para que se compreenda um pouco esta nossa crítica, leve-se em consideração que Freud, o grande criador da psicanálise, não partiu de reflexões da psicologia da sua época, mas, sim, do mito de Édipo, narrado na tragédia de Sófocles: Rei Édipo. E ele consegue no início do século XX fazer uma leitura original dessa obra-prima, escrita há 2.400 anos (2).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: ---. O acontecer poético - a história literária, 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
(2) - Manuel Antônio de Castro.

3

"Ora, cultura é o ser do homem se manifestando em seu sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: ---. O acontecer poético - a história literária, 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 35.

3

"O homem cuida do crescimento das coisas da terra e colhe o que ali cresce. Cuidar e colher (colere, cultura) é um modo de construir. O homem constrói não apenas o que se desdobra a partir de si mesmo num crescimento. Ele também constrói no sentido de aedificare, edificando o que não pode surgir e manter-se mediante um crescimento. Construídas e edificadas são, nesse sentido, não somente as construções, mas todos os trabalhos feitos com a mão e instaurados pelo homem. No entanto, os méritos dessas múltiplas construções nunca conseguem preencher a essência do habitar. Ao contrário: elas chegam mesmo a vedar para o habitar a sua essência, tão logo sejam perseguidas e conquistadas somente com vistas a elas mesmas" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". In: ---. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, pp. 168-9.


Ver Também:
*Estudos culturais

4

"Mas o que permanece os poetas o fundam", Hölderlin (1).
Por que a essência da poesia não pode ser apreendida em relação à cultura? Aí há dois caminhos. Pelo primeiro se fundamenta a cultura na essência da linguagem. Nessa dimensão, as culturas são manifestações da linguagem e, portanto, todas provêm de um mesmo genos, ou seja, da tensão physis/logos. Pelo segundo se considera a cultura na sua diferença, como uma construção como língua, a partir da linguagem. Neste caso, não se pode apreender a essência da poesia a partir da língua, mas sempre a partir da linguagem. Então, a essência da poesia não se fundamenta na cultura. Pelo contrário, pois são as culturas que surgem a partir da essência da poesia. Sendo assim, não podemos apreendê-la partindo de uma ou outra cultura, embora sempre de imediato tenhamos uma língua como o rito da linguagem. Pois é a linguagem como mito que dá origem (memória) aos ritos, ou seja, às línguas e, portanto, às culturas.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Citado por Martin Heidegger. In: ---. "Hölderlin und das Wesen der Dichtung". In: Erläuterungen zu Hölderlin Dichtung. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1971, p. 33.

5

"A cultura é o espírito da nação, o valor simbólico que a mantém una, que a faz existir. Ela não é só responsável por produtos de cinema, música, televisão, literatura, artes plásticas etc., como também pelos costumes de um povo, os hábitos da população que se desenvolvem ao longo do tempo" (1).


Referência:
(1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal O Globo, 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.

6

"A cultura moderna ganhou um caráter econômico. Sobretudo nos países que fazem dela um soft power, instrumento de influência através do consumo global. Países como os Estados Unidos exercem seu poder internacional graças ao poder de sua cultura espalhada pelas nações de todos os continentes. Através da produção cinematográfica, uma de suas mais poderosas armas, os americanos vendem ao mundo seus produtos, desde geladeira e automóvel até a própria forma de viver" (1).


Referência:
(1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal O Globo, 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.

7

"Nesta observação creio que pode achar-se a causa desse fato eterno e enigmático que percorre a história humana de ponta a ponta, e de que não se deram senão explicações estúpidas ou superficiais: refiro-me à imortal propensão da mulher ao adorno e ao embelezamento do seu corpo. Visto à luz da ideia que exponho, nada mais natural e, ao mesmo tempo, inevitável. Sua nativa formação fisiológica impõe à mulher o hábito de fixar-se, de atender a seu corpo, que vem a ser o objeto mais próximo dentro da perspectiva de seu mundo. E como a cultura não é senão a ocupação reflexiva sobre aquilo para o qual nossa atenção se volta preferencialmente, a mulher criou a egrégia cultura do corpo, que, historicamente, começou pelo adorno, prosseguiu pelo asseio e se concluiu pela cortesia, genial invento feminino, que é, em conclusão, a fina cultura do gesto" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.

8

"As evidências inquestionáveis que acontecem na dobra tensional de ser e essência do ser humano são:
1ª. Todo ser humano é uma doação presentificadora da phýsis;
2ª. Toda cultura é manifestação da phýsis, enquanto o efetivar-se das possibilidades do humano do ser humano.
Estas duas evidências inquestionáveis nos colocam diante de duas questões em tensão ou dobra permanente: phýsis e ser humano, onde a cultura, como lugar do acontecer dessa tensão, tanto se refere à phýsis quanto se refere ao ser humano. Sem essa referência poética não há cultura nem o humano de todo ser humano se manifesta. Há cultura onde houver sentido e vigorar da linguagem. As diferenças culturais se fundam no acontecer do sentido do ser enquanto linguagem. Tal fundar dá-se e constitui a essência do agir do ser humano. O ser humano torna-se humano quando se experincia no horizonte do sentido do ser e na medida em que habita a linguagem, casa do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 263.

9

"Não é a cultura que faz o homem nem ela se opõe à phýsis. Se o homem, parece, está referenciado à cultura, na verdade, pela cultura o homem se referencia à phýsis. Isso fica, de novo, evidente pelo fato de que diante do enigma e mistério da phýsis, o ser humano não só cultiva, mas, sobretudo e em primeiro lugar, ele cultua. O culto na e pela cultura já evidencia que tudo provém dela porque nela se funda: o ser humano, o cultivado, a cultura e o culto. Nesta evidência não é a identidade cultural que faz o ser humano nem ele se dá essa identidade, mas o ser humano manifestando na cultura a phýsis, manifesta-se como humano e, manifestando-se como humano, eleva a phýsis ao seu grau máximo de realização (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.

10

"Na formação cartesiana dos povos ocidentais, há sempre uma referência à necessidade de um conhecimento comprovado, algo que nos justifique como cultura superior. Uma cultura superior que, quando somos socialmente igualitários, evitamos declarar. O "superior", no caso, é muito mais um progresso material, da vida cotidiana à guerra com o país vizinho, do que uma ideia de melhor nos conhecermos e conhecermos o mundo em que vivemos" (1).


Referência:
(1) DIEGUES, Cacá. "A queda do céu", crônica publicada no Caderno Opinião do jornal O Globo, p. 3, segunda-feira, 20.5.2019.

11

Desde sempre, o educar vem sendo sustentado por uma cultura com três dimensões: a da produção, que acontece mediante a dinâmica do tempo; a da transmissão, que acontece mediante ritos, narrativas ou técnicas que passam de geração para geração, preservando a memória cultural; a da reprodução, na qual é conservado o que já foi conquistado no tempo.


- Manuel Antônio de Castro

12

"A memória de outras culturas, até milenares, se vê hoje invadida e transmutada pelo paradigma técnico e seus valores. Em verdade, elas perdem seu valor de vigência ética na vida das pessoas, porque o seu vocabulário perdeu a força que lhe dava a vida ética. Seu conhecimento tornou-se aquele conhecimento do turista que chega, olha e passa, dominado inteiramente pela curiosidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 21.

13

"Falamos de uma ruptura na história do mundo por causa da revolução industrial. Mas isto não vale apenas no sentido de que as regras gerais da economia de 1810 não são mais as de 1710, mas a industrialização atinge mesmo o coração de uma cultura, e é isto o que significa que a industrialização provocou mudanças naquilo que os homens pensam daquilo que fazem. Há uma verdadeira mudança de mentalidade e de atitudes coletivas" (1).


Referência:
(1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ---. História da Filosofia.
Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS.

14

" - Uma cultura livre de amarras pode fazer a diferença entre guerra e paz, democracia e ditadura?
" - Não exatamente. Podemos ter países onde a cultura é sofisticada e rica, mas o regime político é belicista e criminoso. A cultura é uma forma de resiliência para as pessoas. Ela sobrevive nos momentos mais difíceis e trágicos da humanidade. Nesse mundo onde há um espaço global, a cultura é uma das raras formas de diálogo. Defendemos uma cultura de pluralidade e inclusão dos diversos segmentos da sociedade " (1).


Referência:
Entrevista de Audrey Azoulay a Ruth de Aquino. In: O Globo, sábado, 16-11-2019, p. 26.
Observação: Audrey Azoulay é Diretora-Geral da UNESCO.

15

"Toda a cultura significa lançar a luz do ser que brilha em nós sobre o mundo, em que estamos encarnados para arrancá-lo de suas trevas e glorificar nele o ser também. Por isto, devemos concluir: o mundo por si só não é vestígio nenhum do ser, de Deus, mas somente quando nós sobre ele lançarmos a luz do ser que brilha em nós: as coisas do mundo podem tornar um caminho para o ser, quando o reflexo da luz do ser, que lanço sobre eles, faz com que neles eu possa descobrir e reconhecer o ser" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

16

"Por realidade entende-se a physis, que foi traduzida para o latim como natura, ou seja, a natureza. Mas esta não era concebida como hoje, onde se dá uma oposição entre natureza e cultura. Natureza eram todos os entes e cultura era tudo que a natureza não fazia e precisava do ser humano para que fosse feito. Este fazer que a natureza não fazia e era realizado pelo ser humano, levando a própria natureza a uma plenitude que em si mesma ela não realizava, isso se dava pelo princípio da techné. Techné diz conhecimento" (1).


Referência:
(1) www.travessiapoetica.blogspot.com>2010/10/as-musas-e-essencia-da-criacao-html

17

"Há muitas maneiras de se abordar uma determinada cultura. O caminho escolhido será tanto mais fértil quanto mais abertos, operativos e questionadores se mostrarem os pressupostos. Podemos pensar uma cultura como sendo um paradigma de relações dinâmicas com o real. Trata-se então de precisar a dimensão do dinâmico e o âmbito de um paradigma" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 187.

18

" As referênciasentre” o mito do real e o mito do homem constituem a essência, sentido e trajetória da cultura ocidental. Aí cultura é empregada no sentido de experienciações do sagrado. Os ritos são a sintaxe poética dos mitos, enquanto narrações das questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23.
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