Bem

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: [[Bem]] é o engendramento do que [[é]] pelo [[Belo]]. Será então um [[belo]] que nada tem a ver com o [[estético]], mas é a [[vigência]] do que [[é]].  
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: [[Bem]] é o engendramento do que [[é]] pelo [[Belo]]. Será então um [[belo]] que [[nada]] tem a [[ver]] com o [[estético]], mas é a [[vigência]] do que [[é]].  
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: "Na e com a [[libertação]] da [[liberdade]], o [[homem]] nunca deixa de apostar no [[Bem]]. Por isso é que o [[Bem]] se dá e só se dá no [[apelo]] e como [[apelo]] de [[libertação]]. Aqui [[Bem]] não diz bons [[costumes]], nem as [[normas]] da [[moralidade]], nem [[valor]] de um ou para um [[sujeito]], mas [[origem]] e [[fonte]] de [[ser]]. O [[Bem]] se recomenda, como desafio de conquista da [[liberdade]] numa luta sem tréguas pela [[libertação]]. [[Bem]] e [[liberdade]] coincidem, por provirem e conviverem numa mesma aposta [[ontológica]] de uma [[realização]] criadora em [[tudo]] que se faz e/ou se deixa de [[fazer]]. Neste nível de empenho [[radical]], [[fazer]] já é [[ser]] e [[ser]] já inclui [[fazer]]. Pois na [[condição humana]], [[ser]] e [[ter]] jogam o [[mesmo]] [[jogo]], o [[jogo]] de uma incessante [[libertação]]" (1).
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: "Na e com a [[libertação]] da [[liberdade]], o [[homem]] nunca deixa de apostar no [[Bem]]. Por isso é que o [[Bem]] se dá e só se dá no [[apelo]] e como [[apelo]] de [[libertação]]. Aqui [[Bem]] não diz bons [[costumes]], nem as [[normas]] da [[moralidade]], nem [[valor]] de um ou para um [[sujeito]], mas [[origem]] e [[fonte]] de [[ser]]. O [[Bem]] se recomenda, como desafio de conquista da [[liberdade]] numa luta sem tréguas pela [[libertação]]. [[Bem]] e [[liberdade]] coincidem, por provirem e conviverem numa mesma aposta [[ontológica]] de uma [[realização]] criadora em [[tudo]] que se faz e/ou se deixa de [[fazer]]. Neste nível de empenho [[radical]], [[fazer]] já é [[ser]] e [[ser]] já inclui [[fazer]]. Pois na [[condição humana]], [[ser]] e [[ter]] jogam o [[mesmo]] [[jogo]], o [[jogo]] de uma [[incessante]] [[libertação]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis: Daimon Editora, 2013, 63.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis: Daimon Editora, 2013, 63.
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: "Quando pergunto pergunto pelo “é”: se é e o que é. Se pergunto assim, então posso fundamentalmente perguntar por [[tudo]]. Porém, o perguntar não é só um exercício do [[saber]], pois se já soubesse tudo nem mais poderia perguntar. O perguntar é também um exercício do [[querer]], enquanto tendo para o perguntado e quero atingi-lo e exercê-lo pelo saber. O tender e o querer, no entanto, supõem que o seu objeto seja algo para o qual se possa tender e o qual se possa querer. Mas perguntar eu só posso se já anteriormente sei, não só que o perguntado pode ser sabido, mas também se posso tender a ele para tentar sabê-lo mais e mais. Ora, se posso perguntar, sem mais, por tudo, isto supõe que tudo não somente é inteligível, mas também que tudo pode ser objeto da tendência, do querer, do meu [[espírito]], ou seja, que tudo, além do ser inteligível é também “apetecível”. Ora, o que é apetecível ou objeto de uma tendência em vista da auto-realização chamamos de “bem”. Portanto, tudo o que é, enquanto é, é bom. “Omne ens est bonum”. O “[[bom]]” é, portanto, uma propriedade transcendental do ente (1)". [Ver o ensaio do Emmanuel: “O problema da Poética de Aristóteles” (2)]
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: "Quando [[pergunto]] [[pergunto]] pelo [[“é”]]: se [[é]] e [[o que é]]. Se [[pergunto]] assim, então posso fundamentalmente [[perguntar]] por [[tudo]]. Porém, o [[perguntar]] não é só um exercício do [[saber]], pois se já soubesse [[tudo]] nem mais poderia [[perguntar]]. O [[perguntar]] é também um exercício do [[querer]], enquanto tendo para o [[perguntado]] e quero atingi-lo e exercê-lo pelo [[saber]]. O tender e o [[querer]], no entanto, supõem que o seu [[objeto]] seja [[algo]] para o qual se possa tender e o qual se possa [[querer]]. Mas [[perguntar]] eu só posso se já anteriormente sei, não só que o perguntado pode [[ser]] [[sabido]], mas também se posso [[tender]] a ele para tentar sabê-lo mais e mais. Ora, se [[posso]] [[perguntar]], sem mais, por [[tudo]], isto supõe que [[tudo]] não somente [[é]] [[inteligível]], mas também que [[tudo]] pode [[ser]] [[objeto]] da [[tendência]], do [[querer]], do meu [[espírito]], ou seja, que [[tudo]], além do [[ser]] [[inteligível]] [[é]] também [[“apetecível”]]. Ora, o que é [[apetecível]] ou [[objeto]] de uma [[tendência]] em vista da [[auto-realização]] chamamos de [[“bem”]]. Portanto, [[tudo]] [[o que é]], enquanto [[é]], [[é]] [[bom]]. [[“Omne ens est bonum”]]. O “[[bom]]” é, portanto, uma [[propriedade]] [[transcendental]] do [[ente]] (1)".
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.
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: (1) HUMMES O.F.M., Dom Cláudio. ''Metafísica''. Tratado transcrito datilograficamente por Manuel Antônio de Castro. Daltro Filho [Hoje Imigrantes] RS, 1964, p. 113.  
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: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar 2''. Petrópolis: Vozes, 1992.
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: "Talvez [[desilusão]] seja o [[medo]] de não pertencer mais a um [[sistema]]. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes, não era [[bom]]. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a [[esperança]]" (1).
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: "Talvez [[desilusão]] seja o [[medo]] de não pertencer mais a um [[sistema]]. No entanto, se deveria dizer assim: ele está muito [[feliz]] porque finalmente foi desiludido. [[O que]] [[eu]] era antes, não era [[bom]]. Mas era desse não-bom que [[eu]] havia organizado o [[melhor]]: a [[esperança]]" (1).
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: LISPECTOR, Clarice. ''A paixão segundo GH'', 3. e. Rio de Janeiro: Sabiá, 1964, p. 10.
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: LISPECTOR, Clarice. '''A paixão segundo GH, 3. e. Rio de Janeiro: Sabiá, 1964''', p. 10.
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: "No [[princípio]] de tudo a [[ação]]. O [[agir]] [[humano]] é empenho e conquista de [[ser]], é [[percepção]] e [[vivência]] de não ser na experiência de [[vir a ser]]. O [[homem]] não faz apenas bem e /ou mal as [[coisas]] que faz. Ele faz também um [[bem]] e/ou um [[mal]] a si mesmo e aos [[outros]]. Mas em tudo que venha a [[fazer]] e/ou deixar de [[fazer]] lhe chega sempre um convite radical, o convite de [[fazer]] o [[bem]] e evitar o [[mal]]. É neste sentido que, na dinâmica de todo [[agir]] [[humano]], vive um tríplice apelo: [[fazer]] [[bem]], [[fazer]] um [[bem]], fazer o [[bem]]. Assim, a [[ética]], em que mora todo [[agir]] dos [[homens]], consiste em [[fazer]] o [[bem]] e evitar o [[mal]] em tudo." (1).
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: "No [[princípio]] de [[tudo]] a [[ação]]. O [[agir]] [[humano]] é [[empenho]] e conquista de [[ser]], é [[percepção]] e [[vivência]] de não ser na [[experiência]] de [[vir a ser]]. O [[homem]] não faz apenas [[bem]] e /ou [[mal]] as [[coisas]] que faz. Ele faz também um [[bem]] e/ou um [[mal]] a si mesmo e aos [[outros]]. Mas em [[tudo]] que venha a [[fazer]] e/ou deixar de [[fazer]] lhe chega [[sempre]] um convite [[radical]], o convite de [[fazer]] o [[bem]] e evitar o [[mal]]. É neste [[sentido]] que, na [[dinâmica]] de todo [[agir]] [[humano]], vive um tríplice [[apelo]]: [[fazer]] [[bem]], [[fazer]] um [[bem]], fazer o [[bem]]. Assim, a [[ética]], em que mora todo [[agir]] dos [[homens]], consiste em [[fazer]] o [[bem]] e evitar o [[mal]] em [[tudo]]." (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. '''Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013''', p. 63.
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: (1) ROSA, João Guimarães. ''Grande sertão: veredas''. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 77.
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: (1) ROSA, João Guimarães. '''Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968''', p. 77.
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: " : - "Mano velho, tu é nado aqui ou de donde? Acha mesmo assim que o [[sertão]] é [[bom]]? ..." Bestiaga que ele me respondeu, e respondeu bem; e digo ao senhor:  
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: " : - "Mano velho, tu é nado aqui ou de donde? Acha mesmo assim que o [[sertão]] é [[bom]]? ..." Bestiaga que ele me respondeu, e respondeu [[bem]]; e digo ao senhor:  
: " : - [[Sertão]] não é malino nem caridoso, mano oh mano!: - ... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo" (1).
: " : - [[Sertão]] não é malino nem caridoso, mano oh mano!: - ... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo" (1).
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: (1) ROSA, João Guimarães. ''Grande sertão: veredas''. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 394.
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: (1) ROSA, João Guimarães. '''Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968''', p. 394.
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: "Aristóteles abre o Primeiro Livro da ''Ética'' com as [[palavras]]: ''pasa práxis agathou tinos ephiesthai'': ''em toda [[ação]] vive um [[empenho]] por algum [[bem]]''" (1).
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: "[[Aristóteles]] abre o Primeiro Livro da '''Ética''' com as [[palavras]]: ''pasa práxis agathou tinos ephiesthai'': ''em [[toda]] [[ação]] vive um [[empenho]] por algum [[bem]]''" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O problema  da ''Poética'' de Aristóteles". In: -----. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis R/J: Vozes, 1992, p. 156.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O problema  da '''Poética''' de [[Aristóteles]]". In: -----. '''Aprendendo a pensar II. Petrópolis R/J: Vozes, 1992''', p. 156.
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: "[[Zeus]], na sua união com ''[[Thêmis]]'' (Lei Ancestral, [[Ordem]]) gera a [[Ordenação]] interior de seu reinado, a [[Ordem]] em todos os seus aspectos, pois dessa união nascem suas filhas ''[[Hôrai]]'' e ''[[Môirai]]'', que dosam e regram a distribuição de [[bem]] e de [[mal]]. Isto é possível porque de uma outra união, com ''[[Mêtis]]'' ([[sapiência]], [[saber]] e [[sabedoria]]), ele incorpora toda a [[sabedoria]], que lhe assegura um [[poder]] sobre o imprevisível, pois com ''[[Mêtis]]'' ele conhece o [[bem]] e o [[mal]], cambiante e instável como a [[natureza]] do [[mar]], onde todos, como [[eternos]] [[Ulisses]], fazemos a [[caminhada]] de [[travessia]]" (1).
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: "[[Zeus]], na sua união com ''[[Thêmis]]'' ([[Lei]] [[Ancestral]], [[Ordem]]) gera a [[Ordenação]] interior de seu reinado, a [[Ordem]] em todos os seus [[aspectos]], pois dessa união nascem suas filhas ''[[Hôrai]]'' e ''[[Môirai]]'', que dosam e regram a [[distribuição]] de [[bem]] e de [[mal]]. Isto é [[possível]] porque de uma outra união, com ''[[Mêtis]]'' ([[sapiência]], [[saber]] e [[sabedoria]]), ele incorpora [[toda]] a [[sabedoria]], que lhe assegura um [[poder]] sobre o [[imprevisível]], pois com ''[[Mêtis]]'' ele conhece o [[bem]] e o [[mal]], cambiante e instável como a [[natureza]] do [[mar]], onde todos, como [[eternos]] [[Ulisses]], fazemos a [[caminhada]] de [[travessia]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163.  
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. '''Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011''', p. 163.
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: (1) ANSELMO, Santo. ''Proslógio''. In: ''Os Pensadores''. ''Santo Anselmo'' - ''Abelardo''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 107.
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: (1) ANSELMO, Santo. ''Proslógio''. In: '''Os Pensadores'''. '''Santo Anselmo''' - '''Abelardo'''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 107.
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: (1) ANSELMO, Santo. "Cap. XVIII - Como nem em Deus nem na sua eternidade, que é ele mesmo, há pates". In: ''Proslógio''. Coleção: ''Os Pensadores''. ''Santo Anselmo'' - ''Abelardo''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 115.
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: (1) ANSELMO, Santo. "Cap. XVIII - Como nem em Deus nem na sua eternidade, que é ele mesmo, há pates". In: ''Proslógio''. Coleção: '''Os Pensadores'''. '''Santo Anselmo''' - '''Abelardo'''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 115.
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: "Que esse [[Bem]] é, ao mesmo [[tempo]], e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma [[unidade]] que é o [[total]] e [[sumo]] [[Bem]]" (1). Na [[Trindade]] [[Nada]] falta porque é o [[Nada Criativo]]. Por isso, é o [[Total]] e [[Sumo]] [[Bem]].
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: "Que esse [[Bem]] é, ao mesmo [[tempo]], e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma [[unidade]] que é o [[total]] e [[sumo]] [[Bem]]" (1).  
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: Na [[Trindade]] [[Nada]] falta porque é o [[Nada Criativo]]. Por isso, é o [[Total]] e [[Sumo]] [[Bem]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) ANSELMO, Santo. "Cap. XXIII - Que esse [[Bem]] é, ao mesmo [[tempo]], e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma [[unidade]] que é o [[total]] e [[sumo]] [[Bem]]" (1). In: ''Proslógio''. Coleção: ''Os Pensadores''. ''Santo Anselmo'' - ''Abelardo''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 118.
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: (1) ANSELMO, Santo. "Cap. XXIII - Que esse [[Bem]] é, ao mesmo [[tempo]], e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma [[unidade]] que é o [[total]] e [[sumo]] [[Bem]]" (1). In: ''Proslógio''. Coleção: '''Os Pensadores'''. '''Santo Anselmo''' - '''Abelardo'''. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 118.
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: "As [[ações]], enquanto tais, não são com efeito, nem [[boas]] nem [[más]]. Por exemplo: o que estamos fazendo neste [[momento]], como seja beber,  cantar, falar, [[nada]] disto é em si mesmo [[belo]], mas torna-se [[belo]] de acordo com a maneira como o fazemos. Se o fizermos segundo as [[regras]] do honesto e do [[justo]], torna-se [[belo]]; se o fizermos contrariamente à [[justiça]], torna-se feio. O mesmo podemos afirmar de [[Eros]], pois que nem todo [[Eros]] é em si mesmo [[belo]] e louvável, mas de torna [[belo]] quando nos leva a [[amar]] segundo as [[regras]] do [[belo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) PLATÃO. ''O Simpósio ou O do Amor''. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 34. Discurso de Pausânias.
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== 14 ==
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: "A aposta do [[Bem]] pelo [[Bem]] traz consigo o [[apelo]] de [[vir a ser]] nas [[ações]] o que já se [[é]] e não se é no [[ser]] que se tem e não se tem. Por outro lado, a urgência da [[libertação]] implica e traz consigo o [[desafio]] do [[Bem]] e do [[Mal]]. Percorrer o [[curso]] de [[libertação]] próprio desta urgência supõe apostar na [[criação]] do [[inesperado]] que alimenta de [[esperança]] toda espera. Radicalmente, nenhuma [[ética]] se reduz à prescrição de [[normas]], nem está apenas no cumprimento do [[dever]]. Toda [[prescrição]] e todo [[dever]] já chegam sempre tarde. São um [[evento]] temporão" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 64.
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== 15 ==
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: "A [[realidade]], enquanto [[linguagem]] e [[sentido]], é o que denominamos: [[mundo]]. No [[amar]] e quando amamos vigoramos em nosso [[amor]] no [[mundo]], isto é, [[tudo]] entra no âmbito do [[sentido]], da [[linguagem]], pois sem esta não há [[sentido]], [[unidade]] e [[musicalidade]]. [[Amar]], portanto, é sempre deixar [[acontecer]] [[mundo]] e [[sentido]], [[unidade]] e [[musicalidade]]. [[Amar]] como [[verbo]] é o deixar [[vigorar]] o [[sentido]] [[musical]] do [[ser]]. E é sempre no [[horizonte]] de [[mundo]] e [[sentido]] que acontece [[verdade]], [[unidade]], [[beleza]], [[bem]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.
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== 16 ==
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: "O [[nada]] é [[fonte]] de [[tudo]] que [[é]], assim como o [[silêncio]] é a [[fonte]] de toda [[fala]]. Por isso mesmo o [[nada]] nos aparece como a [[morte]]. Porém, sem esta não há [[posição]] para o [[vivente]]. [[Nada]] é [[vida]]. [[Vida]] é [[morte]]. Todo [[mal]] e [[dor]] é da nossa [[condição de humanos]] [[finitos]]. Desse modo o maior [[mal]] e a maior [[dor]] é a [[distância]] do [[Nada]]. E o maior [[bem]] e [[plenitude]] é sua [[proximidade]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.
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== 17 ==
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: "Então do que deve [[falar]] uma Aula [[Inaugural]]? Sem dúvida nenhuma, do que é [[Inaugural]]. Esta [[palavra]] tem muitos [[significados]]. Contudo, o que o [[inaugural]] inaugura deve ser a [[questão]] desta Aula. Escolhi uma [[questão]]: a [[linguagem]] como nosso maior [[bem]]. Mas é disso que justamente [[Heráclito]] trata: nosso maior [[bem]] é a [[sabedoria]] e ela é a [[linguagem]]. Mas ela não se pode [[ensinar]], só se pode [[apreender]] e [[compreender]] como [[escuta]]. Por isso, não me escutem, mas auscultem e escutem o ''[[Logos]]''. É o que [[Heráclito]] nos diz (1): ''[[Escutando]] não a mim, mas o ''[[Logos]]'', é [[sábio]] concordar que [[tudo]] é [[um]]'' " (2).
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: Referências:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 5.
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 +
: (2) HERÁCLITO, Frag. 50. In: ''Os Pensadores Originários: Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Editora Vozes: Petrópolis / RJ, 1991.
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== 18 ==
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: "Na realidade, a [[gramática]] está estreitamente ligada à [[retórica]] e esta se guiava por interesses econômicos e formais, fazendo do ''[[logos]]'' [[humano]] o seu [[fundamento]] e interpretando a [[linguagem]] como [[língua]], tornando-se esta um [[instrumento]] [[político]] de tomada do [[poder]] e de convencimento das [[mentes]] dos [[cidadãos]]. É a [[publicidade]] de hoje. [[Platão]], diante dessa [[prática]], escreve o [[diálogo]] ''[[Fedro]]'', onde ataca o [[formalismo]] [[retórico]] e propõe, em seu lugar, a [[dialética]]. Nesta, a [[linguagem]] e seu uso são determinados pela [[ideia]] de [[Bem]], fazendo do [[discurso]] algo de [[Belo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 18.
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== 19 ==
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: "... a [[questão]] do [[finito]] só aparece como [[finito]], [[essencial]] e inapelavelmente, como sendo [[ente]] e [[ser]], ou seja, [[finito]] e [[infinito]]. Disto resulta que, fundamentalmente, o que somos, somos [[sempre]] como [[língua]] e [[linguagem]], somos [[sempre]] como [[eu]] e [[outro]], somos [[sempre]] como [[co-letividade]] [[originária]], somos [[sempre]] como [[proximidade]], onde esta é a [[memória]] [[infinita]] [[vigorando]]. E, como tal, diz respeito a cada um, ao [[outro]], ao presentificado, ao presentificável, a todos os [[povos]]. Queiramos ou não, a [[linguagem]] é o nosso maior [[bem]]. Em que [[sentido]]? No da [[identidade]] e [[diferença]] em relação ao que cada um [[é]], ao [[ser]] de cada um, ao [[ser]] dos [[seres]]. A [[linguagem]] é o nosso maior [[bem]], porque é ''[[ethos]]''. ''[[Ethos]]'' é a [[morada]], [[Casa do Ser]]: nosso maior [[bem]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.

Edição atual tal como 20h38min de 29 de fevereiro de 2024

1

Bem é o engendramento do que é pelo Belo. Será então um belo que nada tem a ver com o estético, mas é a vigência do que é.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
* Mal

2

"Na e com a libertação da liberdade, o homem nunca deixa de apostar no Bem. Por isso é que o Bem se dá e só se dá no apelo e como apelo de libertação. Aqui Bem não diz bons costumes, nem as normas da moralidade, nem valor de um ou para um sujeito, mas origem e fonte de ser. O Bem se recomenda, como desafio de conquista da liberdade numa luta sem tréguas pela libertação. Bem e liberdade coincidem, por provirem e conviverem numa mesma aposta ontológica de uma realização criadora em tudo que se faz e/ou se deixa de fazer. Neste nível de empenho radical, fazer já é ser e ser já inclui fazer. Pois na condição humana, ser e ter jogam o mesmo jogo, o jogo de uma incessante libertação" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: Filosofia contemporânea. Teresópolis: Daimon Editora, 2013, 63.

3

"Quando pergunto pergunto pelo “é”: se é e o que é. Se pergunto assim, então posso fundamentalmente perguntar por tudo. Porém, o perguntar não é só um exercício do saber, pois se já soubesse tudo nem mais poderia perguntar. O perguntar é também um exercício do querer, enquanto tendo para o perguntado e quero atingi-lo e exercê-lo pelo saber. O tender e o querer, no entanto, supõem que o seu objeto seja algo para o qual se possa tender e o qual se possa querer. Mas perguntar eu só posso se já anteriormente sei, não só que o perguntado pode ser sabido, mas também se posso tender a ele para tentar sabê-lo mais e mais. Ora, se posso perguntar, sem mais, por tudo, isto supõe que tudo não somente é inteligível, mas também que tudo pode ser objeto da tendência, do querer, do meu espírito, ou seja, que tudo, além do ser inteligível é também “apetecível”. Ora, o que é apetecível ou objeto de uma tendência em vista da auto-realização chamamos de “bem”. Portanto, tudo o que é, enquanto é, é bom. “Omne ens est bonum”. O “bom” é, portanto, uma propriedade transcendental do ente (1)".


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.

4

"Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto, se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes, não era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança" (1).


Referência:
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo GH, 3. e. Rio de Janeiro: Sabiá, 1964, p. 10.

5

"No princípio de tudo a ação. O agir humano é empenho e conquista de ser, é percepção e vivência de não ser na experiência de vir a ser. O homem não faz apenas bem e /ou mal as coisas que faz. Ele faz também um bem e/ou um mal a si mesmo e aos outros. Mas em tudo que venha a fazer e/ou deixar de fazer lhe chega sempre um convite radical, o convite de fazer o bem e evitar o mal. É neste sentido que, na dinâmica de todo agir humano, vive um tríplice apelo: fazer bem, fazer um bem, fazer o bem. Assim, a ética, em que mora todo agir dos homens, consiste em fazer o bem e evitar o mal em tudo." (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

6

"O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 77.

7

" : - "Mano velho, tu é nado aqui ou de donde? Acha mesmo assim que o sertão é bom? ..." Bestiaga que ele me respondeu, e respondeu bem; e digo ao senhor:
" : - Sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano!: - ... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 394.

8

"Aristóteles abre o Primeiro Livro da Ética com as palavras: pasa práxis agathou tinos ephiesthai: em toda ação vive um empenho por algum bem" (1).
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O problema da Poética de Aristóteles". In: -----. Aprendendo a pensar II. Petrópolis R/J: Vozes, 1992, p. 156.

9

"Zeus, na sua união com Thêmis (Lei Ancestral, Ordem) gera a Ordenação interior de seu reinado, a Ordem em todos os seus aspectos, pois dessa união nascem suas filhas Hôrai e Môirai, que dosam e regram a distribuição de bem e de mal. Isto é possível porque de uma outra união, com Mêtis (sapiência, saber e sabedoria), ele incorpora toda a sabedoria, que lhe assegura um poder sobre o imprevisível, pois com Mêtis ele conhece o bem e o mal, cambiante e instável como a natureza do mar, onde todos, como eternos Ulisses, fazemos a caminhada de travessia" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163.

10

"Apesar de tu seres absoluta e supremamente justo, também és benigno com os maus, justamente porque és total e supremamente bom. Serias, pois, menos justo, se não fosses benigno com os maus. De fato, é assaz mais justo aquele que é bom para com os bons e com os maus do que aquele que é bom apenas com os bons. E aquele que é bom, punindo e perdoando aos maus, é melhor que quem os pune apenas" (1).


Referência:
(1) ANSELMO, Santo. Proslógio. In: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 107.

11

"Mas aquilo que tem partes não é uno, e, sim, composto e distinto de si mesmo e pode-se fracionar, ou na realidade ou pelo ato do pensamento. Porém, isso não se pode afirmar de ti, que és o ser do qual não se pode pensar nenhuma coisa melhor" (1).


Referência:
(1) ANSELMO, Santo. "Cap. XVIII - Como nem em Deus nem na sua eternidade, que é ele mesmo, há pates". In: Proslógio. Coleção: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 115.

12

"Que esse Bem é, ao mesmo tempo, e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma unidade que é o total e sumo Bem" (1).
Na Trindade Nada falta porque é o Nada Criativo. Por isso, é o Total e Sumo Bem.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) ANSELMO, Santo. "Cap. XXIII - Que esse Bem é, ao mesmo tempo, e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma unidade que é o total e sumo Bem" (1). In: Proslógio. Coleção: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 118.

13

"As ações, enquanto tais, não são com efeito, nem boas nem más. Por exemplo: o que estamos fazendo neste momento, como seja beber, cantar, falar, nada disto é em si mesmo belo, mas torna-se belo de acordo com a maneira como o fazemos. Se o fizermos segundo as regras do honesto e do justo, torna-se belo; se o fizermos contrariamente à justiça, torna-se feio. O mesmo podemos afirmar de Eros, pois que nem todo Eros é em si mesmo belo e louvável, mas de torna belo quando nos leva a amar segundo as regras do belo" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. O Simpósio ou O do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 34. Discurso de Pausânias.


14

"A aposta do Bem pelo Bem traz consigo o apelo de vir a ser nas ações o que já se é e não se é no ser que se tem e não se tem. Por outro lado, a urgência da libertação implica e traz consigo o desafio do Bem e do Mal. Percorrer o curso de libertação próprio desta urgência supõe apostar na criação do inesperado que alimenta de esperança toda espera. Radicalmente, nenhuma ética se reduz à prescrição de normas, nem está apenas no cumprimento do dever. Toda prescrição e todo dever já chegam sempre tarde. São um evento temporão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 64.

15

"A realidade, enquanto linguagem e sentido, é o que denominamos: mundo. No amar e quando amamos vigoramos em nosso amor no mundo, isto é, tudo entra no âmbito do sentido, da linguagem, pois sem esta não há sentido, unidade e musicalidade. Amar, portanto, é sempre deixar acontecer mundo e sentido, unidade e musicalidade. Amar como verbo é o deixar vigorar o sentido musical do ser. E é sempre no horizonte de mundo e sentido que acontece verdade, unidade, beleza, bem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.

16

"O nada é fonte de tudo que é, assim como o silêncio é a fonte de toda fala. Por isso mesmo o nada nos aparece como a morte. Porém, sem esta não há posição para o vivente. Nada é vida. Vida é morte. Todo mal e dor é da nossa condição de humanos finitos. Desse modo o maior mal e a maior dor é a distância do Nada. E o maior bem e plenitude é sua proximidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.

17

"Então do que deve falar uma Aula Inaugural? Sem dúvida nenhuma, do que é Inaugural. Esta palavra tem muitos significados. Contudo, o que o inaugural inaugura deve ser a questão desta Aula. Escolhi uma questão: a linguagem como nosso maior bem. Mas é disso que justamente Heráclito trata: nosso maior bem é a sabedoria e ela é a linguagem. Mas ela não se pode ensinar, só se pode apreender e compreender como escuta. Por isso, não me escutem, mas auscultem e escutem o Logos. É o que Heráclito nos diz (1): Escutando não a mim, mas o Logos, é sábio concordar que tudo é um " (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 5.
(2) HERÁCLITO, Frag. 50. In: Os Pensadores Originários: Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Editora Vozes: Petrópolis / RJ, 1991.

18

"Na realidade, a gramática está estreitamente ligada à retórica e esta se guiava por interesses econômicos e formais, fazendo do logos humano o seu fundamento e interpretando a linguagem como língua, tornando-se esta um instrumento político de tomada do poder e de convencimento das mentes dos cidadãos. É a publicidade de hoje. Platão, diante dessa prática, escreve o diálogo Fedro, onde ataca o formalismo retórico e propõe, em seu lugar, a dialética. Nesta, a linguagem e seu uso são determinados pela ideia de Bem, fazendo do discurso algo de Belo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 18.

19

"... a questão do finito só aparece como finito, essencial e inapelavelmente, como sendo ente e ser, ou seja, finito e infinito. Disto resulta que, fundamentalmente, o que somos, somos sempre como língua e linguagem, somos sempre como eu e outro, somos sempre como co-letividade originária, somos sempre como proximidade, onde esta é a memória infinita vigorando. E, como tal, diz respeito a cada um, ao outro, ao presentificado, ao presentificável, a todos os povos. Queiramos ou não, a linguagem é o nosso maior bem. Em que sentido? No da identidade e diferença em relação ao que cada um é, ao ser de cada um, ao ser dos seres. A linguagem é o nosso maior bem, porque é ethos. Ethos é a morada, Casa do Ser: nosso maior bem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.