Pensamento
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : O [[pensamento]] não [[é]], se por "''é''" entendemos um determinado [[ente]] em sua [[forma]] e [[conteúdo]] entitativo. "O [[pensamento]] con-suma a [[referência]] do [[Ser]] à [[Essência]] do [[homem]]" (1). Neste [[referenciar]], o [[pensamento]] se torna [[linguagem]] do [[Ser]]. A [[linguagem]] não [[é]]; dá sentido ético-poético ao [[agir]] do [[homem]]. E, dando [[sentido]], [[é]]. O [[pensamento]] então [[é]] o [[Ser]] se dando ([[tempo]]) enquanto [[linguagem]] no [[homem]]. [[Pensar]] é [[agir]], é | + | : O [[pensamento]] não [[é]], se por "''é''" entendemos um determinado [[ente]] em sua [[forma]] e [[conteúdo]] entitativo. "O [[pensamento]] con-suma a [[referência]] do [[Ser]] à [[Essência]] do [[homem]]" (1). |
+ | : Neste [[referenciar]], o [[pensamento]] se torna [[linguagem]] do [[Ser]]. A [[linguagem]] não [[é]]; dá [[sentido]] [[ético]]-[[poético]] ao [[agir]] do [[homem]]. E, dando [[sentido]], [[é]]. O [[pensamento]] então [[é]] o [[Ser]] se dando ([[tempo]]) enquanto [[linguagem]] no [[homem]]. [[Pensar]] é [[agir]], é [[consumar]] a [[referência]] do [[homem]] ao [[Ser]]. Na [[referência]], o [[ser humano]] chega a [[ser]] o que [[é]]. E o que no [[ser humano]] [[é]] [[é]] o que lhe é [[próprio]], o [[ser]]. Chegar a conquistar e [[realizar]] o que [[é]] [[próprio]] é o que se pode [[denominar]]: [[pensar]]. | ||
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. '''Sobre o humanismo | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Sobre o [[humanismo]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.''' |
== 2 == | == 2 == | ||
- | : "O [[Pensamento]] é um [[passado]] tão [[vigente]] que [[sempre]] está por vir. Qualquer | + | : "O [[Pensamento]] é um [[passado]] tão [[vigente]] que [[sempre]] está por vir. Qualquer esforço da [[Filosofia]] não deixa de [[ser]] um esforço do e pelo [[Pensamento]]. E por quê? Porque nenhum esforço [[filosófico]], em qualquer hora, tanto outrora como agora, pode dispensar a força de [[futuro]] do [[Pensamento]] no [[passado]]. Por isso também toda a [[Filosofia]] vive de [[pensar]] a [[História]] da [[Filosofia]]" (1). |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "Apresentação". In: ---. [[Filosofia]] [[grega]] - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 13.''' |
== 3 == | == 3 == | ||
- | : "O [[pensamento]] | + | : "O [[pensamento]] con-suma a [[referência]] do [[Ser]] à [[Essência]] do [[homem]]. Não a produz nem a efetua. O [[pensamento]] apenas a restitui ao [[Ser]] como [[algo]] que lhe foi entregue pelo [[próprio]] [[Ser]]. O [[ser]] já se destinou [[sempre]] ao [[pensamento]]" (1). |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. '''Sobre o humanismo | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Sobre o [[humanismo]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.''' |
== 4 == | == 4 == | ||
- | : "O entendimento da [[história]] nos convida para a [[verdade]] do [[Ser]], lá onde o estático e o dinâmico, o [[absoluto]] e o | + | : "O entendimento da [[história]] nos convida para a [[verdade]] do [[Ser]], lá onde o estático e o dinâmico, o [[absoluto]] e o relativo, o [[divino]] e o [[humano]], dão lugar ao [[pensamento]] [[essencial]]. Daí interessarem [[sempre]] as [[palavras]] de [[Heidegger]]: "Transformar em [[linguagem]] cada vez esse ad-vento permanente do [[Ser]] que, em sua [[permanência]], espera pelo [[homem]], é a única [[causa]] (''Sache'') do [[pensamento]]. É por isso que os [[pensadores]] [[Essenciais]] dizem [[sempre]] o [[mesmo]] (''das Selbe''), isso, no entanto, não significa que digam [[sempre]] [[coisas]] [[iguais]] (''das Gleiche'')" (1). |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. '''Sobre o humanismo | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Sobre o [[humanismo]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1967, p. 98.''' |
== 5 == | == 5 == | ||
- | : "Se, para o [[conhecimento]], o grande [[desafio]] está em [[conhecer]] o [[desconhecido]], para o [[pensamento]], o [[desafio]] [[é]] [[pensar]] o [[conhecido]]. Todo [[pensamento]] só [[pensa]] o já [[pensado]] no e pelo não [[pensado]]. Neste [[sentido]], o já [[pensado]] [[é]] o que há de mais | + | : "Se, para o [[conhecimento]], o grande [[desafio]] está em [[conhecer]] o [[desconhecido]], para o [[pensamento]], o [[desafio]] [[é]] [[pensar]] o [[conhecido]]. Todo [[pensamento]] só [[pensa]] o já [[pensado]] no e pelo não [[pensado]]. Neste [[sentido]], o já [[pensado]] [[é]] o que há de mais escondido e [[velado]] no e pelo [[conhecimento]] que gera. Se, para o [[conhecimento]], esclarecer está em levar o [[obscuro]] para o [[claro]], no [[pensamento]] se dá o contrário: esclarecer é levar o [[claro]] para o escuro, desmascarando o já [[sabido]], ao [[revelar]] o não [[sabido]]. É nisto que reside toda a [[ironia]] socrática do não [[saber]] no [[saber]]" (1). |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Husserl e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "A [[fenomenologia]] de Edmund Husserl e a [[fenomenologia]] de Martin [[Heidegger]]". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 10.''' |
== 6 == | == 6 == | ||
- | : "O | + | : "O afastamento e até a [[perda]] do [[pensamento]] [[acontece]] quando ele se afasta do seu [[elemento]]. Que [[elemento]] é este? O [[elemento]] é o [[propriamente]] poderoso: o [[poder]]. Ele se apega ao [[pensamento]] e assim conduz à sua [[essência]]. O [[pensamento]] pertence ao [[Ser]] e é provocado por [[ser]]. Ele aumenta o [[Ser]]. O [[pensamento]] [[significa]]: o [[ser]] se apegou, num [[destino]] [[histórico]], à sua [[essência]]. Apegar-se a uma [[coisa]] ou [[pessoa]] em sua [[essência]] quer [[dizer]]: amá-la, querê-la" (1). |
- | : Aqui é [[fundamental]] [[perceber]] que quando se diz "o [[pensamento]] [[é]]", não nos referimos a [[predicativos]], porque ele [[simplesmente]] [[é]], e não [[isto]] ou [[aquilo]]. Ora, quando [[simplesmente]] [[é]], o "[[é]]" é o [[sujeito]], a [[medida]] do [[pensamento]]. Daí [[pensamento]] e [[ser]], no "[[é]]", serem [[um]] e o [[mesmo]]. [[Ser]] [[um]] e o [[mesmo]] quer [[dizer]]: | + | : Aqui é [[fundamental]] [[perceber]] que quando se diz "o [[pensamento]] [[é]]", não nos referimos a [[predicativos]], porque ele [[simplesmente]] [[é]], e não [[isto]] ou [[aquilo]]. Ora, quando [[simplesmente]] [[é]], o "[[é]]" é o [[sujeito]], a [[medida]] do [[pensamento]]. Daí [[pensamento]] e [[ser]], no "[[é]]", serem [[um]] e o [[mesmo]]. [[Ser]] [[um]] e o [[mesmo]] quer [[dizer]]: amá-la, querê-la. De novo, devemos [[distinguir]] que aqui não se quer ou [[ama]] [[isto]] ou [[aquilo]] como um [[predicativo]] do [[sujeito]]. [[Amar]] e [[querer]], enquanto "[[é]]", diz [[simplesmente]] [[amar]] = [[ser]]: [[é]]; [[querer]] = [[ser]]: [[é]]. Disso podemos concluir: [[pensamento]] é igual a [[viger]] o [[pensamento]] no seu [[elemento]]. Qual? O [[ser]]. Nessa [[dimensão]] e medidos pelo [[ser]]: [[pensamento]], [[amor]] e [[poesia]] são [[um]] e o [[mesmo]]. |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. '''Sobre o Humanismo | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Sobre o [[Humanismo]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 28.''' |
== 7 == | == 7 == | ||
- | :"[...] um pensamento não nos lega nem nos transmite apenas o dito das linhas; lega-nos e transmite-nos também o | + | : "[...] um [[pensamento]] não nos lega nem nos transmite apenas o dito das linhas; lega-nos e transmite-nos também o não-dito das entrelinhas. [[Heidegger]] no-lo diz em alto e bom som ao [[interpretar]] o [[Mito da Caverna]] de [[Platão]]: 'o legado de um [[pensador]] não está no dito, mas no não dito de seus dizeres'" (1). |
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+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "A [[fenomenologia]] de Edmund Husserl e a [[fenomenologia]] de Martin [[Heidegger]]". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 7.''' | ||
== 8 == | == 8 == | ||
- | :"...para Heidegger, a [[filosofia]] não é, primordialmente, uma construção de [[conhecimento]], é uma [[experiência]] de pensamento, do mesmo nível ontológico da religiosidade, da mitologia, da poesia, da [[vida]] e da [[morte]] e de toda [[mentalidade]], no sentido de todos os processos mentais e não mentais do homem" (1). | + | : "...para [[Heidegger]], a [[filosofia]] não é, primordialmente, uma [[construção]] de [[conhecimento]], é uma [[experiência]] de [[pensamento]], do [[mesmo]] nível [[ontológico]] da religiosidade, da [[mitologia]], da [[poesia]], da [[vida]] e da [[morte]] e de toda [[mentalidade]], no [[sentido]] de todos os processos mentais e não mentais do [[homem]]" (1). |
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- | :(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Husserl e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "A [[fenomenologia]] de Edmund Husserl e a [[fenomenologia]] de Martin [[Heidegger]]". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 10.''' |
== 9 == | == 9 == | ||
- | : "[[Mistério]] é a imensidão livre e desimpedida que se dá, como [[horizonte]], e se reconhece fora das [[possibilidades]] de [[conhecer]] e [[fazer]]. É retirando-se que o [[mistério]] deixa [[ser]] e possibilita tudo que [[é]], não é e vem a ser. Pois bem, é este [[horizonte]] de [[mistério]], que sempre se retrai e, retraindo-se atrai e se dá, como [[mistério]], que constitui a terceira | + | : "[[Mistério]] é a imensidão livre e desimpedida que se dá, como [[horizonte]], e se reconhece fora das [[possibilidades]] de [[conhecer]] e [[fazer]]. É retirando-se que o [[mistério]] deixa [[ser]] e possibilita tudo que [[é]], não é e vem a ser. Pois bem, é este [[horizonte]] de [[mistério]], que [[sempre]] se retrai e, retraindo-se atrai e se dá, como [[mistério]], que constitui a terceira margem do [[pensamento]]" (1). |
- | : Referência: | + | : Referência: |
- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A terceira margem do rio". In: Revista ''Terceira margem''. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 43. | + | |
+ | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "A terceira margem do [[rio]]". In: Revista ''Terceira margem''. Revista do Programa de Pós-graduação em [[Ciência]] da [[Literatura]] da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 43.''' | ||
== 10 == | == 10 == | ||
- | : O pensar pensa no pensador que age enquanto pensa e é. O pensador, tomado pela [[essência]] da ação, deixa-se envolver pelas provocações da [[realidade]], do [[ser]], e toda vez que surge uma oportunidade para que, tomando uma [[posição]], operem-se as possibilidades que ela oferece, sem se importar com os perigos, decide [[agir]]. | + | : O [[pensar]] [[pensa]] no [[pensador]] que age enquanto [[pensa]] e [[é]]. O [[pensador]], tomado pela [[essência]] da [[ação]], deixa-se envolver pelas provocações da [[realidade]], do [[ser]], e toda vez que surge uma oportunidade para que, tomando uma [[posição]], operem-se as [[possibilidades]] que ela oferece, sem se importar com os perigos, decide [[agir]]. |
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- | : CASTRO, Manuel Antonio de. "Ser e estar". In: | + | : CASTRO, Manuel Antonio de.''' "[[Ser]] e [[estar]]". In: [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.''' |
== 11 == | == 11 == | ||
- | : Pensamento é a reflexão em que vigora a [[renúncia]] a qualquer pretensão de convencer. "No âmbito do pensamento Essencial, toda a refutação é uma nescidade" (1). O pensamento se entrega à | + | : [[Pensamento]] é a [[reflexão]] em que [[vigora]] a [[renúncia]] a qualquer pretensão de convencer. "No âmbito do [[pensamento]] [[Essencial]], toda a [[refutação]] é uma nescidade" (1). O [[pensamento]] se entrega à [[renúncia]] para deixar a [[renúncia]] [[mesma]] [[falar]]. Quando a [[própria]] [[renúncia]] [[fala]], temos a [[vigência]] do [[pensamento]]. "Em seu [[dizer]], o [[pensamento]] eleva apenas à [[linguagem]] a [[palavra]] impronunciada do [[Ser]]" (2). |
: - [[Manuel Antônio de Castro]] | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
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- | : | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Sobre o [[humanismo]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 1967, p. 59.''' |
- | : | + | : '''(2) Idem, p. 96.''' |
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== 12 == | == 12 == | ||
- | : "A [[filosofia]] grega é uma [[experiência]] de [[Pensamento]]. Mas não é a única [[experiência]] grega de [[pensamento]]. Outra [[experiência]] grega de [[Pensamento]] é o [[Mito]] e a [[Mística]]. Uma outra, são os [[deuses]] e o [[extraordinário]]. Ainda uma outra é a [[Poesia]] e a [[Arte]]. Ainda outra é a ''[[Polis]]'' e a '' | + | : "A [[filosofia]] grega é uma [[experiência]] de [[Pensamento]]. Mas não é a única [[experiência]] grega de [[pensamento]]. Outra [[experiência]] grega de [[Pensamento]] é o [[Mito]] e a [[Mística]]. Uma outra, são os [[deuses]] e o [[extraordinário]]. Ainda uma outra é a [[Poesia]] e a [[Arte]]. Ainda outra é a ''[[Polis]]'' e a ''Politeia''. A última, por ser no fundo a primeira [[experiência]] grega de [[Pensamento]], é a [[Vida]] e a [[Morte]], ''[[Eros]]'' e ''[[Thanatos]]'' " (1). |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: -------. | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "Apresentação". In: -------.[[Filosofia]] [[grega]] - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 11.''' |
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== 13 == | == 13 == | ||
- | : "Por que o [[pensamento]] vive de uma paciência [[infinita]] e tem sempre [[tempo]] a perder? Será que sua [[temporalidade]] é o ''[[aion]]'', o [[instante]] azado que alimenta de [[esperança]] toda espera, por esperar sempre o inesperado? Será que o [[pensamento]] só urge por se [[realizar]] na superação contínua da [[dicotomia]] entre velocidade e qualidade?" (1). | + | : "Por que o [[pensamento]] vive de uma paciência [[infinita]] e tem [[sempre]] [[tempo]] a perder? Será que sua [[temporalidade]] é o ''[[aion]]'', o [[instante]] azado que alimenta de [[esperança]] toda espera, por esperar [[sempre]] o [[inesperado]]? Será que o [[pensamento]] só urge por se [[realizar]] na superação contínua da [[dicotomia]] [[entre]] velocidade e [[qualidade]]?" (1). |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução". In: Revista ''Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "Introdução". In: Revista ''Tempo Brasileiro'' - [[Caminhos]] do [[pensamento]] hoje: novas [[linguagens]] no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 6.''' |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. '''Serenidade | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Serenidade]]. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 13.''' |
== 15 == | == 15 == | ||
- | : "O pensamento não se transforma em [[ação]] por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O pensamento age enquanto pensa. Seu [[agir]] é, de certo, o que há de mais [[simples]] e elevado, por afetar a [[re-ferência]] do [[Ser]] ao [[homem]]. Toda [[produção]] se funda no [[Ser]] e se dirige ao [[ente]]. O pensamento, ao contrário, se deixa requisitar pelo [[Ser]] a fim de proferir-lhe a [[Verdade]]. O pensamento con-suma esse deixar-se" (1). | + | : "O [[pensamento]] não se transforma em [[ação]] por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O [[pensamento]] age enquanto pensa. Seu [[agir]] é, de certo, o que há de mais [[simples]] e elevado, por afetar a [[re-ferência]] do [[Ser]] ao [[homem]]. Toda [[produção]] se funda no [[Ser]] e se dirige ao [[ente]]. O [[pensamento]], ao contrário, se deixa requisitar pelo [[Ser]] a fim de proferir-lhe a [[Verdade]]. O [[pensamento]] con-suma esse deixar-se" (1). |
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- | : (1) HEIDEGGER. Martin. ''Sobre o humanismo | + | : (1) [[HEIDEGGER]]. Martin. '''Sobre o [[humanismo]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 1967, p. 25.''' |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ''A caminho da linguagem''. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188. | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "A [[palavra]]". In: ''A [[caminho]] da [[linguagem]]''. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188.''' |
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- | : (1) HERÁCLITO. Fragmento 41. In: ''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 69. | + | : (1) [[HERÁCLITO]].''' Fragmento 41. In: ''Os [[pensadores]] [[originários]] - Anaximandro, Parmênides, [[Heráclito]]''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 69.''' |
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]. | : - [[Manuel Antônio de Castro]]. | ||
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- | : (1) | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. ''[[Serenidade]]''. Lisboa:''' Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 13.''' |
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- | : (1) Anônimo irlandês (X. século). Textos apresentados por Jean Markale. Paris: Albin Michel, Cadernos de Sabedoria, 2004, p. 41. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro. | + | : (1) Anônimo irlandês (X. século). '''Textos apresentados por Jean Markale. Paris: Albin Michel, ''Cadernos de [[Sabedoria]]'', 2004, p. 41. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.''' |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''O que é [[pensar]]? '' ''' Conferência proferida na Academia Brasileira de Letras, em 2017.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''' "A [[globalização]] e os desafios do [[humano]]". In: Revista ''[[Tempo]] Brasileiro, 201/202'' - [[Globalização]], [[pensamento]] e [[arte]]. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19.''' |
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== 22 == | == 22 == | ||
- | : "Certamente, o [[pensamento]] é um ato puramente [[psíquico]] e nada corporal; porém, a [[percepção]] de nosso [[pensamento]] exige, com efeito, sua [[expressão]] [[interior]], movimentos embrionários da [[língua]], iniciação de contrações e distensões na boca. Nosso [[corpo]], desde sua fase | + | : "Certamente, o [[pensamento]] é um ato puramente [[psíquico]] e nada corporal; porém, a [[percepção]] de nosso [[pensamento]] exige, com efeito, sua [[expressão]] [[interior]], movimentos embrionários da [[língua]], iniciação de contrações e distensões na boca. Nosso [[corpo]], desde sua fase interna, nos revela nosso próprio [[pensamento]], como seu órgão externo de audição nos descobre o do [[próximo]]" (1). |
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- | : (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: ''Obras Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161. | + | : (1) ORTEGA Y GASSET, José.''' "Como nos vemos a nós. A [[mulher]] e seu [[corpo]]". In:'' [[Obras]] Completas de José Ortega y Gasset'', 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.''' |
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== 23 == | == 23 == | ||
- | : "Opondo-se ao [[pensamento]] temos a [[globalização]] [[funcional]] que é a [[uniformidade]] com [[aparência]] do [[novo]] em [[tudo]] e em todos. É a | + | : "Opondo-se ao [[pensamento]] temos a [[globalização]] [[funcional]] que é a [[uniformidade]] com [[aparência]] do [[novo]] em [[tudo]] e em todos. É a publicização, a banalização, a predominância do [[instante]] e do simultâneo, a fugacidade e imaterialidade [[digital]] de [[tudo]], o domínio [[absoluto]] da [[imagem]]. Tudo isto está ocasionando uma [[transformação]] de todos os [[valores]] e modos de [[viver]] jamais acontecida antes e com tal amplitude: a [[global]]. É o tempo da cibercultura, da engenharia [[genética]], da eliminação da [[linguagem]] [[simbólica]], da [[inteligência artificial]], das próteses microeletrônicas, do [[ciborgue]], do [[culto]] do [[corpo]], do domínio [[global]] do [[profano]], do [[conteúdo]] reduzido às [[formas]] e [[formatos]], da [[estetização]] generalizada da [[arte]], da [[celebração]] do [[instante]], da [[língua]] e [[linguagem]] reduzidas à [[comunicação]], da perda da [[memória]], da redução do [[afetivo]] e do [[erótico]] às [[sensações]], da [[sociedade]] em [[rede]]. É que nosso [[tempo]] é o [[tempo]] das [[redes]]" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: '' | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "A [[globalização]] e os desafios do [[humano]]". In: Revista ''[[Tempo]] Brasileiro, 201/202'' - [[Globalização]], [[pensamento]] e [[arte]]. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 23.''' |
== 24 == | == 24 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''[[Espelho]]: o penoso [[caminho]] do auto-[[diálogo]]. [[Ensaio]] não publicado.''' |
== 25 == | == 25 == | ||
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: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ''A caminho da linguagem''. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188. | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. ''' "A [[palavra]]". In:'' A [[caminho]] da [[linguagem]]''. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188.''' |
== 26 == | == 26 == | ||
Linha 234: | Linha 218: | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. ''A caminho da Linguagem''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 189. | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "A [[palavra]]". In:''' ----.'' A [[caminho]] da [[Linguagem]]''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 189.''' |
== 27 == | == 27 == | ||
Linha 242: | Linha 226: | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98. | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' ''Carta sobre o [[humanismo]]''.Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.''' |
== 28 == | == 28 == | ||
- | : "Quais são as [[questões]] da [[arte]]? As [[questões]] da [[arte]] são igualmente as [[questões]] do [[mito]] e do [[pensamento]]. As [[questões]] da [[arte]] são as [[questões]] do [[real]] e do [[mito do homem]]" (1). | + | : "Quais são as [[questões]] da [[arte]]? As [[questões]] da [[arte]] são igualmente as [[questões]] do [[mito]] e do [[pensamento]]. As [[questões]] da [[arte]] são as [[questões]] do [[real]] e do [[mito]] do [[homem]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 22.''' |
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1
- O pensamento não é, se por "é" entendemos um determinado ente em sua forma e conteúdo entitativo. "O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem" (1).
- Neste referenciar, o pensamento se torna linguagem do Ser. A linguagem não é; dá sentido ético-poético ao agir do homem. E, dando sentido, é. O pensamento então é o Ser se dando (tempo) enquanto linguagem no homem. Pensar é agir, é consumar a referência do homem ao Ser. Na referência, o ser humano chega a ser o que é. E o que no ser humano é é o que lhe é próprio, o ser. Chegar a conquistar e realizar o que é próprio é o que se pode denominar: pensar.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.
2
- "O Pensamento é um passado tão vigente que sempre está por vir. Qualquer esforço da Filosofia não deixa de ser um esforço do e pelo Pensamento. E por quê? Porque nenhum esforço filosófico, em qualquer hora, tanto outrora como agora, pode dispensar a força de futuro do Pensamento no passado. Por isso também toda a Filosofia vive de pensar a História da Filosofia" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 13.
3
- "O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. O ser já se destinou sempre ao pensamento" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 24.
4
- "O entendimento da história nos convida para a verdade do Ser, lá onde o estático e o dinâmico, o absoluto e o relativo, o divino e o humano, dão lugar ao pensamento essencial. Daí interessarem sempre as palavras de Heidegger: "Transformar em linguagem cada vez esse ad-vento permanente do Ser que, em sua permanência, espera pelo homem, é a única causa (Sache) do pensamento. É por isso que os pensadores Essenciais dizem sempre o mesmo (das Selbe), isso, no entanto, não significa que digam sempre coisas iguais (das Gleiche)" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1967, p. 98.
5
- "Se, para o conhecimento, o grande desafio está em conhecer o desconhecido, para o pensamento, o desafio é pensar o conhecido. Todo pensamento só pensa o já pensado no e pelo não pensado. Neste sentido, o já pensado é o que há de mais escondido e velado no e pelo conhecimento que gera. Se, para o conhecimento, esclarecer está em levar o obscuro para o claro, no pensamento se dá o contrário: esclarecer é levar o claro para o escuro, desmascarando o já sabido, ao revelar o não sabido. É nisto que reside toda a ironia socrática do não saber no saber" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Husserl e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 10.
6
- "O afastamento e até a perda do pensamento acontece quando ele se afasta do seu elemento. Que elemento é este? O elemento é o propriamente poderoso: o poder. Ele se apega ao pensamento e assim conduz à sua essência. O pensamento pertence ao Ser e é provocado por ser. Ele aumenta o Ser. O pensamento significa: o ser se apegou, num destino histórico, à sua essência. Apegar-se a uma coisa ou pessoa em sua essência quer dizer: amá-la, querê-la" (1).
- Aqui é fundamental perceber que quando se diz "o pensamento é", não nos referimos a predicativos, porque ele simplesmente é, e não isto ou aquilo. Ora, quando simplesmente é, o "é" é o sujeito, a medida do pensamento. Daí pensamento e ser, no "é", serem um e o mesmo. Ser um e o mesmo quer dizer: amá-la, querê-la. De novo, devemos distinguir que aqui não se quer ou ama isto ou aquilo como um predicativo do sujeito. Amar e querer, enquanto "é", diz simplesmente amar = ser: é; querer = ser: é. Disso podemos concluir: pensamento é igual a viger o pensamento no seu elemento. Qual? O ser. Nessa dimensão e medidos pelo ser: pensamento, amor e poesia são um e o mesmo.
- Referência:
7
- "[...] um pensamento não nos lega nem nos transmite apenas o dito das linhas; lega-nos e transmite-nos também o não-dito das entrelinhas. Heidegger no-lo diz em alto e bom som ao interpretar o Mito da Caverna de Platão: 'o legado de um pensador não está no dito, mas no não dito de seus dizeres'" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Husserl e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 7.
8
- "...para Heidegger, a filosofia não é, primordialmente, uma construção de conhecimento, é uma experiência de pensamento, do mesmo nível ontológico da religiosidade, da mitologia, da poesia, da vida e da morte e de toda mentalidade, no sentido de todos os processos mentais e não mentais do homem" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Husserl e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 10.
9
- "Mistério é a imensidão livre e desimpedida que se dá, como horizonte, e se reconhece fora das possibilidades de conhecer e fazer. É retirando-se que o mistério deixa ser e possibilita tudo que é, não é e vem a ser. Pois bem, é este horizonte de mistério, que sempre se retrai e, retraindo-se atrai e se dá, como mistério, que constitui a terceira margem do pensamento" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A terceira margem do rio". In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 43.
10
- O pensar pensa no pensador que age enquanto pensa e é. O pensador, tomado pela essência da ação, deixa-se envolver pelas provocações da realidade, do ser, e toda vez que surge uma oportunidade para que, tomando uma posição, operem-se as possibilidades que ela oferece, sem se importar com os perigos, decide agir.
- Referência:
- CASTRO, Manuel Antonio de. "Ser e estar". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.
11
- Pensamento é a reflexão em que vigora a renúncia a qualquer pretensão de convencer. "No âmbito do pensamento Essencial, toda a refutação é uma nescidade" (1). O pensamento se entrega à renúncia para deixar a renúncia mesma falar. Quando a própria renúncia fala, temos a vigência do pensamento. "Em seu dizer, o pensamento eleva apenas à linguagem a palavra impronunciada do Ser" (2).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 59.
- (2) Idem, p. 96.
12
- "A filosofia grega é uma experiência de Pensamento. Mas não é a única experiência grega de pensamento. Outra experiência grega de Pensamento é o Mito e a Mística. Uma outra, são os deuses e o extraordinário. Ainda uma outra é a Poesia e a Arte. Ainda outra é a Polis e a Politeia. A última, por ser no fundo a primeira experiência grega de Pensamento, é a Vida e a Morte, Eros e Thanatos " (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: -------.Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 11.
13
- "Por que o pensamento vive de uma paciência infinita e tem sempre tempo a perder? Será que sua temporalidade é o aion, o instante azado que alimenta de esperança toda espera, por esperar sempre o inesperado? Será que o pensamento só urge por se realizar na superação contínua da dicotomia entre velocidade e qualidade?" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 6.
14
- "Existem, portanto, dois tipos de pensamento, sendo ambos à sua maneira, respectivamente, legítimos e necessários: o pensamento que calcula e a reflexão (Nachdenken) que medita" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 13.
15
- "O pensamento não se transforma em ação por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O pensamento age enquanto pensa. Seu agir é, de certo, o que há de mais simples e elevado, por afetar a re-ferência do Ser ao homem. Toda produção se funda no Ser e se dirige ao ente. O pensamento, ao contrário, se deixa requisitar pelo Ser a fim de proferir-lhe a Verdade. O pensamento con-suma esse deixar-se" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER. Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 25.
16
- "Deixar dizer o que é digno de se pensar significa - pensar. Escutando o poema, pensamos desde a poesia. Desse modo, é a poesia, é o pensamento." (1)
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: A caminho da linguagem. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188.
17
- "Um, o saber compreender que o pensamento, em qualquer tempo, dirige tudo através de tudo" (1).
- Referência:
- (1) HERÁCLITO. Fragmento 41. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 69.
18
- "O pensamento que calcula (das rechnende Denken) faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O pensamento que calcula corre de oportunidade em oportunidade. O pensamento que calcula nunca pára, nunca chega a meditar. O pensamento que calcula não é um pensamento que medita (ein besinnliches Denken), não é um pensamento que reflete (nachdenkt) sobre o sentido que reina em tudo que existe" (1). O pensamento que calcula é o pensamento funcional, que tem como prioridade a possibilidade de ele poder ter uma função em nosso mundo científico e globalizado. O funcional é sempre global. É o pensamento que se fundamenta na procura da causa para determinar o efeito.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 13.
19
- "É vergonhoso o quanto os meus pensamentos vão longe de mim; até para mim temo um grande perigo no dia do meu juízo final. Durante a recitação dos salmos, minhas ideias fogem para um caminho que não convém. Elas correm, desencaminham-se, conduzem-se mal aos olhos do Deus supremo. Nas assembleias agitadas, na companhia de mulheres loucas, nos desertos e nas cidades, mais rápidos do que o vento... Inicialmente, elas vão por caminhos agradáveis, depois por lugares selvagens, assim elas se comportam. Sem barco, em sua caminhada perversa, elas atravessam todos os mares. Saltam rapidamente, de um só pulo, da terra ao céu. Correm numa corrida muito louca, para perto e para longe e, após seu percurso desordenado, voltam para casa... Nem arma cortante nem chicote as podem reter; são tão escorregadias como o fundo de uma agulha que se esguia sob meus dedos" (1).
- Referência:
- (1) Anônimo irlandês (X. século). Textos apresentados por Jean Markale. Paris: Albin Michel, Cadernos de Sabedoria, 2004, p. 41. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.
20
- "Vivemos atualmente os primeiros decênios de um novo milênio. Nossa presença neste início é de princípio, pois exige rasgar horizontes de questionamento e de abrir dimensões de interrogação. A tarefa de pensar está toda aqui, pois o pensamento é a presença incômoda e desconcertante do desconhecido no desempenho de qualquer realização; e como se trata de realidade, requer muita concentração e pouca impaciência" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. O que é pensar? Conferência proferida na Academia Brasileira de Letras, em 2017.
21
- "O que se dá a ver é, para os gregos, a physis; para nós, a realidade. Para mostrar o que se dá a ver (a realidade, a physis), o ser humano recebe da própria physis duas dimensões que o constituem, circunscrevem e determinam: o pensamento (nous, em grego) e a linguagem (logos, em grego). O nous é o pensamento que permite ver o não visto. E este pode ser dito enquanto sentido e mundo porque somos constituídos pelo logos, a linguagem. É o nous e o logos, na vigência da poiesis da realidade, que constituem o seu sentido e mundo, manifestados nos paradigmas. Chamamos poiesis a permanência e transformação da realidade, daí ser ela originária e radicalmente poética" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19.
22
- "Certamente, o pensamento é um ato puramente psíquico e nada corporal; porém, a percepção de nosso pensamento exige, com efeito, sua expressão interior, movimentos embrionários da língua, iniciação de contrações e distensões na boca. Nosso corpo, desde sua fase interna, nos revela nosso próprio pensamento, como seu órgão externo de audição nos descobre o do próximo" (1).
- Referência:
- (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.
23
- "Opondo-se ao pensamento temos a globalização funcional que é a uniformidade com aparência do novo em tudo e em todos. É a publicização, a banalização, a predominância do instante e do simultâneo, a fugacidade e imaterialidade digital de tudo, o domínio absoluto da imagem. Tudo isto está ocasionando uma transformação de todos os valores e modos de viver jamais acontecida antes e com tal amplitude: a global. É o tempo da cibercultura, da engenharia genética, da eliminação da linguagem simbólica, da inteligência artificial, das próteses microeletrônicas, do ciborgue, do culto do corpo, do domínio global do profano, do conteúdo reduzido às formas e formatos, da estetização generalizada da arte, da celebração do instante, da língua e linguagem reduzidas à comunicação, da perda da memória, da redução do afetivo e do erótico às sensações, da sociedade em rede. É que nosso tempo é o tempo das redes" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 23.
24
- "Con-sumar o que somos é uma tarefa poética, isto é, não causal. A poiesis consiste propriamente em apropriar-se do que é próprio, do que cada um é. A poiesis é pensamento, pois no pensamento se con-suma a referência da Essência do homem ao sentido do Ser" (1).
- Referência:
25
- "O que à primeira vista parece título de uma tematização: poesia e pensamento, mostra-se como a inscrição em que o destino de nossa presença [ entre-ser ] de há muito está inscrito. A inscrição assinala a co-pertença de poesia e pensamento. A sua convivência possui uma proveniência antiga. Retraçando essa proveniência, chegamos ao que é imemorialmente digno de se pensar, mas que jamais se deixa pensar cabalmente" (1).
- Referência:
26
- "Todo dizer vigoroso remonta a esse mútuo pertencer de dizer e ser, de palavra e coisa. Ambos, poesia e pensamento, são uma extraordinária saga do dizer, quando se responsabilizam pelo mistério da palavra, enquanto o que há de mais digno a se pensar, permanecendo assim articulados na sua afinidade" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 189.
27
- "[...] os pensadores Essenciais dizem sempre o mesmo (das Selbe); isso, no entanto, não significa que digam sempre coisas iguais (das Gleiche). Sem dúvida, eles só o dizem a quem se empenha em repensá-los. Enquanto o pensamento, re-memorando Historicamente, preza o destino do Ser, ele já se prendeu ao destinado (das Schlickliche), que se acorda com o destino" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo.Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.
28
- "Quais são as questões da arte? As questões da arte são igualmente as questões do mito e do pensamento. As questões da arte são as questões do real e do mito do homem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 22.
29
- "Este itinerário de recuo até o mito, para mais avançar na questão inaugural do esquecimento do sentido do Ser, tem consequências importantes para o tema que nos interessa: as questões da arte em Heidegger:
- 1º. Reúne mito, poesia e pensamento;
- 2º. Redige nessa altura os principais ensaios em torno da arte;
- 3º. Centraliza-se nas questões essenciais para o pensamento e para a arte: Ser, “coisa”/res, linguagem, verdade, tempo, memória, destino, poesia, mundo, Terra, Céu etc.;
- 4º. Relê em novas dimensões, impulsionadas pelo mito, a poesia e o pensamento, a questão fundamental e permanente do sentido do Ser ou Real" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.
30
- "O Homem atual "está em fuga do pensamento". Esta fuga-aos-pensamentos é a razão da ausência-de-pensamentos. Contudo, tal fuga ao pensamento deriva do fato de o Homem não querer ver nem reconhecer essa mesma fuga. O Homem atual negará mesmo, redondamente, esta fuga ao pensamento. Afirmará o contrário. Dirá - e com pleno direito - que em época alguma se realizaram planos tão avançados, se realizaram tantas pesquisas, se praticaram investigações de forma tão apaixonada, como atualmente" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 12.