Próprio

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (2): CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 125.
: (2): CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 125.
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Edição de 19h26min de 21 de Dezembro de 2019

1

"E o que nos é próprio? A poético-ecologia enquanto cura poético-amorosa, pois apropriarmo-nos do que nos é próprio é amar. Amar é levar à plenitude de sentido o que nos foi dado e é próprio: o tempo enquanto o ser, o nossso destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 29.

2

"Talvez antes de ele falar, ela tivesse a intenção de um dia dar-se, pois sabia que teria de dar a alguém o que ela era, senão o que faria de si? Como morrer antes de dar-se, mesmo em silêncio? Porque no dar-se teria enfim uma testemunha de si própria" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 63.

3

"O radical phil- se encontra em várias formas de verbo, substantivo, adjetivo. Corresponde ao pronome grego nóos, cognato do latim suus. Designa de per si a qualidade e ação de próprio, de apropriar-se e ser próprio. Em Homero (Od. 8, 233, II - 3, 31) phílos significa próprio. Mas o que é próprio, propriedade e apropriar-se? Esta é a pergunta que faz o filósofo. Próprio e propriedade são um conjunto de condições estruturais que se tornou estável por se ter desenvolvido e conquistado num processo de apropriação. Assim, phílo-sóphos indica o homem, enquanto se conquista determinada atitude, por ele se ter apropriado do sabor de viver (sóphos). O homem só se empenha por apropriar-se e se lança à apropriação de saber por já ter sido apropriado pela paixão de viver" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições da filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, n. 130/131, 1997, p. 153.
Ver também:
*Filosofia

4

A questão do próprio está na tensão dialética entre necessidade e liberdade, sem se oporem radicalmente. Enquanto a ciência se rege por normas gerais, genéricas, da espécie, da genética, a emergência da liberdade e seu cultivo entram em tensão com a dimensão lógico-científico-causal, tensão possível pelo livre-aberto da não-causalidade. É a liberdade poética da verdade em tensão dialética com o causal e lógico. No fundo, é a tensão lógico-dialética de "eu" e "sou", mais complexa do que a consciência, meramente epistemológica, pois tal tensão é ontológica, isto é, é a própria afirmação e eclosão do próprio na vigência do ser.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"O meu mais fervoroso desejo sempre foi o de conseguir me expressar nos meus filmes, de dizer tudo com absoluta sinceridade, sem impor aos outros os meus pontos de vista. No entanto, se a visão de mundo transmitida pelo filme puder ser reconhecida por outras pessoas como parte integrante de si próprios, como algo a que nada, até agora, conseguiria dar expressão, que maior estímulo para o meu trabalho eu poderia desejar?" (1).


Referência:
(1) TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o tempo. São Paulo: Martins, 2010. Texto do autor na Orelha do livro.

6

"Somente no existir sem atributos seremos livres, porque seremos o próprio que nos foi dado. Sabendo-se no e pelo pensar, próprio sem atributos. Todo próprio do sendo tem um encontro marcado pelo, no e com o pensar do ser.
Somos, sou, próprio sem atributos. Só me resta, só nos resta, a tarefa, o destino, de ser o próprio no aprender a pensar" (1).
Aprender a pensar é questionar. Neste e por este, nossa vida se torna uma caminhada dentro e a partir das possibilidades ou destino/próprio que nos foi dado pelo ser. Quem questiona retoma a cada dia, a cada momento, a questão em questão. E esta jamais é determinada pela nossa vontade, ou seja, apenas no horizonte do eu enquanto sujeito com sua vontade. Nesse sentido, o próprio, enquanto caminhada do e no destinar-se do sentido do ser, tem como horizonte de sentido o acontecer poético, o Ereignis, de que nos fala o pensador Heidegger em sua obra Vom Ereignis. E o destinar-se do sentido do ser dá-se, acontece enquanto época em sentido ontológico e não apenas epistemológico.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) CASTRO. Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 143.

7

Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 214.

8

"Desde a criação o homem é, portanto, o denominador universal do ser de tudo que é. Apenas para ele mesmo não encontrou seu nome próprio. É por isso que todo nome dado ao homem e a seus modos de ser não é próprio, é sempre pseudônimo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 122.

9

"A dessacralização que domina hoje é devida a quê? Certamente muitos são os fatores. É no âmago dessa questão que a arte como questão se faz presente. Pode se falar em arte sem levar em consideração a questão do sagrado? Difícil. Porém, ela se faz presente de um modo muito simples e especial que se perdeu com o próprio distanciamento do sagrado acontecido na dinâmica dessas transformações históricas. Transformações essas que dizem respeito à própria dinâmica de o próprio sagrado se destinar. Mas ele, por mais que esteja esquecido, nunca se distancia e torna ausente como tal. Pelo contrário, sem sua presença, sua proximidade, tudo perderia o sentido e o próprio vigor de realização do real. E ele é próximo, tão próximo que até para sermos o que somos só podemos ser sendo essa proximidade. Porém, em tudo que fazemos temos a tendência, hoje e há muito tempo, a considerá-lo distante e inalcançável, como se ele fosse outro que não o vigor do que nos é próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.

10

"Ser o próprio e não os outros torna-se a questão. Mas o que é o próprio? Apropriar-se do próprio é o mais difícil e doloroso. Há tantas teorias, tantos modelos, tantas verdades prontas! A tentação de se identificar e deixar-se afetar pela teoria mais convincente e agradável é tão mais fácil! Mas quem disse que viver é fácil? “Viver é muito perigoso” (1). É sem receitas. Isso decorre de que estamos sempre em travessia, à beira do abismo" (2).


Referências:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 16.
(2): CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 125.

11

"A dança jamais pode se por a serviço de qualquer sistema, caso contrário perderá sua identidade, seu próprio. E qual é o próprio da dança, a sua identidade? Esta identidade não pode ser diferente da identidade de todo ser humano. O próprio é a medida de cada um. À realização dessa medida corresponde a história de cada um, que é sempre singular e irrepetível. Ou ao menos deveria ser. A medida é o destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.

12

"O que isso significa? Aqui se impõe ainda uma explicação mais profunda do ser humano, como constituído pelo ser e pela essência, pois todo ser humano é e é o que cada um é, ou seja, cada um tem seu próprio, isto é, aquela essência que faz com que ele seja ele e não outro qualquer ente (sendo)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 31.


13

Próprio é Identidade e identidade é possibilidade de ser. O possível é o que já nos foi doado pelo Ser para sermos e constitui, por isso, nossa identidade, nosso próprio. Ninguém se dá seu próprio ou sua identidade e muito menos se faz isso ou aquilo. Em termos ontológicos só podemos fazer aquilo que já somos. Somente somos sendo, existindo numa constante travessia, como nos diz Guimarães Rosa em Grande Sertão: veredas. E os sábios chineses a denominaram caminho ou Tao. Toda caminhada inclui o histórico, o cultural e o social sem lhe ficar dependentes, pelo contrário, transfigurando-os. A identidade é o que nos foi dado pelo ser, de uma maneira única e própria, enfim, aquilo que nos foi destinado e, por isso, constitui nosso destino.


- Manuel Antônio de Castro


14

"Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já o disse poeticamente:
Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender . (Poema XXIV)
Procuro despir-me do que aprendi,:
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos ... (Poema XLVI) " (1)

´

Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.
Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.


15

"Ora, ninguém é comum. Sem dúvida, há uma pesada estratégia de mercado, que constrói sobre a equalização de ser humano e subjetividade. A partir dessa equalização, reconhecemos como próprio não o que somos, mas o que realizamos sobre ou em relação aos demais. É um sentido terceirizado, relacional, do próprio: identidade" (1).


Referência:
(1) LIRA, André. "O ciborgue frente ao real". In: Revista Tempo Brasileiro: globalização, pensamento e arte, 201/202, abr.-set., 2015, p. 81.


16

"É dado a todos os homens conhecer-se a si mesmos e pensar" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 116. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 89.


17

"O que nos leva a constituir uma rede poética não são os humanismos, nem mais um humanismo, mas o que em todo ser humano o constitui como próprio: é o humano de todo ser humano. Eis o motivo que move a [[rede poética. Para ela cada ser humano não se reduz a um número na multidão dos consumidores, não é um qualquer, pois todo ser humano já traz algo próprio e único, embora poético-universal: o humano de todo próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 25.


18

"Pensar diz respeito à essência do humano, porque nele procuramos realizar e chegar a ser as possibilidades próprias do que cada um já desde sempre é. E cada um é por uma doação do Ser, sendo, portanto, uma singularidade, irredutível a uma generalização conceitual" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 13.


19

"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu por quê? No por quê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz, então, a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar, de antemão, o sentido de qualquer sendo. Nisso se funda a identidade da diferença, se compreendemos identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 98.
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