Mistério

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.
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: "''O [[sentido]] do [[mundo técnico]] oculta-se''. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o [[mundo técnico]] deparamos com um [[sentido]] oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço [[fundamental]] daquilo a que chamamos o [[mistério]]. Denomino a [[atitude]] em virtude da qual nos mantemos abertos ao [[sentido]] oculto no [[mundo técnico]] ''a abertura ao [[mistério]] (die Offenheiet für das Geheimnis)''" (1).
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: Referência:
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. ''Serenidade''. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 25.

Edição de 22h15min de 2 de Julho de 2019

1

Normalmente se separam realidade e mistério, como se soubéssemos o que é mistério e o que é realidade. Nem um nem outra cabem no saber, só no não-saber de todo saber. Por isso diz o pensador Emmanuel Carneiro Leão: "O mistério sem nome da realidade não tem onde estar. Nâo se acha em parte alguma, nem no sujeito nem no objeto, nem dentro nem fora. Ao contrário, é nele que estão todas as coisas, é dele que tudo tem o espaço de seus lugares e o tempo de sua hora e vez, é dele que tudo recebe o sentido de sua essência. Não se trata de coisa entre coisas nem de pessoa entre pessoas. Não é nem espírito nem matéria. Seu vigor não pode ser visto pelos olhos subjetivos da objetividade nem com a visão objetiva da subjetividade. Não pode, mas também não carece" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e modernidade: a correlação de sujeito e objeto". In: --------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 175.

2

"O mistério não está nem fora nem dentro da envergadura de nossas possibilidades. O mistério não é o misterioso, o estranho, o longínquo, o enigmático. Ao contrário, é a de-ferência mais íntima da interioridade de nós mesmos, dos outros ou de qualquer coisa. Disso já nos fala a própria palavra. Mistério vem do verbo grego que significa trancar-se no centro, concentrar-se [...]" (1). Há aí uma ligação muito próxima com o ordinário, sendo que o extraordinário é o ordinário se dimensionando pelo que lhe é mais interior, mais concentrado. Conclui-se que a criação, a eclosão da linguagem, se dá pelo redimensionamento da linguagem cotidiana, pela concentração, pelo que lhe é mais interior. O uso e abuso comunicativo da palavra no cotidiano encobre e esquece seu potencial. Trazer a potência das palavras para a sua manifestação não é trabalhar as formas em novas formas. Rosa diz, numa criativa imagem, o que é descer ao núcleo vivo das palavras: é "chocar as palavras" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e modernidade: a correlação de sujeito e objeto". In: --------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 180
(2) Cf. LORENZ, Günter W. "Diálogo com João Guimarães Rosa". In: Diálogo com a América Latina. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária, 1973.

3

"O mistério da vida não é alguma coisa de outro mundo; não é uma vida diferente deste mundo ou um outro mundo; o mistério da vida é a vitalidade desta vida, deste mundo. Esta vitalidade que não se deixa controlar, subjugar e aplicar. Isso é o que constitui o mistério da vida" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, p. 70.


Ver também:

4

Mistério remete, em toda experiência, para o que se diz e reconhece fora das possibilidades de ser, conhecer e dizer. Para se dar e acontecer mistério é indispensárvel morar e descobrir-se no âmbito da Linguagem, do logos (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Permanência e atualidade do poético: lógos, mýthos, épos". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 171. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, pp. 33-8.

5

"Pensar é expor-se às peripécias dos mistérios, das presenças e ausências, das clarezas e obscuridades. É nessa exposição que o pensar se faz viger e torna vigorosa a força de sua presença. Por sua vez, a apresentação do mistério, como componente da realidade, tem sido produzida de modo a só se apresentarem simulacros de mistérios, isto é, mistérios que de antemão se sabe serem possíveis de virem a ser solucionados, que sejam capazes de se desvanecerem enquanto mistérios" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 170-1.


6

"Do mistério o que é mais característico é o movimento de concentração no seu âmago, seu recolhimento no íntimo. Ao contrário do que possa parecer a uma concepção dominada pela ideia de meio, de mediação, de instrumento, o concentrar-se no âmago, no imo, traz consigo movimento. A procura do centro, do interior não deixa de ser procura. Movimento não implica representação. Concentrar-se é estabelecer um lugar, é, portanto, habitar" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 171.

7

"O mistério é o que se diz e reconhece fora das possibilidades de conhecer e dizer. Ora, o mistério nunca é algo e muito menos algo que esteja fora do pensamento ou que se refira sobretudo à razão e ao discurso. É o mistério da liberdade do próprio pensamento. É a experiência de uma libertação que não se exaure com o que pensa o pensamento. É a presença da vida na morte, da plenitude na limitação, da criatividade na dependência. Só o pensamento radical pode pensar o mistério como mistério" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Hermenêutica, Revelação, Teologia". In: ______. Aprendendo a pensar I. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 211.

8

Todos reconhecem que nossa fala e conhecimento jamais podem dar conta do mistério em que estamos irremediavelmente mergulhados. O mistério, faz-se sempre presente em tudo e a qualquer momento, mas não tem voz nem rosto: é o silêncio, é a sabedoria, é a não-verdade, o nada criativo. Ele funda toda e qualquer realidade sem reduzir-se a nenhuma. Aliás, como o mistério também ficamos sem saber o que é a realidade. No fundo ela é o próprio mistério.


- Manuel Antônio de Castro.

9

"O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos o mistério. Denomino a atitude em virtude da qual nos mantemos abertos ao sentido oculto do mundo técnico a abertura ao mistério (die Offenheit für das Geheimnis) "(1).


- Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 25.

10

"As bens elaboradas histórias de mistério egípcias são um meio intencionalmente escolhido de transmitir conhecimento. O significado e a experiência mística não estão ligados a uma interpretação literal de eventos" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "O mais religioso". In: -----. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 24.

11

"O sentido do mundo técnico oculta-se. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o mundo técnico deparamos com um sentido oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos mistério. Denomino a atitude em virtude da qual nos mantemos abertos ao sentido oculto no mundo técnico a abertura ao mistério (die Offenheit für das Geheimnis) (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p.25.


12

"É mostrando-se como aquele que é um Ele, que o deus desconhecido deve aparecer como o que se mantém desconhecido. A revelação de deus e não ele mesmo, esse é o mistério" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. " ... poeticamente o homem habita... ". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 174.


Ver também:
*Divino
*Sagrado


13

"Assim, o princípio ex nhilo nihil fit, do nada não se cria nada, só vale para as transações do já criado. Para o élan criador no sentido estrito, vale o inverso: ex nihilo omnia fiunt. Aqui o princípio é: é do nada que tudo se cria. Por isso é que o mestre Eckhart no século XIV, o pai da mística renana, podia dizer para os criacionistas de todos os tempos: “ Esse est Deus et Deus est nihil ”. “ Ser é Deus e Deus é Nada ” (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O que significa pensar?". In: Revista da Academia Brasileira de Letras, maio-junho, 2012.


14

"Mistério vem do verbo grego myo. E myo diz: trancar-se no centro, concentrar-se; diz: encerrar-se no âmago, recolher-se ao íntimo. Aqui, centro, âmago, íntimo, evocam a raiz da intensidade, o sumo da plenitude. Mistério não diz uma coisa, diz um movimento, o movimento de con-sumar, de concentrar-se na origem, de recolher-se à natividade da raiz, de retornar ao sem fundo e fundamento, ao a-bismo de ser. As palavras, Deus, Absoluto, Transcendência, Inconsciente, Espírito, Matéria, Psique, Estrutura, Ser são outras tantas redes em cujas malhas o poder do saber ocidental na teologia, na filosofia, na ciência, sempre de novo tentou, mas nunca conseguiu, prender e segurar a natividade do mistério" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ------------. Aprendendo a pensar, II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 180.


15

"Mistério é o agenciador da dialética que não permite que se conclua o processo dialético com uma plenitude que exaurisse as condições de possibilidade de novo conhecimento" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 8.

16

"O mistério: dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, sociedade-fome, cada vez que entre fumaça recebe um nome segundo o gosto de cada um, se apresenta diferente" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 67. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 77.


17

"Não é a cultura que faz o homem nem ela se opõe à phýsis. Se o homem, parece, está referenciado à cultura, na verdade, pela cultura o homem se referencia à phýsis. Isso fica, de novo, evidente pelo fato de que diante do enigma e mistério da phýsis, o ser humano não só cultiva, mas, sobretudo e em primeiro lugar, ele cultua. O culto na e pela cultura já evidencia que tudo provém dela porque nela se funda: o ser humano, o cultivado, a cultura e o culto. Nesta evidência não é a identidade cultural que faz o ser humano nem ele se dá essa identidade, mas o ser humano manifestando na cultura a phýsis, manifesta-se como humano e, manifestando-se como humano, eleva a phýsis ao seu grau máximo de realização (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.


18

"A essência da questão é o mistério. Só questionamos porque já vigoramos nele. Porém, o amar é a mais completa realização do mistério que, fundando toda proximidade, sempre se retrai, jogando-nos na distância, o entre ser e estar. No e pelo amar o mistério acontece naqueles que amam e se amam no e a partir do mistério" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.


19

"O sentido do mundo técnico oculta-se. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o mundo técnico deparamos com um sentido oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos o mistério. Denomino a atitude em virtude da qual nos mantemos abertos ao sentido oculto no mundo técnico a abertura ao mistério (die Offenheiet für das Geheimnis)" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 25.
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