Língua
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : (1) ERNOUT , A. e MEILLET, A. '''Dictionnaire étymologique de la langue latine | + | : (1) ERNOUT , A. e MEILLET, A. '''Dictionnaire étymologique de la langue latine. Paris: Klincksiek, 1979, 754.''' |
- | : (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: | + | : (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Obra]] de [[arte]], [[vocabulário]] e [[mundo]]". In: --------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 240.''' |
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- | : "À [[língua]] como [[corpo]] vivo que é [[mundo]] é que denomino [[vocabulário]]. A grande diferença que aí acontece está em que [[mundo]] passa a ser o [[sentido]] do [[ser]]. [[Sentido]] se constitui então no sangue do [[corpo]] vivo, porque nele o [[ser]] acontece permanentemente. Surpreender numa [[obra]] o seu [[vocabulário]] não é uma tarefa [[gramatical]], nem [[semântica]], nem lexical, nem | + | : "À [[língua]] como [[corpo]] vivo que é [[mundo]] é que denomino [[vocabulário]]. A grande diferença que aí acontece está em que [[mundo]] passa a ser o [[sentido]] do [[ser]]. [[Sentido]] se constitui então no sangue do [[corpo]] vivo, porque nele o [[ser]] acontece permanentemente. Surpreender numa [[obra]] o seu [[vocabulário]] não é uma tarefa [[gramatical]], nem [[semântica]], nem lexical, nem sintática. É [[poética]], enquanto [[corpo]] vivo; [[mundo]], enquanto [[sentido]]. Este não provém do [[vocabulário]], mas do ''logon'' [ver ''[[logos]]''] do [[ser]], da [[voz]] do [[sagrado]]. ''Logon'' [ver ''[[logos]]''] mais do que [[vocabulário]] é [[sentido]]". |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Obra]] de [[arte]], [[vocabulário]] e [[mundo]]". In: -----. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: -----. '''Arte: o humano e o destino | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O [[próprio]] como [[possibilidades]]". In: -----. '''[[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 129.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''[[Linguagem]]: nosso maior [[bem]]. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: ----. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''[[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 19.''' |
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- | : (1) AGUALUSA, José Eduardo. "As minhas duas mães". ''Segundo Caderno'', | + | : (1) AGUALUSA, José Eduardo. ''' "As minhas duas mães". ''Segundo Caderno'', O Globo, p. 6, Sábado, 07-05-2022.''' |
Edição atual tal como 21h50min de 12 de março de 2025
1
- Reduzir a linguagem à língua é a tentativa moderna de reduzir a vida ao vivente. Só na língua é possível reduzir a realidade a julgamentos, a orações, fonte necessária de todos os atributos, de todas as representações, de todos os suportes. Toda representação origina e tem sua vigência num sistema. Daí ser tradicional e comum a representação de língua como um código. Código pode ser representado e visualizado como uma rede (de significados) ou sistema articulado de linhas e nós, onde se esquece o vazio em que eles podem se constituir em rede e até se expandir em novos significados. Não há significado sem sentido, como não há sentido sem vazio ou silêncio.
2
- Toda língua é uma experienciação do real que se dá e se retrai como Linguagem.
3
- "E a tradução? Eis de novo o problema. É que cada tradução já traz com ela um horizonte onde se dá a posição da língua para a qual se traduz. Sim, toda língua já constitui uma posição no silêncio e vazio do ser" (1).
- Referência bibliográfica:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 129.
4
- "Língua e vocabulário podem se tornar duas palavras enganadoras, pois o que aí se quer dizer precede e excede em muito o que elas tanto evocam como manifestam. Convocar, evocar, vocação, voz e vocábulo têm a mesma “raiz indo-européia *wek.w, que indicava a emissão de voz com todas as forças religiosas e jurídicas que delas resultam” (1). É a voz que, provindo do sagrado, tem força de realização, de manifestação da realidade. É a voz de todas as forças divinas, dos deuses" (2).
- Referência:
- (1) ERNOUT , A. e MEILLET, A. Dictionnaire étymologique de la langue latine. Paris: Klincksiek, 1979, 754.
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: --------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 240.
5
- "À língua como corpo vivo que é mundo é que denomino vocabulário. A grande diferença que aí acontece está em que mundo passa a ser o sentido do ser. Sentido se constitui então no sangue do corpo vivo, porque nele o ser acontece permanentemente. Surpreender numa obra o seu vocabulário não é uma tarefa gramatical, nem semântica, nem lexical, nem sintática. É poética, enquanto corpo vivo; mundo, enquanto sentido. Este não provém do vocabulário, mas do logon [ver logos] do ser, da voz do sagrado. Logon [ver logos] mais do que vocabulário é sentido".
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.
6
- "A presença institui a realidade como mundo. A representação reproduz o mundo instituído. Na sentença, o núcleo é a vigência do verbo. Verbo é tempo e tempo é presente. Sem verbo não há língua, se por verbo entendermos um vigorar do tempo e não uma categoria gramatical. O vigorar da língua é a linguagem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Identidade: os dois ocidentes". In: TAVARES, Renata e Outros (org.). O sagrado, a arte e a família. São Paulo: Editora LiberArs, p. 28, 2011.
7
- "Os gregos nomearam cada algo com uma palavra diferente. O que permanece: hypo-keimenon. O que muda: symbebekós. E a tradução? Eis de novo o problema. É que cada tradução já traz com ela um horizonte onde se dá a posição da língua para a qual se traduz. Sim, toda língua já constitui uma posição no silêncio e vazio do ser. Para o português, a via de acesso a essas palavras gregas foi o latim. E é a partir do latim que nos advém a posição tanto em relação à questão, quanto em relação à resposta" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 129.
8
- Pois tudo que é é na medida em que é ente. E sem o exercício concreto de uma língua não se pode perguntar. Língua não é só o que se fala. Gesto também pode ser língua. Cor também pode ser língua etc. Contudo, não há ente sem Ser nem conhecimento sem pensamento e nem língua sem linguagem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
9
- "Sendo o ser humano o sujeito e não mais o logos que reúne, a razão fundamenta os conhecimentos e a linguagem os comunica funcionalmente. Porém, como só há comunicação quando há um código, a linguagem ficou reduzida ao código língua. O mundo que o logos funda como reunião de diferenças ficou prisioneiro ou do conjunto de significados articulados pelo código ou então dependente do mundo social, enquanto conjunto funcional da estrutura social. Tal estrutura funcional é o conjunto ou rede de conhecimentos e informações. São estas o que constituem o mundo das diferentes culturas. É o que se procura hoje estudar sob o nome de inter-culturalidade, onde o entre só diz respeito ao entre de cada cultura, à identidade de cada cultura, sem se voltarem para o logos de Heráclito, no qual e a partir do qual: “tudo é um”"(1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 30.
10
- "Tanto os nós como as ligações precisam do “entre” enquanto identidade das diferenças. Uma tal faceta do “entre” aparece bem claramente na imagem-questão: rede. Uma tal faceta é o vazio, o silêncio. A rede sem o vazio/silêncio não se pode constituir como rede, ou seja, como “fios” e “nós”. A rede é uma doação do vazio e do silêncio. O vazio é o não-limite do silêncio e seu sentido. A língua enquanto código é a rede enquanto fios e nós. Mas assim como a rede precisa do vazio/silêncio, a língua precisa da linguagem. Por isso, a linguagem é a mãe de todas as línguas, assim como o vazio é a origem de todas as redes, de todos os códigos. E o silêncio é a origem de todas as falas e escutas, enquanto energia de sentido, verdade e mundo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.
11
- "Uma língua é tanto o resultado de um pensamento dominante, com a soma de todos os seus preconceitos, quanto ajuda a firmá-los" (1).
- Referência:
- (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Palavras más". Crônica publicada no "Segundo Caderno", de O Globo, sábado, 21-09-2019, p. 8.
12
- "Toda língua fala do finito e, por isso, sem saber, porque não pensa, só raciocina, quer reduzir a realidade às relações finitas. Sua posição e a dos falantes são sempre finita, daí o alcance finito de seus conhecimentos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p.24.
13
- "No poético, as línguas são o rito da Linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da Linguagem. Por isso, o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado. Martin Heidegger afirma: “O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado” (1). Nomear o sagrado eis o vigorar da palavra cantada" (2).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Qu'est-ce que la metaphysique". In: Questions I. Paris: Gallimard, 1968, p. 83.
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
14
- "... a questão do finito só aparece como finito, essencial e inapelavelmente, como sendo ente e ser, ou seja, finito e infinito. Disto resulta que, fundamentalmente, o que somos, somos sempre como língua e linguagem, somos sempre como eu e outro, somos sempre como co-letividade originária, somos sempre como proximidade, onde esta é a memória infinita vigorando. E, como tal, diz respeito a cada um, ao outro, ao presentificado, ao presentificável, a todos os povos. Queiramos ou não, a linguagem é o nosso maior bem. Em que sentido? No da identidade e diferença em relação ao que cada um é, ao ser de cada um, ao ser dos seres. A linguagem é o nosso maior bem, porque é ethos. Ethos é a morada, Casa do Ser: nosso maior bem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.
15
- "A ideia de verdade enquanto correção é moderna. Diga-se logo que todo grande escritor reinventa a língua, pois esta é algo vivo, pulsante, em realização incessante. A gramática é a morte lógica e sistêmica da língua viva, poética. Tal ensino é muito bom para a comunicação, algo formal, funcional, sistêmico, retórico, sofístico, prático. Claro, numa sociedade funcional, retórica e utilitarista como a nossa isso se torna decisivo, pois torna seu detentor eficiente, a palavra mágica para a boa instrução. Mas é aí justamente que morre e se enterra o poético por debaixo de camadas de cinza do falar empobrecedor comunicativo. Hoje a comunicação é a banalização da língua viva e poética" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.
16
- "Nas imagens-questões há uma tensão permanente entre o dito da língua e a ausculta da linguagem. No trânsito desse transe transam o saber e sabor de toda sabedoria da poiesis como imagens sonoro-visuais, que manifestam o real em caminhos que não conduzem a lugar nenhum, porque o caminho é o próprio real se dando em desvelo velado de realizações. Nesta escuta erótico-amorosa, a linguagem poética do silêncio se tece e entretece mergulhando tanto mais nas profundezas, como raiz, quanto mais eclode no livre aberto de toda abertura e clareira apropriante e manifestante das questões" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 19.
17
- "...afinal, língua também é mãe, também nos gera, nos forma e nos acrescenta identidade. Por isso gosto tanto da expressão "língua materna" " (1).
- Referência:
- (1) AGUALUSA, José Eduardo. "As minhas duas mães". Segundo Caderno, O Globo, p. 6, Sábado, 07-05-2022.
18
- "Com minha mãe aprendi não apenas a amar os livros e a língua portuguesa; aprendi que o percurso de uma língua - a vida de cada uma das palavras que a forma - conta a história do mundo" (1).
- Referência:
- (1) AGUALUSA, José Eduardo. "As minhas duas mães". Segundo Caderno, O Globo, p. 6, Sábado, 07-05-2022.