Espírito

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: [[Espírito]]/[[espelho]] não é [[saber]] algo, ou seja, isto e aquilo e aquilo outro, mas, sim, especular "como saber" o seu próprio ser, o que ele é no "como ele sabe". Porém, este [[saber]] não pode ficar no saber do "eu" (''Ego cogito'', de Descartes), mas no saber do "sou" que o "[[eu]]" é "como" saber. O "[[eu]]" só é a partir do [[ser]]. Ou seja, tem de [[vigorar]] no [[Ser]] para ser o que ele é. Por isso, o [[Ser]] nunca se restringe a um "como se sabe" nem se limita ao "que é" do [[ente]]. Daí a afirmação de Heidegger dizendo que o [[Ser]] não é, pois, se fosse, seria [[ente]] e não [[Ser]]. Por outro lado, o sendo é [[sendo]] do [[Ser]]. E, por isso, afirmou também que o que antes de tudo é é o [[Ser]]. Há, pois, um [[Espírito]] relacionado ao [[saber]]/[[ente]] do [[homem]] e o [[Espírito]] referenciado ao [[Saber]] / [[Ser]], como [[fundar]] de todos os [[saberes]] e [[entes]]. Porém, [[entre]] [[ente]] e [[Ser]] não há uma [[dicotomia]] e um isolamento, pois todo [[sendo]] é [[sendo]] do [[Ser]]. Portanto, o [[sendo]] que se sabe ([[Espírito]]) só se sabe e é na medida em que sabe e é como [[sendo]] do [[Ser]] ([[Espírito]]).  
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: [[Espírito]]/[[espelho]] não é [[saber]] algo, ou seja, isto e aquilo e aquilo outro, mas, sim, [[especular]] "como [[saber]]" o seu [[próprio]] [[ser]], o que ele é no "como ele sabe". Porém, este [[saber]] não pode ficar no [[saber]] do "[[eu]]" (''Ego cogito'', de Descartes), mas no [[saber]] do "[[sou]]" que o "[[eu]]" é "como" [[saber]]. O "[[eu]]" só é a partir do [[ser]]. Ou seja, tem de [[vigorar]] no [[Ser]] para [[ser]] o que ele [[é]]. Por isso, o [[Ser]] nunca se restringe a um "como se sabe" nem se limita ao "que é" do [[ente]]. Daí a afirmação de [[Heidegger]] dizendo que o [[Ser]] não é, pois, se fosse, seria [[ente]] e não [[Ser]]. Por outro lado, o [[sendo]] [[é]] [[sendo]] do [[Ser]]. E, por isso, afirmou também que o que antes de tudo [[é]] [[é]] o [[Ser]]. Há, pois, um [[Espírito]] relacionado ao [[saber]]/[[ente]] do [[homem]] e o [[Espírito]] referenciado ao [[Saber]] / [[Ser]], como [[fundar]] de todos os [[saberes]] e [[entes]]. Porém, [[entre]] [[ente]] e [[Ser]] não há uma [[dicotomia]] e um isolamento, pois todo [[sendo]] é [[sendo]] do [[Ser]]. Portanto, o [[sendo]] que se sabe ([[Espírito]]) só se sabe e é na medida em que sabe e é como [[sendo]] do [[Ser]] ([[Espírito]]).  
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''La pobreza''. Buenos Aires: Amorrutu, 2006, p.99.
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: "Os budistas consideram que o [[espírito]] está sempre desperto. A [[consciência]] e a [[compaixão]] são sua [[natureza]] [essência]. Para descobri-la e saboreá-la plenamente, o Buda ensinou diversos [[métodos]] de [[meditação]]. Sejam quais forem as [[práticas]] que nós utilizamos, todas são destinadas a aumentar a  nossa atenção e nossa [[consciência]] despertada, a reforçar nosso [[sentimento]] de [[paz]] [[interior]], bem como a melhorar nossa capacidade de lidar com nossas [[emoções]]" (1).
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: "Os budistas consideram que o [[espírito]] está sempre desperto. A [[consciência]] e a [[compaixão]] são sua [[natureza]] [essência]. Para descobri-la e saboreá-la plenamente, o [[Buda]] ensinou diversos [[métodos]] de [[meditação]]. Sejam quais forem as [[práticas]] que nós utilizamos, todas são destinadas a aumentar a  nossa atenção e nossa [[consciência]] despertada, a reforçar nosso [[sentimento]] de [[paz]] [[interior]], bem como a melhorar nossa capacidade de lidar com nossas [[emoções]]" (1).
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: (1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 338. In: ------. ''Buda rebelde - sobre o caminho da libertação''.Traduzido do americano por Philippe delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.
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: (1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 338. In: ------. '''Buda rebelde - sobre o caminho da libertação'''.Traduzido do americano por Philippe delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.
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: (1) BRANDÃO, Junito de Souza. ''Mitologia Grega'', vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 144.
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:  (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ------------.  ''Aprendendo a pensar, II''. Petrópolis / RJ: Vozes,  1992, p. 180.
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:  (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ------------.  '''Aprendendo a pensar, II'''. Petrópolis / RJ: Vozes,  1992, p. 180.
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: A [[palavra]] portuguesa [[espírito]] provém diretamente do [[latim]]: ''spiritus''. Este [[substantivo]] origina-se do [[verbo]] ''spiro, spirare''. "''Spiritus'' significa: ar em movimento, vento, brisa; sopro, [[respiração]]; ar necessário à [[vida]]; [[vida]]; [[espírito]], [[alma]], [[mente]]; [[paixão]]; indignação; [[entusiasmo]], [[inspiração]]" (1). Já o [[verbo]]: "''spiro, spirare'', significa: [[soprar]] (vento); [[respirar]] ruidosamente, fremir; [[viver]]; sentir-se inspirado; rescender, ser aromático; estar cheio ou compenetrado  de alguma coisa" (2).
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: A [[palavra]] portuguesa [[espírito]] provém diretamente do [[latim]]: ''spiritus''. Este [[substantivo]] origina-se do [[verbo]] ''spiro, spirare''. "''Spiritus'' significa: ar em movimento, vento, brisa; sopro, [[respiração]]; ar necessário à [[vida]]; [[vida]]; [[espírito]], [[alma]], [[mente]]; [[paixão]]; indignação; [[entusiasmo]], [[inspiração]]" (1).  
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: Já o [[verbo]]: "''spiro, spirare'', significa: [[soprar]] (vento); [[respirar]] ruidosamente, fremir; [[viver]]; sentir-se inspirado; rescender, ser aromático; estar cheio ou compenetrado  de alguma coisa" (2).
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: (1) KOEHLER S. J., Pe. H. ''Dicionário Escolar Latino-Português''. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 7. e., p. 307.
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: "Desta [[finitude]] do [[espírito]] [[humano]] nasce a tensão típica do [[homem]].  O [[homem]] tem sede do [[infinito]], embora nunca possa superar totalmente sua [[finitude]].  O [[espírito]] [[finito]], enquanto é [[espírito]], exerce a si mesmo e ao [[outro]] sob a [[luz]] e no [[horizonte]] do [[ser]] [[infinito]], o qual lhe está fundamentalmente aberto e lhe dá precisamente o [[ser]] [[espírito]], o condiciona como [[espírito]].  Mas como [[finito]], o [[espírito]] [[humano]] deve [[sempre]] de novo recomeçar em direção ao [[infinito]], deve [[perguntar]] [[sempre]] mais avante pelo [[sentido de ser]] [[ilimitado]] e por isto também pelo [[sentido]] dos [[entes]] [[finitos]] e de si mesmo, pois somente se fosse capaz de atingir [[plena]] e [[perfeitamente]] o [[sentido do ser]] [[ilimitado]] poderia através dele determinar plena e [[perfeitamente]] o [[sentido]] dos [[entes]], pois estes recebem todo o seu [[sentido]] a partir do [[sentido do ser]] [[ilimitado]].  Todavia, o [[ser]] [[ilimitado]] é [[infinito]] e por isto, como tal, inacessível totalmente ao [[espírito]] [[finito]]. Temos, portanto, os termos da [[tensão]] [[existencial]] [[humana]]: de um lado, o [[homem]] foi criado para o [[infinito]] porque ele é [[espírito]] e [[espírito]] significa exercer-se e exercer os [[outros]] sob a [[luz]] e no [[horizonte]] do [[infinito]]. E, de outro lado, este [[infinito]], nunca lhe é dado totalmente, porque ele [[mesmo]] não é [[infinito]], mas apenas tem uma [[abertura]] ao [[infinito]]" (1).
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "Nós não somos capazes de abranger exaustivamente a [[unidade]] e [[totalidade]] do [[ser]] [[ilimitado]], porque não somos [[ilimitados]], mas apenas temos uma [[abertura]] ao [[horizonte]] do [[ilimitado]]. Ora, um tal [[espírito]], que não é capaz de abranger exaustivamente o [[ilimitado]] em sua [[unidade]] e [[totalidade]], mas sempre atinge em primeira [[instância]] o [[ser]] dos [[entes]] [[finitos]] e somente mediante este, e por isto de modo [[finito]], tem acesso [[limitado]] ao [[ser]] [[ilimitado]], tal [[espírito]] é [[finito]]" (1).
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: "Todavia, o [[ser]] [[ilimitado]] é [[infinito]] e por isto, como tal, inacessível de modo total ao [[espírito]] [[finito]]. Temos, portanto, os termos da [[tensão]] [[existencial]] [[humana]]: de um lado, o [[homem]] foi criado para o [[infinito]] porque ele é [[espírito]] e [[espírito]] significa exercer-se e exercer os [[outros]] sob a [[luz]] e no [[horizonte]] do [[infinito]]. E, de outro lado, este [[infinito]], nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é [[infinito]], mas apenas tem uma [[abertura]] ao [[infinito]].  O [[homem]] tende para o [[infinito]], mas nunca poderá identificar-se com o [[infinito]]" (1).
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: "O [[homem]] assim é um ente-presente-a-si-mesmo, ou seja, um [[espírito]].  Porém, se o [[homem]] compreende a si mesmo a partir do [[horizonte]] do [[ser]] [[ilimitado]], significa que ele está [[aberto]] a este [[horizonte]]. E estando [[aberto]] a este [[horizonte]] o [[homem]] deve ser capaz igualmente de [[compreender]] os [[outros]] [[entes]] à [[luz]] do [[ser]] [[ilimitado]]" (1).
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: É esta [[abertura]] para o [[horizonte]] do [[ser]] que torna o [[ser humano]] propriamente [[humano]], pois ele funda seu [[agir]] nesta [[abertura]]. E é esta [[abertura]] que o caracteriza como [[espírito]]. Desse modo toda [[obra de arte]] se funda na [[abertura]] do [[sentido do ser]] em  que age o [[ser humano]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "Como [[espírito]], portanto, o [[homem]] deve exercer-se no campo [[ilimitado]] do [[ser]], mas, como [[finito]], deve exercer-se no campo [[limitado]] do [[mundo]]" (1).
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: A [[palavra]] [[espírito]] é a [[tradução]] da [[palavra]] [[grega]] ''[[Nous]]'', do [[verbo]] ''[[noein]]''. Para [[ver]] o alcance deste [[verbo]] e todas as suas implicações é [[necessário]] [[ler]] o [[ensaio]] de [[Heidegger]] ''[[Moira]]'', no livro ‘‘Ensaios e conferências’’ (1). [[Espírito]] vem desse [[verbo]], onde se dá, acontece o [[saber]] como o [[saber]] que se sabe [[ser]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Moira - Parmênides VIII, 34-41". In: ______. '''Ensaios e Conferências'''. Petrópolis / RJ: Vozes, 2002, 205 / 226. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.
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: "O [[exercício espiritual]] é um [[exercício]] do [[ser]] como [[ser]]. O [[espírito]] [[finito]], todavia, não pode exercer o [[ser]] em toda a sua [[infinita]] [[plenitude]]. Enquanto [[finito]], o [[espírito]] [[finito]] só pode exercer [[entes]] [[finitos]], mas enquanto ele é [[espírito]], ele pode exercer o [[ente]] na [[luz]] e no [[horizonte]] do [[ser]] [[ilimitado]]" (1).
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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== 20 ==
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: O [[saber]] que se sabe é um [[auto]]-[[iluminar-se]] e, portanto, um [[exercício espiritual]]. Temos então a [[definição]] do que seja [[espírito]], pois ele é compreendido dentro da [[questão]] do [[saber]] que se sabe por haver um [[auto]]-[[refletir-se]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].

Edição atual tal como 21h48min de 15 de Agosto de 2022

1

"Ora, um exercício em que o ente é exercício e em que o ente é exercido sob a luz do ser, no horizonte do ser, chama-se um exercício espiritual. Em outras palavras, quem é capaz de exercer o ente como tal, ou seja, compreender o ente a partir da luz de seu fundamento, o ser, este tal é um espírito. Logo, todo aquele que é capaz de formular uma pergunta é espírito, porque a pergunta só é possível para quem tem esta abertura ao ser ilimitado. Por isto, na pergunta se revela que o homem é espírito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

2

"... na medida em que eu atinjo o ser eu sei o ser, no sentido de que ele se me torna transparente, se me revela. Ora, em primeira instância é o meu próprio ser que eu atinjo, que se me revela. E através dele eu atinjo o ser ilimitado como fundamento do meu ser e como luz que me faz compreender a mim mesmo como ente. É nisto que consiste para o homem o ser espírito: o homem se torna transparente a si mesmo como ente, compreende-se a partir do ser ilimitado, na luz do ser ilimitado. O homem assim é um ente-presente-a-si-mesmo, ou seja, um espírito. Porém, se o homem compreende a si mesmo a partir do horizonte do ser ilimitado, significa que ele está aberto a este horizonte. E estando aberto a este horizonte o homem deve ser capaz igualmente de compreender os outros entes à luz do ser ilimitado" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

3

Espírito/espelho não é saber algo, ou seja, isto e aquilo e aquilo outro, mas, sim, especular "como saber" o seu próprio ser, o que ele é no "como ele sabe". Porém, este saber não pode ficar no saber do "eu" (Ego cogito, de Descartes), mas no saber do "sou" que o "eu" é "como" saber. O "eu" só é a partir do ser. Ou seja, tem de vigorar no Ser para ser o que ele é. Por isso, o Ser nunca se restringe a um "como se sabe" nem se limita ao "que é" do ente. Daí a afirmação de Heidegger dizendo que o Ser não é, pois, se fosse, seria ente e não Ser. Por outro lado, o sendo é sendo do Ser. E, por isso, afirmou também que o que antes de tudo é é o Ser. Há, pois, um Espírito relacionado ao saber/ente do homem e o Espírito referenciado ao Saber / Ser, como fundar de todos os saberes e entes. Porém, entre ente e Ser não há uma dicotomia e um isolamento, pois todo sendo é sendo do Ser. Portanto, o sendo que se sabe (Espírito) só se sabe e é na medida em que sabe e é como sendo do Ser (Espírito).


- Manuel Antônio de Castro

4

"Chamamos de espírito o ente que é capaz de exercer-se como um ser-presente-a-si-mesmo, em quem o ser toma consciência de si e cientemente toma posse de si mesmo numa identidade de ser e saber" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

5

"A essência do espírito é a vontade originária que se quer a ela mesma, a qual é pensada umas vezes como "substância", outras como "sujeito", outras como a unidade de ambos" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. La pobreza. Buenos Aires: Amorrutu, 2006, p.99.

6

"Os budistas consideram que o espírito está sempre desperto. A consciência e a compaixão são sua natureza [essência]. Para descobri-la e saboreá-la plenamente, o Buda ensinou diversos métodos de meditação. Sejam quais forem as práticas que nós utilizamos, todas são destinadas a aumentar a nossa atenção e nossa consciência despertada, a reforçar nosso sentimento de paz interior, bem como a melhorar nossa capacidade de lidar com nossas emoções" (1).


Referência:
(1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 338. In: ------. Buda rebelde - sobre o caminho da libertação.Traduzido do americano por Philippe delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.

7

"Ora, na medida em que o sujeito sai de si mesmo ele é-ausente-de-si-mesmo. Esta ausência-de-si-mesmo é a negação da espiritualidade que é total presença-a-si-mesmo. Esta negatividade do espírito chamamos materialidade. Esta, portanto, só é definível a partir da espiritualidade, como negatividade desta última. Isto porque o ser é, fundamentalmente, espírito e por isto toda a realidade positiva provém do espírito, é participação do espírito, com a consequência de que a materialidade, como negação do espírito, é puro princípio de negatividade, ou seja, de não-ser, enquanto que o espírito é o princípio de toda a positividade, ou seja, de ser (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

8

"Psykhé, psiqué, que se perpetuou universalmente com o sentido de alma nas línguas cultas e em tantos compostos, provém do verbo psykhein, soprar, respirar, donde psiqué, do ponto de vista etimológico, significa respiração, sopro vital, vida" (1). O importante a observar, ao tomarmos conhecimento da origem da palavra espírito, é que tanto espírito quanto alma têm ambas as palavras como aquilo em que se fundam o elemento ar. Ora, o ar é um dos quatro elementos fundadores de tudo, ao lado do fogo, da água e da terra. O elemento ar é essencial no pensamento oriental. Assim ele, como respiração e controle desta é essencial para a Ioga, bem como para o pensamento e prática do Budismo. O ar que na vida inspiramos e expiramos é o próprio sopro vital ou anima, isto é, alma. Daí a ligação entre ar e vida, alma e espírito. Seguem um caminho diferente do ocidental, onde tudo está fundado no logos, traduzido para o latim como verbo e razão. Fundamentados na razão, na modernidade chega-se a negar o espírito.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 144.

9

"A cultura é o espírito da nação, o valor simbólico que a mantém una, que a faz existir. Ela não é só responsável por produtos de cinema, música, televisão, literatura, artes plásticas etc., como também pelos costumes de um povo, os hábitos da população que se desenvolvem ao longo do tempo" (1).


Referência:
(1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal O Globo, 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.

10

"Temos assim como final da problemática do ser do homem: O homem é liberdade limitada e, como tal, ele se dá a si mesmo a sua essência, que será autêntica enquanto for escolhido em direção ao ser. E que será inautêntica enquanto for escolhida em direção inversa ao ser. Isto significa igualmente que o homem é espírito limitado, pois a característica do espírito é justamente este saber do seu próprio ser enquanto este se refere ao seu fundamento, o ser absoluto. Espírito e liberdade são dois aspetos da mesma realidade, tanto assim que um implica o outro: não há liberdade senão no espírito, e não há espírito senão livre" (1). Isso é a plena iluminação efetivada enquanto verdade e linguagem.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.Faleceu dia 4 de julho de 2022.

11

"Mistério vem do verbo grego myo. E myo diz: trancar-se no centro, concentrar-se; diz: encerrar-se no âmago, recolher-se ao íntimo. Aqui, centro, âmago, íntimo, evocam a raiz da intensidade, o sumo da plenitude. Mistério não diz uma coisa, diz um movimento, o movimento de con-sumar, de concentrar-se na origem, de recolher-se à natividade da raiz, de retornar ao sem fundo e fundamento, ao a-bismo de ser. As palavras, Deus, Absoluto, Transcendência, Inconsciente, Espírito, Matéria, Psique, Estrutura, Ser são outras tantas redes em cujas malhas o poder do saber ocidental na teologia, na filosofia, na ciência, sempre de novo tentou, mas nunca conseguiu, prender e segurar a natividade do mistério" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ------------. Aprendendo a pensar, II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 180.

12

A palavra portuguesa espírito provém diretamente do latim: spiritus. Este substantivo origina-se do verbo spiro, spirare. "Spiritus significa: ar em movimento, vento, brisa; sopro, respiração; ar necessário à vida; vida; espírito, alma, mente; paixão; indignação; entusiasmo, inspiração" (1).
Já o verbo: "spiro, spirare, significa: soprar (vento); respirar ruidosamente, fremir; viver; sentir-se inspirado; rescender, ser aromático; estar cheio ou compenetrado de alguma coisa" (2).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) KOEHLER S. J., Pe. H. Dicionário Escolar Latino-Português. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 7. e., p. 307.
(2) KOEHLER S. J., Pe. H. Dicionário Escolar Latino-Português. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 7. e., p. 307.

13

"Desta finitude do espírito humano nasce a tensão típica do homem. O homem tem sede do infinito, embora nunca possa superar totalmente sua finitude. O espírito finito, enquanto é espírito, exerce a si mesmo e ao outro sob a luz e no horizonte do ser infinito, o qual lhe está fundamentalmente aberto e lhe dá precisamente o ser espírito, o condiciona como espírito. Mas como finito, o espírito humano deve sempre de novo recomeçar em direção ao infinito, deve perguntar sempre mais avante pelo sentido de ser ilimitado e por isto também pelo sentido dos entes finitos e de si mesmo, pois somente se fosse capaz de atingir plena e perfeitamente o sentido do ser ilimitado poderia através dele determinar plena e perfeitamente o sentido dos entes, pois estes recebem todo o seu sentido a partir do sentido do ser ilimitado. Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível totalmente ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

14

"Nós não somos capazes de abranger exaustivamente a unidade e totalidade do ser ilimitado, porque não somos ilimitados, mas apenas temos uma abertura ao horizonte do ilimitado. Ora, um tal espírito, que não é capaz de abranger exaustivamente o ilimitado em sua unidade e totalidade, mas sempre atinge em primeira instância o ser dos entes finitos e somente mediante este, e por isto de modo finito, tem acesso limitado ao ser ilimitado, tal espírito é finito" (1).
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

15

"Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível de modo total ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito. O homem tende para o infinito, mas nunca poderá identificar-se com o infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

16

"O homem assim é um ente-presente-a-si-mesmo, ou seja, um espírito. Porém, se o homem compreende a si mesmo a partir do horizonte do ser ilimitado, significa que ele está aberto a este horizonte. E estando aberto a este horizonte o homem deve ser capaz igualmente de compreender os outros entes à luz do ser ilimitado" (1).
É esta abertura para o horizonte do ser que torna o ser humano propriamente humano, pois ele funda seu agir nesta abertura. E é esta abertura que o caracteriza como espírito. Desse modo toda obra de arte se funda na abertura do sentido do ser em que age o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

17

"Como espírito, portanto, o homem deve exercer-se no campo ilimitado do ser, mas, como finito, deve exercer-se no campo limitado do mundo" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

18

A palavra espírito é a tradução da palavra grega Nous, do verbo noein. Para ver o alcance deste verbo e todas as suas implicações é necessário ler o ensaio de Heidegger Moira, no livro ‘‘Ensaios e conferências’’ (1). Espírito vem desse verbo, onde se dá, acontece o saber como o saber que se sabe ser.


- Manuel Antônio de Castro.
(1) HEIDEGGER, Martin. "Moira - Parmênides VIII, 34-41". In: ______. Ensaios e Conferências. Petrópolis / RJ: Vozes, 2002, 205 / 226. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.

19

"O exercício espiritual é um exercício do ser como ser. O espírito finito, todavia, não pode exercer o ser em toda a sua infinita plenitude. Enquanto finito, o espírito finito só pode exercer entes finitos, mas enquanto ele é espírito, ele pode exercer o ente na luz e no horizonte do ser ilimitado" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

20

O saber que se sabe é um auto-iluminar-se e, portanto, um exercício espiritual. Temos então a definição do que seja espírito, pois ele é compreendido dentro da questão do saber que se sabe por haver um auto-refletir-se.


- Manuel Antônio de Castro.
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