Consciência

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(1)
(10)
(25 edições intermediárias não estão sendo exibidas.)
Linha 1: Linha 1:
== 1 ==
== 1 ==
-
: A [[consciência]] como [[questão]] remete para a [[epistemologia]] e, no que diz respeito à [[verdade]], para [[adequação]]. Esta é a relação lógico-conceitual entre [[enunciado]] e [[enunciação]], onde o [[vigorar]] do que é e está sendo (''[[aletheia]]'')  fica esquecido e obstruído pela [[luz]] da [[razão]] conceitual. Tal [[esquecimento]] mostra os [[limites]] da [[consciência]] que só sabe o que sabe (''cum-scire'') e nunca sabe o que não vê, pois limita-se epistemologicamente (''epistastai'') ao que pode ser visto. A [[consciência]] diz respeito ao [[saber]] e não e jamais ao [[não-saber]] de todo [[saber]], ao [[não-ver]] de tudo que vê, pois não pode se abrir para o que, dando-se a [[ver]], se retrai, se oculta, se vela: o [[ser]], sendo e não-sendo, dando-se e retraindo-se, pondo-se e depondo-se, [[sendo]] no [[aparecer]] das [[aparências]] e no [[desaparecer]] do [[não-ser]], pois o [[ser]] foi, é e será sempre o [[vigorar]] do ''[[nada]]''. O que a consciência sabe do ''[[nada]]''? Deste modo, o que nos coloca em contato com esta [[questão]] é o [[pensar]] e não apenas o [[saber]] da [[razão]], da [[consciência]], se definida apenas pela [[razão]], como é tradicional. [[Pensar]] é [[ser]] o que recebemos para [[ser]]. É nesse mesmo [[horizonte]] que se diferenciam as [[traduções]] de ''[[Logos]]'' como [[pensamento]] e [[razão]].
+
: A [[consciência]] como [[questão]] remete para a [[epistemologia]] e, no que diz respeito à [[verdade]], para [[adequação]]. Esta é a [[relação]] [[lógico]]-[[conceitual]] [[entre]] [[enunciado]] e [[enunciação]], onde o [[vigorar]] do que é e está sendo (''[[aletheia]]'')  fica esquecido e obstruído pela [[luz]] da [[razão]] [[conceitual]]. Tal [[esquecimento]] mostra os [[limites]] da [[consciência]] que só sabe o que sabe (''cum-scire'') e nunca sabe o que não vê, pois limita-se [[epistemologicamente]] (''epistastai'') ao que pode ser visto. A [[consciência]] diz respeito ao [[saber]] e não e jamais ao [[não-saber]] de todo [[saber]], ao [[não-ver]] de [[tudo]] que vê, pois não pode se [[abrir]] para o que, dando-se a [[ver]], [[se retrai]], [[se oculta]], [[se vela]]: o [[ser]], sendo e não-sendo, dando-se e retraindo-se, pondo-se e depondo-se, [[sendo]] no [[aparecer]] das [[aparências]] e no [[desaparecer]] do [[não-ser]], pois o [[ser]] foi, é e será [[sempre]] o [[vigorar]] do ''[[nada]]''. O que a [[consciência]] sabe do ''[[nada]]''? Deste modo, o que nos coloca em contato com esta [[questão]] é o [[pensar]] e não apenas o [[saber]] da [[razão]], da [[consciência]], se definida apenas pela [[razão]], como é [[tradicional]]. [[Pensar]] é [[ser]] o que recebemos para [[ser]]. É nesse mesmo [[horizonte]] que se diferenciam as [[traduções]] de ''[[Logos]]'' como [[pensamento]] e [[razão]].
-
: O que a consciência sabe de si mesmo? Não será apenas a fala do [[silêncio]]? Mas esta é [[silêncio]] e não fala... eis o [[mistério]] da [[consciência]]. Esta aparece em todo o seu vigor de questão quando tentamos apreender o [[inconsciente]] e a [[realidade]] que se faz [[presente]] e atua nos [[sonhos]]. Em nossa vida os sonhos são reais. O que eles dizem e como dizem é que é inconsciente para nós em seu [[sentido]]. É este [[sentido]] que a [[psicanálise]] procura.
+
: O que a [[consciência]] sabe de si mesmo? Não será apenas a [[fala]] do [[silêncio]]? Mas esta é [[silêncio]] e não [[fala]]... eis o [[mistério]] da [[consciência]]. Esta aparece em todo o seu [[vigor]] de [[questão]] quando tentamos [[apreender]] o [[inconsciente]] e a [[realidade]] que se faz [[presente]] e [[atua]] nos [[sonhos]]. Em nossa [[vida]] os [[sonhos]] são [[reais]]. O que eles [[dizem]] e como [[dizem]] é que é [[inconsciente]] para nós em seu [[sentido]]. É este [[sentido]] que a [[psicanálise]] junguiana [[procura]]. Por isso [[Jung]] propõe o [[arquétipo]].
Linha 7: Linha 7:
-
:Conferir também:
+
: Conferir também:
: * [[aletheia]]
: * [[aletheia]]
-
: Se o leitor quiser aprofundar esta temática, sugerimos:
+
: Se o [[leitor]] quiser [[aprofundar]] esta [[temática]], sugerimos:
-
: HEIDEGGER, Martin. "Aletheia". In: --------. ''Ensaios e conferências''. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
+
: HEIDEGGER, Martin. "Aletheia". In: --------. '''Ensaios e conferências'''. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
-
: ----------------------------. ''Parmênides''. Trad. Sérgio Mário Wrublevski. Petrópolis: Vozes, 2008.
+
: ----------------------------. '''Parmênides'''. Trad. Sérgio Mário Wrublevski. Petrópolis: Vozes, 2008.
== 2 ==
== 2 ==
-
: "Um outro exemplo da idade moderna de [[criação]] da [[razão]] e da [[consciência]] é de Kant, ''cogitans objectum me objectum'', da Analítica dos Princípios. Pensando o [[objeto]] que não sou eu, mas que se opõe a mim e por isso é “ob-jecto”, descubro que sou eu que penso o [[objeto]] oposto a mim. Essa [[oposição]] não é tão radical assim. Por isso, isso é o que constitui a [[consciência]]. Sem essa [[experiência]] de não ser radical, de não ser por exclusividade e exclusão radical a diferença entre sujeito e objeto; por isso é que há a possibilidade da consciência, que pode se tornar qualquer coisa, sem violar e deturpar a [[diferença]]" (1).
+
: "Um outro [[exemplo]] da [[idade moderna]] de [[criação]] da [[razão]] e da [[consciência]] é de [[Kant]], ''cogitans objectum me objectum'', da '''Analítica dos Princípios'''. [[Pensando]] o [[objeto]] que não [[sou]] [[eu]], mas que se opõe a mim e por isso é “[[ob-jecto]]”, descubro que [[sou]] [[eu]] que [[penso]] o [[objeto]] oposto a mim. Essa [[oposição]] não é tão [[radical]] assim. Por isso, isso é o que constitui a [[consciência]]. Sem essa [[experiência]] de não [[ser]] [[radical]], de [[não ser]] por [[exclusividade]] e [[exclusão]] [[radical]] a [[diferença]] [[entre]] [[sujeito]] e [[objeto]]; por isso é que há a [[possibilidade]] da [[consciência]], que pode se tornar qualquer [[coisa]], sem violar e deturpar a [[diferença]]" (1).
Linha 23: Linha 23:
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Idea, Eidos". Conf. proferida  na UERJ, em 2005.
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Idea, Eidos". Conf. proferida  na UERJ, em 2005.
 +
 +
== 3 ==
 +
: [[Heidegger]] [[pensa]] o [[sentido]] e [[pensamento]], e o distingue de [[consciência]] e [[conhecimento]]. "O alemão ''sinnan'', ''sinnen'', [[pensar]] o [[sentido]], diz encaminhar na direção que uma [[causa]] já tomou por si mesma. Entregar-se ao [[sentido]] é a [[essência]] do [[pensamento]] que pensa o [[sentido]]. Este significa mais do que [[simples]] [[consciência]] de alguma [[coisa]]. Ainda não pensamos o [[sentido]] quando estamos apenas na [[consciência]]. [[Pensar]] o [[sentido]] é muito mais. É a [[serenidade]] em face do que é digno de ser questionado. No [[pensamento]] do [[sentido]], chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No [[pensamento]] do [[sentido]], encaminhamo-nos para um [[lugar]] onde se abre, então, o [[espaço]] que atravessa e percorre [[tudo]] que fazemos ou deixamos de fazer" (1).
 +
 +
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:---. '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.
 +
 +
== 4 ==
 +
: "A [[consciência]], para ser [[consciência]], funda-se no pré-ver e não na [[razão]]. Do [[verbo]] latino re-flectere formou-se o [[substantivo]] re-flexio, [[reflexão]], o que diz a volta sobre si mesmo. Examinando a [[pergunta]] [[concreta]] do [[perguntador]] sobre si mesmo, podemos notar que cada [[ser humano]], ao ser [[sempre]] [[essencialmente]] um [[perguntador]], em primeira [[instância]], ele se pro-jeta para fora dele mesmo, na [[procura]] de [[realizar-se]] nas mais [[diferentes]] [[finalidades]], seja com o [[outro]], seja com as [[coisas]]. Somente num segundo [[momento]] ele é re-flexivo, isto é, retorna sobre si, quando então [[sabe]] e [[sabe]] que [[sabe]] (sabe o [[outro]] e sabe a [[si mesmo]]), dando-se conta do que ele realmente [[é]], caminhando em sentido inverso à [[prospecção]], reconhecendo-se em seu [[agir]], em seu [[fazer]] ou [[operar]]. Mas a [[possibilidade]] de retornar [[reflexivamente]] a mim mesmo pressupõe que desde [[sempre]] [[eu]] era-presente-a-mim-mesmo, caso contrário [[eu]] nem poderia [[questionar]], não saindo ([[prospeccionando]]) nem voltando a mim ([[re-fletindo]], [[especulando]])" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 37.
 +
 +
== 5 ==
 +
: "Os [[budistas consideram que o [[espírito]] está sempre desperto. A [[consciência]] e a [[compaixão]] são sua [[natureza]] [essência]. Para descobri-la e saboreá-la plenamente, o Buda ensinou diversos [[métodos]] de [[meditação]]. Sejam quais forem as [[práticas]] que nós utilizamos, todas são destinadas a aumentar a  nossa atenção e nossa [[consciência]] despertada, a reforçar nosso [[sentimento]] de [[paz]] [[interior]], bem como a melhorar nossa capacidade de lidar com nossas [[emoções]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 338. In: ------. '''Buda rebelde - sobre o caminho da libertação'''.Traduzido do americano por Philippe delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.
 +
 +
== 6 ==
 +
: "Toda [[questão]] [[é]] e [[não é]], sabe e não sabe. Acontece que a [[questão]] não é [[algo]] que a [[consciência]] põe. Pelo contrário, nós somos postos na e pela [[questão]], pois já vivemos e nascemos, amamos e morremos, e nos movemos na [[questão]] como [[unidade]] e [[vigorar]] de [[tudo]] que é e se sabe, se dá e se retrai, enquanto [[linguagem]], isto é, [[sentido do ser]]. A [[questão]] não é posta pela [[pergunta]] do [[eu]], do [[sujeito]]. O [[eu]] é que é posto pela [[questão]]. Por exemplo, para [[perguntar]], já tenho que [[estar]] [[vivendo]], me [[experienciando]] no [[vigorar]] do [[tempo]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio não publicado.
 +
 +
== 7 ==
 +
: "Num primeiro contato, a [[diferença]] [[entre]] um e [[outro]] estaria na [[distinção]] [[entre]] [[consciência]]-[[inconsciente]] de um lado e a [[existência]] e [[referência]] de outro. A [[comunhão]] [[entre]] ambos estaria na maneira de lidar no [[procedimento]] com que se trataria a [[consciência]] e a [[existência]] num e noutro caso" (1). (Observação: "...um e outro..." refere-se a Binswanger e Freud)
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.
 +
 +
== 8 ==
 +
: "Em [[Husserl]] é pela [[intencionalidade]] que a [[consciência]] está sempre passando do [[fenômeno]] para a [[fenomenologia]]. Há, pois, uma [[distinção]] entre [[fenômeno]] e [[fenomenologia]] e a [[intencionalidade]] da [[consciência]] serve de ponte de [[ligação]]. Sem [[consciência]] [[intencional]] não se dá [[fenomenologia]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 69.
 +
 +
== 9 ==
 +
: "Pela [[abertura]] que o [[homem]] tem ao [[horizonte]] [[ilimitado]] do [[ser]], ele é capaz até certo ponto de sobrevoar a si mesmo como posto e fundamentado no [[ser]].  Assim o [[homem]] se [[sabe]] a si [[mesmo]] e [[sabendo-se]] se possui a si [[mesmo]]. Está [[presente]] e transparente a si [[mesmo]], torna-se [[luminoso]] a si [[mesmo]].  É isto que se chama [[auto-consciência]]. Enquanto este [[saber]] de si [[mesmo]] é condicionado pela [[abertura]] ao [[horizonte]] do [[ser]] [[ilimitado]] do qual vem a [[luz]] que ilumina o [[sujeito]] a si [[mesmo]], este [[mesmo]] [[sujeito]] deverá [[ser]] capaz de dar-se conta também dos [[outros]] [[entes]] que não são ele [[mesmo]], mas que também estão [[postos]] no [[horizonte]] do [[ser]] [[ilimitado]].  Ou melhor, através da [[abertura]] que o [[homem]] tem para o [[ser]] [[ilimitado]], a [[luz]] atinge também os [[entes]] que não se identificam com o [[sujeito]].  E assim o [[sujeito]] se dá conta também deles como [[entes]], compreende-os a partir da [[luz]] que vem do [[ser]].  É isto o que se chama de [[consciência]] do [[objeto]]. Ou seja, a [[consciência]] daquilo que não é o [[próprio]] [[sujeito]] [[consciente]], aquilo de que o [[homem]] se dá conta, além de si [[mesmo]].  Assim o [[homem]] não apenas está [[presente]] a si [[mesmo]], mas também está [[presente]] ao [[outro]], está junto ao [[outro]], dá-se conta do [[outro]]" (1).
 +
: Na  medida em que cada um é um [[próprio]] ele se torna [[sempre]] um [[outro]], do qual jamais poderemos ter [[consciência]] completa. Mas esta nem de nós [[mesmos]] temos, isto é, nossa [[auto-consciência]] está [[sempre]] em [[caminhada]]. E varia de [[ser humano]] para [[ser humano]]. Essa [[caminhada]] tem de [[ser]] contínua e [[sempre]] teremos novas [[dimensões]] para [[descobrir]]. A esse [[processo]] de descoberta se denomina muito apropriadamente: [[iluminação]].
 +
 +
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
 +
 +
:  Referência:
 +
 +
:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
 +
 +
== 10 ==
 +
: "Ora, [[exercício]] do [[ser]] como [[ser]] é [[agir]]. Assim devemos [[dizer]] do [[Espírito absoluto]] e [[divino]] que ele também é [[agir]] na sua [[plenitude]] de [[perfeição]]. Além disto vimos que [[exercício]] do [[ser]] como [[ser]] é [[ser]] [[consciente]], é [[consciência]]. Portanto,  também ao [[Ser absoluto]] devemos atribuir uma [[consciência]] [[perfeitíssima]], [[plena]] e [[infinita]]" (1).
 +
 +
 +
:  Referência:
 +
 +
:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. [[Mimeo]]. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.

Edição de 00h46min de 20 de Abril de 2024

Tabela de conteúdo

1

A consciência como questão remete para a epistemologia e, no que diz respeito à verdade, para adequação. Esta é a relação lógico-conceitual entre enunciado e enunciação, onde o vigorar do que é e está sendo (aletheia) fica esquecido e obstruído pela luz da razão conceitual. Tal esquecimento mostra os limites da consciência que só sabe o que sabe (cum-scire) e nunca sabe o que não vê, pois limita-se epistemologicamente (epistastai) ao que pode ser visto. A consciência diz respeito ao saber e não e jamais ao não-saber de todo saber, ao não-ver de tudo que vê, pois não pode se abrir para o que, dando-se a ver, se retrai, se oculta, se vela: o ser, sendo e não-sendo, dando-se e retraindo-se, pondo-se e depondo-se, sendo no aparecer das aparências e no desaparecer do não-ser, pois o ser foi, é e será sempre o vigorar do nada. O que a consciência sabe do nada? Deste modo, o que nos coloca em contato com esta questão é o pensar e não apenas o saber da razão, da consciência, se definida apenas pela razão, como é tradicional. Pensar é ser o que recebemos para ser. É nesse mesmo horizonte que se diferenciam as traduções de Logos como pensamento e razão.
O que a consciência sabe de si mesmo? Não será apenas a fala do silêncio? Mas esta é silêncio e não fala... eis o mistério da consciência. Esta aparece em todo o seu vigor de questão quando tentamos apreender o inconsciente e a realidade que se faz presente e atua nos sonhos. Em nossa vida os sonhos são reais. O que eles dizem e como dizem é que é inconsciente para nós em seu sentido. É este sentido que a psicanálise junguiana procura. Por isso Jung propõe o arquétipo.


- Manuel Antônio de Castro


Conferir também:
* aletheia
Se o leitor quiser aprofundar esta temática, sugerimos:
HEIDEGGER, Martin. "Aletheia". In: --------. Ensaios e conferências. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
----------------------------. Parmênides. Trad. Sérgio Mário Wrublevski. Petrópolis: Vozes, 2008.

2

"Um outro exemplo da idade moderna de criação da razão e da consciência é de Kant, cogitans objectum me objectum, da Analítica dos Princípios. Pensando o objeto que não sou eu, mas que se opõe a mim e por isso é “ob-jecto”, descubro que sou eu que penso o objeto oposto a mim. Essa oposição não é tão radical assim. Por isso, isso é o que constitui a consciência. Sem essa experiência de não ser radical, de não ser por exclusividade e exclusão radical a diferença entre sujeito e objeto; por isso é que há a possibilidade da consciência, que pode se tornar qualquer coisa, sem violar e deturpar a diferença" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Idea, Eidos". Conf. proferida na UERJ, em 2005.

3

Heidegger pensa o sentido e pensamento, e o distingue de consciência e conhecimento. "O alemão sinnan, sinnen, pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma. Entregar-se ao sentido é a essência do pensamento que pensa o sentido. Este significa mais do que simples consciência de alguma coisa. Ainda não pensamos o sentido quando estamos apenas na consciência. Pensar o sentido é muito mais. É a serenidade em face do que é digno de ser questionado. No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um lugar onde se abre, então, o espaço que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:---. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.

4

"A consciência, para ser consciência, funda-se no pré-ver e não na razão. Do verbo latino re-flectere formou-se o substantivo re-flexio, reflexão, o que diz a volta sobre si mesmo. Examinando a pergunta concreta do perguntador sobre si mesmo, podemos notar que cada ser humano, ao ser sempre essencialmente um perguntador, em primeira instância, ele se pro-jeta para fora dele mesmo, na procura de realizar-se nas mais diferentes finalidades, seja com o outro, seja com as coisas. Somente num segundo momento ele é re-flexivo, isto é, retorna sobre si, quando então sabe e sabe que sabe (sabe o outro e sabe a si mesmo), dando-se conta do que ele realmente é, caminhando em sentido inverso à prospecção, reconhecendo-se em seu agir, em seu fazer ou operar. Mas a possibilidade de retornar reflexivamente a mim mesmo pressupõe que desde sempre eu era-presente-a-mim-mesmo, caso contrário eu nem poderia questionar, não saindo (prospeccionando) nem voltando a mim (re-fletindo, especulando)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 37.

5

"Os [[budistas consideram que o espírito está sempre desperto. A consciência e a compaixão são sua natureza [essência]. Para descobri-la e saboreá-la plenamente, o Buda ensinou diversos métodos de meditação. Sejam quais forem as práticas que nós utilizamos, todas são destinadas a aumentar a nossa atenção e nossa consciência despertada, a reforçar nosso sentimento de paz interior, bem como a melhorar nossa capacidade de lidar com nossas emoções" (1).


Referência:
(1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 338. In: ------. Buda rebelde - sobre o caminho da libertação.Traduzido do americano por Philippe delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.

6

"Toda questão é e não é, sabe e não sabe. Acontece que a questão não é algo que a consciência põe. Pelo contrário, nós somos postos na e pela questão, pois já vivemos e nascemos, amamos e morremos, e nos movemos na questão como unidade e vigorar de tudo que é e se sabe, se dá e se retrai, enquanto linguagem, isto é, sentido do ser. A questão não é posta pela pergunta do eu, do sujeito. O eu é que é posto pela questão. Por exemplo, para perguntar, já tenho que estar vivendo, me experienciando no vigorar do tempo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio não publicado.

7

"Num primeiro contato, a diferença entre um e outro estaria na distinção entre consciência-inconsciente de um lado e a existência e referência de outro. A comunhão entre ambos estaria na maneira de lidar no procedimento com que se trataria a consciência e a existência num e noutro caso" (1). (Observação: "...um e outro..." refere-se a Binswanger e Freud)


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.

8

"Em Husserl é pela intencionalidade que a consciência está sempre passando do fenômeno para a fenomenologia. Há, pois, uma distinção entre fenômeno e fenomenologia e a intencionalidade da consciência serve de ponte de ligação. Sem consciência intencional não se dá fenomenologia" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 69.

9

"Pela abertura que o homem tem ao horizonte ilimitado do ser, ele é capaz até certo ponto de sobrevoar a si mesmo como posto e fundamentado no ser. Assim o homem se sabe a si mesmo e sabendo-se se possui a si mesmo. Está presente e transparente a si mesmo, torna-se luminoso a si mesmo. É isto que se chama auto-consciência. Enquanto este saber de si mesmo é condicionado pela abertura ao horizonte do ser ilimitado do qual vem a luz que ilumina o sujeito a si mesmo, este mesmo sujeito deverá ser capaz de dar-se conta também dos outros entes que não são ele mesmo, mas que também estão postos no horizonte do ser ilimitado. Ou melhor, através da abertura que o homem tem para o ser ilimitado, a luz atinge também os entes que não se identificam com o sujeito. E assim o sujeito se dá conta também deles como entes, compreende-os a partir da luz que vem do ser. É isto o que se chama de consciência do objeto. Ou seja, a consciência daquilo que não é o próprio sujeito consciente, aquilo de que o homem se dá conta, além de si mesmo. Assim o homem não apenas está presente a si mesmo, mas também está presente ao outro, está junto ao outro, dá-se conta do outro" (1).
Na medida em que cada um é um próprio ele se torna sempre um outro, do qual jamais poderemos ter consciência completa. Mas esta nem de nós mesmos temos, isto é, nossa auto-consciência está sempre em caminhada. E varia de ser humano para ser humano. Essa caminhada tem de ser contínua e sempre teremos novas dimensões para descobrir. A esse processo de descoberta se denomina muito apropriadamente: iluminação.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

10

"Ora, exercício do ser como ser é agir. Assim devemos dizer do Espírito absoluto e divino que ele também é agir na sua plenitude de perfeição. Além disto vimos que exercício do ser como ser é ser consciente, é consciência. Portanto, também ao Ser absoluto devemos atribuir uma consciência perfeitíssima, plena e infinita" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.
Ferramentas pessoais