Técnica

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: É [[essencial]] apreender o ponto de partida da [[técnica]] na [[modernidade]]. Ela se funda na [[decisão]] do que é [[realidade]] a partir do ''sapere aude'', onde se dá o [[ser]] como funcionalidade e a [[verdade]] como operatividade. Então, não há lugar para a [[escuta]] e o [[velar-se]] da ''[[phýsis]]'' no desvelar-se. Por isso diz Carneiro Leão: "... só temos olhos para o espaço físico-geométrico de [[sujeito]] e [[objeto]]. Pois este podemos medi-lo com uma escala exatamente definida. Podemos operá-lo com resultados precisos. Mas, com uma [[arte]],  que não está dentro nem fora, ou, o que dá no mesmo, que está tão dentro quão fora, da [[obra de arte]] e do [[artista]], não podemos [[empreender]] [[nada]]. Não podemos nem mesmo compreendê-la" (1).
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: É [[essencial]] apreender o ponto de partida da [[técnica]] na [[modernidade]]. Ela se funda na [[decisão]] do que é [[realidade]] a partir do ''sapere aude'', onde se dá o [[ser]] como [[funcionalidade]] e a [[verdade]] como operatividade. Então, não há [[lugar]] para a [[escuta]] e o [[velar-se]] da ''[[phýsis]]'' no [[desvelar-se]]. Por isso diz Carneiro Leão: "... só temos [[olhos]] para o [[espaço]] físico-geométrico de [[sujeito]] e [[objeto]]. Pois este podemos medi-lo com uma escala [[exatamente]] definida. Podemos operá-lo com resultados [[precisos]]. Mas, com uma [[arte]],  que não está dentro nem fora, ou, o que dá no [[mesmo]], que está tão dentro quão fora, da [[obra de arte]] e do [[artista]], não podemos [[empreender]] [[nada]]. Não podemos nem mesmo [[compreendê-la]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro..a "Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto. In: ------ '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 172.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro... "[[Heidegger]] e a [[modernidade]]: a correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]. In: ------ '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 172.
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: "Entretanto, também a [[técnica]] é um modo de [[revelação]] do [[Ser]], modo em que [[Ser]] se revela como [[ausência]], como [[esquecimento]], como máximo retraimento, como opacidade do [[ente]]. Este retrair-se não é uma nulidade; uma força de atração. Na tração deste retraimento o [[homem]] é atraído, é forçado a desinstalar-se de hábitos cristalizados e automatismos de [[pensamento]], a repensar sua [[identidade]] enquanto [[humano]]." (1)
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: "Entretanto, também a [[técnica]] é um modo de [[revelação]] do [[Ser]], modo em que [[Ser]] se revela como [[ausência]], como [[esquecimento]], como máximo [[retraimento]], como opacidade do [[ente]]. Este [[retrair-se]] não é uma nulidade; uma força de atração. Na tração deste [[retraimento]] o [[homem]] é atraído, é forçado a desinstalar-se de hábitos cristalizados e [[automatismos]] de [[pensamento]], a [[repensar]] sua [[identidade]] enquanto [[humano]]." (1)
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: (1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". In: ''Tempo Brasileiro'', Rio de Janeiro, 164: 179/188, jan.-mar., 2006, p. 184.
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: (1) UNGER, Nancy Mangabeira. "[[Heidegger]] e a espera do inesperado". In: '''Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 179/188, jan.-mar., 2006''', p. 184.
: '''Ver também:'''
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: "A [[compreensão]] usual de [[técnica]], e quando falamos da [[Cultura]] [[ocidente|Ocidental]] como uma cultura hegemonizada e hegemonizadora pela e através da técnica estamos nos referindo a esta compreensão mais usual, impõe a [[finalidade]] antes da produção. Produzir é produzir serventia e produtivo é quem produz serviço. Produzir é necessariamente produzir para uma finalidade pré-estipulada, para uma [[utilidade]]." (1)
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: "A [[compreensão]] usual de [[técnica]], e quando falamos da [[Cultura]] [[ocidente|Ocidental]] como uma [[cultura]] hegemonizada e hegemonizadora pela e através da [[técnica]] estamos nos referindo a esta [[compreensão]] mais usual, impõe a [[finalidade]] antes da [[produção]]. [[Produzir]] é [[produzir]] [[serventia]] e produtivo é quem produz serviço. [[Produzir]] é [[necessariamente]] [[produzir]] para uma [[finalidade]] pré-estipulada, para uma [[utilidade]]." (1)
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: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 88.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 88.
== 4 ==
== 4 ==
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:" ''O sentido do mundo técnico oculta-se''. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o [[mundo]] técnico deparamos com um [[sentido]] oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos  o [[mistério]]. Denomino a atitude em virtude da qual nos mantemos abertos ao sentido oculto do mundo técnico ''a abertura ao mistério (die Offenheit für das Geheimnis)'' (1).
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:" ''O [[sentido]] do [[mundo]] [[técnico]] oculta-se''. Porém, se atentarmos [[agora]], particular e constantemente, que em [[todo]] o [[mundo]] técnico deparamos com um [[sentido]] oculto, então encontramo-nos [[imediatamente]] na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao [[vir]] ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço [[fundamental]] daquilo a que chamamos  o [[mistério]]. Denomino a [[atitude]] em [[virtude]] da qual nos mantemos abertos ao [[sentido]] [[oculto]] do [[mundo]] [[técnico]] ''a [[abertura]] ao [[mistério]] (die Offenheit für das Geheimnis)'' " (1).  
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Serenidade''. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 25.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Serenidade'''. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 25.
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: "... a [[técnica]] [[moderna]] está fundada, como [[prescrição]], na persuasão. O que persuade na persuasão é precisamente a sua possibilidade de assegurar que o [[caminho]] percorrido leve inexoravelmente a um final previsto. Nesse sentido, persuasão é aqui entendida como o fazer emergir a razão como modo de assegurar a si mesma e ao real através do con-senso. Significa: o que é constante se apresenta como dado desde sempre e é em torno deste que é proclamado tanto con-senso quanto neutralidade. Con-senso diz aqui aceitação de uma constante como [[razão]]." (1)
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: "... a [[técnica]] [[moderna]] está fundada, como [[prescrição]], na [[persuasão]]. O que persuade na [[persuasão]] é precisamente a sua [[possibilidade]] de [[assegurar]] que o [[caminho]] percorrido leve inexoravelmente a um [[final]] previsto. Nesse [[sentido]], [[persuasão]] é aqui entendida como o [[fazer]] emergir a [[razão]] como modo de assegurar a si mesma e ao [[real]] através do [[con-senso]]. Significa: o que é constante se apresenta como dado desde [[sempre]] e é em torno deste que é proclamado tanto [[con-senso]] quanto neutralidade. [[Con-senso]] diz aqui [[aceitação]] de uma [[constante]] como [[razão]]." (1)
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: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 120-1.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 120-1.
== 6 ==
== 6 ==
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: "O filósofo Ortega y Gasset, em seu livro ''Meditação da técnica'' diz que esta é sempre 'o esforço para poupar esforço...' (1). Mas para que poupar esforço? Onde se aproveitará este esforço? Para a [[experiência]] mais elevada da [[vida]] como invenção de si mesma e que se expressa nas artes inúteis como a [[música]], a [[pintura]], escultura, [[dança]], [[retórica]], [[filosofia]] etc.? No entanto, em nosso [[contexto]], este esforço poupado serve para, nada mais nada menos, fazer mais [[cálculos]] para poupar mais esforço, para um maior asseguramento, numa [[lógica]] operativa e produtiva ilimitadas, isto é, que encontra na contínua superação do esforço e no asseguramento mais rigoroso seu modo de ser, seu [[sentido]], sua força" (2).  
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: "O [[filósofo]] Ortega y Gasset, em seu livro '''Meditação da técnica''' diz que esta é [[sempre]] ''o esforço para poupar esforço...'' (1). Mas para que poupar esforço? Onde se aproveitará este esforço? Para a [[experiência]] mais elevada da [[vida]] como [[invenção]] de si mesma e que se expressa nas [[artes]] inúteis como a [[música]], a [[pintura]], [[escultura]], [[dança]], [[retórica]], [[filosofia]] etc.? No entanto, em nosso [[contexto]], este esforço poupado serve para, nada mais nada menos, fazer mais [[cálculos]] para poupar mais esforço, para um maior asseguramento, numa [[lógica]] operativa e produtiva ilimitadas, isto é, que encontra na contínua superação do esforço e no asseguramento mais rigoroso seu modo de [[ser]], seu [[sentido]], sua força" (2).  
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José. ''Meditação da técnica''. Rio de Janeiro : Livro Ibero-Americano, 1963, p. 31.
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: (1) ORTEGA Y GASSET, José. '''Meditação da técnica'''. Rio de Janeiro : Livro Ibero-Americano, 1963, p. 31.
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: (2) PISETTA, Écio Elvis. "A funcionalidade: o correto e o verdadeiro". In: Revista Tempo Brasileiro ''Dialética em questão I''. Rio de Janeiro, 192: jan.-mar., 2013, p. 86.
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: (2) PISETTA, Écio Elvis. "A funcionalidade: o correto e o verdadeiro". In: '''Revista Tempo Brasileiro ''Dialética em questão I''. Rio de Janeiro, 192: jan.-mar., 2013''', p. 86.
== 7 ==
== 7 ==
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:"Como se pode [[ver]], a [[essência]] da [[técnica]] não são as máquinas, os [[instrumentos]], os aparelhos. Tudo isso não passa de figurantes. A [[essência]] mesma é a [[funcionalidade]] de tudo e de  todos, o que nos apresentaram recentemente os filmes ''Matrix''"(1).
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:"Como se pode [[ver]], a [[essência]] da [[técnica]] não são as máquinas, os [[instrumentos]], os aparelhos. Tudo isso não passa de [[figurantes]]. A [[essência]] mesma é a [[funcionalidade]] de [[tudo]] e de  [[todos]], o que nos apresentaram recentemente os filmes ''Matrix''"(1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a ética". In: Revista ''Tempo Brasileiro'' - ''Caminhos da ética'', 157, Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004, p. 76.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "[[Heidegger]] e a ética". In: ''' Revista Tempo Brasileiro - Caminhos da ética, 157, Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004''', p. 76.
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== 8 ==
-
: "Quando, hoje, no domínio [[universal]] da [[técnica]], falamos em [[globalização]], no fundo, estamos querendo nos referir a um [[universal]] de tal [[poder]] que abrange todo o globo terrestre e todo o [[universo]]" (1).
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: "Quando, hoje, no domínio [[universal]] da [[técnica]], falamos em [[globalização]], no fundo, estamos querendo nos [[referir]] a um [[universal]] de tal [[poder]] que abrange [[todo]] o globo [[terrestre]] e [[todo]] o [[universo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro''- ''Globalização, pensamento e arte,  201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 15.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: '''Revista Tempo Brasileiro- Globalização, pensamento e arte,  201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015''', p. 15.
== 9 ==
== 9 ==
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: "O [[sofrimento]] e a [[alegria]], o  ser afetado, tomado por uma força, são [[relações]] com o [[ser]]. Mas no [[mundo]] do voluntarismo [[absoluto]] em que a [[técnica]] o mergulha, o [[homem]] não sente mais a [[dor]], ou a sente de modo somente passivo, e, portanto, ressentido e reativo. É principalmente em sua [[indiferença]] frente às consequências destrutivas da [[técnica]], que o "funcionário da [[técnica]]" mostra sua insensibilidade e seu extremo fechamento, pois nele, o mais [[angustiante]] é sua incapacidade de se [[angustiar]]" (1).
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: "O [[sofrimento]] e a [[alegria]], o  ser afetado, tomado por uma força, são [[relações]] com o [[ser]]. Mas no [[mundo]] do voluntarismo [[absoluto]] em que a [[técnica]] o mergulha, o [[homem]] não sente mais a [[dor]], ou a [[sente]] de modo somente [[passivo]], e, portanto, ressentido e reativo. É [[principalmente]] em sua [[indiferença]] frente às consequências destrutivas da [[técnica]], que o "[[funcionário]] da [[técnica]]" mostra sua [[insensibilidade]] e seu [[extremo]] fechamento, pois nele, o mais [[angustiante]] é sua [[incapacidade]] de se [[angustiar]]" (1).
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: (1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista ''Tempo Brasileiro'': ''Interdisciplinaridade dimensões poéticas'', 164, Jan.-mar. 2006, 179.
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: (1) UNGER, Nancy Mangabeira. "[[Heidegger]] e a [[espera]] do [[inesperado]]". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. '''Revista Tempo Brasileiro: [[Interdisciplinaridade]] [[dimensões]] [[poéticas]], 164, Jan.-mar. 2006''', 179.
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: "O desenvolvimento técnico ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias [[criações]] [[artísticas]]".
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: "O [[desenvolvimento]] [[técnico]] ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias [[criações]] [[artísticas]]".
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: "No entanto, nem [[tudo]] é [[técnico]] e [[científico]] na [[vida]]. Diz Manoel de Barros no ''Livro sobre nada'':
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: "No entanto, nem [[tudo]] é [[técnico]] e [[científico]] na [[vida]]. Diz Manoel de Barros no '''Livro sobre nada''':
: ''A [[ciência]] pode [[classificar]] e [[nomear]] os órgãos de um
: ''A [[ciência]] pode [[classificar]] e [[nomear]] os órgãos de um
: ''sabiá
: ''sabiá
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: ''mas não pode [[medir]] seus encantos.
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: ''mas não pode [[medir]] seus [[encantos]].
: ''A [[ciência]] não pode [[calcular]] quantos cavalos de força
: ''A [[ciência]] não pode [[calcular]] quantos cavalos de força
: ''existem
: ''existem
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: ''nos encantos de um sabiá''(1) (2).
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: ''nos [[encantos]] de um sabiá''(1) (2).
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: "O [[método]] [[científico]] é sempre delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem ser violadas. Tudo aquilo que não constar e estiver dentro desses [[limites]] não é [[científico]]. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a [[ciência]] não é [[científica]]. Por quê? A [[ciência]] como [[ciência]] não é [[objeto]] de nenhuma pesquisa [[científica]]. Não é um [[fenômeno]] físico a Física. Não é um [[fenômeno]] químico a Química. Por isso é que há uma tensão entre o [[conhecimento]] propiciado pelo [[método]] e pela [[técnica]], porque [[método]] e [[técnica]] na [[ciência]] se trocam, um constitui o outro. Em vista disso, dizer [[técnica]] ou [[ciência]] não tem muita [[diferença]]. A [[técnica]] é o que possibilita a [[ciência]]. Sem se articularem as [[possibilidades]] de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma [[teoria]] [[científica]]. A Física tem uma Pro-física, uma Ante-física, para [[poder]] ser Física. É por isso que a [[diferença]] [[fundamental]] é de constituição. O [[método]] [[lógico]]-[[científico]] se constitui com forças e [[princípios]] que fogem do alcance do próprio [[método]] [[científico]]" (1).
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: "O [[método]] [[científico]] é [[sempre]] delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem [[ser]] violadas. [[Tudo]] aquilo que não constar e estiver dentro desses [[limites]] não é [[científico]]. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a [[ciência]] não é [[científica]]. Por quê? A [[ciência]] como [[ciência]] não é [[objeto]] de nenhuma [[pesquisa]] [[científica]]. Não é um [[fenômeno]] físico a [[Física]]. Não é um [[fenômeno]] químico a [[Química]]. Por isso é que há uma [[tensão]] [[entre]] o [[conhecimento]] propiciado pelo [[método]] e pela [[técnica]], porque [[método]] e [[técnica]] na [[ciência]] se trocam, um constitui o [[outro]]. Em vista disso, [[dizer]] [[técnica]] ou [[ciência]] não tem muita [[diferença]]. A [[técnica]] é o que possibilita a [[ciência]]. Sem se articularem as [[possibilidades]] de verificação, de comprovação ou de não [[falsificação]], não se constitui uma [[teoria]] [[científica]]. A [[Física]] tem uma Pro-física, uma Ante-física, para [[poder]] ser [[Física]]. É por isso que a [[diferença]] [[fundamental]] é de constituição. O [[método]] [[lógico]]-[[científico]] se constitui com [[forças]] e [[princípios]] que fogem do alcance do [[próprio]] [[método]] [[científico]]" (1).
:  Referência:
:  Referência:
-
:  (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". ''Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II''. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.
+
:  (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". '''Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II'''. ''Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194'', p. 11.
== 14 ==
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: "A [[técnica]] não é, portanto, um simples [[meio]]. A [[técnica]] é uma [[forma]] de [[desencobrimento]]. Levando isso em conta, abre-se diante de nós todo um outro âmbito para a [[essência]] da [[técnica]]. Trata-se do âmbito do [[desencobrimento]], isto é, da [[verdade]]" (1).
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: "A [[técnica]] não é, portanto, um [[simples]] [[meio]]. A [[técnica]] é uma [[forma]] de [[desencobrimento]]. Levando isso em conta, abre-se diante de nós [[todo]] um outro [[âmbito]] para a [[essência]] da [[técnica]]. Trata-se do [[âmbito]] do [[desencobrimento]], isto é, da [[verdade]]" (1).
: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: -------. ''Ensaios e conferências''. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p. 17.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "A questão da técnica". In: -------. '''Ensaios e conferências'''. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p. 17.
== 15 ==
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: "O [[inanimado]] tem ''[[daimon]]'', isto é, tem uma [[dinâmica]] que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer [[dizer]] que a [[técnica]] e a [[ciência]] não devam controlar o [[homem]], mas devam controlar o mineral, o vegetal, o [[animal]]. Não. A [[técnica]] e a [[ciência]] não podem controlar nenhuma [[realização]] e nenhuma [[realidade]]. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer [[realidade]] que, no [[homem]], se chama ''[[daimon]]'', mas Aristóteles diz que se chama ''[[genos]] timeotaton'': ''o [[gênero]] mais elevado'', isto é, o modo de ser a [[estrutura]] mais elevada do [[real]]" (1).
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: "O [[inanimado]] tem ''[[daimon]]'', isto é, tem uma [[dinâmica]] que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer [[dizer]] que a [[técnica]] e a [[ciência]] não devam controlar o [[homem]], mas devam controlar o mineral, o vegetal, o [[animal]]. Não. A [[técnica]] e a [[ciência]] não podem controlar nenhuma [[realização]] e nenhuma [[realidade]]. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer [[realidade]] que, no [[homem]], se chama ''[[daimon]]'', mas [[Aristóteles]] diz que se chama ''[[genos]] timeotaton'': ''o [[gênero]] mais elevado'', isto é, o [[modo]] de [[ser]] a [[estrutura]] mais elevada do [[real]]" (1).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: ''Arte: corpo, mundo e terra''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.
+
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O [[corpo]], a [[terra]] e o [[pensamento]]". In: '''Arte: corpo, mundo e terra'''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.
== 16 ==
== 16 ==
-
: "Toda [[cultura]] resulta de uma [[conjuntura]]. Nela o [[homem]] se hominiza. Um famoso [[filme]] abordou essa [[situação]] de uma maneira admirável: '''2001: uma odisseia no espaço''', de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande [[época]] tem sua [[epopeia]]. e esta é, sem dúvida nenhuma, a [[epopeia]] da [[tematização]], [[celebração]] e [[crítica]] angustiada da era da [[Técnica]]. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na [[linguagem]] cinematográfica. Nela, a [[epopeia]] reencontra o caráter [[essencial]] do [[narrar]]" (1).
+
: "Toda [[cultura]] resulta de uma [[conjuntura]]. Nela o [[homem]] se hominiza. Um famoso [[filme]] abordou essa [[situação]] de uma maneira admirável: '''2001: uma [[odisseia]] no [[espaço]]''', de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. [[Toda]] grande [[época]] tem sua [[epopeia]]. e esta é, sem [[dúvida]] nenhuma, a [[epopeia]] da [[tematização]], [[celebração]] e [[crítica]] angustiada da [[era]] da [[Técnica]]. Representa a continuação das grandes [[epopeias]], embora narrada, sintomaticamente, na [[linguagem]] cinematográfica. Nela, a [[epopeia]] reencontra o caráter [[essencial]] do [[narrar]]" (1).
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: "...a [[revolução]] da [[técnica]] que se está processando na [[era]] atômica poderia prender, enfeitiçar, ofuscar e deslumbrar o [[Homem]] de tal modo que, um dia, o [[pensamento que calcula]] viesse a [[ser]] o único [[pensamento]] admitido e exercido.
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: "...a [[revolução]] da [[técnica]] que se está processando na [[era]] atômica poderia [[prender]], enfeitiçar, ofuscar e [[deslumbrar]] o [[Homem]] de tal modo que, um dia, o [[pensamento que calcula]] viesse a [[ser]] o único [[pensamento]] admitido e exercido.
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: "Então que grande [[perigo]] se aproxima? Então a máxima e mais eficaz [[sagacidade]] do planejamento e da [[invenção]] que calculam andaria a par da [[indiferença]] para com a [[reflexão]], para com a [[ausência]] total de [[pensamentos]]. E então? Então o [[Homem]] teria renegado e rejeitado aquilo que tem de mais [[próprio]], ou seja, o [[fato]] de [[ser]] um [[ser]] que reflete" (1).
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: "Então que grande [[perigo]] se aproxima? Então a máxima e mais eficaz [[sagacidade]] do planejamento e da [[invenção]] que calculam andaria a par da [[indiferença]] para com a [[reflexão]], para com a [[ausência]] total de [[pensamentos]]. E então? Então o [[Homem]] teria renegado e rejeitado aquilo que tem de mais [[próprio]], ou seja, o [[fato]] de [[ser]] um [[ser]] que [[reflete]]" (1).
: Referência:
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. ''Serenidade''. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p.26.
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. '''Serenidade'''. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p.26.
== 18 ==
== 18 ==
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: "No entanto, aquilo que é verdadeiramente inquietante não é o [[fato]] de o [[mundo]] se tornar cada vez mais [[técnico]]. Muito mais inquietante é o [[fato]] de o [[Homem]] não [[estar]] preparado para esta [[transformação]] do [[mundo]], é o [[fato]] de nós ainda não conseguirmos, através do [[pensamento que medita]], lidar adequadamente com aquilo que, nesta [[era]] está [[realmente]] a [[emergir]]" (1).
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: "No entanto, aquilo que é [[verdadeiramente]] inquietante não é o [[fato]] de o [[mundo]] se tornar cada vez mais [[técnico]]. Muito mais inquietante é o [[fato]] de o [[Homem]] não [[estar]] preparado para esta [[transformação]] do [[mundo]], é o [[fato]] de nós ainda não conseguirmos, através do [[pensamento que medita]], lidar adequadamente com aquilo que, nesta [[era]] está [[realmente]] a [[emergir]]" (1).
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. '''Serenidade'''. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 21.
: (1)  HEIDEGGER, Martin. '''Serenidade'''. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 21.
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== 19 ==
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: Há dois [[significados]] [[modernos]]: (1) Designa um [[conjunto]] de [[coisas]] e [[atividades]] do [[homem]]. É uma [[habilidade]]. (2) Designa o [[conjunto]] de [[conhecimentos]] em [[relação]] a alguma [[atividade]] e que podem ser aprendidos.
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: "Há um [[significado]] em [[relação]] às [[atividades]] [[artísticas]]. Neste caso, designa a [[dinâmica]] de [[produzir]], seja ela a [[produção]] [[individual]], [[artesanal]]. É nessa [[atividade]] que o [[homem]] se torna [[homem]]. [[Arte]] significa então [[cultura]], no [[sentido]] de que esta é tanto o [[espaço]] como o [[processo]] em que o [[homem]] [[acontece]] como [[homem]]. Neste [[sentido]], [[técnica]] engloba tanto as [[coisas]] e a [[habilidade]] [[técnica]] como a [[competência]] [[poética]]. A [[arte]], tomada em [[sentido]] [[radical]], engloba a [[técnica]], mas a [[técnica]], em seu [[significado]] [[vigente]], não engloba a [[arte]].
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 +
: Manuel Antonio de Castro.

Edição atual tal como 22h23min de 5 de Abril de 2024

1

É essencial apreender o ponto de partida da técnica na modernidade. Ela se funda na decisão do que é realidade a partir do sapere aude, onde se dá o ser como funcionalidade e a verdade como operatividade. Então, não há lugar para a escuta e o velar-se da phýsis no desvelar-se. Por isso diz Carneiro Leão: "... só temos olhos para o espaço físico-geométrico de sujeito e objeto. Pois este podemos medi-lo com uma escala exatamente definida. Podemos operá-lo com resultados precisos. Mas, com uma arte, que não está dentro nem fora, ou, o que dá no mesmo, que está tão dentro quão fora, da obra de arte e do artista, não podemos empreender nada. Não podemos nem mesmo compreendê-la" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro... "Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto. In: ------ Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 172.

2

"Entretanto, também a técnica é um modo de revelação do Ser, modo em que Ser se revela como ausência, como esquecimento, como máximo retraimento, como opacidade do ente. Este retrair-se não é uma nulidade; uma força de atração. Na tração deste retraimento o homem é atraído, é forçado a desinstalar-se de hábitos cristalizados e automatismos de pensamento, a repensar sua identidade enquanto humano." (1)


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 179/188, jan.-mar., 2006, p. 184.
Ver também:
*Tékhne

3

"A compreensão usual de técnica, e quando falamos da Cultura Ocidental como uma cultura hegemonizada e hegemonizadora pela e através da técnica estamos nos referindo a esta compreensão mais usual, impõe a finalidade antes da produção. Produzir é produzir serventia e produtivo é quem produz serviço. Produzir é necessariamente produzir para uma finalidade pré-estipulada, para uma utilidade." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 88.

4

" O sentido do mundo técnico oculta-se. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o mundo técnico deparamos com um sentido oculto, então encontramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo, se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos o mistério. Denomino a atitude em virtude da qual nos mantemos abertos ao sentido oculto do mundo técnico a abertura ao mistério (die Offenheit für das Geheimnis) " (1).


- Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 25.

5

"... a técnica moderna está fundada, como prescrição, na persuasão. O que persuade na persuasão é precisamente a sua possibilidade de assegurar que o caminho percorrido leve inexoravelmente a um final previsto. Nesse sentido, persuasão é aqui entendida como o fazer emergir a razão como modo de assegurar a si mesma e ao real através do con-senso. Significa: o que é constante se apresenta como dado desde sempre e é em torno deste que é proclamado tanto con-senso quanto neutralidade. Con-senso diz aqui aceitação de uma constante como razão." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 120-1.

6

"O filósofo Ortega y Gasset, em seu livro Meditação da técnica diz que esta é sempre o esforço para poupar esforço... (1). Mas para que poupar esforço? Onde se aproveitará este esforço? Para a experiência mais elevada da vida como invenção de si mesma e que se expressa nas artes inúteis como a música, a pintura, escultura, dança, retórica, filosofia etc.? No entanto, em nosso contexto, este esforço poupado serve para, nada mais nada menos, fazer mais cálculos para poupar mais esforço, para um maior asseguramento, numa lógica operativa e produtiva ilimitadas, isto é, que encontra na contínua superação do esforço e no asseguramento mais rigoroso seu modo de ser, seu sentido, sua força" (2).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da técnica. Rio de Janeiro : Livro Ibero-Americano, 1963, p. 31.
(2) PISETTA, Écio Elvis. "A funcionalidade: o correto e o verdadeiro". In: Revista Tempo Brasileiro Dialética em questão I. Rio de Janeiro, 192: jan.-mar., 2013, p. 86.

7

"Como se pode ver, a essência da técnica não são as máquinas, os instrumentos, os aparelhos. Tudo isso não passa de figurantes. A essência mesma é a funcionalidade de tudo e de todos, o que nos apresentaram recentemente os filmes Matrix"(1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a ética". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos da ética, 157, Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004, p. 76.

8

"Quando, hoje, no domínio universal da técnica, falamos em globalização, no fundo, estamos querendo nos referir a um universal de tal poder que abrange todo o globo terrestre e todo o universo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro- Globalização, pensamento e arte, 201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 15.

9

"O sofrimento e a alegria, o ser afetado, tomado por uma força, são relações com o ser. Mas no mundo do voluntarismo absoluto em que a técnica o mergulha, o homem não sente mais a dor, ou a sente de modo somente passivo, e, portanto, ressentido e reativo. É principalmente em sua indiferença frente às consequências destrutivas da técnica, que o "funcionário da técnica" mostra sua insensibilidade e seu extremo fechamento, pois nele, o mais angustiante é sua incapacidade de se angustiar" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 179.

10

"O desenvolvimento técnico ajuda muito a preservar, a divulgar e a multiplicar as próprias criações artísticas".
"No entanto, nem tudo é técnico e científico na vida. Diz Manoel de Barros no Livro sobre nada:


A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
existem
nos encantos de um sabiá(1) (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio. "Apresentação". In: A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 7.
(2) BARROS, Manoel. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 53.

13

"O método científico é sempre delimitado. Ele estabelece pressuposições que não podem ser violadas. Tudo aquilo que não constar e estiver dentro desses limites não é científico. Ora, quando se diz isso, está se dizendo que a ciência não é científica. Por quê? A ciência como ciência não é objeto de nenhuma pesquisa científica. Não é um fenômeno físico a Física. Não é um fenômeno químico a Química. Por isso é que há uma tensão entre o conhecimento propiciado pelo método e pela técnica, porque método e técnica na ciência se trocam, um constitui o outro. Em vista disso, dizer técnica ou ciência não tem muita diferença. A técnica é o que possibilita a ciência. Sem se articularem as possibilidades de verificação, de comprovação ou de não falsificação, não se constitui uma teoria científica. A Física tem uma Pro-física, uma Ante-física, para poder ser Física. É por isso que a diferença fundamental é de constituição. O método lógico-científico se constitui com forças e princípios que fogem do alcance do próprio método científico" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 11.

14

"A técnica não é, portanto, um simples meio. A técnica é uma forma de desencobrimento. Levando isso em conta, abre-se diante de nós todo um outro âmbito para a essência da técnica. Trata-se do âmbito do desencobrimento, isto é, da verdade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: -------. Ensaios e conferências. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p. 17.

15

"O inanimado tem daimon, isto é, tem uma dinâmica que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer dizer que a técnica e a ciência não devam controlar o homem, mas devam controlar o mineral, o vegetal, o animal. Não. A técnica e a ciência não podem controlar nenhuma realização e nenhuma realidade. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer realidade que, no homem, se chama daimon, mas Aristóteles diz que se chama genos timeotaton: o gênero mais elevado, isto é, o modo de ser a estrutura mais elevada do real" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.

16

"Toda cultura resulta de uma conjuntura. Nela o homem se hominiza. Um famoso filme abordou essa situação de uma maneira admirável: 2001: uma odisseia no espaço, de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande época tem sua epopeia. e esta é, sem dúvida nenhuma, a epopeia da tematização, celebração e crítica angustiada da era da Técnica. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na linguagem cinematográfica. Nela, a epopeia reencontra o caráter essencial do narrar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. O acontecer poético - a história literária, 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.

17

"...a revolução da técnica que se está processando na era atômica poderia prender, enfeitiçar, ofuscar e deslumbrar o Homem de tal modo que, um dia, o pensamento que calcula viesse a ser o único pensamento admitido e exercido.
"Então que grande perigo se aproxima? Então a máxima e mais eficaz sagacidade do planejamento e da invenção que calculam andaria a par da indiferença para com a reflexão, para com a ausência total de pensamentos. E então? Então o Homem teria renegado e rejeitado aquilo que tem de mais próprio, ou seja, o fato de ser um ser que reflete" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p.26.

18

"No entanto, aquilo que é verdadeiramente inquietante não é o fato de o mundo se tornar cada vez mais técnico. Muito mais inquietante é o fato de o Homem não estar preparado para esta transformação do mundo, é o fato de nós ainda não conseguirmos, através do pensamento que medita, lidar adequadamente com aquilo que, nesta era está realmente a emergir" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 21.

19

Há dois significados modernos: (1) Designa um conjunto de coisas e atividades do homem. É uma habilidade. (2) Designa o conjunto de conhecimentos em relação a alguma atividade e que podem ser aprendidos.
"Há um significado em relação às atividades artísticas. Neste caso, designa a dinâmica de produzir, seja ela a produção individual, artesanal. É nessa atividade que o homem se torna homem. Arte significa então cultura, no sentido de que esta é tanto o espaço como o processo em que o homem acontece como homem. Neste sentido, técnica engloba tanto as coisas e a habilidade técnica como a competência poética. A arte, tomada em sentido radical, engloba a técnica, mas a técnica, em seu significado vigente, não engloba a arte.
Manuel Antonio de Castro.